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Grupo I
Parte A
Leia, com muita atenção, o excerto retirado do Sermão de Santo António, do Padre António
Vieira.
1 Ia Jonas, Pregador do mesmo Deus, embarcado em um navio, quando se levantou aquela
grande tempestade; e como o trataram os homens, como o trataram os peixes? Os homens
lançaram-no ao mar a ser comido dos peixes, e o peixe que o comeu levou-o às praias de
Nínive, para que lá pregasse e salvasse aqueles homens. É possível que os peixes ajudam à
5 salvação dos homens, e os homens lançam ao mar os ministros da salvação? Vede, peixes, e
não vos venha vanglória, quanto melhores sois que os homens. Os homens tiveram entranhas
para deitar Jonas ao mar, e o peixe recolheu nas entranhas a Jonas, para o levar vivo à terra.
Mas porque nestas duas ações teve a maior parte a Omnipotência que a natureza (como
também em todas as milagrosas que obram os homens) passo às virtudes naturais e próprias
10 vossas. Falando dos peixes, Aristóteles diz que só eles entre todos os animais se não domam
nem domesticam. Dos animais terrestres o cão é tão doméstico, o cavalo tão sujeito, o boi tão
serviçal, o bugio tão amigo ou tão lisonjeiro, e até os leões e os tigres com arte e benefícios se
amansam. Dos animais do ar, afora aquelas aves que se criam e vivem connosco, o papagaio
nos fala, o rouxinol nos canta, o açor nos ajuda e nos recreia; e até as grandes aves de rapina,
15 encolhendo as unhas, reconhecem a mão de quem recebem o sustento. Os peixes, pelo
contrário, lá se vivem nos seus mares e rios, lá se mergulham nos seus pegos, lá se escondem
nas suas grutas, e não há nenhum tão grande que se fie do homem, nem tão pequeno que não
fuja dele. Os autores comummente condenam esta condição de peixes, e a deitam à pouca
docilidade ou demasiada bruteza; mas eu sou de mui diferente opinião. Não condeno, antes
20 louvo muito aos peixes este seu retiro, e me parece que, se não fora natureza, era grande
prudência. Peixes, quanto mais longe dos homens, tanto melhor; trato e familiaridade com eles,
Deus vos livre! Se os animais da terra e do ar querem ser seus familiares, façam-no muito
embora, que com suas pensões o fazem. Cante-lhes aos homens o rouxinol, mas na sua gaiola¸
diga-lhes ditos o papagaio, mas na sua cadeia; vá com eles à caça o açor, mas nas suas pioses;
25 faça-lhe bufonerias o bugio, mas no seu cepo; contente-se o cão de lhes roer um osso, mas
levado onde não quer pela trela; preze-se o boi de lhe chamarem formoso ou fidalgo, mas com
o jugo sobre a cerviz, puxando pelo arado e pelo carro; glorie-se o cavalo de mastigar freios
dourados, mas debaixo da vara e da espora; e, se os tigres e os leões lhes comem a ração da
carne que não caçaram no bosque, sejam presos e encerrados com grades de ferro. E,
30 entretanto, vós, peixes, longe dos homens e fora dessas cortesanias, vivereis só convosco, sim,
mas como peixe na água.
Padre António Vieira, in Sermão de Santo António
Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem,
fundamentando as suas respostas com marcas textuais pertinentes, sempre que for necessário.
1. Situe o excerto transcrito na estrutura externa e interna do Sermão, justificando a resposta
com base nas evidências apresentadas no mesmo. (10 pontos)
2. Explicite as razões da interpelação dos “peixes”, por parte do Padre António Vieira, ao
longo do excerto. (20 pontos)
3. Sintetize as críticas feitas pelo pregador neste excerto, documentando as mesmas com a
seleção de marcas textuais relevantes. (20 pontos)
4. Refira três recursos expressivos a que recorre o orador ao longo do excerto, comprovando,
textualmente, cada um deles e explicitando o seu valor expressivo no contexto linguístico em que
surgem. (20 pontos)
Parte B
Leia, atentamente, a cantiga apresentada.
Consulte as notas, em caso de necessidade.
