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ARARAQUARA – S.P.
2018
KÊNIA FRANCINE RODRIGUES
ARARAQUARA – S.P.
2018
1 RESUMO
A melancolia e a morte são temas frequentes nas poesias do americano Edgar Allan
Poe (1809 – 1849). Em algumas delas esses sentimentos são representados através do luto
sofrido pelo eu-lírico, o qual encontra-se em sofrimento pela morte da mulher amada. A partir
dessa premissa, ao analisar certos pontos da vida de Poe, percebe-se de onde viria uma
manifestação de luto tão profunda em seus escritos. Compreendendo as características dos
estados sentimentais citados e relacionando com determinados registros biográficos, este
estudo pretende analisar as poesias Annabel Lee, Eulalie, The Raven, The Sleeper e Ulalume
através do conceito poético de Beleza expressado pelo próprio poeta em seu ensaio The
Philosophy of Composition, ao afirmar que a morte de uma bela mulher é o tema mais poético
do mundo e demonstrar a representação do luto, sua relação com a melancolia e como o poeta
dispõe as palavras no texto para que tais dimensões sejam alcançadas, atingindo o leitor com a
manifestação dos sentimentos pretendidos.
Palavras-chave: Edgar Allan Poe; Romantismo; Poesia; Melancolia; Morte; Luto; Morte de
mulheres; The Raven; Ulalume;
2 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
1
“(...) este poema per se, este poema que é um poema e nada mais, este poema escrito por ele mesmo.” Tradução
de Oscar Mendes e Milton Amado em Poemas e Ensaios. São Paulo: Globo, 1999. p. 79
Tendo The Raven sua importância para a escrita de The Philosophy of Composition, há
outros poemas de Poe que influenciaram a literatura: The Bells (publicado em abril 1849) e
Annabel Lee (publicado em 9/10/1849). The Bells é um poema voltado para a relação da
poesia com a música, com a utilização de onomatopeias, sendo o significado de cada palavra
menos importante do que seu som: “The ideas in “The Bells” are of secondary importance.
What is significant is the stressed, catching, pounding rhythm and the shifting melodious
sonorities that give the poem its remarkably dramatic auditory effect.”2 (KNAPP, 1984, p.96).
Keeping time, time, time
In a sort of Runic rhyme,
To the throbbing of the bells —
Of the bells, bells, bells —
To the sobbing of the bells: —
Keeping time, time, time
As he knells, knells, knells,
In a happy Runic rhyme,
To the rolling of the bells —
Of the bells, bells, bells: —
To the tolling of the bells —
Of the bells, bells, bells, bells,
Bells, bells, bells —
To the moaning and groaning of the bells.
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“A melancolia associada à perda e ao luto, que normalmente domina a maioria de seus poemas, não se
encontra em, por exemplo, Mother e The Bells, nos quais ele não explora o tema da morte.” Tradução
nossa.
the sensitive soul to tears. Melancholy is thus the most legitimate of all the poetical
tones.5 (POE, XXXX, Norton p. 722)
A Beleza da qual Poe fala tanto neste ensaio quanto em The Poetic Principle se refere
mais à ideia de um efeito do que de uma qualidade. De acordo com Álvaro Cardoso Gomes
(1997, p.21-22) essa concepção de Beleza na poesia tem influências de Schlegel e Shelley, só
que para Edgar Allan Poe esse sentimento do Belo é “como uma espécie de reminiscência
platônica”. Ou seja, a Beleza é, além de tudo, intocável. “Em termos platônicos, é através da
manipulação do belo transitório nas coisas sensíveis, que se atinge a Beleza “inteligível”.”
(GOMES, 1997, p. 23). Essa concepção do transitório para o poeta é discutida por Sigmund
Freud em seu texto Sobre a transitoriedade, que também será abordado no desenvolvimento
deste projeto.
Ainda em The Philosophy of Composition, Poe também explica a designação do tema
em The Raven: “I asked myself- "Of all melancholy topics what, according to the universal
understanding of mankind, is the most melancholy?" Death, was the obvious reply.”6 (POE,
2012, p. 723)
Qual seria a origem desse tema e tom melancólico? No artigo Melancolia e
Depressão: Um Estudo Psicanalítico os autores Mendes, Viana e Bara (2014) contam
brevemente a história da melancolia a partir de registros literários. Em sua monografia sobre a
“bile negra”, Aristóteles associa a origem da bile negra a partir da melancolia que é relativa ao
que ele chama de
5
“Encarando, então, a Beleza como a minha província, minha seguinte questão ao tom de sua mais alta
manifestação, e todas as experiências tem demonstrado que esse tom é o da tristeza. A Beleza de qualquer
espécie, em seu desenvolvimento supremo, invariavelmente provoca na alma sensitiva as lágrimas. A melancolia
é, assim, o mais legítimo de todos os tons poéticos.” Tradução de Oscar Mendes e Milton Amado em Poemas e
Ensaios. São Paulo: Globo, 1999. p. 105
6
“perguntei-me: “De todos os temas melancólicos, qual, segundo a compreensão universal da humanidade, é o
mais melancólico? A Morte – foi a resposta evidente.” Tradução de Oscar Mendes e Milton Amado em Poemas
e Ensaios. São Paulo: Globo, 1999. p. 107
Ao chegar no período do Romantismo, em que se situa Poe, os autores comentam que
“No plano filosófico e literário, a melancolia é caracterizada como tédio, como falta de
interesse pelo mundo externo, dor existencial, paralisia psíquica, tristeza profunda,
abatimento, desgosto, etc.” (MENDES, VIANA & BARA, 2014, p. 424). Ou seja, ao
contrário de Aristóteles, os Românticos associavam a melancolia à memória. Finalizando a
breve apresentação sobre a história da melancolia, Mendes, Viana e Bara (2014) utilizarão em
seu artigo o ponto de vista psicanalítico sobre melancolia, apresentado por Freud em Sobre a
transitoriedade (1916[1915]):
3 OBJETIVOS
O objetivo principal deste trabalho é apresentar o luto relacionado ao símbolo
feminino na poesia de Edgar Allan Poe através dos poemas The Raven, Ulalume, The Sleeper,
Eulalie e Annabel Lee.
Objetivos específicos:
- Analisar as obras em relação aos aspectos apresentados no ensaio The Philosophy of
Composition
- Contextualizar o símbolo feminino e a morte presentes nos poemas de Edgar Allan
Poe
- Analisar a temática da morte na poesia, especificamente os temas de melancolia e
luto
- Contribuir para os estudos do Romantismo na poesia americana
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“Quando ele se alia, mais de perto, à Beleza; a morte, pois, de uma bela mulher é, inquestionavelmente, o tema
mais poético do mundo e, igualmente, a boca mais capaz de desenvolver tal tema é a de um amante despojado de
seu amor.” Tradução de Oscar Mendes e Milton Amado em Poemas e Ensaios. São Paulo: Globo, 1999. p. 107
A crítica biográfica do poeta em questão não está entre os focos desta pesquisa. Os
dados biográficos inseridos servem como complementos sobre a relação do poeta com a morte
feminina presente em sua vida.
As análises serão feitas nos poemas originalmente em inglês. Quaisquer traduções
serão mencionadas.
5 CRONOGRAMA
1° semestre:
2° semestre
3° semestre
Redação da dissertação;
Exame de qualificação.
4° semestre
Redação da dissertação;
6 REFERÊNCIAS
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University Press, 1957. 2ª ed. p. 174-196.
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113-129
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Oscar Mendes e Milton Amado. São Paulo: Globo, 1999a, p. 101-114
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