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A cantiga 2-Quanto ao significado, o poema baseia-se

em antíteses de tal maneira organizadas que


“Ai cigana ciganinha, parecem refletir:
ciganinha, meu amor".
Quando escutei essa cantiga (A) a coita amorosa.
era hora do almoço, há muitos anos.
A voz da mulher cantando vinha de uma (B) o amor cortês.
cozinha,
ai ciganinha, a voz de bambu rachado (C) a máquina do mundo.
continua tinindo, esganiçada, linda,
viaja pra dentro de mim, o meu ouvido cada (D) o heroísmo português.
vez melhor.
Canta, canta, mulher, vai polindo o cristal, (E) o desconcerto do mundo.
canta mais, canta que eu acho minha mãe,
meu vestido estampado, meu pai tirando
O açúcar
boia da panela,
canta que eu acho minha vida.
O branco açúcar que adoçará meu café
nesta manhã de Ipanema
(Adélia Prado. Bagagem. Rio de Janeiro:
não foi produzido por mim
Guanabara, 1986.)
nem surgiu dentro do açucareiro por
milagre.
1. Acerca desse poema, é correto
afirmar que: Vejo-o puro e afável ao paladar
como beijo de moça, água
(A) a poeta tem consciência de que seu na pele, flor
passado é irremediavelmente perdido. que se dissolve na boca. Mas este açúcar
não foi feito por mim.
(B) existe um tom sarcástico e um
saudosismo de raiz romântica. Este açúcar veio
da mercearia da esquina e tampouco o fez o
(C) a cantiga faz com que a poeta reviva Oliveira, dono da mercearia.
uma série de lembranças afetivas. Este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco
(D) predomina o tom satírico e o caráter ou no Estado do Rio
autobiográfico. e tampouco o fez o dono da usina.

(E) desvaloriza os elementos da cultura Este açúcar era cana


popular. e veio dos canaviais extensos
que não nascem por acaso
no regaço do vale.
Leia o texto a seguir:
(...)
Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos; Em usinas escuras,
E pera mais me espantar homens de vida amarga
Os maus vi sempre nadar e dura
Em mar de contentamentos. produziram este açúcar
Cuidando alcançar assim branco e puro
O bem tão mal ordenado, com que adoço meu café esta manhã em
Fui mau, mas fui castigado, Ipanema.
Assim que só pera mim
Anda o Mundo concertado. Ferreira Gullar. Toda Poesia. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1980, p.
(Luís de Camões: Ao desconcerto do 227-8.
Mundo. In: Rimas. Obra Completa. Rio de
Janeiro: Aguilar Editora, 1963, p. 475-6.) 3-A antítese que configura uma imagem da
divisão social do trabalho na sociedade
brasileira é expressa poeticamente na (D) a evidente preocupação do eu lírico
oposição entre a doçura do branco açúcar e com a realidade social expressa em imagens
poéticas inovadoras.
(A) o trabalho do dono da mercearia de
onde veio o açúcar. (E) a liberdade formal da estrutura poética
que dispensa a rima e a métrica tradicionais
(B) o beijo de moça, a água na pele e a flor em favor de temas do cotidiano.
que se dissolve na boca.
Abatidos pelo fadinho harmonioso e
(C) o trabalho do dono do engenho em nostálgico dos desterrados, iam todos, até
Pernambuco, onde se produz o açúcar. mesmo os brasileiros, se concentrando e
caindo em tristeza; mas, de repente, o
(D) a beleza dos extensos canaviais que cavaquinho de Porfiro, acompanhado pelo
nascem no regaço do vale. violão do Firmo, romperam vibrantemente
com um chorado baiano. Nada mais que os
(E) o trabalho dos homens de vida amarga primeiros acordes da música crioula para
em usinas escuras. que o sangue de toda aquela gente
despertasse logo, como se alguém lhe
Cárcere das almas fustigasse o corpo com urtigas bravas. E
seguiram-se outras notas, e outras, cada
vez mais ardentes e mais delirantes. Já não
Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
eram dois instrumentos que soavam, eram
Soluçando nas trevas, entre as grades
lúbricos gemidos e suspiros soltos em
Do calabouço olhando imensidades,
torrente, a correrem serpenteando, como
Mares, estrelas, tardes, natureza.
cobras numa floresta incendiada; eram ais
convulsos, chorados em frenesi de amor:
Tudo se veste de uma igual grandeza música feita de beijos e soluços gostosos;
Quando a alma entre grilhões as liberdades carícia de fera, carícia de doer, fazendo
Sonha e, sonhando, as imortalidades estalar de gozo.
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.
AZEVEDO, A. O Cortiço. São Paulo:
Ó almas presas, mudas e fechadas Ática, 1983 (fragmento)
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
5-No romance O Cortiço (1890), de Aluízio
Azevedo, as personagens são observadas
Nesses silêncios solitários, graves, como elementos coletivos caracterizados
que chaveiro do Céu possui as chaves por condicionantes de origem social, sexo e
para abrir-vos as portas do Mistério?! etnia. Na passagem transcrita, o confronto
entre brasileiros e portugueses revela
CRUZ E SOUSA, J. Poesia completa. prevalência do elemento brasileiro, pois:
Florianópolis: Fundação Catarinense de
Cultura / Fundação Banco do Brasil, 1993. (A) destaca o nome de personagens
brasileiras e omite o de personagens
4-Os elementos formais e temáticos portuguesas.
relacionados ao contexto cultural do
Simbolismo encontrados no poema (B) exalta a força do cenário natural
“Cárcere das almas”, de Cruz e Sousa, são: brasileiro e considera o do português
inexpressivo.
(A) a opção pela abordagem, em linguagem
simples e direta, de temas filosóficos. (C) mostra o poder envolvente da música
brasileira, que cala o fado português.
(B) a prevalência do lirismo amoroso e
intimista em relação à temática (D) destaca o sentimentalismo brasileiro,
nacionalista. contrário à tristeza dos portugueses.

