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ZÉ DO CAIXÃO: PERSONAGEM DE
HORROR
FOLHA DE APROVAÇÃO
______________________________________________
Prof (a) Dr(a) Sandra Lucia Amaral de Assis Reimão
Orientadora e Presidente da Banca Examinadora
______________________________________________
Prof. Dr. Sebastião Squirra
Coordenador do Programa de Pós-Graduação
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Agradecimentos
Agradeço em especial meus pais José Marques de Melo e Silvia Marques, pessoas
indispensáveis na minha formação como cidadão, vocês são o início de tudo. Ainda em
especial, Priscila, esposa carinhosa e companheira de tantos anos e aos meus filhos,
Gabriel e Beatriz, sementes do amanhã que me encantam nos seus primeiros livros e
palavrinhas todos os dias e que, mesmo com dificuldade, entenderam minha ausência e
Aos meus amigos Danilo Beiruth e Joaquim Ghirotti, agradeço por todas as discussões
Meus agradecimentos também a todos os que viabilizaram a conclusão desta obra, cada
um com sua peculiaridade como: a Prof. Drª Sandra Reimão, minha orientadora, que
acreditou no meu projeto desde o início e me apoiou, sendo objetiva no ponto certo e
Doutorado.
Meus agradecimentos são para todos os que de alguma forma fizeram parte desta nova
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SUMÁRIO
Página
INTRODUÇÃO.........................................................................................08
1. O horror na literatura..........................................................................18
2. O horror no cinema..............................................................................24
3. A teoria do horror..................................................................................36
CONCLUSÃO.................................................................................................167
REFERÊNCIAS......................................................................................172
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Resumo:
Drácula. Por fim, nos detemos na personagem Zé do Caixão buscando entender sua
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Resumen:
identidad del horror brasileño; 2) comparar este personaje nacional con Drácula, el
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Abstract:
This work attempts to understand the character Zé do Caixão (Coffin Joe) in two
correlated aspects: 1) As a character which can be classified as one that belongs to the
horror genre and; 2) Using a comparative procedure between this character and the
discussions, firstly, we set up the main lines of a theoretical framework of the concept
of the horror genre; after that, we focus in the construction of Dracula as a character.
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INTRODUÇÃO
personagens de outros gêneros ficcionais. Afinal, como algo criado para assustar e
provocar repulsa pode ser atraente? Este é o caso das personagens monstruosas que
habitam as narrativas de horror. Esta questão também pode ser formulada de outra
maneira: por que alguém se interessaria pelo horror já que a experiência de tal sensação
gênero horror, afinal como alguém pode ficar apavorado com o que sabe não existir?
mecanismos e recursos que estas personagens se utilizam para cumprir sua função
narrativa será de grande valia para compreender Zé do Caixão, objeto deste estudo.
personagem do gênero mais estudada no mundo e uma referência completa para compor
entendimento do objeto de estudo. Desta maneira poderemos obter uma visão mais
ampla da personagem no gênero a que ela se vincula, ao contrário da maioria dos textos
sobre Zé do Caixão que costumam observá-lo dentro do cinema em geral ou sob a ótica
que ele se vale para se perpetuar como parte do imaginário cultural brasileiro e ver
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no gênero a que pertence. Para tanto pretende-se inicialmente esboçar um perfil teórico-
meta a ser atingida; bem como, observar a personagem Zé do Caixão sob o prisma dos
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Horror hoje
reconhecida de estímulo estético. “De fato, ele pode até ser o gênero de vida mais longa,
1999, p.12). Os romances de horror, que já conquistaram o mercado literário nos EUA,
ganham cada vez mais espaço nas prateleiras das livrarias brasileiras. Enquanto escrevo
estas linhas, os romances vampíricos Crepúsculo (2005), Eclipse (2006) e Lua Nova
(2007) de Stephenie Meyer figuram nas listas de livros de ficção mais vendidos no
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por Alexandre Avancini, que também apresenta vampiros, dentre outros monstros, com
monstruosos, como álbum de figurinhas, material escolar e roupas. Vale lembrar que
Record, Caminhos do Coração (2007) dirigida por Alexandre Avancini, que também
trem à estação em 1895 pelos irmãos Lumiére, podemos notar o grande potencial deste
suporte material para o gênero horror, já que os relatos deste evento destacam que o
público e gerando cada vez mais produções do gênero. Desde o sucesso de bilheteria de
horror. Nas últimas décadas ao visitar cinemas com multi-salas de exibição no Brasil é
muito raro não encontrar ao menos uma produção de horror. O gênero também floresceu
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diretores mais perseguidos durante a ditadura militar brasileira (1964-1985), deu início a
Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver em 1967. Porém o terceiro filme que traria
uma conclusão à trajetória de Zé do Caixão nunca havia sido realizado por diversos
metragem de Mojica encerra a trilogia de Zé do Caixão que levou mais de 30 anos para
mantendo seu criador como ícone do horror brasileiro. A personagem de Mojica desde
sua criação vem habitando o imaginário nacional graças à habilidade de seu criador em
mantê-la viva por meio de adaptações para outros meios de comunicação de massa
cult sendo conhecido como Coffin Joe e Mojica Marins é reconhecido como um dos
pioneiros do gore1 no cinema juntamente com Herschell Gordon Lewis. Mesmo tendo
ficado longe das telas por cerca de trinta anos, Zé do Caixão é provavelmente a
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“Subgênero do cinema de terror que se caracteriza por seqüências de clímax de larga duração e extrema
violência, mutilações, sangue, vísceras e personagens pouco realistas. Costuma manifestar-se em filmes
de baixo orçamento. (...) Existe no audiovisual japonês uma corrente gore que se produz tanto no cinema
de imagens reais como no cinema de desenhos animados.” (RAMOS, 2002, p.285)
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gênero no Brasil, frente a este quadro teórico. A personagem modelo para esta análise
comparativa, Drácula, funciona como referência ideal já que está plenamente encaixada
nos textos que servem de base para a teoria do horror. Além das considerações sobre a
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Dois dos mais relevantes estudos sobre o gênero horror, utilizados neste estudo,
primeiro foi Howard Phillips Lovecraft (1890-1937) que manteve vivo o horror cósmico
nos Estados Unidos e influenciou uma geração de novos escritores de terror através de
escreveu Dança Macabra, em que se dedica a estabelecer sua visão sobre o gênero
horror. King, diferentemente de Lovecraft, que não conheceu o sucesso como escritor
gênero nos últimos trinta anos, não se limitando apenas à literatura, mas centrando-se no
também dedica espaço para discutir a personagem de horror, seja pelo aspecto da
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Diferentemente dos textos acima citados, cuja autoria traz a ótica interna
exclusiva daquele que cria dentro do gênero, o trabalho de maior relevância para esta
pesquisa traz a visão externa e o distanciamento afetivo do gênero para construir uma
com o gênero do horror o que Aristóteles fez com a tragédia. Carroll segue a linha de
chave do filme de horror (também suscitada por King em sua pesquisa), o paradoxo
paradigma do que pode ser a filosofia de um gênero artístico, Carroll apresenta uma
explicação do horror tendo como foco os efeitos emocionais que o gênero se destina a
um efeito emocional, Carroll tenta isolar esse efeito com um exame e análise das figuras
recorrentes e das estruturas de enredo usadas pelo gênero para mostrar como estas
estruturas características são arranjadas para causar a emoção que ele denomina “horror
artístico”. Este tratado sobre o horror se concentra nos enigmas próprios do gênero,
batizados pelo autor como “Paradoxos do Coração”. “Em relação ao horror, esses
paradoxos podem ser resumidos nas duas perguntas seguintes: 1) como pode alguém
ficar apavorado com o que sabe não existir, e 2) por que alguém se interessaria pelo
horror, uma vez que ficar horrorizado é tão desagradável” (CARROLL, 1999, p.21)?
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diferente daquelas apresentadas por Lovecraft, King e por muitos críticos acadêmicos,
que oferecem reflexões gerais sobre o horror no primeiro capítulo para posteriormente
propõe uma explicação da natureza do horror sob o ponto de vista do aspecto emocional
que o gênero procura gerar. Além de definir o horror e apresentar o termo “horror
paradoxo da ficção que ao ser aplicado ao horror pode ser exemplificado com a questão
de como podemos ficar apavorados com aquilo que sabemos não existir. Faz um
minucioso exame dos enredos mais recorrentes no gênero e coloca uma extensa
característico das narrativas de horror, que serve como referência para a formação do
quadro teórico conceitual do horror neste estudo. Outra obra referencial nesta pesquisa é
A Personagem de Ficção, organizada por Antônio Cândido, que traz textos que
racional para entender a gênese da personagem e assim apreender as origens dos seres
pesquisas. Vale destacar os textos referenciais para caracterizar Drácula neste projeto. O
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para diversos veículos de comunicação. The Vampire Book, de J. Gordon Melton, faz
como ícone da cultura pop. Voivode: estudos sobre os vampiros, organizado por Cid
da literatura e do cinema em sua difusão sob uma ampla gama de perspectivas, dentre
elas: antropologia, psicologia e crítica literária. Estudos semelhantes aos citados fazem
cinema de horror.
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audiência.
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sua gênese como ser ficcional. Também são observadas suas adaptações no Brasil.
personagem Drácula. Este exame comparativo tem como referências centrais os longas-
metragens Dracula (1931), para Drácula e À Meia Noite Levarei sua Alma (1964) e
confirmação das hipóteses deste estudo bem como o sucesso de seus objetivos.
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breve histórico do gênero horror na literatura e no cinema para que o leitor possa obter
personagens em sua constituição. Não se pretende aqui fazer uma longa compilação de
títulos de obras ou realizadores. Mas sim traçar uma linha cronológica que permita ao
leitor, distante do tema aqui tratado, contextualizar o objeto deste estudo e assim
1. O horror na literatura
os ouvintes que se reuniam à noite para se emocionar com estes relatos. Histórias que
fossem eles egípcios, gregos, indianos, persas ou romanos. Porém uma das referências a
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metade do segundo milênio da era cristã com o surgimento dos contos de fadas. A
origem destas narrativas “está relacionada à literatura cortesã da idade média, por volta
do século VII e nas novelas de espada” (GONÇALO, 2008, p.59). Traziam seres
bizarros que representavam o mal que eram confrontados pelo herói antes de vencer no
final. “Os primeiros textos eram marcados por situações que iam do adultério e do
difundidas pelo ocidente a partir dos anos 1800, geralmente transmitindo ensinamentos
morais.
contos isolados.
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Porém não se deve confundir este tipo de literatura, em que o formalismo ou a ironia do
onde agem forças externas, não-naturais, para gerar uma sensação sufocante e
inexplicável de horror.
Assim, uma obra de horror não deve ser avaliada somente pela intenção do autor ou pela
mecânica do enredo, mas pelo plano emocional que o leitor atinge ao estabelecer
literatura corrente é fruto do século dezoito. A literatura gótica, cujo apogeu se deu entre
1780 e 1820, pode ser considerada como precursora do terror como gênero. As
Também incluía o nobre perverso como vilão, a heroína inocente, vítima dos principais
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uso de nomes italianos para os personagens, bem como temas envolvendo segredos do
inicial da literatura gótica. Uma narrativa sobrenatural que ganhou ampla e instantânea
Charles Maturin, como o último suspiro do gênero. Tem início, então, o declínio, com
p.63).
Com a publicação dos poemas e contos de Edgar Allan Poe, como aponta
Lovecraft (1987, p.47), o horror no século XIX ganha uma nova dimensão, afetando
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diretamente a história não apenas da narrativa fantástica, mas também a da ficção curta
cultuados como pequenas obras primas. Antes de Poe a maioria dos autores de horror
conformismo com certas convenções literárias, como o final feliz, a virtude premiada,
ficção de horror, Dracula (1897), de Bram Stoker, cujo personagem central será objeto
Ainda neste século vale destacar A Volta do Parafuso (1898), de Henry James.
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língua inglesa, James se aventurou em fazer uma das histórias mais aterrorizantes já
1930 um número maior de pessoas passou a consumir livros de horror. “Ao transpor
2008, p.70). Nesta época surgem várias revistas de ficção, as populares pulp fiction,
com títulos destinados ao horror como Ghost Stories, Weird Tales e Horror. As pulp
ameaçando uma linda jovem. Um padrão de personagens que remete ao melodrama das
narrativas góticas e que foi prontamente assimilado pelo cinema ao abordar o horror.
O que pode ser visto por meio de dois sucessos editoriais que também obtiveram êxito
comercial nas telas: O Bebê de Rosemary (1967), de Ira Levin e O Exorcista (1971),
Nos anos 1970, aparece Stephen King, provavelmente um dos nomes mais
(1974) e o Iluminado (1977), King tem uma vasta produção dentro do gênero horror
que vem sendo, paralelamente, adaptada para o cinema, fazendo com que a
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Vale citar ainda Anne Rice, que ainda na década de 1970 publica Entrevista
com o Vampiro (1976) e inicia uma longa série de romances vampíricos, populares
durante as décadas de 1980 e 1990, e o autor inglês Clive Barker. Os romances de Baker
Meyer, vem se tornando cada vez mais consumida por um público jovem, ávido por
experiências emocionais, abrindo caminho para que novos autores explorem o filão.
2. O horror no cinema
fantástica” (SANTANA et al, 2007, p.219). Assim vamos retroceder até o final do
cinematográfico. Não se pretende aqui listar títulos de obras e diretores, mas traçar uma
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De acordo com os relatos deste evento a platéia reagiu temerosa com a imagem do trem
vindo na sua direção, mostrando o potencial para o horror do novo veículo que surgia.
popular, inicialmente tentava utilizar a invenção dos irmãos Lumiére como extensão
efeitos fotográficos. Entre 1897 e 1913, realizou mais de uma centena de curtas-
projeções dos irmãos Lumiére, que obtinham esta resposta emocional da platéia com
escrito e dirigido por J. Searle Dawley, além de ostentar o título de primeiro filme de
horror, também foi o primeiro filme do gênero a ser banido pelos exibidores norte-
(...) e desde então, dado como perdido. Por muitos anos, a única
imagem que restara dele (descoberta em 1963 num libreto da Edison
Company preservado na Biblioteca do Congresso, em Washington)
era a hoje famosa fotografia still do ator Charles Ogle devidamente
caracterizado como monstro, desafiando a lente com um olhar
assustador. (SANTANA et al, 2007, p.217)
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Na década de 1980, o filme perdido foi incluído na lista das dez maiores raridades
colecionador a doar sua única cópia do filme que foi parcialmente recuperada e exibida
Nos Estados Unidos, ainda neste período do cinema mudo, Hollywood tinha
apenas uma única estrela que explorava com sucesso temas ligados ao horror, Lon
Chaney. Filho de pais surdos-mudos, Chaney aprendeu muito cedo a se expressar por
mímica. Seus talentos como maquiador permitiam que interpretasse mais de uma
da Ópera (1925).
London After Midnight, dirigido por Tod Browning. Apesar de no final revelar-se que
exibiu uma maquiagem extrema, com fileiras de dentes como um tubarão e olhos
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“estabelecer uma ligação entre a arte contemporânea e a arte do futuro, com a negação
Nota-se uma tendência em utilizar a nova arte para abordar temas fantásticos
2008, p.165).
polêmica sobre os direitos autorais da obra original serão comentados mais adiante,
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Pictures apresentou para as grandes massas o horror no cinema e consagrou uma visão
sobre algumas personagens literárias de horror que perdura até hoje. É claro que outros
estúdios também exploraram o gênero com sucesso, mas durante algum tempo a
Universal não teve concorrentes. Os estúdios de cinema estavam produzindo filmes que
literatura de horror. “Com a preocupação de não afastar o público potencial pelo medo,
público médio e que podiam ser vistas pela tradicional família americana” (GONÇALO,
2008, p. 169). O primeiro sucesso da Universal no horror foi Dracula (1931), dirigido
por Tod Browning, que logo foi seguido por Frankenstein (1931), com direção de
iniciais, mas na segunda metade da década de 1940 entra em declínio reunindo seus
Já na era atômica, a década de 1950 marcou o cinema de horror com uma série
de produções com insetos gigantes e invasores alienígenas. Era mais plausível que os
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não vinham mais da Europa, ambientada em cenários góticos, mas da União Soviética
conteúdo dos filmes de horror, mas também para seu veículo, o cinema. Assim, em
1953, House Wax, com Vincent Price, estreava inovando com a tecnologia do cinema
diferentes ângulos na sala de exibição, somados ao uso de óculos bicolores pela platéia.
