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Teste de avaliação – 12.º ano novembro 2023

Educação Literária

Grupo I (100 pontos)

A (60 pontos)

Lê atentamente o seguinte poema.

Lê o texto e responde às questões.


Cansa sentir quando se pensa. (Tudo isto me parece tudo.
No ar da noite a madrugar Mas noite, frio, negror sem fim,
Há uma solidão imensa Mundo mudo, silêncio mudo –
Que tem por corpo o frio do ar. Ah, nada é isto, nada é assim!)

Neste momento insone1 e triste Fernando Pessoa, Poesias, Lisboa: Ática, 1942,
Em que não sei quem hei de ser, pág.148.
Pesa-me o informe real que existe
Na noite antes de amanhecer.

Tudo isto me parece tudo. 1


sem sono
E é uma noite a ter um fim
Um negro astral silêncio surdo
E não poder viver assim.

Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.
1. Refere três traços caracterizadores do estado de alma do sujeito poético, fundamentando-
te no texto, e explicita-os.

2. As marcas do envolvimento noturno remetem para a analogia com a solidão e a angústia


do sujeito poético.
2.1. Seleciona dois recursos expressivos utilizados na caracterização de ambos e
salienta o respetivo valor expressivo.

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3. Completa as frases, selecionando a única opção correta.


Na última estrofe, o “eu” faz uma autoanálise como conclusão do poema. O ___ a)___ em
que os versos se encontram marcam a oposição entre o ___b)___ do sujeito poético e o sentir
da vivência real. O “eu” lírico, num aparte, distancia-se do mundo das emoções racionalizadas
e descritas nas estrofes anteriores, que era “fingido”, racionalizado e que não corresponderá a
qualquer situação de verdade- Não deixa, no entanto, de expor a sua frustração/insatisfação
com o jogo poético, mostrando cansaço e quase exaspero. A última estrofe atesta o desespero
do sujeito poético proveniente da sua ___c)___, da sua capacidade de pensar.
a) b) c)
1. discurso parentético 1. sentir irrefletido 1. lucidez
2. paradoxo 2. sentir puro 2. frustração
3. pleonasmo 3. sentir pensado 3. vivência

B (40 pontos)
Nas nossas ruas, ao anoitecer, Semelham-se a gaiolas, com viveiros,
M Há tal soturnidade, há tal melancolia, As edificações somente emadeiradas:
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia Como morcegos, ao cair das badaladas,
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer. Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros.

O céu parece baixo e de neblina, Voltam os calafates, aos magotes,


O gás extravasado enjoa-me, perturba; De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por becos,
Toldam-se duma cor monótona e londrina. Ou erro pelos cais a que se atracam botes.

Batem carros de aluguer, ao fundo, E evoco, então, as crónicas navais:


Levando à via-férrea os que se vão. Felizes! Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado!
Ocorrem-me em revista, exposições, países: Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado!
Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo! Singram soberbas naus que eu não verei jamais!
Cesário Verde, Cânticos do Realismo
.

Lê as seis estrofes iniciais do poema “O Sentimento dum Ocidental”, de Cesário Verde.


4. Identifica duas características temáticas da poesia de Cesário Verde, fundamentando a tua
resposta com elementos textuais pertinentes.

5. Completa o texto apresentado, de acordo com as características da poesia de Cesário Verde.


Cesário Verde situa “O Sentimento dum Ocidental” à margem do tom laudatório e
exaltado de outros seus contemporâneos, tratando os temas da épica (o mar, a viagem, o herói)
por um prisma ___a)___.
O poema estrutura-se em ___b)___ secções de onze quadras cada uma, sendo por sua vez
cada quadra composta por um primeiro verso decassílabo, seguido de três ___c)___.
Uma primeira linha de leitura deixa reconhecer um percurso ao longo de certas ruas e
locais de Lisboa, mas uma segunda se lhe sobrepõe a cada passo: o ponto de vista do sujeito
___d)___, que se relaciona com a cidade e constrói uma outra urbe, ___e)___ e poética, que o
aproxima de Camões e da própria questão da poesia.

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Grupo II (60 pontos)


Leitura | Gramática

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.


