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Lista de obras analisadas:

10ºano:

- Poesia Trovadoresca

- Crónica de D. João I

- Farsa de Inês Pereira

- Luís de Camões - Rimas

- Os Lusíadas

11o ano:

- Sermão de Santo António aos Peixes (houve um erro na compilação dos resumos e

este tópico aparece, ainda, no ficheiro intitulado de “Resumos 10o”

- Frei Luís de Sousa

- Amor de Perdição

- Os Maias

- Antero de Quental, Sonetos

- Cesário Verde

12o ano:

- Fernando Pessoa - Ortónimos

- Fernando Pessoa - Heterónimos

- A Mensagem

- Contos

- O Ano da Morte de Ricardo Reis


Poesia Trovadoresca
Contextualização:

A poesia trovadoresca teve a sua representação mais expressiva entre os séculos XII e XIV (a
partir do Sul de França) por toda a península Ibérica e é tomada como primeira representação
da literatura portuguesa, embora a linguagem utilizada fosse o galego-português.

Consiste num conjunto de composições poéticas medievais, que pode tomar o nome de
“cantigas”, e tal como o nome indica, podem ser cantadas por interpretes bem identificados.

Estão divididos em três cancioneiros: cancioneiro da ajuda, cancioneiro da Bíblica Nacional e


Cancioneiro da Vaticana.

Todas as cantigas eram originalmente escritas e cantadas por artistas masculinos, no entanto,
na altura de as cantar os poetas encarnavam muitas das vezes personagens femininas, como
donzelas apaixonadas, damas da nobreza... como no caso das cantigas de amigo.

A principal temática destes poemas é o amor e a saudade ou no caso das cantigas de escárnio,
a sátira direta ou indireta das personagens. Este tipo de lírica é geralmente designada por
lírica profana. O género de poesia trovadoresca mais centrado na música é designado por
lírica religioso.

Tipos de poesia trovadoresca

Existem dois tipos de poesia trovadoresca: lírica e satírica

Esta poesia divide-se em três categorias:


Cantigas de amigo

Cantigas mais simples, escritas sobre o ponto de vista da mulher (eu poético feminino - a
amiga ), que por norma encontra-se em ambientes naturais (fontes, romarias, rios, praias…),
que podem servir como seu confidente.

Estas são muitas vezes associadas a ambientes como as romarias ou as peregrinações, onde
as jovens procuram o amor.

O sujeito poético é uma jovem (solteira) enamorada, geralmente do povo, que pode invocar
o seu amigo, “namorado”, a própria mãe, amigas e irmãs ou mesmo o santo de que ela ou a
mãe são devotas. A jovem encontra-se à espera do seu amor, seja à espera que os barcos
(descobrimentos) voltem, seja denudada e a banhar-se, ou mesmo a lavar roupa no rio.

Uma das principais temáticas destas cantigas é o sofrimento amoroso ou ansiedade pelo
amor, muitas vezes pela ausência do amado, no entanto, podem também falar de encontros
com o “amigo” e a alegria pelo seu regresso.

As confidencias às amigas e/ou a mãe poderão estar presentes, assim como as mentiras à
mãe.

Os ciúmes e a infidelidade podem também corresponder à temática destas cantigas.

Estas composições eram musicadas para posteriormente serem interpretadas nas cortes
(saraus) dos grandes senhores.

Segundo a classificação temática temos: Cantigas de romaria, Bailias, Albas, Barcarolas ou


marinhas e Pastorelas. Segundo a classificação formal estamos a falar de: Cantigas de refrão,
Cantigas de mestria (sem refrão), Cantigas paralelísticas ou de leixa-pren.

➢ Linguagem e recursos

- Género autóctone- típico da região


- Voz feminina.

- Estrutura rígida e repetitiva.


