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O poeta é um fingidor. E os que leem o que escreve, E assim nas calhas de roda
Finge tão completamente Na dor lida sentem bem, Gira, a entreter, a razão,
Que chega a fingir que é dor Não as duas que ele teve, Esse comboio de corda
A dor que deveras sente. Mas só a que eles não têm. Que se chama coração.
1) Na primeira estrofe do poema de Fernando Pessoa, o eu-lírico afirma, noutras palavras, que
aspecto da obra literária e artística em geral?
a) sua condição de objeto expressivo de uma emoção real;
b) seu aspecto ficcional, isto é, a realidade criada ou recriada da obra literária;
c) seu aspecto científico, marcado pelo uso exato e denotativo das palavras;
d) sua condição de texto moral ou edificante do qual devemos apreender certos princípios;
e) seu carácter de manifesto político, apontando as desigualdades sociais.
2) Se a primeira estrofe do poema de Fernando Pessoa trata do polo da produção poética, a segunda
trata do quê?
a) da recepção;
b) do objeto produzido;
c) do meio de produção;
d) do emissor da mensagem;
e) do contexto da mensagem.
3) Na terceira estrofe do poema de Fernando Pessoa, lê-se como se produz o fazer poético. De
acordo com a estrofe, a produção poética envolveria o quê?
a) instrumentos práticos como calhas de roda e brinquedos como comboios de corda;
b) apenas as calhas da roda que giram pela força das águas da emoção;
c) apenas o trenzinho de corda, cuja mola deve ser preparada pela força da razão;
d) o pensamento referido pela razão e a emoção referida pelo coração;
e) a ação do poeta como produtor e do leitor como receptor da obra.
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4) No primeiro haicai de Paulo Leminski, há uma associação da estrela cadente, que deixa um risco
brilhante no céu e depois se apaga, com algo que cai do próprio eu lírico (“me caiu”). Pensando
nas qualidades associadas, o que seria metaforizado pela estrela cadente?
a) um pedido; b) o olhar; c) uma lágrima; d) o desejo; e) a realização de um sonho.
5) Considerando os dois últimos versos do primeiro haicai de Leminski, é possível afirmar que o
poema tem como tema a própria constituição do quê?
a) do desejo; b) do sonho; c) da lágrima; d) do olhar; e) do destino.
6) Poesia não é só dizer, é fazer acontecer. Assim, quando o eu lírico diz que “amar é um elo”,
teríamos de perceber os elos, as conexões, as relações. Você deve ter percebido que “amor + elo =
amarelo”. Assim, onde estaria o azul?
a) no céu que é azul, pois amarelo pode remeter ao sol que está no céu;
b) na bandeira brasileira em que temos, além do amarelo, o verde também;
c) “entre o azul e o amarelo”, na escala cromática, está o verde, composto de amarelo e azul;
d) no “mar” de amar, já que o mar é representado, geralmente, azul, sendo “amar” um “palavra
valise”, isto é, uma palavra em que podemos ver outras dentro;
e) não está em lugar nenhum, até porque as palavras amarelo e azul não têm cor, apenas
mencionam cores.
7) Amar, como sugere o segundo haicai de Leminski transcrito acima, tem que dimensões criativas?
a) pessoais e românticas; b) nacionais e patrióticas; c) biológicas e evolucionistas;
d) religiosas e espirituais; c) universais e cosmológicas.
8) Pense no segundo verso do terceiro haicai de Leminski: “a chave na porta” – alguém entra ou sai.
Associe isso ao terceiro verso: “como uma flor no galho” – a flor ficará sempre no galho? Feitas
as aproximações, parece que o poema trata de que tema?
a) de um reencontro; b) de uma despedida; c) da chegada de alguém querido;
d) da morte de alguém querido; e) de estações do ano.
9) O primeiro verso “chove no orvalho” parece reiterar certa ideia pela intensidade da imagem da
água da chuva caindo sobre o orvalho, gotículas de água condensada. Que ideia é sugerida
a) de que algo se faz; b) de que algo acabou; c) de que algo se desfaz;
d) de que algo começou; e) de que algo recomeçou.
10) Em todos os textos que você leu, de Fernando Pessoa e Paulo Leminski, o que parece ser evidente
sobre o trabalho poético?
a) que ele é resultado da emoção, da emotividade do poeta;
b) que ele é decorrência do assunto sensível do poema;
c) que ele é resultado do trabalho sensível com a linguagem;
d) que ele é uma impressão resultante da interpretação competente do leitor;
e) que ele é resultado de um convenção social que determina o que é considerado poético ou não.
