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º ano
Grupo I
Parte A
Lê o texto. Se necessário, consulta as notas.
Madalena – Que tens tu? Nunca entraste em casa assim. Tens cousa que te dá cuidado…
e não mo dizes? O que é?
Manuel – É que… Senta-te, Madalena; aqui ao pé de mim, Maria. Jorge, sentemo-nos, que
estou cansado. (Sentam-se todos). Pois agora sabei as novidades, que seriam estranhas, se
5 não fosse o tempo em que vivemos. (Pausa). É preciso sair já desta casa, Madalena.
Maria – Ah? inda bem, meu pai!
Manuel – Inda mal! mas não há outro remédio. Sairemos esta noite mesma. Já dei ordens
a toda a família. Telmo foi avisar as tuas aias do que haviam de fazer, e lá andam pelas
câmaras velando nesse cuidado. Sempre é bom que vás dar um relance de olhos ao que por
10 lá se faz; eu também irei por minha parte. Mas temos tempo: isto são oito horas, à meia-noite
vão quatro; daqui lá o pouco que me importa salvar estará salvo… e eles não virão antes da
manhã.
Madalena – Então sempre é verdade que Luís de Moura e os outros governadores?…
Manuel – Luís de Moura é um vilão ruim: faz como quem é. O arcebispo é… o que os
15 outros querem que ele seja. Mas o conde de Sabugal, o conde de Santa Cruz, que deviam
olhar por quem são, e que tomaram este encargo odioso… e vil, de oprimir os seus naturais
em nome dum rei estrangeiro!… Oh, que gente, que fidalgos portugueses! Hei de lhes dar
uma lição, a eles e a este escravo deste povo que os sofre, como não levam tiranos há muito
tempo nesta terra.
20 Maria – O meu nobre pai! Oh, o meu querido pai! Sim, sim, mostrai-lhes quem sois e o que
vale um português dos verdadeiros.
Madalena – Meu adorado esposo, não te deites a perder, não te arrebates. Que farás tu
contra esses poderosos? Eles já te querem tão mal pelo mais que tu vales que eles, pelo teu
saber, que esses grandes fingem que desprezam… mas não é assim, o que eles têm é
25 inveja! O que fará, se lhes deres pretexto para se vingarem da afronta em que os traz a
superioridade do teu mérito! Manuel, meu esposo, Manuel de Sousa, pelo nosso amor…
Jorge – Tua mulher tem razão. Prudência, e lembra-te de tua filha.
GARRETT, Almeida, 2014. Frei Luís de Sousa. Porto: Porto Editora (pp. 37-39)
2. Justifica os sentimentos manifestados por Madalena na sua primeira fala, atendendo aos
antecedentes da ação.
4. Descreve a reação de Maria à decisão anunciada por Manuel e esclarece o modo como essa
reação se manifesta nas suas falas.
Parte B
Lê o excerto do Capítulo 115 da Crónica de D. João I.
E ordenou o Meestre com as gentes da cidade que fosse repartida a guarda dos muros pelos
fidalgos e cidadãos honrados; aos quaes derom certas quadrilhas 1 e beesteiros2 e homẽes
d’armas pera ajuda de cada uũ guardar bem a sua. Em cada quadrilha havia uũ sino pera repicar
quando tal cousa vissem3, e como4 cada uũ ouvia o sino da sua quadrilha, logo todos rijamente 5
5 corriam pera ela; por quanto aas vezes os que tiinham cárrego 6 das torres viinham espaçar 7 pela
cidade, e leixavom-nas encomendadas a homeẽs de que muito fiavom 8; outras vezes nom ficavom
em elas senom as atalaias 9; mas como4 davom aa campãa 10, logo os muros eram cheos, e muita
gente fora.
E nom soomente os que eram assiinados 11 em cada logar pera defensom, mas ainda as outras
10 gentes da cidade, ouvindo repicar na See, e nas outras torres, avivavom-se os corações deles; e
os mesteiraes12 dando folgança a seus oficios 13, logo todos com armas corriam rijamente 5 pera u14
diziam que os Castelãos mostravom de viinr. Ali viriees os muros cheos de gentes, com muitas
trombetas e braados e apupos esgremindo espadas e lanças e semelhantes armas, mostrando
fouteza15 contra seus ẽmigos.
LOPES, Fernão, 1980. Crónica de D. João I (textos escolhidos; apresentação crítica, seleção, notas
e sugestões para análise literária de Teresa Amado). Lisboa: Seara Nova / Editorial Comunicação (p. 172)
6. No texto da Parte A, Maria salienta o valor de Manuel de Sousa Coutinho enquanto «português dos
verdadeiros» (l. 20).
Comprova que a expressão é válida para ambos os textos (da Parte A e da Parte B), tendo
em conta o modo como neles se manifesta a afirmação e a defesa de valores patrióticos.
Parte C
7. Lê o excerto seguinte, retirado de uma fala de Telmo em Frei Luís de Sousa (Ato II, Cena I).
«Vosso pai, D. Maria, é um português às direitas. Eu sempre o tive em boa conta; mas agora,
depois que lhe vi fazer aquela ação, que o vi, com aquela alma de português velho, deitar as
mãos às tochas e lançar ele mesmo o fogo à sua própria casa; queimar e destruir numa hora
tanto de seu haver, tanta coisa de seu gosto, para dar um exemplo de liberdade, uma lição
tremenda a estes nossos tiranos… Oh, minha querida filha, aquilo é um homem! A minha vida,
que ele queira, é sua. E a minha pena, toda a minha pena é que o não conheci, que o não
estimei sempre no que ele valia.»