Escreve, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção
escolhida.
A obra poética de Fernando Pessoa (Lisboa, 1888-1935), além de ser uma das mais ricas e
profundas da lírica contemporânea, presta-se a um tal número de leituras, às vezes
contraditórias entre si, que ainda não se chegou, e talvez não se chegue nunca, a um relativo
consenso crítico sobre a melhor direção, já que não sobre o melhor caminho, a seguir para
5 explorar os seus inesgotáveis filões estéticos e ideológicos. Porque (...) Pessoa foi, além de
poeta, narrador, pensador metafísico e político, teórico da economia comercial e da
sociologia, autor dramático, crítico literário e, sobre tudo
isto e algo mais, um decidido “indisciplinador de almas”. Não é, contudo, esta multiplicidade
de interesses intelectuais o que mais complica a leitura da sua poesia, mas o facto de que a sua
10 parte essencial e mais extensa apareça atribuída por este autor a si mesmo e a outros três
poetas – Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos – que ele qualifica de heterónimos
para os distinguir dos pseudónimos e semi-heterónimos (...).
Pessoa susteve, em vários escritos já célebres, que os seus heterónimos deviam ser lidos
como poetas independentes de ele mesmo, embora intimamente relacionados entre si, dado
15 que tanto Reis como Campos – e o próprio Pessoa! – eram discípulos de Alberto Caeiro.
Entendamo-nos: o nosso poeta não pretendia que acreditássemos na realidade biológica, mas
na realidade poética – muito mais real para ele do que a primeira – dos seus heterónimos, o
que equivalia a afirmar que ele, enquanto autor, era o resultado de diversos poetas diferentes –
com o que negava a unicidade da sua personalidade, com todas as consequências, psicológicas
20 e esotéricas, que isso implica –, tão autónomos e tão senhores dos seus recursos que eram
capazes de se influenciar entre si, de polemizar em algumas alturas e de evoluir de maneira
perfeitamente coerente.
Uma leitura da obra dos heterónimos mostra-nos, sem a necessidade de ser muito
profunda, que cada um deles tem, com efeito, um estilo, uma arte poética, uma escrita – se se
25 prefere – característica e original: é impossível confundir uma ode de Ricardo Reis com
qualquer ode de Álvaro de Campos, ou um poema de um destes dois poetas com um único
dos versos de Caeiro ou uma única das composições assinadas pelo poeta ortónimo, isto é, ele
mesmo (...).
Angel Crespo, Estudos sobre Fernando Pessoa, trad. de José Bento, Lisboa, Teorema,
1988.

1. Segundo Angel Crespo, a inexistência de consenso crítico relativamente à perspetiva


mais adequada de exploração da obra de Pessoa
(A) deve-se apenas à multiplicidade de interesses intelectuais do poeta, o que torna
complexa a leitura da sua obra.
(B) resulta unicamente do facto de uma importante parte da sua obra estar escrita em
seu nome e no de três heterónimos.
(C) atribui-se sobretudo à extraordinária riqueza estética e ideológica da sua obra.
(D) explica-se não só pela riqueza estético-ideológica mas, acima de tudo, pela sua
produção ortónima e heteronímica.

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2. A afirmação “O nosso poeta não pretendia que acreditássemos na realidade biológica,


mas na realidade poética (…) dos seus heterónimos” significa que Pessoa criou Alberto
Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis como
(A) poetas diferentes, independentes entre si, mas reais.
(B) nomes falsos, sob os quais publicava parte da sua obra.
(C) personalidades literárias fictícias, diferentes, mas relacionadas entre si.
(D) pseudónimos literários, com estilos diferentes.

3. A expressão cujo significado é equivalente a “negava a unicidade da sua personalidade”


(l. 19) é …
(A) rejeitava a multiplicidade da sua personalidade.
(B) reconhecia a diversidade da sua personalidade.
(C) refutava a ideia de que a sua personalidade era multifacetada.
(D) admitia que a sua personalidade era única.

4. Os dois pontos utilizados nas linhas 16 e 25


(A) têm exatamente o mesmo valor: anunciar uma enumeração.
(B) têm valores diferentes: no primeiro caso, introduzem uma explicação e, no segundo,
uma citação.
(C) têm valores diferentes porque, na primeira ocorrência, o autor introduz uma
clarificação e, na segunda, confirma com exemplos as afirmações feitas.
(D) têm exatamente o mesmo valor: introduzir uma citação.

5. Com a utilização das expressões – “Pessoa”, “este autor”, “o nosso poeta”, ”poeta
ortónimo”, o enunciador recorre a um mecanismo de coesão
(A) gramatical referencial.
(B) lexical.
(C) gramatical interfrásica.
(D) gramatical frásica.

6. Todas as orações abaixo transcritas são subordinadas substantivas completivas, exceto a


oração
(A) que ele qualifica de heterónimos para os distinguir dos pseudónimos e semi-
heterónimos (ll.11-12 ).
(B) que os seus heterónimos deviam ser lidos como poetas independentes de ele mesmo
(ll.13-14).
(C) que acreditássemos na realidade biológica, mas na realidade poética (ll. 16-17).
(D) que cada um deles tem, com efeito, um estilo, uma arte poética, uma escrita – se se
prefere – característica e original (ll. 24-25).

7. Indica a função sintática da expressão ” de se influenciar entre si” (l. 21).

Grupo III (40 pontos)


Escrita
Há quem argumente que a juventude do século XXI é essencialmente individualista e
materialista.

Redige um texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de 200 e um máximo de 350
palavras, em que defendas o teu ponto de vista sobre a ideia exposta.
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Fundamenta a tua perspetiva, recorrendo a dois argumentos e ilustrando cada um deles com um
exemplo significativo.

Bom trabalho!

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