O texto literário não é um texto comum, isto é, cujo objetivo seja única e exclusivamente informar. Assim, ele
tem características que o diferenciam dos outros textos usados para a comunicação. Essas características formam a
“LITERARIEDADE”.
a) FICCIONALIDADE: o texto literário simula a realidade, mas não é o real. Por isso, chamamos
romances, contos, novelas de ficção (com Verossimilhança externa e interna).
b) FUNÇÃO ESTÉTICA: o artista escritor ou poeta usa a língua de uma maneira especial, incomum,
tentando fundir forma e conteúdo para alcançar um efeito artístico, isto é, estético. Também chamada
de Função Poética – desautomatização do código em favor da mensagem sensível, sugestiva e
criativa.
e) SUBJETIVIDADE: a literatura serve à expressão do mundo pessoal e particular do autor, sua visão
de mundo carregada de impressões, emoções, sentimentos e experiências subjetivas, ideologias
(COSMOVISÃO).
f) INTERTEXTUALIDADE: um texto pode citar ou se referir a um outro, mesmo não verbal, traçando
relações críticas ou de referência paródicas com a cultura anterior ou ao redor.
Assim, o texto literário é aquele que escapa da função utilitária da língua para criar um objeto estético de
plurissignificação, até intertextual, através da ficção e intenção estética do autor e da sua subjetividade.
Veja um exemplo desse trabalho com a linguagem no haicai (poema de três versos de origem nipônica) do livro “2 em 1”:
verão
meus olhos veem
não verão
Alice Ruiz S.
Exercícios
1) Há lacunas na nota de análise do poema de Alice Ruiz. Preencha-as com uma das palavras a
seguir, que não se repetem: leitores – olhos – verbo – terceira – substantivo – plural – pessoa
- vívida – tempo – abertos.
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Nota 1:
*Veja que “verão” é um substantivo, a estação do ano caracterizada por ser quente, ter luz
abundante, propícia a maior mobilidade, enfim, por ser mais alegre, vívida.
* Mas “verão” é também o verbo “ver” no Futuro do Presente do Indicativo na terceira pessoa do
plural (eles, elas, vocês... verão.)
* Além disso, “veem” é o verbo “ver” no Presente do Indicativo na terceira pessoa do plural.
*Portanto, temos dois tempos: um presente, em que meus olhos veem. Inclusive, é possível ver
mesmo esses olhos! Como? Percebem os dois olhos abertos representados pelas letras “ós” no meio do
segundo verso, bem no meio do poema, como se o texto fosse um rosto olhando para nós, os leitores?
Temos também outro tempo, futuro, em que meus olhos “não verão”.
* Há uma sugestão aqui. Pense: bem, se meus olhos veem porque estão abertos, eles não verão
quando estiverem fechados. Quando meus olhos estarão, enfim, fechados?
2) Há lacunas nesta outra nota de análise do poema de Alice Ruiz. Preencha-as com uma das
palavras a seguir, que não se repetem: agimos – menos - recolhimento – fechados - verão -
frio – segundo - luz – alegre – sentido.
Nota 2:
*A expressão “não verão” pode ter dois sentidos. O primeiro sentido é de “não ver” mais no
futuro, o segundo é de inverno, tempo de não verão, mais frio, mais escuro, menos alegre, de maior
recolhimento, enfim, menos vívido.
*Assim, há um tempo de verão, de olhos abertos, vívidos, em que vemos porque há luz, é quente
porque estamos vivos, movimentamo-nos, agimos em plenitude; mas há, ou haverá, outro tempo, em que
“meus olhos não verão” porque estarão fechados, tempo de inverno, com menos luz, mais frio, em que
nos movimentaremos menos ou nem nos movimentaremos, em que nos recolheremos.
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4) Leia o texto abaixo em que, através da análise feita do haicai de Alice Ruiz S., chegamos a
conclusões mais gerais sobre o fazer poético e a linguagem da poesia, enfim, a arte poética. Depois
escreva entre os parênteses “F” de FALSO ou “V” de VERDADEIRO , julgando assim as
proposições.
