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Síntese da

sequência 4
Síntese da sequência 4

Educação literária
Vida e obra de Gil Vicente

Farsa de Inês Pereira

Gramática
Predicativo do complemento
direto
Arcaísmos
Síntese da sequência 4
Vida e obra de Gil Vicente

 São escassos e incertos os dados


biográficos de Gil Vicente.

 O autor terá nascido entre 1460 e


1470, em Guimarães, e falecido por
volta de 1536, data da sua última obra.

 Crê-se que o dramaturgo é o mesmo


Gil Vicente ourives, que vem
mencionado num documento da
Chancelaria real de 1513 como
«trovador mestre da balança», o autor Gil Vicente
da Custódia de Belém.
Síntese da sequência 4
Vida e obra de Gil Vicente

 Apesar de não haver informações concretas acerca da


formação recebida por Gil Vicente, o autor revela, na sua
obra, ser um homem com cultura.

 Foi casado duas vezes e teve cinco filhos, dois dos quais,
Paula e Luís Vicente, terão sido os responsáveis pela
organização e publicação da Copilaçam de todalas obras de
Gil Vicente, em 1562.

 Entre 1502 e 1536, organizou espetáculos e festas na corte,


sempre ao serviço da família real, durante os reinados de D.
Leonor, de D. Manuel I e de D. João III.
Síntese da sequência 4
Vida e obra de Gil Vicente

Os assuntos das suas obras podiam ser religiosos ou


profanos, sérios ou cómicos.

 As suas peças, ao mesmo tempo que divertiam,


moralizavam pela sátira de costumes e transmitiam a doutrina
da Igreja, especialmente a luta entre o Bem e o Mal.

 Além de escrever peças de teatro, Gil Vicente era


músico, ator e encenador.

 É considerado o pai do teatro português.


Síntese da sequência 4
Farsa de Inês Pereira: conceito de farsa

Farsa

 Trata-se de um género pertencente ao modo dramático que


apresenta normalmente o tema do engano. De acordo com
Teresa Gonçalves, na entrada «Farsa», E-Dicionário de
termos literários de Carlos Ceia: «É um género dramático
que representa cenas da vida profana, simultaneamente
agressivas, pela sátira contundente, e festivas, pelo cómico
hilariante».
Síntese da sequência 4
Farsa de Inês Pereira: ponto de partida

Ponto de partida

 Segundo a tradição, a peça foi escrita em resposta a um


desafio lançado por alguns homens sábios de Lisboa, que
colocaram em dúvida a autoria das obras de Gil Vicente,
sugerindo tratar-se de plágio. A fim de provar a sua
inocência, o dramaturgo pediu que lhe dessem um tema
qualquer para que produzisse uma peça e foi-lhe proposto,
então, que criasse um enredo a partir do mote «Mais quero
asno que me leve que cavalo que me derrube», ditado
popular muito comum na época.
Síntese da sequência 4
Farsa de Inês Pereira: estrutura e intriga

Estrutura e intriga

A peça foi representada pela primeira vez em 1523, no


mosteiro de Tomar, perante o rei D. João III, e é considerada a
obra mais complexa que Gil Vicente compôs.

O texto não possui qualquer divisão em atos e cenas; no


entanto, é possível estabelecer várias sequências dramáticas,
através da entrada e saída de personagens.
Síntese da sequência 4
Farsa de Inês Pereira: estrutura e intriga

Inês Pereira é uma jovem emancipada e sonhadora, que pretende


casar-se para se libertar dos trabalhos domésticos a que a Mãe a
obriga. O homem dos seus sonhos, ainda que pobre, tem de ser
discreto, bem-falante e saber cantar e tocar viola.
Síntese da sequência 4
Farsa de Inês Pereira: estrutura e intriga

 Lianor Vaz, uma amiga alcoviteira,


traz-lhe uma proposta de
casamento com Pero Marques,
um camponês rico e trabalhador,
disposto a aceitar Inês sem dote,
de tanto que gosta dela.

 Contudo, a moça recusa este


candidato por se mostrar rústico,
ignorante, ingénuo e um
desconhecedor das regras de
convivência social, sendo, por isso,
incompatível com o seu ideal de
marido.
Síntese da sequência 4
Farsa de Inês Pereira: estrutura e intriga

 Inês casa-se, então, com Brás da


Mata, um escudeiro «discreto»
apresentado por dois judeus
casamenteiros.

