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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE ÁGUAS SANTAS

TESTE DE PORTUGUÊS – 10 º ANO

Grupo I
PARTE A

Leia, atentamente, o texto que se segue. Se necessário, consulte as notas de vocabulário.

Vem a Mãe, e não na achando lavrando, diz: [entra Lianor Vaz]

Logo eu adevinhei […]


lá na missa onde eu estava, Lia. Venho eu, mana, amarela5?
como a minha Inês lavrava Mãe Mais ruiva que uma panela!
5 a tarefa que lhe eu dei... Lia. Não sei como tenho siso!
Acaba esse travesseiro! Jesu, Jesu, que farei?
Hui! naceo-te algum unheiro? Não sei se me vá a el-Rei,
40
Ou cuidas que é dia santo? se me vá ao Cardeal.
Inês Inês Praza a Deos que algum quebranto Mãe E como? Tamanho é o mal?
me re de ca veiro. Lia. Tamanho? Eu to direi:
10

Mãe Toda tu estás aquela1… vinha agora pereli6


Choram-te os filhos por pão? ò redor da minha vinha,
45
Inês Prouvesse a Deos! Que já é rezão e um clérigo, mana minha,
de eu não estar tão singela2. pardeos7, lançou mão de mi.8
15 Mãe Olhade lá o mao pesar3... Não me podia valer.
Como queres tu casar Diz que havia de saber
com fama de preguiçosa? 50 se era eu fêmea, se macho.
Inês Mas eu, mãe, são aguçosa4
e vós dais-vos de vagar. […]
Leixemos isto! Eu venho
20 Mãe Ora espera, assi vejamos. com grande amor que vos tenho,
Inês Quem já visse esse prazer! porque diz o exemplo an go
Mãe Cal ’te, que poderá ser, que amiga e bom amigo
que “ante a Páscoa vem os Ramos.” 55 mais aquenta que o bom lenho.
Não te apresses tu, Inês.
25 “Maior é o ano que o mês”: Inês está concertada
quando te não precatares, pera casar com alguém?
virão maridos a pares, Mãe Até ‘gora com ninguém
e filhos de três em três. não é ela embaraçada9.
60 Lia. Em nome do anjo bento
Inês Quero-m’ ora alevantar. eu vos trago um casamento.
30
Folgo mais de falar nisso, Filha, não sei se vos praz10.
− assi Deos me dê o paraíso, − Inês E quando, Lianor Vaz?
mil vezes que não lavrar. Lia. Já vos trago aviamento11.
Isto não sei que o faz...
Mãe Aqui vem Lianor Vaz.
35 Inês E ela vem-se benzendo...

1
65 Inês Porém, não hei-de casar 70 Lia. Eu vos trago um bom marido,
senão com homem avisado12. rico, honrado, conhecido.
Ainda que pobre e pelado, Diz que em camisa vos quer13
seja discreto em falar, Inês Primeiro eu hei-de saber
que assi o tenho assentado. se é parvo, se sabido.
Gil Vicente, Farsa de Inês Pereira, in António José Saraiva (apresentação e leitura),
Teatro de Gil Vicente, ed. revista, Lisboa, Dinalivro, 1988, pp. 165-170.

1
hoje dir-se-ia “lá estás tu…”; 2 sozinha, solteira; 3 “vejam que desgraça…” (ironia); 4 diligente; 5 pálida; 6 por ali; 7 interjeição “por
Deus”; 8 agarrou-me; 9 comprome da; 10 agrada; 11 arranjo de vida; 12 discreto; 13 Diz que em camisa vos quer: “diz que vos aceita
sem dote”.

Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

1. Jus fique a reação da Mãe, considerando os versos “Hui! naceo-te algum unheiro? / Ou cuidas
que é dia santo?” (vv. 7-8). (20 pontos)

2. Lianor Vaz, nos versos 40-41, coloca a hipótese de apresentar uma queixa ao Rei ou ao Cardeal.
2. 1 Enuncie os mo vos que originam essa intenção. (20 pontos)

3. Explicite as razões da visita da alcoviteira e a reação de Inês à sua proposta. (20 pontos)

2
PARTE B

Leia atentamente o seguinte texto poé co.

Fui hoj’eu, madre, veer meu amigo,


que envio[u] muito rogar por en,
porque sei eu ca mi quer mui gram bem;
mais vedes, madre, pois m’el vio consigo,
5
foi el tam ledo que, des que naci,
nunca tam led’home com molher vi.

