Você está na página 1de 39

Frei Luís de Sousa de Almeida Garret

AS PERSONAGENS

 A caracterização das personagens principais da obra relaciona-se com o contexto epocal em


que a obra foi escrita e com a tipologia da mesma. Assim, D. Madalena, Manuel de Sousa
Coutinho, Maria e Telmo apresentam características que poderão ser consideradas românticas,
enquanto Frei Jorge se aproxima mais do modelo clássico, por representar a predominância do
raciocínio sobre os sentimentos.
 
 D. Madalena de Vilhena
            Casada em segundas núpcias com D. Manuel de Sousa Coutinho, por quem está apaixonada. O
seu primeiro marido - D. João de Portugal - desapareceu na Batalha de Alcácer Quibir(1578).
            Infeliz e angustiada pela incerteza da morte do D. João e pela ideia cristã que considera o
casamento como indissolúvel. Atormentada pelo remorso de ter começado a amar D. Manuel ainda casada
(cena 10, ato II).
            É uma personagem romântica, pela sua sensibilidade (sonhadora, tendência para o devaneio) e
pela submissão total ao amor que sente por D. Manuel.
 Maria
            Filha de D. Madalena e de D. Manuel. Precoce e dotada de uma sensibilidade invulgar -
pressente a desgraça. Tem 13 anos. Doente, culta e visionária (cena 4, ato I), curiosa, nacionalista, idealista
- caracterização romântica -  e sebastianista.
 D. Manuel
            Marido de D. Madalena e pai de Maria. Fidalgo, bom português e cavaleiro da Ordem de Malta.
            Personagem racional e segura de si, que ao ver o seu retrato devorado pelas chamas que ele
próprio ateou começa a dar maior importância ao Destino (ato I, cena ). Apresenta um percurso de destruição.
            Simboliza a luta pela liberdade e pela não subjugação à tirania e um certo nacionalismo.
            Tem uma caracterização romântica, na medida em que é marcado por um caráter patriótico e
intempestivo, que o leva a tomar decisões violentas e inabaláveis,

Telmo Pais
            Aio, não pertence à nobreza. É confidente de D. Madalena e de Maria, fiel dedicado, com
tendência a tecer juízos de valor. É a única personagem que não acredita na morte de D. João de Portugal,
vivendo dominado pelo sebastianismo. Estabelece uma ligação com o passado, uma vez que testemunha
duas fases da vida de D. Madalena. Tem uma fidelidade absoluta para com o seu primeiro senhor, mas o
amor extremoso que dedica a Maria causar-lhe-á um momento de hesitação.
            Tem a função de coro, uma vez que anuncia o futuro, tece comentários sobre a ação e com
apartes esclarece o público.
 D. João de Portugal
            Nobre, da família dos Vimioso, companheiro de D. Sebastião. Austero e misterioso. Representa,
enquanto Romeiro, o destino implacável e o Portugal antigo, que já não tem lugar no tempo presente - no
fundo termina com a crença sebastianista. É uma personagem ausente, que se vai presentificando até se
concretizar no Romeiro.
 Frei Jorge Coutinho
Frei Jorge, irmão de Manuel de Sousa Coutinho, frade domínico. Primando pela serenidade,
representa o consolo cristão, a fé como aceitação de todas as coisas, porque crê que as
situações com que os homens se deparam escapam à sua compreensão, mas espelham a
vontade de Deus. Pelo seu papel de confidente, que o leva a manifestar-se sobre os
acontecimentos, desempenha, como Telmo Pais, um papel semelhante ao do coro das tragédias
clássicas antigas.

Batalha de Alcácer Quibir (4 de agosto de 1578); desaparecimento de D. João de Portugal e


de D. Sebastião
         Manuel de Sousa Coutinho incendeia a sua casa, motivando a mudança da família para
o palácio de D. João
         regresso de D. João na figura do Romeiro

SERMÃO DE SANTO ANTÓNIO AOS PEIXES

Sermão de Santo António aos Peixes


Porquê o nome deste sermão dado por Padre António Vieira?
 Homenagem ao Sto. António (pregado no dia de Santo António)
 Segue o exemplo do sermão de Santo António (aos peixes)
 Tal como Sto. António tenta converter os hereges, também Padre António Vieira tenta fazer isso com
os colonos portugueses no Brasil.
 O sermão de Santo António aos peixes foi pregado em S. Luis do Maranhão no dia de Santo
António.

 - Todo o sermão é uma alegoria, porque os peixes são a personificação dos homens.

 - Vieira dirige-se aos moradores do Maranhão, o sal são os pregadores e a terra os ouvintes.

 As duas propriedades do sal são preservar o são e impedir que se corrompa.

 - O sermão vai louvar o bem que os peixes fazem (as virtudes) e repreender o mal (os vícios).
Assim, será dividido em duas partes: a primeira, os louvores das virtudes; a segunda, as
repreensões dos vícios.

Objetivos:
 Pretende agitar as consciências (abrir os olhos), conduzir à reflexão.
 Pretende evitar o mal e preservar o bem (sal que tenta salgar)

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 2


1. INTRODUÇÃO – CAPÍTULO I
- Contêm a TESE inicial, o ponto de vista ao qual o autor pretende fazer aderir o leitor.

1.1. EXÓRDIO – o orador apresenta o plano (como se vai organizar o sermão), que vai defender
baseado num CONCEITO PREDICÁVEL, extraído da Sagrada Escritura. Tenta captar a atenção do
auditório.

CONCEITO PREDICÁVEL – “Vos estis sal terrae” – “Vós sois o sal da terra

VÓS SOIS O SAL DA TERRA

Pregadores = Doutrina OUVINTES

OFÍCIO DE SAL Funções: AUDITÓRIO

CONSERVAR PURIFICAR
Aqueles que já Converter os
estão convertidos corruptos, hereges

PREGADORES “SAL” OUVINTES “TERRA”

“SAL NÃO SALGA” “TERRA NÃO SE DEIXA SALGAR”


Falsa doutrina “ Não pregam a verdadeira Recusa da verdadeira doutrina “(…) ouvintes,
doutrina” sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a
não querem receber”

Palavras = comportamento: ”Dizem uma Imitação de comportamentos incorretos


coisa e fazem outra” “querem antes imitar o que eles fazem, que
fazer o que dizem”

Vaidade dos pregadores (“Se pregam a si e Egocentrismo, satisfação das vontades (“em
não a Cristo”) vez de servir a Cristo, servem a seus apetites”)

1.2. INVOCAÇÃO – orador invoca auxílio divino para pedir bênçãos/auxílio para levar a bom termo a
sua missão de orador e fazer uma boa exposição das ideias
Invocação à Virgem Maria – “Maria, quer dizer, Domina Maria: “Senhora do Mar”; e posto que o assunto
seja tão desusado, espero que não me falte com a costumada graça. Ave Maria”

1.3. Recursos
o QUESTÕES RETÓRICAS:
 Efeito rítmico
 Retardamento da solução para aguçar a curiosidade
 Induz à reflexão
 Captar a atenção do auditório - “CAPTATIO BENEVOLENTIA”

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 3


o ARGUMENTO DE AUTORIDADE – solução de Cristo para os pregadores que não pregam a verdadeira
doutrina
o ALEGORIA – figura de estilo que consiste na apresentação de metáforas ou comparações que servem
para concretizar um pensamento ou uma realidade abstrata. (sal – doutrina, terra – ouvintes/auditório
o ANÁFORA, METÁFORA, REPETIÇÃO…

2. DESENVOLVIMENTO (Exposição – CAPÍTULO II, IV; Confirmação – CAPÍTULO III, V)

"(...) para que procedamos com alguma clareza, dividirei, peixes, o vosso sermão em dois pontos: no
primeiro louvar-vos-ei as vossas atitudes, no segundo repreender-vos-ei os vossos vícios.

2.1. CAPÍTULO II – LOUVOR DAS VIRTUDES EM GERAL (1.º momento da Exposição)

o O sermão → ALEGORIA: os peixes são metáfora dos homens, as suas virtudes são por contraste
metáfora dos defeitos dos homens e os seus vícios são diretamente metáfora dos vícios dos homens.
o Os peixes ouvem e não falam. Os homens falam muito e ouvem pouco, têm pouco respeito pela palavra
de Deus.
o Divide o sermão em duas partes: o sal conserva, o pregador louva as virtudes dos peixes; o sal preserva
da corrupção, o pregador repreende os vícios dos peixes.
o Devem manter-se longe dos Homens pois caso contrário sofrerão consequências. Mostra-se que aqueles
que convivem com os homens foram castigados, estão domados e domesticados, sem liberdade.

Virtudes que dependem sobretudo de Deus Virtudes naturais dos peixes


• foram as primeiras criaturas criadas por Deus • não se domam
• foram as primeiras criaturas nomeadas pelo
homem • não se domesticam
• são os mais numerosos e os maiores
• obediência, quietação, atenção, respeito e • escaparam todos do dilúvio porque não tinham
devoção com que ouviram a pregação de Santo pecado
António
2.1.1.Recursos
o IRONIA - “Nunca pior auditório. Ao menos têm os peixes duas boas qualidades de ouvintes: ouvem e
não falam”
o A ANTÍTESE Céu/lnferno, bem/mal, está ligada quer à divisão do Sermão em duas partes, quer às duas
finalidades globais do mesmo.
o A APÓSTROFE refere diretamente o destinatário da mensagem e do pregador, aproximando o emissor e
recetor.
o A GRADAÇÃO CRESCENTE na enumeração dos animais que vivem próximos dos homens mas presos.
o A COMPARAÇÃO, "como peixes na água", tem o caráter de um provérbio que significa viver livremente.
o Utiliza articuladores do discurso (assim, pois…)
o INTERROGAÇÕES RETÓRICAS, ANÁFORAS

2.2. CAPÍTULO III – LOUVORES EM PARTICULAR (1.º momento da Confirmação)

Peixe de Tobias Rémora Torpedo Quatro-olhos

VIRTUDES

- O fel sara a - Pequena no corpo. - Energia. - Dois olhos olham

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 4


cegueira. p/cima

- O coração lança - Grande na força e - Dois olhos olham


fora os demónios. no poder. p/baixo.

EFEITOS

- Curou a cegueira do - Pega-se ao leme de - Faz tremer o braço - Defende-se dos


pai de Tobias. uma nau. do pescador. outros peixes.

- Lançou fora os - Impede que ela - Impede que o - Defende-se das


demónios de sua avance. pesquem. aves.
casa.

COMPARAÇÃO

Sto. António Sto. António Sto. António Pregador

- Abria a boca contra - A língua de Sto. - 22 pescadores - O peixe ensinou o


os hereges. António domou as tremeram ao ouvir as pregador a olhar para
paixões humanas. palavras de Sto. cima (Céu) e para
- Curava a cegueira. António e baixo (Inferno).
- Lançava fora os converteram-se.
demónios.

