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Letras em dia, Português, 11.

º ano Gramática • Fichas por conteúdo (testes rápidos)

Coesão textual

Lê atentamente o texto.
As fotografias

A fotografia aparece-me a preto e branco, arrancando-me um sorriso como se eu já não


fosse aquela, a que capta um instante com o qual se identifica: «Sabes, partir o coração é uma
forma tremenda de conhecer o mundo.» A frase, primeiro, sobressalta-me o olhar para depois o
apaziguar. Foi uma das muitas colecionadas nos últimos anos e retirada de um filme chamado
5 Mulheres do Século XX, de Mike Mills. Espanto-me com o que encontro nas minhas fotografias
entre os escombros do que fui. Rever fotografias é, muitas vezes, um encontro difícil com o que
somos. Ainda seremos os mesmos? Faço a mim própria essa pergunta vezes sem conta
enquanto me vejo ao espelho e aponto para os sinais novos que não estavam ali antes.
Ainda sinto o mesmo. Ainda me sinto a mesma. A minha forma de sentir não se alterou com
10 tudo aquilo que os outros provocaram em mim, entre grandes dores e, na mesma dose, longas
celebrações. Sou a mesma. Nada de amargo vingou em mim.
Ao mesmo tempo que me enterneço com a frase, também penso sobre ela – «partir o
coração é uma forma tremenda de conhecer o mundo». Ter lido isto, nesse instante, muitos
anos antes da que sou agora, fez-me estender um mapa fictício que se desenrola sobre a
15 geografia afetiva que nos pertence. Todos fazemos a nossa. Distinguimo-nos com os pontos
assinalados sobre o mapa: são as conquistas, independentemente de terem sido amores felizes
ou por concretizar.
Quando muitas vezes volto à ideia do primeiro amor, ele aparece-me muito cedo e sem um
relâmpago que seja de desejo ou consumação. Talvez o amor absoluto seja aquele que nunca
20 se concretizou. Aquele que podia ter sido. Aquele que ficou cristalizado no tempo e ao qual
voltamos repetidamente por conforto. A vivência traz um desconforto enorme. Tendo agora a ser
tolerante com os que sempre viraram as costas às consumições do amor e portanto à sua
consumação. Embora eu não seja essa. [...]
Acabo a crónica de hoje, fragmentada, com outra frase, mas antes de chegar a ela gostava
25 de dizer isto: estes retratos que colecionamos na nossa pequena e frágil torrente digital,
aparentemente aleatória, dizem muito mais de nós do que pensamos. As fotografias que
juntamos e nunca apagamos fixam-nos no tempo. São cruéis até por nos lembrarem o momento
que nos levou a querer registar esse segundo. A frase é esta, dita por um senhor bem-parecido
num filme ainda mais bonito: “Aceitamos o amor que achamos que merecemos.”. Foi roubada ao
30 filme As vantagens de Ser Invisível e é uma espécie de tatuagem que nunca se fez, mas está
inscrita na pele. A nossa passividade permite que muitos nos desconstruam, que nos amarrotem a
confiança e nos façam sentir quase indignos de viver tudo o que está ao nosso alcance. É muito.
Quando alguém vos partir o coração, lembrem-se de estender o mapa para continuarem à
descoberta do mundo. Era uma pena não continuar esta viagem: esta, a de colecionar
fotografias, viagens, filmes, pensamentos, omissões e até dores.
35
A dor de viver conta muitas histórias.
MENESES, Inês, 2022. «As fotografias». Público.
https://www.publico.pt/2022/01/17/impar/cronica/fotografias-1992093. [Consult. 2022-02-08

1. Seleciona a opção que corresponde à única afirmação falsa, de acordo com o sentido do texto.
(A) «o qual», na linha 2, refere-se a «um instante».
(B) «ele», na linha 17, refere-se a «amor».
(C) «sua», na linha 21, refere-se a «amor».

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(D) «ela», na linha 23, refere-se a «outra frase».

Nos itens 2. a 5., seleciona a opção correta.

2. A utilização das expressões «nesse instante» (l. 13), «muitos anos antes» (l. 13),
«agora» (l. 20), e «hoje» (l. 23) contribuem para a
(A) coesão lexical por substituição.
(B) coesão gramatical temporal.
(C) coesão gramatical frásica.
(D) coesão gramatical interfrásica.

3. A expressão «a nossa» (l. 15) tem como antecedente


(A) «forma tremenda de conhecer o mundo» (l. 13).
(B) «[d]a que sou agora» (l. 14).
(C) «um mapa fictício» (l. 14).
(D) «a geografia afetiva que nos pertence» (ll. 14-15).

4. O recurso ao modo conjuntivo na sequência do uso dos vocábulos «Talvez» (l. 18) e «Embora»
(l. 22) comprova o respeito pela coesão
(A) gramatical frásica.
(B) gramatical referencial.
(C) gramatical interfrásica.
(D) lexical por reiteração.

5. A utilização da palavra «que», na linha 30, assegura a coesão


(A) gramatical frásica.
(B) lexical por substituição.
(C) lexical por reiteração.
(D) gramatical interfrásica.

6. Completa as afirmações abaixo apresentadas, selecionando da tabela o número correspondente


à opção adequada a cada espaço.

A repetição da expressão «Aquele que», entre nas linhas 18 e 19, contribui para a coesão
___(a)____).
Na sequência «Tendo agora a ser tolerante» (ll. 20-21), a coesão temporal é assegurada, entre
outros mecanismos, ___(b)____.
A palavra «retratos» (l. 24) remete-nos para o título da crónica, concretizando a coesão ___(c)____.

(a) (b) (c)


1. lexical por reiteração 1. pela concordância de género e 1. gramatical referencial
2. gramatical frásica de número 2. lexical por reiteração
3. gramatical interfrásica 2. pela presença do advérbio 3. lexical por substituição
3. por uma cadeia anafórica

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Coesão textual

1. (B);
2. (B);
3. (D);
4. (A);
5. (D).
6. (a) 1; (b) 2; (c) 3.

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