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Influências da lírica

camoniana:
lírica tradicional e a inspiração
clássica Nome autores
Influências da lírica camoniana

Camões era detentor de uma vasta cultura e revela, na sua poesia lírica (cerca de 600
poemas), a influência de duas tradições poéticas.

Poesia de influência tradicional Poesia de inspiração clássica

Tradição palaciana Literatura clássica

Dante e Petrarca
Poesia de influência tradicional

Poesia de influência tradicional Tradição palaciana

Ligada ao Cancioneiro Geral de Garcia de Resende (1516), uma compilação de poemas


produzidos entre o fim do século XV e o início do século XVI, em português e castelhano,
por trovadores poetas portugueses(289) e castelhanos (29).

Poemas em medida velha: Temáticas:


Associada à poesia – versos de 5 e 7 sílabas métricas - amorosa
galego-portuguesa e aos (redondilha menor e redondilha maior) – jocosa
cancioneiros castelhanos – uso de formas poéticas como: - moralizante
quatrocentistas vilancete, cantiga, esparsa e trova - religiosa
- dramática
- histórica
Formas poéticas da lírica tradicional

Formas poéticas da lírica tradicional

Composições em medida velha

Versos em Versos em
redondilha menor redondilha maior
(5 sílabas métricas) (7 sílabas métricas)

A / que / la / ca / ti / va Per / di / gão / per / deu / a / pe / na


que / me / tem / ca / ti / vo não / há / mal / que / não / lhe / ve / nha
Formas poéticas da lírica tradicional

Composições em medida velha


Formas poéticas da lírica tradicional
(géneros da tradição peninsular)

Vilancete Cantiga Endecha Esparsa

mote de 2-3 versos e voltas de mote de 4-5 versos poema de versos 1 estrofe de 8 a 16 versos
7 versos e voltas de 9-10 versos de 5-6 sílabas

o último verso repete, com o último verso do mote é quadras ou oitavas


ou sem variante, o verso repetido, total ou
final do mote parcialmente,
no fim de cada volta
Formas poéticas da lírica tradicional

Composições em medida velha


Formas poéticas da lírica tradicional
(géneros da tradição peninsular)

Vilancete Cantiga Endecha Esparsa

«Minina dos olhos verdes» «Pastora da serra» «Aquela cativa» «Os bons vi sempre passar»

«Perdigão perdeu a pena» «Verdes são os campos» «Vós sois ũa dama»

«Descalça vai para a fonte» «Se Helena apartar» «Vai o bem fugindo»
Temas da lírica tradicional

Temáticas da lírica tradicional

Temas e tópicos Episódios banais e assuntos de Grandes temas da poesia camoniana


tradicionais e populares circunstância

a ida da donzela à fonte num ambiente cortesão, com uma «Os bons vi sempre passar»
reação humorística ou satírica por
a Natureza parte do poeta «Vós sois ũa dama»

a beleza da mulher
«Vai o bem fugindo»
o amor (tema central)

a saudade
Lírica tradicional – temas tradicionais e populares

O poema «Descalça vai para a fonte» destaca:

a ida da figura feminina à fonte – cena do quotidiano e cenário


rural/natural, que, por ser um local afastado, é propício aos encontros amorosos entre a
donzela e o amigo;

a descrição da figura feminina como uma bela donzela.

Descalça vai para a fonte Leva na cabeça o pote,


Leanor pela verdura; o testo nas mãos de prata,
vai fermosa e não segura. cinta de fina escarlata,
[…]
mais branca que a neve pura;
vai fermosa, e não segura.
William-Adolphe Bouguereau, Rapariga
indo à fonte, 1885.
Lírica tradicional – temas tradicionais e populares

No poema «Verdes são os campos», o sujeito poético dirige-se ao campo


e aos animais para confidenciar o amor que sente pela amada, num
diálogo que lembra também as cantigas de amigo, em que a Natureza tem
o papel de confidente, surgindo personificada, escutava os lamentos e as
súplicas da donzela.

