Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O ANO
Poesia trovadoresca
Fernando Esquio
Após uma leitura atenta do poema, responde ao questionário, de uma forma clara
e cuidada.
Amigo, pois vos nom vi
I II
1. Esta cantiga revela o A. um dístico com um verso
contraste... intercalado.
2. O refrã o é constituído por... B. o paralelismo anafó rico e semâ ntico.
Após uma leitura atenta do poema, responde ao questionário, de uma forma clara
e cuidada.
Soaram as vozes do arroido pela cidade, ouvindo todos bradar que matavam o
Mestre; e assi como viú va que rei nom tinha, e como se lhe este ficara em logo1 de
marido, se moveram todos com mã o armada, correndo à pressa pera onde diziam
que se isto fazia, por lhe darem vida e escusar2 morte.
Á lvaro Pais nom quedava3 de ir pera alá , bradando a todos:
– Acorramos ao Mestre, amigos! Acorramos ao Mestre que matam sem porquê!
A gente começou de se juntar a ele e era tanta, que era estranha cousa de ver.
Nom cabiam pelas ruas principais e atravessavam lugares escusos 4, desejando cada
1. no lugar; 2. livrar da; 3. deixava; 4. escondidos; 5. faltava; 6. (do francês talan) vontade; 7. quando; 8. onde;
9.diversas; 10. aí; 11. arrombassem; 12. traidor (conde Andeiro); 13. mulher adú ltera (Leonor Teles); 14. teimavam;
15. insultos; 16. fizesse o favor; 17. maneira; 18. impedir; 19. insistiam.
Capítulo XI
Do alvoroço que foi na cidade cuidando que matavom o Mestre, e como aló 1 foi
Alvoro Paez e muitas gentes com ele.
O Page do Mestre que estava aa porta, como lhe disserom que fosse pela vila
segundo já era percebido2, começou d'ir rijamente3 a galope em cima do cavalo em que
estava, dizendo altas vozes, bradando pela rua:
– Matom o Mestre! matom o Mestre nos Paços da Rainha! Acorree ao Mestre que
matam!
E assi chegou a casa d’Alvoro Paez que era dali grande espaço4.
As gentes que esto ouviam, saiam aa rua veer que cousa era; e começando de falar
uus com os outros, alvoraçavom-se nas vontades5, e começavom de tomar armas cada
uu como melhor e mais asinha6 podia. Alvoro Paez que estava prestes7 e armado com ua
coifa8 na cabeça segundo usança daquel tempo, cavalgou logo a pressa em cima duu
cavalo que anos havia que nom cavalgara; e todos seus aliados com ele, bradando a
quaesquer que achava dizendo:
— Acorramos ao Mestre, amigos, acorramos ao Mestre, ca9 filho é del-Rei dom
Pedro.
E assi braadavom el e o Page indo pela rua.
Soarom as vozes do arroido10 pela cidade ouvindo todos bradar que matavom o
Mestre; e assi como viuva que rei nom tiinha, e como se lhe este ficara em logo 11 de
marido, se moverom todos com mã o armada12, correndo a pressa pera u13 deziam que se
esto fazia, por lhe darem vida e escusar14 morte. Alvoro Paez nom quedava15 d’ir pera
alá 16, bradando a todos:
– Acorramos ao Mestre, amigos, acorramos ao Mestre que matam sem por quê!
A gente começou de se juntar a ele, e era tanta que era estranha cousa de veer.
Nom cabiam pelas ruas principaes, e atrevessavom logares escusos17, desejando cada uu
de seer o primeiro; e preguntando uus aos outros quem matava o Mestre, nom
minguava18 quem responder que o matava o Conde Joam Fernandez, per mandado da
Rainha. (…)
6. Explica, por palavras tuas, por que razã o se diz que Fernã o Lopes escreve quase ao
estilo de um repó rter.
Capítulo CXV
Per que guisa estava a cidade corregida pera se defender, quando el-Rei de
Castela pôs cerco sobre ela.
Nenhum falamento1 deve mais vizinho ser deste capítulo que haveis ouvido, que
poermos logo aqui brevemente de que guisa estava a cidade, jazendo el-rei de Castela
sobre ela; e per que modo punha em si guarda o Mestre e as gentes que dentro eram por
nã o receber dano de seus inimigos; e o esforço e fouteza2 que contra eles mostravam
enquanto assim esteve cercada.