- O quotidiano, geralmente rural e campestre, é descrito. (ida à fonte, à ermida, ao
baile)- vida religiosa, festiva e coletiva (baile, romaria, santuário, etc).
- As imagens da natureza (cervo, vento, noite…) possuem significado simbólico.
- Vocabulário simples e familiar.
- Polissemia- uma determinada palavra ou expressão adquire um novo sentido
- Usam-se arcaísmos- arcaísmo é o uso lexical ou gramatical de uma palavra ou expressão
antiga, que já caiu em desuso

Ex. Coitada- preocupada; gram- grande; nom- não; mi- mim

- Geografia imprecisa (casa, fonte, rio)


- Especificação da localização (Vigo, Guarda).
➢ Caracterização formal
- Paralelismo -Princípio da repetição e da simetria: repetição de versos, palavras ou
conceitos ex. Paralelismo anafórico --> O paralelismo é importante pois é uma
intensificação da narrativa
- “Leixa-prem” (refrão)- o segundo verso da primeira estrofe, repete-se no primeiro da
terceira estrofe e assim sucessivamente.

Cantigas de amor

Estas cantigas assemelham-se com as cantigas de amigo, no entanto, o eu poético é


masculino, “ A senhor / a dona” e o seu amor deverá ser de um estrato social superior.

Trovadores- poetas de condição real ou nobre

Jograis- poetas de origem plebeia

Estas estão mais associadas à aristocracia, pois o amor cortês, com base numa relação de
suserano (dama) e súbdito (senhor), é descrito ao longo dos versos.

A dama é geralmente fruto da imaginação do trovador, conjugando com uma vivencia


espiritual do amor, em detrimento do amor físico

O “senhor” não se aproxima do eu poético, havendo uma distância característica de um amor


platónico.
- O principal cenário é a corte ou o ambiente palaciano.

A influencia da poesia provençal, tanto na escrita como na temática (língua provençal), está
muito presente, nomeadamente a poesia vinda de França.

O serviço do amado que não revela a identidade da “senhor”, mantendo os seus sentimentos
em segredo quando está em público, assim como precisando da autorização da “senhor”
quando se ausenta.

As temáticas destas composições consistem sobretudo no amor impossível e a vassalagem


amorosa, sempre acompanhada de mesura (timidez, reserva, autodomínio). O amor é a fonte
da ascese (espiritualização), tornando-o quase divino, através de louvores hiperbólicos à
senhor, assim como a sua idealização.

--> Os sentimentos do vassalo têm de ser demonstrados, assim, segundo o Código cortês:

- Identidade secreta da “senhor”;


- Mesura ou reverência (venerar);
- Fidelidade, homenagem, combate bélico(se necessário);
- Amor supremo (sem obter nada em troca);
- A “senhor” é idolatrada

O sofrimento é a base do relacionamento amoroso destas canções, o eu poético sofre


constantemente pelo amor incansável, proibido, impossível. A analise destes sentimentos
ocorre ao longo de todo o poema.

A classificação formal indica-nos dois tipos de composição: cantigas de refrão e cantigas de


mestria (em refrão).

➢ Linguagem e recursos

- Matriz provençal (registo aristocrático)


- Emissor masculino- destina-se à mulher amada (de classe social superior)
- Expressa a sua “coita de amor”, sofrimento amoroso provocado pelo amor não
correspondido que conduz à morte de amor
- Elogio cortês, idealização e inacessibilidade da mulher amada
- Vassalagem amorosa, cortesia e obediência ao código da mesura (identidade da
donzela nunca revelada)
- Ambiente palaciano/aristocrático
- A estrutura do poema é repetitiva e circular.
- O vocabulário repete-se frequentemente.
- Vocabulário provençal (sé,m, prez)
- Presença de sinónimos e antónimos.
- Utilização de conjunções causais e consecutivas (discurso).
- Orações complexas.
- Expressões cultas fórmulas relacionadas com a expressão do amor cortês.

Cantigas de escárnio e mal dizer

O género é satírico (tentativa de ridicularizar uma pessoa ou situação), geralmente como


critica ao comportamento social da época. Sátira moral e religiosa – desconcerto do mundo.

