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Grupo I
PARTE A
Lê o texto e a nota.
António Barrasquinho, o Batola, é um tipo bem achado. Não faz nada, levanta-se quando
calha, e ainda vem dormindo lá dos fundos da casa.
É a mulher quem abre a venda e avia aquela meia dúzia de fregueses de todas as manhãzi-
nhas. Feito isto, volta à lida da casa. Muito alta, grave, um rosto ossudo e um sossego de ma-
5 neiras que se vê logo que é ela quem ali põe e dispõe.
Pois quando entra para os fundos da casa, vem saindo o Batola com a cara redonda amarfa-
nhada num bocejo. Que pessoas tão diferentes! Ele quase lhe não chega ao ombro, atarracado,
as pernas arqueadas. De chapeirão1 caído para a nuca, lenço vermelho amarrado ao pescoço,
vem tropeçando nos caixotes até que lá consegue encostar-se ao umbral da porta. Fica assim
10 um pedaço, a oscilar o corpo, enquanto vai passando as mãos pela cara, como que para afastar
os restos do sono. Os olhos, semicerrados, abrem-se-lhe um pouco mais para os campos. Mas
fecha-os logo, diante daquela monotonia desolada.
Dá meia volta, enche a medida com o melhor vinho que há na venda, coloca-a sobre o
balcão. Ao lado, um copo. Puxa o caixote, senta-se e começa a beber a pequenos goles. De
15 quando em quando, cospe por cima do balcão para a terra negra que faz de pavimento. Enterra
o queixo nas mãos grossas e, de cotovelo vincado na tábua, para ali fica com um olhar mortiço.
Às vezes, um rapazito entra na venda:
– Tio Batola, cinco tostões de café.
O chapeirão redondo volta-se, vagaroso:
20 – Hã?...
– Cinco tostões de café!
Batola demora os olhos na portinha que dá para os fundos da casa. Mas é inútil esperar mais.
«Ah, se a mulher não vem aviar o rapazito é porque não quer, pois está a ouvir muito bem o que
se passa ali na loja!» Quando se assegura que é esta e não outra a verdade dos factos, Batola tem
25 de levantar-se. Espreguiça-se, boceja, e arrasta-se até à caixa de lata enferrujada. Mede o café a
olho, um olho cheio de tédio, caído sobre o canudinho de papel.
Volta a encher o copo, atira-se para cima do caixote. E, no jeito que lhe fica depois de vazar
vinho goela abaixo, num movimento brusco, e de ter cuspido com uns longes de raiva, parece
que acaba de se vingar de alguém.
30 Tais momentos de ira são pedaços de revolta passiva contra a mulher. É uma longa luta, esta.
A raiva do Batola demora muito, cresce com o tempo, dura anos. Ela, silenciosa e distante,
como se em nada reparasse, vai-lhe trocando as voltas. Desfaz compras, encomendas, negócios.
Tudo vem a fazer-se como ela entende que deve ser feito. E assim tem governado a casa.
1
Chapeirão: chapéu grande de abas.
A. «diante daquela monotonia desolada» (linha 12), que revela o distanciamento entre o
que Batola faz e o que deseja fazer.
B. «os fundos da casa» (linha 6), que revela o distanciamento entre o que Batola faz e o
que deseja fazer.
C. «os fundos da casa» (linha 6), que demonstra a forma como Batola vê a sua aldeia.
D. «diante daquela monotonia desolada» (linha 12), que demonstra a forma como Batola
vê a sua aldeia
3. «Tais momentos de ira são pedaços de revolta passiva contra a mulher. É uma longa luta, esta.
A raiva do Batola demora muito, cresce com o tempo, dura anos.» (linhas 30-31).
Explica as afirmações do narrador acima transcritas.
PARTE B
Lê o poema e as notas.
O dos Castelos
A Europa jaz1, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.
1
Jaz: está deitada.
2
Esfíngico: enigmático; misterioso.
5. Relaciona a repetição da forma verbal «fita» (versos 10-12) com o sentido da expressão «olhar
esfíngico e fatal» (verso 10).
PARTE C
2. O facto de associar o edifício da biblioteca ao «sinal matemático de infinito» (linhas 7-8), Carmen
Garcia pretende destacar
A. a pluralidade das vivências que lá experienciou ao longo da vida.
B. o prazer e a fruição de todas as atividades que eram lá promovidas.
C. a pertinência que a biblioteca assume no contexto social da cidade.
D. multiplicidade de experiências que muito marcaram a sua mocidade.
3. A metáfora «A minha biblioteca tinha dentro o meu mundo todo.» (linha 14) revela
A. o poder que a literatura assumiu na vida de Carmen Garcia.
B. as memórias que a cronista guarda do seu percurso escolar.
C. a simbologia de um lugar marcado pela fantasia e pela paixão.
D. a riqueza do acervo literário que aquele espaço possuía.
4. Em «me apaixonei pelo seu cheiro» (linhas 21-22), o pronome encontra-se anteposto ao verbo,
porque está
A. integrado numa oração subordinante.
B. dependente de uma oração coordenada.
C. dependente de um advérbio.
D. integrado numa oração subordinada.
5. A frase iniciada por «Foi ali que li» (linha 17) e a frase iniciada por «Recuso-me a ser conivente»
(linha 30) exprimem
Num texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas
e cinquenta palavras, defende uma perspetiva pessoal sobre a questão apresentada.
No teu texto:
Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta
integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente do
número de algarismos que o constituam (ex.: /2023/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – entre 200 e 350 palavras –, há que atender ao seguinte:
− um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
− um texto com extensão inferior a 80 palavras é classificado com 0 pontos.
FIM
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
I 100
16 10 16 16 16 10 16
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
II 56
8 8 8 8 8 8 8
Total 200