Onde sabei que, como3 o Mestre e os da cidade souberam a vinda del-rei de Castela
e esperaram seu grande e poderoso cerco, logo foi ordenado de recolherem pera a
cidade os mais mantimentos que haver pudessem, assim de pã o e carnes como
quaisquer outras causas. E iam-se muitos à s liziras4 em barcas e batéis, depois que
Santarém esteve por Castela, e dali traziam muitos gados mortos que salgavam em tinas
e outras cousas de que fizeram grande acalmamento5. E colheram-se dentro à cidade
muitos lavradores com as mulheres e filhos e causas que tinham, e doutras pessoas da
comarca de arredor, aqueles a que prougue6 de o fazer; e deles7 passaram o Tejo com
seus gados e bestas e o que levar puderam, e se foram contra 8 Setú bal e pera Palmela. E
outros ficaram na cidade e nã o quiseram dali partir; e tais hi houve, que puseram todo o
seu, e ficaram nas vilas que por Casteia tomaram voz.
Os muros todos da cidade nã o haviam míngua de bom repairamento; e em setenta
e sete torres que ela tem a redor de si, foram feitos fortes caramanchõ es de madeira, os
quais eram bem fornecidos de escudos e lanças e dardos, e bestas de tomo, e doutras
maneiras, com grande avondança de muitos virotõ es. (…)
Oh, que formosa cousa era de ver! Um tã o alto e poderoso senhor como é el-rei de
Castela com tanta multidã o de gentes, assim per mar como per terra, postas em tã o
grande e tã o boa ordenança, ter cercado tã o nobre cidade. E ela, assim guarnecida
contra ele de gentes e de armas, com tais avisamentos 9 por sua guarda e defensã o; em
tanto que diziam os que viram que tã o formoso cerco de cidade nã o era em memó ria de
homens que fosse visto de mui longos anos até aquele tempo.
Fernã o Lopes, Crónica de D. João I, (ed. Teresa Amado), Comunicaçã o, 1992
(Texto com algumas alteraçõ es ortográ ficas)
1. palavras; 2. coragem; 3. logo que; 4. terreno alagado nas margens de um rio; 5. abastecimento; 6. agra-
dou; 7. e alguns; 8. em direçã o a; 9. preparativos.
1. Indica a ideia veiculada pelo cronista no primeiro pará grafo deste capítulo.
3. Transcreve marcas que evidenciem que o cronista narra como quem fala.
5. Transcreve marcas que atestem os planos de visã o existentes neste texto: visã o de
conjunto e visã o de pormenor.
7. Transcreve a frase que mostra que um cerco como este jamais tinha sido visto.
TEXTO 1 TEXTO 2
TEXTO 1
1. Enuncia o tema de conversa entre mã e e filha.
5. Indica como se enuncia, neste excerto da Farsa de Inês Pereira, a saída recente de uma
personagem e a entrada pró xima de outras.
2. Especifica o indício que nos é dado, neste excerto, sobre o tempo histó rico.
TEXTOS 1 e 2
1. Inês (TEXTO 1) nã o entende a «discriçã o» na mesma perspetiva que o Escudeiro (TEXTO
2). Explica em que diferem os dois pontos de vista.
Entra logo Inês Pereira, e finge que está lavrando só, em casa, e canta esta cantiga:
Canta Inês:
Quien con veros pena y muere
Que hará quando no os viere1?
(Falando)
INÊS Renego deste lavrar
E do primeiro que o usou;
Ó diabo que o eu dou,
Que tã o mau é d'aturar.
Oh Jesu! que enfadamento,
E que raiva, e que tormento,
Que cegueira, e que canseira!
Eu hei-de buscar maneira
D'algum outro aviamento2.
(…)
MÃE Lianor Vaz, que foi isso?
LIANOR Venho eu, mana, amarela10.
MÃE Mais ruiva11 que uma panela!
LIANOR Nã o sei como tenho siso12.
Jesu! Jesu! Que farei?
Nã o sei se me vá a el-rei13,
se me vá ao Cardeal.
MÃE Como? E tamanho é o mal?
LIANOR Tamanho? Eu to direi.
Vinha agora pereli14
ao redor da minha vinha,
e um clérigo, mana minha,
pardeus15, lançou mã o de mi16!