2.2.1.Recursos:

o Anáforas: Ah homens… Ah moradores… Quantos, correndo… Quantos, embarcados… Quantos,


navegando… Quantos na nau… A interjeição visa atingir o coração dos ouvintes; a repetição do pronome
indefinido realiza uma enumeração.
o Gradações: Nau Soberba, Nau Vingança, Nau Cobiça, Nau Sensualidade; "passa a virtude do peixezinho,
da boca ao anzol, do anzol à linha, da linha à cana e da cana ao braço do pescador." O sentido é sempre
uma intensificação para mais ou para menos.
o Antíteses: mar/terra, para cima/para baixo, Céu/Inferno. Palavras de sentido oposto indicam as duas
direções do sermão: peixes - homens, bem - mal.
o Comparações: "… parecia um retrato maritimo de Santo António"; o peixe de Tobias, com um burel e
uma corda, era uma espécie de Santo António do mar: as suas virtudes eram como as de Santo António.
"… unidos como os dois vidros de um relógio de areia,": o peixe Quatro-Olhos possuía grande visão e
precisão.
o Metáforas: "… águias, que são os linces do ar; os linces, que são as águias da terra": sentido de rapidez
e de visão excecional.
o Ironia: "Mas ah sim, que me não lembrava! Eu não prego a vós, prego aos peixes!"

2.3. CAPÍTULO IV – REPREENSÕES EM GERAL - (2.º momento da Exposição)


"Antes, porém, que vos vades, assim como ouvistes os vossos louvores, ouvi também agora as vossas
repreensões."

1ª Repreensão: Os peixes “comem-se” uns aos outros – Os homens “comem-se” uns aos outros. – “VÓS
COMEIS UNS AOS OUTROS”

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 5


o Os peixes/homens comem-se uns aos outros.
o Os peixes/homens maiores comem os mais pequenos
o Comem não só o povo mas a sua plebe
o Não só os comem, mas engolem-nos e devoram-nos

2ª Repreensão: A ignorância dos peixes/A ignorância e cegueira dos homens – “NOTÁVEL IGNORÂNCIA E
CEGUEIRA”

2.4. CAPÍTULO V – REPREENSÕES EM PARTICULAR - (2.º momento da Confirmação)

Peixes Defeitos Argumentos Exemplos de homens

Os Roncadores soberba pequenos mas muita língua; facilmente Pedro


pescados
orgulho Golias
os peixes grandes têm pouca língua
Caifás
muita arrogância, pouca firmeza
Pilatos

Os Pegadores parasitismo vivem na dependência dos grandes, Toda a família da corte


morrem com eles de Herodes

os grandes morrem porque comeram, Adão e Eva


os pequenos morrem sem terem
comido

Os Voadores presunção foram criados peixes e não aves Simão mago

ambição são pescados como peixes e caçados


como aves

morrem queimados

O Polvo traição ataca sempre de emboscada porque se Judas


disfarça

2.4.1.Comparação entre os peixes e Santo António

Peixes Santo António

Os Roncadores: soberbos e orgulhosos, facilmente tendo tanto saber e tanto poder, não se orgulhou
pescados disso, antes se calou. Não foi abatido, mas a sua voz
ficou para sempre

Os Pegadores: parasitas, aduladores, pescados com pegou-se com Cristo a Deus e tornou-se imortal
os grandes

Os Voadores: ambiciosos e presunçosos tnha duas asas: a sabedoria natural e a sabedoria

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 6


sobrenatural. Não as usou por ambição; foi
considerado leigo e sem ciência, mas tornou-se
sábio para sempre

O Polvo: traidor Foi o maior exemplo da candura, da sinceridade e


verdade, onde nunca houve mentira

3. CONCLUSÃO (Peroração) – CAPÍTULO VI

"Com esta última advertência vos despido, ou me despido de vós, meus peixes. E para que vades
consolados do sermão, que não sei quando ouvireis outro, quero-vos aliviar de uma desconsolação mui
antiga, com que todos ficastes desde o tempo em que se publicou o Levítico."

Peroração: conclusão com a utilização de um desfecho forte, capaz de impressionar o auditório e levá-lo a
pôr em prática os ensinamentos do pregador.

Animais/Peixes Peixes Homens


foram escolhidos para os sacrifícios não foram escolhidos para os sacrifícios

estes podiam ir vivos para os só poderiam ir mortos. Deus não quer os homens também
sacrifícios que Lhe ofereçam coisa morta chegam mortos ao altar
porque vão em pecado
ofereçam a Deus o ser sacrificado ofereçam a Deus não ser sacrificados mortal. Assim, Deus não
os quer.
ofereçam a Deus o sangue e a vida ofereçam a Deus o respeito e a
obediência

Orador Peixes

 tem inveja dos peixes • têm mais vantagens do que o pregador


 ofende a Deus com palavras • a sua bruteza é melhor do que a razão do orador
 tem memória • não ofendem a Deus com a memória
 ofende a Deus com o pensamento • o seu instinto é melhor que o livre arbítrio do orador;
 ofende a Deus com a vontade não falam; não ofendem a Deus com o pensamento;
 não atinge o fim para que Deus o criou não ofendem a Deus com a vontade; atingem sempre o
 ofende a Deus fim para que Deus os criou
• não ofendem a Deus

 
4. SÍNTESE RECURSOS ESTILÍSTICO

o Apostrofes:
Estes e outros louvores, estas e outras excelências de vossa geração e grandeza vos pudera dizer, ó
peixes..."
"Ah moradores do Maranhão..."
"Esta é a língua, peixes, do vosso grande pregador (...)"
"Peixes, contente-se cada um com o seu elemento."
"Oh alma de António, que só vós tivestes asas e voastes sem perigo (...)"

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 7


"Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade (...)"

o Antíteses:
Tanto pescar e tão pouco tremer!"
"No mar, pescam as canas, na terra pescam as varas (...)"
"(...) deu-lhes dois olhos, que direitamente olhassem para cima (...) e outros dois que direitamente
olhassem para baixo (...)"
"A natureza deu-te a água, tu não quiseste senão o ar (...)"
"(...) traçou a traição às escuras, mas executou-a muito às claras."
"(...) António (...) o mais puro exemplar da candura, da sinceridade e da verdade, onde nunca houve dolo,
fingimento ou engano."
"Oh que boa doutrina era esta para a terra, se eu não pregara para o mar!"

o Comparações:
Certo que se a este peixe o vestiram de burel e o ataram com uma corda, parecia um retrato marítimo de
Santo António."
"O que é a baleia entre os peixes, era o gigante Golias entre os homens."
"(...) com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge;
com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela;
com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura (...)"
"As cores, que no camaleão são gala, no polvo são malícia (...)"
"(...) e o salteador, que está de emboscada (...) lança-lhe os braços de repente, e fá-lo prisioneiro. Fizera
mais Judas?"
"Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade, pois Judas em tua comparação já é menos traidor

o Paralelismos e Anáforas:
Ou é porque o sal não salga, e os pregadores...;
ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes...
Ou é porque o sal não salga, e os pregadores...;
ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes...
Ou é porque o sal não salga, e os pregadores...;
ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes..."
"Deixa as praças, vai-se às praias;
deixa a terra, vai-se ao mar..."
"Quantos, correndo fortuna na Nau Soberba (...), se a língua de António, como rémora (...)
Quantos, embarcados na Nau Vingança (...), se a rémora da língua de António (...)
Quantos, navegando na Nau Cobiça (...), se a língua de António (...)
Quantos, na Nau Sensualidade (...), se a rémora da língua de António (...)"
"(...) com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge;
com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela;
com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura (...)"
"Se está nos limos, faz-se verde;
se está na areia, faz-se branco;
se está no lodo, faz-se pardo (...)"

o Enumeração:
No mar, pescam as canas, na terra pescam as varas (e tanta sorte de varas); pescam as ginetas, pescam as
bengalas, pescam os bastões e até os cetros pescam (...)"
"(...) que também nelas há falsidades, enganos, fingimentos, embustes, ciladas e muito maiores e mais
perniciosas traições."
"Eu falo, mas vós não ofendeis a Deus com palavras; eu lembro-me, mas não ofendeis a Deus com a
memória; eu discorro, mas vós não ofendeis a Deus com o entendimento; eu quero, mas vós não ofendeis
a Deus com a vontade."

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 8


o Metáforas
"Esta é a língua, peixes, do vosso grande pregador, que também foi rémora vossa, enquanto o ouvistes; e
porque agora está muda (...) se veem e choram na terra tantos naufrágios."
"(...) pois às águias, que são os linces do ar (...) e aos linces que são as águias da terra (...)"
"(...) onde permite Deus que estejam vivendo em cegueira tantos milhares de gentes há tantos séculos?!"
" (...) vestir ou pintar as mesmas cores (...)"
"(...) e o polvo dos próprios braços faz as cordas

o Paradoxos:
a terra e o mar tudo era mar."
"E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa (...) o dito polvo é o maior traidor
do mar."
"hipocrisia tão santa"
o Trocadilhos
Os homens tiveram entranhas para deitar Jonas ao mar, e o peixe recolheu nas entranhas a Jonas, para o
levar vivo à terra."
"E porque nem aqui o deixavam os que o tinham deixado, primeiro deixou Lisboa, depois Coimbra, e
finalmente Portugal."
"(...) o peixe abriu a boca contra quem se lavava, e Santo António abria a sua contra os que se não queriam
lavar."

o Interrogações retóricas
qual será, ou qual pode ser, a causa desta corrupção?"
"Não é tudo isto verdade?"
"(...) que se há de fazer a este sal, e que se há de fazer a esta terra?"
"Que faria neste caso o ânimo generoso do grande António? (...) Que faria logo? Retirar-se-ia? Calar-se-ia?
Dissimularia? Daria tempo ao tempo?"
"(...) onde permite Deus que estejam vivendo em cegueira tantos milhares de gentes há tantos séculos?!"

o Ironia
Mas ah sim, que me não lembrava! Eu não prego a vós, prego aos peixes."
"E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa (...) o dito polvo é o maior traidor
do mar."

Cesário Verde
Poesia:

- parnasianismo: “arte pela arte” à Tendência artística que procura a confeção perfeita através da poesia
descritiva. Preocupação com a perfeição, o rigor formal, a regularidade métrica, estrófica e rimática.

- poeta-pintor: capta as impressões da realidade que o cerca com grande objetividade; transmite as
perceções sensoriais.

- recorre raramente à subjetividade -> imaginação transfiguradora

- poesia do quotidiano

- Interesse pelo conflito social do campo e da cidade.