Notas
1. consigo. 2. Sois. 3. sem coração, implacável. 4. agradecer. 5. pois o.
5. Explicite a situação exposta pelo sujeito poético ao longo da cantiga, exemplificando a resposta
com a transcrição de marcas textuais relevantes. (20 pontos)
sermões (a parte da obra mais conhecida e com um lugar mais central no cânone), cartas, escritos políticos sobre
os judeus, sobre os índios, e também poesia e teatro. Nesta proliferação, Padre António Vieira foi um homem
verdadeiramente barroco. Há aqui, portanto, razões plausíveis (ou pelo menos, bastante mais plausíveis do que
10 aquelas que têm ditado uma má fortuna editorial de muitos outros clássicos da literatura portuguesa) para que a
obra completa de Padre António Vieira nunca tenha sido editada. Ora, é essa a tarefa por fazer que uma equipa
internacional de cerca de meia centena de investigadores […] promete levar a cabo, […] um projeto de edição da
obra completa de Padre António Vieira em 30 volumes, distribuídos por 4 tomos.
Com o alto patrocínio da Universidade de Lisboa, a intervenção mecenática 1 da Santa Casa da Misericórdia de
15 Lisboa e a produção editorial do Círculo de Leitores, o projeto foi publicamente inaugurado em abril, com a saída
de três volumes da Obra Completa: As Cartas Diplomáticas (primeiro volume da epistolografia, coordenado por
Carlos Maduro) e A Chave dos Profetas (vols. V e VI do Tomo III, coordenação de Pedro Calafate, tradução do latim
de António Guimarães Pinto). […]
António Guerreiro, in Público, Ípsilon, 28 de junho de 2013.
Nota: 1 mecenática: protetora.
1. Para responder a cada um dos itens de 1.1 a 1.7, selecione a única opção que permite obter uma
afirmação correta. (5 pontos cada item, 5 X 7 itens = 35 pontos)
Escreva, na folha de respostas, o número de cada item e a letra que identifica a opção escolhida.
1.3 Segundo o autor, Padre António Vieira foi um homem verdadeiramente barroco devido
(A) à variedade de géneros e espécies da sua obra.
(B) à influência da arte do século em que viveu [séc. XVII].
(C) às suas “deambulações” (linha 6) por todo o mundo.
(D) à exuberância retórica dos seus sermões.
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1.4 No segmento textual “pela obra de Padre António Vieira” (linha 1), a função sintática
presente é
(A) o predicativo do sujeito.
(B) o complemento oblíquo.
(C) o predicativo do complemento direto.
(D) o complemento agente da passiva.
1.5 No segmento textual “também uma dispersão por Arquivos em vários países” (linhas 4-5),
a palavra sublinhada é
(A) uma conjunção coordenativa conclusiva”
(B) um advérbio de inclusão.
(C) uma conjunção coordenativa copulativa.
(D) um advérbio conectivo.
1.6 No segmento textual “têm ditado uma má fortuna editorial” (linha 10), o verbo está
(A) no pretérito mais-que-perfeito composto do indicativo.
(B) no presente do indicativo.
(C) no presente do conjuntivo.
(D) no pretérito perfeito composto do indicativo.
1.7 No segmento textual “é essa a tarefa por fazer que uma equipa internacional de cerca de
meia centena de investigadores […] promete levar a cabo” (linhas 11-12), a palavra
sublinhada é
(A) uma conjunção subordinativa completiva.
(B) um pronome relativo.
(C) uma conjunção subordinativa causal.
(D) uma conjunção subordinativa consecutiva.
A exploração humana, tão denunciada, pelo Padre António Vieira, no Sermão de Santo
António, continua, em pleno século XXI, a aumentar vertiginosamente, sem que se encontrem
respostas e soluções eficazes que a possam combater ou a façam erradicar da sociedade.
Num texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de 200 e um máximo de 350
palavras, defenda uma perspetiva pessoal sobre a questão apresentada.
Deverá fundamentar o seu ponto de vista, recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e
ilustrando cada um deles com, pelo menos, um exemplo pertinente.
Recorra a um discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito). (40 pontos)
FIM
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