Sátira política e militar – traição dos fidalgos na guerra Granada e guerra civil (D. Sancho II –
D. Afonso III)

Sátira social e costumes – decadência da nobreza, conflito entre jogral e trovador, assim como
critica à avareza.

Sátira literária – satiriza as canções de amor, ironiza o amor corte, chamando à atenção para
o fingimento poético.

O alvo da critica pode ser uma “velha feia”, que nunca será louvada ou elogiada, pois não
reúne os requisitos para ser vista como uma “senhor”.

Estas também podem narrar episódios ridículos de forma bastante explicita. Em que a
perspetiva do eu poético é sempre irónica.

Em algumas produções, o sofrimento e a morte pelo amor são criticadas, particularmente


através de ironia, morte e ressurreição (eu poético), morrer e renascer por amor… A parodia
do fingimento amoroso também pode estar presente, quando se fala do sofrimento do amor
cortes, uma vez que este é visto como exagerado.
A canção de escárnio tenta gozar com estrutura das cantigas de amor e/ou amigo através:

• O elogio à dama é substituído pela critica explicita.

• As caracterizações abstratas das qualidades da dama dão lugar a uma muito concreta dos
seus defeitos.

• A morte pelo amor é frequentemente criticada, em particular através do excesso.

Sociedade:

Organização social por classes, estratificada.

Diversos artistas trabalham nos saraus, sendo pagos para isso.

Profissionais (jograis) que trabalham sem talento.

Formalmente temos as:

✗ cantigas de refrão

✗ cantigas de mestria (não possui refrão)

➢ Linguagem e recursos

- Ironia e sarcasmo são os principais recurso presentes.


- Jogos de palavras.
- Polissemia.

- Equívocos.

Crónica de D. João I- Fernão Lopes


Contexto histórico Morte do rei D. Fernando e crise de 1383-1385

• Com a morte de D. Fernando, em 1383, ficou como regente a sua viúva, D. Leonor
Teles, até que a sua única filha legítima, a Infanta D. Beatriz, assumisse o trono. O
problema é que esta era casada com D. João I, rei de Castela, e assim sendo, na
hipótese de D. Beatriz ser aclamada, estaria em causa a independência de Portugal.
• Perante esta crise, a população de Lisboa insurgiu-se contra D. Leonor Teles.
• O Conde Andeiro, fidalgo galego e amante da rainha, é assassinado pelo Mestre de
Avis.
• A revolta foi liderada por D. João, Mestre de Avis, filho bastardo de D. Pedro. Face a
este estado revolucionário, D. Leonor Teles pediu auxílio ao rei de Castela.
• O rei de Castela, apesar de o contrato de casamento ter previsto que houvesse o que
houvesse, o reino de Portugal e o de Castela ficariam sempre separados, acabou por
invadir Portugal, originando vários confrontos em que os portugueses saíram sempre
vencedores: Cerco de Lisboa (1384); Batalha de Atoleiros (1384); Batalha de
Aljubarrota (1385); Batalha de Valverde (1385).
• O Mestre de Avis foi aclamado rei de Portugal nas Cortes de Coimbra em 1385 e a paz
com Castela veio a ser assinada em 1411.

Conceito de crónica

→ No início da era cristã, o vocábulo «crónica» designava a narração histórica pela ordem
do tempo em que os factos iam acontecendo. A crónica limitava-se a registar os
eventos, de forma objetiva e sem lhes aprofundar as causas ou lhes dar qualquer
interpretação.
→ Porém, após o século XII, as crónicas passaram a narrar os acontecimentos com
abundância de pormenores e a apresentar alguns comentários pessoais dos autores
sobre o que se passou, isto é, marcas de subjetividade. É o que acontece nas obras de
Fernão Lopes.

