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Memorial do

Convento
https://www.youtube.com/watch?v=MGoa0I
3AIFM
Contextualização
Segundo o autor, a ideia surgiu-lhe quando passeava olhando o
mosteiro e profere a seguinte frase: “Gostava de meter um dia isto
dentro de um romance”.
 Posteriormente, tê-lo-á impressionado a leitura
de um fragmento de Camilo, no qual se refere a
construção do convento de Mafra.
 Contextualização: D. João V é aclamado rei em
1707, durante a Guerra da Sucessão de Espanha.
 A obra passa-se no Reinado de D. João V, séc.
XVIII, época de luxo e grandeza.

 D. João V é influenciado pelos diplomatas, intelectuais e


estrangeirados.
 Constrói o convento em Mafra para cumprir a promessa, após o
nascimento da sua filha.
Contextualização
 Memorial do Convento  narrativa histórica (+/-30 anos da
história portuguesa) entrelaçando acontecimentos e
personagens verídicos com seres fictícios.

 Como ROMANCE HISTÓRICO, oferece-nos uma minuciosa


descrição da sociedade portuguesa da época, a sumptuosidade
da Corte, a exploração dos operários, referências à Guerra da
Sucessão, autos de fé, construção do convento, construção da
passarola pelo Padre Bartolomeu de Gusmão.
Género textual
 Como ROMANCE SOCIAL, é uma crónica de costumes.
 É também ROMANCE DE INTERVENÇÃO, pois apresenta-nos o
caráter repressivo deste momento particular da história
portuguesa.

 Saramago propõe um repensar da História de Portugal, através


da ficção e com a sua palavra reveladora  mensagem ética.

 MEMORIAL (memórias de uma época – construção do


convento, Inquisição, passarola,…) do CONVENTO (construção do
convento de Mafra)
“Memorial do Convento”

Título - relato sobre pessoas memoráveis, o povo que

realmente edificou o Convento de Mafra;

homenagem a essa gente que o construiu, cuja a

memória é digna de ser perpetuada num memorial de

A a Z.
Memorial do Convento
As linhas de ação

https://www.youtube.com/watch?v=ljBhTwy
X4A0

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Outras Expressões, 12.º ano


Memorial do Convento
As linhas de ação

Outras Expressões, 12.º ano


Memorial do Convento
As linhas de ação
Memorial do Convento
A ação e a relação entre as personagens

Outras Expressões, 12.º ano


Memorial do Convento
A ação e a relação entre as personagens

Outras Expressões, 12.º ano


“Era uma vez…”
Remete para…
• Narrativa popular
• Dimensão intemporal e
didática
• Sugestão do universo
imaginário.
“Era uma vez…”

A repetição da expressão " Era uma vez..." reenvia, imediatamente, para o


universo das narrativas populares, como populares serão os verdadeiros
heróis do romance. Além disso, confere à obra uma dimensão intemporal e
didática, também típica dos contos populares. A repetição intensifica a
sugestão de universo imaginário, que parece contradizer a ideia veiculada
pelo título de que se contará a história (verídica) do convento.
Caracterização das personagens:

https://www.youtube.com/watch?v=0eVNUr
1OtB0
D. João V
 O reinado de D. João V, “o Magnânimo”, caracterizou-se pelo
exercício absolutista do poder monárquico.
 Era filho de D. Pedro II e sua segunda mulher, Maria Sofia Isabel
de Neuburg.
 Em 1708, 18 meses após assumir o trono, casou-se com a
arquiduquesa Maria Ana de Áustria, filha do imperador
Leopoldo I.
 Com o ouro do Brasil edificou o monumental convento de Mafra:
basílica, palácio real e convento.

