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EÇA DE QUEIRÓS

Os Maias
SÍNTESE DA UNIDADE
OS MAIAS: SÍNTESE DA UNIDADE

Friso cronológico
Séc. XVII Séc. XIX
BARROCO ROMANTISMO REALISMO

Eça de Queirós (1845-1900)


Os Maias (1888)
OS MAIAS: SÍNTESE DA UNIDADE

Contextualização histórico-literária
A representação de espaços sociais e a crítica de costumes
Espaços e seu valor simbólico e emotivo
A descrição do real e o papel das sensações

Representações do sentimento e da paixão: diversificação d


a intriga amorosa (Pedro da Maia, Carlos da Maia e Ega)
Características trágicas dos protagonistas (Afonso da Maia,
Carlos da Maia e Maria Eduarda)
Linguagem, estilo e estrutura

Em síntese
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-LITERÁRIA

Contexto histórico
1845 – Nascimento de Eça de Queirós
1855 – Aclamação de D. Pedro V
1861 – Morte de D. Pedro V/ Início do reinado de D.
Luís
1871 – Realização das Conferências Democráticas no
Casino de Lisboa
1886 – Mapa Cor de Rosa
1889 – Morte de D. Luís / Início do reinado de D. Carlos
1900 – Morte de Eça de Queirós
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-LITERÁRIA

Escola Coimbrã
GERAÇÃO DE 70
Características Continuidade do movimento
• Inovação da Escola Coimbrã
• Comprometimento
da literatura com a
realidade social
• Abertura à evolução
científica e literária
europeias
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-LITERÁRIA

Questão Coimbrã

Ultrarromantismo Escola Coimbrã

Representante Representante
António Antero de Quental
Feliciano de
Castilho

Características
Características • Inovação
• Sensibilidade piegas • Comprometimento da literatura
• Falta de originalidade com a realidade social
• Abertura à evolução científica e
literária europeias
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-LITERÁRIA

REALISMO
• Contestação do idealismo romântico
• Observação e análise de tipos
humanos e costumes sociais
• Atitude descritiva e crítica em
relação à sociedade
• Temas associados à vida familiar,
económica, social e cultural
• Género literário privilegiado: Jean-François Millet, 
As Respigadoras, 1857
romance

NATURALISMO
• Coordenadas ideológicas: estética positivista e antimetafísica
• Determinismo: influência da raça, do meio e da hereditariedade
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A REPRESENTAÇÃO DE ESPAÇOS SOCIAIS E A CRÍTICA DE COSTUMES

Os Maias

ESPAÇOS SOCIAIS

Ambientes Personagens
A REPRESENTAÇÃO DE ESPAÇOS SOCIAIS E A CRÍTICA DE COSTUMES

Os Maias Episódios da Vida Romântica

Ambientes/Episódios Aspetos criticados


Jantar do Hotel Central Literatura, Crítica literária, Finanças,
História de Portugal

Corridas de cavalos Falso cosmopolitismo, falta de


civismo, provincianismo

Jantar dos Gouvarinhos Mediocridade mental da aristocracia


e da classe dirigente

Episódio dos jornais Jornalismo corrupto e parcial

Sarau da Trindade Atraso cultural, provincianismo


A REPRESENTAÇÃO DE ESPAÇOS SOCIAIS E A CRÍTICA DE COSTUMES

Personagens Tipos sociais


Eusebiozinho Educação tradicional portuguesa
Alencar Ultrarromantismo
Conde de Gouvarinho Poder político
Sousa Neto Administração pública
Palma Cavalão Jornalismo
Steinbroken Diplomacia
Dâmaso Salcede Novo-riquismo
Cruges Talento artístico
Craft Educação britânica Voltar
A REPRESENTAÇÃO DE ESPAÇOS SOCIAIS E A CRÍTICA DE COSTUMES
Educação tradicional: à portuguesa Educação moderna: à inglesa