Estes novos estúdios eram amparados por uma lei colocada em vigor pela justiça norte-
americana em 1948, que abria o mercado para a produção e distribuição de filmes, até
Dentre os produtores que exploraram o filão dos filmes de horror de baixo orçamento, o
mais inventivo foi sem dúvida William Castle. Como não podia arcar com tecnologias
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de alto custo como a terceira dimensão, Castle utilizou diversos truques para assustar a
platéia, como um esqueleto de plástico, suspenso por ganchos, que voava sobre o
consagrou como ator ícone do horror (ao lado de Lugosi e Karloff) ao estrelar uma série
Estados Unidos, não menos criativo que Castle, porém relegado à obscuridade durante
aquele período, é o diretor Edward D. Wood Jr. Realizador de Bride of the Monster
(1956) e Plan 9 From Outer Space (1959). Ed Wood trabalhou com Bela Lugosi no
automóveis, se referiam aos mais velhos com termos desrespeitosos e logo passaria a
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(1955) e Sementes da Violência (1955), que logo deram lugar a I Was a Teenage
década de 1950 pela companhia Hammer Films, que exploraria amplamente o gênero
horror durante as décadas de 1960 e 1970. A companhia inglesa, que antes da segunda
foi o bem sucedido The Quatermass Xperiment (1955), que obteve uma continuação
padrões da época em que Lugosi e Karloff brilharam. Primeiramente com The Curse of
Frankenstein (1957), seguido por Horror of Dracula (1958), ambos dirigidos por
Terrence Fisher. “Os dois filmes arrastaram multidões para as salas de cinema no
2008, p. 174). Tanto Christopher Lee quanto Peter Cushing que protagonizaram ambos
Drácula e enfrentou Cushing, como Van Helsing em algumas das seqüências de Horror
of Dracula.
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nas décadas de 1970 e 1980, gerando franquias de sucesso como O Massacre da Serra
aumento na violência exibida nas películas do gênero, notadamente Blood Feast (1963),
dirigido por Herschell Gordon Lewis, é reconhecido como o primeiro filme gore.
corpo” (MATTOS, 2003, p. 62). O filme de horror gore, procura provocar na audiência
simulando o sangue” (MATTOS, 2003, p. 62). O gore também costuma ser chamado de
principalmente.
Ao mesmo tempo em que Lewis filmava Blood Feast, José Mojica Marins no
Brasil produzia À Meia Noite Levarei Sua Alma (1964). Mojica é reconhecido como
precursor do gore, tão em voga nas produções do gênero atualmente, e também como
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Caixão (1968), dirigido por Mojica, é citado por sua ousadia gráfica e temática na
abertura do livro de Jay Slater (2006, p. 14), Eaten Alive! Italian Cannibal and
filmes de zombies e canibais do terceiro mundo, que ocorreu na Itália na década de 1970
de 1970, paralelamente aos serial-killers, coloca o demônio como uma das grandes
Richard Donner. O filme de Friedkin mostrou que o horror era capaz de atrair o
interesse de um público tão grande quanto o de qualquer outro gênero de sucesso nas
bilheterias.
filmes sobre Drácula, cada vez mais distantes do texto original de Stoker, transportando
o conde vampiro para a atualidade. O estúdio inglês acabou por encerrar suas atividades
em 1976. Porém seu concorrente no Reino Unido, o estúdio Amicus, estava produzindo
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Espanto (1985), de Tom Holland e A Volta dos Mortos Vivos (1985), de Dan
conseqüentemente pelo público que a tem como referência, como trabalhos sem valor
(1960) e O Massacre da Serra Elétrica (1974), ganhou tal força entre as décadas de
deste tipo de filme podem se resumidas como “(...) assassinatos em série numa pequena
área do interior e adolescentes que são mortos por um monstro no momento em que
2008, p. 179). Dois mercados acabaram por impulsionar a produção deste subgênero do
horror, que oferecia grandes margens de lucro para produções realizadas rapidamente e
nos Estados Unidos, que ofereciam sessões de exibição com mais de um filme e numa
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outra característica marcante do cinema de horror nos últimos vinte anos é a releitura de
obras do gênero, nem tão distantes no tempo, e o retorno a tendências das décadas
passadas. Em 1994, Francis Ford Coppola, recria o conde vampiro em Bram’s Stokers
Dracula, e a partir daí, num novo ciclo, os monstros da Universal são mais uma vez
gênero dos últimos trinta anos. Assim, vão sendo lançados uma série de remakes: O
interno. Como no caso do filme japonês Ringu (1998) e na produção espanhola Rec
exceção que vale ser citada é A Bruxa de Blair (1999), escrito e dirigido por Daniel
Myrick e Eduardo Sánchez. Este filme utiliza uma linguagem narrativa documental, que
tempo todo, passa a ser extremamente atual e aponta para uma nova tendência que pode
ser vista em Diary of the Dead (2007), Cloverfield (2008), o já citado Rec (2007) e
Talvez o pânico mundial provocado pelo terrorismo neste novo milênio tenha
eclipsado o pavor oferecido pelos filmes de horror da mesma maneira que a Segunda
Guerra Mundial influenciou o gênero na década de 1940 e acabou fazendo com que
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aposte em novas idéias e que esta renovação também aconteça logo. Para nos próximos
3. A teoria do horror
ponderaçoes sobre o conceito do fantástico, no qual grande parte das obras do gênero
horror se inserem. Para Todorov quando eventos não podem ser explicados pelas leis de
uma das duas soluções estará se incorrendo em uma das instâncias de sua
gótico do século XIX (CARROLL, 1999, p. 17). O gótico histórico narra uma história
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gótico equívoco que torna ambígua a origem sobrenatural dos eventos narrados por
teóricos do século XIX, porém todas acabam incorrendo nas instâncias do estranho e do
maravilhoso.
é citado por Todorov (1975, p. 40) como representante desta tendência que vimos no
início deste capítulo quando abordamos o horror na literatura. Assim, para Lovecraft o
elemento real para julgar o conto fantástico ocorre em função da intensidade emocional
provocada no leitor, que deve incorrer num sentimento de temor diante de mundos e
horror é uma caixa fechada, com uma manivela de um lado, e, em última analise, tudo
se reduz à tarefa de girar essa manivela até que o boneco lá dentro pule na nossa cara,
segurando seu machado e arreganhando seu sorriso assassino” (KING, 2003, p. 129). A
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terror, do qual descende o filme de horror. Assim, quando Lovecraft (1987, p. 05) fala
Ao longo deste trabalho irá se alternar entre as denominações horror e terror para
adotaremos tal procedimento visando tornar mais agradável a leitura desta pesquisa.
fantástico no cinema de horror passa a ser um recurso de análise a ser explorado neste
estranho e o maravilhoso.
afirma que o gênero “se caracteriza pela utilização de histórias e personagens que
monstros diabólicos, mas também podem ser realistas como doentes mentais ou mesmo
seres humanos sádicos. Desta maneira fica estabelecida uma divisão inicial nas
O medo é uma emoção primária do ser humano que alcança maior intensidade
quando é provocado por algo desconhecido que representa uma ameaça. A função
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uma das maiores porcentagens de agressividade que pode permitir a realização áudio-
visual.
no filme de terror são: o susto por surpresa, o susto com suspense, o assassinato, a
Esta deformidade pode ser uma doença mental da personagem que se converte em
freqüente do sexo, muitas vezes na forma de assassinato sexual. “O fato mais simples da
ficção de horror, não importando a mídia que você escolher... o fundamento da ficção de
horror, pode-se dizer, é este: você tem que apavorar a platéia” (KING, 2003, p. 146).
considerações feitas por Stephen King em seu ensaio analítico sobre o gênero, para
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dois níveis. Primeiramente está o nível do horror explícito: “quando Regan vomita na
refinamento artístico.
espectador. King chama de pontos de pressão fóbica, que quando o fazem em nível
O horror profundo, como veremos adiante, se relaciona com o subtexto que pode estar
contido no filme de horror. De maneira cíclica o cinema de horror, a cada dez ou vinte
com épocas de grande tensão política ou econômica (KING, 2003, p. 33). Desta maneira
de se horrorizar no cinema se o horror na vida real é uma emoção contra a qual se luta?
Primordialmente é preciso fazer uma distinção (que será reforçada mais adiante com o
conceito do horror artístico) entre a emoção do horror da vida real e a emoção do horror
“de mentira” da ficção, apesar deste tentar em alguns casos reproduzir ou superar o
primeiro. A criação deste horror ficcional tem uma finalidade catártica de nos auxiliar a
suportar os horrores da vida real. “Contando com a infinita criatividade do ser humano,
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Porém, sempre com o momento de reintegração com o mundo real em total segurança.
Um convite para a audiência exercitar emoções que a sociedade exige que se mantenha
o controle.
graus para sua ocorrência. Nota-se o caráter valorativo desta classificação, cujo primeiro
grau invoca a emoção do horror da maneira mais apurada, que pode ser exemplificada
pela história do Gancho ou pelo conto A pata do Macaco (1902), que sugerem muito
mais o horror explícito do que realmente mostram. No segundo grau estão as narrativas
de horror que fazem por merecer o termo horror explícito, materializando aos olhos do
espectador seus temores. E no terceiro grau está o horror da repulsa, que provoca o asco
na platéia, como na cena em que explode o peito de uma astronauta em Alien o Oitavo
quase que totalmente neste nível, enquanto que os filmes de horror geralmente vão
oscilar entre estes graus. “Há o horror mais refinado; o horror que está abaixo deste
primeiro; e a mais baixa forma de horror a golfada de repulsa” (KING, 2003, p. 31).
essenciais da ficção de horror, que podem ser aplicados quase sempre ao observar os
monstros ou ameaças dos filmes de terror. São eles os monstros dos romances Dracula,
(1898), de Henry James, acaba sendo excluído pela pouca influência do romance na
cultura de massa norte-americana e também por ser um arquétipo presente em uma área
ampla demais para que possa ser limitado a uma única obra a ser discutida. King diz que
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abordado a partir da análise de uma série de narrativas com esta temática na parte final
de seu ensaio. Neste estudo o arquétipo do fantasma também será considerado a fim de
século XX, na formação da moderna história do horror. “No seio de cada um deles está
prostado (ou cambaleia) um monstro que engrossa e faz parte do (...) “complexo mítico”
– aquele corpo literário de ficção no qual nós, mesmo os que não lêem ou não vão ao
conhecido, mas a grande maioria o confunde ao se referir a criatura sem saber que se
como ícones do horror em geral. “Os filmes têm desempenhado muito bem a função de
criar essa câmera de eco cultural. (...) Em lugar das idéias que os livros e romances nos
fornecem, os filmes nos dão em troca boas doses de emoção visceral” (KING, 2003, p.
Frankenstein em relação a sua criação, mas por outro lado nos deparamos com a
de Frankenstein é submetido a uma divisão em seu próprio espírito: “(...) o leitor que
deseja apedrejar o monstro e o leitor que sente a pedrada e chora a injustiça dela”
(KING, 2003, p. 51). Outra personagem de horror que se encaixa perfeitamente sob a
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efígie da coisa inominável é o gorila gigante de King Kong (1933), numa das grandes
mais uma divisão na ficção de terror de um modo geral: a interiorização do mal. “As
interior”, se assim desejarem, aquele a que não se tem o direito de responsabilizar Deus-
Pai” (KING, 2003, p. 53). Um ótimo exemplo para este tipo de narrativa é o conto O
Coração Denunciador (1843), de Edgar Allan Poe, onde o assassinato é cometido por
pura maldade, sem nenhuma motivação atenuante. Poe ainda sugere a insanidade do
narrador da história, pois uma maldade tão perfeita, sem justificativa, só poderia ser
fruto da loucura.
própria e consciente, em oposição aquelas narrativas nas quais o horror tem sua origem
de uma fonte externa. Este segundo grupo de histórias que abordam o mal exterior são
conceito amplo e pavoroso quando bem executado como na obra de Lovecraft. “Afinal
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atinge sua total plenitude, dando ao conceito do mal exterior uma forma humanizada.
para Londres não é originada por nenhum ato de maldade de um mortal; o sofrimento e
castigo sofrido por Jonathan Harker no castelo de Drácula não é fruto de pecado ou
fraqueza íntima da personagem, ele bateu à porta da morada do vampiro porque seu
patrão lhe ordenou que o fizesse. Da mesma maneira a morte de Lucy Westenra, com o
coração trespassado por uma estaca e a cabeça decapitada, não pode ser justificada por
sexual. O moralismo na Inglaterra na virada para o século XX deve ter sido um fator
influenciador para que a maldade de Drácula viesse de fora, já que se origina de uma
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sensações experimentadas por Harker com as vampiras no castelo. “De dia, uma Lucy
cada vez mais pálida, porém perfeitamente apolínea, conduz um namoro decoroso e
dentro dos padrões com aquele a quem está prometida, Arthur Holmwood. À noite ela
terror está fundamentado neste tipo de relação, geralmente levando a um final infeliz,
em que um parceiro está totalmente sob o controle do outro. Talvez esse seja um dos
tentando se entender com sua própria sexualidade. O vampiro parece ter encontrado o
atalho entre todas as máximas culturais a respeito do sexo... e, para completar, ainda é
O terceiro arquétipo é o lobisomem, cuja face original é Edward Hyde, alter ego
Um claro exemplo da presença do mal interior, num conflito entre o potencial apolíneo
conflito apolíneo/dionisíaco, que também pode ser visto como o conflito entre o id e o
parece ser uma pessoa absolutamente normal sem dar qualquer motivo para que seja
temido.
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nossa própria imagem. Intensamente explorado pela literatura gótica, o fantasma acaba
por remeter também ao conflito entre o livre arbítrio de praticar o mal ou negá-lo. Pois
para a ficção em geral os fantasmas não são intrinsecamente malvados, mas para servir
mostrar nosso eu mais profundo, nossa parte dionisíaca totalmente despida de qualquer
Para concluir este levantamento dos principais arquétipos do horror, King ainda
apresenta outro arquétipo ao qual não confere o status de uma autêntica “carta” de seu
tarô do horror. A casa mal-assombrada, chamada por ele de “lugar ruim”. Este arquétipo
vale ser considerado neste estudo. Apesar de ocorrer genuinamente num pequeno
Este cenário apresenta uma série de elementos dramáticos que reforçam o quanto é um
lugar ruim. “Poderíamos até dizer que a definição mais verdadeira da casa mal-
assombrada seria uma casa com uma história nada agradável” (KING, 2003, p. 172).
Assim o lugar ruim traz um passado marcado pela maldade e irá caracterizar este
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universais se confrontam.
vamos direcionar nossa atenção para a discussão do mérito social que os filmes de terror
tem por meio dos subtextos que fornece e que “(...) pelo seu apelo às massas adquirem
alegorias, que permitam que sejam identificados como crítica velada à política ou a
sociedade. Em grande parte das vezes eles procuram aqueles pontos de pressão fóbica
levantar qualquer questão política. “É o filme B enquanto conto de fadas” (KING, 2003,
p. 93) lidando com tabus da sociedade moderna. Muitos dos filmes de horror obtêm a
2003, p. 94). Assim, o filme de horror que apenas assusta pode ser válido para a
audiência ao ajudá-la a compreender melhor esses tabus e medos, e o motivo pelo qual
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a fim de somar mais uma ferramenta analítica para o gênero aqui estudado. O primeiro
dirigido por Stuart Rosenberg, que narra a história da família Lutz que se muda para
uma casa mal-assombrada, esta uma ilustração perfeita do arquétipo do lugar ruim. O
sempre fazer grande sentido na arte, mas tem geralmente o maior impacto sobre mentes
imaginativa tenha sido pouco exercitada” (KING, 2003, p. 98). O efeito mais óbvio da
casa é que ela está arruinando financeiramente a família Lutz. Desde o inicio do filme,
ao comprar a casa por uma pechincha, a família vai tendo suas posses desaparecendo e
as dívidas aumentando. A cena em que Lutz grita para a casa onde está o dinheiro
desaparecido para pagar o bufê do irmão mais novo de sua esposa ilustra bem esta
econômica nos Estados Unidos na época, com inflação de 18% e altíssimas taxas
hipotecárias.
política. Dirigido por Christian Nyby, mostra o confronto entre uma expedição de
Ártico.