“Concluindo: através do exposto nas notas (dicas) de leitura, vocês percebem o que
é o trabalho especial com a linguagem, a desautomatização do código em favor da
mensagem sensível, sugestiva, criativa, bela, que chamamos de FUNÇÃO POÉTICA OU
ESTÉTICA?
Pensem na estrutura do poema, em que o primeiro verso é um polo e o último
outro... Pensem na oposição entre eles pelo que sugerem as estações... Pensem na ideia de
ciclo, de que há momento de abrir os olhos, viver o verão, a vida, mas também haverá o
tempo de fechar os olhos, no inverno da vida, tempo de recolhimento e, inclusive, de
morte como fazendo parte desse ciclo de todas as coisas... VEJAM QUANTAS
“EXPERIÊNCIAS” DE SIGNIFICAÇÃO O POEMA NOS POSSIBILITA...!
A arte não diz, ela faz acontecer. O poema tem, no seu corpo (sígnico), o
movimento, a vida, ou uma simulação sensível dela. Não é o que se diz, mas o como se diz.
“Poiésis” é o termo grego original para “poesia” em português, e significa “ato de
fazer”, de agir, ou melhor: “Poiesis é um substantivo que se forma do verbo grego
‘poiein’”. Este assinala, no grego, a ação de fazer diversificada, mas, sobretudo, a
questão da essência do agir. Nesse sentido, está ligada à poiésis, como hoje consideramos
o ato de criação.
a.( V ) Usamos a língua automaticamente, para nos comunicar. Mas é possível usar a língua de
forma mais expressiva, desautomatizadamente, isto é, além de sua função utilitária.
b.( F ) A estrutura de obra de arte envolve unicamente o seu tema, isto é, a sua temática e sua
cosmovisão, isto é, a visão do mundo que expressa. Por isso, que arte e filosofia estão ligados.
c.( V ) O trabalho com a linguagem torna a experiência estética uma experiência que não diz
exatamente, mas possibilita que vivamos ou experimentemos uma situação que possa nos trazer ideias.
sensações, emoções, pensamentos, percepções através do contato real com as qualidade significantes da
palavra ou outro signo não verbal usado como expressão artística.
d.( F ) Uma palavra tem som, tem forma gráfica, tem sentidos próximos, usuais, ou outros
sentidos mais distantes, menos óbvios. Um poeta é aquele que não preza essas qualidades do significante
verbal.
e.( F ) Conclui-se que poesia é algo que não é passível de análise, cujas qualidades só são
percebidas por alguém sensivelmente dotado. Como aquelas pessoas de audição privilegiada que são
sensíveis à música sem precisar estuda-la.
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Gêneros literários
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narrativo e pode ser um romance, uma novela, um conto ou
uma fábula.
Prosa e poesia
Quando dizemos que um texto está em prosa é que ele se organiza como
um texto que tem parágrafos e em que o narrador conta fatos e descreve
personagens, objetos e paisagens. Já o texto em poesia é, normalmente, um
texto escrito em versos, com ritmo regular (mesmo número de sílabas em
cada verso) ou irregular (número diferente de sílabas em cada verso), às
vezes com rima, e cujo conjunto de versos forma a estrofe.
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Períodos Literários da Literatura em Língua Portuguesa
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Panorama Histórico: Sociedade medieval é constituída de três “classes” de
difícil mobilidade entre si: o clero, cuja função era pregar os valores religiosos e salvar a
alma dos homens, pois era a classe formada pelos sacerdotes da Igreja Católica que
fundamentavam a ideologia TEOCÊNTRICA, em que DEUS é o centro de todas as
explicações sobre o mundo; a nobreza era a classe dos aristocratas e guerreiros,
“proprietários” da terra, isto é, dos feudos e cuja função era proteger tais feudos, contra
inimigos, principalmente árabes muçulmanos, além de servirem a um suserano, um senhor
feudal, como vassalo em troca de fidelidade e apoio; a plebe era a classe dos trabalhadores
que eram principalmente agricultores, ou seja, camponeses. Na Baixa Idade Média, isto é,
entre os séculos XII e XV, a melhora das técnicas agrícolas possibilitam excedentes que
podem ser comercializados nas aldeias maiores que começam a se transformar em cidades.
Nesses burgos, começa a se desenvolver novas classes de artífices que não são mais
camponeses, mas produzem bens necessários à sociedade comercial emergente.