Binómios e Dicotomias em Cesário Verde:

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 9


Cidade / Campo

Mulher fatal / Mulher angélica

Morte/ Vida

- Cidade: - melancolia; monotonia; “desejo absurdo de viver”; vícios; fantasias mórbidas; miséria;
sofrimento; poluição; cheiro nauseabundo, seres humanos dúbios e exploradores; ricos pretensiosos que
desprezam os humildes; incomoda o poeta e os trabalhadores que nela procuram melhores condições de
vida.

Mulher citadina: fatal, frígida, calculista, madura, destrutiva, dominadora, sem sentimentos, erótica,
artificial, predadora, vampírica, formosa, fria, altiva.

Subjetividade do tempo e a morte: cidade = certeza para a morte

- Campo: - vida rústica de canseiras, vitalidade, saúde, liberdade, rejuvenescimento, vida, fertilidade,
identificação do poeta com o povo campesino, local de trabalho onde acontece alegrias e tristezas (oposto
ao local paradisiaco defendido por poetas anteriores).

Mulher campesina: proporciona um amor puro e desconfinado, frágil, terna, ingénua, despretensiosa.

Subjetividade do tempo e a morte: Salvação para a vida.

Os Maias
Carlos da Maia 

 É o protagonista;
 Filho de Pedro e Maria Monforte;
 Após o suicídio do pai vai viver com o avô para Santa Olávia, sendo educado à inglesa pelo preceptor, o inglês
Brown;
 Sairá de Santa Olávia para tirar Medicina em Coimbra;
 Admirado pelas mulheres;
 Depois do curso acabado, viaja pela Europa;
 Quando volta a Lisboa traz planos grandiosos de pesquisa e curas médicas, que abandona ao cair na inactividade,
porque, em Portugal, um aristocrata não é suposto ser médico;
 Apesar do entusiasmo e das boas intenções fica sem qualquer ocupação e acaba por ser absorvido por uma vida
social e amorosa que levará ao fracasso das suas capacidades e à perda das suas motivações.
 Transforma-se numa vítima da hereditariedade (visível na sua beleza e no seu gosto exagerado pelo luxo, herdados
da mãe e pela tendência para o sentimentalismo, herdada do pai) e do meio em que se insere, mesmo apesar da sua
educação à inglesa e da sua cultura, que o tornam superior ao contexto sociocultural português.
 A sua verdadeira paixão nascerá em relação a Maria Eduarda, que compara a uma deusa e jamais esquecerá. Por ela
dispõe-se a renunciar a preconceitos e a colocar o amor no primeiro plano.
 Ao saber da verdadeira identidade de Maria Eduarda consumará o incesto voluntariamente por não ser capaz de
resistir à intensa atracção que Maria Eduarda exerce sobre ele.
 Acaba por assumir que falhou na vida, tal como Ega, pois a ociosidade dos portugueses acabaria por contagiá-lo,
levando-o a viver para a satisfação do prazer dos sentidos e a renunciar ao trabalho e às ideias pragmáticas que o
dominavam quando chegou a Lisboa, vindo do estrangeiro.

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 10


Mª Eduarda
 Apresentada como uma deusa;
 Dizendo-se viúva de Mac Green, sabia apenas que a sua mãe abandonara Lisboa, levando-a consigo para Viena.
 Tivera uma filha de Mac Gren, Rosa;
 A sua dignidade, a sensatez, o equilíbrio e a santidade são características fundamentais da sua personagem, às quais
se juntam uma forte consciência moral e social;
 Salienta-se ainda a sua faceta humanitária e a compaixão pelos socialmente desfavorecidos;
 A súbita revelação da verdadeira identidade de Maria Eduarda, vai provocar em Carlos estupefacção e compaixão,
posteriormente o incesto consciente, e depois deste, a repugnância;
 A separação é a única solução para esta situação caótica a que se junta a morte de Afonso;
 A sua apresentação cumpre os modelos realista e naturalista, pelo que coincidem no seu carácter e no espaço físico
que ela ocupa duas vertentes distintas da sua educação: a dimensão culta e moral, construída aquando da sua
estadia e educação num convento, e a sua faceta demasiado vulgar, absorvida durante o convívio com sua mãe;
 Ela é o último elemento feminino da família Maia e simboliza, tal como as outras mulheres da família, a desgraça e
a fatalidade;
 É de uma enorme dignidade, principalmente quando não quer gastar o dinheiro de Castro Gomes por estar ligada a
Carlos;
 No final da obra, parte para Paris onde mais tarde casa com Mr. de Trelain, casamento considerado por Carlos o de
dois seres desiludidos;
 É uma “personagem-tipo”.

Afonso da Maia
 Psicológico: Duro, clássico, ultrapassado, paciente, caridoso (ajuda os mais pobres e mais fracos), nobre, espírito
são, rígido, austero, risonho e individualista. 
 Símbolo do liberalismo (na juventude), associado a 1 passado heróico, incapacidade de regeneração do país,
modelo de autodomínio.
 Morre de apoplexia, no jardim do Ramalhete, na sequência do incesto dos netos, Carlos e Maria Eduarda. É o mais
simpático e o mais valorizado para Eça. 

João da Ega 
 Autêntica projecção de Eça de Queirós pela ideologia literária, usando também um monólogo e era considerado um
ateu e demagogo.
 Excêntrico, cínico, o denunciador de vícios, o demolidor energético da política e da sociedade.
 É um romântico e um sentimental.
 Tornou-se amigo inseparável e confidente de Carlos.
 Instalou-se no Ramalhete, e a sua grande paixão será Raquel Cohen.
 Como Carlos, tem grandes projectos (a revista, o livro, a peça) que nunca chega a realizar. É também um falhado,
influenciado pela sociedade lisboeta decadente e corrupta.
 sobretudo depois do encontro com o Sr. Guimarães, no capítulo XVI.

Pedro da Maia
 Protótipo: do herói romântico e é personagem-tipo.
  Psicológica: nervoso, crises de melancolia, sentimentos exagerados, instável emocionalmente (como a mãe). 
 Educação: tradicional – portuguesa – romântica – criado pelas criadas e mãe. Sente um amor quase doentio pela
mãe, pelo que quando esta morre entra em loucura
 Deixou-se encadear por um amor à primeira vista que o conduziu a um casamento, de estilo romântico, com Maria
Monforte. Este enlace precipitado levá-lo-ia mais tarde ao suicídio – após a fuga da mulher – por carecer de
sólidos princípios morais e de força de vontade que o deveriam levar à aceitação da realidade e à superação
daquele contratempo.

Mª Monforte: 
 Psicológica: personalidade fútil mas fria, caprichosa, cruel e interesseira. 
 Protótipo: da cortesã: leviana e amora, sem preocupações culturais ou sociais.
 É filha do Monforte, e é conhecida em Lisboa por “a negreira”, porque seu pai enriqueceu transportando negros e
arrancando a riqueza da “pele do africano”.
 Contra a vontade de Afonso, Pedro da Maia apaixona-se e casa com ela. Nasceram Carlos e Maria Eduarda. Maria
Monforte virá a fugir com o italiano Tancredo, levando Maria Eduarda consigo e abandonando Carlos e

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 11


provocando o suicídio de Pedro. Entretanto, o italiano é morto num duelo e Maria levará uma vida muito má.
Entregará a Guimarães um cofre com documentos para a identificação da filha.

História de Pedro da Maia: 


    Típico menino da mamã, tornando-se um homem pequeno e nervoso, como a mãe. Nunca fora para a
universidade, porque a mãe não o deixara e tivera uma educação completamente romântica. Passava os dias na
farra, sem fazer nada e aos 19 anos, teve um bastardo.
    Com a  morte da mãe, Pedro ficou de rastos, infelicíssimo, mas depois, conhece Maria Monforte por quem se
apaixona. 
    Apaixonado, Pedro decide casar com Maria, ainda quem Afonso o tenha proibido. Sai de casa, casa com Maria, e
corta relações com o pai. Depois, Pedro e Maria viajam, por Itália, depois Paris e acabam por voltar para Lisboa,
quando descobrem que Maria estava grávida.
    Nasce a primeira filha do casal, Maria Eduarda, que Maria Monforte adora. Maria começa a ter hábitos estranhos,
como fumar com os homens á noite e conviver, hábitos estes que Pedro odiava e condenava, sentindo ciúmes.
Afonso refugia-se em Sta Olávia para evitar a família, convivendo alegremente com os amigos. Mais tarde, depois
de Maria Eduarda fazer um ano, Maria Monforte tem outro filho, desta vez um menino, a quem dá o nome de
Carlos Eduardo, devido a um romance que andava a ler.
    Um dia, quando Pedro regressa a casa, descobre que Maria fugiu com Tancredo, levando consigo a sua filha,
Maria Eduarda, e deixando para trás Carlos. De rastos, Pedro vai ter com o pai e conta-lhe tudo, e os dois acabam
por fazer as pazes. Afonso fica felicíssimo por conhece o neto, mas infeliz com o estado do filho. Sem aguentar,
Pedro acaba por se suicidar, deixando Carlos Eduardo a cargo do avô. 

Simbolismo:
 Toca é o nome dado à habitação de certos animais, apontando desde logo para o carácter animalesco do
relacionamento amoroso entre Carlos e Maria Eduarda, em que o prazer se sobrepõe à racionalidade e aos
valores morais.
 O Jantar no Hotel Central proporcionou a Carlos a primeira visão de Mª Eduarda e o contacto com a sociedade
de elite
 Mª Monforte e Mª Eduarda espalham a morte provocando o suicídio de Pedro, a morte física de Afonso e a
morte psicológica de Carlos.
 Afonso simboliza os valores morais e o liberalismo. Sendo assim, com a morte de Afonso da Maia, todos os
princípios morais, que ainda existiam em Portugal, acabam. A morte instala-se no país.

A feição trágica de os Maias: 


 A peripécia, súbita mutação dos sucessos, verifica-se quando Guimarães vê Maria Eduarda e revela, a
identidade desta, a Ega, e quando Maria Eduarda descobre o terrível segredo.

Fernando Pessoa – ortónimo

Fingimento artístico:
Teoria que define o ato artístico como algo superior, que considera o FINGIR como uma exigência da criação
artística e que resulta do uso da imaginação a que todo o artista deve recorrer.

Só o uso da razão por oposição ao sentimento, permite aceder ao fingimento.

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 12


A dor de pensar:
Estado que resulta do uso excessivo e permanente da inteligência, que se relaciona com o recurso contínuo à
razão. A intelectualização dos sentidos ou sentimentos provoca dor e infelicidade, por isso, o sujeito poético
refugia-se, por vezes, na infância e emite o desejo de ser instintivo e inconsciente.

Sonho e realidade:
No ortónimo, o poeta ilude a vida sonhando, mas os seus sonhos revelam-se inúteis, ainda que a sua vocação
seja pensar e sonhar.

