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RESUMO: A Ilíada é uma das obras mais antigas da literatura ocidental, o que denota sua
relevância atualmente e que perdura desde a sociedade grega antiga. Nesse sentido, a obra
trata-se de um trecho da guerra entre os gregos e troianos, especificamente, no final do
conflito narrando seu desfecho. Ademais, é importante mencionar o uso pedagógico desse
poema musical realizado por meio do Aedo, que neste caso refere-se a Homero. Embora
tenha poucas informações sobre sua história, alguns historiadores acreditam que ele era cego
o que, supostamente, colaborava para a maior capacidade de seus outros sentidos, como a
memória, no entanto, não há comprovações sobre.
1. Apresentação do autor
Homero foi um aedo, ou seja, um poeta que recitava suas obras de forma cantada com
o auxílio de instrumentos musicais, e que possui as famosas obras gregas “Ilíada” e
“Odisséia” geralmente atribuídas à sua autoria. Sua origem pode ser associada a Quios (região
da Grécia Arcaica) e seu contexto de vida é aproximadamente datado no século VIII a.C.
Entretanto a exatidão dessas afirmativas é questionada, haja visto que até mesmo a discussão
acerca da existência do poeta é problematizada e discutida pela historiografia.
Essa discussão acerca do papel e da existência real de Homero foi abordada por
Marcelo Miguel de Souza (2017) em sua tese de doutoramento “Os aspectos poético-musicais
nas obras de Homero: multitextualidade e performance (Séc. VIII a.C.).”. Em que o
historiador foca, principalmente, na perspectiva de Milman Parry (1987) que afirma que a
construção dos poemas se estabeleceu ao longo dos anos, por meio da oralidade. Desse modo,
as histórias sofreram diversas alterações, tendo Homero o papel de compilá-las.
Outro aspecto proposto, acerca da figura de Homero, foi a ideia de que ele seria cego.
Atualmente, essa teoria pode ser compreendida como uma metáfora ao fato de que a oralidade
nessas obras tinha uma extrema importância. Desse modo, a sua deficiência visual
potencializaria o papel de sua audição e de sua fala, essenciais para os cantos épicos.
2. Período de Produção
4. Resumo da Obra
O aspecto que mais se destaca no canto XXII da “Ilíada” é, sem dúvidas, a questão da
moralidade do herói atrelada às figuras de Aquiles e de Heitor. É a partir da análise desse
aspecto que podemos idealizar a mentalidade do homem grego, haja visto que tais narrativas
eram utilizadas como forma de perpetuar ensinamentos e educar os indivíduos.
O historiador Jean-Pierre Vernant (1978), destrincha em sua obra "A bela morte e o
Cadáver Ultrajado" esse tema, utilizando as figuras dos heróis para estabelecer conhecimentos
a respeito do mundo e do homem grego. A princípio, ele explicita a honra heróica construída
no consciente coletivo social a partir da análise da trajetória do personagem Aquiles. No
Canto XXII, é exposto que ele, desde seu nascimento, havia sido predestinado por sua mãe a
ter dois destinos a serem escolhidos pelo mesmo: uma vida breve, porém gloriosa e
memorável ou uma vida longa, porém fadada ao esquecimento. Aquiles opta pela primeira
opção, sendo esse o caminho necessário para que ele se tornasse um herói.
A partir do aspecto do não esquecimento necessário para a legitimação do heroísmo,
podemos destacar o importante papel desempenhado pela oralidade para a manutenção de
uma memória social ligada aos feitos desses personagens. Segundo Vernant, a transmissão dos
grandes relatos acerca do desempenho dos guerreiros nas batalhas ocorria, essencialmente,
por meio dos cantos poéticos “[...] a honra heróica pressupõe a existência de uma tradição da
poesia oral, repositório da cultura comum, que funciona para o grupo como memória social”
(VERNANT,1978, p.38)
Desse modo, para que não houvesse o esquecimento, era necessário que o povo
cantasse sobre o herói. Haja visto que:
Numa cultura como a da Grécia Arcaica, em que cada um existe em função de
outrem, em que as posições de uma pessoa são tão melhor estabelecidas quanto mais
longe se estende sua reputação, a verdadeira morte é o esquecimento, o silêncio a
obscura indignidade. (VERNANT, 1978, p.39)
Por fim, o último aspecto a ser destacado é a questão da “bela morte”. Segundo
Vernant, para que o herói fosse lembrado existiria alguns aspectos necessários relacionados à
sua morte. Dentre eles podemos destacar a juventude do guerreiro e a preservação e
tratamento de seu corpo até o seu sepultamento. Em contrapartida, se estabeleceu o ultraje
(violação) do corpo dos inimigos, desejando-se que perdessem a sua própria fisionomia,
sendo mortos de forma desonrosa e estando delegados ao esquecimento.
Bibliografia
HOMERO. Ilíada. Trad. de Haroldo de Campos. São Paulo: ARX, 2003 (Canto XXII).
LOURENÇO, Frederico. Prefácio. In: HOMERO. Ilíada. Trad. Frederico Lourenço. São
Paulo: Penguin Companhia, 2005.
NAQUET, Pierre. O Mundo de Homero. Trad. Jônatas Batista Neto. São Paulo: Companhia
das letras, 2002.
SOUZA, M. M. Os aspectos poético-musicais nas obras de Homero: multitextualidade e
performance (Séc. VIII a.C). 2017. Tese (Doutorado em História) - Universidade Federal de
Goiás, Goiânia, 2017.
FINLEY, Moses. O legado da Grécia. Trad. Yvette Vieira Pinto de Almeida. Brasília:
Universidade de Brasília, 1998.
VERNANT, Jean-Pierre. A bela morte e o cadáver ultrajado. Discurso, São Paulo: nº 09, p.
31-62, 1978.