Centrada na memorização Centrada na experiência

Desvalorização do exercício físico Valorização do exercício físico

Saber livresco Valorização da criatividade

Proteção excessiva Valorização do espírito crítico


Aprendizagem das línguas Aprendizagem das línguas vivas: o inglês
mortas: latim

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ESPAÇOS E SEU VALOR SIMBÓLICO E EMOTIVO

Santa Olávia Coimbra Lisboa


Infância e Estudos e Espaço da
educação de juventude de capital;
Carlos Carlos (primeiras centralidade da
aventuras nação
amorosas, feição portuguesa
romântica)
ESPAÇOS E SEU VALOR SIMBÓLICO E EMOTIVO

Ramalhete

Cascata, cedro e
cipreste, estátua de
Fachada
• “grande ramo de Vénus
• Passagem do tempo
girassóis”
• Envelhecimento e
• Importância da terra
morte
na história da família
• Presença/ausência de
amor
ESPAÇOS E SEU VALOR SIMBÓLICO E EMOTIVO
“Toca”
» Luxo estridente e sensual
» Tragicidade
ESPAÇOS E SEU VALOR SIMBÓLICO E EMOTIVO

Estátua de Camões
Nostalgia do passado
recuado, simbolizado pela
figura de Camões (época
de Portugal expansionista)

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A DESCRIÇÃO DO REAL E O PAPEL DAS SENSAÇÕES

A descrição do real
é feita com recurso ao
IMPRESSIONISMO
LITERÁRIO.
O impressionismo é uma
escola de pintura que
valoriza a cor, a
luminosidade, os contornos
esfumados, os efeitos
provocados pela realidade
observada.

Monet, O Passeio.
Mulher com sombrinha, 1875
A DESCRIÇÃO DO REAL E O PAPEL DAS SENSAÇÕES
IMPRESSIONISMO
LITERÁRIO
As sensações assumem um papel
essencial na descrição do real.
Na prosa impressionista
queirosiana, privilegia-se, entre
outros recursos, a sinestesia –
recurso expressivo que consiste
C. Pissarro, Le Boulevard de Montmartre,1897
na associação de duas ou mais
sensações pertencentes a
registos sensoriais diferentes.
Ex.: “uma luz macia,
escorregando docemente do
azul-ferrete, vinha dourar as
Voltar
fachadas enxovalhadas”.
REPRESENTAÇÕES DO SENTIMENTO E DA PAIXÃO

Diversificação da intriga amorosa

Pedro da Maia Carlos da Maia Ega


• Procura de • Enquanto estudante, em • Relação com
botequins e Coimbra: relações com Raquel Cohen →
lupanares – Hermengarda (mulher adultério, amor-
romantismo torpe casada) e com a prostituta paixão
• Relação com espanhola → romantismo
Maria Monforte – sensual e torpe; adultério
amor-paixão, • Relação com a Condessa
amor fatal de Gouvarinho → adultério
• Relação amorosa com
Maria Eduarda → amor-
paixão, amor fatal

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CARACTERÍSTICAS TRÁGICAS DOS PROTAGONISTAS

Afonso da Maia Carácter nobre, em termos sociais


(cf. associação a Afonso de
Albuquerque) e morais (grandeza de
alma)
Marcado pelo Destino – morre na
sequência do incesto dos netos
(“vencido enfim por aquele
implacável destino que, depois de o
Afonso da Maia
(interpretado por João Perry)
ter ferido na idade da força com a
João Botelho, Os Maias
desgraça do filho – o esmagava ao
fim da velhice com a desgraça do
neto”, Cap. XVII)
CARACTERÍSTICAS TRÁGICAS DOS PROTAGONISTAS

Carlos da Maia Carácter excecional e superior, em termos


de educação e beleza (“fisionomia de belo
cavaleiro da Renascença”)

Marcado pelo Destino (cf. razão da escolha


do nome próprio, pela mãe – “destino de
amores e façanhas”, Cap. II)