Nostalgia da infância:
Perante a consciência de que o estado de inconsciência corresponde ao período da infância, o sujeito poético
evoca o tempo em que tudo parecia possíveç, inclusive poder brincar no jardim do rei e pensar que tudo era
seu. Por isso, deseja viver num estado de pura inocência, liberto do intelecto que o faz questionar-se
continuamente e lamentar não ter usufruído desse anterior estado de pureza, quase instintivo.

Fernando Pessoa ortónimo


O fingimento artístico

 Para Fernando Pessoa, um poema “é produto intelectual”, e por isso, não acontece “no momento
da emoção”, mas resulta da sua recordação, sendo considerado uma construção mental.
 Para exprimir a arte, o autor criativo precisa de intelectualizar o sentimento, o que pode levar a
confundir a elaboração estética com um ato de “fingimento”.

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 13


 O conceito de fingimento é o de transfigurar, pela imaginação e pela inteligência, aquilo que
sente naquilo que escreve. Fingir é inventar, elaborar mentalmente conceitos que exprimem as
emoções ou o que quer comunicar.

 A dialética da sinceridade/fingimento liga-se à da consciência/inconsciência e do sentir/pensar.

 O fingimento não impede a sinceridade, apenas implica o trabalho de representar, de exprimir


intelectualmente as emoções ou o que quer representar.

A dor do pensar

 Fernando Pessoa não consegue viver instintivamente a vida por ser consciente da sua própria
efemeridade.

 A dialética da sinceridade / fingimento liga-se à da consciência / inconsciência e do sentir


/pensar.

 A dor de pensar traduz insatisfação e dúvida sobre a utilidade do pensamento.

A nostalgia da infância

 Frequentemente, para Fernando Pessoa o passado é um sonho inútil, pois nada se concretizou,
antes se traduziu numa desilusão.

 O tempo, na poesia pessoana, é um fator de degradação, porque tudo é efémero. Isso leva-o a
desejar ser criança novamente.

 Pessoa sente a nostalgia da criança que passou ao lado das alegrias e da ternura. Chora, por isso,
uma felicidade passada, para lá da infância.

 Há uma nostalgia do bem perdido, do mundo fantástico da infância, único momento possível de
felicidade.

Alberto Caeiro
 Recusa o pensamento, sobretudo o pensamento metafísico, afirmando que “pensar é estar doente
dos olhos”.

 Caeiro, poeta de olhar, procura ver as coisas como elas são, sem lhes atribuir significados ou
sentimentos humanos. Considera que as coisas são como são.

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 14


 Constrói uma poesia das sensações, apreciando-as como boas por serem naturais. Para ele, o
pensamento apenas falsifica as coisas.

 Considera que mundo existe e, por isso, basta senti-lo, basta experimentá-lo através dos sentidos,
nomeadamente através do ver.

 Condena o excesso de sensações, pois a partir de um certo grau as sensações passam de alegres a
tristes.

 Em Caeiro, a poesia das sensações é, também, uma poesia da natureza.

 Optando pela vida no campo, acredita na Natureza, defendendo a necessidade de estar de acordo
com ela, de fazer parte dela.

 O poeta confessa não ter “ambições nem desejos”. Ser poeta é a sua “maneira de estar sozinho”.

 Recusa realidades metafísicas.

Ricardo Reis
 Na poesia de Ricardo Reis, há um sentimento da velocidade da vida, mas ao mesmo tempo uma
grande serenidade na aceitação da relatividade das coisas e da miséria da vida.

 Reconhecendo a fraqueza humana e a inevitabilidade da morte, Reis procura uma forma de viver
com um mínimo de sofrimento.

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 15


 Considera as sensações primordiais para a perceção real e objetiva da realidade imediata, que é o
seu principal interesse.

 A filosofia de Ricardo Reis é a de um epicurismo triste, pois defende o prazer do momento, o ideal
“carpe diem”*, como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos
(estoicismo).

 Ricardo Reis é considerado um estoico epicurista, na medida em que advoga o domínio das paixões
e a renúncia dos impulsos dos instintos, como regras de vida propiciadoras da felicidade.

 Cultiva um neoclassicismo neopagão (crê nos deuses e nas presenças quase divinas que habitam
todas as coisas), recorrendo à mitologia greco-latina.

 Sendo um epicurista, o poeta advoga a procura do prazer sabiamente gerido, com moderação e
afastado da dor. Para isso, é necessário encontrar a ataraxia (ausência de inquietude/preocupação), a
tranquilidade capaz de evitar qualquer perturbação. O ser humano deve ordenar a sua conduta de
forma a viver feliz, procurando o que lhe agrada.

 A apatia, ou seja a indiferença, constitui o ideal ético, pois, de acordo com o poeta, há necessidade de
saber viver com calma e tranquilidade, abstendo-se de esforços inúteis para obter uma glória ou
virtude, que nada acrescentam à vida.

 Próximo de Caeiro, há na sua poesia o sossego do campo, o fascínio pela natureza onde busca a
felicidade relativa.

 Afirma uma crença nos deuses e nas presenças quase - divinas que habitam todas as coisas. Afirma
que os homens se devem considerar com direito a vida própria.

Álvaro Campos
 Álvaro de Campos é o poeta, que, numa linguagem forte, canta o mundo contemporâneo, celebra o
triunfo da máquina, da força mecânica e da velocidade. Exalta a sociedade e a civilização modernas
com os seus valores e a sua “embriaguez”.

 Como sensacionista, é o poeta que melhor expressa as sensações da energia e do movimento, bem
como as sensações de “sentir tudo de todas as maneiras”. Para ele a única realidade é a sensação.

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 16


 Depois de exaltar a beleza da força e da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida,
a poesia de Campos revela um pessimismo agónico, a dissolução do “eu”, a angústia existencial e
uma nostalgia da infância irremediavelmente perdida.

 Álvaro de Campos evolui ao longo de três fases:

1. Decadentista- O poeta exprime o tédio, o cansaço e a necessidade de novas sensações. Expressa-se


como a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia, com preciosismo,
símbolos e imagens apresenta-se marcado pelo Romantismo e pelo Simbolismo. Ex: OPIÁRIO

2. Modernista/Sensacionista- Celebra o triunfo da máquina e da civilização moderna. Exalta o


progresso técnico e sente uma revolta provocada pela poluição física e moral da vida moderna.
INSPIRAÇÃO WHITMANIANA. EX: ODE TRIUNFAL E ODE MARÍTIMA.

3. Intimista/Pessimista: É aquela em que, perante a incapacidade das realizações, traz de volta o


desalento. Como temáticas destacam-se: a solidão interior, a incapacidade de amar, a descrença em
relação a tudo, a nostalgia da infância, a dor de ser lúcido, a estranheza e a perplexidade, a oposição
sonho/realidade – frustração, a dissolução do “eu”, a dor de pensar e o conflito entre a realidade e o
poeta. EXEMPLOS: O que há em mim é sobretudo cansaço, Esta velha angustIa, Apontamento, ou os de
Lisbon revisited.

Bernardo Soares:
Semi-heterónimo por ser apenas uma mutilação da personalidade de Pessoa, escreve em prosa as reflexões
íntimas do criador no Livro do Desassossego- uma espécie de diário, cheio de visões subjetivas do
quotidiano. Como tal, o livro corresponde ao lado confessional e autobiográfico de Pessoa, não tendo
ordem lógica, nem princípio, meio e fim. Nele encontra-se:

1. O imaginário urbano- nas referências paisagísticas e humanas da cidade de Lisboa,

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 17


2. O quotidiano,

3. A deambulação e o sonho: as duas principais ocupações de um observador ocidental,

4. A perceção e transfiguração poética do real.

Mensagem e Lusíadas
Lusíadas

 Data de Publicação: 1572

 Género narrativo: EPOPEIA pois trata-se de uma narrativa, estruturada em verso, que narra os
feitos grandiosos de um herói com interesse para toda a Humanidade

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 18


 Partes d´Os Lusíadas:

Proposição: poeta propõe-se a exaltar os feitos dos portugueses;

Invocação: poeta pede ajuda às ninfas;

Dedicatória: poeta dedica a sua obra a D. Sebastião;

Narração: poeta relata a descoberta do caminho marítimo para a Índia pelos navegadores
portugueses liderados por Vasco da Gama.

 Os Lusíadas e a Mensagem cantam, em perspetivas diferentes, a grandeza de Portugal e o sentimento


português.

 Estrutura externa

10 cantos; Oitavas; Versos decassilábicos; Esquema ritmático: ABABABCC

4 Planos: do poeta; da viagem; da mitologia; da história de Portugal

Lusíadas- Luís Vaz de Camões

Mensagem – Fernando Pessoa

Mensagem

Único livro publicado por Fernando Pessoa em vida- 1934

 Intencionalidade comunicativa:

1. Regenerar o orgulho dos portugueses;

2. Contar o passado histórico de Portugal de uma forma simbólica e emblemática, transformando-o


num mito, a partir do qual seja possível reinventar o futuro;

3. Anunciar um novo Império civilizacional, uma supernação mítica.

 44 poemas divididos em 3 partes- estrutura tripartida

A obra trata do glorioso passado de Portugal. Glorifica acima de tudo, o estilo camoniano e o valor
simbólico dos heróis do passado, como os Descobrimentos. É apontando as virtudes dos portugueses, que
Fernando Pessoa acredita que o país devia-se regenerar, ou seja, tornar-se grande como foi no passado,
através da valorização cultural da nação.

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 19


1ª parte – Brasão (nascimento): Nascimento do Império – Evocação dos heróis históricos e míticos
fundadores de Portugal;

O Brasão é constituído por 5 partes:

 Os castelos- símbolo de proteção e conquistas dos heróis;

 As quinas- dimensão espiritual: 5 quinas, 5 chagas de Cristo,

 A coroa- realeza,

 O timbre- um grifo (abutre que remete para o céu e um leão que remete para a terra), símbolo de
poder legítimo e união entre 2 naturezas: humana e divina;

 Os campos.

Símbolos do Brasão:

 Ulisses- Embora não tenha existido, inspirou muita gente;

 D.Dinis- símbolo da importância da poesia na construção do mundo. Plantou o pinhal de Leiria de


onde foi retirada madeira para Caravelas.

 D.Sebastião- símbolo de loucura audaciosa e aventureira- morreu por uma ideia de grandeza.

2ª parte – Mar Português (vida): Vida do Império – simboliza a essência da vocação de Portugal e o
heroísmo dos portugueses

Símbolos do Mar Português:

 O Infante- símbolo do Homem universal que realiza o sonho por vontade divina- intermediário
entre homens e Deus,

 Mar Português- símbolo de sofrimento e sacrifício do povo,

 O Mostrengo- alegoria do medo que tenta impedir os portugueses de completarem o seu destino-
símbolo dos obstáculos, perigos e medos.

3ª parte – O Encoberto (morte): Morte e Ressurreição do Império – apelo à construção do 5º Império

Partes d´O Encoberto:

 Os símbolos,

 Os avisos,

 Os tempos.