Atores individuais (destaque ao mestre de Avis)

• Para conferir o maior rigor possível aos seus relatos, Fernão Lopes procura evitar
deixar-se influenciar pelo afeto à pátria e pelo sentimento de dívida para com a pessoa
que o encarrega de escrever as crónicas, embora nem sempre o consiga, já que é
evidente a sua parcialidade relativamente à dinastia de Avis. Ainda assim, o cronista
não poupa a figura do rei D. João I, seu senhor, fazendo dele um retrato que não o
favorece, visto que o descreve como um homem fraco e hesitante (no momento do
assassínio do Conde Andeiro, por exemplo).
• Por outro lado, o Mestre de Avis é descrito como alguém que revela, por vezes,
atitudes de grande humanidade originadas em emoções, aspeto que torna este ator
individual da Crónica de D. João I inesquecível para o leitor.
• É a visão de conjunto de Fernão Lopes, aliando o ponto de vista objetivo (os factos) ao
ponto de vista subjetivo (os sentimentos) que lhe permite relativizar os atores
individuais das suas crónicas.

Atores coletivos: afirmação da consciência coletiva (destaque ao povo)

o O povo assume grande protagonismo nas crónicas de Fernão Lopes. O cronista dá vida
às multidões, transformando-as numa força unificada, principalmente através do
movimento que lhes imprime e que elas cumprem como se fossem um ser único, um
ator coletivo.

Exemplo disso, na Crónica de D. João I, é o tumulto que ocorre quando o povo de Lisboa pensa
que o Mestre de Avis vai ser assassinado.

o O grande ator das crónicas de Fernão Lopes é, na verdade, o povo.

• Fernão Lopes viveu no século XV.


• Fernão Lopes trabalhou para a dinastia de Avis.
• Um cronista, no século XV, tinha como funções, registar os feitos mais importantes do
seu reinado ou dos anteriores.
• (crónica escrita durante o reinado de D. Duarte)
• O texto mais importante escrito por Fernão Lopes foi a Crónica de D. João I- foi
publicada a 1644 e encontra-se dividida em 2 partes:
→ Na primeira parte da crónica é relatada a crise de sucessão de 1383 e 1385 que teve
lugar no fim da primeira dinastia e que levou ao poder da dinastia de Avis (futuro rei
D. João I).

Durante esta crise, o Mestre de Avis, futuro rei D. João I teve um papel determinante
na defesa da independência de Portugal do domínio de Castela.

→ Na segunda parte é relatado os acontecimentos ocorridos durante o reinado de D.


João (até à paz com Castela)

• Morte do rei D. Fernando e crise de sucessão dinástica.

• Revolução popular e burguesa.

• Morte do Conde Andeiro – cap. 11

• Nomeação do Mestre de Avis como regedor e defensor do reino.

• Cerco de Lisboa e luta pela independência contra Castela. – cap. 115 e 148

• Inicio da dinastia de Avis.

• Batalha de Aljubarrota.

NOTA: COLOQUIALISMO, DINAMISMO e VISUALISMO- características muito importantes na


crónica

- Coloquialismo: linguagem popular, oralizante, uso do discurso direto, etc.(ex.


Interrogações retóricas, imperativo)
- Visualismo: apelo às sensações, nomeadamente as visuais e auditivas; apresentação
de pormenores...
- Dinamismo: Concentração espacial, gradação e ritmo crescente das ações; uso de
verbos de movimento; dramatização de quadras.
Capítulos chave 11, 115 e 148 da 1ªParte:

Capítulo 11:
• Fernão Lopes narra como a população de Lisboa foi incitada pelos apelos do pajem e
de Álvaro Pais para acudirem ao Mestre, porque o estavam a matar.
• O povo junta-se a Álvaro Pais e avança em direção ao Paço.
• O povo planeia invadir o Paço pelo que sucedeu ao Mestre.
• O Mestre dirige-se à janela e tranquiliza o povo. Este sai do Paço e convence o povo a
dispersar-se.