(C) o refinamento estético da forma poética (E) atribui aos brasileiros uma habilidade
e o tratamento metafísico de temas maior com instrumentos musicais.
universais.
Oficina irritada Olha quanta gente
Tem sorveteria, cinema, piscina quente
Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever. [...]
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler. Aqui não vejo nenhum clube poliesportivo
Pra molecada frequentar nenhum incentivo
Quero que meu soneto, no futuro, O investimento no lazer é muito escasso
não desperte em ninguém nenhum prazer. O centro comunitário é um fracasso
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser. Racionais MCs. Racionais MCs. São Paulo:
Zimbabwe, 1994 (fragmento).
Esse meu verbo antipático e impuro
há de pungir, há de fazer sofrer, 7-A letra da canção apresenta uma realidade
tendão de Vênus sob o pedicuro. social quanto à distribuição distinta dos
espaços de lazer que
Ninguém o lembrará: tiro no muro,
cão mijando no caos, enquanto Arcturo, (A) retrata a ausência de opções de lazer
claro enigma, se deixa surpreender. para a população de baixa renda, por falta
de espaço adequado.
Carlos Drummond de Andrade
(B) ressalta a irrelevância das opções de
6-Observa-se, na primeira estrofe, uma lazer para diferentes classes sociais, que o
intenção de falar dentro do próprio poema acessam à sua maneira.
sobre a construção do texto. Essa estratégia
da linguagem é chamada de: (C) expressa o desinteresse das classes
sociais menos favorecidas economicamente
(A) metáfora. pelas atividades de lazer.

(B) metalinguagem. (D) implica condições desiguais de acesso


ao lazer, pela falta de infraestrutura e
(C) intertextualidade. investimentos em equipamentos.

(D) poesia. (E) aponta para o predomínio do lazer


contemplativo, nas classes favorecidas
(E) tragédia. economicamente; e do prático, nas menos
favorecidas.
Fim de semana no parque
Das irmãs os meus irmãos sujando-se
Olha o meu povo nas favelas e vai perceber na lama
Daqui eu vejo uma caranga do ano e eis-me aqui cercada
Toda equipada e o tiozinho guiando de alvura e enxovais
Com seus filhos ao lado estão indo ao
parque eles se provocando e provando
Eufóricos brinquedos eletrônicos do fogo
Automaticamente eu imagino e eu aqui fechada
A molecada lá da área como é que tá provendo a comida
Provavelmente correndo pra lá e pra cá
Jogando bola descalços nas ruas de terra eles se lambuzando e arrotando
É, brincam do jeito que dá
na mesa
e eu a temperada
[...]
servindo, contida
Olha só aquele clube, que da hora
Olha aquela quadra, olha aquele campo,
olha
os meus irmãos jogando-se (B) a palavra “fogo” é uma metáfora que
na cama remete ao ato de cozinhar, tarefa
e eis-me afiançada destinada às mulheres.
por dote e marido
(C) a luta pela igualdade entre os gêneros
QUEIROZ, S. O sacro ofício. Belo Horizonte: depende da ascensão financeira e social
Comunicação, 1980. das mulheres.

8- O poema de Sonia Queiroz apresenta (D) a cama, como sua “alvura e enxovais”,
uma voz lírica feminina que contrapõe o é um símbolo da fragilidade feminina no
estilo de vida do homem ao modelo espaço doméstico.
reservado à mulher. Nessa contraposição,
ela conclui que: (E) os papéis sociais destinados aos
gêneros produzem efeitos e graus de
(A) a mulher deve conservar uma assepsia autorrealização desiguais.
que a distingue de homens, que podem se
jogar na lama.

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