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FREI LUÍS DE SOUSA

GÉNESE

 Manuel de Sousa Coutinho nasceu em 1556, era fidalgo de linhagem e levou uma vida
acidentada em África e Ásia.
 Consta que lançou fogo ao palácio de Almada em 1599, por divergências pessoais com os
governadores do reino.
 Casou com D. Madalena de Vilhena, viúva de D. João de Portugal, que morreu em Alcácer
Quibir em 1578.
 D. Madalena teve três filhos do primeiro matrimónio e uma filha , Ana de Noronha, do segundo.
 D. Madalena e Manuel entram, em 1613, no convento, por livre vontade.

SEMELHANÇAS ENTRE A VIDA DE GARRETT E A PEÇA

GARRETT FREI LUÍS DE SOUSA

- casamento com Luísa Midosi, - casamento de D. Madalena com


sem descendência; D. João, sem descendência;

- separado de Luísa Midosi, passa a - casamento de D. Madalena com


viver com Adelaide Pastor Deville; Manuel de Sousa Coutinho;

- da sua ligação com Adelaide, nasce - do casamento com Manuel, nasce


a única filha: Maria Adelaide; a única filha: Maria de Noronha;

- o problema da ilegitimidade de - D. Madalena vive atormentada


Maria Adelaide atormenta Garrett; pelo mesmo problema;

- Adelaide Pastor morre - Maria de Noronha é tuberculosa;


tuberculosa;

- Luísa Midosi é uma ameaça - D. João regressa, depois de


contínua à tranquilidade adquirida ter sido uma ameaça permanente,
com Adelaide Pastor Deville. para ocupar o seu lugar.
FREI LUÍS DE SOUSA - CLASSIFICAÇÃO DA OBRA

QUANTO À ESTRUTURA FORMAL – DRAMA


 não é em verso, mas em prosa;
 não tem cinco atos, mas três;
 não respeita a lei das três unidades (unidade de ação, unidade de espaço e unidade de tempo);
 não tem assunto antigo;
 utilização de um registo de língua coloquial, fluente, próxima da realidade.

QUANTO AO CONTEÚDO – TRAGÉDIA


 tem número reduzido de personagens;
 as personagens inserem-se num estrato social elevado;
 carácter justo e íntegro das personagens sobre as quais recai a desgraça;
 Madalena e Manuel desafiam as prepotências divinas e humanas;
 a fatalidade cai gradualmente;
 os protagonistas não podem lutar contra a fatalidade;
 o reconhecimento: a identificação do Romeiro;
 Telmo e Frei Jorge parecem o coro grego, fazendo comentários aos acontecimentos ao longo da
acção.

OUTROS ELEMENTOS DA TRAGÉDIA CLÁSSICA

Ananké – (destino) – é o destino que propicia a ausência de D. João e que origina a mudança da família
de Manuel de Sousa Coutinho para o palácio de D. João, pelo facto de os governadores espanhóis terem
escolhido aquela casa para se instalarem;
– é o destino que mantém D. João desaparecido durante vinte e um anos, findos os quais regressa
ao lar.

Hybris – (desafio) – Madalena desafia o destino ao amar Manuel de Sousa quando ainda estava casada
com D. João;
– Manuel desafia Deus quando desobedece aos governadores e incendeia o seu palácio;
– Maria revolta-se contra a justiça divina e incita os seus pais a mentir, para a protegerem da
condição da ilegitimidade.

Agón – (conflito) – Principalmente Madalena e Telmo vivem um conflito interior

Pathos – (sofrimento) – o sofrimento atinge todas as personagens: pelas suas incertezas (Madalena);
pelo sentimento de culpa (Madalena e Manuel de Sousa); pela divisão interior (Telmo); pela doença e
pela vergonha da sua ilegitimidade (Maria); pelo esquecimento a que foi votado (D. João); pela
dissolução da família.
Peripéteia – (peripécia; alteração) – incêndio do palácio de Manuel de Sousa Coutinho, da
responsabilidade do próprio e que vai originar a ida da família para o palácio de D. João;
– o aparecimento de D. João muda subitamente a situação transformando em ilegítimos o casamento de
Madalena e Manuel e a filha deles, levando à “morte” do casal para o mundo (ambos se refugiam num
convento).
Anagnórisis – (reconhecimento) – o reconhecimento do Romeiro como D. João de Portugal tem lugar
em diferentes momentos pelas diferentes personagens.

