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Rimas de Camões

Leia atentamente o poema de Luís de Camões que se segue.

Como quando do mar tempestuoso


o marinheiro, lasso1 e trabalhado,
d’ um naufrágio cruel já salvo a nado,
só ouvir falar nele o faz medroso;

5 e jura que em que veja bonançoso2


o violento mar, e sossegado
não entre nele mais, mas vai, forçado
pelo muito interesse cobiçoso3;

assi, Senhora, eu, que da tormenta


1 de vossa vista fujo, por salvar-me,
0
jurando de não mais em outra ver-me;

minh’ alma que de vós nunca se ausenta,


dá-me por preço ver-vos, faz tornar-me
donde fugi tão perto de perder-me.
CAMÕES, Luís de, 1994. Rimas (texto estabelecido, revisto e prefaciado
por Álvaro J. da Costa Pimpão). Coimbra: Almedina (p. 138) (1.ª ed.: 1595)

1. cansado; 2. tranquilo; 3. desejoso.

Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

1. Indique o tema da composição poética, justificando a sua resposta.


2. Identifique o recurso estilístico que serve de base ao desenvolvimento do poema e esclareça
a sua expressividade.
3. Comprove, com recurso a passagens textuais, os efeitos contraditórios do amor sobre o
sujeito poético.
4. Explicite a estrutura do texto, delimitando os diferentes momentos da sua organização interna.
5. Descreva formalmente o poema, no que diz respeito a estrofe, métrica e rima.
Rimas de Camões

Leia com atenção o poema de Luís de Camões.

Aqueles claros olhos que, chorando


ficavam quando deles me partia,
agora que farão? Quem mo diria?
Se porventura estarão em mim cuidando?

5 Se terão na memória, como ou quando


deles me vim tão longe de alegria?
Ou s’ estarão aquele alegre dia
que torne a vê-los, n’ alma figurando?

Se contarão as horas e os momentos?


10 Se acharão num momento muitos anos?
Se falarão co as aves e cos ventos?

Oh! bem-aventurados fingimentos,


que nesta ausência tão doces enganos
sabeis fazer aos tristes pensamentos!
CAMOES, Luís de, 1994. Rimas (texto estabelecido, revisto e prefaciado
por Álvaro J. da Costa Pimpão). Coimbra: Almedina (p. 174) (1.ª ed.: 1595)

1. Identifique o tema do poema, justificando devidamente a sua resposta.


2. Descreva a situação emocional do sujeito poético e a respetiva causa.
3. Destaque o valor expressivo do recurso à anáfora e à interrogação retórica nas três primeiras
estrofes.
4. Explicite a função do segundo terceto na estrutura interna da composição.
5. Justifique a classificação do poema como soneto, partindo das suas características formais
(estrofes, métrica e rima).
Rimas de Camões

Leia, atentamente, a seguinte composição poética.


a este moto alheio:

Verdes são os campos

de côr do limão:

assi são os olhos

do meu coração.

5 VOLTAS

Campo, que te estendes

com verdura bela;

10 ovelhas, que nela

vosso pasto tendes;

d' ervas vos mantendes

que traz o Verão,


15
e eu das lembranças

do meu coração.

20 Gados, que paceis1,

co contentamento

vosso mantimento

não no entendeis:

isso que comeis

não são ervas, não:

são graças dos olhos

do meu coração.

Luís de Camões, Rimas.


Texto estabelecido e prefaciado por Álvaro Júlio da Costa
Pimpão. 2005
Coimbra: Edições Almedina.

Glossário:

1. paceis: apascentar; pastar.

3
Rimas de Camões

Apresente, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.
1. Identifique os elementos da natureza interpelados pelo sujeito poético, fundamentado a tua resposta
com as marcas linguísticas.
2. Relacione a interpelação aos interlocutores com o assunto da cantiga.
3. Avalie o efeito de sentido da substituição da comparação que surge no mote do poema pela metáfora
final.

4
Rimas de Camões

Leia o seguinte poema e consulta as notas apresentadas.

mote alheio:

Menina dos olhos verdes,

Por que não me vedes?

voltas próprias:

Eles verdes são,

e têm por usança

5 na cor, esperança,

e nas obras, não.

Vossa condição

não é d’ olhos verdes,

porque não me vedes.

10 Isenções a molhos1,

que eles dizem terdes,

não são d’olhos verdes,

nem de verdes olhos.

Sirvo de giolhos2

15 e vós não me credes,

porque me não vedes3.

Haviam de ser,

por que possa vê-los4,

que uns olhos tão belos

20 não se hão de crer

que já não são verdes,

porque me não vedes.

5
Rimas de Camões
Verdes não o são,

25 no que alcanço deles;

verdes são aqueles

que esperança dão.

Se na condição

está serem verdes,

30 por que não me vedes?

Camões, Lírica Completa – I, prefácio e notas de Maria de Lourdes Saraiva,


2.ª edição, Lisboa: IN-CM, 1994, p. 157.

1
Isenções a molhos: completa liberdade.
2
giolhos: joelhos.
3
vv. 15-16: não correspondeis ao meu amor, porque não me prestais qualquer atenção.
4
vv.17-18: havia de existir uma maneira de eu poder vê-los.

1. Esclareça o sentido do mote.


2. Explicite o jogo de palavras que está no centro deste poema.
3. Interprete a simbologia da cor verde neste poema.
4. Analise formalmente o poema.

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