Você está na página 1de 4

Letras em dia, Português, 11.

° ano
Questão de aula – Leitura e Gramática

Nome: N.º: Turma:

Avaliação: O(A) professor(a):

Leitura e Gramática 5
Lê o texto.

Um pintor nascido poeta


[…] Pintor nascido poeta (coisa também muito rara e preciosa, sobretudo numa poesia
como a portuguesa, tão atraída, se não pela introspeção, ao menos pelo ensimesmamento 1 e
tão seduzida pelo abstrato, pelo vago, pelo indefinido), Cesário Verde é um daqueles artistas
para quem o mundo externo conta de modo primacial; e as suas emoções poéticas só atingem
5 plena expressão quando preliminarmente aquecidas pela visão pictórica. Não se confunda,
todavia, este sentido pictórico, como valor de motivação poética, com certa atração do
descritivo, essa muito mais vulgar em poetas portugueses; e, para citar dois exemplos
diametralmente opostos, podemos lembrar os nomes de Tolentino e de António Nobre.
Vejamos que, tanto num caso como noutro, a visão pictórica intervém nos seus versos, em vez
10 de precedê-los; colabora, não os origina. […]
Um colorista e um seletivo: eis duas primeiras conclusões a que chegará, sem dúvida,
quem reflita um pouco sobre a estética de Cesário. Na sua visão pictórica, o elemento cor é
fundamental e porventura o mais fecundo. Por isso, nos seus versos, a cor não qualifica, antes
se destaca e se impõe como valor substantivo, que requer, por seu turno, adjetivação
15 particular. Num verso como este: «Pradarias dum verde ilimitado», o verde – qualidade das
«pradarias» – torna-se mais importante que o próprio objeto, e o outro atributo, de natureza
espacial, a ele é que vem ligar-se, como se atraído por tão alta e recente dignidade. […]
Por outro lado, fácil será reconhecer que os seus melhores poemas – ou os melhores
trechos dos seus poemas – propõem sempre «quadros» já delimitados, em que parece ter
20 havido uma seleção prévia e rigorosa. Não encontraremos, nos seus versos, nem a
enumeração, tão vulgar em António Nobre, nem as aglomerações, tão frequentes em
Junqueiro. Um ou outro exemplo de seriação mais mantida achar-se-á, sem dúvida, naqueles
lanços em que se vejam mais embaraçadas a sua vocação e a arte de pintor; isto é: sempre
que pretenda recriar através da
25 memória. A poesia de Cesário, por ser essencialmente pictórica, nutre-se de imediatez: «as
telas da memória retocadas» perdem, com o retoque, a graça e a naturalidade – ou o vigor e o
dramatismo – dos quadros pintados sobre modelos relativamente próximos.
Mestre na revelação do passado recente, Cesário Verde é muito menos apto para nos
restituir o passado remoto. Num poema como «Noite Fechada», em que ele se propõe lembrar
30 um passeio que dera «no sábado passado», tudo tem uma flagrância que de modo algum é
alcançada na poesia «Flores Velhas», onde tenta evocar acontecimentos mais antigos, numa
voz com tremuras românticas e sem os seus costumados acentos naturais. […]

MOURÃO-FERREIRA, David, 1981. «Notas sobre Cesário Verde».


Hospital das Letras, 2.ª ed. Lisboa: INCM. Apud PEREIRA, José Carlos Seabra, 1995.
História Crítica da Literatura Portuguesa. Vol. VII. Lisboa: Editorial Verbo (pp. 108-109)

1. ensimesmamento: estado de quem se concentrou, meditando.

1 | LDIA11 © Porto Editora


Letras em dia, Português, 11.° ano
Questão de aula – Leitura e Gramática

1. No primeiro parágrafo, o autor do texto


(A) elogia Cesário, mostrando-o como um poeta que se sente atraído pela introspeção e pelo
abstrato.
(B) descreve a importância da emoção estética na poesia de Cesário Verde.
(C) destaca a singularidade de Cesário, apresentando-o como um poeta para quem o mundo
exterior é fonte de inspiração e reflexão.
(D) refere dois poetas que, apesar de tão diferentes entre si, seguiram o exemplo de Cesário.

2. No segundo parágrafo,
(A) conclui-se que Cesário, na sua visão pictórica, valoriza as formas e os volumes.
(B) descreve-se a estética de Cesário e a dignidade das temáticas escolhidas.
(C) comprova-se a centralidade e substantivação da cor na poesia de Cesário.
(D) refuta-se a centralidade dos nomes na poesia de Cesário, recorrendo a um exemplo.

3. No quarto parágrafo, o vocábulo «flagrância» (l. 29) remete, no parágrafo anterior, para o vocábulo
(A) «seleção» (l. 20).
(B) «seriação» (l. 22).
(C) «memória» (l. 24).
(D) «imediatez» (l. 24).

4. No quarto parágrafo, a expressão «numa voz com tremuras românticas» (ll. 30-31)
(A) pretende comprovar que Cesário é «Mestre na revelação do passado recente» (l. 27).
(B) descreve com objetividade o poema «Flores Velhas».
(C) pretende elogiar a estética pictórica de Cesário naquele poema.
(D) ganha uma conotação negativa na comparação estabelecida entre dois poemas.

5. A palavra «se», nas linhas 2 e 5, é


(A) uma conjunção subordinativa condicional, no primeiro caso, e um pronome, no segundo caso.
(B) um pronome, no primeiro caso, e uma conjunção subordinativa consecutiva, no segundo caso.
(C) um pronome, no primeiro caso, e uma conjunção subordinativa condicional, no segundo caso.
(D) uma conjunção subordinativa completiva, no primeiro caso, e um pronome, no segundo caso.

6. A palavra «para», na linha 27, introduz um


(A) modificador restritivo do nome.
(B) complemento do nome.
(C) complemento direto.
(D) complemento do adjetivo.

2 | LDIA11 © Porto Editora


Letras em dia, Português, 11.° ano
Questão de aula – Leitura e Gramática

7. Classifica a oração subordinada seguinte e refere a função sintática em que se integra:


«onde tenta evocar acontecimentos mais antigos» (l. 30)

3 | LDIA11 © Porto Editora


Letras em dia, Português, 11.° ano Sugestões de resolução

Leitura e Gramática 5

1. (C)
2. (C)
3. (D)
4. (D)
5. (A)
6. (D)
7. Oração subordinada adjetiva relativa explicativa, com função sintática de modificador apositivo do nome.

4 | LDIA11 © Porto Editora

Você também pode gostar