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1. Escrevi no espaço.
2. Hoje, grafo no tempo,
3. na pele, na palma, na pétala,
4. luz do momento.
5. Soo na dúvida que separa
6. o silêncio de quem grita
7. do escândalo que cala,
8. no tempo, distância, praça,
9. que a pausa, asa, leva
10. para ir do percalço ao espasmo.
11. Eis a voz, eis o deus, eis a fala,
12. eis que a luz se acendeu na casa
13. e não cabe mais na sala.1
Paulo Leminski
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LEMINSKI, Paulo. Toda Poesia. Editora Companhia das Letras. 2013
oriental com a sensibilidade poética brasileira, sua obra reflete uma fusão única de
influências, incluindo o haicai japonês e a poesia concreta. Suas composições poéticas são
marcadas por uma linguagem concisa e imagens vívidas, explorando temas que vão desde a
espiritualidade até questões sociais e existenciais. Leminski, além de sua produção poética, foi
um agente ativo no cenário cultural brasileiro, participando ativamente do movimento
marginal e contribuindo para a revitalização da poesia contemporânea.
A métrica não segue um padrão fixo, o que proporciona uma sensação de liberdade e
de flexibilidade. No entanto, a ausência de uma estrutura rígida contribui para a fluidez da
poesia, permitindo que o ritmo e a musicalidade emanem de forma mais orgânica. A escolha
de versos curtos também ressalta a agilidade e a urgência presentes no tema, evidenciando a
habilidade de Leminski em casar forma e conteúdo.
Quando lemos Octavio Paz, em "O Arco e a Lira", quando no começo do livro ele
discute a necessidade de os poetas encontrarem uma linguagem que vá além das palavras
comuns, buscando uma dimensão simbólica e sensorial, é o que percebemos aqui nessa
metáfora. Leminski, nesse poema, parece responder a esse chamado, criando uma sintonia
única entre as palavras e os sentimentos evocados.
Ao conectar essa metáfora ao que Octavio Paz diz no começo de "O Arco e a Lira",
vemos uma busca de Leminski por uma linguagem que va além das palavras comuns e a
proposta de Octávio Paz de explorar uma dimensão simbólica e sensorial na poesia. A "luz"
torna-se um símbolo, uma entidade que não está contida pela sala, representando algo que
transcende as barreiras físicas e, por extensão, as limitações da linguagem ordinária.
A metáfora da "luz que se acendeu na casa e não cabe mais na sala" em "Sintonia para
Pressa e Presságio" de Paulo Leminski revela não apenas uma visão poética mas também uma
conexão com a filosofia oriental onde a luz frequentemente simboliza a iluminação espiritual.
Essa imagem, alinhada com as ideias de Octavio Paz sobre a necessidade de transcender a
linguagem comum em busca de uma dimensão simbólica, demonstra a capacidade de
Leminski de criar uma poesia que vai além das fronteiras convencionais.
A influência oriental na poesia de Leminski é visível em suas metáforas e na busca por
uma linguagem que abrace muito simbolismo, parece ser uma peça fundamental nesse
quebra-cabeça poético. Assim, a "sintonia única" entre as palavras e os sentimentos, ao
responder ao chamado de Paz para uma linguagem poética mais expansiva, reflete não apenas
a maestria de Leminski, mas também a influência enriquecedora de uma tradição oriental que
valoriza a transcendência e a síntese entre o sensorial e o simbólico na expressão poética. Essa
união de elementos forma uma tapeçaria poética única, onde as influências orientais e as
ideias de Paz convergem para criar uma obra que vai além das palavras e ressoa na esfera da
experiência espiritual e estética.
PAZ, Octavio. O Arco e a Lira. trad.Ari Roitman e Paulina Wacht. Cosac Naify. 2012
GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons e ritmos. Ed. Ática. 2003
VAZ, Toninho. O bandido que sabia latim. Ed. Record. 2001.