D. João V
Criou a biblioteca da Universidade de Coimbra, construiu o
aqueduto das Águas Livres, que abasteceu Lisboa, construiu o
Palácio e Mosteiro de Mafra e a Capela de S. João Baptista, na
Igreja de S. Roque.
 Morreu em Lisboa, em 31 de julho de 1750, e sucedeu-lhe o
seu filho, D. José I.
D. João V
 Durante o reinado de D. João V, houve grande afluxo de ouro.
 Foi-se adensando o atraso cultural e científico que distanciava
Portugal dos países mais evoluídos da Europa.
 Os tribunais da Inquisição começaram a funcionar em diversas
cidades, mas acabaram por subsistir apenas os de Coimbra,
Lisboa e Évora.
 A Inquisição era um organismo com poderes
extraordinariamente vastos, que atingiam todos os setores da
grei: religioso, político, social e cultural.
 A mais importante realização pessoal de D. João V foi a
construção do Palácio-Convento. de Mafra;
• D. João V representa o poder real que, de forma absoluta, condena uma nação a servir a sua

religiosidade fanática e a sua vaidade.

• Cumpridor dos seus deveres de marido e de rei, D. João V assume apenas o papel gerativo de um filho e

de um convento, numa dimensão procriadora, da qual a intimidade e o amor se encontram ausentes.

• Amante dos prazeres humanos, a figura real é construída através do olhar crítico do narrador, de forma

multifacetada: é o devoto fanático que submete um país inteiro ao cumprimento de uma promessa

pessoal (a construção do convento, de modo a garantir a sucessão) e que assiste aos autos de fé; é o

marido que não evidencia qualquer sentimento amoroso pela rainha, apresentando nesta relação uma

faceta quase animalesca, enfatizada pela utilização de vocábulos que remetem para esta ideia (como a

forma verbal “emprenhou” e o adjetivo “cobridor”); é o megalómano que desvia as riquezas nacionais

para manter uma corte dominada pelo luxo, pela corrupção e pelo excesso; é o rei vaidoso que se

equipara a Deus nas suas relações com as religiosas; é o curioso que se interessa pelas invenções do

padre Bartolomeu de Gusmão; é o esteta que convida Domenico Scarlatti a permanecer em Portugal; é o

homem que teme a morte e que antecipa a sua imortalidade, através da sagração do convento no dia do

seu quadragésimo primeiro aniversário.


D. Maria Ana
•A rainha representa a mulher que só através do sonho se liberta da sua condição aristocrática para

assumir a sua feminilidade.


•D. Maria Ana é caracterizada como uma mulher passiva, insatisfeita, que vive um casamento baseado

na aparência, na sexualidade reprimida e num falso código ético, moral e religioso.


•A transgressão onírica é a única expressão da rainha que sucumbe, posteriormente, ao sentimento

de culpa. A pecaminosa atração incestuosa que sente por D. Francisco, seu cunhado, conduzem-na a

uma busca constante de redenção através da oração e da confissão. A rainha vive num ambiente

repressivo, cujas proibições regem a sua existência e para a qual não há fuga possível, a não ser

através do sonho, onde pode explorar a sua sensualidade. Consciente da virilidade e da infidelidade

do marido (abundam os filhos bastardos), D. Maria assume uma atitude de passividade e de

infelicidade perante a vida.


Os infantes - D. Francisco e D. Mª Bárbara

•A loucura impune do infante D. Francisco, exercitando nos marinheiros a pontaria com

a espingarda, ilustra bem a crueldade de um tempo que tudo admite aos poderosos.

A intriga e disputa pela coroa, antecipando a morte do irmão, é outra faceta do seu

comportamento.

D. Maria Barbara, causadora inocente de tantos males, é tratada com maior benevolência.

Com menos de nove anos, exibe perante a corte os (ainda fracos) dotes de cravista; mais

tarde, a boa rapariga», de cara «bexigosa e de lua-cheia» é levada para casar com um

desconhecido, num longo percurso, durante o qual tem a visão dos homens acorrentados,

que, embora por instantes, a deixa pensativa.


A alta nobreza, o alto clero

A nobreza exibe o servilismo de quem se encontra na órbita do rei absolutista, como

é visível, por exemplo, no 1.° capítulo, ou quando assiste, embevecida, à brincadeira dos

infantes, que construíam a basílica em miniatura.

O luxo desmedido sobres as suas intervenções, o que partilha com o alto clero, ilustrando como as cerimónias

religiosas eram pretextos para deleite tudo menos espiritual.