Nã o me podia valer,
diz que havia de saber
se era eu fêmea, se macho.
MÃE Hui! Seria algum muchacho17
(…)
LIANOR Eu vos trago um bom marido,
rico, honrado, conhecido;
diz que em camisa18 vos quer.
(…)
INÊS Si,
venha e veja-me a mi,
quero ver, quando me vir,
se perderá o presumir19
1. quem com ver-vos pena e morre, que fará quando vos nã o vir. 2. ocupaçã o. 3. aproveitados. 4.
travesseiros de franjas. 5. de estar sempre no mesmo sítio. 6. macaca. 7. feitiço. 8. que desgraça! 9. ativa.
10. pá lida. 11. corada. 12. discernimento; juízo. 13. D. Joã o III. 14. por ali. 15. por Deus, na verdade. 16.
Lançou mão de mi: quis-me agarrar. 17. rapaz. 18. pobre e sem dote. 19. presunçã o.
Lírica de Luís de Camões, Maria Vitalina Leal de Matos, Editorial Caminho, 2012
1. paradigma, ideal, 2. cabeleira loura, 3. solar (de Febo, deus romano do Sol), 4. digno, 5. feiticeira da mitologia
grega, 6. pérolas, 7. figura mitoló gica, símbolo da beleza, apaixonou-se por si pró prio, ao olhar o reflexo do seu
rosto nas á guas.
2. O poema é constituído pelo mote e por duas voltas. Refere o conteú do das voltas.
I II
1. Sainho A. de prata.
2. Cinta B. de fina escarlata.
3. Cabelos C. de chamalote.
4. Vasquinha D. de ouro entrançado.
5. Mã os E. mais branca que a neve pura.
6. Transcreve o(s) adjetivo(s) que resume(m) o retrato físico e psicoló gico de Lianor no
refrã o.
78
Um ramo na mã o tinha… Mas, ó cego,
Eu, que cometo1, insano e temerá rio,
Sem vó s, Ninfas do Tejo2 e do Mondego,
Por caminho tã o á rduo, longo e vá rio!
Vosso favor invoco, que navego
Por alto mar, com vento tã o contrá rio,
Que, se nã o me ajudais, hei grande medo
Que o meu fraco batel se alague cedo3.
79
Olhai que há tanto tempo que, cantando
O vosso Tejo e os vossos Lusitanos,
A Fortuna me traz peregrinando,
Novos trabalhos vendo e novos danos:
Agora o mar, agora exprimentando
Os perigos Mavó rcios4 inumanos,
Qual Cá nace5, que à morte se condena,
Nũ a mã o sempre a espada e noutra a pena;
81
E ainda, Ninfas minhas, nã o bastava
Que tamanhas misérias me cercassem,
Senã o que aqueles que eu cantando andava
Tal prémio de meus versos me tornassem9:
A troco dos descansos que esperava,
Das capelas10 de louro que me honrassem,
Trabalhos nunca usados me inventaram,
Com que em tã o duro estado me deitaram!
82
Vede, Ninfas, que engenhos de senhores11
O vosso Tejo cria valerosos,
Que assi sabem prezar, com tais favores,
A quem os faz, cantando, gloriosos!
Que exemplos a futuros escritores,
Pera espertar engenhos curiosos,
Pera porem as cousas em memó ria,
Que merecerem ter eterna gló ria!
3. Expõ e sucintamente o conteú do das estrofes 79 e 80, referindo o seu cará ter
autobiográ fico.
4. Explica o sentido dos vv. 5-8 da estrofe 82, relacionando-os com o conteú do da
estrofe anterior.
105
(...)
Ó grandes e gravíssimos perigos,
Ó caminho de vida nunca certo,
Que aonde a gente põ e sua esperança
Tenha a vida tã o pouca segurança!
106
No mar tanta tormenta e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida!
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade avorrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que nã o se arme e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tã o pequeno?
I II
1. Mar A. «tanta necessidade avorrecida»
B. «tanta guerra»
C. «tanta tormenta»
2. Terra D. «a morte apercebida»
E. «tanto engano»
F. «tanto dano»
3. Identifica o recurso expressivo presente nos versos seguintes.
«Ó grandes e gravíssimos perigos,
Ó caminho de vida nunca certo,»