Nevoeiro- símbolo de incerteza e indefinição e do estado caótico em que Porrtugal se encontrava: crise
política, identidade, valores, etc.

Embora tenhamos ânsia de voltarmos ao que éramos, não temos meios (nem rei, nem lei, nem paz nem
guerra).

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 20


Valete frates- força irmãos- incentivo para os portugueses lutarem por um Portugal melhor- expectativa
futura- quinto império.

Sebastianismo- Mito reavivado por Fernando Pessoa, perante a necessidade de reerguer Portugal, sendo
urgente que outros tomem o sonho que outrora moveu D.Sebastião que, transformado em messias redentor,
conduzirá os portugueses à construção de um novo império- Quinto Império

POETAS CONTEMPORÂNEOS
Miguel Torga- Pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha

 Nome em homenagem a escritores peninsulares


 Paradoxo- é o mais ibérico dos poetas portugueses
 Reflete sobre a maneira de ser português- devotamento à pátria,
 Reconhecia a autentacidade de Portugal que admirava
 Trás-os-montes e Alentejo são 2 coisas grandes em Portugal,
 Terra é a grande deusa mãe a quem presta culto permanente
 Porta-voz da utopia política

Ana Luísa Amaral

 Aborda representações do contemporâneo como a igualdade de género e o quotidiano,


 Apresenta um registo maternal nos seus poemas.

Manuel Alegre

 Esteve preso por se recusar a participar na guerra colonial,


 Utiliza a poesia como arma pela recusa de um mundo sem lugar para uma vida digna de ser vivida,
 Luta pela liberdade e denuncia os horrores da guerra colonial

José Saramago
“o ano da morte de ricardo reis”
Contexto:

Em 1936 assiste-se a uma Europa politicamente conturbada entre as ditaduras de índole fascista e os
movimentos de esquerda que tentavam triunfar.Em Portugal, vivia-se num regime ditatorial, liderado por
Salazar, fortemente enraizado através de uma intensa propaganda política, que pretendia fomentar a ideia
da prosperidade e de grandeza do império.A censura, a repressão policial, a tortura ou a prisão eram as
armas usadas contra quem se opunha à ordem vigente, tendo sido para o efeito criada a Polícia de Vigilância
e Defesa do Estado.
É nesta realidade que o poeta retrata o país. A cidade de Lisboa, palco da ação, apresenta-se como um
labirinto, monótona, pobre, sombria.

Memorial do Convento
Síntese

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 21


 Memorial do Convento evoca a História portuguesa do reinado de D. João V. no século XVIII,
procurando uma ponte com as situações políticas de meados do século XX.

 Com esta obra, Saramago quis fazer simbolicamente justiça aos humilhados da História, aos que
fazem a suor e sangue mas cujos nomes não constam dis documentos dos arquivos ou nas páginas
dos manuais.

 Durante o reinado de D. João V, o rigor e as perseguições do Santo Oficio aumentam com vítimas
que tanto podem ser cristãos-novos como todos os considerados culpados de heresias, por se
associarem a práticas mágicas ou de superstição.

 Memorial do Convento caracteriza uma época de excessos e diferenças sociais, que se mantêm na
atualidade: opulência/miséria; poder/opressão; devassidão/penitência; sagrado/profano; amor
ausente/amor sincero…

 Memorial do Convento é uma narrativa histórica que entrelaça personagens e acontecimentos


verídicos com seres conseguidos pela ficção.

 O Memorial entrelaça vários fios narrativos aparentemente independentes: o voto do rei e a


consequente edificação de Mafra, o sonho de fazer o homem voar e a construção da passarola e a
história de amor entre Baltasar e Blimunda.

 A narrativa está centrada no amor de Blimunda e Sete-Sóis, presente desde o auto de fé em que a
mãe de Blimunda é sacrificada, até à clausura do romance por outro auto de fé, além disso, é a
participação dos dois quer na edificação de Mafra quer na construção da passarola que assegura a
unidade da obra.

 Saramago enaltece a coragem e o esforço do povo português e denuncia o sofrimento e os sacrifícios


por que teve de passar.

 Visão crítica: megalomania do rei, má gestão financeira (ouro que veio do Brasil), opressão do povo
pelos poderosos, ausência da valores e censura ao luxo da igreja e dos reis que levavam uma vida
faustosa, cheia de gastos desnecessários.

 Romance histórico, oferece-nos uma minuciosa descrição da sociedade portuguesa no início do


século XVIII; romance social, dentro da linha neorrealista, preocupa-se com a realidade social, em
que sobressai o operariado oprimido; romance de intervenção, visa denunciar a história repressiva
portuguesa na primeira metade do século XX; romance de espaço, representa uma época,
interessando-se por traduzir não apenas o ambiente histórico, mas também vários quadros sociais
que permitem um melhor conhecimento do ser humano.

 Existem duas linhas condutoras da ação: a construção do convento de Mafra e as relações entre
Baltazar e Blimunda.

 A ação principal é a construção do convento de Mafra, que entrelaça o desejo megalómano do rei
com o sofrimento do povo.

 Paralelamente à ação principal, encontra-se uma ação que envolve Baltazar Sete-Sóis e Blimunda
Sete-Luas, numa história de espiritualidade, de ternura, de misticismo e de magia.

 As duas ações, que se encaixam, sugerem uma profunda humanidade trágica.


 Os espaços físicos e sociais privilegiados são Lisboa e Mafra.

 As personagens servem a própria intenção do autor na necessidade de repensar os acontecimentos e


as figuras históricas à luz de uma nova realidade criada no presente e pressentida no futuro.

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 22


 As personagens femininas adquirem, na obra, claro relevo: D. Maria Ana é a rainha triste e
insatisfeita, que vive um casamento de aparecia e com escrúpulos morais nas relações sexuais e nos
sonhos; Blimunda é a mulher com capacidades de vidente e possuidora de uma sabedoria muito
própria, cheia de sensualidade e amor verdadeiro.

 Uma voz narrativa controla a ação narrada, as motivações e os pensamentos das personagens, mas
faz também as suas reflexões e juízos valorativos.

 A história torna-se matéria simbólica para refletir sobre o presente, na perspetive da denuncia e dela
extrair uma moralidade que sirva para o futuro.

 Observando Memorial do Convento, julgamos que a escrita saramaguiana persegue uma


preocupação com o ser humano, a sua miséria e a sua luta, as injustiças e os seus anseios, a sua
grandeza e os seus limites.

 Em Memorial do Convento há, diversas vezes, um discurso de sobreposições narrativas com uma
voz que tanto descreve como desconstrói as situações, que dialoga com o narratário ou manuseia as
personagens como títeres, que domina os conhecimentos da história ou se sente limitado, que faz
ponderações ou ironiza.

Categorias da Narrativa

Ação

 O rei D. João V, Baltasar, Blimunda e o padre Bartolomeu de Gusmão protagonizam as diversas


ações que se entretecem em Memorial do Convento.
 A ação principal é a construção do Convento de Mafra: entrelaçamento de dados históricos com a
promessa de D. João V e o sofrimento do povo que trabalhou no Convento.
 Conhece-se a situação económica e social do país, os autos de fé praticados pela Inquisição, o sonho
e a construção da passarola, as criticas ao comportamento do clero.
 Paralelamente à ação principal, encontra-se uma ação que envolve Baltasar e Blimunda: fio condutor
da intriga e que lhe conferem fragmentos de espiritualidade, de ternura, de misticismo e de magia.

Espaço

 Físico: dois dos espaços físicos onde se desenrola a ação são:


 Lisboa – espaço fulcral onde se destacam outros micro espaços:
1. Terreiro do Paço: local onde Baltasar trabalha num açougue, após a sua chegada
a Lisboa. É onde decorre a procissão do Corpo de Deus.
2. Rossio: aparece no início da obra como o local onde decorrem o auto de fé e a
procissão do Corpo de Deus.
3. As ruas da capital: espaço onde o povo oprimido e ignorante sofre e,
paradoxalmente vibra com as desgraças dos seus iguais e onde vive as principais
celebrações do calendário religioso.
4. S. Sebastião da Pedreira: espaço escolhido para a construção da passarola; é o
único espaço que escapa ao poder opressor da igreja e à rígida hierarquia social
da época.
 Mafra: espaço escolhido para a construção do Convento, particularmente Vela, que deu
lugar à Vila Nova, à volta do edifício. Nos arredores da obra surge a “ilha madeira” –
local onde se alojam os trabalhadores.

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 23


Visão do narrador:

O narrador afirma que apesar da tentativa de purificação através do incenso, Lisboa permanecia
uma cidade suja, caótica e as suas gentes eram dominadas pela hipocrisia.

 Autos de fé
1. O Rossio está novamente cheio de gente: a população esta duplamente em festa,
porque é domingo e porque vai assistir a um auto de fé.
2. A assistência feminina, à janela exibe-se e preocupa-se com pormenores fúteis
relativos à sua aparência física, e aproveita a ocasião para se entregar a jogos de
sedução.
3. A proximidade coma morte dos condenados constitui o motivo do ambiente de
festa.
4. Inicio da relação entre Baltasar e Blimunda
5. Punição dos condenados pelo Santo Oficio – o povo dança em frente das
fogueiras.

Visão do narrador:

O narrador revela a sua dificuldade em perceber se o povo gosta mais de autos de fé ou de touradas,
evidenciando de forma irónica o gosto sanguinário e procura nas emoções fortes uma forma de preencher o
vazio da sua existência que o povo releva.

 Tourada
 Procissão do Corpo de Deus
 O trabalho do Povo no Convento
1. Mafra simboliza o espaço de servidão desumana a que D. João V sujeitou todos os seus súbditos
para alimentar a sua vaidade.
2. Vivendo em condições deploráveis, os trabalhadores foram obrigados a abandonar as suas casa e a
erigir o convento para cumprir a promessa do seu rei e aumentar a sua glória.

Aspetos Símbolicos

Convento de Mafra

 Representa a ostentação régia e o místico religioso, mas também testemunha a dureza a que o
povo está sujeito, a miséria em que vive, a exploração a que é sujeito apesar da riqueza do país.

Passarola voadora

 Simboliza a harmonia entre o sonho e a sua realização, o desejo de liberdade.


 Permitiu a união entre Bartolomeu Lourenço, Baltasar e Blimunda, que juntaram a ciência, o
trabalho artesanal, a magia e a música para construir e fazer voar a passarola.
 Símbolo de fraternidade e igualdade capaz de unir os homens cultos e os populares.

Blimunda

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 24


 Representa um elemento mágico difícil de explicar: possui poderes sobrenaturais que lhe permite
compreender a vida, a morte, o pecado e o amor.
 Através de Blimunda o narrador tenta entrar dentro da história da época e denunciar a moral
duvidosa, os excessos da corte, o materialismo e hipocrisia do clero, as perseguições i injustiças da
inquisição, a miséria e diferenças sociais.

