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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

LARISSA OLIVEIRA PLOUVIER

FICHAMENTO
INTRODUÇÃO AOS POEMAS HOMÉRICOS

NITERÓI, RJ
2020
ROMILLY, Jacqueline de. Homero: Introdução aos Poemas Homéricos. Leonor
Santa-Bárbara. Lisboa: Edições 70, 2001. p. 11-24.

A figura de Homero é, ainda, cercada de mistérios e de dúvidas, porém, neste


primeiro capítulo, a autora destrincha informações sobre sua suposta participação
na guerra de Tróia. Entre a guerra de Tróia e a data em que Homero teria vivido –
acredita-se que o poeta seria do século VIII, já a guerra de Tróia situa-se por volta
de 1.200 a.C. – há um espaço de aproximadamente quatro séculos, onde
ocorreram diversas passagens importantes na região. Durante esse período,
podemos analisar civilizações de grande valor histórico, a exemplo a civilização
Cretense - que foi descoberta graças as ruínas de Crnosso – dotada de riquezas, e
também teria dado origem a cidade de Micenas (1600 – 1200), cidade que deu
origem a Agamenmon, responsável pelas expedições contra Tróia.
Em textos hititas e egípcios foram encontradas menções a Aqueus como uma
força ativa na Ásia menor, possivelmente os Aqueus pretenderam tomar a cidade
de Tróia e conseguiram, porém, apesar de ser retratada nas obras de Homero, não
significa que os textos milenares tenham alguma veracidade nos motivos que
levaram a essa guerra ou mesmo o desenrolar dos acontecimentos narrados. Os
feitos gloriosos do povo Micénico se desenvolveu a partir de memórias imprecisas
e fantasiosas de eventos reais, sendo passado através de gerações.
Já no final do segundo milênio também ocorreu a invasão e queda da civilização
micénica feita pelos Dórios, e perde-se o hábito da leitura e escrita, sendo
substituído pelo trabalho do ferro, a arte geométrica, vivendo no que chamou-se de
idade média grega. Rapidamente, a partir dos acontecimentos provocados pelos
Dórios, os gregos rumaram em direção a Ásia menor, espalhando-se por grupos
étnicos, que retomam as atividades comerciais, a colonização organizada e
adaptam o alfabeto fenício.
É nesse época que é composta ilíada e odisseia, originada a partir de quatro ou
cinco séculos de histórias transmitidas de geração a geração através de forma oral,
ondo possivelmente ocorreram adaptações, variações, modificações, interpolações,
difundidas em todos os textos gregos e, ainda é necessário lembrar, que os textos
podiam ser fragmentados e recitados da maneira que lhes convinha. Só a partir do
tirânico governo de Pisístrato do século VI que os textos teriam sido fixados e
recitados sem mais serem mudados pelos gregos.
A poesia em sua forma oral é observada até dentro das obras de Homero, onde
os chamados aedos cantam as épicas passagens dos heróis e deuses do Olimpo.
A autora, ainda, utiliza-se de uma passagem de odisseia, onde Démocoto narra
sobre a invasão de Tróia para os grandes e, dentre os personagens que escutam a
poesia, está Ulisses, que mesmo sabendo da história já que participou do evento,
pediu para que ele cantasse suas aventuras. Os aedos não executavam fielmente
as obras, as enfeitando para agradar o público e deixar sua marca, e os gregos
relacionavam essa ação como “sendo inspirado pelas musas”.
Muitos eruditos, em especial dois eruditas da Jugoslávia, Milman Parry e seu
discípulo Albert Lord, dedicaram suas vidas para analisar os textos dessas poesias
épicas, onde muito se aprendeu sobre a cultura e até mesmo sobre o poder de se
exercitar a memória - já que nas civilizações antigas os textos eram gravados pelos
aedos para serem cantados em apresentações. Os poemas tem versos,
hemistíquios e grupos de versos que se repetem, é perceptível que essas
repetições são criadas para ajudar na memorização do poema, porém com ela
conservou termos antigos que ainda são desconhecidos pelos eruditas e até
mesmo na época de Homero já eram inutilizados.
Também é visto a variação das formulas e como eram combinadas livremente
pelos gregos, o esquema métrico sempre é utilizado nos poemas, porém muda-se
palavras, hemistíquio, mantém-se um verso e muda o seguinte, dados que
facilmente não seriam necessários a obra, mas que estão ali com um intuito de
ajudar. Esses processos de composição podem ser vistos em diferentes
civilizações onde utilizava-se o recurso oral e depois de muito tempo são fixados
