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PALAVRAS 11

2.º Teste - 11.º ano


Grupo I (100 pontos)
A (70 pontos)
Lê o texto.
A.
Educação Literária
ATO PRIMEIRO

Câmara1 antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância portuguesa dos princípios do século
dezassete. Porcelanas, xarões2, sedas, flores, etc. No fundo, duas grandes janelas rasgadas, dando para um
eirado3 que olha sobre4 o Tejo e donde se vê toda Lisboa; entre as janelas o retrato, em corpo inteiro,
de um cavaleiro moço, vestido de preto, com a cruz branca de noviço 5 de S. João de Jerusalém6.
Defronte e para a boca da cena um bufete7 pequeno, coberto de rico pano de veludo verde franjado de
prata; sobre o bufete alguns livros, obras de tapeçaria meias feitas, e um vaso da China de colo alto,
com flores. Algumas cadeiras antigas, tamboretes8 rasos, contadores9. Da direita do espectador, porta de
comunicação para o interior da casa, outra da esquerda para o exterior. - É o fim da tarde

ATO SEGUNDO

É no palácio que fora de D. João de Portugal, em Almada; salão antigo, de gosto melancólico e pesado,
com grandes retratos de família, muitos de corpo inteiro, bispos, donas, cavaleiros, monges: estão em lugar
mais conspícuo10, no fundo, o de el- rei D. Sebastião, o de Camões e o de D. João de Portugal. Portas do lado
direito para o exterior, do esquerdo para o interior, cobertas de reposteiros com as armas dos condes de
Vimioso. São as antigas da casa de Bragança, uma aspa 11 vermelha sobre campo de prata com cinco escudos
do reino, um no meio e os quatro nos quatro extremos da aspa, em cada braço e, entre os dois
escudos, uma cruz floreteada12, tudo do modo que trazem atualmente os duques de Cadaval; sobre o
escudo, coroa de conde. No fundo, um reposteiro muito maior, e com as mesmas armas, cobre as portadas
da tribuna que deita sobre a capela da Senhora da Piedade, na igreja de São Paulo dos Domínicos13 de
Almada.

ATO TERCEIRO

Parte baixa do palácio de D. João de Portugal, comunicando, pela porta à esquerda do espectador, com a
capela da Senhora da Piedade na Igreja de S. Paulo dos Domínicos de Almada: é um casarão sem
ornato algum. Arrumadas às paredes14, em diversos pontos, escadas, tocheiras15, cruzes, ciriais16 e outras
1
aposento de uma casa
2
objetos revestidos de verniz de laca da China (moderna ortografia: charão)
3
o mesmo que eira, terraço
4
“que olha sobre” = que dá para
5
novato, que inicia um estágio para professor num convento
6
Ordem de Malta ou dos Hospitalários
7
aparador, móvel com funções idênticas às duma mesa
8
assento, espécie de cadeira de braços, sem espaldar
9
espécie de armário com pequenas gavetas
10
notável, ilustre
11
insígnia heráldica com a forma de X
12
ornada de flores ou que termina em ponta aguda como o florete
13
frades que pertenciam à Ordem de S. Domingos
14
“arrumadas às paredes” = encostadas às paredes (l. XX)
15
castiçais (l. XX)
16
cada uma das lanternas que ladeiam a Cruz nas procissões (l. XX)

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PALAVRAS 11

alfaias e guisamentos17 de igreja, de uso conhecido. A um lado um esquife 18 dos que usam as
confrarias19, do outro, uma grande cruz negra de tábua com o letreiro J.N.R.J.20, e toalha pendente como se
usa nas cerimónias da Semana Santa, mais para a cena uma banca velha com dois ou três tamboretes: a um
lado, uma tocheira baixa, com tocha acesa e já bastante gasta; sobre a mesa, um castiçal de chumbo, de
credência21, baixo e com vela acesa também, e um hábito completo de religioso domínico, túnica,
escapulário, rosário, cinto, etc. No fundo, porta que dá para as oficinas e aposentos que ocupam o resto dos
baixos do palácio. É alta noite.

1. Explicita a importância destes textos iniciais dentro da estrutura do texto dramático.


2. Identifica cada um dos locais descritos dentro do contexto da ação da obra.
3. Compara os locais descritos no ato I e II.
4. Indica a simbologia da redução do espaço ao longo da obra.

B (30 pontos)
B. Lê o seguinte texto.
No mundo, poucos anos, e cansados
vivi, cheios de vil miséria dura;
foi-me tão cedo a luz do dia escura
que não vi cinco lustros1 acabados.

5 Corri terras e mares apartados,


buscando a vida algum remédio ou cura;
mas aquilo que, enfim, não quer Ventura,
não o alcançam trabalhos arriscados.

Criou-me Portugal na verde e cara


10 pátria minha Alenquer; mas ar corruto,
que neste meu terreno vaso tinha,

me fez manjar de peixes em ti, bruto


mar, que bates na Abássia2 fera3 e avara4,
tão longe da ditosa pátria minha!

Luís de Camões, Lírica Completa – II, Lisboa: IN-CM, 1994, p. 245.