Baltasar Sete-Sóis

• Baltasar Mateus é um dos membros do casal protagonista da


narrativa.
• Representa a crítica do narrador à desumanidade da guerra, uma
vez que participa na Guerra da Sucessão (1704-1712) e, depois
de perder a mão esquerda, é excluído do exército.
• Construído enquanto arquétipo da condição humana, Baltasar
Sete-Sóis é um homem pragmático e simples, que assume o
papel de demiurgo ( criador) na construção da passarola (ao
realizar o sonho de Bartolomeu de Gusmão). Participa na
construção do convento e partilha, através do silêncio, a vida de
Blimunda Sete-Luas. Sucumbe às mãos da Inquisição.
Blimunda Sete-Luas
• Blimunda é o segundo membro do casal protagonista da narrativa.
• Mulher sensual e inteligente, Blimunda vive sem subterfúgios, sem regras
que a condicionem e escravizem. Dotada de poderes invulgares, como a
mãe, escolhe Baltasar para partilhar a sua vida, numa existência de amor
pleno, de liberdade, sem compromissos e sem culpa.
• Blimunda representa o transcendente e a inquietação constante do ser
humano em relação à morte, ao amor, ao pecado e à existência de Deus. O
seu dom particular (ecovisão) transfigura esta personagem, aproximando-a
da espiritualidade da música de Scarlatti e do sonho de Bartolomeu de
Gusmão. Ao visualizar a essência dos que a rodeiam, Blimunda transgride
os códigos existentes e perceciona a hipocrisia e a mentira que subjazem
aos comportamentos estereotipados, condicionados pelos dogmas
estabelecidos que corporizam os falsos conceitos morais.
Povo
• O verdadeiro protagonista de Memorial do Convento é o povo
trabalhador. Espoliado, rude, violento, o povo atravessa toda a
narrativa, numa construção de figuras que, embora corporizadas por
Baltasar e Blimunda, tipificam a massa coletiva e anónima que
construiu, de facto, o convento.
• A crítica e o olhar mordaz do narrador enfatizam a escravidão a que
foram sujeitos quarenta mil portugueses, para alimentar o sonho de
um rei megalómano ao qual se atribui a edificação do Convento de
Mafra.
• A necessidade de individualizar personagens que representam a força
motriz que erigiu o palácio-convento, sob um regime opressivo, é a
verdadeira elegia de Saramago para todos aqueles que, embora
ficcionais, traduzem a essência de ser português.
Padre Bartolomeu de Gusmão
• O padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão representa as novas ideias que
causavam estranheza na inculta sociedade portuguesa. Estrangeirado,
Bartolomeu de Gusmão torna-se um alvo apetecido da chacota da corte e
da Inquisição, apesar da proteção real.
• Homem curioso e grande orador sacro (a sua fama aproxima-o do padre
António Vieira), Bartolomeu de Gusmão evidencia, ao longo da obra, uma
profunda crise de fé a que as leituras diversificadas e a postura
“antidogmática” não serão alheias, numa busca incessante de saber.
• A sua personagem risível – era conhecido por “Voador” – torna-o elemento
catalisador do voo da passarola, conjuntamente com Baltasar e Blimunda.
A tríade, aliás, corporiza o sonho e o empenho tornados realidade, a par da
desgraça, também ela, partilhada (loucura e morte, em Toledo, de
Bartolomeu de Gusmão, morte de Baltasar Sete-Sóis no auto de fé e
solidão de Blimunda).
Domenico Scarlatti
• Personagem histórica, de origem italiana. Convidado
por D. João V para ser o professor de música da
infanta D. Maria Bárbara e para assumir as funções de
mestre da capela real.
• Bartolomeu Lourenço acaba por lhe
confiar o segredo da passarola e, por isso, ele torna-se
uma presença habitual na abegoaria.
• É ele que, através da sua música, consegue curar
Blimunda quando esta entra num estado de letargia.
• É fiel, sensível e sonhador.
Relação entre as personagens
• D.João V vs Povo • D.João V e Bartolomeu
Lourenço e Sacarlatti
opressor/ oprimido
Proteção
• Baltasar/ Blimunda/ Bartolomeu

Relação de amizade Verdadeira ( Trindade Terrestre)