As principais produções literárias do período: Através dos cancioneiros, isto é,
coletâneas de poemas com participação de diversos autores, é que sabemos que as cantigas
eram a principal produção literária do período, criadas por trovadores, ou seja, alguém que
fazia trovas, versos com rimas.
As cantigas eram de dois tipos: as lírico-amorosas e as lírico-satíricas. Cada um
desses tipos se dividiam em dois outros subtipos: cantigas de amor e de amigo, cantigas de
escárnio e maldizer, cada uma delas com suas com características específicas:
*Motivo literário principal: a coita amorosa, isto é, *Motivo literário principal: o lamento da jovem
o sofrimento amoroso do homem que é de uma si- camponesa cujo namorado partiu, expressando um
situação e posição social inferior a uma senhora da amor mais concreto, pois eles já estiveram
nobreza, idealizada, a quem o poeta destina um amor juntos no passado;
cortês, servil, como a de um vassalo a seu rei;
*A ambientação da cantiga é aristocrática das cortes, *A ambientação é rural ou nas aldeias, no momento
dos palácios da nobreza; das romarias, dos bailes ou apresentam ambiente marítimo;
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*Nas cantigas de amor há o predomínio das ideias, *Nas cantigas de amigo há muita musicalidade nos
sem paralelismos formais entre os versos e sua origem versos que têm uma forma muito parecida entre si,
é provençal, região do sul da França. isto é, há paralelismo formal. Sua origem é mais
ligada à tradição oral ibérica (região da Espanha e Portugal).
Exemplo de Cantiga de Amor de João Garcia de Guilhade (Atenção: a linguagem da versão original era o galego-
português, uma fase que precede o português moderno)
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HUMANISMO PORTUGUÊS (1434 a 1527)
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O humanismo corresponde a uma etapa de transição entre os valores do mundo medieval e
aqueles do mundo moderno, após o Renascimento. A invenção da imprensa por Gutemberg em 1440, que
possibilitou um grande intercâmbio cultural, o implemento das grandes navegações pela Dinastia de Avis
em Portugal, a expansão do comércio e o surgimento da burguesia nos centros urbanos que crescem, tudo
isso indica um mundo que convive com os valores teocêntricos, mas também com aqueles ligado ao
mundo humano, terreno, em que “o homem é a medida da coisas”.
As manifestações literárias e não literárias do período são:
*A historiografia de Fernão Lopes, nomeado em 1418 para Guarda-mor da Torre do Tombo,
revela uma visão mais panorâmica da história de Portugal. Como cronista-mor de Portugal, buscou a
verdade histórica através de pesquisa cuidadosa, confronto de versões, num estilo elegante nas narrações e
descrições em que o povo também é agente das transformações sociais, afastando-se do Regiocentrismo
de cronistas medievais.
*A poesia palaciana é uma produção poética em versos que floresceu nessa época, afastando-se
da música, buscando um ritmo próprio, contido na própria linguagem. O “Cancioneiro Geral” de Garcia
de Resende é uma coletânea dessa produção.
*O teatro popular de Gil Vicente é a expressão literária da dramaturgia portuguesa na sua origem,
pois antes de Gil Vicente o texto dramático praticamente não existia em Portugal. Suas obras têm um texto
sugestivo, cujos trocadilhos e outros efeitos de linguagem constroem situações embaraçosas passíveis do
riso fácil. Sua crítica social e retrato das camadas sociais portuguesas, através de personagens alegóricas,
são aspectos modernos. A forma da dramaturgia é, no entanto, medieval, utilizando a redondilha nas falas
das personagens, compondo autos (motivos mais cristãos) e farsas (temas mais mundanos), e atendo-se a
uma moral cristã.
Vamos realizar alguns exercícios agora, como se você estivesse numa avaliação.
Responda as questões dissertativas de forma completa no verso das folhas (Vamos poupar papel! As árvores
agradecem! TROVADORISMO (1189-1418) e HUMANISMO (1418-1527) PORTUGUÊS – (Prof. Carlos Verdasca
elaborou.)
2) Leia a cantiga de Don Dinis, que já está traduzida para o português moderno, e responda:
“Quan / to/ me / cus/ ta,/ se / nho - ra, Desde o momento, senhora, Devíeis ter dó, senhora,
Ta / ma / nha / dor / su/ por/ tar, em que vos ouvi falar, do meu profundo pesar,
quando me ponho a lembrar não tive senão pesar; de minha mágoa sem par,
o que penei desde a hora cada dia a cada hora porque já sabeis agora
em que, formosa, vos vi: mais tristezas conheci: o que muito padeci:
e todo este mal sofri e todo este mal sofri e todo este mal sofri
só por vos amar, senhora. Só por vos amar, senhora. por vos amar, senhora.”