Em suma:

- Apresenta bons exemplos de uma firmação da consciência coletiva.


- Conta-se nele a movimentação de uma multidão em direção ao Paço, em grande
alvoroço por ter circulado a notícia de que D. João estava em perigo.
- Enquadra-se na sequência de eventos que leva ao cerco de Lisboa.
- Relata as ações do povo quando souberam que o Mestre corria perigo e os
sentimentos do povo relativamente ao mesmo.
- O povo é o protagonista do episódio.
- Falas transcritas do povo realçam os sentimentos do mesmo e denigrem a imagem de
Leonor Teles, fazendo apologia do futuro monarca.

Capítulo 115:
• Preparação da cidade para resistir ao cerco dos castelhanos.
• O Mestre de Avis manda guardar alimentos, uma vez que o cerco impediria o
reabastecimento da cidade.
• Trabalho de organização como a reparação e o fortalecimento das muralhas, a
verificação das armas, a distribuição de tarefas de defesa e a regularização da ordem
na cidade.

Em suma:
- Relata o cerco de Lisboa e, sobretudo, a preparação da sua defesa contra os
castelhanos. A figura do Mestre de Avis aparece com a capacidade de chefia presente,
comandando os defensores da cidade.
- Descrição da cidade de Lisboa.
- Mestre e a população preparam a defesa da cidade.
- Coragem, esforço e determinação do povo.
- Preparação de mantimentos.
- Apresentam-se grupos sociais- atores coletivos- que ajudam nos preparativos
(lavradores, fidalgos, mulheres).
- Louvor ao povo pelo patriotismo, orgulho, entreajuda e solidariedade--> afirmação da
consciência coletiva
- Louvor do Mestre pela determinação e diligência.

Capítulo 148:
• Tempos de sofrimento da população sujeita ao cerco castelhano.
• Vários aspetos de sacrifício a que o cerco obriga como a escassez de alimentos e o seu
preço elevado, a falta de esmolas e o recurso a produtos de baixa qualidade.
• Consequências económicas – falta de produtos alimentares e inflação.
• Consequências sociais – aumento de doenças, subnutrição e má saúde, pobreza e
aumento da taxa de mortalidade.
• Consequências psicológicas – tristeza e desespero, discussões, desejo pela morte e
sofrimento quotidiano.

Em suma:

- Trata o que se passa durante o cerco, dando conta do grande sofrimento da


população.
- Interpelação ao leitor- dirigir a palavra ao leitor.
- Protagonismo do povo (ator coletivo).
- Sofrimento, fome e pobreza descrito ao pormenor.
- Perguntas retóricas ao leitor como forma de sensibilização- coloquialismo.
- Mestre de Avis (ator individual) como chefe que tem que tomar decisões difíceis.

Farsa de Inês Pereira


A Farsa de Inês Pereira é uma peça de teatro escrita por Gil Vicente, na qual retrata a ambição
de uma criada da classe média portuguesa do século XVI. Desafiado por aqueles que
duvidavam do seu talento, Gil Vicente concorda em escrever uma peça que comprove o
provérbio "Mais quero asno que me leve, que cavalo que me derrube".

Toda a peça gira à volta da personagem principal Inês Pereira que nunca sai de cena.

As didascálicas são escassas, não há mudança de cenário, e a mudança de cena é só pautada


pela entrada ou saída de personagens.

Todas as personagens desta farsa visam a critica social, por isso são chamadas personagens
tipo.

Género:

Farsa- Entriga curta construída em torno de um engano ou conflito entre forças opostas;

- Nº reduzido de personagens, presença de personagem-tipo; ao mesmo tempo mostra


a sua individualidade vista que o seu comportamento evolui ao longo da história.

Resumo:

As farsas, baseiam-se em temas da vida quotidiana, tendo um enredo cómico e profano. A


Farsa de Inês Pereira parte de um provérbio: «mais quero asno que me leve, que cavalo que
me derrube». Esta farsa censura os «homens de bom saber» que constitui uma referência
direta ao público cortês. Esta era dotada de uma incontornável vertente não só dramática
mas acentuadamente teatral.