Baltasar/ Blimunda/ Bartolomeu/ Scarlatti

Relação de Lealdade
Elementos simbólicos
• A magia dos olhos de Blimunda realça a excecionalidade de uma figura feminina
anónima.
• A referência às “vontades” é uma metáfora da força impulsionadora do sonho.
• A pedra “Benedictione” é o símbolo de todas as pedras e das dificuldades que os
homens tiveram de ultrapassar para obedecerem à vontade do rei.
• As alcunhas de Baltasar e Blimunda representam a união perfeita de um casal
que se completa.
• A passarola simboliza a consecução de um sonho da humanidade.
• A música de Scarlatti apela para o poder da arte.
• A demanda final de Blimunda representa uma lição de amor e de perseverança.
• o número três surge como o símbolo da perfeição divina (trindade);
• o número sete surge várias vezes referido na obra e está associado à totalidade e
perfeição;
• o número nove está associado à insistência e determinação de Blimunda na
procura de Baltasar.
Visão Crítica em “ Memorial do convento”

• Neste romance, são criticados vários aspetos da sociedade


portuguesa da primeira metade do século XVIII:
• o sofrimento do povo;
• o poder absoluto do rei;
• o regime repressivo da Inquisição;
• a quebra do celibato sacerdotal;
• a parcialidade da justiça;
• o adultério;
• corrupção generalizada.
Linguagem e estilo de Saramago
• https://app.escolavirtual.pt/lms/playerteacher
/resource/267608/L?se=4042&seType=&coId=
167794

Memorial do Convento
Ao longo de todo o romance, o narrador faculta várias
informações sobre o futuro, antecipando-as no tempo e num
claro anacronismo em relação à época da intriga: o reinado
de D. João V, sobretudo o período de construção do Convento
de Mafra.
 O estilo original de José Saramago é subversor da sinalética
gramatical e do tradicional lugar do diálogo no seio do texto.
 O romance revela uma especial consciência da História de
Portugal como suporte da narração.
 O estatuto do narrador é ambíguo, simultaneamente
individual e coletivo, circunstancial e intemporal.
Memorial do Convento
• O romance apresenta uma galeria de personagens trágicas e
maravilhosas, aproximando o romance português do
“realismo mágico” latino-americano.
• Surge na obra um conjunto de símbolos que envolvem o
texto, prestando-lhe uma força mítica.
• O narrador usa um duplo aspeto estilístico: um leve tom
jocoso-parodístico, que satiriza e ridiculariza o modo
tradicional de se estudar História.
Memorial do Convento
• Saramago escreve brincando com as palavras e, brincando,
narra acontecimentos sérios.
• Devido ao elemento moralista ou exemplar presente em
Memorial do Convento, o tom jocoso do estilo torna-se sério,
o patético evidencia-se como dramático e o cómico, se
comparado com os costumes e a força popular, transfigura-se
em épico.
• Eis o estilo de Memorial do Convento: um cruzamento
estilístico entre o jocoso-sério, o patético-dramático e o
cómico-épico.
• Memorial do Convento é igualmente habitado por símbolos-
força, como o algarismo “sete”, o par “Lua/Sol”, o símbolo da
ascensão da “montanha” (a serra de Monchique).

Saramago visto pelos outros
“É um escritor comprometido com o seu tempo e cada um
dos seus romances é uma metáfora do mundo.”
Círculo de Leitores: Revista de Informação, literária e musical, março/abril, 1999.

• “Escrita extraordinariamente desenvolta, por um lado, e


investida, por outro lado, daquela exigência que é a que
pede ao leitor, a competente adesão a um ritmo de
efabulação hoje inteiramente consolidado(…).”
Carlos Reis, Jornal de Letras, 26/3/97
• “Na obra de Saramago dissolvem-se mistérios e
ambiguidades, para logo outros enigmas se gerarem, que
ulteriormente serão decifrados, sem que jamais se destrua,
nesta dobadoura de enganos, o inconsútil segredo da ficção.”
Luís de Sousa Rebelo
Tudo o que precisas saber :
• https://www.youtube.com/watch?v=lBbps9Bn
Jgc&list=RDCMUCUjTwE8pppZh6yuPUkAvxtw
&index=2

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