Aproximação predestinada a Maria


Carlos da Maia Eduarda (“Ambos insensivelmente,
(interpretado por Graciano Dias)
João Botelho, Os Maias
irresistivelmente, fatalmente, marchando
um para o outro”, Cap. VI)

Atitude de herói trágico: comete uma


transgressão (hybris), ao praticar incesto
conscientemente
CARACTERÍSTICAS TRÁGICAS DOS PROTAGONISTAS

Maria Eduarda Carácter excecional e superior,


em termos de beleza (“deusa”),
de requinte (“tinha naquele cais
triste de cidade antiquada, um
destaque estrangeiro, como o
requinte claro de civilizações
superiores”) e de delicadeza de
sentimentos
Maria Eduarda
(interpretada por Maria Flor) Recetiva a presságios
João Botelho, Os Maias

Aproximação predestinada de
Carlos

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LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA
Os Maias
(1888)
Modo literário Género literário

Modo narrativo Romance


• Modo em que a ação é apresentada • Género literário moderno,
pelo narrador com larga projeção cultural,
• Apresenta como elementos cultivado sobretudo a partir
constitutivos do século XVIII
 ação (principal e secundária) • Apresenta como marcas
 personagem (principal,  a pluralidade de ações
secundária, figurante)  a complexidade do tempo,
 narrador (heterodiegético) do espaço e dos
 espaço (físico, psicológico e protagonistas
social)  a extensão longa
 tempo (narrativo e histórico)
LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA

Visão global da obra e estruturação


Título Níveis (ou planos) da ação Subtítulo

Os Maias Episódios da Vida Romântica


Intriga principal Crónica de costumes
• Carlos / Maria Eduarda • Jantar do Hotel Central
• Jantar dos Gouvarinho
Intriga secundária • Episódio dos jornais
• Pedro / Maria Monforte
• Corridas de Cavalos
Ação trágica • Sarau da Trindade
• Temática do incesto
• Destino
• Presságios
• Peripécia,
reconhecimento,
catástrofe
LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA

Visão global da obra e estruturação

Carlos vê M. Eduarda Partida de M. Eduarda

Intriga Intriga
Pedro / M. do incesto
Monforte Epílogo

Crónica de
costumes

Cap. I Cap. IV
Cap. XVIII

REIS, Carlos (2002). Introdução à Leitura d’Os Maias (7.ª ed.). Coimbra: Almedina.
LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA

O romance: pluralidade de ações


Ação Amores de Carlos e Maria Eduarda (intriga
principal principal)

Ações Amores de Pedro e Maria Monforte (intriga


secundárias secundária)
Romance de Ega com Raquel Cohen
Romance de Carlos com a Condessa de
Gouvarinho
Vingança de Dâmaso (Episódio dos jornais)
Serão em Santa Olávia (Educação de Carlos e de
Eusebiozinho)
O romance: complexidade dos protagonistas
Afonso da Maia Carlos da Maia Maria Eduarda
• Na juventude, adere aos • Na infância, educação • Na infância e
ideais do Liberalismo baseada em valores adolescência,
• Exílio: instala-se em físicos e intelectuais educação pela
Inglaterra e aí vive no • Na vida adulta, mãe
meio do conforto cosmopolitismo, • Na vida adulta:
• Fica muito abalado com a sensualidade, luxo, relação com Mac
morte do filho Pedro; vive diletantismo, dandismo Green e Castro
para o neto Carlos Gomes
• Na velhice, assume uma • Felicidade
perspetiva crítica em Falhou na vida, transitória com
relação ao país Carlos
provavelmente devido
• Desilusão final /
ao meio social
partida para
(sociedade ociosa, fútil, Paris
Símbolo do velho boémia)
Portugal (em contraste
com o Portugal novo)
O romance: complexidade do tempo