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O sentimento de amor das cantigas trovadorescas de
amor é associado a de um sofrer, portanto, amar é sofrer, ou
melhor, o amor só se revela enquanto sofrimento, este é a
manifestação daquele. É a coita d’amor.
Os ultrarromânticos do século XIX também vão
associar o amor ao sofrimento, considerando que a
subjetividade do que sentem não tem a possibilidade de
realização plena na vida.
d) Quanto à métrica dos versos, o autor utilizou nessa cantiga algum número regular em todos os versos? Que
número? Como são chamados os versos com esse número de sílabas poéticas? Escanda dois versos em
sequência a prove.
“E / to / do es / te / mal / so / fri
Só / por / vos / a / mar / se / nho – ra”
O refrão, como todos os outros versos da cantiga, tem sete pés, ou seja,
sete sílabas poéticas. Portanto, são heptassílabos ou redondilhas maiores.
3) Por que a nomeação de Fernão Lopes para Guarda-mor da Torre do Tombo é o marco inicial do Humanismo Português?
Outra resposta:
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confrontava versões. Isso é uma marca deste período histórico e literário,
com uma visão de mundo mais antropocêntrica, isto é, em que a razão
humana está na base da explicação das coisas.
4) Leia o trecho a seguir de uma peça de Gil Vicente, “Auto de Mofina Mendes”, e responda as questões a seguir:
“Vou-me à feira de Trancoso E estes ovos chocarão; E o dia que for casada
Logo, nome de Jesu, Cada ovo dará um pato, Sahirei ataviada
E farei dinheiro grosso E cada pato um tostão, Com hum brial d’escarlata
Do que este azeite render Que passará de um milhão E diante o desposado
Comprarei ovos de pata, E meio, a vender barato. Que me estará namorando:
Que he a cousa mais barata Casarei rica e honrada Virei de dentro bailando
Qu’eu de lá posso trazer. Por estes ovos de pata, Assi dest’arte bailado
Esta cantiga cantando.”
a) Como você entendeu a referência a Jesus relacionada com o dinheiro grosso? Trata-se de uma ironia do autor?
Eu entendi a referência a Jesus relacionada com o dinheiro grosso como uma ironia
devido ao fato de que Jesus na Bíblia aponta muitas adversidades à salvação da alma,
causadas pelas riquezas. Assim, ao relacionar Jesus ao "dinheiro grosso", em outras palavras,
uma grande quantidade de riqueza, ela nega o que é dito por Cristo, que privilegia a virtude e o
sacramento ao mundo mundano.
Outra resposta:
No trecho do “Auto de Mofina Mendes”, pode ser considerada como uma ironia do autor a
referência de Jesus ao dinheiro grosso. Isso acontece porque, na época de criação da peça de Gil
Vicente, o mundo havia acabado de sair da Idade Média, um período controlado pela igreja católica.
Portanto, em oposição a esses princípios, estava surgindo a burguesia, que aspirava ao dinheiro e,
para isso, violava alguns dos valores da igreja cristã ou os "valores de Jesus". Logo, a referência à
figura sagrada associada a algo profano é irônica.
Quando, no auto de Gil Vicente, Mofina Mendes faz referência a Jesus como “avalista” do seu
plano em ganhar dinheiro, vemos uma ironia do autor, porque a personagem Mofina viveu a vida
buscando a satisfação apenas em elementos materiais, o que a qualifica como um exemplo a não
ser seguido, pois confunde o casamento, que é um sacramento da Igreja Católica, com um
negócio de ascensão social. Ela, definitivamente, não tem como pertencer ao espaço “no céu”, ou
seja, ser abençoada por sua fé, já que na peça ela é vista como alguém que se afasta da busca
espiritual da salvação pela salvação terrena e material.
b) Segundo o texto, qual é a melhor base para um casamento sólido? Vai aí alguma crítica do autor?