GARRETT, Almeida, 2014. Frei Luís de Sousa. Porto: Porto Editora (pp. 54-55)
Escreve uma breve exposição em que analises a evolução dos sentimentos de Telmo
relativamente a Manuel de Sousa Coutinho.
A tua exposição deve incluir:
– uma introdução ao tema;
– um desenvolvimento no qual descrevas a mudança de sentimentos de Telmo face a Manuel de
Sousa Coutinho, explicitando os motivos que a determinaram;
– uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.
Grupo II
Lê o texto.
Portugal tem dois vizinhos: o oceano Atlântico e a Espanha. Um deles foi visto durante
muito tempo como uma opção arriscada, traidora e perigosa; o outro era líquido.
A história ibérica é, em grande parte, a crónica de duas nações separadas pela sua
geografia partilhada, um caso de «tão perto e tão longe». A configuração da Ibéria convida
5 à comparação entre os portugueses e os espanhóis e as semelhanças são óbvias. Mas
também as diferenças são pronunciadas.
Espanha é cerca de quatro vezes maior do que Portugal, em área e população, e
encurrala Portugal num canto remoto, constituindo um tampão entre os portugueses e o
resto da Europa e engendrando aquilo a que o escritor António José Saraiva chamou
10 «uma espécie de mentalidade insular» dos portugueses. A Espanha foi tradicionalmente o
grande adversário de Portugal. Através da intrusão ou mesmo da anexação por Castela, o
reino expansionista que se transformou no Estado espanhol foi sempre uma ameaça. Na
política externa portuguesa, isto constituiu durante séculos a «questão espanhola». Na
coreografia da sua relação com Espanha, os portugueses movem-se cautelosamente em
15 redor do seu belicoso vizinho. E, quando precisavam de um amigo poderoso para manter a
Espanha à distância, viravam-se para Inglaterra, o seu mais antigo aliado. Esses dois
países desempenharam um papel fulcral na formação dos destinos de Portugal.
2. Ao recorrer à expressão «Na coreografia da sua relação com Espanha» (ll. 13-14), o autor utiliza
uma metáfora sugestiva
(A) da intensidade das ameaças espanholas.
(B) dos diferentes momentos da relação de Portugal e Espanha.
(C) do temor português face a Espanha, ao longo da história dos dois países.
(D) da fragilidade portuguesa face ao poderio militar de Espanha.
3. O autor recorre às citações de Agostinho da Silva (ll. 20-21) e de Alexandre Herculano (ll. 33-35)
para
(A) apresentar um novo ponto de vista.
(B) introduzir um contra-argumento.
(C) reforçar a perspetiva defendida.
(D) ilustrar o seu ponto de vista através de exemplos.
3. lexical por reiteração 3. gramatical interfrásica 3. «Portugal» (ll. 1, 7, 8, 11, 17, 18, 20)
Grupo III
Num texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas e
cinquenta palavras, defende uma perspetiva pessoal sobre a afirmação da identidade portuguesa na
atualidade.
No teu texto:
– explicita, de forma clara e pertinente, o teu ponto de vista, fundamentando-o em dois argumentos,
cada um deles ilustrado com um exemplo significativo;
– utiliza um discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).
Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo
quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra,
independentemente do número de algarismos que o constituam (ex.: /2022/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados, há que atender ao seguinte:
− um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial do texto produzido;
− um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.
Cotações
Item
Grupo
Cotação (em pontos)
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 104
I
16 16 16 16 8 16 16
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 56
II
8 8 8 8 8 8 8
TOTAL 200
Escrever um texto de
Grupo III
Item único 40 pontos Escrita opinião, respeitando as
40 pontos
marcas de género.
Grupo I – Parte B
5. O Mestre de Avis («o Meestre», l. 1) é o líder
(«ordenou», l. 1) ao qual cabe a função de assegurar a
defesa da cidade e de, para isso, distribuir a «guarda dos
muros pelos fidalgos e cidadãos honrados» (ll. 1-2).
6. Em ambos os textos se manifesta a dimensão patriótica
e, de modos distintos, os protagonistas defendem a
independência e resistem ao inimigo. Manuel afronta os
governadores castelhanos, com o sacrifício da própria
casa, num gesto que, como o próprio refere, adquire um
significado exemplar («Hei de lhes dar uma lição», l. 16).
Também no excerto da Crónica de D. João I os
protagonistas do povo, enquanto ator coletivo, evidenciam
uma consciência coletiva e empenham-se na defesa da
independência e da identidade nacional. A sua natureza
de «portugueses verdadeiros» torna-se notória quando,
ao toque dos sinos, todas as «gentes da cidade» (l. 9) se
mobilizam «rijamente» (ll. 4 e 10), «mostrando fouteza
contra seu ẽmigos» (ll. 12-13). Nesses momentos,
«avivavom-se os corações deles» (l. 9) e «logo todos com
armas» (l. 10) confrontavam os castelhanos, ficando «os
muros cheos de gentes» (l. 11).