[…]
Campo, que te estendes Gados, que paceis,
com verdura bela; co contentamento
ovelhas, que nela vosso mantimento
vosso pasto tendes, não o entendeis:
d’ ervas vos mantendes isso que comeis
Anton Mauve, Paisagem com gado, 1888.
que traz o verão, não são ervas, não:
e eu das lembranças são graças dos olhos
do meu coração. do meu coração.
Lírica tradicional – episódios banais e assuntos de circunstância

Camões cultivou temas satíricos, conforme a tradição poética peninsular.


Em textos sobre episódios banais e assuntos de circunstância, o poeta recorre à sátira ou ao humor para responder
a comportamentos ou comentários que remetem para um ambiente cortesão.

[Na lírica camoniana, temos] finalmente poemas de circunstância, quer para


apresentar a obra de um contemporâneo, quer para interceder generosamente por
uma pobre mulher condenada ao degredo, quer para lembrar jocosamente uma
dívida ou para pedir proteção contra um credor, quer ainda para convidar os
amigos para uma ceia onde apenas comerão trovas.

Maria Vitalina Leal de Matos, Introdução à Poesia de Luís de Camões,


Lisboa, ICALP/Ministério da Educação, 1992, p. 42.
Lírica tradicional – episódios banais e assuntos de circunstância

Neste poema, dirigido a uma dama a


Nesta quadra, o sujeito poético responde
quem fizera galanteios e que chamara a
a um fidalgo de Cascais que, tendo
Camões «cara-sem-olhos», o sujeito
encomendado versos em troca de seis
poético afirma ver muito bem («olhos
galinhas recheadas, mandou entregar ao
sobejam»), num jogo com as palavras
poeta apenas meia galinha:
«cara», «caro» e «olhos»:

Cinco galinhas e meia Sem olhos vi o mal claro


deve o Senhor de Cascais; que dos olhos se seguiu:
e a meia vinha cheia pois cara-sem-olhos viu
de apetitos para as mais. olhos que lhe custam caro.
De olhos não faço menção,
pois quereis que olhos não sejam:
vendo-vos, olhos sobejam;
não vos vendo, olhos não são.
Grandes temas da lírica camoniana

Grandes temas da lírica camoniana

As desilusões de uma existência


O desconcerto do mundo O amor impossível
passada
Poesia de inspiração clássica

Poesia de inspiração clássica Ligada à cultura clássica e


humanística de Camões

Influências

Literatura italiana do
Literatura clássica
Renascimento

Virgílio Dante (corrente italiana


do dolce stil nuovo,
Horácio introduzida em Portugal
por Sá de Miranda)
Ovídio
Petrarca
Formas da poesia de inspiração clássica

Formas poéticas Composições em medida nova (renascentista)

Introduzido em Portugal por Sá de Miranda, após uma Verso decassílabo


viagem a Itália

A / mor / é / fo / go / que ar / de / sem / se / ver


É / fe / ri / da / que / dói / e / não / se / sen / te
Formas da poesia de inspiração clássica

Formas poéticas Composições em medida nova (renascentista)

Soneto (origem italiana) Género lírico apropriado


à reflexão sobre uma ideia
14 versos decassílabos (Camões compôs mais de 200 sonetos)

duas quadras e dois tercetos

esquema rimático abba/abba,


nas quadras, e cde/cde ou cdc/dcd,
nos tercetos

concluído com «chave de ouro»


(verso que apresenta a conclusão)
Formas da poesia de inspiração clássica

Formas poéticas Composições em medida nova (renascentista)

Outros formas poéticas


canção
(poema extenso, com uma estrofe final em
que o sujeito poético se dirige à própria canção;
intimista, de reflexão e confissão)
ode
(poema de celebração)
Recuperados
da literatura elegia
clássica (poema de lamento ou sentencioso)

écloga
(poema pastoril, geralmente em diálogo)

oitava
(poema dirigido a grandes individualidades)
Formas da poesia de inspiração clássica

Formas poéticas Composições em medida nova (renascentista)