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A melhor base para um casamento sólido, de acordo com o poema, seria ter posses e
riquezas, a fim da pessoa casar-se com “honra”. Porém, simultaneamente, o autor coloca a condição
de busca incessante por dinheiro do eu-lírico, que continuará cantando a cantiga sobre riquezas, que
supostamente seriam responsáveis por um bom casamento, mesmo após o matrimônio. Isso indica o
caráter ganancioso dos indivíduos e a falácia, do ponto de vista cristão, a respeito de que bens
materiais são uma base concreta para o “casório”.
Resposta alternativa:
c) Com elementos do texto, cite dois aspectos antropocêntricos da obra de Gil Vicente.
Entre os aspectos antropocêntricos das obras de Gil Vicente, podemos citar a crítica aos
valores morais da sociedade, através da análise de ações de indivíduos de todos estamentos
existentes à época, como visto em o “Auto da Barca do Inferno”.
Vemos, no texto em questão, as contradições que as pessoas se colocam quando estão
em uma busca desenfreada por dinheiro e, ao mesmo tempo, buscando a bênção divina ou o
status social que o casamento cristão estabelece, o que vimos em “Auto de Mofina
Mendes”. Assim, há a critica do comportamento social e retrato dos novos valores surgindo na
sociedade quatrocentista e quinhentista.
O autor Gil Vicente protagoniza um novo ser humano, nesse caso a Mofina, pois ele
compreendeu que a sociedade lentamente levava o homem a se apegar aos bens materiais,
esquecendo de certos valores como a virtude e a moral cristã. Nesse caso, o retrato da realidade
social em transformação fica aqui evidente como aspecto antropocêntrico.
Além disso, Gil Vicente também entende que os erros das personagens são apenas erros
humanos, e por isso podemos aprender com eles, nos tornando seres humanos cada vez
melhores. Esse é o seu aspecto crítico, embora de fundo cristão.
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O Renascimento é um movimento cultural que valoriza e resgata elementos
artísticos da cultura clássica (greco-romana). O Classicismo é a literatura do
Renascimento. Nas artes plásticas, teatro e literatura, o classicismo ocorreu no
período do (séculos XIV ao XVI). Já na música, ele apareceu na metade do século
XVIII (Neoclassicismo).
Características do Classicismo:
- Valorização dos aspectos culturais e filosóficos da cultura das antigas
Grécia e Roma;
- Influência do pensamento humanista;
- Antropocentrismo: o homem como o centro do Universo;
- Críticas às explicações e à visão de mundo pautada pela religião;
- Racionalismo: valorização das explicações baseadas na ciência;
- Busca do equilíbrio, rigor e pureza formal;
- Universalismo: abordagem de temas universais como, por exemplo, os
sentimentos humanos.
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Como tema para o seu poema épico, Luís de Camões escolheu a
história de Portugal, intenção explicitada no título do poema: “Os lusíadas.”
O cerne da ação desenvolve-se em torno da viagem de Vasco da
Gama às Índias. A palavra “lusíada” é um neologismo inventado por André
de Resende para designar os portugueses como descendentes de Luso (filho
ou companheiro do deus Baco).
2ª parte:
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IV) Na Narração (da estrofe 19 do Canto I até a estrofe 1044 do
Canto X), o poeta relata a viagem propriamente dita dos portugueses ao
Oriente.
3ª parte:
Epílogo
O herói:
Camões Lírico
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Camões escreveu versos tanto na medida velha ( cinco ou sete sílabas métricas) quanto na medida
nova ( dez sílabas métricas).
Seus poemas heptassílabos ( sete sílabas métricas) geralmente são compostos por um mote e uma
ou mais estrofes que constituíam glosas (ou voltas a ele).
Os sonetos, porém, são a parte mais conhecida da lírica camoniana. Com estrutura tipicamente
silogística, normalmente apresentam duas premissas e uma conclusão, que costuma ser revelada no último
terceto, fechando, assim, o raciocínio. Isso mostra que o racionalismo universalista clássico busca mais
pensar a coisa, o sentimento a situação do que simplesmente expressá-los. Daí, o neoplatonismo amoroso,
tema comum da lírica camoniana.
Camões demonstra, em seus sonetos, uma luta constante entre o amor material, manifestação da
carnalidade e do desejo, e o amor idealizado, puro, espiritualizado, capaz de conduzir o homem à
realização plena.
Nessa perspectiva, o poeta concilia o amor como ideia e o amor como forma, tendo a mulher como
exemplo de perfeição, ansiando pelo amor em sua integridade e universalidade.