Inês Pereira, moça simples e casadoira mas com grande ambição procura marido que seja
astuto e sedutor. A mãe de Inês, preocupada com a sua filha, sua educação e casamento,
incita-a a casar com Pero Marques, pretendente arranjado pela alcoviteira Lianor Vaz, no
entanto o lavrador não agrada Inês Pereira, por ser ignorante e inculto. Pero Marques, nunca
viu sequer uma cadeira, e isso não deixa de provocar o riso, assim funcionando como
mecanismo subliminar o autoelogio da Corte.

Inês Pereira recusa-o, pois pretende alguém que demonstre alguma cortesia, alguém que, à
boa maneira da Corte, saiba combater, fazer versos, cantar e dançar, alguém como Brás da
Mata, o segundo pretendente, que lhe é trazido pelos Judeus Casamenteiros, um pouco
menos sinceros e bem-intencionados do que Lianor Vaz. Mas Brás da Mata representa apenas
o triunfo das aparências, um simulacro de elegância, boa -educação e bem-estar social, que
acredita no casamento como solução para as suas dificuldades financeiras.

Este casamento depressa se revela desastroso para Inês, que por tanto procurar um marido
astuto acaba por casar com um, que antes de sair em missão para África, dá ordens ao seu
moço que fique a vigiar Inês e que a tranque em casa de cada vez que sair à rua. Brás da Mata,
era um escudeiro falido que casou com Inês de forma a poder aproveitar-se do seu dote.

Três meses após a sua partida, Inês recebe a prazerosa notícia de que o seu marido foi morto
por um mouro. Não tarda em querer casar de novo, e é nesse mesmo dia que Lianor Vaz traz-
lhe a notícia que Pero Marques, continua casadoiro, de resto como este tinha prometido a
Inês aquando do primeiro encontro destes.

Inês casa com ele logo ali, e já no fim da história aparece um Ermitão que se torna amante da
protagonista.

O ditado “mais quero asno que me carregue que cavalo que me derrube”, não podia ser
melhor representado do que na última cena da obra quando o marido a carrega em ombros
até ao amante, e ainda canta com ela “assim são as coisas”.

Trata-se, portanto, de uma sátira aos costumes da vida doméstica, jogando com o tema
medieval da mulher como personificação da ignorância e da malícia.
Personagens- tipo

Inês: representa a moça casadoira, fútil, muito preguiçosa e interesseira, que se casa duas
vezes, apenas para se livrar do tédio da vida de solteira. Não conseguindo casar-se na primeira
tentativa, garante-se na segunda, com o marido ingénuo. Apesar de seu comportamento
impróprio, consegue até mesmo a simpatia do público pela inteligência com que planeja seus
passos -Representa a rapariga da vila que pretende ascender socialmente através do
casamento

Lianor Vaz: é a alcoviteira, mulher na época assim chamada que arrumava casamentos,
revelando que a base da família está corrompida- representa o materialismo e a falsidade

Mãe: apesar de dar conselhos à filha, acha importante que ela não fique solteira e torna-se
cúmplice das atitudes dela- representa a pridência, o conservadorismo social e a voz da
experiência.

Pero Marques: é o marido tolo mas um lavrador abastado. Apesar de ser ridicularizado por
Inês, ele casa-se como ela e deixa que ela o maltrate e o tráia- representa e ingenuidade e
simplicidade

Escudeiro: Preocupado em encontrar uma esposa, finge, e engana, criando uma imagem de
"bom moço" que depois se revela um tirano, e deixa Inês presa na sua casa mas ele é morto
por um mouro- representa o pretensionismo, a falsidade e cobardia

Moço: era um amigo do primeiro marido de Inês, que o ajuda a mentir para se casar com ela.

