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Três versõ es de um conto

CHAPEUZINHO VERMELHO (transcrição da versão oral)

Certo dia, a mã e de uma menina mandou que ela levasse um pouco de pã o e de leite
para sua avó . Quando a menina ia caminhando pela floresta, um lobo aproximou-se e
perguntou-lhe para onde se dirigia:
– Para casa da vovó – ela respondeu.
– Por que caminho você vai, o dos alfinetes ou das agulhas?
– O das agulhas.
Entã o o lobo seguiu pelo caminho dos alfinetes e chegou primeiro à casa. Matou a avó ,
despejou seu sangue numa garrafa e cortou sua carne em fatias, colocando tudo numa
travessa. Depois, vestiu sua roupa de dormir e ficou deitado na cama, à espera.
Pam, pam.
– Entre querida.
– Olá , vovó . Trouxe para a senhora um pouco de pã o e de leite.
– Sirva-se também de alguma coisa, minha querida. Há carne e vinho na copa.
A menina comeu o que lhe era oferecido e, enquanto o fazia, um gatinho disse: “menina
perdida! Comer a carne e beber o sangue de sua avó !”
Entã o, o lobo disse:
– Tire a roupa e deite-se na cama comigo.
Chapeuzinho Vermelho
Charles Perrault
Havia, numa cidadezinha, uma menina que todos achavam muito bonita. A mã e era doida
por ela e a avó mais ainda. Por isso, sua avó lhe mandou fazer um pequeno capuz vermelho
que ficava muito bem na menina. Por causa dele, ela ficou sendo chamada, em toda parte, de
Chapeuzinho Vermelho.
Um dia em que sua mã e tinha preparado umas tortas, disse para ela:
– Vai ver como está passando tua avó , pois eu soube que ela anda doente. Leva uma torta e
um potezinho de manteiga.
Chapeuzinho Vermelho saiu em seguida para ir visitar sua avó que morava em outra
cidadezinha.
Quando atravessava o bosque, ela encontrou compadre Lobo que logo teve vontade de
comer a menina. Mas nã o teve coragem por causa de uns lenhadores que estavam na
floresta.
O Lobo perguntou aonde ela ia. A pobrezinha, que nã o sabia como é perigoso parar para
escutar um Lobo, disse para ele:
– Eu vou ver minha avó e levar para ela uma torta e um potezinho de manteiga que minha
mã e está mandando.
– Ela mora muito longe? – perguntou o Lobo.
– Oh! sim, – respondeu Chapeuzinho Vermelho. – É pra lá daquele moinho que você está
vendo bem lá embaixo. É a primeira casa da cidadezinha.
– Pois bem, – disse o Lobo, – eu também quero ir ver sua avó . Eu vou por este caminho daqui
e você vai por aquele de lá. Vamos ver quem chega primeiro.
O Lobo pô s-se a correr com toda sua força pelo caminho mais curto. A menina foi pelo
caminho mais longo, distraindo-se a comer avelãs, correndo atrá s das borboletas e fazendo
ramalhetes com as florzinhas que encontrava.
O Lobo nã o levou muito tempo para chegar à casa da avó . Bateu na porta: toc, toc.
– Quem está aí?
– É sua neta, Chapeuzinho Vermelho – disse o Lobo, mudando a voz. Eu lhe trago uma
torta e um potezinho de manteiga que minha mã e mandou pra você.
A bondosa avó , que estava na cama porque nã o passava muito bem, gritou:
– Puxe a tranca que o ferrolho cairá .
O Lobo puxou a tranca e a porta se abriu. Ele avançou sobre a pobre mulher e devorou-a
num instante, pois fazia mais de três dias que nã o comia. Em seguida, fechou a porta e
foi se deitar na cama da avó . Ficou esperando Chapeuzinho Vermelho que, um pouco
depois, bateu na porta: toc, toc.
– Quem está aí?
Chapeuzinho Vermelho, ao escutar a voz grossa do Lobo, teve medo, mas pensando que
a voz de sua avó estava diferente por causa do resfriado, respondeu:
– É sua neta, Chapeuzinho Vermelho, que traz uma torta pra você e um potezinho de
manteiga que minha mãe lhe mandou.
O Lobo gritou para ela, adocicando um pouco a voz:
– Puxe a tranca que o ferrolho cairá .
Chapeuzinho Vermelho puxou a tranca e a porta se abriu.
O Lobo, vendo que ela tinha entrado, escondeu-se na cama, debaixo da coberta, e falou:
– Ponha a torta e o potezinho de manteiga sobre a caixa de pã o e venha se deitar
comigo.
Chapeuzinho Vermelho tirou o vestido e foi para a cama, ficando espantada de ver como
sua avó estava diferente ao natural. Disse para ela:
– Minha avó , como você tem braços grandes!
– É pra te abraçar melhor, minha filha.
– Minha avó , como você tem pernas grandes!
– É pra correr melhor, minha menina.
– Minha avó , como você tem orelhas grandes!
– É pra escutar melhor, minha menina.
– Minha avó , como você tem olhos grandes!
– É pra ver melhor minha menina.
– Minha avó , como você tem dentes grandes!
– É pra te comer.
E dizendo estas palavras, o Lobo saltou pra cima de Chapeuzinho Vermelho e a
devorou.