Quand’eu cheguei, estava el chorando


e nom folgava o seu coraçom,
cuidand’em mi, se iria, se nom,
10 mais, pois m’el viu, u m’el estava asperando,
foi el tam ledo que, des que naci,
nunca tam led’home com molher vi.

E, pois Deus quis que eu fosse u m’el visse,


diss’el, mia madre, como vos direi:
15 “Vej’eu viir quanto bem no mund’hei”;
e vedes, madre, quand’el esto disse,
foi tam ledo que, des que eu naci,
nunca tam led’home com molher vi.

Juião Bolseiro, B1167, V 773 (in h ps: //can gas.fcsh.unl.pt).

Apresente, de forma bem estruturada, as respostas aos itens que se seguem.

4. Iden fique o interlocutor da donzela, destacando a sua importância para a relação amorosa. (20
pontos)

5. Demonstre a evolução no estado de espírito do amigo, expondo as razões que a originam. (20
pontos)

3
Grupo II
Leia o texto. Se necessário, consulte as notas. (50 pontos)

Catarina Lucas
Em consulta, alguém me disse: “não sei se queria casar, mas gostava que ele vesse querido
casar comigo”. É sobre isto que reflito num dos capítulos do meu mais recente livro “Vida a
Dois”. Parece que o casamento está em crise. Todos ouvimos múl plas referências ao
casamento como algo que “não faz sen do”, que “não muda nada”, que “um papel não
5
acrescenta valor”, que “não é importante”, que “nunca foi um sonho” … poderíamos con nuar
com os exemplos… […] Mas, um olhar mais atento e perspicaz, misturado com alguma
sensibilidade e experiência, faz-nos entender que talvez as coisas não sejam “tanto assim” e
que este é ainda o sonho de muita gente. […]
Talvez o casamento seja hoje olhado como um sinal de fraqueza ou de dependência. Assumir
10
que queremos casar pode colocar-nos num papel de fragilidade e até inferioridade. Não que
isto tenha algum fundo de verdade, mas parece ecoar no seio de uma sociedade que se quer
independente, que não precisa do outro, que rejeita veemente qualquer ideia que se
assemelhe a conservadorismo (nada mais conservador do que casar, diriam alguns).
Contudo, assis mos com alguma frequência a situações onde a mágoa pelo não casamento
15 parece ficar encoberta. Por alguma razão, parece que queremos esconder de nós mesmos esse
desejo mais ín mo do casamento, negando-o para nós e para os outros.
O “não quero casar” soa em muitos casos a um mecanismo de proteção e a uma estratégia
de manutenção do amor-próprio ou orgulho. Nada pior do que assumir que queremos casar e
ouvirmos do lado de lá algo como, “mas eu não quero casar”. Independentemente dos mo vos
20 da outra pessoa, esse “não quero casar” soará sempre a rejeição, a um “ele/a não quer casar
comigo”. […] Anos mais tarde, parecem começar a surgir as mágoas.
Por vezes, para compreendermos a evolução dos tempos e das sociedades é preciso dar
alguns passos atrás. Numa sociedade que se vangloria de ser independente, parecem con nuar
a emergir necessidades an gas. […]
25 A sociedade está em mudança, disso ninguém duvida. O homem já não procura uma mulher
que cuide dele, do mesmo modo que a mulher não procura um homem que garanta a
subsistência da família. Se quisermos colocar as coisas numa ó ca mais prá ca, as pessoas não
estabelecem relações por necessidades que outrora mo varam casamentos. Se re rarmos
estas mo vações, o foco incide sobre as necessidades emocionais.

h ps://visao.sapo.pt/(consultado em 28/02/2021).

Nas respostas aos itens de escolha múl pla, selecione a opção correta.
Escreva, na folha de respostas, o número do item e a letra que iden fica a opção escolhida.

Para completar cada um dos itens de 1. a 7., selecione a opção correta.