Tempo da história (marcos fundamentais)

c. 1820-1875 1875-1877 1887

Antecedentes Ação principal Epílogo


da ação principal • Amores de Carlos e • Passeio de
• Juventude, exílio e Maria Eduarda Carlos e
casamento de Afonso (preparação do incesto, Ega, em
• Amores e suicídio de consumação do Lisboa
Pedro incesto, final trágico)
• Educação e formação • Crónica de costumes
de Carlos (cf. espaço social)
A ação de Os Maias não é contada linearmente, sendo alguns acontecimentos
apresentados por meio de analepses. Jacinto do Prado Coelho esquematizou a
arquitetura do romance da seguinte forma:
1. Introdução: marco inicial da ação;
o Ramalhete; Afonso
2. Preparação:
a) Juventude de Afonso
b) Infância de Pedro
c) Juventude, amores e
suicídio de Pedro
d) Infância e educação de Carlos
e) Carlos estudante em Coimbra
f) Primeira viagem de Carlos COELHO, J. (1976),
3. Ação in Ao contrário de Penélope.
Lisboa: Bertrand
4. Epílogo [pp. 169-170]
a) Viagem de Carlos e de Ega (1877-78);
b) Cenas da estada de Carlos em Lisboa, dez
anos depois (1887)
O romance: complexidade do tempo

Tempo histórico
Ação de Os Maias Factos históricos

1820 “E todavia, o furor revolucionário Revolução liberal do


do pobre moço consistira em ler Porto
Rousseau, Volney, Helvécio, e a Elaboração e
«Enciclopédia»; em atirar proclamação da
foguetes de lágrimas à Constituição
Constituição […].” (Cap. I)

“Durante os dias da Abrilada Reação miguelista:


1824 Abrilada
estava ele nas corridas de Epsom
[…].” (Cap. I)
Tempo histórico
Ação de Os Maias Factos históricos

1828 “Tais palavras, apenas soltas, Regresso triunfal de


voavam a Queluz. E quando se D. Miguel a Lisboa,
reuniram as Cortes Gerais, a após exílio em Viena
polícia invadiu Benfica, «a
procurar papéis e armas
escondidas».” (Cap. I)

1851 “Longos anos o Ramalhete Início da


permanecera desabitado […]. Regeneração
1858 Em 1858, Monsenhor Buccarini
[…] visitara-o” […].” (Cap. I)

1870 “De repente rebentou a guerra Guerra franco-


com a Prússia.” (Cap. XV) prussiana
O romance: complexidade do espaço
Espaço Pluralidade de espaços
físico Santa Olávia, Coimbra, Lisboa (Baixa, Aterro, Campo Grande),
Sintra, Ramalhete, Vila Balzac, “Toca”, consultório de Carlos…

Espaço Ao serviço da crítica social (sociedade lisboeta da segunda


social metade do século XIX)
Jantar no Hotel Central, corridas no hipódromo, jantar dos
Gouvarinhos, episódio dos jornais, sarau da Trindade, epílogo
(passeio de Carlos e Ega)

Espaço Ilustrando a complexidade das personagens


psicológico Carlos (evocação de Maria Eduarda em Sintra, visão do
Ramalhete e do avô, após o incesto; contemplação de Afonso
da Maia morto, no jardim…)
Ega (reflexões após a descoberta da identidade de Maria
Eduarda)
LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA

O romance: presença e focalização do narrador

Presença Narrador heterodiegético


na ação Não intervém na ação como personagem

Focalização Focalização omnisciente


/ ponto de Descrição do Ramalhete, passado dos Maias,
vista formação de Carlos, retrato de João da Ega…
Focalização interna
• Vilaça: educação de Carlos, em Santa Olávia
• Carlos da Maia: Jantar do Hotel Central, Corridas
de Cavalos…
• Ega: Redação do jornal “A Tarde”, Sarau da
Trindade
LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA

