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Perguntas

Questão: 1

Leia o poema a seguir:

A cantiga

“Ai cigana ciganinha,


ciganinha, meu amor".
Quando escutei essa cantiga
era hora do almoço, há muitos anos.
A voz da mulher cantando vinha de uma cozinha,
ai ciganinha, a voz de bambu rachado
continua tinindo, esganiçada, linda,
viaja pra dentro de mim, o meu ouvido cada vez melhor.
Canta, canta, mulher, vai polindo o cristal,
canta mais, canta que eu acho minha mãe,
meu vestido estampado, meu pai tirando boia da panela,
canta que eu acho minha vida.

(Adélia Prado. Bagagem. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.)

Acerca desse poema, é correto afirmar que:

(A) a poeta tem consciência de que seu passado é irremediavelmente perdido.

(B) existe um tom sarcástico e um saudosismo de raiz romântica.

(C) a cantiga faz com que a poeta reviva uma série de lembranças afetivas.

(D) predomina o tom satírico e o caráter autobiográfico.

(E) desvaloriza os elementos da cultura popular.

Questão: 2

A respeito da obra Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus, podemos afirmar que:

(A) trata-se de uma autobiografia totalmente fiel à vida da autora, não podendo ser considerada como
obra literária.

(B) trata-se de uma obra importante por trazer representatividade para a autoria feminina, negra e de
localização periférica e marginalizada.

(C) pode ser considerada como um romance distópico, uma vez que narra uma situação
exclusivamente fictícia de caos social.

(D) pode ser considerada uma sátira muito cômica à vida na favela em contraste com a vida nos
bairros nobres da cidade de São Paulo.

(E) representa uma alegoria dos problemas sociais que ocorrem na Europa decorrentes dos
preconceitos de classe e racial.
Questão: 3

No Brasil, o Classicismo é mais conhecido como Quinhentismo, abrangendo toda a produção literária
da fase renascentista no século XVI. Toda literatura desse período foi escrita por portugueses e
resume-se à:

(A) literatura de catequese, cuja principal função era doutrinar os indígenas segundo os preceitos
cristãos. São escritos, principalmente, dos padres Antônio Vieira e José de Anchieta.

(B) literatura de informação, com documentos sobre as terras descobertas, suas belezas e habitantes,
e também a literatura indígena, que foi posteriormente traduzida para o português.

(C) literatura de informação, representada principalmente pela Carta de Pero Vaz de Caminha, cuja
finalidade era a de relatar as características da terra descoberta, e a literatura jesuíta, que produziu
textos simples com a finalidade de catequizar os índios.

(D) literatura de protesto, produzida para denunciar o extermínio da população indígena e os


desmandos da coroa portuguesa no Brasil. Essa literatura foi representada por nomes como
Gonçalves Dias e Padre José de Anchieta.

(E) literatura de formação, cuja principal função era alfabetizar os indígenas para que eles pudessem
produzir a literatura brasileira independentemente da literatura portuguesa.

Questão: 4

Leia o texto a seguir:

Os bons vi sempre passar


No Mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado,
Assim que só pera mim
Anda o Mundo concertado.

(Luís de Camões: Ao desconcerto do Mundo. In: Rimas. Obra Completa. Rio de Janeiro: Aguilar
Editora, 1963, p. 475-6.)

Quanto ao significado, o poema baseia-se em antíteses de tal maneira organizadas que parecem
refletir:

(A) a coita amorosa.

(B) o amor cortês.

(C) a máquina do mundo.

(D) o heroísmo português.

(E) o desconcerto do mundo.

Questão: 5

(Enem 2007)
O açúcar

O branco açúcar que adoçará meu café


nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.

Vejo-o puro e afável ao paladar


como beijo de moça, água
na pele, flor
que se dissolve na boca. Mas este açúcar
não foi feito por mim.

Este açúcar veio


da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira, dono da mercearia.
Este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.

Este açúcar era cana


e veio dos canaviais extensos
que não nascem por acaso
no regaço do vale.

(...)

Em usinas escuras,
homens de vida amarga
e dura
produziram este açúcar
branco e puro
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.

Ferreira Gullar. Toda Poesia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980, p. 227-8.