Soneto Outros géneros


«Um mover d’olhos, brando e piadoso» canção
«A fermosura desta fresca serra» «Manda-me Amor que cante docemente»
«Junto de um seco, fero e estéril monte»
«Amor é um fogo que arde sem se ver»
ode
«Tanto de meu estado me acho incerto» «Nunca manhã suave»
«Busque Amor novas artes, novo engenho» «Pode um desejo imenso»

«O dia em que eu nasci, moura e pereça» elegia


«O poeta Simónides falando»
«Erros meus, má fortuna, amor ardente»
écloga
«Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades»
«Écloga dos faunos»
«Está o lascivo e doce passarinho»
oitava
«Leda serenidade deleitosa» «Oitavas sobre o desconcerto do Mundo»
Temas da poesia de inspiração clássica

Temáticas da poesia de inspiração clássica


(temas gerais da lírica camoniana)

Temas de natureza sentimental Temas autobiográficos


A Natureza
e filosóficos

o amor e as suas contradições e a sua profunda relação com o eu o desconcerto do mundo

a mulher amada e os seus efeitos a mudança


sobre o eu

a morte da amada e o desconcerto


sentimental que provoca no eu
Consolida
Consolida

1- Indica se é verdadeira ou falsa cada uma das seguintes afirmações. Corrige as falsas.

A A poesia camoniana de influência tradicional insere-se na corrente da poesia peninsular dos séculos XV-XVI,
de tradição palaciana.
Verdadeira.

B A poesia camoniana de influência tradicional está ligada ao Cancioneiro Geral de Garcia


de Resende (1516), que reúne textos da poesia galego-portuguesa.
Falsa. … que reúne poemas líricos produzidos na Península Ibérica nos séculos XV-XVI.

C As composições do Cancioneiro Geral seguem a medida velha, isto é, a redondilha menor


e a redondilha maior – respetivamente, versos de sete e cinco sílabas métricas.
Falsa. … respetivamente, versos de cinco e sete sílabas métricas.

D Na medida velha, Camões cultivou formas poéticas da tradição peninsular, como o soneto,
a cantiga, a endecha e a esparsa.
Falsa. … como o vilancete, a cantiga, a endecha e a esparsa.
Solução
Consolida

1- Indica se é verdadeira ou falsa cada uma das seguintes afirmações. Corrige as falsas.

E O vilancete e a cantiga são formas poéticas iniciadas por um mote, seguido de voltas.

Verdadeira.

F Camões aproveita temas e tópicos tradicionais e populares, como a ida à fonte, a Natureza, a beleza da
mulher, o amor e a saudade.
Verdadeira.

G Ao tratar temas de natureza satírica, Camões dá início a uma nova tendência na poesia de tradição peninsular.

Falsa. … Camões dá continuidade à tradição poética peninsular.

H A poesia camoniana de inspiração clássica compreende dois tipos de influência:


da literatura clássica e da literatura italiana do Renascimento.
Verdadeira.
Solução
Consolida

1- Indica se é verdadeira ou falsa cada uma das seguintes afirmações. Corrige as falsas.

I A literatura italiana do Renascimento foi marcada por dois grandes poetas: Dante e Virgílio.

Falsa. … foi marcada por dois grandes poetas: Dante e Petrarca.

J A corrente literária italiana do dolce stil nuovo, que influenciou a poesia camoniana,
foi introduzida em Portugal por Sá de Miranda.
Verdadeira.

Solução
Consolida

2- Seleciona a opção que completa cada afirmação.

A Dá-se a designação de medida nova


ao verso decassílabo.
à redondilha maior ou menor.
ao soneto.

B O decassílabo foi introduzido em Portugal por


Luís de Camões.
Sá de Miranda.
Garcia de Resende.

C Entre as formas poéticas em medida nova cultivadas por Camões, contam-se


a canção, a ode, a elegia, a écloga e a oitava.
o soneto, a canção, a ode, a elegia, a écloga e a oitava.
a esparsa, o soneto, a canção, a ode, a elegia, a écloga e a oitava.
Solução
Consolida

2- Seleciona a opção que completa cada afirmação.

D O soneto, que Camões cultiva com mestria e de forma brilhante, é uma forma poética de origem

peninsular.

francesa.

italiana.

Solução

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