MORAL
Vimos que os jovens, principalmente as moças, lindas, elegantes e educadas,
fazem muito mal em escutar qualquer tipo de gente, assim, nã o será de
estranhar que, por isso, o lobo as devore. Eu digo o lobo porque todos os lobos
nã o sã o do mesmo tipo. Existe um que é manhoso, macio, sem fel, sem furor.
Fazendo-se de íntimo, gentil e adulador, persegue as jovens moças até em suas
casas e seus aposentos. Atençã o, porém! As que nã o sabem que esses lobos
melosos de todos eles sã o os mais perigosos.

PERRAULT, Charles. Chapeuzinho Vermelho. In: TATAR, Maria. Contos de Fadas. Trad.
Ma Luíza Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. p. 77-82.
CHapeuzinho Vermelho
Irmãos Grimm

Era uma vez, uma menina tã o doce e meiga que todos gostavam dela. A avó , entã o, a
adorava, e nã o sabia mais que presente dar a criança para agradá -la. Um dia ela
presenteou-a com um chapeuzinho de veludo vermelho.
O chapeuzinho agradou tanto a menina e ficou tã o bem nela, que ela queria ficar com
ele o tempo todo. Por causa disso, ficou conhecida como Chapeuzinho Vermelho.
Um dia sua Mã e lhe chamou e lhe disse:
_ Chapeuzinho, leve este pedaço de bolo e essa garrafa de vinho para sua avó . Ela está
doente e fraca, e isto vai fazê-la ficar melhor. Comporte-se no caminho, e de modo
algum saia da estrada, ou você pode cair e quebrar a garrafa de vinho e ele é muito
importante para a recuperaçã o de sua avó .
Chapeuzinho prometeu que obedeceria a sua mã e e pegando a cesta com o bolo e o
vinho, despediu-se e partiu.
Sua avó morava no meio da floresta, distante uma hora e meia da vila. Logo que
Chapeuzinho entrou na floresta, um Lobo apareceu na sua frente. Como ela nã o o
conhecia nem sabia que ele era um ser perverso, nã o sentiu medo algum.
_ Bom dia Chapeuzinho - saudou o Lobo.
_ Bom dia, Lobo - ela respondeu.
_ Aonde você vai assim tã o cedinho, Chapeuzinho?
_ Vou à casa da minha avó .
_ E o que você está levando aí nessa cestinha?
_ Minha avó está muito doente e fraca, e eu estou levando para ela um pedaço de bolo
que a mamã e fez ontem, e uma garrafa de vinho. Isto vai deixá -la forte e saudá vel.
_ Chapeuzinho, diga-me uma coisa, onde sua avó mora?
_ A uns quinze minutos daqui. A casa dela fica debaixo de três grandes carvalhos e é
cercada por uma sebe de aveleiras. Você deve conhecer a casa.
O Lobo pensou consigo: "Esta tenra menina é um delicioso petisco. Se eu agir rá pido
posso saborear sua avó e ela como sobremesa”.
Entã o o Lobo disse:
_ Escute Chapeuzinho, você já viu que lindas flores há nessa floresta? Por que você nã o
dá uma olhada? Você nã o está ouvindo os pássaros cantando? Você é muito séria, só
caminha olhando para frente. Veja quanta beleza há na floresta.
Chapeuzinho entã o olhou a sua volta, e viu a luz do sol brilhando entre as á rvores, e viu
como o chã o estava coberto com lindas e coloridas flores, e pensou: "Se eu pegar um
buquê de flores para minha avó , ela vai ficar muito contente. E como ainda é cedo, eu nã o
vou me atrasar”.
E, saindo do caminho entrou na mata. E sempre que apanhava uma flor, via outra mais
bonita adiante, e ia atrá s dela. Assim foi entrando na mata cada vez mais. Enquanto isso,
o Lobo correu à casa da avó de Chapeuzinho e bateu na porta.