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como causadores do mal, muito populares na década de 1950. Tanto, The Horror
Party Beach (1964), sobre monstros criados pelo vazamento de tambores de lixo
radioativo que atacam jovens numa festa na praia, quanto Síndrome da China (1979)
que trata do vazamento radioativo de uma usina nuclear, como dezenas de outros filmes
interior, fruto do próprio homem que interfere na natureza alterando seu curso correto
retrato lógico ou satírico de hábitos sociais correntes. O Exorcista (1973) ilustra bem o
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subtexto social retratando o conflito entre gerações nos Estados Unidos na segunda
horror pertence a este mesmo período e também apresenta um subtexto social bem
da paranóia urbana dos habitantes das cidades, mas também traz um subtexto religioso.
volta para a crença como mãe da criança infernal, refletindo também questões de fé pela
seus aficionados, King acaba por levantar um elemento relevante a ser apontado neste
produção e o resultado final destes ao serem realizados por grandes estúdios ou por
filmes de horror ao qual o fã do gênero se submete que não são capazes de atingir seus
mostram valor artístico algum. Tomaremos o termo “ruim” neste sentido amplo que
acaba por englobar termos mais específicos, que tendem a designar esse mesmo tipo de
produção, como trash, filme B, filme Z, etc. King (2003, p. 142), aponta o oportunismo
para fazer o lucro como motivo principal para a realização de filmes de terror ruins. No
caso dos grandes estúdios, os altos custos de produção tornam maiores os riscos do
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empreendimento, fazendo com que sejam lançados filmes medíocres e não ruins no
sentido que falamos acima. A maior parte dos filmes de horror ruins viria da produção
142). Mas a produção independente por ser realizada muitas vezes por prazer, ao invés
de somente pela busca incessante por lucros, é capaz de gerar grandes resultados
fracassos também foi à custa deles que vimos os mais inusitados triunfos” (KING, 2003,
diversão dos filmes ruins como sendo uma base de comparação, mostrando o que buscar
devem ser notadas na produção de horror. Vale então observar como esta indústria
programa duplo.
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em dois filmes de orçamento médio, ou até mesmo em dois filmes classe B juntamente
médio que permitiam que fossem até programados como um filme A. Podiam tratar de
que mesmo não correspondendo às produções B dos grandes estúdios eram muito
formam a quarta categoria, produzindo quickies, filmes feitos em uma semana com
orçamentos abaixo de dez mil dólares, que devido a limitações ao acesso às instalações
podiam ser equiparados aos filmes B, mas sim classificados como filmes C ou Z”
(MATTOS, 2003, p. 22). Estas companhias independentes menores não eram capazes
sistema de venda dos direitos exclusivos de distribuição de seus filmes por um prazo,
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incluem grande parte da produção de horror nas décadas de 1960 e 1970). Este tipo de
filme surge ainda na década de 1930, se diferenciando dos filmes narrativos clássicos de
particular de filme, que nem sempre tinha uma conotação negativa, (...) com algum
tema explorado em questão, que duravam entre quinze e trinta minutos, ocorrendo após
grotesco. Na mesma década também aparece uma das últimas manifestações do filme
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aquela realizada com acesso aos recursos materiais e financeiros, próprios dos grandes
horror a realização independente não remete a uma produção artística intelectual como
também poderia ser associada, mas sim a uma produção oportuna de caráter
exploratório.
Paradoxos do coração
nossa atenção para o trabalho de Noel Carroll, no qual confirmaremos algumas das
Como já vimos anteriormente, a emoção que o gênero horror procura atingir não
é a mesma que aquela causada pelos horrores da vida real. O que ajuda a responder a
questão de por que se submeter ao horror ficcional quando evitamos esta emoção no
cotidiano. Para fazer esta diferenciação, Carroll (1999, p. 27) adota os termos horror
natural para os horrores da vida real e horror artístico para o horror ficcional. Também
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adotaremos esta terminologia, embora com uma conceituação mais ampla, ao longo
deste estudo para se referir a emoção motivada pelo horror na ficção em geral.
diversas manifestações artísticas que provocam o horror e que não podem ser
classificadas dentro do campo do horror natural, como nas pinturas de Bosch, ou nos
O horror artístico, mais intenso que apenas o medo, é um estado emocional ocorrente,
como num ataque de raiva, e não um estado emocional de ocorrência contínua como a
como o terceiro grau do horror explícito, o horror da repulsão) para sua existência.
Distinguindo o horror artístico da emoção obtida por histórias que não exploram estas
histórias de pavor.
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de perigo e impureza (CARROLL, 1999, p. 61), acaba também excluindo uma grande
quantidade de livros e filmes de horror. Desta maneira, por exemplo, Psicose (1960) ao
apresentar Norman Bates (um serial-killer insano, mas ainda assim um homem) como
excluídas “parece ser” diferente daquela provocada no horror artístico. Assim, não
que para cada elemento da audiência se dará de maneira diferente e pessoal (como já
vimos através dos pontos de pressão fóbica) vamos ampliar o conceito do horror
artístico, neste estudo, para todo o gênero do horror, como também nosso conceito de
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Nos filmes e romances de terror fica claro que o monstro é uma personagem incomum
num mundo ordinário e esta relação entre o extraordinário e o mundano fica explicitado
pela maneira como as personagens positivas reagem a ele. Observando este indicador
para a distinção entre os monstros da obra de horror propriamente dita e aqueles das
são sugeridas pelas respostas emocionais das personagens positivas. Por este prisma,
suscitar a emoção do horror artístico no público o filme ou livro de terror deve ter esta
monstros.
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associados aos monstros numa narrativa de horror, são um indicador claro da ocorrência
do horror explícito pela repulsão, bem como a ausência de tal sentimento pelas
personagens positivas pode apontar para o horror explícito no nível acima da repulsão
ameaçadoras e impuras (que geram a repulsa), Carroll (1999, p. 63) introduz uma
categorização para estas criaturas que, paralelamente aos arquétipos do horror, será útil
elementos diferentes, apontamos a fusão como uma das estruturas mais básicas na
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tempo.
humano com o lobo num mesmo corpo, suas identidades permanecem distintas. Ele se
alterna entre homem e lobo sem que haja uma intersecção temporal no corpo que
habitam.
fissão espacial, muitas vezes empregando algum tipo de mecanismo de reflexo, como
espelho, retrato ou sombras, para que aconteça. Esta multiplicação da personagem gera
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nos anos 1950, acontece um aumento no tamanho de um objeto fóbico de nossa cultura,
como uma aranha por exemplo, “o aumento de sua escala faz crescer sua periculosidade
agressivos, produzem horror artístico por aumentar a ameaça representada por esses
associação de objetos de repulsa e/ou fobia que estão à volta de um monstro cuja
aparência não revela sua essência horrenda. “É um meio de ressaltar a natureza impura e
repugnante da criatura – de fora, por assim dizer – associando o dito ser com objetos e
aos casos em que os monstros não têm aparência horrenda, mas também pode ser
associada a personagens de aparência macabra para destacar ainda mais sua natureza
Paradoxo da ficção
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Como é possível responder com autêntica emoção ao que devemos saber que não é
verdade? No caso do horror perguntamos: como podemos nos horrorizar com monstros
que sabemos não existir? Também já estabelecemos que as emoções da audiência são
guiadas pelas emoções das personagens positivas, assim, pela assimilação das emoções
ficcionais. Entretanto, estas personagens positivas também são seres ficcionais, e muitas
vezes estamos horrorizados sem que estes estejam cientes da situação de perigo em que
Porém, esta teoria perde sua validade ao constatarmos que ao remover a contradição da
ficção pela ilusão, tornamos a audiência supersticiosa, crente em monstros, mesmo que
somente durante o tempo da exibição. O que implicaria numa reação diferente da platéia
ficção, como a resposta do público ao ver o trem projetado nas primeiras exibições do
responder à ficção com uma emoção autêntica e sim com uma emoção ficcional ou
fingida, como num jogo de faz de conta. O que não impede a intensidade desta emoção.
61
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que acreditemos estar em perigo ou que o monstro exista” (CARROLL, 1999, p. 109).
Porém se assumirmos a proposição de que o horror artístico não seja uma emoção
genuína e sim uma emoção fingida entendemos que o espectador passa a ter controle
para despertar esta emoção. Podendo ficar impassível diante da obra de horror ao se
recusar a fazer de conta que está horrorizado. O inverso também pode acontecer, ao
assistir um daqueles filmes de horror ruins que citamos anteriormente, onde os monstros
não são particularmente horripilantes (e sim motivo de riso muitas vezes), bastaria ao
espectador fazer de conta que está horrorizado para obter o horror artístico, o que não é
verdade.
o medo legítimo do monstro ficcional exige uma crença em sua existência. A teoria da
ilusão requer a crença na criatura, ao menos enquanto durar a ficção, enquanto que a
teoria do fingimento afirma que não temos emoções reais em relação a ficções.
o monstro exista.
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como nos horrorizamos com ameaças que sabemos não existir? O público do horror não
acredita que os monstros existam, porém mesmo assim a emoção provocada, e guiada
emocionalmente.
Para concluir este capítulo e finalizar o quadro teórico que estamos construindo
estratégias, fazendo com que as histórias de horror se diferenciem mais por variações
(1999, p. 149) chama de enredo de descobrimento complexo. “Esta estrutura tem quatro
numa história de mistério policial em que vamos juntando pistas e elementos para
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64
chegada do monstro, uma personagem ou mais fica sabendo de sua existência. Esta
descoberta pode ocorrer como uma surpresa para as personagens ou pode ser resultado
de uma investigação. Neste último caso a investigação pode avançar sob a equivocada
que um ser fantástico seja o motivo dos recentes males por parte do poder estabelecido.
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irrupção somos logo apresentados ao exorcista Merrin que tem premonições acerca do
comportamento estranho da menina Regan, que se intensifica à medida que sua mãe a
180 graus. O enredo segue para a confirmação, Chris precisa convencer o padre Karras
para os fenômenos ocorridos, precisa atender os critérios exigidos pela igreja para
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66
autorizar o ritual de exorcismo. Ou seja, convencer a igreja, cujas autoridades não são
tão difíceis de convencer quanto o próprio padre Karras. E assim, chega-se a fase de
de 1930 e 1940 e durante o ciclo de tecno-horror nos anos 1950. “Um número
irrupção e a descoberta do monstro podem ocorrer mais de uma vez por pessoas e
grupos distintos, sua existência pode exigir a confirmação para mais de um grupo, bem
como é possível que a criatura seja enfrentada em mais de uma ocasião, antes do
confronto final.
ameaçadora o herói ou heroína podem não ter alternativa e ter de enfrentar o monstro
irrupção, confirmação, confronto pode ser encontrada num contexto narrativo em que já
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confronto, que pode ocorrer quando não existir nenhuma evidência da irrupção do
Importante notar que existe uma ordenação linear lógica na composição destas
estruturas. A seqüência dos movimentos prevalece mesmo que algum movimento seja
eliminado. Para que o monstro seja descoberto ele deve existir, e geralmente fica
estabelecido na irrupção; para que uma descoberta seja confirmada é preciso que tenha
confirmação.
basicamente trata de conhecimento proibido, seja ele científico ou mágico, que é testado
através de uma experiência ou por meio de um encantamento das forças do mal. Sua
figura central é o cientista louco ou necromante e tem como fonte clássica o romance
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tema recorrente do enredo do extrapolador é que há certo saber que deveria ser deixado
obter todos os materiais para realizar a experiência. Mas este movimento também
filme de James Whale. O ajudante vai ficando mais disforme ao longo dos filmes até
mais de uma vez até que o extrapolador obtenha o sucesso, ou aparente ter conseguido,
experiência. O monstro originado pelo experimento é perigoso e é preciso lidar com esta
ameaça que pode estender esta fase ao longo de muitos assassinatos. Invariavelmente
são estas mortes que acabam por atingir amigos e familiares que fazem com que o
cientista tome consciência do mal libertado e se prontifique a destruir sua criação. O que
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alcunha de cientistas loucos e estão prontos para defender sua experiência e criação até
o final, já que não vêem erros em seus métodos. Neste caso a fase de confronto envolve
próprios do gênero.
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personagem através das adaptações sofridas ao longo do século XX, para ao final do
capítulo analisar Drácula a partir das conceituações teóricas próprias do gênero horror,
entende
Esta primeira exposição sobre o tema explora publicações que abordam diretamente
pescoço da vítima, tremendo diante de uma cruz ou dissolvendo-se na luz do sol são
familiares a todos no mundo moderno. Histórias de vampiros têm sido populares por
e saindo de sua cova, em um aparato literário para exploração de temas como sangue,
sexo e morte em novas e ousadas maneiras” (GUILEY, 1994, p.54). Sendo a mais
70
71
imaginação do público. O maligno Conde completa 114 anos desde a sua criação e
Newburgh, no século XII, fez diversos relatos que correspondem a este conceito, se
2003, p.X).
da Europa Oriental entre os séculos XVI e XVIII. Grande diversidade de termos para
designar estes seres surgiu geralmente variações tanto dos termos sérvios vukodlak e
vampir quanto do termo russo upyr. Nestas regiões o conceito de vampiros se integrou
1994, p.23).
71
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oficial do governo austríaco apontava Arnold Paul como autor de uma série de mortes
na vila de Meduegna, Sérvia. Arnold já estava morto e certa vez alegara ter sido
mordido por um vampiro. Alguns acreditavam que ele havia retornado do reino dos
mortos, de acordo com o relato seu corpo quando exumado apresentava aparência
estimulando ardorosos debates nos círculos intelectuais para tentar descobrir maneiras
Don Augustin Calmet publicou Dissertations sur les Apparitions des Anges, des
sangue descoberto no Novo Mundo, fazendo alusão às lendas sobre os vampiros que
circulavam na época.