Recursos expressivos Metáfora

Comparação Personificação

Ironia Sinestesia

Uso expressivo do adjetivo

Uso expressivo do advérbio

Reprodução do discurso no discurso


Discurso Discurso Discurso
Voltar direto indireto indireto livre
LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA

Comparação
Relação de analogia entre dois termos com o objetivo de assinalar
as suas diferenças ou semelhanças, recorrendo a uma palavra ou
expressão comparativa.
A comparação é
Ex.: “Nesse momento Carlos, utilizada para realçar
cuja voz gritava no corredor pelo vovô, a cor da face de
precipitou-se no quarto, esguedelhado, Carlos e,
escarlate como uma romã.” consequentemente, a
sua vitalidade e
(Eça de Queirós, Os Maias) energia enquanto
criança.

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Ironia
Expressão em que se sugerem ideias ou sentimentos contrários ou
diferentes do que se diz. A interpretação correta de uma ironia
depende do contexto e do entendimento
do interlocutor.
A ironia dá conta da
perspetiva crítica do
Ex.: “o morgadinho, o Eusebiozinho, narrador face à forma
uma maravilha muito falada como o Eusebiozinho
naqueles sítios” era apreciado pela
população local.
(Eça de Queirós, Os Maias)

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LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA

Metáfora
Utilização de um termo para designar algo diferente daquilo que
designa habitualmente, a partir de elementos que são comuns a
esse termo e ao que ele refere.
Com esta metáfora
Ex.: “Apesar deste fresco nome de realça-se o aspeto
vivenda campestre, o Ramalhete […] severo do
tinha o aspeto tristonho de residência Ramalhete, para
eclesiástica que competia além de se sugerir a
a uma edificação do reinado influência clerical na
da senhora D. Maria I: com uma família dos Maias.
sineta e com uma cruz no topo,
assemelhar-se-ia a um colégio de Jesuítas.”

(Eça de Queirós, Os Maias)


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LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA

Personificação
Atribuição de características humanas (pensamentos, sentimentos,
ações) a seres inanimados, a animais ou a entidades abstratas.

Ex.: “O palacete deitava


sobre aquele bocado Através da
de terraço a sombra personificação
dos seus muros tristes; sugere-se a harmonia
do vale subia uma frescura e a melancolia
e um grande ar; e algures, em baixo, associadas ao espaço
sentia-se o prantear de um repuxo.” descrito.

(Eça de Queirós, Os Maias)

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LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA

Sinestesia
Associação de sensações resultantes da perceção sensorial de
sentidos diferentes.
Através da sinestesia
Ex.: “Carlos teve dificuldades em (“escarlate
encontrar a «Vila Balzac»: […] estridente”) realça-se
e aí, num recanto, ladeada de muros,
e do espírito críticouma das principais
aparecia enfim uma casota de características da Vila
paredes enxovalhadas, Balzac: a
com dois degraus de pedra à porta excentricidade
e transparentes novos excessiva.
de um escarlate estridente.”

(Eça de Queirós, Os Maias)


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LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA

Hipálage
Transposição de um atributo humano para um objeto que lhe está
relacionado.
Através da
Ex.: “Obedecendo ao seu gesto risonho, Carlos pousou-se hipálage,
embaraçadamente à borda do sofá de repes.” realça-se a
(Eça de Queirós, Os Maias) afabilidade
e
naturalidad
e que Carlos
sentiu no
gesto de
Maria
Eduarda.

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LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA

Uso expressivo do adjetivo


Emprego do adjetivo com o intuito de conferir beleza ao texto e de
realçar a característica por ele expressa. O uso expressivo do
adjetivo pode resultar da associação de Os adjetivos
um nome que designa uma qualidade física “enxovalhadas” e
e um adjetivo de carácter afetivo/ “mesquinhas” são
emocional. O adjetivo pode ainda ser utilizados
utilizado para criar a metáfora, expressivamente,
a sinestesia, a ironia… conferindo à
descrição uma
Ex.: “uma luz macia, escorregando dimensão crítica
docemente do azul-ferrete, vinha dourar (crítica à sociedade
as fachadas enxovalhadas, as copas lisboeta).
mesquinhas das árvores do município!…”
(Eça de Queirós, Os Maias)
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LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA

Uso expressivo do advérbio


emprego do advérbio com o intuito de conferir beleza ao
texto e de realçar determinado valor semântico. O uso expressivo
do advérbio pode contribuir para a construção da ironia.