_ Quem está aí? - perguntou a velhinha.
_ Sou eu, Chapeuzinho - falou o Lobo disfarçando a voz - Vim trazer um pedaço de bolo e
uma garrafa de vinho. Abra a porta para mim.
_ Levante a tranca, ela está aberta. Nã o posso me levantar, pois estou muito fraca. -
respondeu a vovó .
O Lobo entrou na casa e foi direto à cama da vovó , e a engoliu antes que ela pudesse vê-
lo. Entã o ele vestiu suas roupas, colocou sua touca na cabeça, fechou as cortinas da cama,
deitou-se e ficou esperando Chapeuzinho Vermelho.
E Chapeuzinho continuava colhendo flores na mata. E só quando nã o podia mais
carregar nenhuma é que retornou ao caminho da casa de sua avó .
Quando ela chegou lá , para sua surpresa, encontrou a porta aberta.
Ela caminhou até a sala, e tudo parecia tã o estranho que pensou: "Oh, céus, por quê
será que estou com tanto medo? Normalmente eu me sinto tã o bem na casa da vovó ...”.
Entã o ela foi até a cama da avó e abriu as cortinas. A vovó estava lá deitada com sua
touca cobrindo parte do seu rosto, e, parecia muito estranha...
_ Oh, vovó , que orelhas grandes a senhora tem! - disse entã o Chapeuzinho.
_ É para te ouvir melhor.
_ Oh, vovó , que olhos grandes a senhora tem!
_ É para te ver melhor.
_ Oh, vovó , que mã os enormes a senhora tem!
_ Sã o para te abraçar melhor.
_ Oh, vovó , que boca grande e horrível à senhora tem!
_ É para te comer melhor - e dizendo isto o Lobo saltou sobre a indefesa menina, e a
engoliu de um só bote.
Depois que encheu a barriga, ele voltou à cama, deitou, dormiu, e começou a roncar
muito alto. Um caçador que ia passando ali perto escutou e achou estranho que uma
velhinha roncasse tã o alto, entã o ele decidiu ir dar uma olhada. Ele entrou na casa, e viu
deitado na cama o Lobo que ele procurava há muito tempo.
E o caçador pensou: "Ele deve ter comido a velhinha, mas talvez ela
ainda possa ser salva. Nã o posso atirar nele”. Entã o ele pegou uma
tesoura e abriu a barriga do Lobo. Quando começou a cortar, viu surgir
um chapeuzinho vermelho. Ele cortou mais, e a menina pulou para fora
exclamando:
- Eu estava com muito medo! Dentro da barriga do lobo é muito escuro!
E assim, a vovó foi salva também.
Entã o Chapeuzinho pegou algumas pedras grandes e pesadas e colocou
dentro da barriga do lobo.
Quando o lobo acordou tentou fugir, mas as pedras estavam tã o
pesadas que ele caiu no chã o e morreu.
E assim, todos ficaram muito felizes.
O caçador pegou a pele do lobo.
A vovó comeu o bolo e bebeu o vinho que Chapeuzinho havia trazido, e
Chapeuzinho disse para si mesma: “Enquanto eu viver, nunca mais vou
desobedecer minha mã e e desviar do caminho nem andar na floresta
sozinha e por minha conta”.

GRIMM, Jacob e Wilhein. Chapeuzinho Vermelho. In: TATAR, Maria. Contos de Fadas.
Trad. Ma Luíza Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. p. 145-152.
Pequeno histórico da emergência da
noção de infância
Emergência da burguesia Possibilidade do vir
a ser Invençã o do sentimento de infâ ncia
Modificaçã o do papel da escola Surgimento
da literatura infantojuvenil.

Invençã o da prensa tipográ fica Difusã o do


livro Necessidade de preparaçã o das
crianças para o acesso à s informaçõ es
difundidas através dos livros.

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