Ermitão: era o amante de Inês que depois se torna num padre- representa a devassidão e o
desrespeito.

Latão e Vidal: judeus casamenteiros- representam o materialismo e o oportunismo

Tempo

É um tempo dilatado, tendo o espectador dificuldade de se aperceber da sua passagem

Cómico

Encontramos, nesta farsa, cómico de situação ou de personagem em Inês, Pero Marquez e


no escudeiro; de situação na cena de ‘’namoro’’ de Inês com Pero Marquez; de linguagem na
carta e linguagem de Pero Marque e na fala dos judeus casamenteiros. Podemos considerar
as rezas e as pragas (esconjuros) como cómico de linguagem.

Objetivo da crítica vicentina

Gil Vicente critica:

• A mentalidade das jovens raparigas;


• Os escudeiros fanfarrões, galantes e pelintras;
• A selvajaria e ingenuidade de Pêro Marques; --> Critica às personagens tipo
• As alcoviteiras e os judeus casamenteiros; - cómico de carácter
• Os casamentos por conveniência; - cómico de situação
• Os clérigos e os Ermitões. - cómico de linguagem.

→ Retrata:
- Ambiente popular- casamento, tarefas domésticas, relações entre homens e
mulheres;
- A vida da corte;
- A imortalidade do clero.

Estrutura da peça

Nesta farsa não existem divisões cénicas, mas é possível dividi-la em 3 atos. De assinalar a
importância da divisão em espaço interior e exterior. De notar o paralelismo presente nos
contrastes que Gil Vicente estabelece na construção do monólogo e diálogo inicial da peça, e
no monólogo e diálogo ocorridos após a noticia da morte de Braz da Mata. É através destes
paralelismos e contrastes que Gil Vicente expressa a mudança ocorrida com Inês.
Podes esquematizar os três atos da seguinte maneira:

Exposição: monólogo inicial de Inês e o diálogo inicial com a mãe em que se apresentam as
características das jovens e os seus objetivos- Inês solteira, infeliz e insatisfeita

Conflito: desde a chegada de Lianor Vaz ao casamento por Pêro Marques- Inês casa com o
escudeiro; deceção consequente

Desfecho/Desenlace: a partir do casamento com Pêro Marques até ao final que concretiza o
tema da peça e o provérbio que a determinou- “mais vale asno que me leve do que cavalo
que me leve que cavalo que me derrube”- Inês livre e casada com Pêro Marques
Concluindo

Desta ação pode extrair-se que o que Inês mais queria, acabou por conseguir: a sua liberdade,
encontrada junto de Pêro Marques. A unidade da ação é dada pelo tema e pela personagem
principal, Inês Pereira.

Não há dúvida de que Gil Vicente demonstrou aos contemporâneos que nele não
acreditavam, e com esta peça, ser de facto, o grande criador das obras que fazia representar.

Caracterização das personagens Principais:


Inês Pereira

Inês é a personagem-tipo mais complexa de toda a história. Ao longo da peça, sofre uma
evolução (degradante) e, por isso, vai representar vários tipos sociais. Mostra a sua
individualidade, visto que o seu comportamento evolui ao longo da história.

Inês solteira, é uma rapariga leviana e preguiçosa. Vê no casamento uma forma de se libertar
da mãe e de gozar da sua liberdade. Logo desde o início e ao longo de toda a peça mostra ser
astuta a planear as suas ações, contudo “sai-lhe o tiro pela culatra” quando casa com Brás da
Mata e recusa Pero Marques: julga os pretendentes não pelo caráter, mas pela aparência.

Após o casamento, Inês torna-se a mulher oprimida, porque Brás da Mata não a deixa sair de
casa e recebe alegremente a notícia de que este tinha sido morto na guerra por um mouro.