Clímax – a tensão emocional aumenta progressivamente dentro de cada uma das cenas; na globalidade
atinge-se o ponto máximo no final do Ato II.

Katastrophé – (catástrofe) – a morte de uma vítima inocente, Maria;


– Manuel e Madalena morrem para o mundo ao professarem;
– Telmo vê-se esmagado pelo desgosto;
– D. João, após vinte e um anos de ausência, encontra a sua esposa casada com outro homem, na
sua própria casa e tem consciência de que já não tem lugar no mundo daqueles que conheceu e amou.

Cathársis – (purificação) – a purificação realiza-se através do castigo:


– o casal refugia-se num convento, renunciando às paixões mundanas;
– Maria sofre a vergonha da sua ilegitimidade, morrendo de “vergonha” e ascende, pela sua
inocência, ao espaço celeste;
– o sentimento de terror e piedade provocado nos espectadores leva-os à aprendizagem de uma
lição, à purificação espiritual.

FREI LUÍS DE SOUSA - O ROMANTISMO

 obra como expressão literária de um determinado estado social;


 exaltação dos valores patrióticos e religiosos;
 tratamento literário de uma época da História de Portugal (historicismo);
 assunto é nacional e patriótico (Domínio Filipino e consequente perda da independência),
valorizando-se a questão da identidade nacional, mas também a tradição cultural portuguesa (os
valores de Manuel de Sousa Coutinho, o sebastianismo, a referência a Bernardim Ribeiro e a
Camões);
 apologia da liberdade poética em detrimento do rigor histórico;
 a projecção da experiência pessoal do autor que tinha uma filha ilegítima, filha de Adelaide
Pastor Deville, por quem se apaixonara, quando ainda estava casado com Luísa Midosi.
 missão social da literatura (vertente didática);

 crença no Sebastianismo;

 crença no aparecimento dos mortos;

 crença em agouros, em dias aziagos, em superstições;


 as visões de Maria, os seus sonhos, o seu idealismo patriótico;

 o “titanismo” de Manuel de Sousa incendiando a sua casa só para que os governadores a não
utilizassem;
 D. Madalena e Maria são verdadeiras heroínas românticas pelo seu comportamento emocional;
 o realismo psicológico que caracteriza os sentimento de Telmo, dividido entre o amor por D.
João e por D. Maria de Noronha;
 a atitude que Maria toma, no final da peça, ao insurgir-se contra a lei do matrimónio uno e
indissolúvel, que força os pais à separação e lhos rouba;
 a religião consoladora aparece para suavizar o sofrimento;
 a morte de Maria em palco;

 personagens são verdadeiras heroínas românticas, em confronto permanente com a sociedade,


sendo a sua felicidade individual contrariada pelas normas coletivas (código moral estabelecido,
regime político totalitário…):
- Ex: D. Madalena: pelo comportamento emotivo, pela conceção fatal do amor, pelo recurso à
religião consoladora para minimizar o sofrimento;
- Ex: D. Manuel: pela afirmação da personalidade/individualismo face à sociedade
(rebeldiaincêndio)
- Ex: Maria, na cena 11 do ato III, questiona as leis da sociedade, da moral instituída, ao afirmar
o seu direito, declarando-se, então, vítima de um sistema de valores esclerosado ; é a mulher-
anjo dos românticos.
- Ex: Telmo, pelo apego a um mito nacional e pelo seu patriotismo.

 amor impossível mas fatal, que se impõe ao indivíduo;


 religião/o cristianismo como religião dulcificadora/apaziguadora;
 desenlace também apresenta uma solução romântica: a morte física e social/simbólica. Note-se
que a morte de uma personagem em cena era admissível no romantismo mas não no classicismo.
 linguagem e estilo apresentam características românticas:
- a linguagem é culta mas há, por vezes, um tom declamatório, configurado nas inúmeras
exclamações, interrogações e reticências, bem ao jeito do gosto romântico.
- adequada às circunstâncias e às personagens:
- inquietação e angústia em D. Madalena;
- respeitosa, digna, mas também familiar em Telmo;
- elegante, nobre, assumindo, frequentemente, um tom didático-moralizador em Manuel
de Sousa;
- confidencial e de tom religioso em Frei Jorge;
- austera e dramática no Romeiro.
Para os românticos, a linguagem deveria corresponder à realidade e, por isso, Garrett recorreu à prosa.

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