Transforma-se o amador na cousa amada, 5) O soneto ao lado pertence a que parte da obra de Camões?
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho, logo, mais que desejar 6) Qual a métrica utilizada? Escanda a primeira estrofe.
Pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minha alma transformada, 7) Qual o tema proposto por Camões? Como se chama essa
Que mais deseja o corpo de alcançar? concepção do amor? Explique-a.
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está ligada.
Mas esta linda e pura semideia, 8) Nos tercetos finais, percebe-se uma problemática quanto àquela
Que, como o acidente em seu sujeito, visão anterior do amor. Qual é o problema? O que ele revela?
Assim com a alma minha se conforma,
Resposta alternativa:
Quanto à obra literária de Luís de Camões denominada "Transforma-se o amador na
cousa amada", é perceptível que se trata de uma composição do gênero lírico, pois, além de ser uma
poesia sem narração, também contém as principais características do mesmo: vemos versos escritos
em primeira pessoa do discurso em que há a expressão de sentimentos e emoções e visões de
mundo de um eu lírico: "Se nela está minha alma transformada, que mais deseja o corpo de
alcançar?". A exteriorização de um mundo interior, através de metrificação e rima, são
particularidades desse gênero literário. Um bom exemplo é a primeira estrofe do poema:
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Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada."
6) Camões utiliza nos seus sonetos a “Medida nova”, poemas de versos decassílabos.
Resposta alternativa:
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Trans/for/ma-/se o a/ma/dor/ na/ cou/sa a/ma-da,
Por /vir/ tu/ de / do/ mui/ to i/ ma/gi/nar;
Não/ te/ nho,/ lo/ go,/ mais /que / de/ se/ jar
Pois / em / mim / te/ nho a/ par/ te/ de/ se/ ja - da.
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Os versos são decassílabos ou, como chamados na época da renascença, “medida nova”.
7) O amor proposto por Camões em muitos dos seus sonetos é o amor neoplatônico, pois há
idealização na concepção de amor. No soneto apresentado, o eu lírico concebe a sua união com o
ser amada como uma forma de elevação abstrata, ou seja, como pura ideia.
Resposta alternativa:
Camões propõe a superioridade da ideia sobre o real. Essa concepção de amor é chamada de
idealização, no caso, neoplatonismo amoroso: “Por virtude de muito imaginar”, “Está no pensamento
como uma ideia”.
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Mais outra resposta:
Camões propõem, como tema desse seu soneto, o amor e o desejo de ser amado. O amor
apresentado no tema é neoplatônico, pois o Eu lírico tende a imaginar e desejar o ser amado tanto que não
precisa mais dele como objeto de sua ação. Ele o tem como ideia, isto é, como abstração de sua mente. A
ideia do amor é mais valorizada que o objeto do amor. Isso é o neoplatonismo amoroso.
Resposta alternativa:
O problema de Camões em relação à ideia de que o amor pode ser vivido como ideia, como
abstração, e o desejo descansar é posto em dúvida nos dois tercetos do soneto, pois ele diz que o
amor de que ele é feito parece querer tomar forma, isto é, parece querer ter corpo e se realizar.
Enfim, a ideia do neoplatonismo amoroso não é um “paraíso”, mas implica num conflito entre o que
o eu-lírico sente racionalmente e o que eu sente sensivelmente.
Alma minha gentil, que te partiste 9) Há uma estrutura lógica no poema, o que demonstra o racionalismo
Tão cedo desta vida descontente, clássico de Camões. Vamos analisar.
Repousa lá no Céu eternamente a) Qual o problema apresentado na primeira estrofe, que parece
E viva eu cá na terra sempre triste. insolúvel?
Se lá no assento Etéreo, onde subiste, b) Qual a primeira condição para a solução do problema proposto pelo
Memória desta vida se consente, eu lírico?
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste. c) Qual a segunda condição para a solução ser possível?
E se vires que pode merecer-te d) Qual a solução apresentada para o problema exposto?
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa sem remédio de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou, e) Enfim, por que é possível dizer que o poeta clássico não
Que tão cedo de cá me leve a ver-te, diz só o que sente, mas pensa sobre o sentimento e sobre a
Quão cedo de meus olhos te levou. condição humana?