Ex.: “O Eusebiozinho O advérbio “preciosamente” é


foi então preciosamente usado ironicamente, sugerindo
o tom depreciativo do
colocado ao lado da titi”
narrador relativamente à
superproteção e ao mimo de
(Eça de Queirós, Os Maias) que Eusebiozinho é alvo por
parte da família.

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LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA

Discurso direto
Modalidade de reprodução do discurso em que se reproduz o
discurso original tal como ele terá sido dito pelo emissor. Na escrita,
introduz-se por travessão ou delimita-se por travessões ou aspas.
Ex.: “— Que diabo, não me hão de O discurso direto é bastante
esquecer as queijadas! — expressivo, evidenciando a
murmurou Cruges, para si mesmo, coloquialidade da
afastando-se do parapeito.” linguagem e a preocupação
de Cruges com as
(Eça de Queirós, Os Maias) “queijadas” de Sintra (cf.
expressividade do verbo
“murmurar”, que introduz o
discurso direto).

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LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA

Discurso indireto
Modalidade de reprodução do discurso em que se reproduz o
discurso num novo discurso, com algumas transformações. Faz-se
por meio da subordinação.
Através do discurso
Ex.: “Ega murmurou que a História indireto, o narrador
se encarregaria um dia de retificar reproduz o
esse facto. […] E então o Gouvarinho, murmúrio de Ega e
que acendera o charuto, espreitara a pergunta do
outra vez o relógio, perguntou Gouvarinho.
se os amigos tinham ouvido
alguma coisa do Ministério e da crise.”

(Eça de Queirós, Os Maias)


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LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA

Discurso indireto livre


Modalidade de reprodução do discurso que surge sobretudo em
textos literários e que é marcada pela sobreposição do discurso do
narrador e da personagem. Faz-se sem recurso à subordinação, mas
recorrendo à 3.ª pessoa verbal e mantendo palavras, expressões e
sintaxe de cariz oralizante. Através do discurso
Ex.: “Depois, reclinando-se para as costas indireto livre,
da cadeira e abrindo o leque, declarou, reproduz-se
a trasbordar de ironia, que, talvez por ter a expressivamente o
inteligência curta, nunca compreendera a discurso produzido
vantagem dos «métodos»... Era à inglesa, por D. Ana Silveira,
segundo diziam: talvez provassem bem evidenciando-se o
em Inglaterra; mas ou ela estava enganada, carácter retrógrado e
ou Santa Olávia era no reino de Portugal. provinciano desta
(Eça de Queirós, Os Maias) personagem.
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EM SÍNTESE
Eça de Queirós, Os Maias
 Contextualização histórico-literária
 A representação de espaços sociais e a crítica de costumes
 Espaços e seu valor simbólico e emotivo
 A descrição do real e o papel das sensações
 Representações do sentimento e da paixão: diversificação da intriga amorosa
(Pedro da Maia, Carlos da Maia e Ega)
 Características trágicas dos protagonistas (Afonso da Maia, Carlos da Maia e
Maria Eduarda)
 Linguagem, estilo e estrutura:
– o romance: pluralidade de ações; complexidade
do tempo, do espaço e dos protagonistas; extensão
– visão global da obra e estruturação: título
e subtítulo
– recursos expressivos: a comparação, a ironia,
a metáfora, a personificação, a sinestesia
e o uso expressivo do adjetivo e do advérbio
– reprodução do discurso no discurso
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