A antítese que configura uma imagem da divisão social do trabalho na sociedade brasileira é
expressa poeticamente na oposição entre a doçura do branco açúcar e

(A) o trabalho do dono da mercearia de onde veio o açúcar.

(B) o beijo de moça, a água na pele e a flor que se dissolve na boca.

(C) o trabalho do dono do engenho em Pernambuco, onde se produz o açúcar.

(D) a beleza dos extensos canaviais que nascem no regaço do vale.

(E) o trabalho dos homens de vida amarga em usinas escuras.

Questão: 6

(Enem 2009)

Cárcere das almas

Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,


Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de uma igual grandeza


Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e fechadas


Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!

Nesses silêncios solitários, graves,


que chaveiro do Céu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistério?!

CRUZ E SOUSA, J. Poesia completa. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura /


Fundação Banco do Brasil, 1993.

Os elementos formais e temáticos relacionados ao contexto cultural do Simbolismo encontrados no


poema “Cárcere das almas”, de Cruz e Sousa, são:

(A) a opção pela abordagem, em linguagem simples e direta, de temas filosóficos.

(B) a prevalência do lirismo amoroso e intimista em relação à temática nacionalista.

(C) o refinamento estético da forma poética e o tratamento metafísico de temas universais.

(D) a evidente preocupação do eu lírico com a realidade social expressa em imagens poéticas
inovadoras.

(E) a liberdade formal da estrutura poética que dispensa a rima e a métrica tradicionais em favor de
temas do cotidiano.

Questão: 7

(Enem 2011)

Abatidos pelo fadinho harmonioso e nostálgico dos desterrados, iam todos, até mesmo os brasileiros,
se concentrando e caindo em tristeza; mas, de repente, o cavaquinho de Porfiro, acompanhado pelo
violão do Firmo, romperam vibrantemente com um chorado baiano. Nada mais que os primeiros
acordes da música crioula para que o sangue de toda aquela gente despertasse logo, como se
alguém lhe fustigasse o corpo com urtigas bravas. E seguiram-se outras notas, e outras, cada vez
mais ardentes e mais delirantes. Já não eram dois instrumentos que soavam, eram lúbricos gemidos
e suspiros soltos em torrente, a correrem serpenteando, como cobras numa floresta incendiada; eram
ais convulsos, chorados em frenesi de amor: música feita de beijos e soluços gostosos; carícia de
fera, carícia de doer, fazendo estalar de gozo.

AZEVEDO, A. O Cortiço. São Paulo: Ática, 1983 (fragmento)

No romance O Cortiço (1890), de Aluízio Azevedo, as personagens são observadas como elementos
coletivos caracterizados por condicionantes de origem social, sexo e etnia. Na passagem transcrita, o
confronto entre brasileiros e portugueses revela prevalência do elemento brasileiro, pois:

(A) destaca o nome de personagens brasileiras e omite o de personagens portuguesas.

(B) exalta a força do cenário natural brasileiro e considera o do português inexpressivo.


(C) mostra o poder envolvente da música brasileira, que cala o fado português.

(D) destaca o sentimentalismo brasileiro, contrário à tristeza dos portugueses.

(E) atribui aos brasileiros uma habilidade maior com instrumentos musicais.

Questão: 8

Leia o texto a seguir:

Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos: foram os dois morar juntos: e daí
a um mês manifestaram‑se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois teve a
Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo,
esperneador e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem largar o
peito. E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que mais nos interessa, porque o
menino de quem falamos é o herói desta história.

[...]

A custa de muitos trabalhos, de muitas fadigas, e sobretudo de muita paciência, conseguiu o


compadre que o menino freqüentasse a escola durante dois anos e que aprendesse a ler muito mal e
escrever ainda pior [...] Nunca uma pasta, um tinteiro, uma lousa lhe durou mais de 15 dias: era tido
na escola pelo mais refinado velhaco; vendia aos colegas tudo que podia ter algum valor, fosse seu
ou alheio, contanto que lhe caísse nas mãos: um lápis, uma pena, um registo, tudo lhe fazia conta; o
dinheiro que apurava empregava sempre do pior modo que podia.

ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias. São Paulo: Companhia das
Letras, 2013. p. 34

O romance Memórias de um sargento de milícias filia-se ao Romantismo brasileiro. No entanto, é


considerado pela crítica uma obra atípica desse tempo literário. De acordo com as características da
estética romântica e com os fragmentos do romance transcritos, o que justifica a atipicidade dessa
obra é o fato de:

(A) seu protagonista caracterizar-se como um anti-herói.

(B) sua linguagem apresentar marcas de oralidade e erudição.

(C) sua narrativa se projetar para um tempo futuro.

(D) seu narrador fazer apologia às paixões juvenis.

(E) sua morbidez antecipar a melancolia ultrarromântica.

Questão: 9

Leia o texto a seguir:

Oficina irritada

Eu quero compor um soneto duro


como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.

Quero que meu soneto, no futuro,


não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.

Esse meu verbo antipático e impuro


há de pungir, há de fazer sofrer,
tendão de Vênus sob o pedicuro.

Ninguém o lembrará: tiro no muro,


cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender.

Carlos Drummond de Andrade

Observa-se, na primeira estrofe, uma intenção de falar dentro do próprio poema sobre a construção
do texto. Essa estratégia da linguagem é chamada de:

(A) metáfora.

(B) metalinguagem.

(C) intertextualidade.

(D) poesia.

(E) tragédia.

Questão: 10

(Enem 2000)

“Poética”, de Manuel Bandeira, é quase um manifesto do movimento modernista brasileiro de 1922.


No poema, o autor elabora críticas e propostas que representam o pensamento estético
predominante na época.

Poética

Estou farto do lirismo comedido


Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço [ao
Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo
Abaixo os puristas

............................................................................................

Quero antes o lirismo dos loucos


O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

(BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro. Aguilar, 1974)

Com base na leitura do poema, podemos afirmar corretamente que o poeta:

(A) critica o lirismo louco do movimento modernista.


(B) critica todo e qualquer lirismo na literatura.

(C) propõe o retorno ao lirismo do movimento clássico.

(D) propõe o retorno ao lirismo do movimento romântico.

(E) propõe a criação de um novo lirismo.

Questão: 11

(FGV-RJ 2007)

“Tupi or not tupi, that is the question”. A paráfrase, elaborada a partir da célebre frase de William
Shakespeare, figurava no Manifesto Antropófago de 1928, escrito por Oswald de Andrade, um dos
principais líderes do movimento modernista. A esse respeito, é correto afirmar:

(A) O modernismo brasileiro questionava o nacionalismo defendido pelas elites regionais como um
dos aspectos do atraso cultural a ser superado.

(B) Os principais líderes do movimento modernista brasileiro eram filhos de imigrantes originários da
classe operária de São Paulo e do Rio de Janeiro.

(C) A produção modernista brasileira evidenciava a assimilação de referências culturais estrangeiras


e a sua articulação com as particularidades nacionais.

(D) Os artistas e escritores modernistas, influenciados pelas notícias referentes à Revolução


Bolchevique, fundaram o Partido Comunista do Brasil em 1922.

(E) O modernismo brasileiro teve uma extraordinária aceitação no interior das Forças Armadas, que
se tornaram um de seus centros de difusão cultural.

Questão: 12

Leia o texto a seguir:

Ao valimento que tem o mentir


Mau ofício é mentir, mas proveitoso...
Tanta mentira, tanta utilidade
Traz consigo o mentir nesta cidade
Como o diz o mais triste mentiroso.

Eu, como um ignorante e um baboso,


Me pus a verdadeiro, por vaidade;
Todo o meu cabedal meti em verdade
E saí do negócio perdidoso.

Perdi o principal, que eram verdades,


Perdi os interesses de estimar-me,
Perdi-me a mim em tanta soledade;

Deram os meus amigos em deixar-me,


Cobrei ódios e inimizades...
Eu me meto a mentir e a aproveitar-me.

MATOS, Gregório de. PIRES, M. L. G. (org.). Poetas do período barroco. Lisboa: Comunicação,
1985.
A primeira estrofe apresenta uma figura de linguagem que consiste em inversões da ordem direta das
orações. Esse recurso é a(o):

(A) metáfora.

(B) hipérbole.

(C) prosopopeia.

(D) hipérbato.

(E) metonímia.