Número “sete”

 É o número de dias de cada ciclo lunar, que regula os ciclos de vida e da morte na Terra.
 Símbolo de sabedoria e de descanso no fim da criação.

Sete-Sóis / Sete-Luas

 O sete associa-se ao sol e à lua:


1. O sol símbolo de vida, associa-se ao povo que trabalha incessantemente, como o próprio
Baltasar, apesar de decepado.
2. a lua não tem luz própria, depende do sol, tal como Blimunda depende de Baltasar. A lua
atravessa fases, o que representa a periodicidade e a renovação.
Cobertor

 Símbolo de afastamento, da separação que marca o casamento de convivência entre o rei e a rainha.
 Liga-se à frieza do amor, à ausência do prazer, esconde desejos insatisfeitos.

Colher

 Símbolo de aliança, da “união de facto”, de compromisso sagrado.


Exprime o amor autêntico numa relação de paixão, a atração erótica de um casal que se c

Baltasar Sete-Sóis

É um homem do povo, simples, analfabeto e humilde, elementar, fiel e terno. É um jovem soldado, de 26
anos, natural de Mafra, que ficou maneta da mão esquerda depois de ter levado um tiro durante a Guerra
da Sucessão. Conhece o padre Bartolomeu de Gusmão e Blimunda em Lisboa, enquanto assiste ao auto de
fé em que está a mãe de Blimunda. Aceita a vida que lhe foi dado viver e a mulher que o destino lhe
ofereceu.

O padre Bartolomeu Lourenço partilha com ele o seu maior segredo, a construção da passarola.

Também vai participar na construção do convento.

Morre queimado vivo na última fogueira da Inquisição.

Simbologia da personagem:

É comparado a Deus, devido à mutilação da mão esquerda, pelo padre Bartolomeu.

O sol identifica-se como fonte de vida, da força, do poder e do conhecimento- Baltasar encarna
simbolicamente a vida de todos os homens do povo, oprimido e espezinhado, que sempre trabalhou e
nunca foi recompensado.

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 25


A morte de Baltasar no fogo da inquisição significa o regresso às trevas e a negação do progresso.

Presença marcada pela perseverança, força, luta

Blimunda Sete-Luas

 Quando conhece Baltasar tem 19 anos.


 É uma mulher do povo com poderes sobrenaturais- ecovisão. Tem capacidades intuitivas e
visionárias, dependentes das fases da lua
 É sensual e inteligente,
 Vive sem regras que a condicionem e escrazivem,
 É detentora de grande densidade psicológica e de uma perseverança sem limites,
 Aceita a vida sem orgulho nem submissão
 Riqueza interior de Blimunda- Força do seu olhar
 Os olhos e o olhar ocupam em Memorial do Convento um espaço privilegiado devido ao poder
visionário de Blimunda. O seu olhar mágico seduz Baltasar e será muitas vezes uma forma de
comunicação entre o casal. 

Casal:

A igualdade do casal é contrária ao estatuto social feminino no século XVIII- é mulher do futuro, que
trabalha ao lado do marido e com ele tudo vive e decide.

Sol e lua completam-se: são a luz e a sombra que compõe o dia (o ciclo diário), juntos pelo amor, são um
só.

A relação entre os dois é perturbadora para a sociedade da época pois não existe um casamento oficial e
porque os 2 têm os mesmos direitos, facto improvável em pleno século XVIII.

Conhecem-se durante um auto-de - fé, levado a cabo pela Inquisição, o de 26 de Julho de 1711 e nunca
mais se deixam de amar.

Vivem um amor sem regras, natural e instintivo, entregando-se a jogos eróticos. A plenitude do amor é
sentida no momento em que se amam e a procriação não é sonho que os atormente como sucede com os
reis.

Blimunda não é de origem Sete-Luas e é o padre Bartolomeu de Gusmão que a batiza com este nome por
ela ser companheira de Sete-Sóis.

O seu amor é tão complementar porque eles próprios são diferentes das outras pessoas- ele com uma
deformidade física devido à guerra e ela com uma capacidade de olhar para dentro das pessoas.

Os nomes de Baltasar e de Blimunda tem o mesmo número de letras, começam por B e as alcunhas são
uma forma de demonstrar a sua complementaridade. Baltasar está relacionado com o sol, fonte de luz, de
calor e de vida enquanto Blimunda surge relacionada com a lua, símbolo de dependência e da renovação.

Comparação entre os dois amores

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 26


D.João e D.Maria Ana Josefa

Rei absoluto a quem é obrigatório amar

Rainha- obediência e respeito, cumprimento de regras e deveres da rainha.

= Casamento religioso baseado em interesses políticos. Respeito e cumprimento de obrigações conjugais.

= relações obrigatórias para procriar

Baltasar e Blimunda

Homem e mulher encantados e apaixonados

=Amor verdadeiro, eterno, carnal, espiritual. Encontro de corpos e almas

Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão- O voador

 Baixa estatura,
 Tem 26 anos,
 Nascido no Brasil, veio para Portugal e logo com 15 anos ingressou na igreja e estudou filosofia.
 Já no Brasil contactava com a classe eclesiástica,
 É caracterizado como um grande orador (aproximam-no do padre António Vieira)
 Foi perseguido pela inquisição, pela modernidade do seu espírito científico e pelo seu
comportamento muitas vezes anti-canónico.
 Representa, de uma forma quase de sacrilégio, alguns dos rituais e sacramentos da Igreja.
 É um homem genial e incompreendido
 Mistura a sua entrega à fé com a sua paixão escondida pela alquimia
 Tem um sonho: construir a máquina voadora
 Morreu “doido” em Toledo
 A sua obsessão de voar levam-no a formar uma Trindade terrestre: baltasar (força física),
Blimunda(magia) e padre (inteligência). Esta tríade simboliza o sonho e o emprenho tornados
realidade, a par da desgraça, também ela partilhada.
 Representa as novas ideias que causavam estranheza na inculta sociedade portuguesa. Representa
uma enorme crise de fé.

Simbologia da passarola

 A viagem,
 Simboliza a liberdade,
 Ligação entre o céu e a terra,
 As vontades como combustível,

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 27


 A sobreposição da vontade humana à vontade divina
 Fim do dogmatismo da época
 É a esperança em tempos de escravidão
 É o símbolo da humanização, possuindo a capacidade d voar e chegar mais perto dos anjos.
 Tentativa de superar os limites do homem
 Implicou apenas a força de Baltasar e os poderes sobrenaturais de Blimunda
 Engrandece a superioridade intelectual do Homem
 Símbolo de união, lealdade e força de vontade

Simbologia da Igreja e do Clero:

 A igreja representa o obscurantismo, um poder imenso que tudo controla segundo a sua vontade,
incluindo as decisões régias.
 Controla o país através da inquisição e conta até com a subjugação do próprio rei.

Outros símbolos:

 Colher, Sopa, Porta aberta, lareira - conjunto de elementos funciona na obra como um todo que
transmite a ideia de partilha: Blimunda deixa a porta aberta, permitindo que Baltasar entre não só
na sua casa como na sua vida; acende a lareira, serve uma sopa e usa a colher dele, construindo
conforto, um lar e um amor eterno.
 Espigão - O espigão de Baltasar de que Blimunda se serve para se defender no Monte Junto da
tentativa de violação, presentifica o próprio Baltasar a “mão” do seu amor.
 Palheiro de Morelena, a barraca da burra - O palheiro e a barraca da burra simboliza o amor
intenso de Baltasar e Blimunda, carregado de sensualidade e de cumplicidade; a transgressão das
regras socias e morais por parte deste casal que se ama partilhando as “almas, corpos e vontades”.
 Mutilação de Baltasar- A mutilação aparece frequentemente como uma marca de inaptidão e de
marginalidade, todavia, na obra, Baltasar conseguira superar a sua incapacidade ao contribuir para
construir a passarola e o convento.
 Sonho- O sonho é o espaço onde as personagens deixam transparecer as suas emoções, medos,
frustrações, desejos, funcionando, por vezes, como um fator de equilíbrio, como é o caso da rainha,
que compensa, no mundo onírico, as suas frustrações afetivas e sexuais. Em relação ao rei, os
sonhos espelham, acima de tudo, a manifestação do seu poder. Os sonhos comuns de Baltasar,
Blimunda e Bartolomeu Lourenço são uma forma de sublinhar a sua cumplicidade e partilha.
  A música simboliza a harmonia e a plenitude do cosmos. A música de Scarlatti representa a
comunicação e tem o poder de curar. O som do seu cravo irá fascinar o padre e acompanhar o
processo de construção da passarola e o momento em que ela se eleva no céu.
 No capítulo XIX, a pedra, símbolo da Terra-mãe, vai exigir um esforço enorme por parte dos
trabalhadores que, com coragem, força, habilidade e inteligência vão transportar de Pêro Pinheiro
até Mafra. É uma laje descomunal que evidencia a pequenez do homem, mas que
comparativamente ao convento se torna pequena. Conseguir transportar a pedra ate ao seu
destino, vai transformar estes homens em verdadeiros heróis. A pedra, pela sua firmeza, também
se pode associar a sabedoria.
 Abegoaria - o espaço escondido onde se constrói a passarola, onde se materializa o sonho. É o
espaço da utopia, da invenção, da descoberta, da partilha e da amizade.
 Montanha-Monte - A montanha estabelece a relação da terra com o céu, centro do mundo, traduz
a estabilidade e a inalterabilidade, guardando o que nela permanece, como a passarola que cai no
Monte Junto. A máquina voadora ficou protegida dos homens e do Santo Ofício e assim, mais

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 28


tarde, inusitadamente e, como por magia, levantou o voo, dando sentido a vida da trindade
terrestre.
 Fogo- É conforto, aconchego, purificação e regeneração, mas também destruição. O fogo da
lareira, em casa de Blimunda, é proteção e bem-estar; o fogo que Bartolomeu Lourenço Lança a sua
máquina é uma forma de destruir o seu sonho fracassado; o da fogueira dos autos-de-fé é
opressão, destruição e morte.

 Povo: um dos protagonistas do romance como massa colectiva anónima que foi sacrificada na
construção do convento, embora também seja representado por Baltasar e Blimunda. É
caracterizado como ignorante, miserável, violento e escravos dos poderosos. As personagens que
foram individualizadas dessa massa anónima e que representam a força e o companheirismo
perante a desgraça da escravidão e da solidão na construção do convento, traduzem a essência de
ser português.

GRAMÁTICA

Funções sintáticas

Sujeito

O sujeito é sobre o que ou quem se declara algo.

 O João foi às compras – Sujeito simples

 A Mariana e as suas amigas foram passear – Sujeito composto


 Fui às compras – Sujeito nulo subentendido

 Contam-se histórias sobre ele – Sujeito nulo indeterminado


Vocativo

O vocativo é utilizado em contextos de chamamento ou interpelação do interlocutor. Aparece separado


do resto da frase por vírgulas. Pode surgir no início, no meio ou no fim da frase.