através da escrita.
Nas obras de Homero não seriam diferentes visto que, antes de serem fixadas
eram passadas através das tradições orais, além disso, alguns cantos épicos,
heróis gregos também são citados em suas obras, sendo possível a interpretação
de que não teria sido pioneiro em suas obras – apesar de ser o mais conhecido
pelo gênero épico. É visto nessas obras inspirações que teriam sido utilizadas,
ações feitas a partir da vingança – como é retratado em Ilíada, quando Aquiles
mata Heitor para vingar-se da morte de Patroclo e também em etiópida quando
Aquiles mata Mêmnon para vingar a morte de Antíloco – dentre outras narrativas
que são repetidas em outros poemas.
Cada um dos poemas tem em geral de 12000 ou 15000 versos que se tornam
impossíveis de serem recitados em uma única apresentação, sendo assim eles se
dividem em episódios bem estruturados que se ligam. Além de terem em comum a
guerra de Tróia e os feitos de Aquiles, conta a história da ira e seus efeitos nos
personagens do poema, apresenta-se a vingança e o enredo que se cria a partir
dela, quando enfim vem o apaziguamento. É possível ver as ações progressivas
em cada episódio, onde os efeitos de cada decisão se refletem nas seguintes, os
poemas épicos também tem uma estrutura narrativa que se repete, a morte de
Heitor e Pátroclo se correspondem. Apesar de uma estrutura parecida, as obras de
Homero se diferenciam de outras do mesmo gênero, as obras seguem uma
narrativa mais humana, com ações que se aproximam de vivencias humanas reais,
diferente das vistas nos poemas de ciclo.
A questão Homérica surge a partir da análise de F.A. Wolf sobre as
transformações orais que as obras de Homero sofreram, gerando longas teses
analistas sobre os retoques que os poemas teriam sofrido. Essas analises admitem
que muitos elementos datados de épocas diferentes e também contradições, então
busca-se o estado mais primitivo das epopeias, na visão desses estudiosos há
alterações que contrapõem demais as obras, além de passagens vistas em uma
das poesias que não se repetem em outra o que, como é visto nos tópicos
anteriores é comum a obra de Homero, e também passagens que foram
adicionadas de forma tardia que não dialogam com a história, além disso diversas
outras críticas as mudanças da obra.
Em contrapartida, surge a escola dos unitários que, diferentemente da primeira,
que vê com bons olhos a adição mais tardia de trechos dessas obras, há também o
esforço dos unitários para mostrar o valor das divergências e dos rodeios da
narrativa para fins literária, porém, apesar de importantes para contrapor as
primeiras críticas, as ideias ainda eram de ordem literária e pouco articuladas.
Surge então a terceira escola, denominada de neo-analista, representada por W.
Schadewaldt, na Alemanha e J. Kakridis. Concorda-se em partes com a primeira
análise, os textos de Homero utilizam-se de algumas fontes posteriores a outras, e
também que isso pode causar algumas confusões em passagens dos poemas,
porém, discorda-se de que isso transforma as epopeias em “um agregado de peças
dispares”, sem homogeneidade. Para os analistas, apesar de utilizar-se narrativas
isoladas, que por vezes funcionavam e em outras não, a elaboração da obra foi
feita pelo artista, sua obra é complexa e traz em si a marca do poeta. Sendo muito
mais extensa a análise dos neo-analistas, a autora do livro que está sendo fichado
restringiu-se as falas mais pertinentes para a análise das questões homéricas.
Apesar das obras terem o mesmo estilo e inspiração, esses dois poemas
atribuídos a Homero tem diferenças importantes entre si. Odisseia aborda questões
mais políticas e socias que não são vistas em ilíada, é possível ver uma história
mais voltadas a justiça divina, já que em ilíada, os deuses intervém menos do que
na obra posterior, acontecendo apenas quando se há ligações sentimentais. Para a
autora, odisseia é mais sedutora do que a obra antecessora, porém teria menos
força e isso se daria ao fato das duas epopeias terem uma diferença de tempo,
podendo ser explicado com um Homero mais novo quando escreveu a ilíada e
mais vivido com odisseia, ou talvez sendo a segunda escrita pela escola literária de
Homero, sendo continuada por um de seus seguidores, explicando-se assim as
semelhanças entre os poemas.

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