Questão: 13

Veja os versos a seguir:

“Em tristes sombras morre a formosura,


em contínuas tristezas a alegria”

Nos versos citados acima, Gregório de Matos empregou uma figura de linguagem que consiste em
aproximar termos de significados opostos, como “tristezas” e “alegria”. O nome dessa figura de
linguagem é:

(A) metáfora.

(B) aliteração.

(C) hipérbole.

(D) antítese.

(E) hipérbato.

Questão: 14

(Enem 2019)

Fim de semana no parque

Olha o meu povo nas favelas e vai perceber


Daqui eu vejo uma caranga do ano
Toda equipada e o tiozinho guiando
Com seus filhos ao lado estão indo ao parque
Eufóricos brinquedos eletrônicos
Automaticamente eu imagino
A molecada lá da área como é que tá
Provavelmente correndo pra lá e pra cá
Jogando bola descalços nas ruas de terra
É, brincam do jeito que dá

[...]

Olha só aquele clube, que da hora


Olha aquela quadra, olha aquele campo, olha
Olha quanta gente
Tem sorveteria, cinema, piscina quente
[...]

Aqui não vejo nenhum clube poliesportivo


Pra molecada frequentar nenhum incentivo
O investimento no lazer é muito escasso
O centro comunitário é um fracasso

Racionais MCs. Racionais MCs. São Paulo: Zimbabwe, 1994 (fragmento).

A letra da canção apresenta uma realidade social quanto à distribuição distinta dos espaços de lazer
que

(A) retrata a ausência de opções de lazer para a população de baixa renda, por falta de espaço
adequado.

(B) ressalta a irrelevância das opções de lazer para diferentes classes sociais, que o acessam à sua
maneira.

(C) expressa o desinteresse das classes sociais menos favorecidas economicamente pelas atividades
de lazer.

(D) implica condições desiguais de acesso ao lazer, pela falta de infraestrutura e investimentos em
equipamentos.

(E) aponta para o predomínio do lazer contemplativo, nas classes favorecidas economicamente; e do
prático, nas menos favorecidas.

Questão: 15

Sobre o texto literário, é correto afirmar que:

(A) é plurissignificativo e sujeito a várias interpretações.

(B) é constituído de linguagem objetiva para facilitar a compreensão.

(C) não estabelece contato com a realidade factual na qual ele se insere.

(D) estabelece uma correlação direta entre a vida e a obra do autor.

(E) aparece, obrigatoriamente, em verso.

Questão: 16

(Enem 2011)

Lépida e leve

Língua do meu Amor velosa e doce,


que me convences de que sou frase,
que me contornas, que me vestes quase,
como se o corpo meu de ti vindo me fosse.
Língua que me cativas, que me enleias
os surtos de ave estranha,
em linhas longas de invisíveis teias,
de que és, há tanto, habilidosa aranha...

[...]
Amo-te as sugestões gloriosas e funestas,
amo-te como todas as mulheres
te amam, ó língua-lama, ó língua-resplendor,
pela carne de som que à ideia emprestas
e pelas frases mudas que proferes
nos silêncios de Amor!...

MACHADO, G. In: MORICONI, I. (org.). Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2001 (fragmento).

A poesia de Gilka Machado identifica-se com as concepções artísticas simbolistas. Entretanto, o texto
selecionado incorpora referências temáticas e formais modernistas, já que, nele, a poeta:

(A) procura desconstruir a visão metafórica do amor e abandona o cuidado formal.

(B) concebe a mulher como um ser sem linguagem e questiona o poder da palavra.

(C) questiona o trabalho intelectual da mulher e antecipa a construção do verso livre.

(D) propõe um modelo novo de erotização na lírica amorosa e propõe a simplificação verbal.

(E) explora a construção da essência feminina, a partir da polissemia de “língua”, e inova o léxico.

Questão: 17

(Enem 2001)

O trecho a seguir é parte do poema “Mocidade e morte”, do poeta romântico Castro Alves:

Oh! eu quero viver, beber perfumes


Na flor silvestre, que embalsama os ares;
Ver minh'alma adejar pelo infinito,
Qual branca vela n'amplidão dos mares.
No seio da mulher há tanto aroma...
Nos seus beijos de fogo há tanta vida...
–– Árabe errante, vou dormir à tarde
À sombra fresca da palmeira erguida.