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Polidori era companheiro de viagens do respeitado poeta e escritor Lord Byron. Fez
parte do célebre grupo que se hospedou na Villa Diodati, próxima a Genebra e para se
presentes estava Mary Shelley que na ocasião escreveu uma narrativa que depois se
sobre um homem próximo de sua morte que obrigava seu companheiro de viagem a
jurar não revelar sua morte jamais. Alguns anos depois Polidori aproveitou a idéia
como modelo, Polidori criou o vampiro Lord Ruthven, um aristocrata que matava belas
e inocentes mulheres para saciar sua sede de sangue e que era capaz de reviver pelo
luar. Publicado em 1819, na edição de abril da revista New Monthly Magazine, o conto
The Vampyre foi a primeira obra completa de ficção sobre vampiros escrita em inglês
sobre vampirismo escrita por Dom Augustin Calmet. Além de inspirar uma grande
pode ser apontado como uma das influências na construção da personagem de Bram
Varney the Vampyre, escrito por James Malcolm Rymer e vendido como historietas
também buscava mulheres inocentes para alimentar-se e podia ser revivido pelo poder
desenvolve uma profunda relação com uma vítima do sexo feminino, repleta de
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insinuações eróticas (GUILEY, 1994, p.58). Apesar do século XIX ter produzido uma
variedade de obras sobre o tema sobrenatural somente uma pequena parcela trazia
o vampiro vilão definitivo. Stoker utiliza elementos dos trabalhos de Polidori e Le Fanu
túmulo que hipnotiza corrompe e se alimenta das lindas jovens que mata. “Stoker
entre vampiro e vítima, mostrando a notável semelhança entre a ânsia de sangue dos
XII).
personagens são o próprio Drácula, o misterioso nobre do Leste da Europa que se revela
como um vampiro demoníaco e assassino; Mina Harker, a linda vítima do vampiro que
se vê dividida entre Drácula e o homem que ela ama; Doutor Van Helsing, cientista e
compelido a servir e adorar ao Conde Drácula. Stoker também acrescentou uma série de
tema, mas que se tornaram quase que obrigatórias em trabalhos posteriores. Podemos
citar a necessidade de solo nativo no caixão do vampiro para que ele possa repousar, a
1994, p.28). A partir de sua publicação a personagem criada por Stoker tornou-se o
74
75
foram publicados durante mais de cinqüenta anos (MELTON, 2003, p.XII). Somente
Matheson, narra a tragédia de um homem que descobre ser o único ser humano num
mundo povoado por vampiros. Porém, nenhum livro relacionado ao tema jamais
ultrapassou a popularidade de Dracula, que nunca saiu de catálogo desde que foi
apresentaram autores como Clark Ashton Smith, Seabury Quinn e Robert Bloch que
vampiro (tema que será tratado com detalhes mais a frente) veio do veículo que nascia
Garuens, dirigido por F.W. Murnau em 1922, retratou com eficiência um vampiro de
aparência mórbida e revoltante. Mas seu impacto foi limitado durante o lançamento. O
roteiro era baseado no romance de Bram Stoker. O que fez com que Florence Stoker,
viúva do autor, processasse os produtores por violação de copyright, assim fazendo com
dentre estes um remake em 1979 com Klaus Kinsk no papel principal e a adaptação,
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trazia Lon Chaney como protagonista. Dirigido por Tod Browning, a narrativa
farsa, apenas um engodo para revelar o verdadeiro assassino. O filme teve um pequeno
impacto na época do lançamento, com o passar dos anos desapareceram todas as suas
cópias fazendo com que esteja perdido até hoje. Recentemente foram encontradas fotos
da produção e o roteiro do filme, permitindo que se realizasse uma montagem que tenta
era baseado na peça de teatro britânica de Hamilton Deane que na versão para os palcos
norte-americanos foi reescrita por John L. Balderston e fez grande sucesso na Broadway
cinematográfica foram os mesmos que atuaram nos palcos: Lugosi como o conde
Drácula, Edward Van Sloan como Van Helsing e Dwight Frye como Renfield. Tanto o
filme como a peça estabeleceram a imagem visual padrão do vampiro masculino: “uma
para a noite de maneira formal, com uma longa capa esvoaçante” (MELTON, 1994, p.
XIII). Uma versão em espanhol foi realizada ao mesmo tempo com equipe e elenco
agilidade do filme, isso se deve provavelmente ao fato de que a equipe que fazia a
versão. Browning também vinha de uma carreira construída no cinema mudo e ainda
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o forte sotaque húngaro de Lugosi fizeram com que seu desempenho marcasse aquela
na mente do público é inquestionável. Nos anos 1930 e 1940 a Universal ainda produziu
vários filmes com Drácula ou com personagens relacionadas, mas nenhum deles teve o
tanto de Frankenstein como Dracula para a Hammer Films, estúdio britânico fundado
em 1948 por Will Hammer e Sir John Carreras. Assim em 1958 estreava The Horror of
Dracula, dirigido por Terrence Fisher, outra poderosa influência sobre a construção da
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vampiros, Van Helsing, e atuou ao lado de Lee em outros filmes sobre Drácula para a
Hammer. Mas os filmes posteriores realizados pelo estúdio inglês com Lee
Como Lugosi, Drácula transformara Christopher Lee numa estrela fazendo com que o
ator se tornasse muito caro. A solução encontrada pelo estúdio para reduzir custos foi
mais limitado, nos Estados Unidos acontecia o contrário. Os roteiristas da soap opera
Collins nos capítulos da telenovela. Dark Shadows, criada e produzida por Dan Curtis,
foi ao ar pela primeira vez em 1966, pela ABC. O enredo girava em torno de uma
audiência e tornando a série bem sucedida até o seu término em 1971. Depois de
uma fuga de sua condição vampírica ou como um anti-herói que poderia ser demoníaco
onde a autora retrata o vampiro com uma visão muito semelhante da série Dark
Shadows, tanto como herói trágico como anti-herói. Na década de 1980, Rice retoma os
romances sobre vampiros e publica a série conhecida como Crônicas dos Vampiros,
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artísticas, que sentem êxtase e intimidade quando bebem sangue e encontram várias
maneiras de lidar com seu mundo negro e sua natureza assassina” (MELTON, 1994, p.
XV). Apesar de Drácula ainda ser a imagem dominante de vampiro para o grande
público, a visão do vampiro de Rice foi um grande sucesso literário, atingindo milhões
Podemos citar alguns romances influentes sobre o tema lançados nos anos 1970.
The Night Stalker, de Jeff Rice, lançado em 1973 e produzido como um filme de TV
um ano antes de ser publicado, Salem’s Lot, de Stephen King, em 1975 e adaptado para
para as telas como Lifeforce em 1985. Vários dos autores de romances sobre vampiros
nas histórias em quadrinhos merece atenção já que foi parte do motivo que causou o
período em que o veículo foi alvo de forte censura na década de 50. Com a criação do
com os outros monstros clássicos do horror foram banidos das publicações de 1954 a
1969.
Stoker. Nesse livro os autores apresentam sua pesquisa que mostra que a personagem
Drácula era na realidade baseado numa figura histórica que usava esse nome. Também
conhecido como Vlad Tepes, era um príncipe da Wallachia (região da Romênia que faz
fronteira com a Transilvânia) no século XV. Tepes era conhecido por sua ferocidade e
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sadismo como regente. Ordenou a morte de milhares de pessoas, muitas dessas vítimas
destacar a produção para televisão dirigida e produzida por Dan Curtis em 1973. Tendo
Jack Palance representando o Conde Drácula neste telefilme que foi muito influenciado
século XV ainda vivo no século XIX. Este telefilme trouxe uma contribuição importante
fisicamente igual a uma antiga paixão de Drácula de séculos atrás, como se fosse uma
reencarnação do amor verdadeiro do Conde. Este mesmo enredo pode ser visto no filme
sobre vampiros para a grande tela nos anos 1970 foi Dracula, de 1979, estrelado por
Frank Langella e novamente produzido pela Universal. Assim como Bela Lugosi,
Langella tinha feito grande sucesso numa peça da Broadway intitulada Dracula antes
destruição final de Drácula diferente do filme original de 1931, o Conde depois de ser
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vídeo. A TV a cabo nos anos 1990 lança diversas séries sobre vampiros, incluindo uma
nova versão de Dark Shadows e Buffy, a Caça-Vampiros que estreou pela rede WB
em 1997 e é a mais bem sucedida série televisiva a ter vampiros como tema no horário
nobre.
assunto que é apenas uma parcela do universo do horror na literatura. Dentre as muitas
publicações The Book of Vampires, de 1994, merece destaque. Escrito por J. Gordon
exaustivo e deve ser considerada referência padrão sobre o assunto. Diversos livros
Stoker, que como foi visto ao longo deste texto é o mais influente romance sobre
ano ocorre em Los Angeles a Dracula’97, evento que reuniu o maior número de
81
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filmes, livros, revistas, jogos sobre vampiros e une diretamente estudiosos e entusiastas
sobre o assunto.
romances vampíricos Crepúsculo, Lua Nova e Eclipse de Stephenie Meyer figurar nas
listas de livros mais vendidos. Esta série se tornou extremamente popular dentre o
público jovem, reproduzindo o fenômeno desempenhado por Anne Rice nos anos 1980,
vale destacar a série de TV True Blood, cuja primeira temporada foi exibida pela HBO
enorme influência que ela tem provocado. Mas o que está por trás dessa grande
não há uma resposta simples para esta questão já que a personagem vampiro incorpora
misterioso.
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porém é importante ressaltar que não é nosso objetivo reproduzir tudo o que já foi
publicado acerca do tema, mas sim apontar algumas reflexões que permitam
textos de Anatol Rosenfeld e Paulo Emilio Salles Gomes dentre outros. A partir dos
personagem literária.
conceito de literatura.
Porém se valer somente do caráter ficcional não é suficiente para fazer esta
diários de Kafka como exemplos de textos que não tem caráter ficcional ou imaginário,
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mas que nenhum pesquisador da literatura hesitaria em inserir dentro deste campo.
Assim:
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personagem vive o enredo e as idéias, e os torna vivos” (CANDIDO, 2007, p.54). Mas
faz uma ressalva: “Isto nos leva ao erro, frequentemente repetido em crítica, de pensar
que o essencial do romance é a personagem, - como se esta pudesse existir separada das
outras realidades que encarna, que ela vive, que lhe dão vida” (CANDIDO, 2007, p.54).
existir fora da realidade interna do romance, foge desta afirmação, pois transcende o
passando a existir fora de sua realidade interna, de seu enredo e das relações com as
outras personagens presentes na obra de Stoker. Drácula pode ser visto em filmes que o
película da Hammer, Dracula A.D. 1972 (também conhecido como Drácula no mundo
da mini-saia, produção inglesa dirigida por Alan Gibson em 1972), seja levando-o para
o oriente para se defrontar com lutadores de artes marciais, caso de The Legend of the
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Stoker’s Dracula (EUA, 1991). A partir destes exemplos podemos pensar que ao
ainda se mostra como vilão (na maioria das vezes como a epítome do mal), apesar do
fora da lógica do romance e vai perpetuando sua existência através da cultura de massa
em dois pólos.
característicos que evocam a representação máxima do mal. Por outro lado as várias
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por exemplo, a busca pela reencarnação de sua amada, enriquecendo sua mitologia e
independentemente do romance seria mais complexa que seu equivalente que reside no
texto original, porém, mesmo assim, ainda não teria uma multiplicidade de traços
esférica”.
fidelidade ao real, Candido (2007, p.70) estabelece sete categorias de personagens que
oscilam “entre dois pólos ideais: ou é uma transposição fiel de modelos, ou é uma
com alguma fidelidade de modelos apresentados ao autor por experiência direta, seja
personagem deve incorporar traços de pessoas com as quais o escritor teve contato
um modelo real, mas que serve apenas como ponto de partida para a imaginação do
autor, que acaba por desfigurá-lo. Porém ainda é possível identificar o modelo inicial.
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somado a outros modelos secundários na sua construção, todavia o eixo central formado
formando uma personalidade nova. A sétima e última categoria trata das personagens
“cujas raízes desaparecem de tal modo na personalidade fictícia resultante, que, ou não
não podem ser traçados pelo próprio autor” (CANDIDO, 2007, p. 73).
Stoker teve acesso a documentos e relatos que o municiaram com matéria prima
não apenas para a criação de sua personagem principal, mas também para a localização
predador natural (neste caso, sobrenatural seria mais apropriado) do ser humano. Nas
autor. Nestes documentos fica claro que Stoker já tinha consistentemente construído sua
personagem, emprestando do cruel príncipe seu nome e sua trajetória pra construir seu
passado e localizar sua narrativa (MELTOM, 2003, p.226). Entretanto este não é o
único modelo que pode ser identificado na gênese de Drácula. Vale lembrar que Stoker
“tinha lido Carmilla, de Sheridan Le Fanu, publicado pela primeira vez em 1872,
alguns anos antes” (MELTON, 1994, p.754), e que outros dois vampiros literários
antecedem Drácula, Sir Francis Varney, personagem título de Varney the Vampyre,
escrito por James Malcolm Rymer, e Lord Ruthven, criação de John Polidori para o
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conto The Vampyre, publicado em 1819. Ambos podem ser apontados como
camponeses nas zonas rurais. Outro elemento, apontado por estudiosos, na gênese desta
personagem é o ator britânico Sir Henry Irving, proprietário do Lyceum Theatre que era
gerenciado por Stoker, o qual mantinha enorme admiração pelo ator e teria utilizado
traços de sua personalidade para elaborar Drácula. Assim, somados aos modelos vivos
perdurando até hoje. Esta poderosa imagem “recriada” pelo cinema em Dracula (1931),
com Bela Lugosi no papel principal, teve sua origem no teatro. O roteiro do filme não
se trata de uma adaptação direta do romance, mas sim de uma adaptação da peça de
cinema que ela se fragmenta e ganha maior poder de identificação com o público.
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Ainda fazendo a comparação entre palco e tela “podemos admitir que no teatro o
et al. A personagem de ficção. São Paulo: Perspectiva, 2007, p.114). Entretanto, pela
podemos descartar esta relação. “O que persiste não é propriamente o ator ou a atriz,
mas essa personagem de ficção cujas raízes sociológicas são muito mais poderosas do
CANDIDO et al. A personagem de ficção. São Paulo: Perspectiva, 2007, p.117). Porém,
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sócio-cultural refletido em cada uma delas, o que acaba por lhe imprimir um caráter de
atualidade. Drácula se recusa a morrer, ou melhor, (já que nos referimos a um morto-
evolução da personagem Drácula por meio de suas transposições. Vamos nos deter nas
apresentados por Doc Comparato. Destacar estas adaptações de Dracula será de grande
transposições que o texto original sofreu desde sua publicação em 1897, sendo as
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Sherlock Holmes. O Internet Movie Database encontra 152 títulos ao buscar a palavra
Dracula (lembrando que ter a palavra Dracula no título não garante que a personagem
filmes que não trazem seu nome no título. Se somarmos com filmes que fazem
como Drácula ou que apresentam outros vampiros nobres que não passam de cópias do
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adaptação:
Como apontado por Ramos a adaptação tem como base uma relação de fidelidade ao
texto original, assim Comparato (1995, p.331) estabelece cinco graus de adaptação
tendo esta relação de fidelidade como conceito, adaptação propriamente dita, baseado
em..., inspirado em..., recriação e adaptação livre, sendo a primeira mais próxima do
original e as outras seqüencialmente cada vez mais distantes, alterando o tempo, espaço,
Harker como “um ancião de alto talhe, de barba bem escanhoada e um longo bigode
branco, trajado de negro da cabeça aos pés, sem qualquer traço ou vestígio de uma outra
cor” (STOKER, 1993, p.24). Mais tarde, após jantar com o Conde, Harker descreve
(STOKER, 1993, p.27) com mais detalhes seu anfitrião, destacando o rosto forte e
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aquilino, o cabelo ralo em volta das têmporas, mas profuso no resto da cabeça, as longas
lábios vermelhos, as orelhas pontiagudas, pêlos nas palmas das mãos, unhas grandes e
personagem citam a existência de um obscuro filme russo perdido, que seria a primeira
este traria Drácula apenas no título tendo seu enredo próximo de O Fantasma da
Ópera. Desta maneira tais filmes não trazem relevância para a formação da imagem de
Drácula.
primeira adaptação de Dracula, ainda que não seja oficial. A Prana Film que produziu
por Florence Stoker a viúva do autor. Apesar de ter alterado o nome de todos os
1838 (no romance a trama se desenvolve entre setembro e outubro de 1887), ano em que
a cidade sofreu uma praga de ratos, a narrativa de Stoker pode ser facilmente
construção da imagem de Drácula por meio de sua ferrenha oposição a maneira como a
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Berlim foi exibida uma cópia montada como no filme original, o pesquisador do
Munich Film Museum, Enno Patalas, trabalhou durante nove anos sobre seis cópias
encontradas em diferentes países da Europa para chegar a esta montagem que acrescenta
coloridos nos negativos dos filmes. Estes seriam banhados em química para que
ganhassem cor, azul para as cenas noturnas, amarelo para a luz de velas e marrom para
cenas diurnas, o que faria com que Nosferatu fosse o primeiro filme à cores (HAINING,
1992, p.59). Assim, Nosferatu, deve ser observado como uma referência importante
de 1924. Anteriormente o próprio Stoker adaptou seu romance para o teatro e realizou
diálogos e a trama de sua obra. Intitulada como Dracula: Or the Undead, a peça em
cinco atos nunca foi encenada e somente uma cópia do manuscrito encontra-se no
acervo do British Museum (MELTOM, 2003, p.245). Desta maneira a peça escrita pelo
Stoker na formação da imagem da personagem, já que seria condição para a cessão dos
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Nosferatu. Na peça de Deane, Drácula se veste com roupas de gala, manto formal e
capa com colarinho alto. Vestimenta que ficará sempre associada à personagem e que na
época era o traje convencional dos vilões no palco. A capa aberta criava a ilusão da
modelos anteriores e pode interagir livremente numa sociedade cortês, esta interação
com a sociedade é ampliada já que a peça elimina toda a primeira parte do romance que
próprio Drácula, mas ao constatar que as melhores falas pertenciam ao Dr. Van Helsing
acabou optando por este personagem e como Van Helsing, ao final da peça, alertava o
público presente para a real existência de vampiros, encerramento que se fez presente na
enfermeira do Queen Alexandra Hospital no teatro para atender ao público que poderia
desmaiar ou se sentir mal durante o espetáculo, reporta-se (MELTON, 2003, p.252) que
39 pessoas na platéia solicitaram sua assistência. No mesmo ano Florence aceita a oferta
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servindo como base para o roteiro do filme da Universal em 1931, da mesma maneira
que a versão da peça na Broadway em 1977 serviu de base para o filme Dracula, que
trazia Frank Langella no papel principal, realizado em 1979, novamente pela Universal.
