Você está na página 1de 3

91

O CHAPEUZINHO VERMELHO

Era uma vez uma menina de Aldeia, a mais bonita que se poderia ver; sua
mãe era louca por ela, e a avó, mais louca ainda. Essa boa senhora mandou
fazer para ela um chapeuzinho vermelho que lhe ficava tão bem que todos
a chamavam de Chapeuzinho Vermelho.
Um dia, sua mãe, tendo acendido o forno para assar pães, e tendo
feito também umas broas, disse-lhe: “Vai ver como está a saúde da tua avó,
pois me disseram que ela andava adoentada; leva para ela uma broa e este
potinho de manteiga”. Chapeuzinho Vermelho pôs-se imediatamente a
caminho para ir à casa da vovó, que morava numa outra Aldeia. Ao passar
por um bosque, encontrou o compadre Lobo, que ficou com uma enorme
vontade de comê-la; mas não quis arriscar, por causa de alguns Lenhadores
que estavam na Floresta. Perguntou aonde ela ia; a pobre criança, que não
sabia que era perigoso parar para ficar escutando um Lobo, disse-lhe: “Vou
visitar a minha Vovó, e levar-lhe uma broa com um potinho de manteiga
que a minha Mãe mandou para ela”. — “Ela mora muito longe?” perguntou
92 Charles Perrault

o Lobo. — “Ah! sim”, disse o Chapeuzinho Vermelho, “é depois daquele


moinho que você está vendo lá longe, longe, na primeira casa da Aldeia”.
— “Pois bem”, disse o Lobo, “eu também quero ir visitá-la; eu vou por este
caminho aqui, e tu, por aquele ali, e a gente vai ver quem chega primeiro”.
O Lobo saiu correndo com toda a força pelo caminho que era mais curto,
e a menina foi pelo mais comprido, brincando de colher flores e avelãs,
correndo atrás das borboletas e fazendo brinquedos com as florezinhas que
encontrava. O Lobo não demorou a chegar na casa da Vovó; bateu à porta:
Toc, toc. — “Quem é?” — “É a sua netinha, Chapeuzinho Vermelho (disse o
Lobo imitando a voz da menina); estou lhe trazendo uma broa e um potinho
de manteiga que a Mamãe mandou para a senhora”. A boa Vovó, que estava
acamada porque se sentia um pouco mal, gritou-lhe: “Puxa o barbante que
o trinco se abre”. O Lobo puxou o barbante e a porta se abriu. Ele se atirou
sobre a boa senhora e devorou-a num abrir e fechar de olhos, pois fazia três
dias que não comia. Em seguida fechou a porta, foi deitar-se na cama da
Vovó e ficou esperando Chapeuzinho Vermelho que, algum tempo depois,
veio bater à porta. Toc, toc. “Quem é?” O Chapeuzinho Vermelho, que
ouviu a voz grossa do Lobo, ficou com medo de início, mas julgando que a
Vovó estivesse resfriada, respondeu: “É sua neta, o Chapeuzinho Vermelho,
que está lhe trazendo uma broa e um potinho de manteiga que a Mamãe
mandou para a senhora”. O Lobo gritou, afinando um pouco a voz: “Puxa o
barbante que o trinco se abre”. O Chapeuzinho Vermelho puxou o barbante
e a porta se abriu. O Lobo, vendo-a entrar, disse, escondendo-se na cama,
debaixo das cobertas: “Põe a broa e o potinho de manteiga em cima da arca
e vem deitar-te comigo”. Chapeuzinho Vermelho despe-se e vai pôr-se na
cama, onde ficou muito espantada com o jeito como a Vovó era sem roupa.
Então lhe disse: “Vovozinha, como a senhora tem braços grandes!” — “É
para te abraçar melhor, minha netinha.” — “Vovozinha, como a senhora tem
pernas grandes!” — “É para correr melhor, minha netinha.” — “Vovozinha,
como a senhora tem orelhas grandes!” — “É para melhor te escutar, minha
netinha.” — “Vovozinha, como a senhora tem olhos grandes!” — “É para
te ver melhor, minha netinha.” — “Vovozinha, como a senhora tem dentes
grandes!” — “É para te comer”. E dizendo isso, o Lobo mau se atirou sobre
Chapeuzinho Vermelho e a comeu.
O Chapeuzinho Vermelho 93

MORAL

Aqui se vê que muitas crianças,


Principalmente as menininhas,
Bonitas, jeitosas, boazinhas,
Não fazem bem de a toda gente dar confiança,
E que não é coisa que espanta
Se o lobo anda comendo tantas.
Eu digo o lobo, pois tais animais
Não são todos iguais;
Há os que são de amável humor,
Sem ruído, sem fel e sem rancor,
Que, mansos, bons, domesticados,
Das Mocinhas seguem ao lado,
Até nas casas, e nos quartos reservados;
Mas cuidado! É sabido: um Lobo assim meloso
Dos Lobos todos é o mais perigoso.

Você também pode gostar