1
lustro – espaço de cinco anos;
2
Abássia – Abissínia (antiga designação da Etiópia);
3
fera – feroz;
4
avara – miserável

17
objetos e utensílios próprios para o culto religioso (l. XX)
18
urna, caixão (l. XX)
19
irmandades (l. XX)
20
Jesus Nazareno Rei dos Judeus (l. XX)
21
mesinha junto do altar, para os acessórios da celebração da missa (l. XX)

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5. Explicita, recorrendo a exemplos textuais, como se torna evidente a visão pessimista do


sujeito poético em relação a um percurso autobiográfico, através de:
a) vocábulos com conotação negativa;
b) três recursos expressivos.
6. Mostra a importância do último verso para a determinação do tema do exílio, tão
frequente em Camões.

Grupo II (50 pontos)

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.


Escreve, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.

Leitura | Gramática

A revolução de 1640 acarretou o declínio da burguesia portuguesa. Grande


número de estrangeiros estabeleceu-se em Lisboa. Infligiram golpe mortal nos
comerciantes nacionais. A Inquisição pôde atuar sem peias, conseguindo arruinar bom
número de firmas e de homens de negócio, ao mesmo tempo que impedia ou dificultava
iniciativas conjuntas de portugueses vivendo em Portugal e de portugueses exilados no
5
estrangeiro. Apesar de alguns protestos que esta e outras atitudes menos inteligentes
suscitaram (o Padre António Vieira foi um dos que defendeu com calor a política da
tolerância por razões económicas), a burguesia nacional declinou irremediavelmente.
Os artífices da maioria dos mesteres continuavam agrupados em corporações. Em
Portugal, como em Espanha, os laços corporativos desenvolveram-se e fortaleceram-se
durante o século XVII, generalizando-se por todo o País as corporações. (…)
O número de escravos importados em Portugal diminuiu durante o século XVII.
10 Ao mesmo tempo acelerou-se, sobretudo devido a miscigenação, o seu processo
integracionista na sociedade branca. Os escravos tornaram-se caros de mais para simples
tarefas domésticas e revelaram-se pouco necessários na província. Moda e novidade,
fatores que em parte haviam determinado a sua importação nos séculos XV e XVI,
transformaram-se e passaram. Por outro lado, o tráfico escravo para a América e as ilhas
portuguesas de África tornou-se bem organizado e um dos mais rendosos de todos os
15
tempos. (…)
No interior das igrejas, surgiu e desenvolveu-se, a partir de finais do século XVI,
um tipo de decoração extremamente rico. Incluía azulejos de cores variegadas e a famosa
talha dourada, cobrindo por completo altares, retábulos, molduras, cornijas, coberturas,
púlpitos, cadeirais, órgãos. Houve numerosos casos em que todas as superfícies internas
20 da igreja foram recobertas, quer de azulejos, quer de talha dourada. Daqui resultaram
consequências várias, por exemplo o declínio da pintura religiosa, preterida pelas novas
formas decorativas. Em compensação, pôde desenvolver-se a escultura de imagens, tanto
de madeira como de pedra, a arte tumular, os cadeirais de coro, os altares decorados.
A. H. de Oliveira Marques, Breve História de Portugal, Lisboa: Editorial Presença, 1995,
pp.272-279.

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PALAVRAS 11

1. Em 1640, com a revolução, os estrangeiros estabelecidos em Lisboa


A. mataram os comerciantes portugueses.
B. arruinaram definitivamente as firmas portuguesas.
C. ganharam grandes fortunas.
D. enfraqueceram consideravelmente a burguesia portuguesa.
2. “A Inquisição pôde atuar sem peias” (l. 3) significa que
A. a Inquisição atuou de forma limitada.
B. a Inquisição não teve barreiras na sua ação.
C. a Inquisição colaborou com a revolução de 1640.
D. a Inquisição agiu sem limites contra os estrangeiros.

3. No século XVII, a escravatura diminuiu em Portugal


A. e assiste-se a um processo de mestiçagem.
B. pela criação de leis limitadoras da importação de escravos.
C. porque a Inquisição perseguia os escravos.
D. por se privilegiar o trabalho dos artesãos.

4. Entre ”altares, retábulos, molduras, cornijas, coberturas, púlpitos, cadeirais, órgãos” (ll. 23-24)
e “igrejas” (l. 20) estabelece-se uma relação de
A. holonímia-meronímia.
B. hiponímia-hiperonímia.
C. meronímia-holonímia.
D. hiperonímia-hiponímia.

5. A expressão sublinhada em “Grande número de estrangeiros estabeleceu-se em Lisboa”


desempenha a função sintática de
A. modificador.
B. complemento direto.
C. complemento oblíquo.
D. complemento indireto.

6. Refere o valor da expressão temporal “ao mesmo tempo que” (l. 4).
7. Indica a função sintática do pronome relativo presente na frase: “Apesar de alguns protestos
que esta e outras atitudes menos inteligentes suscitaram” (l. 6-7).
8. Classifica a seguinte oração: “que em parte haviam determinado a sua importação nos séculos
XV e XVI” (l. 16).

Grupo III (50 pontos)


Escrita

O teatro é fundamental na formação global do cidadão.

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PALAVRAS 11

Tendo em conta a afirmação anterior, redige um texto de opinião sobre a importância do


teatro, com 180 a 220 palavras, no qual fundamentes o teu ponto de vista com dois argumentos e
com, pelo menos, um exemplo concreto e significativo para cada um.

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