 Mas depressa percebe ter feito


uma má opção, já que o Escudeiro
se revela um marido tirano,
maltratando-a, aprisionando-a em
casa e obrigando-a a trabalhar,
sempre sob vigia do Moço.
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Farsa de Inês Pereira: estrutura e intriga

 Inês torna-se, assim, vítima das suas próprias ilusões e


ambições. Lamentando a sua sorte e arrependida da
escolha que fez, deseja ficar solteira para poder
encontrar um marido que possa manipular e, dessa
forma, mudar de vida.
Síntese da sequência 4
Farsa de Inês Pereira: estrutura e intriga

 Entretanto, Brás da Mata parte


para a guerra no Norte de África e,
três meses depois, Inês recebe a
notícia de que o marido tinha sido
morto por um pastor mouro,
enquanto fugia covardemente da
batalha.

 Viúva e mais experiente, fingindo


tristeza pela morte do esposo, Inês
decide casar-se com o antigo
pretendente, Pero Marques, que
apesar de bronco, trata-a bem e
faz-lhe todas as vontades.
Síntese da sequência 4
Farsa de Inês Pereira: estrutura e intriga

 Aproveitando-se da ingenuidade
de Pero, Inês passa a explorar a
dedicação e a liberdade que ele
lhe dá. Num dos seus passeios,
encontra um ermitão que tinha
sido um antigo apaixonado seu e
marca um encontro com ele.

 No dia marcado, Inês convence o


marido a levá-la até à ermida,
dizendo ser por devoção
religiosa. Na sua inocência, Pero
Marques chega ao ponto de a
carregar às costas enquanto a
conduz até ao amante.
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Farsa de Inês Pereira: estrutura e intriga

 Comprova-se, assim, o provérbio que havia sido proposto a Gil


Vicente como tema da farsa.

«Mais quero ASNO que ME leve que CAVALO que me derrube.»

Escudeiro
Pero Inês
Brás
Marques Pereira
da Mata

 Inês aprendeu a lição: mais vale um camponês humilde, que lhe faça
todas as vontades («asno»), do que um marido de comportamento
refinado, mas que a maltrate («cavalo»).
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Farsa de Inês Pereira: dimensão satírica

Dimensão satírica

A sátira, estreitamente ligada ao cómico, ao riso e ao


caricatural, recai principalmente sobre as personagens de Inês
Pereira, Pero Marques e Brás da Mata.
Síntese da sequência 4
Funções sintáticas – Predicativo do complemento direto

Predicativo do complemento direto


Mãe Se este escudeiro há-de vir
e é homem de discrição,
hás-te de pôr em feição,
e falar pouco e não rir.
E mais, Inês, não muito olhar,
e muito chão o menear,
por que te julguem por muda,
porque a moça sesuda
é ua perla pera amar.

 O verso destacado corresponde a uma oração


subordinada adverbial final.
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Funções sintáticas – Predicativo do complemento direto

Predicativo do complemento direto


Se a analisarmos sintaticamente obtemos:

 sujeito: indeterminado;
 predicado: te julguem por muda;
 núcleo do predicado: julguem;
 complemento direto: te (quem julga / considera –
julga / considera alguém).

Falta a função sintática da expressão «por muda».


Repara que é um elemento sintático obrigatório: não seria
aceitável a frase «por que te julguem» / por que te
considerem – sem nada mais.
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Funções sintáticas – Predicativo do complemento direto

Predicativo do complemento direto

 Quem é julgado/considerado é julgado/considerado


alguma coisa («por muda» completa o sentido do
complemento direto «te»). Trata-se de um Predicativo do
complemento direto: por muda.

 Verbos como considerar, achar, eleger, julgar, classificar


selecionam complemento direto e o respetivo predicativo.
Síntese da sequência 4
Arcaísmos

Arcaísmos

 Ao longo da Farsa de Inês Pereira, encontramos muitas


palavras que não usamos hoje em dia, como por exemplo
«ieramá» e «al». Apesar de serem habituais na linguagem
de comunicação nos séculos XV e XVI, estas palavras foram,
com o tempo, deixando de se usar.
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Arcaísmos

Arcaísmos
O mesmo processo verificou-se com os seguintes
vocábulos:

 «chantou» (forma verbal) – plantou, colocou


 «vós» (pronome) – forma de tratamento respeitosa,
mas pouco comum, mais usada em regiões
conservadoras.

As palavras ou construções que caem em desuso, isto é,


que deixam de ser usadas numa determinada língua ou
comunidade linguística, chamam-se arcaísmos.

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