 Ana, entra e está à vontade.


 Entra, Ana, e está à vontade.

 Entra e está à vontade, Ana.


Complemento direto

O complemento direto encontra-se dentro do predicado e responde à pergunta “o quê?” ou “quem?”.

 O Jorge viu um pássaro. (viu o quê? – um pássaro)

 A Rita viu o Miguel. (viu quem? – o Miguel)


Complemento indireto

O complemento indireto também se encontra dentro do predicado e responde à pergunta “a quem?” ou


“ao quê?”.

 A Cristina ligou à mãe. (ligou a quem? – à mãe)


 Não dei importância ao assunto. (não dei importância ao quê? – ao assunto)

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 29


Complemento oblíquo

O complemento oblíquo é um constituinte selecionado pelo verbo, o que significa que se o retirarmos da
frase muda-se o seu sentido.

 Ele mora em Lisboa. (mora onde? – em Lisboa)


Exemplos de verbos que selecionam o complemento oblíquo: concordar, durar, ir, gostar, morar, pôr,
precisar, vir, …

Modificador do grupo verbal

O modificador do grupo verbal acrescenta uma informação opcional, ou seja, se o retirarmos da frase o


seu sentido não muda. Pode aparecer em várias posições na frase e ter diferentes valores (tempo,
lugar, modo, etc…).

 Ele foi a Lisboa ontem.

 Ontem, ele foi a Lisboa.


O modificador do grupo verbal distingue-se do complemento oblíquo por ser opcional na frase, ao
contrário do complemento oblíquo que é obrigatório na frase para esta manter o seu sentido.

Predicativo do sujeito

O predicativo do sujeito é selecionado por um verbo copulativo. Pode atribuir uma propriedade ou
característica ou uma localização no espaço ou no tempo.

 Ela é linda.
 Ele está atrás da porta.

Verbos copulativos mais frequentes: ser, estar, permanecer, ficar, continuar, andar, parecer, tornar-
se, revelar-se…

Complemento agente da passiva

O complemento agente da passiva surge apenas quando a frase está na passiva e responde à pergunta
“por quem?”.

 O teste foi corrigido pela professora. (foi corrigido por quem? – pela professora)

Modificador do nome

Tal como o nome indica, o modificador do nome modifica um nome (ou pronome). No entanto, como é um
constituinte não selecionado pelo nome, pode ser retirado da frase sem que esta se torne agramatical
(sem sentido).

Modificador do nome restritivo

Modificador que restringe/limita a realidade referida pelo nome que modifica. Geralmente surge à
direita do nome que restringe, que pode encontrar-se tanto no sujeito como no predicado, e nunca está
separado por vírgulas.

 Vi um filme interessante. (interessante modifica o nome filme)


 A casa da Joana é bonita. (da Joana modifica o nome casa)

 Cão que ladra não morde. (que ladra modifica o nome cão)


Modificador do nome apositivo

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 30


Modificador que não restringe o nome, por isso está sempre separado por vírgulas.

 O João, o irmão da Maria, é meu colega. (o irmão da Maria modifica o nome João)


 A Inês, ansiosa, foi ver as notas. (ansiosa modifica o nome Inês)

 O carro, de valor inestimável, nunca será vendido. (de valor inestimável modifica o nome carro)
 A Joana, que é a minha melhor amiga, vai ajudar-me. (que é a minha melhor amiga modifica o
nome Joana)

Modificador do nome restrito – o modificador do nome é restrito quando contribui para


determinar a referência do grupo nominal (mas pode ser separado por virgulas).

 Exemplos:
- O passeio pela ria foi agradável.
- Prefiro bifes grelhados.
- As raparigas bonitas estavam na festa.

Modificador do nome apositivo – o modificador do nome é apositivo quando não contribui para
determinar a referência do grupo nominal.

 Exemplos:
- D. Dinis, o rei trovador, viveu na idade média.
- O Ivo, muito satisfeito, partiu para ferias.
Modificador da frase (frásico) – o modificador frásico é uma oração subordinada com a função de
modificar outro constituinte (orações subordinadas relativas, causais, temporais, finais, etc.).

 Exemplos:
- O assunto que abordamos preocupa me. (subordinada relativa)
- Comprou uma casa para viver com os filhos. (subordinada final)

Complemento do nome – Função sintática de um constituinte do grupo nominal que se encontra à


direita do nome e é selecionado por ele. Geralmente é um grupo preposicional.

 Exemplos:
- A necessidade de atenção constante torna se cansativa.
- A estacão do metro fica longe.

Classe dos Verbos:

Principal - Intransitivo, transitivo direto, indireto, direto e indireto, transitivo- predicativo (achar,
considerar, nomear, eleger, declarar)

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 31


Verbo copulativo – ser, estar, ficar, parecer, permanecer, continuar, tornar-se, revelar-se

Auxiliar – ser, estar, ter haver. EX: foi lido

Recursos expressivos
Aliteração – Repetição de sons consonânticos. Exemplo:
“Fogem fluindo à fina-flor dos fenos.” (Eugénio de Castro)
“Na messe, que enlourece, estremece a quermesse.” (Eugénio de Castro)

Assonância – Repetição de sons vocálicos. Exemplo:


“Sino de Belém, pelos que inda vêm!
Sino de Belém bate bem-bem-bem.
Sino da Paixão, pelos que lá vão!
Sino da Paixão bate bão-bão-bão.”
(Manuel Bandeira, Poesia Completa e Prosa)

Onomatopeia – Conjunto de sons que reproduzem ruídos do mundo físico. Este conjunto de sons pode
formar palavras com sentido (palavras onomatopaicas). Exemplo:
“Bramindo o negro mar de longe brada.” (Camões)

Anáfora – Repetição de uma ou mais palavras no início de verso ou de período. Exemplo:


“Toda a manhã/fui a flor/impaciente/por abrir. /Toda a manhã/fui ardor/do sol/no teu telhado. “
(Eugénio de Andrade)
“É brando o dia, brando o vento.
É brando o Sol e brando o céu.” (Fernando Pessoa)

Adjetivação ou dupla adjetivação – consiste na utilização de um ou mais adjetivos de forma a tornar o


texto mais belo ou mais expressivo. Exemplo:
“O tigre é um mamífero carnívoro, robusto, elegante e muito feroz , cujo pêlo apresenta coloração com
lindas listas transversais negras …”

Assíndeto – Supressão das partículas de ligação (vírgula, virgula,). Exemplo:


“Quero perder-me neste Pisão, nesta Pereira, neste Desterro.” (Vitorino Nemésio)
“Eu hoje estou cruel, frenético, exigente.” (Cesário Verde)

Polissíndeto – Repetição dos elementos de ligação entre palavras. Exemplo:


“Aqui e no pátio e na rua e no vapor e no comboio e no jardim e onde quer que nos encontremos.”
(Sebastião da Gama)
“E crescer e saber e ser e haver
E perder e sofrer e ter terror.” (Vinicius de Morais)

Anástrofe – Inversão da ordem directa das palavras. Exemplo:


“Tirar Inês ao mundo determina.” (Camões)

Hipérbato – Inversão violenta da ordem dos elementos na frase. Exemplo:


“Casos/Duros que Adamastor contou futuros.” (Camões)
“Estas sentenças tais o velho honrado Vociferando estava.” (Camões)

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 32


Paralelismo ou simetria-??

Pleonasmo – Repetição de uma ideia já expressa. Exemplo:


“Vi, claramente visto, o lume vivo.” (Camões)
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!” (Fernando Pessoa)

Antítese – Apresentação de um contraste entre duas ideias ou coisas. Repare-se nesta sequência de
antíteses:
“Ganhe um momento o que perderam anos/Saiba morrer o que viver não soube!” (Bocage)
“Ali, àquela luz ténue e esbatida, ele exalava a sua paixão crescente e escondia o seu fato decadente.”
(Eça de Queirós)
“O mito é o nada que é tudo.” (Fernando Pessoa)

Paradoxo – Um mesmo elemento produz efeitos opostos. Exemplo:


“Que puderam tornar o fogo frio.”
Que saudade, gosto amargo.”

Apóstrofe ou Invocação – Interpelação a alguém ou a alguma coisa personificada. Exemplo:


“Ó glória de mandar, ó vá cobiça/Desta vaidade a quem chamamos fama. ” (Camões)
“Bem puderas, ó Sol, da vista destes…” (Camões)

Comparação – Consiste na relação de semelhança entre duas ideias ou coisas, através de uma palavra ou
expressão comparativa ou de verbos a ela equivalentes (parecer, lembrar, assemelhar-se, sugerir).
Exemplo:
“O génio é humilde como a natureza.” (M. Torga)

Eufemismo – Dizer de uma forma suave uma ideia ou realidade desagradável. Exemplo:
“…Só porque lá os velhos apanham de quando em quando uma folha de couve pelas hortas, fazem de nós
uns Zés do Telhado!” (Aquilino Ribeiro)
"Tirar Inês ao mundo determina."(Camões)
"Vai pera a ilha perdida"(Gil Vicente)

Enumeração – Apresentação sucessiva de vários elementos. Exemplo:


“Deu sinal a trombeta castelhana/Horrendo, fero, ingente e temeroso.” (Camões)

Hipálage – Atribuição a um ser ou coisa de uma qualidade ou ação logicamente pertencente a outro ser.
Exemplo:
“As tias faziam meias sonolentas.” (Eça de Queirós)
“Dá-me cá esses ossos honrados.” (Eça de Queirós)

Personificação – Atribuição de qualidades ou comportamentos humanos a seres que não o são.


Exemplo:
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal.” (Fernando Pessoa)
“Havia na minha rua/Uma árvore triste.” (Saúl Dias)

Hipérbole – Ênfase resultante do exagero. Exemplo:


“Se aquele mar foi criado num só dia, eu era capaz de o escoar numa só hora.” (Agustina Bessa - Luís)

Ironia – Figura que sugere o contrário do que se quer dizer. 

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 33


Metáfora – Comparação de dois termos, seguida de uma identificação. Exemplo:
“A menina Vilaça, A loura, vestida de branco, simples, fresca, com o seu ar de gravura colorida.” (Eça de
Queirós)????

Elipse – Omissão de uma palavra (um adjetivo, um verbo, etc.) que subentende. Exemplo:
“Quero perder-me neste Pisão, nesta Pereira, neste Desterro.” (Vitorino Nemésio)
Equivalente a: Quero perder-me neste Pisão, [quero perder-me] nesta Pereira, [quero perder-me] neste
Desterro.