Bela Lugosi, que Florence achava perfeito para o papel de Drácula, participa das
viúva do autor a vendê-los para Universal Pictures por US$ 40 mil. Lugosi acreditava
que tinha a preferência no papel por intermediar as negociações, entretanto seu nome
vinha abaixo de uma longa lista de atores encabeçada por Lon Chaney, o homem das
After Midnight (1927), mas Lon Chaney acabou falecendo e ao final o papel ficou com
Lugosi (MELTOM, 2003, p.233). Dracula (1931), dirigido por Tod Browning,
Universal Pictures da falência, era a primeira vez que Hollywood apresentava um tema
sobrenatural, sem uma explicação lógica para sua existência. A partir de Dracula
(1931) se iniciou o ciclo de filmes de horror realizado pela Universal, que trouxe a
criticado pela sua direção, pela estaticidade da câmera e por sua falta de experiência
com o cinema falado. O filme foi lançado em três versões diferentes, a principal com
Bela Lugosi em inglês, uma versão em espanhol, realizada simultaneamente com outra
equipe e elenco diferentes, porém utilizando o mesmo roteiro e cenários, e uma versão
muda com inter-títulos já que muitos cinemas ainda não estavam equipados com
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sotaque da Europa Oriental, que se tornava mais acentuado já que aprendia as falas do
para trás. Sua imagem até hoje é associada com a personagem, que foi representada por
Lugosi somente mais uma vez no cinema, na comédia de 1948, Abbott and Costello
Meet Frankenstein.
Christopher Lee no papel do Conde e Peter Cushing como Van Helsing. O filme
dirigido por Terrence Fisher é a segunda produção do novo ciclo de horror realizado
pelo estúdio britânico Hammer Films, o primeiro foi The Curse of Frankenstein
(1957), também dirigido por Fisher e com Lee e Cushing interpretando o Monstro e
dentes afiados, até então ainda não se vira as presas do vampiro no cinema e estas a
partir de então se tornaram parte de sua imagem juntamente com os olhos vermelhos. O
sangue e a sexualidade foram muito explorados ao longo de oito filmes lançados que
adversos do texto original. Em Dracula A.D. 1972 (1972) o Conde transitou entre os
hippies na década de 1970 e em The Legend of The Seven Golden Vampires (1974)
se viu lutando Kung-Fu na China. The Horror of Dracula não baseia seu roteiro na
deslocando o espaço e retratando Drácula quase que como uma vítima dos caçadores de
mostra mais sedutor e romântico, cobrindo de beijos os pescoços de suas vítimas que
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agora exibem decotes reveladores, também aparece mais agressivo, cruel e aterrorizador
que a versão de Lugosi. Nota-se a intenção dos produtores em distanciar esta nova
também se torna mais silenciosa, tem pouquíssimos diálogos e nos filmes seguintes fala
cada vez menos. Lee argumenta que os diálogos escritos para sua personagem eram de
extremo mau gosto e ele se recusava a recitá-los, a Hammer por sua vez afirma que Lee
se tornara uma estrela e seu salário crescera proporcionalmente, assim lhe dar poucas
falas garantia sua presença dentro do orçamento apertado do estúdio (MELTOM, 2003,
que o Drácula teatral da Universal, como podemos ver na morte do Conde pela luz do
sol, visualmente muito mais adequada ao cinema, como Murnau já havia apresentado
em Nosferatu.
no final dos anos 1960 à procura de fatos verdadeiros que estivessem presentes na
que se tornou muito popular unindo o Drácula de Stoker com o Drácula histórico para o
(1973) produzido para TV e exibido em audiência nacional pela ABC nos EUA.
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Dirigido por Dan Curtis, com roteiro de Richard Matheson e Jack Palance no papel
p.239). O roteiro de Matheson trouxe ao enredo a trama do amor reencarnado que era
Esta mesma trama será utilizada no roteiro de Bram’s Stoker’s Dracula (1992),
produzido pela Columbia Pictures, que também reproduz a associação com Vlad Tepes
de maneira explícita no segmento inicial do filme. Dirigido por Francis Ford Coppola e
com Gary Oldman como Drácula, o filme apresenta um grau de fidelidade ao romance
Drácula (1987), o média metragem em Super 8, dirigido e produzido por Ivan Cardoso,
Nosferato no Brasil (1971), que traz Torquato Neto como o vampiro que vem tirar
férias no Brasil e a telenovela Drácula, uma história de amor (1980) com Rubens de
Falco no papel principal. A telenovela começou na TV Tupi, que fechou no mesmo ano,
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Especial. Entretanto, foi nas histórias em quadrinhos que a personagem atingiu maior
expressividade.
própria foi em 1962 com uma adaptação do filme de 1931 publicada pela editora Dell.
Quatro anos depois a Dell lançou seis edições da revista mensal Dracula. “Nos mais de
quarenta anos seguintes, cerca de noventa títulos levaram o nome do famoso vampiro
pelas editoras Marvel, Apple, DC, Warner, Millenium, Darkhorse” (GONÇALO, 2008,
Miguel Penteado, dono da editora GEP decidiu adaptar o Conde Drácula para as revistas
em quadrinhos. Assim, no mesmo ano em que a americana Dell colocava sua versão de
Drácula numa revista mensal (porém com características de super-herói para não entrar
em conflito com o Comics Code ainda em vigência) a GEP lançava uma publicação
brasileira com o personagem. A revista Drácula nacional trazia roteiros de Hélio Porto
revista Clássicos do Terror a origem de Drácula é contada numa história de quase cem
páginas com roteiro de Francisco de Assis e desenhos de Nico Rosso. A Taika também
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de uma lenda, roteirizada por Francisco de Assis e ilustrada por Eugênio Colonnese.
três histórias escritas por Maria Aparecida de Godoy e ilustradas por Nico Rosso. “Os
Drácula de maneira bastante original, e seu inusitado envolvimento com Joana D’arc”
revisar a proibição aos temas horríficos nos comics fazendo com que os vampiros
voltassem aos quadrinhos de grande circulação. A Marvel Comics logo lançou a revista
mensal The Tomb of Dracula, ambientando as histórias do conde vampiro nos anos
1970. Este material foi publicado no Brasil pela editora Bloch, não só na revista própria
A tumba de Drácula, como em outras séries como Clássicos do Pavor, que apresentou
1979 passou a ser publicado pela editora Abril na revista Terror de Drácula, que teve
onze edições. A Bloch deu prosseguimento por mais quatorze edições, rebatizando a
Já no fim da década de 1980 a editora Nova Sampa fez uma abordagem mais
com roteiros de Ataíde Braz e arte de Neide Nakazato. Depois disso, com exceção de
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republicações, o conde Drácula (como o quadrinho de horror de maneira geral) não tem
adaptação notamos que estas mantêm um grau de fidelidade à obra original que permite
original, apenas reprodutoras dos modelos apresentados pelas versões destacadas neste
Columbia, porém se torna impossível tomar a peça teatral como objeto de análise, pois
corpus para análise comparativa da personagem em Dracula (1931), com Bela Lugosi,
já que esta versão traz o modelo predominante na imagem da personagem que tem se
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versão cinematográfica de 1931. Como já foi dito anteriormente o filme estrelado por
Bela Lugosi e dirigido por Tod Browning foi a primeira incursão de Hollywood no
o vampiro se trata de uma força não-natural que desafia o conceito da nossa realidade,
After Midnight, com Lon Chaney. Neste caso o vampiro era na verdade um disfarce
onde o inexplicável se revela como uma ocorrência natural do nosso mundo. Ambas as
maravilhoso) são menos freqüentes. Apenas para ilustrar esta instância, podemos citar a
de horror.
na época de seu lançamento. Como nas apresentações teatrais desmaios eram freqüentes
nas salas de cinema durante a projeção do filme. Outra consideração relevante é que
resposta emocional do horror artístico no público, ponto chave para a inclusão do filme
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O horror explícito em Dracula (1931) opera nos três níveis, mas a maior parte
que Harker viaja até o castelo de Drácula e inclusive sua estadia lá sugere muitos
elementos de horror que não vemos. Os ataques de Drácula efetivamente também não
são vistos bem como suas presas, em acordo com os padrões de censura vigentes na
época. Porém temos alguns momentos de repulsa que ocorrem logo no início, como as
sedução da personagem se intensificar ao longo das diferentes adaptações que ela sofreu
horror explícito em si, já que seus traços sedutores e humanizados acabam por equilibrar
fantasma e o lugar ruim. Não restando dúvidas quanto a sua posição nesta categoria de
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para o cinema é que os Estados Unidos viviam a grande depressão na época de sua
realização. Além da leitura da sexualidade simbolizada pelo vampirismo, que pode ser
feita em outros ciclos de horror (como relacionada com a AIDS nos anos 1980),
também podemos observar como uma fuga para a situação caótica pela qual passava a
ciclo de filmes de horror nas décadas de 1930 e 1940. Uma espécie de reflexo invertido
para os problemas naturais da sociedade, projetados na tela como uma ameaça exterior
Universal também ter sido afetada pela crise econômica era um estúdio respeitado, de
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para realizar o filme, e por fim acabou lançando três versões de Dracula para alcançar
um público maior: a versão tradicional aqui analisada, a versão com o elenco latino e
falada em espanhol e a versão muda com letreiros. Contrariando a postura corrente deste
pólo da indústria, que costuma frear a ousadia frente aos riscos dos altos investimentos
requeridos pelas suas produções, a Universal foi muito ousada ao levar às telas o
dos monstros criados pela fusão. Ele é uma criatura que une elementos de duas
amálgama de duas categorias conflitantes num ser integral num tempo contínuo. A
metonímia horrífica também se aplica neste caso, já que Drácula é associado a objetos
Do mesmo modo que a personagem Drácula é ela mesma um dos arquétipos dos
complexo. Logo no início somos apresentados ao conde e a ameaça que representa nas
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trata de um vampiro para poder proteger a jovem) Van Helsing discursa sobre a ameaça
está sintetizada na fala de Van Helsing quando alerta para o poder dos vampiros estar no
fato das pessoas não acreditarem neles. As histórias nesta estrutura de enredo
geralmente apresentam uma visão que ataca o pensamento rígido, sugerindo que a
erro grave.
pertencem.
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partir dos preceitos teóricos próprios do horror que estabelecemos previamente e que
utilizamos para observar a personagem Drácula, modelo ideal para efetuar uma
comparação com a personagem Zé do Caixão. Porém para poder apreender esta análise
Anysio nos deu uma versão tupiniquim de Drácula: Bento Carneiro o vampiro
brasileiro!
obra de Mojica, não é possível citar outro cineasta de alcance expressivo. É claro que o
direta com o tema, como se pode ver em filmes como O Segredo da Múmia (1982), As
Cardoso não busca o horror, mas sim o terrir, onde os monstros são retratados de
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(REMIERS, 2008, p.27). A resposta emocional que se busca neste caso é o riso, a
olhar mais apurado, mas por enquanto vamos nos deter no universo das histórias em
quadrinhos. Parece adequado que um dos gêneros mais desprezados pela crítica em
quadrinhos norte-americana. Desta maneira, antes vamos fazer uma breve exposição da
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produzidas e distribuídas por agências, syndicates, que exerciam uma rigorosa censura
interna, pois seu público era basicamente familiar. Assim, os quadrinhos eram
pelo rádio, cinema e revistas policiais e de suspense (pulp magazines). “Mesmo assim,
ainda por causa da censura, os comics levariam quase duas décadas para finalmente
assumir o gênero” (GONÇALO, 2008, p. 108). Até o final da Segunda Guerra Mundial,
agressividade e patriotismo era ideal para uma nação envolvida num conflito bélico de
grandes dimensões e gerou uma demanda destas publicações tão grande que o
decorrente da guerra. Porém com o final da Guerra não apenas terminou a escassez de
papel como também terminou o enorme interesse do público pelas aventuras dos super-
heróis.
O horror se tornava cada vez mais freqüente nas pulp magazines como Terror Tales,
(GONÇALO, 2008, p. 110). Durou dez números, de 1944 a 1946, e trazia as aventuras
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Terror. Estas histórias muitas vezes eram adaptações de contos de Poe e introduziram
caso na forma de uma velha bruxa. Houve outras publicações pioneiras, mas somente
A pequena empresa fundada em 1945 por Max Gaines, um dos criadores do formato
Ambas correspondendo à sigla EC. Com a morte de Gaines num acidente náutico em
1947, seu filho William M. Gaines assume a tarefa de levar adiante a endividada
horror narradas pelo anfitrião, um cadáver de risada histérica e contavam com a mesma
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Desta maneira a EC inicia uma explosão dos comic books de terror. Os ótimos
resultados nas vendas das revistas de horror possibilita a EC a tentar outras linhas de
pelas grandes vendas das revistas de horror se juntam à cruzada que culmina na criação
editoras seguirem estampando o selo de aprovação da ACMP nas capas de sua revista,
na sociedade norte-americana.
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Wertham foi um dos detratores dos comics que percebeu que o código da ACMP
era ineficaz e continuou a cruzada contra o meio. Com o estouro nas vendas de
multiplicar. Em 1954, Wertham lança o livro Seduction of the Innocent, onde culpa os
eram leitores de comic books, o que não queria dizer muito já que as histórias em
época. Mas o livro de Wertham conseguiu inflamar ainda mais a sociedade contra os
comics.
acabaria fazendo com que ocorresse uma intervenção do governo nos seus negócios,
criaram a Comics Magazine Association of America (CMAA) com uma nova auto-
mesmo ano. O código atendia diretamente as críticas abrangendo questões gerais como
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aprovada, levando ao desaparecimento dos comics de horror das lojas britânicas. Nos
circulação e nos dois anos seguintes o número de editoras de comic books também caiu
drasticamente. Outros fatores sem relação com o Comics Code contribuíram para esta
situação. Dentre elas, a crescente venda de aparelhos televisores, um artigo cada vez
mais freqüente nos lares americanos. Os quadrinhos de terror só vieram a ser retomados
nos Estados Unidos na metade da década de 1960. Na Inglaterra a lei foi renovada em
1965, fazendo com que quase nada ligado ao horror tenha sido produzido no país nesse
período. Mas o banimento dos quadrinhos de horror nos Estados Unidos permitiu o
dos suplementos dominicais dos grandes jornais. Estes apresentavam para o público
português.
escrita pelo jornalista Francisco Armond e ilustrada por Renato Silva” (GONÇALO,
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ininterruptos até 1939. O Garra Cinzenta também foi publicado no México e na França.
2002, p. 61).
quadrinho de horror foi publicado no Brasil. Como aconteceu nos Estados Unidos o
pequena editora de São Paulo, La Selva (fundada pelo italiano Vito Antonio La Selva)
lança O Terror Negro. Neste mesmo ano a editora Abril lançava outra revista
criado por Richard Hughes e David Gabrielsen, e assim seguiu por oito números. Como
havia acabado o material do herói para publicação a revista foi suspensa por seis meses
e retornou em setembro de 1951, reaproveitando apenas o seu título. Com uma nova
fazendo com que surgissem inúmeras outras revistas entre 1952 e 1955. A própria La
Selva lançou mais dois títulos de terror, as revistas Sobrenatural e Contos de Terror.