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Vamos aprender a responder dissertativamente
com coerência, objetividade e clareza respostas completas
e autônomas (que não precisam da pergunta para serem
entendidas). Para isso, usaremos o esquema silogístico a
↔ b; c → b; c → a [Exemplo: Aves (a) têm bicos e penas
(b). Ora, pinguins (c) têm bicos e penas (b). Logo,
pinguins (c) são aves (a)].
b) A lembrança do amor terreno (A), permitida no céu, daria condição para alguém
que já esteve na terra lembrar de quem amava nela (B).Ora, como os amantes do
soneto de Camões estão separados por duas dimensões, uma celestial e outra
terrena (C), é necessário que aquele que está no céu se lembre de quem amou na terra
(B). Portanto, a primeira solução para o problema (C) é a lembrança do amor
terreno (A).
d) Se Deus chamasse o eu lírico para junto da sua amada (a), eles poderiam se
reencontrar e viver a vida eterna no céu (b). Ora, a solução para a separação dos
amantes depende de se reencontrarem e viverem juntos novamente, noutro plano.
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Portanto, a solução para a separação dos amantes (c) é que Deus chame o eu lírico
para junto de sua amada (a).
d) Aquele que está no céu pode pedir a Deus o resgaste de seu amor que está na terra e,
assim, poderiam se reencontrar. Ora, a separação dimensional dos amantes sendo solucionada
possibilitaria tal reencontro. Logo, a solução para a separação “dimensional” dos amantes, entre
a vida finita na terra e aquela eterna no céu, é aquele amante que está no céu pedir a Deus que
“resgate” seu companheiro da terra.
Portanto, a solução para a separação dos amantes ( c ) é que Deus chame o eu lírico para
junto de sua amada (a).
e) O racionalismo clássico não expressa só o que sente ou o que vive, mas reflete
sobre a emoção e a condição humana. Ora, no soneto de Camões “Alma minha, gentil que
te partiste”, o eu lírico reflete sobre sua situação, expressa seu sentimento, mas calcula
sobre como resolver sua angústia. Logo, o poeta clássico, como Camões, pensa sobre o que
sente ou o que acontece com o ser humano, ou seja, é mais racional.
P> a b;
P< c => b;
Concl. c => a.
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O antropocentrismo é uma forma de pensamento que coloca o homem como objeto
principal de estudos e admiração. Perdurou durante os séculos 14-16, mesma época do
Renascimento. Ora, a obra de Camões, "Os Lusíadas", foi publicada no ano de 1572 e valoriza
a ação humana, representada por Vasco da Gama, que navega por “mares nunca dantes
navegados”, enfrentando “mais do que prometia a força humana”. Portanto, a obra "Os
Lusíadas" é uma obra Renascentista importante, é uma obra de característica antropocêntrica.
A = Antropocentrismo
B = valorizar a ação humana na terra
C = “Os lusíadas” de Camões
O antropocentrismo é uma característica renascentista que consiste na valorização da ação humana na terra.
A B
Ora, “Os Lusíadas” de Camões valoriza a ação humana, tanto que seus heróis são navegadores que enfrentam desafios
C B
além do que as possibilidades humanas prometiam, com perseverança e cálculo.
C A
11) “Não mais, Musa, não mais, que a Lira tenho I – Essa oitava de “Os Lusíadas”, de Camões, termina a obra
Destemperada e a voz enrouquecida, com um tom pessimista. A que parte da obra pertence?
E não do canto, mas de ver que venho a) Proposição; b) Invocação; c) Oferecimento;
Cantar a gente surda e endurecida. d) Narração; e) Epílogo.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a Pátria, não, que está metida II – Qual o esquema de rimas das estrofes e a métrica usada por
No gosto da cobiça e na rudeza Camões em todo o poema épico lusitano?
De uma austera, apagada e vil tristeza.” Camões usa versos decassílabos e esquema de rimas abababcc
(alternado e paralelo nos dois últimos versos).
III – Qual a crítica que Camões faz na estrofe acima? Por quê?
12) Sonetos como “Amor é fogo que arde sem se ver” e “Sete anos de pastor Jacob servia” fazem parte de que parte da obra
camoniana? a) poesia épica; b) poesia lírica; c) dramaturgia; d) poesia clássica; e) poesia romântica.
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Tu, só tu, puro Amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.
Comentário do Professor:
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Bom, espero que tenha gostado dessa apostila. Ela é única, pois recebeu a colaboração de muitos
alunos durantes os anos em que esse professor lecionou. Um abraço!
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