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Questão de aula – Leitura e Gramática

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Avaliação: O professor:

Leitura e Gramática 2
Lê o texto que se segue.

O outro lado da História


Um veneziano fugido da Inquisição que o azar torna náufrago e dá à costa em cima
de um porco para ser salvo por uma tribo indígena. Padan, claro, nunca existiu.
Por conta do rei de Espanha, Cristóvão Colombo fez-se ao mar a caminho da Índia e
encontrou a América. Com ele foram muitos, três naus carregadas de homens e animais. Uns
5 voluntários, outros devido às circunstâncias mais variadas da vida. Johan Padan, por exemplo,
foi para fugir à Inquisição e acabou a contar uma história diferente da História.
Há uma considerável dose de ironia no facto de este texto assinado por Dario Fo (1926-
-2016), prémio Nobel de Literatura em 1997, e Franca Rame (1929-2013), sua mulher e
colaboradora, escrito para as comemorações dos 500 anos da viagem de Colombo, em vez de
10 celebrar a epopeia conte a aventura de um descamisado qualquer. Um veneziano fugido da
Inquisição que o azar torna náufrago e dá à costa em cima de um porco para ser salvo por uma
tribo indígena. Padan, claro, nunca existiu. Para o inventar, o dramaturgo italiano andou a
meter o nariz em diários de exploradores dos séculos XV e XVI, procurando nesses relatos o
outro lado da História, aquela parte sem a glória colonial nem a evangelização forçada que se
15 aprende na escola, e construiu a sua versão, umas vezes dramática, outras hilariante,
porventura mais trágica e realista do que a crónica oficial.
Neste monólogo, encenado pela primeira vez em 1991, o aventureiro de Fo é um sujeito
nascido algures numa montanha que não tem qualquer prazer em navegar. É levado pela
desgraça de ter o Santo Ofício à perna e, tomado pelo bom senso, preferir o mar às chamas da
20 fogueira que os representantes e juízes da fé lhe preparavam. E embora a sua viagem acabe
bem, não começa nada bem, pois os seus salvadores, gente que não vê mal nenhum no
canibalismo, não são movidos por qualquer espécie de boa vontade. Antes pelo contrário.
Alimentá-lo e engordá-lo é apenas maneira de o tornar mais suculento quando o passarem pelas
brasas, cortarem em nacos e dele fazerem um petisco. A vida, porém, dá muitas voltas, e um
25 bambúrrio de sorte faz deste anti-herói feiticeiro-chefe e curandeiro de serviço à tribo, para quem
é, agora, um «filho do Sol nascente» – como escreveu o autor –, que aproveita o poder que veio
com a sobrevivência e alguma habilidade para contar aos índios histórias tiradas de um
Evangelho em boa parte nascido na sua cabeça.
Criado como um monólogo, Johan Padan a la Descoverta de le Americhe encontrou no
30 experiente Mario Pirovano um intérprete capaz e particularmente eficiente narrador desta
aventura de um tipo que não contava para nada, a quem ninguém até aí dera importância, que,
ao mudar de lado, como outros transviados, se torna estratega e instrutor de um bando de
homens nus, mal armados e pouco preparados para enfrentar a disciplina e a tecnologia militar
dos colonizadores, assim resistindo, pelo menos por algum tempo e com uma certa dignidade, à
35 invasão. Em palco, Pirovano é frenético e poético e a sua representação comove tanto como
entusiasma. É ele a mais-
-valia do espetáculo. É ele quem revela esta existência esquecida pelos manuais e, sem mais
que o seu rigoroso figurino negro, lhe dá cor e garante a irónica provocação do original,
mostrando como sempre existiram mais mundos do que o mundo oficial contado pelos
vencedores. 

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Questão de aula – Leitura e Gramática

MONTEIRO, Rui, 2020. «O outro lado da História». In Público.


https://www.publico.pt/2020/07/22/culturaipsilon/critica/lado-historia-1925302 (Consult. 2021-02-25)

1. Esta apreciação crítica refere-se


(A) a um filme.
(B) a um espetáculo teatral.
(C) ao vencedor do Prémio Nobel de Literatura 1997.
(D) a um livro.

2. Seleciona todas as opções corretas.


Nos dois primeiros parágrafos, o autor dá informações acerca
(A) das circunstâncias que motivaram a escrita deste texto.
(B) da biografia do autor.
(C) do processo de composição da obra.
(D) do contexto histórico da ação.

3. A expressão «outro lado da História», presente no título e na linha 13 refere-se aos


(A) aspetos negativos da História.
(B) relatos dos principais navegadores portugueses.
(C) acontecimentos que nunca foram estudados pelos principais historiadores.
(D) acontecimentos históricos não divulgados pelas instituições.

4. No último parágrafo, o autor da crítica


(A) elogia a capacidade de narração do autor do texto em análise.
(B) destaca a excelência da interpretação.
(C) faz uma reflexão acerca das consequências da colonização.
(D) critica os colonizadores europeus.

5. Identifica a função sintática desempenhada por:


a. «por uma tribo indígena» (l. 11).
b. «que veio com a sobrevivência» (ll. 26).

6. Classifica as seguintes orações.


a. «embora a sua viagem acabe bem» (l. 20)
b. «não começa nada bem» (ll. 20-21)

7. Identifica o antecedente dos pronomes:


a. «que» (l. 10)
b. «que» (l. 14)

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c. «que» (l. 18)

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Letras em dia, Português, 10.° ano Sugestões de resolução

Leitura e Gramática (tipologia do grupo II de Exame)

Leitura e Gramática 2

1. (B)

2. (A), (C), (D)

3. (D)

4. (B)

5. a. Complemento agente da passiva; b. Modificador restritivo do nome.

6. a. Oração subordinada adverbial concessiva;


b. Oração subordinante.

7. a. «um veneziano fugido da Inquisição»;


b. «evangelização forçada»;
c. «sujeito nascido algures numa montanha».

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