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O Terror Negro teve mais de 220 edições e foi publicada pela La Selva até 1968.
Outras 24 revistas de horror surgem entre 1958 e 1965, e em 1966, o ano da explosão
dos quadrinhos de terror nacionais, são lançados mais treze títulos dedicados ao gênero.
horror nos Estados Unidos, o quadrinho brasileiro de terror conseguiu se expandir. Aqui
em nosso país, ao longo da década de 1950, os quadrinhos também foram alvo de pais,
filão tão rico do mercado por causa de falta de material. Assim, as principais editoras,
abre espaço para o autor nacional, publicando vários títulos de horror feitos
exclusivamente por artistas brasileiros. Liderada por Miguel Penteado e Jayme Cortez, a
Outubro lançou talentos como Julio Shimamoto, Edmundo Rodrigues e Flavio Colin.
passou a se chamar Taika e Penteado fundou a Gráfica Editora Penteado (GEP), que já
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Histórias Diabólicas. A GEP publicou material de diversos novos talentos como Maria
Taika prosseguia com sucesso, “a editora contratou os maiores talentos do terror para
cuidar de sua série de revistas. O carro-chefe da Taika era o gibi Drácula, que trazia
Mirza a mulher vampiro. Criação de Eugênio Colonnese e Luis Meri, publicada pela
por James Warren e desenhada por Frank Frazetta (COLONNESE, 2002, p. 47).
Seguindo a mesma linha de Mirza, a revista Naiara a Filha de Drácula, esteve entre os
títulos de maior sucesso da Taika entre 1968 e 1970. A editora Jotaesse logo
realizado pelo estúdio D-Arte, fundado por Zalla e Colonnese. A dupla de argentinos
didáticos, campo mais seguro para trabalhar frente à ditadura militar que tornava a
Ainda em 1967, a editora Fase também passou a investir no horror com a revista
rádio Tupi entre 1947 e 1958 Dois anos depois a editora Prelúdio estreava O Estranho
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semelhante” (BRAZ J, 2002, p. 63). Porém, a revista sofreu grande pressão da censura e
teve apenas quatro números. A editora Prelúdio, além dos quadrinhos também publicou
no Reino de Terror, que teve apenas duas edições pela editora Dorkas.
temperadas com bastante erotismo. Lançou diversos títulos como Terror e Guerra,
A ganância e voracidade comercial das novas editoras que surgiam levaria a uma
acrescido da instituição da censura oficial no Brasil em 1970, por meio do Decreto Lei
gênero. Mesmo com o declínio do horror nos quadrinhos algumas editoras pequenas
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A Rio Gráfica Editora (RGE), fundada em 1952 por Roberto Marinho, fez sua
americana Eerie’s Greatest Hits na revista Kripta. Esta durou cinco anos e teve
Kripta em 1981, a RGE lançou a revista 3ª Geração que durou apenas seis edições. As
Marvel. Com o retorno dos comics de horror nos Estados Unidos, a Marvel Comics
além de direcionar seus super-heróis para temas sobrenaturais, lançava uma nova linha
dedicada ao gênero em títulos como Tales of Zombie, Marvel Horror e The Tomb of
Dracula. Assim, a Bloch iniciava uma linha de títulos de horror denominada Capitão
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Feira 13, A Tumba de Drácula e Lobisomem. Logo depois também colocou nas
editorial exigente como nunca fora visto nas revistas de terror nacionais. “Ao mesmo
que substituíssem monstros clássicos por criaturas do folclore e das lendas brasileiras.
Foi assim até o último número regular, o 26, de fevereiro de 1982” (GONÇALO, 2008,
p.122). Spektro revelou uma nova geração de artistas nacionais como Watson Portela,
Ofeliano de Almeida, Mozart Couto e Julio Emilio Braz dentre outros. Com seu sucesso
Terror. Este a última publicação do gênero da editora que desapareceu com o falimento
da Vecchi.
No início de 1979 a editora Abril faz sua primeira incursão no campo dos
que a RGE (detentora atual dos direitos) não se interessava em publicar. Dentre super-
heróis como Capitão América, Thor e Surfista Prateado estava o Conde Drácula, cuja
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Comandada por Claúdio Seto, que trabalhara na Edrel, a Grafipar reuniu artistas
horror da Edrel, que explorava o horror psicológico, mas aos poucos, elementos
sobrenaturais foram se tornando cada vez mais constantes, bem como o erotismo. A
Após dez anos afastados dos quadrinhos de terror, o estúdio D-Arte de Rodolfo
Zalla retornava como editora ao gênero. Zalla recebeu de presente do editor Miguel
Penteado o depósito de fotolitos da GEP que fechava as portas. Com o material da GEP,
mais material antigo da D-Arte e novas histórias que produziu, Zalla, em 1981, colocou
quadrinhos teve pouca aceitação. Durou apenas quatro edições, sendo substituído por
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editora Press, que absorveu a maior parte dos artistas das extintas editoras, lançou as
revistas Medo, Spektros e Mundo do Terror, esta com a maior duração, onze edições.
seguiram dando espaço aos novos artistas nacionais que surgiam. Enfrentando uma
em 1992.
Por mais que percebesse que a maioria dos leitores preferia histórias
mais convencionais, com os monstros clássicos Drácula,
Frankenstein, Lobisomem e Múmia, o editor abriu espaço em várias
edições para publicar tramas mais modernas, que envolviam lendas
do folclore brasileiro e criaturas vindas do espaço. (GONÇALO,
2008, p. 125)
Na década de 1990 a editora Nova Sampa, embora com baixa qualidade gráfica
de pouca duração, Sussurro Sinistro, Mistérios das Trevas, Impacto & Ficção e
Fantasia.
Nos últimos anos a publicação de quadrinhos de horror nacionais tem sido muito
editores tem sido dar atenção aos maiores artistas do gênero no Brasil, relançando suas
obras mais importantes. Este resgate dos quadrinhos de terror brasileiros começou com
a editora Martins Fontes no álbum Saga de Terror, com trabalhos de Jayme Cortez,
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início da carreira de Mojica para uma plena leitura da personagem Zé do Caixão. Para
biografia de Mojica, escrita por André Barcinski e Ivan Finotti. Esta será nossa
referência principal, já que se trata da fonte mais rica sobre a vida e obra de Mojica.
como solução de problemas internos e assim não proporcionava qualquer ajuda para
unir a colônia. Esta se dedicava a ofícios menos qualificados e em São Paulo se reunia
no Brás. Antonio Marins e Carmen Mojica se casaram em 1933 e três anos depois, às
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quatro da manhã do dia 13 de março de 1936, nasceu José Mojica Marins. Era uma
sexta-feira 13 (DVD – À Meia Noite Levarei Sua Alma, anexo biografia de Mojica).
Vila Anastácio, distrito da Lapa, e levou a família para morar numa casa nos fundos do
cinema. A Vila Anastácio era um bairro proletário, com ruas de terra, cortiços e cercada
portugueses e espanhóis. O Cine Santo Estevão era uma sala de exibição simples, com
aconteciam sessões noturnas, exceto nos fins de semana, pois seu público era formado
FINOTTI, 1998, p. 35). O que ocorria no Cine Santo Estevão, pois funcionava também
Mojica passou boa parte de sua infância no Cine Santo Estevão, onde assistia a
todo tipo de filme da cabine de projeção ou mesmo junto de sua mãe, pois da cozinha de
sua casa podia-se ver a tela do cinema (DOC - O Universo de José Mojica Marins,
1977).
Aos oito anos de idade, Mojica também passou a ler e colecionar revistas em
muito a sua obra. Com dez anos, seus maiores interesses eram assistir filmes, ler
revistas em quadrinhos e brincar de teatro com os amigos (MARINS et al, 1993, p. 09).
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de-conta, encenando aventuras com fantasias criadas por eles mesmos. “Mojica gostava
FINOTTI, 1998, p. 44). Aos onze anos, com a máquina fotográfica que ganhara do pai, ele
montou um sistema de projeção rudimentar. Utilizando os negativos em preto e branco das fotos
reveladas colados na boca de uma lanterna para obter a projeção de uma imagem esbranquiçada
que seguiria sua carreira artística. Mojica era fascinado pelo sobrenatural, e várias vezes
O cineminha de terror com a lanterna evoluiu para uma câmera oito milímetros
que ganhou do pai aos doze anos de idade. Mojica e os amigos passaram quase três anos
um varal (DVD – À Meia Noite Levarei Sua Alma, anexo biografia de Mojica). Através
sempre o enquadramento, pois não tinha um sistema de edição. Em 1948, ele e seus
numa fábrica de cigarros e com uma história que envolvia sultões e odaliscas na
Amazônia. Carmen, mãe de Mojica, inclusive desmaiou ao ver o filho cair e bater a
cabeça numa cena de ação. Depois de finalizado exibiram o filme em cinemas e clubes
do interior de São Paulo, dublando as falas ao vivo (DVD – À Meia Noite Levarei Sua
126
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a técnica de sobreposição de imagens. Esta técnica podia ser utilizada para conseguir
duas imagens distintas no mesmo fotograma. Tapando metade da lente com uma
cartolina para expor apenas parte do filme, bastava retroceder o filme na câmera, trocar
uma das indústrias que cercavam o bairro, Mojica e seus amigos criaram uma empresa
sobre um mendigo interpretado pelo próprio Mojica, que encontra no lixo um livro que
lhe dá poderes mágicos. O filme foi exibido em igrejas, circos e parques de diversão,
com Mojica e o elenco dublando ao vivo, com microfones, as falas dos personagens.
Muitos dos membros da Atlas também trabalhavam na fábrica de fósforos, o que acabou
chamando a atenção da imprensa. O jornal Última Hora publicou uma matéria sobre o
grupo de operários que faziam cinema num galinheiro. Na entrevista, acreditando que
lhe dariam maior credibilidade se fosse mais velho, Mojica aumentou sua idade.
Quatro meses depois da criação da Atlas, Mojica deixa a fábrica de fósforos para
Geração Maldita. Ao constatar que seria impossível a execução do projeto apenas com
127
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o dinheiro obtido pela coleta feita entre os membros da equipe, resolve montar uma
escola de cinema. O dinheiro das mensalidades pagas pelos alunos financiaria seus
projetos e ainda poderia eliminar gastos com elenco utilizando os mesmos alunos como
Francisco Neto, jovem de família rica que se juntara à turma ao ler a matéria publicada
zona norte de São Paulo, para utilizar como estúdio. Rebatizou a empresa como
novo curso de atores. Mesmo sem formação alguma como professor de teatro, o método
galpão diversas fotos suas interpretando variadas expressões que deveriam ser imitadas
por seus alunos. Também utilizava um exercício em que o aluno era enviado até a
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selecionar a mulher perfeita. Este tipo de teste também se tornou um dos traços mais
começa a procurar na colônia espanhola investidores para dar início ao primeiro longa-
metragem da Apolo, Sentença de Deus, um drama sobre uma família rica que perdia
suas posses. Conhece Manoel Augusto Sobrado Pereira, também de origem hispânica
mesmo o sistema de venda de cotas que ele e Augusto iniciaram entre os alunos para a
escola comandada pelo ator Renato Ferreira, que usava o mesmo procedimento para a
cinema e a família se muda para o bairro da Casa Verde. Com o dinheiro arrecadado
interrompidas pela falta de verba. Assim que conseguiam mais dinheiro davam
espanholas que resultou num fracasso total. “Num ataque de megalomania, resolveu
alugar um estádio de futebol em Sorocaba com capacidade para 7 mil pessoas e agendou
espetáculo musical (na segunda noite teve cerca de trinta pagantes), Mojica e seus
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alunos para reverter o caixa da Apolo começaram a vender ingressos antecipados para o
filme que ainda estava em produção, porém o projeto nunca seria finalizado. No começo
de 1956, uma das atrizes, Conchita Espanhol, morre afogada numa piscina na Vera
Cruz. Logo depois, outra atriz, Nancy Montez, se muda para o Rio de Janeiro. Sem as
atrizes não era possível dar continuidade ao material já filmado. Mojica procura a
livro de mesmo nome publicado naquele ano (DVD – Esta Noite Encarnarei no teu
Mojica se casa com Rosita Soler, moça de uma família abastada da colônia espanhola,
Passos da Vingança, depois rebatizado pela atriz Nilza de Lima, namorada de Augusto
ter um roteiro que somente ele entendia, com apenas pequenas instruções para cada
câmera) reclamaram do roteiro (ou da falta dele). Mojica saiu em busca de um roteirista
e conheceu Luis Sergio Person, que já tinha certa experiência em cinema e estava
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131
Honório Marin convenceu Mojica a utilizar uma câmera nova que filmava em
fazenda perto de São José da Boa Vista no Estado de São Paulo, contando com uma
equipe muito pequena, o que obrigava a todos exercerem diversas funções. Mojica,
e um bandoleiro (DVD – À Meia Noite Levarei Sua Alma, anexo entrevista com José
Mojica Marins). O filme estreou no final de 1958 no Cine Tangará em Santo André,
depois foi exibido em algumas cidades do interior paulista até chegar ao Cine Coral no
centro de São Paulo, em agosto de 1959. Com cenas de ação realistas e violentas,
proibido para menores de 18 anos. O que atrapalhou a venda de ingressos, mas mesmo
de 1960.
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exemplares que era distribuída nas bancas pelos alunos da escola, e levando ao seu
cancelamento.
O filme seguinte da Apolo foi Meu Destino em Tuas Mãos, um dramalhão com
o cantor mirim Franquito que vinha fazendo sucesso no rádio. Mojica havia pedido
conselhos ao padre Lopes, fundador de uma das primeiras escolas de cinema do Brasil,
a Escola Superior de Cinema São Luiz. Lopes lhe recomendou que produzisse um filme
familiar com crianças no elenco. Mojica seguiu o conselho e para conseguir o restante
LP, prensado pela gravadora Copacabana em 1962, eram revertidas para a verba de
produção, fazendo com que a trilha sonora fosse lançada antes do filme. (DVD – À
Meia Noite Levarei Sua Alma, anexo entrevista com José Mojica Marins). Ruy Santos
profissional para que fosse entendido pela equipe técnica. Desta vez quem reescreveu o
roteiro de Mojica foi Ozualdo Candeias. Finalizado em 1963, Meu Destino em tuas
lançar-lo. A censura proibiu o filme para menores de 14 anos, dificultando ainda mais as
chances de obter algum sucesso. Mojica alugou por duas semanas o Cine Europa, na
Praça da República, para chamar a atenção do público. “Não deu certo: as crianças
filmes eróticos do centro de São Paulo. Era o mesmo western acrescido de cenas
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adicionais de mulheres nuas. Estas cenas foram fotografadas pelo veterano da Vera
Cruz, o italiano Giorgio Attili, que seria o fotógrafo dos filmes de Zé do Caixão.
Na mesma noite, Mojica ditou o roteiro de À Meia Noite Levarei Sua Alma para a
produção de Geração Maldita alegando que era um projeto muito caro e que seriam os
Caixão, que aterroriza uma pequena cidade e no fim é morto pelos espíritos de suas
cruzeiros. Para completar a verba, Mojica pediu dinheiro emprestado, seus pais
venderam o carro e ele acabou por vender toda a mobília de seu apartamento, incluindo
suas roupas (DVD – À Meia Noite Levarei Sua Alma, anexo entrevista com José
Mojica Marins).