Mas uma voz responde-me sombria:


Terás o sono sob a lájea fria.

ALVES, Castro. Os melhores poemas de Castro Alves. Seleção de Lêdo Ivo. São Paulo: Global,
1983.

Esse poema, como o próprio título sugere, aborda o inconformismo do poeta com a antevisão da
morte prematura, ainda na juventude. A imagem da morte aparece na palavra:

(A) embalsama.

(B) infinito.

(C) amplidão.

(D) dormir.

(E) sono.
Questão: 18

(Enem 2012)

Das irmãs os meus irmãos sujando-se


na lama
e eis-me aqui cercada
de alvura e enxovais

eles se provocando e provando


do fogo
e eu aqui fechada
provendo a comida

eles se lambuzando e arrotando


na mesa
e eu a temperada
servindo, contida

os meus irmãos jogando-se


na cama
e eis-me afiançada
por dote e marido

QUEIROZ, S. O sacro ofício. Belo Horizonte: Comunicação, 1980.

O poema de Sonia Queiroz apresenta uma voz lírica feminina que contrapõe o estilo de vida do
homem ao modelo reservado à mulher. Nessa contraposição, ela conclui que:

(A) a mulher deve conservar uma assepsia que a distingue de homens, que podem se jogar na lama.

(B) a palavra “fogo” é uma metáfora que remete ao ato de cozinhar, tarefa destinada às mulheres.

(C) a luta pela igualdade entre os gêneros depende da ascensão financeira e social das mulheres.

(D) a cama, como sua “alvura e enxovais”, é um símbolo da fragilidade feminina no espaço
doméstico.

(E) os papéis sociais destinados aos gêneros produzem efeitos e graus de autorrealização desiguais.

Questão: 19

(UEA 2015) Leia o trecho de Iracema, de José de Alencar, para responder à questão.

O Pajé vibrou o maracá* e saiu da cabana, porém o estrangeiro não ficou só.
Iracema voltara com as mulheres chamadas para servir o hóspede de Araquém e os guerreiros
vindos para obedecer-lhe.
– Guerreiro branco, disse a virgem, o prazer embale tua rede durante a noite e o Sol traga luz a teus
olhos, alegria à tua alma.
E, assim dizendo, Iracema tinha o lábio trêmulo e úmida a pálpebra.
– Tu me deixas? perguntou Martim.
– As mais belas mulheres da grande taba contigo ficam.
– Para elas a filha de Araquém não devia ter conduzido o hóspede à cabana do Pajé.
– Estrangeiro, Iracema não pode ser tua serva. É ela que guarda o segredo da jurema e o mistério do
sonho.
Sua mão fabrica para o Pajé a bebida de Tupã.
O guerreiro cristão atravessou a cabana e sumiu-se na treva.

* maracá: chocalho indígena usado em cerimônias religiosas e guerreiras.

Condizente com a estética do Romantismo brasileiro, Iracema é um romance que:

(A) descreve o início da colonização do Brasil pelos portugueses, sendo estes recebidos de maneira
extremamente hostil pelos nativos.

(B) narra a história do amor impossível entre uma índia e um branco que, por não se consumar,
termina com a trágica morte dos protagonistas.

(C) retrata a vida das comunidades indígenas do Brasil do século XIX, a partir do esforço de se
descrever o homem brasileiro de maneira crítica e realista.

(D) evidencia a preferência pela descrição de aspectos psicológicos das personagens, em detrimento
de detalhes físicos, que não têm relevância na obra.

(E) reconstrói a história do Brasil sob uma óptica idealizante, em que o índio representa a figura do
herói nobre e completamente integrado à natureza.

Questão: 20

(Enem 1998)

Amor é fogo que arde sem se ver,


É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;


É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;


É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor


Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões

O poema tem, como característica, a figura de linguagem denominada antítese, relação de oposição
de palavras ou ideias. Assinale a opção em que essa oposição se faz claramente presente.

(A) “Amor é fogo que arde sem se ver”

(B) “É um contentamento descontente”

(C) “É servir a quem vence, o vencedor”

(D) “Mas como causar pode seu favor”


(E) “Se tão contrário a si é o mesmo Amor?”

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