1. De acordo com o conteúdo do texto, (5 pontos)


(A) a relutância em querer casar, poderá ser influenciada pela vontade de se mostrar livre e independente.
(B) embora o casamento esteja em crise, essa não é a verdadeira razão para não querer casar.
(C) o conhecimento da autora sobre esta matéria prende-se com o facto de ela nunca ter estado casada.
(D) o livro “Vida a Dois” só tem um capítulo sobre a temá ca “Casamento em crise”.
4
2. Segundo a autora, a renúncia à ligação matrimonial pode resultar (5 pontos)
(A) da recusa de liberdade e desejo de emancipação das mulheres.
(B) de um mecanismo de autodefesa, como forma de evitar o sofrimento pela rejeição.
(C) da certeza de que o casamento além de revelar conservadorismo trará sofrimento.
(D) da ausência de sensibilidade e da falta de experiência.

3. Na atualidade, o casamento con nua a ter lugar porque (5 pontos)


(A) pode trazer bem-estar emocional.
(B) conduz à estabilidade financeira.
(C) o homem precisa de quem cuide dele.
(D) a sociedade mantém traços de conservadorismo.

4. A u lização das aspas nas linhas 1-2 jus fica-se porque (5 pontos)
(A) se trata de uma frase em discurso indireto.
(B) a autora do texto pretende reforçar uma ideia.
(C) se reproduz ou faz uma citação.
(D) se trata de uma frase em discurso direto.

5. No segmento textual «que “não faz sen do”, que “não muda nada”, que “um papel não acrescenta
valor”, que “não é importante”, que “nunca foi um sonho”» (ll. 4-5), a vírgula separa uma
enumeração de orações subordinadas (5 pontos)
(A) substan vas comple vas.
(B) adje vas rela vas explica vas.
(C) adje vas rela vas restri vas.
(D) substan vas rela vas.

6. No segundo parágrafo, para expressar a ideia de dúvida, é usada a palavra (5 pontos)


(A) dependência (l. 9).
(B) talvez (l. 9).
(C) inferioridade (l. 10).
(D) seio (l. 11).

7. O referente do pronome “o” na forma verbal “negando-o para nós e para os outros“ (l. 16) é a
palavra (5 pontos)
(A) casamento.
(B) ín mo.
(C) desejo.
(D) esse.

Para responder aos itens de 8. a 10., apresente uma resposta para cada alínea a) e b).

8. Indique a função sintá ca desempenhada pelos cons tuintes apresentados: (5 pontos)


a) “em mudança” (l. 25);
b) “sobre as necessidades emocionais” (l. 29).

9. Iden fique os processos fonológicos envolvidos na evolução dos seguintes termos do


galego-português para o português contemporâneo. (5 pontos)
a) VEER > ver
b) NACI > nasci

10. Classifique as orações. (5 pontos)


a) “que se vangloria de ser independente“ (l. 23)
b) “Se re rarmos estas mo vações,” (ll.28-29)

5
Grupo III

A figura da mãe, tal como é perspe vada em diversas obras da literatura portuguesa, tem
um papel determinante no que se refere à educação dos filhos.
Num texto exposi vo, entre 200 a 300 palavras, refira-se, exemplificando, ao papel da mãe
na educação das jovens, considerando o estudo da lírica trovadoresca e da obra vicen na “Farsa de
Inês Pereira”. (50 pontos)

A sua exposição deve incluir:


- uma introdução ao tema;
- um desenvolvimento em que apresente dois aspetos que demonstrem a importância da figura
materna, ilustrando cada um deles com um exemplo significa vo;
- uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

FIM

Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em
branco, mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como
uma única palavra, independentemente do número de algarismos que o constituam (ex.: /2021/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados, há que atender ao seguinte:
− um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial do texto produzido;
− um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.

3. Escrita – Critérios de correção


Cotações: 50 pontos (Estruturação temática e discursiva: 30 + Correção linguística: 20)
CL – Desvalorizações no âmbito da correção linguística – ver tabela

Desvalorização
Tipo de ocorrências
(pontos)
erro inequívoco de pontuação
erro de ortografia (incluindo erro de acentuação, uso indevido de letra minúscula ou de
letra maiúscula e erro de translineação) 1
erro de morfologia
incumprimento das regras de citação de texto ou de referência a título de uma obra

erro de sintaxe
impropriedade lexical 2

A repetição de um erro de ortografia na mesma resposta (incluindo erro de acentuação, uso indevido de letra
minúscula ou de letra maiúscula e erro de translineação) é contabilizada como uma única ocorrência. Se da
aplicação deste fator de desvalorização resultar uma classificação inferior a zero pontos, atribui-se zero pontos à
correção linguística.

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