O casamento com Rosita não ia bem, a esperada gravidez não chegava nunca,
ocasionando brigas entre o casal. Rosita foi para a casa dos pais e Mojica foi morar com
a amante Maria José do Prado, com quem já tinha um filho, Crounel. Era uma separação
provisória até terminar o filme, mas Mojica e Rosita nunca mais viveram juntos. Na
trama de À Meia Noite Levarei Sua Alma, Zé do Caixão procura a mulher perfeita
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para lhe dar um filho e assim decide matar Lenita, sua esposa, já que ela não consegue
engravidar. “A mulher que não consegue ter filhos não precisa de cuidados” diz Zé do
Caixão no filme, refletindo a postura de Mojica em relação à esposa que durante anos
não conseguira engravidar no casamento. Aqui notamos mais um traço da vida pessoal
À Meia Noite Levarei Sua Alma se passa numa pequena cidade do interior não
procissão religiosa que passa. Depois de matar sua esposa Lenita com uma aranha
Rodolfo começa a suspeitar que o coveiro seja o autor das mortes, Zé do Caixão fura
seus olhos e o queima vivo. Zé do Caixão ignora as previsões trágicas que uma bruxa
cigana faz para ele, e no dia dos mortos ao atravessar o cemitério se depara com
espíritos do além que o perseguem até aparentemente morrer na câmera mortuária onde
Nacional, e decidiu, para economizar com o transporte nas cenas externas, construir
todos os cenários no local. “O cenógrafo José Vedovato fez verdadeiros milagres com o
cartolina, usou serragem para fazer a terra do cemitério e pintou paredes de madeira
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Mojica cortaram as árvores e arbustos do Largo do Arouche para construir uma floresta
secretária da Apolo, Magda Mei como Terezinha e Nivaldo Lima e Valéria Vasques
fariam Antônio e Lenita respectivamente. Dr. Rodolfo seria interpretado por Ilídio
Simões Martins, corretor de imóveis que comprara dez cotas do filme. O restante do
elenco era composto por alunos da Apolo, até os pais de Mojica atuaram no filme,
Antonio Marins faz o dono do bar e Carmen a mãe de uma das vítimas do Zé.
Oliveira como seu assistente, Mojica como diretor e Luis Elias faria a montagem. A
maquiagem seria feita pelo argentino Gilberto Marques. A verba para a compra de
negativos era muito reduzida, suficiente apenas para quinze latas, equivalente a 150
minutos. Para um filme de 80 minutos de duração era muito pouco, não poderiam errar
durante as filmagens (DVD – À Meia Noite Levarei Sua Alma, anexo entrevista com
Dois dias antes de iniciar as filmagens o ator Drausio de Oliveira, ao saber que
teria que lidar com uma aranha caranguejeira desistiu do papel de Zé do Caixão. Depois
com as unhas postiças ficara tão bom que Mojica foi exibi-las no programa Clube do
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Lar, apresentado por Walter Foster no canal 5 de São Paulo. O programa era
patrocinado pelo salão de beleza onde foram feitas as unhas postiças do Zé do Caixão.
do Caixão, a pedidos do apresentador rogou sua primeira praga. As pragas rogadas por
Como não usavam som direto nas filmagens todos os atores seriam dublados por
dubladores contratados da Odil Fono Brasil, inclusive Mojica que tinha dificuldades na
pronúncia do português. “Mojica travava duras batalhas com o plural e desde pequeno
sofria para pronunciar o “L”. “Problema” virava “pobrema”; “alvará” era “arvarau”
outubro de 1963 e duraram até seis de novembro do mesmo ano. Mojica e a equipe
trabalhavam em ritmo acelerado. Muitos dormiam ali mesmo no estúdio. Giorgio Attili
experimentava possibilidades que não eram possíveis nos filmes de estilo conservador
que fazia na Vera Cruz. O estilo de produzir de Mojica também era bem diferente do
que os técnicos estavam acostumados na Vera Cruz, com regras de trabalho em cenários
bem iluminados e sets de filmagem limpos. “Mojica fazia coisas que, naquela época
Depois de montado por Luis Elias, Mojica enfrentava dificuldades para distribuir
o filme. Seu filho com Rosita havia nascido e as dívidas aumentavam. Milton Silva,
proprietário de uma distribuidora que controlava parte das salas de cinema no Nordeste,
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137
produção e comprou as cotas de Mojica e de outros alunos. Passou a ter mais de 70% do
filme e logo revendeu, pelo triplo do preço que havia pago, para Nelson Teixeira
À Meia Noite Levarei Sua Alma estreou em São Paulo em novembro de 1964 e
quarteirão do cine Art-Palácio Mojica percebeu seu erro ao vender sua parte. O filme foi
amplamente discutido pela crítica que se dividiu ao meio. Mojica era odiado pela
maioria dos críticos que viram apenas um filme primário sem notar o estilo próprio do
Marins).
O êxito de À Meia Noite Levarei Sua Alma, atrai mais alunos para escola. Em
1965, Mojica aluga uma sinagoga abandonada no bairro do Brás. Com mais espaço, lá
do Caixão, Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver. Neste filme Mojica inclui uma
câmara de torturas, muitas aranhas e cobras, uma seqüência de ação num pântano e a
Levarei Sua Alma, financia o novo projeto. Oferecendo os negativos necessários para
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filmar sem preocupação e um orçamento três vezes maior que o filme anterior. Augusto,
O filme começa exatamente onde parou À Meia Noite Levarei Sua Alma. Um
alucinações sofridas pelo coveiro. Ele é encontrado pelos moradores e se recupera num
hospital, dos tormentos que sofreu. Logo se junta a Bruno (um ajudante corcunda) e
seqüestra várias moças da cidade a fim de continuar sua busca pela mulher perfeita. Zé
passeiam pelo corpo delas. Somente Márcia é aprovada neste teste, mas falha na prova
falharam no teste das aranhas, serem mortas por cobras num poço. Jandira, uma das
moças, roga uma praga em Zé do Caixão antes de morrer. Márcia pede clemência pelas
conhece Laura, filha do coronel Almendes. Ele seduz a moça e a engravida. O irmão
dela, Cláudio, enfrenta o coveiro e acaba morto na câmara de torturas. Laura passa mal
e morre com o filho no ventre, terminando o sonho de Zé do Caixão de ter um filho para
dar continuidade à sua linhagem. O coronel Almendes, para se vingar das mortes de
Laura e Cláudio, envia um grupo de capangas para matar Zé do Caixão, mas são
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cadáveres das moças. Ele desafia a população e a existência de deus, nesse momento os
produtor e ator, interpretando Cláudio, o irmão de Laura que tem a cabeça esmagada na
Assim com havia sido em À Meia Noite Levarei Sua Alma, José Vedovato, agora
minutos de duração, pouco menos de cinco minutos foram filmados fora da sinagoga.
diversos contratempos. Ou eram as atrizes que tentavam fugir do set, enojadas com as
caranguejeiras, ou eram as próprias aranhas que não se moviam. Para fazer as aranhas se
Levou quatro dias para filmar todas as seqüências com os animais. Em vez dos
ventiladores, os técnicos usaram longos tubos de papelão que sopravam para controlar o
movimento das caranguejeiras, além de fios de náilon amarrados nas patas delas (DVD
não precisaram fingir pânico, já que estavam realmente apavoradas. As cobras foram
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emprestadas pelo Instituto Butantan, que dois anos antes emprestara a aranha
vaga pelo inferno, construído ali mesmo na sinagoga. Nesta cena o filme em preto e
branco se tornava à cores. O inferno, neste caso gelado, foi feito com madeira e gesso,
lembrando o interior de uma caverna. O gelo no chão era feito de pipocas e o sangue
que escorre pelas paredes com uma mistura de sal de fruta e tinta vermelha. Uma
seqüência de alucinação surreal com cabeças, braços e pernas saindo das paredes,
preta para tapar metade da lente na câmera rodaram a cana com Nero cercado de
Zé do Caixão ao seu lado. Em perfeita sincronia sem nenhum sinal de que as duas
para quem quisesse molhar o bico durante as filmagens. Mojica só trabalhava com um
de Mojica, Attili e do montador Luis Elias pareciam ter sido filmadas numa floresta
fundo, e filmou trocando sempre o ângulo de visão, dando a impressão de que se tratava
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estudantes e realizadores de cinema de São Paulo que iam para a sinagoga para aprender
soluções criativas.
Sua Alma, como os planos dos olhos de Zé do Caixão injetados de sangue. Também
lançou mão de um recurso efetivo para evitar o custo da saída da equipe para filmar uma
externa de uma mansão. Enviou Ozualdo Candeias para tirar uma foto da casa e depois
fizeram de Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver, o filme mais popular de Mojica.
brasileira. No Rio de Janeiro Mojica viria a ser conhecido pelos cineastas do Cinema
organizando sessões especiais de exibição de À Meia Noite Levarei Sua Alma para os
cineastas e atores do Cinema Novo. Em São Paulo, Luis Sérgio Person era o maior
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relacionado a temas populares, mas ao mesmo tempo rejeitava qualquer não intelectual
que viesse a fazer um cinema verdadeiramente popular. “Os únicos cineastas famosos
que vieram a público elogiar Mojica foram Glauber Rocha, Person e Roberto Santos
157). Em São Paulo, na Escola de Cinema do São Luiz, Carlos Reichenbach, João
Callegaro e Carlos Alberto Ebert, juntamente com Jairo Ferreira e Rogério Sganzerla,
37).
conheceu o escritor Rubens Francisco Luchetti, iniciando uma grande parceria entre os
dois. Luchetti já era um escritor conhecido entre os fãs de horror e policial. Quando
assistiu À Meia Noite Levarei Sua Alma, se impressionou com o estilo único do filme
logo encomendou um roteiro para Luchetti, um filme com três episódios de terror
1966 e foi interditado pela censura. Iniciou-se um longo processo de negociação entre o
produtor Augusto Pereira e o órgão responsável pela censura. Foram exigidos cortes nas
cenas com as cobras e aranhas, toda uma seqüência em que Zé do Caixão queima uma
mulher viva foi excluída. Porém o filme só seria liberado se fosse alterada a cena final
Encarnação do Demônio – anexo entrevista com José Mojica Marins). Augusto Pereira
142
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foi notificado de que a cena tinha que ser alterada, procurou um dos chefes da secretaria
de censura, Augusto Costa que exigiu uma redublagem da cena onde Zé do Caixão faria
crédula, justamente o oposto de seu caráter. Também dando ao filme um final “feliz”,
Mojica.
uma sessão de pré-estréia de Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver numa sexta-feira
acontecera antes a crítica se dividiu. Mojica foi muito atacado, até mesmo a busca pelo
filho perfeito de Zé do Caixão foi associada ao nazismo (DVD – À Meia Noite Levarei
Sua Alma, anexo entrevista com José Mojica Marins). Em resposta, Sganzerla,
143
144
Augusto Pereira aproveitou o sucesso do filme, fez vinte e cinco cópias e iniciou
a distribuição na grande São Paulo, lotando cinemas tanto no subúrbio como no centro.
No dia 24 de abril foi lançado em doze salas de cinema do Rio de Janeiro. “Pode-se
calcular – de forma aproximada, claro – que Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver
de filmes brasileiros divulgado pela Embrafilme em 1984, que leva em conta os filmes
lançados desde 1970. Na lista aparecem Dona Flor e seus Dois Maridos (10,7
Salomão (5,7 milhões) nos três primeiros lugares. Augusto Pereira comprou a parte de
Fracari no filme, bem como a de Mojica, que novamente estava com dívidas. Mojica
não ganhou nada pela bilheteria do filme, continuava pobre mesmo depois de dirigir
dois filmes de sucesso, e Augusto Pereira, único dono da produção, fez fortuna.
atores. Houve tapas na cara, strip-teases, jibóias, baratas foram comidas, até mesmo
Mojica recebeu chicotadas na face. A imprensa deu grande destaque para o espetáculo
imagem pública de Mojica era a de um louco varrido, mas por trás de toda sua
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1998, p. 183).
sendo interditada pela Divisão de Diversões Públicas (DDP) de São Paulo, o que trouxe
mais reportagens em jornais e revistas que forneceram grande publicidade gratuita para
horror encenadas por alunos de Mojica e escritas por Luchetti. As histórias de uma hora
de duração eram apresentadas por Zé do Caixão que no primeiro programa realizou seus
testes. Colocou moças num viveiro de jibóias e enterrou vivo um de seus alunos. No
final, Zé do Caixão rogava uma praga para o telespectador. A novata Bandeirantes logo
passou a líder de audiência nas noites de sexta-feira em São Paulo. O programa era
nacional como sinônimo de algo bizarro ou macabro, e Mojica era um dos artistas mais
não paravam de explorar os testes macabros. Mojica se tornou muito famoso, atraindo
atribuir uma aura mística à Zé do Caixão. Muitos doentes procuravam Mojica para
serem “benzidos” pelas unhas do Zé do Caixão. Porém, Mojica continuava com uma
aos números de audiência que atingia. Mojica também sustentava vários de seus
145
146
seu nome.
uma linha de produtos de beleza chamada Mistério, contando com vitalizante de unhas
(feito com lama radioativa de Serra Negra?!?), sabonete, xampu, desodorante, creme
para a pele e tônico capilar. O amadorismo em administrar sua carreira profissional fez
com que Mojica, na maioria das vezes, se envolvesse com pessoas não confiáveis, que,
filme com histórias curtas de horror, Trilogia de Terror. O produtor Renato Grecchi
dividindo os episódios entre três diretores: Mojica, Ozualdo Candeias e Luis Sergio
Person.
homem que sofre de catalepsia e é enterrado vivo. Assim que terminou seu episódio,
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motivos contratuais não podia usar a personagem Zé do Caixão em uma produção que
não fosse de Augusto Pereira, portanto teve que criar uma nova personagem. O
professor Oaxiac Odez (Zé do Caixão ao contrário) interpretado por Mojica usando
peruca e brincos na orelha. Oaxiac Odez para provar sua teoria de que o instinto é mais
forte que a razão, submete um casal a toda sorte de torturas e privações. Culminando
1967, mesmo os filmes de Herschell Gordon Lewis do mesmo período não chegam
Trilogia de Terror teve cortes exigidos pela censura nos três episódios, foi
diferente. A censura exigia uma punição para o personagem Oxiac Odez. George
Michel, o egípcio que financiava o filme, havia trabalhado como figurante no filme Um
Homem Em Nossa Casa (1961) com Omar Sharif, e adquirira uma cópia do filme na
cinemateca do Cairo. Mojica cortou a cena final do filme egípcio, uma explosão num
intencionando dar o sentido de que Oxiac Odez explodiu por justiça divina.
147
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desta vez causando a destruição até de um reflexo seu, a personagem Oxiac Odez.
Anormal (1978). Confundindo ainda mais criador e criação, já que quase sempre José
totalmente a essência da personagem nos seus dois primeiros filmes, que desafia a
perfeitos foi substituída pelo sadismo dos testes sensacionalistas e o mau agouro das
pragas rogadas (um paradoxo já que Zé do Caixão não crê em maldições ou outras
elementos deste modelo original, sua aparência continua a mesmo, bem como a
predisposição para testes sádicos. As pragas também são elementos marcantes nos dois
primeiros filmes, apesar de não serem rogadas por Zé do Caixão, e sim por outras
personagens.
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Record. Mais tarde voltaria à Bandeirantes em 1996 para apresentar o Cine Trash,
sempre apenas como um anfitrião para histórias de horror, fossem elas nacionais ou
entrevistado, jurado, etc. Portanto, devido ao poder de alcance que a televisão tem no
Brasil, muito maior que o do cinema, a pronúncia “errada” da língua portuguesa de José
Mojica passou por altos e baixos, ao mesmo tempo em que entrou em decadência depois
1973. No ano seguinte Mojica foi a Paris e recebeu o troféu Lécran Fantastique, pelo
encontrou-se com o ator Christopher Lee, depois de Lugosi o mais tradicional intérprete
produções B dos anos 1950 e 1960, a partir de 1993, por intermédio de André
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Barcinski, lança os filmes de Mojica em VHS nos Estados Unidos. Chamando a atenção
sua obra em três festivais de cinema: Rimini, na Itália; Sitges, na Espanha e no Festival
de análise neste estudo, cuja verdadeira essência como vimos está contida nos filmes À
Meia Noite Levarei Sua Alma e Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver, deixaremos
de um processo de resgate cultural da obra de José Mojica Marins, iniciada nos anos
1990. Este resgate se deve muito ao empenho do jornalista e pesquisador Carlos Primati
em fazer um levantamento do trabalho de Mojica que durou mais de cinco anos e levou
por se associar com Mojica para corrigir os erros cometidos pela censura com a
personagem Zé do Caixão.
dos técnicos da Vera Cruz, a vontade e o vigor de uma nova geração. A direção do filme
150
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em seu último filme, Adriano Stuart e Milhem Cortez. O orçamento do filme, cerca de
um milhão e meio de reais, foi superior a qualquer produção feita por Mojica, que
Demônio Zé do Caixão não foi dublado, ele usa a voz de Mojica, que foi popularizada
portuguesa, sem concordância com o plural, habitualmente falada por Mojica (também
brasileira) foi eliminada nas filmagens para manter a coerência com os filmes
anteriores. Como foi utilizado som direto para a captação do áudio, Mojica foi obrigado
Cadáver. Diferente dos primeiros filmes que não tinham um espaço definido, se
narrativas), neste filme o espaço é a cidade de São Paulo. Descobrimos que Josefel
Zanatas não havia morrido no lago e que estivera preso todo esse tempo. Libertado, Zé
do Caixão, agora apoiado por novos ajudantes, dá prosseguimento a sua busca por uma
mulher perfeita para gerar seu filho. Enfrenta policiais e padres vingativos enquanto
alucina com os espíritos de suas vítimas. Zé do Caixão, também passeia pelo purgatório
em seus delírios. Acaba morrendo, mas cumpre seu objetivo deixando várias moças
grávidas.