Metonímia – Emprego de um vocábulo por outro, com o qual estabelece uma relação de contiguidade (o
continente pelo conteúdo; o lugar pelo produto, o autor pela sua obra, etc.). Exemplo:
Tomar um copo (=um copo de vinho). Beber um Porto (=um cálice de vinho do Porto).
Ando a ler Eugénio de Andrade (=a obra de…)

Perífrase – Figura que consiste em dizer por muitas palavras o que poderia ser dito em algumas ou
alguma. Exemplo:
“Tenho estado doente. Primeiramente, estômago – e depois, um incómodo, um abcesso naquele sítio em
que se levam os pontapés…” (Eça de Queirós)

http://recursosabertosdeportugues.blogspot.com/2014/01/recursos-expressivos.html fazer teste

Deixis
A deixis designa o conjunto de palavras ou expressões (expressões deíticas) que têm como função
‘apontar’ para o contexto situacional. Assim, assinalam o sujeito que enuncia (locutor), o sujeito a
quem se dirige (interlocutor), o tempo e o espaço da enunciação. Em função da sua natureza deítica, é
possível apresentar a seguinte classificação:

 Deítico pessoal – indica as pessoas do discurso (locutor e interlocutor); integram este grupo os
pronomes pessoais (ex: tu, me, nós, etc.), determinantes e pronomes possessivos (ex: o meu,
o vosso, teu, etc.), sufixos flexionais de pessoa-número (ex: falas, falamos, etc.), bem como
vocativos. EX: «Aceita que eu exista como os sonhos.»; «Quando eu disser não ouças.»
 Deítico espacial – assinala os elementos espaciais, evidenciando a relação de maior ou menor
proximidade relativamente ao lugar ocupado pelo locutor; integram este grupo os advérbios ou
locuções adverbiais de lugar (ex: aqui, cá, além, lá de cima, etc.), os determinantes e
pronomes demonstrativos (ex: este, essa, aquilo, etc.), bem como alguns verbos que indicam
movimento (ex: ir, partir, chegar, aproximar-se, afastar-se, entrar, sair, subir, descer, etc.). EX:
«Vamos até ali.»

 Deítico temporal – localiza fatos no tempo; integram este grupo os advérbios, locuções
adverbias ou expressões de tempo (ex: amanhã, ontem, na semana passada, no dia seguinte,
etc.) e sufixos flexionais de tempo-modo-aspeto (ex: falarei, faláveis, etc.). EX: «Depois de
amanhã serei outro.»

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 34


Valor Modal- modalidades:
 Apreciativa- opinião ou juízo de valor.

EX: Que bela paisagem!

 Deôntica:

- Imposição, proibição. EX: Telefona ao João!

- Valor de permissão. EX: Quando realizares todos os exercícios podes...

 Epistémica:

- Valor de certeza. EX: O João já entrou em casa.

- Valor de probabilidade. EX: É provável que ele já tenha...

- Valor de possibilidade. EX: A Diana pode vir ao jantar.

Coesão Textual:
Coesão lexical:

 Reiteração – repetição da mesma palavra no texto.


 Substituição - (sinonímia, antonímia, hiperonímia- hiponímia, holonímia- meronímia)

Coesão gramatical:

 Referencial- pronomes
 Frásica – concordância de verbos

 Interfrásica – orações

 Temporal – advérbios de tempo (hoje, amanhâ…)

Processos irregulares de formação de palavras


O léxico de uma língua pode ser alargado através do recurso a processos irregulares de formação de
palavras, permitindo assim a criação de neologismos → novos conceitos ou realidades, podendo ser
de natureza formal (amálgama, sigla, acronímia, onomatopeia e truncação) ou semântica (extensão
semântica e empréstimo).

Extensão Semântica
Processo que ocorre quando são atribuídos novos sentidos a uma unidade lexical já existente.

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 35


[Não embarco nessas ideias! → o verbo embarcar começou por significar “entrar numa embarcação”,
mas, por extensão semântica, também passou a ter o sentido de “aderir, aceitar”]

Empréstimo
Processo que resulta da apropriação de uma unidade lexical de outra língua.
[gabardina (do francês); pizza (do italiano)]

Amálgama
Processo de criação de palavras que resulta da junção de partes de duas ou mais unidades lexicais.
[informática (informação + automática)]

Sigla
Unidade resultante da junção das iniciais de um grupo de palavras, que são pronunciadas
individualmente.
[PSP (Polícia de Segurança Pública)]

Acrónimo
Unidade lexical resultante da junção das letras ou sílabas iniciais de um conjunto de palavras, sendo
pronunciada como uma palavra.
[sida, nato, ONU]

Onomatopeia
Unidade lexical resultante da imitação de um som natural.
[fru-fru, tique-taque]

Truncação
Processo de criação lexical que resulta da supressão de uma parte da palavra.
[disco (discoteca), Alex (Alexandre)]

Significação lexical
O significado de uma unidade é lexical sempre que refere entidades do mundo, podendo ser
denotativo ou conotativo.

Denotação
Parte objetiva do significado lexical, podendo ser analisada fora do discurso, uma vez que é literal e
estável.
“A chave da porta desapareceu.” - o sentido denotativo de chave é: instrumento metálico destinado a
abrir portas

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 36


Conotação
Parte subjetiva, instável do significado lexical que se atualiza em sentidos secundários ancorados ao
sentido denotativo da unidade lexical.
“Precisas de te concentrar para encontrares a chave do teu problema.” - um dos sentidos conotativos
de chave é: solução

Monossemia
Caraterística semântica de unidades lexicais que apenas possuem um único significado em todos os
contextos. É frequente nos termos de linguagens especializadas
[“telefone; estetoscópio”].

Polissemia
Caraterística semântica da maior parte das unidades lexicais que possuem vários significados,
relacionados entre si
[borracho - pombo novo; bonito; bêbado].

Relações Semânticas entre Palavras


Atendendo ao seu significado, as palavras podem estabelecer entre si diferentes tipos de relações.
Estas relações assumem particular relevância na construção da coesão textual, já que representam
um contributo indispensável para a unidade semântica do conjunto (enunciado/texto) a que pertencem.

Relações de Semelhança – Sinonímia

Relações de Oposição – Antonímia

Relações de Hierarquia
São estabelecidas através de hiperónimos e hipónimos.
[Flor (hiperónimo): cravo, rosa, lírio, jarro, malmequer, etc. (hipónimos)]

Relações de Parte-Todo
São estabelecidas através do recurso a holónimos e merónimos.
[Computador (holónimo): teclado, monitor, rato, etc. (merónimos)]

Frase simples e Frase complexa


Frase simples - frase em que existe um único verbo principal ou copulativo.
Frase complexa - frase em que existe mais do que um verbo principal ou copulativo, que contêm mais
do que uma oração. Numa frase complexa, podemos ter orações coordenadas e/ou subordinantes e
subordinadas.

Orações Coordenadas
A coordenação é a relação sintática estabelecida entre elementos que pertencem à mesma categoria
gramatical e que desempenham a mesma função sintática.

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 37


As orações coordenadas podem-se classificar em:
1. Copulativa – estabelece uma relação de adição com a(s) oração(ões) com que se combina.
Locuções/ conjunções: e, nem, não só…mas, tanto como..
EX: «Estou cansado e vou descansar.»
2. Adversativa – transmite uma ideia de contraste, de oposição, relativamente à ideia expressa na
frase ou oração com que se combina. Locuções/conjunções: mas, porém
EX: «Estou cansado, mas vou continuar.»
3. Disjuntiva – exprime um valor de alternativa face ao que é expresso pela oração com que se
combina. Locuções: ou…ou, ora…ora
EX: «Ou descanso ou não posso continuar.»
4. Conclusiva – transmite uma ideia de conclusão decorrente da ideia expressa na frase ou oração
com que se combina. Conjunções: logo, portanto
EX: «Estou cansado, logo não posso continuar.»
5. Explicativa – apresenta uma justificação ou explicação relativa à frase ou oração com que se
combina. Conjunções: pois, que
EX: «Estou cansado porque andei muito.»

Orações Subordinadas:

A subordinação é a relação sintática estabelecida entre orações em que uma (subordinada) está
sintaticamente dependente de outra (subordinante).

As orações subordinadas podem-se classificar em:

Adverbiais – desempenha a função sintática de modificador da frase ou do grupo verbal e,


modificando o sentido de outras orações, subdivide-se em:

1. Oração subordinada adverbial causal – exprime a razão/motivo do evento descrito na oração.


Conjunção/locução: porque, como, visto que, dado que, uma vez que…

EX: Visto que te recusas a integrar num grupo, trabalharás sozinho.

2. Oração subordinada adverbial comparativa - Conjunção/locução: como, conforme, do que, bem


como, assim como

EX: A viagem correu conforme desejávamos.

3. Oração subordinada adverbial concessiva - Exprime uma ideia de contraste. Locução: embora,
se bem que…, ainda que..

EX: Embora já tenha viajado muito, nunca andei de IGTV.

4. Oração subordinada adverbial condicional (hipótese). Locução: se, caso, a não ser que, desde
que, exceto que...

EX: Todos chegarão a horas, desde que não haja trânsito.

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 38


5. Oração subordinada adverbial consecutiva (consequência/efeito). Locução: tão/ tanto...que, de
modo que..., de maneira que...

EX: O livro era tão interessante que o li em apenas dois dias.

6. Oração subordinada adverbial final (finalidade/intenção). Locução: para, para que…, a fim
de/que…, com a finalidade de…

EX: Fiz um telefonema ao coordenador, para dar a conhecer a minha opinião.

7. Oração subordinada adverbial temporal – Locução: quando, mal, apenas, enquanto, logo que…,
assim que…

EX: Respondi ao questionário mal cheguei a casa.

Substantiva – desempenha a função sintática de sujeito ou de complemento de um verbo,


nome ou adjetivo, podendo ser facilmente substituída por um pronome como isso e subdividindo-se
em:
3. Completiva, que completa a ideia da oração anterior e pode ser introduzida pelas conjunções
subordinativas «que», «se» e «para». Complemento direto- o que?
EX: «Eu bem sei que tu não voltas».
4. Relativa, que é introduzida por quantificadores e pronomes relativos sem antecedente, como
quem, o que, onde, quanto, que, o qual, os quais, a qual, as quais.
EX: «Quem espera sempre alcança.»

Adjetivas – exerce a mesma função que um adjetivo e subdivide-se em:


5. Relativa restritiva, que tem como função restringir a informação dada sobre o antecedente; a
sua omissão acarreta uma alteração do sentido da oração subordinante, pois apresenta
informação relevante para a definição do antecedente.
EX: «O poeta português que escreveu Os Lusíadas foi grandioso.»
6. Relativa explicativa, que apresenta informação adicional sobre o antecedente; a sua omissão
não altera o sentido da oração subordinante, uma vez que o antecedente já se encontra
suficientemente definido.
EX: «A literatura, que é imortal, encanta os leitores.»

Resumo para o Exame Nacional 12º ano – Português Pagina 39

Você também pode gostar