Decide, então, casar-se com Pero Marques que, apesar da rudeza, mostrava ser ingénuo e
complacente: o marido ideal para Inês poder gozar da sua liberdade há tanto desejada. Nesta
altura, torna-se na mulher adúltera desta história, fase final e mais degradante da
personagem: aproveita-se do pobre marido para a levar de encontro ao seu amante, o
Ermitão, e ainda troça da sua imbecilidade. Revela-se detentora de um caráter imoral e sem-
vergonha.

Por toda a peça, Inês expressa a sua inteligência e ironia no planeamento dos seus passos.

Pero Marques

Pero Marques foi o primeiro pretendente de Inês, sugerido por Lianor Vaz. Inicialmente, esta
personagem representa o camponês rude e sem maneiras, até imbecil. É a personagem mais
ridicularizada da história, através do cómico de personagem, de situação e de linguagem.
Apesar de da primeira vez ter sido recusado por Inês, aceita casar-se com ela e não se
apercebe que está a ser traído por esta. É demasiado complacente com a mulher, deixando-
a ir onde bem entende e ainda carrega-a às costas para ir de encontro com o amante. Nesta
fase, tornasse no marido traído e enganado.

Brás da Mata
Brás da Mata aparenta ser, para Inês, o marido ideal: É um fidalgo discreto e meigo, que sabe
tocar viola. Todavia, a verdade é que não tem onde cair morto e o seu objetivo é o de casar
com uma rapariga rica e aproveitar-se do seu dote, para assim nunca mais ter de trabalhar.

Após o casamento com Inês, revela a sua verdadeira face: não deixa Inês sair de casa, nem
falar com ninguém e manda o Moço vigiá-la: é um marido tirano. Foi morto em combate por
um mouro o que, Inês revela, através da ironia, ter sido um ato covarde.

Brás da Mara é, deste modo, o ‘cavalo’ desta Farsa.


Lírica camoniana- Rimas

Podemos dizer que a poesia lírica camoniana é muito variada nos seus temas e no seu estilo.
Recordemos em síntese o seguinte:

- Um dos temas principais da Poesia Camoniana é amor; a ele está diretamente ligada
a imagem da mulher.

A temática amorosa levou Camões a refletir sobre o próprio amor, entendido como um
sentimento complexo.

- A natureza, tema muito antigo na cultura ocidebtal, está presente na lírica de camões
- A vida pessoal é um domínio que estimula a lírica
- O desconcerto do mundo e a mudança, expressando aqui temas dolorosos

Na linguagem Camoniana deparámo-nos com duas realidades:

1. A que seguia as formas da lírica tradicional


2. A que dotava as tendências da poesia renascentista

INFLUÊNCIAS:

Lírica tradicional- poesia trovadoresca e poesia palaciana

Temas:

- temáticas amorosas

- ambiente natural

- cenário rural

Forma:

- medida velha- redondilha (maior ou menor) --> cantigas, vilancetes, endechas,


esparsas.
Inspiração clássica

Temas:

- o amor (concebido à maneira petrarquista)

- a representação (idealizada) da mulher – representada como sendo um ideal de beleza e de


perfeição

Formas:

Medida nova- decassílabo: soneto (duas quadras, dois tercetos) de versos decassilábicos de
esquema rimático habitual a b b a / a b b a / c d c / d c d

Em suma:

Temas:

- O Amor:

. sentimento inexplicável e paradoxal

. entidade superior
- A mulher amada:

. retrato idealizado: perfeição física e espiritual

. representação à maneira petrarquista

- A Natureza:

. ligada à expressão sentimental do “eu”

. marcada pelos cenários idílicos (locus amoenus)

- A vida pessoal:

. determinada por um destino implacável

. caracterizada por experiências pessoais de pendor negativo

- O desconcerto do mundo e a mudança:

. relevantes nos domínios pessoal, social e moral

. associados ao desencanto e à frustração

. determinante do tom crítico de algumas composições

https://demo.20.leya.com/recursos/GERM/ASA/Guia_Exploracao_Multimedia_Entre_Palavr
as.pdf

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