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O grande mérito do filme e interesse para este estudo é justamente a cena em que
continuidade da cena que teve que ser redublada por exigência da censura e que alterou
cruz para o padre antes de desaparecer nas águas. De maneira extremamente fiel, a cena
foi recriada para que tivesse continuidade. Depois de afundar no lago, Zé do Caixão se
ergue nas águas, pega a cruz do padre e proferindo blasfêmias golpeia o padre com a
Para interpretar o Zé do Caixão jovem era preciso alguém que fosse muito
parecido com a personagem que aparece em Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver
halloween, havia se fantasiado como Coffin Joe e colocou uma série de fotos em um
website. A semelhança era incrível, o que fez com que o rapaz fosse escolhido e viesse
dos Estados Unidos para dar vida ao jovem Zé do Caixão, resultando numa seqüência
Caixão nos permitiu determinar os filmes mais relevantes na construção de sua imagem
152
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pressupostos teóricos do horror discutidos no início deste estudo. Também faremos uma
cinematográfica original, que aparece como uma personagem real dentro de seu mundo
história se desenvolve nos filmes À Meia Noite Levarei Sua Alma e Esta Noite
Caixão é a dos filmes do ciclo de horror da Universal Studios nos anos 1930 e 1940.
cabeça aos pés, incluindo a capa, as unhas compridas como as garras do Conde Orlock
conde vampiro frente aos mortais que o rodeiam. A casa de Zé do Caixão é um castelo
gótico brasileiro, com esculturas bizarras de mãos e braços saindo das paredes, animais
empalhados, ventos que sopram cortinas esvoaçantes, vozes fantasmagóricas que ecoam
pelos corredores, quadros com pinturas cujos olhos falsos permitem a observação,
habitações que escondem passagens secretas e até mesmo uma mistura de laboratório
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154
com masmorra. É no castelo de Drácula que Harker sofre os horrores das noivas
arqueada, antecedendo seus ataques de fúria, foram realizados por meio de uma
trucagem, sobrepondo uma foto dos olhos de Mojica com os globos oculares pintados
com listras. Estes planos remetem aos closes nos olhos de Lugosi, destacados pela
seus ataques. Também se relacionam com planos semelhantes de Drácula que aparecem
Lee injetados de sangue, efeito obtido por meio da utilização de lentes de contato.
Alma, também lembra muito a sensualidade e as carícias nas vítimas durante os ataques
não tem limitações para satisfazer seu apetite sexual e estupra sua vítima. O breve
maneira que Van Helsing descobre que um vampiro é a causa dos males que se abatem
sobre as jovens, é o Dr. Rodolfo que confirma por meio de exames que as mortes não
foram acidentais e que Zé do Caixão é o provável autor dos assassinatos que estão
ocorrendo na vila. Neste caso, a ciência de Dr. Rodolfo contra a razão (ou falta desta) de
Zé do Caixão.
2
“Plano que compreende o rosto e permite captar a expressão mais íntima da personagem. Seu uso é
emotivo, dramático e psicológico” (RAMOS, 2002, p.469).
154
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laboratório do cientista louco. Semelhante ao que o Dr. Frankenstein usa para dar vida
contrariamente. Ao invés de usar o espaço para criar vida, Zé do Caixão usa para
extinguir a vida, seja com cobras ou mesmo com aparatos mecânicos, como a prensa de
pedra que usa para esmagar a cabeça de Cláudio. Também, a personagem Bruno, o
moradores com tochas nas mãos adentrando o cemitério em À Meia Noite Levarei Sua
cinema de horror para a realidade brasileira sem tentar imitar modelos anglo-saxões. A
taberna em que Zé do Caixão joga cartas e bebe, assim como a floresta, a casa da bruxa
despacho de macumba que Zé do Caixão não hesita em profanar bebendo sua cachaça.
de objetos que ornam as paredes. Esta adaptação de elementos dos filmes de terror à
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produzidos fora dos Estados Unidos na época. Como o ciclo de horror italiano, que
cultural própria.
Outra influência marcante que devemos notar nos filmes de Zé do Caixão vem
quadrinhos em sua juventude. Também observamos que no início dos anos 1960 o
gênero horror ocupava um espaço cada vez maior no mercado de quadrinhos brasileiros,
faz a cena de introdução falando diretamente ao espectador, captando sua atenção para a
amplamente utilizado nas revistas da EC, a abertura da história por um anfitrião. Porém
a bruxa-cigana está inserida no contexto da cultura nacional, sua casa traz elementos
diferente dos anfitriões que apareciam nos quadrinhos de terror que circulavam no
quadrinhos ele próprio se tornou um anfitrião, mudança marcante que também vimos na
manteve sua identidade brasileira, fazendo com que as primeiras histórias de horror com
temas e ambientes brasileiros nos quadrinhos nacionais fossem aquelas introduzidas por
O trabalho de iluminação feito por Attili nos dois filmes, contrastando o claro e
o escuro, lembra muito a fotografia dos filmes expressionistas. Esse contraste, com os
156
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também são característicos dos quadrinhos de horror, e muito utilizado por Nico Rosso
Outro recurso marcante dos quadrinhos é o uso freqüente de closes para contar a
história e Mojica ao longo dos dois filmes abusa de detalhes para conduzir a narrativa e
planejando matar Lenita, e depois quando a aranha caranguejeira passeia pelo corpo de
seus trabalhos. Já que ele é um dos poucos diretores de cinema do Brasil que não veio
da classe média ou da elite intelectual do país. Um autodidata que não teve contato com
culturais populares.
são construídas tendo modelos conhecidos, ficcionais ou reais, mas que servem de
José Mojica Marins. Na exposição sobre o início da carreira de Mojica vimos que
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para o exame desta personagem por meio dos pressupostos teóricos selecionados e
personagem Zé do Caixão. Ele se aproveita de todas as chances que tem para desafiar
estas mesmas forças não naturais provas de sua existência. Esta descrença no não
natural impulsiona sua crueldade, pois não acreditando em qualquer tipo de punição
divina, sua única preocupação é com a justiça dos homens. Por isso ou tenta disfarçar
seus assassinatos, a morte de Lenita com uma picada de aranha e a morte de Antonio
Levarei Sua Alma. Ou oculta os corpos de suas vítimas, como as moças mortas pelas
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dos monstros ficcionais, por não ser ele a materialização do elemento fantástico na
narrativa, mas por ser um monstro que sofre a ação de forças não naturais. Zé do Caixão
em que o fantástico se manifesta veremos que ele passa pelas três possibilidades, puro,
Terezinha. Nesta cena temos uma hesitação sobre a procedência do fenômeno. São
realmente vozes que vem do além ou alucinações de Josefel Zanatas? O que denota o
fantástico puro, mas nas seqüências finais vemos o fantasma de Antônio oferecendo
fantástico maravilhoso. Logo nas primeiras cenas de Esta Noite Encarnarei no teu
claro. “Zé do Caixão obsecado pelo nascimento de um filho perfeito não exitou em
matar. E os seus próprios nervos lhe deram o martírio da alucinação” (DVD – Esta
coveiro e ao clamar por mais uma prova os cadáveres de suas vítimas escondidas no
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humanos também sofrem a ação de espíritos que até então aparentavam ser delírios de
Zé do Caixão. O policial Oswaldo é assombrado pelos espíritos das crianças que matou
repugnância no espectador.
cidade que se sentem impotentes frente a ele. Esta posição de inferioridade fica muito
clara pelo enquadramento da câmera. Nas cenas em que Zé do Caixão aparece junto aos
moradores da cidade, ele sempre é focalizado com uma câmera baixa, dando a sensação
de superioridade. Suas vítimas reagem com grande pavor a seus ataques, bem como as
que nada fizeram para merecer o mal que se abate sobre elas na forma do vampiro.
Laura e Márcia sabem dos sádicos crimes cometidos por Zé do Caixão e assim se
no teu Cadáver foram selecionadas por serem descrentes de deus, o que também acaba
Caixão (que goza de livre arbítrio para tomar suas decisões), e algumas de suas vítimas
até mesmo colaboram para que este mal aconteça. O oposto de Drácula que é a
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vampiro, pois o mal exterior é um de seus atributos principais. A carta do tarô do horror
que cabe para a personagem Zé do Caixão é a carta do lobisomem. Tal qual Jekyll e
como um cavalheiro, mas quando pode dá vazão aos seus desejos sádicos. Em À Meia
Noite Levarei Sua Alma, durante o jogo de cartas no bar, Zé do Caixão cruelmente
decepa um dedo da mão de seu adversário, mas logo em seguida manda chamar um
constantemente pelos moradores da cidade, seu lado maléfico fica contido para ser
categoria de monstros originados pela metonímia do horror. Embora as longas unhas lhe
está associado a uma série de elementos macabros que causam repulsa: caixões,
Caixão, mas sim dos elementos impuros que o cercam. Desta maneira, distingui-se de
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Drácula que causa a repulsa por si próprio devido a sua origem na fusão de elementos
personagens, Drácula, como vimos, opera entre o horror explícito e o horror refinado.
seus filmes. A grande quantidade de closes nas aranhas e cobras e o gore nas cenas de
contrariando as expectativas das grandes produções que tendem a se arriscar menos, não
não é uma prerrogativa para o gênero do horror. Em muitos casos não existe um
pretende é provocar apenas o horror artístico através do filme de horror. Creio que este
seja o caso dos filmes de Zé do Caixão que usamos como referência neste estudo. É
claro que se pode fazer uma leitura diferente destes filmes como a que Sganzerla
uma contestação à ditadura e na sua busca pelo filho perfeito alusões a Nietzsche.
pune aqueles que duvidam da religião católica. Porém não me parece crível que Mojica
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objetivasse algo nestes filmes que não fosse o horror artístico. Também não me sinto
seguro para concordar que tais leituras sejam realmente um subtexto presente nestas
narrativas.
enredos mais recorrentes do gênero, notamos que eles se encaixam nestes modelos,
embora não com a perfeição de Dracula. Observamos que o filme com Lugosi
Drácula, que depois de sair de seu castelo na Transilvânia passa a agir às escondidas,
Caixão é o centro das atenções durante todo o tempo, sobrando pouco espaço para as
confirmação aconteçam muito brevemente em À Meia Noite Levarei Sua Alma, mas
ainda assim o enredo do filme corresponde a esta estrutura. Logo no início do filme
feira santa. No desenrolar da trama fica claro que os moradores da cidade sabem que o
coveiro é o culpado das mortes que acontecem, apesar de não terem provas não hesitam
acontece rapidamente na cena em que Dr. Rodolfo, ao analisar os laudos das mortes de
Antônio e Lenita, constata que não foram acidentes. Mas esta confirmação se restringe
apenas à personagem Dr. Rodolfo, pois logo em seguida Zé do Caixão fura seus olhos e
o mata queimando-o vivo. Também podemos notar estes movimentos num segundo
descobre forças não naturais quando ouve as vozes de suas vítimas em sua casa e
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experiência propriamente dita, testar a reação das moças até identificar uma delas que
sobre as moças, neste primeiro teste somente Márcia é selecionada, mas falha na
segunda prova ao não suportar ver as outras moças serem mortas pelas jibóias. Assim a
nenhuma das candidatas era a mulher perfeita, seu método parece eficaz. Porém, ele
descobre que Jandira, uma das moças mortas pelas jibóias, estava grávida. Fazendo com
ele tivesse destruído a vida inocente de uma criança. A experiência deu errado e Zé do
Caixão passa a lidar com seu resultado, alucinações e pesadelos. Também podemos
revelando que o coveiro é o autor dos crimes. Posteriormente temos mais uma vez a
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o horror muitas vezes de maneira refinada, apenas sugerindo-o. Numa produção ousada
Hollywood.
sofre a ação do sobrenatural, que dá vazão a todo o mal que existe em seu interior e que
monstro em que a impureza não está na sua figura, mas sim na associação aos elementos
macabros que o cercam, metonímia do horror, e que são explicitados graficamente a fim
cinematográfica de Hollywood.
nenhum dos monstros tradicionais do cinema de horror, mas sim uma autêntica
personagem de horror brasileira, cuja originalidade fica evidente quando colocada frente
é a de seu criador José Mojica Marins, o que lhe dá uma singularidade ímpar, presente
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CONCLUSÃO
fazer algumas considerações finais sobre uma questão que discutimos brevemente, o
pessoas podem ser tocadas emocionalmente por aquilo que sabem não existir. Porém
quanto ao paradoxo do horror, que equivale a perguntar como as pessoas podem ser
Carroll ressalta que o gênero horror floresce, sobretudo como uma forma
mas sim a estrutura narrativa em que ela é inserida. O prazer na ficção de horror e o
freqüentemente empregados nestas narrativas. “Somos atraídos pela maioria das ficções
horror, como a fotografia e a pintura, que não contém, pelo menos de maneira explícita
uma narrativa com estes movimentos de descoberta. Da mesma forma vimos que
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existem várias narrativas de horror que também não oferecem estes recursos, podendo
suficiente para resolver o paradoxo do horror. Creio que aliando a teoria de Carroll com
desejos sexuais reprimidos satisfeitos oralmente pelo ato de chupar sangue. Observando
o gênero horror por esta visão, podemos entender que os monstros e seus atos
modo que a repulsão do horror é na verdade uma máscara para desejos sexuais que não
horror e resolver melhor o complexo paradoxo do horror, do qual partiu esta pesquisa.
estudo.
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ficou muito clara nos filmes de Zé do Caixão, talvez por este tópico permitir uma leitura
muito subjetiva. Ainda assim apontamos algumas possibilidades para esta questão. A
gênero horror.
entre as duas personagens. Ambas usam capa, se vestem de preto e estão cercadas por
elementos macabros como caixões e cemitérios. Também é possível fazer uma analogia
entre as duas personagens pela busca da imortalidade, que em Drácula se dá pelo sangue
notamos influências de Drácula, mas constatamos que a referência principal para esta
personagem é seu próprio criador José Mojica Marins. Distanciando ainda mais as duas
Por meio destas duas hipóteses atingimos o objetivo geral deste estudo. Ao
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observá-lo por uma perspectiva pertinente ao gênero horror e assim poder compará-lo
com um modelo ideal dentro deste gênero. A partir dessa análise comparativa foi
horror.
Outro objetivo neste estudo era fazer a análise das duas personagens destacando
transformações nestas mudanças de veículos. Assim, a delimitação das obras, com estas
vale de recursos semelhantes para fascinar o público, embora também seja inovador em
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“De boa fé, troco vinte anos de cinema brasileiro pelos vinte segundos em que
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Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver. Direção José Mojica Marins. Brasil. 1967.
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DVD’s:
À Meia Noite Levarei Sua Alma. Direção José Mojica Marins. Brasil. 1964. Anexos -
Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver. Direção José Mojica Marins. Brasil. 1967.
Websites:
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