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USP – FFLCH – DLCV – Intr. aos Estudos Clássicos – Prof.: Sidney C.

de Lima

Arquíloco

1. Fragmento 1W

A) “[Fócion] queria retomar e reinstalar a política de Péricles, Aristides e Sólon, que era
completa e harmonizada em ambas as práticas, pois cada um daqueles homens parecia,
conforme Arquíloco,

‘Ambos: servo do deus Eniálio e,


do amável dom das Musas, conhecedor’1,

e percebia que a deusa era ao mesmo tempo guerreira e política, e assim era chamada”
(Plutarco, Fócion, 7, 6 – tradução de Paula da Cunha Corrêa em Armas e Varões, 1988, pp. 77-
78).

B) “Mas os antigos tinham a coragem como a maior das virtudes cívicas, e a esta muitas
coisas atribuíam (...) Arquíloco, bom poeta que era, primeiro vangloriou-se de ser capaz de
participar de disputas civis e, em segundo lugar, recordou suas habilidades poéticas dizendo:

‘sou servo do senhor Eniálio e


das Musas o amável dom conheço’2

(Ateneu, Deipnosophistae, 14, 627c – tradução de Paula da Cunha Corrêa em Armas e Varões,
1988, pp. 78-79).

C) Homero, Ilíada, IX, 186-195


Junto às naus e tendas
dos Mirmidões o encontram. Tangia uma lira
– cordas presas em trave de prata – artefato
dedáleo, que o enlevava, do espólio de Eecião,
e a cujos sons cantava as gestas de heróis. Pátroclo
só, silencioso, senta-lhe defronte e espera
que ele termine o canto. Odisseu guiando, os núncios
chegam à frente dele e param. O Peleide
sustendo a lira salta, abismado, do sólio
onde sentava. Pátroclo, ao vê-los, levanta-se.

(Tradução de Haroldo de Campos)

Homero, Odisséia XXII, 344-349

Os teus joelhos abraço, Odisseu; tem piedade e respeito!


Arrependido virás a ficar se matares um vate,
Cujas canções sempre foram dedicadas aos deuses e aos homens.
Fiz-me por mim tão-somente, que um deus em minha alma ditou-me
Muitas canções. Dá que possa cantar junto à tua pessoa
Como ante um deus; não procures, portanto, privar-me da vida (...)

(Tradução de Carlos Alberto Nunes)

1
/ 
2
/ 
1
2. Fragmento 2W

Na lança, meu pão sovado, na lança o vinho


Ismárico, e bebo na lança apoiado.3




3. Fragmento 4W

mas vai, de caneca pelos bancos da nau veloz 6


corre e das cavas jarras arranca as tampas, 7
e toma o vinho rubro desde a borra, pois tampouco nós, 8
sóbrios, poderemos nesta vigília permanecer,4 9






4. Fragmento 38W

Com o escudo um saio alegra-se, o qual junto à moita,


arma irrepreensível, a contragosto larguei;
Me salvei, contudo. Que me importa aquele escudo?
Que se vá! Um outro eu compro, não pior.






A) Aristófanes, A paz, 1298-1304:

2º menino: “Com um escudo um saio ufana-se, o qual junto à moita


arma irrepreensível, deixei sem querer...”
Trigeu: “Diz, taludo, cantas para teu pai?”
2º menino: “mas salvei a vida”
Trigeu: “para a vergonha dos pais.
Mas vamos, bem sei que o que sobre o escudo
Cantaste, jamais esquecerás, sendo filho de tal pai.”

B) Plutarco, Instituta Laconica – moralia III – 34, 239b-c

[Os lacedemônios] expulsaram Arquíloco, o poeta, na mesma hora em que chegara na


Lacedemônia, porque souberam que ele dissera, num poema, que é melhor jogar ao longe as
armas do que ser morto.
[Plutarco, então, cita o fragmento, omitindo, porém, de parte do terceiro verso.]

3
Tradução de Paula Corrêa, op. cit. P. 94.
4
A tradução é de Paula Corrêa. O fragmento é citado por Ateneu (Deip. 11, 483d), que está na verdade
interessado na “caneca”, . Eis o trecho que introduz o fragmento: “Arquíloco assim também
menciona [a caneca] em suas elegias como uma vasilha para bebida:” Corrêa, op. cit., p. 101.
2
C) Sexto Empírico, Hipotiposes Pirrônicas, 24, 3, 216

Mas também o covarde e o homem que abandona o escudo são punidos pela lei em
muitos lugares. Por isso, a lacônia, dando o escudo ao filho que partia para a batalha, dizia: ‘tu,
filho, ou com este, ou sobre este’. Arquíloco, no entanto, como que se gabando para nós, pelo
fato de, após abandonar o escudo, ter fugido, em seus poemas diz de si próprio:
[Sexto cita, então, o fragmento]

D) Alceu, a partir de Heródoto (5, 94, 5)

“Quanto mitilênios e atenienses estavam em guerra, um dos fatos mais notáveis, segundo
Heródoto (5, 94, 5), teria sido a fuga de Alceu, cujo escudo, apreendido pelos atenienses
vitoriosos, foi então suspendido como oferenda num templo de Atena em Sigeu. Alceu teria
narrado o episódio no poema que enviou a um amigo em Mitilene (fr. 428aLP).

++


Alceu está salvo <mas o escudo protetor>
no templo de Glaucópis, dedicaram-no os áticos.”

(Todo trecho é tomado da obra já citada de Paula Corrêa, p. 123).

E) Anacreonte, fr. 381bPMG:



Tendo abandonado o escudo às margens do rio de belas correntes

(Tradução de Paula Corrêa)

F) Homero

Ilíada, IV, 7-13 [fala de Zeus, em uma assembléia de deuses]:

Duas deusas, em verdade, a Menelau respaldam:


Hera, Argiana, e mais Palas, a deusa Alalcomênea.
Essas sentam-se à parte e contentam-se apenas
com ver. Mas Afrodite, toda-sorridente,
seu dileto secunda de perto e o defende
da Moira. Agora mesmo salvou-o da morte.
De Menelau, dileto-de-Ares, é a vitória.5

Ilíada, XVII, 470-474 [fala de Alcimedonte]

Que deus te pôs no peito, Automedonte, plano


tão sem propósito e raptou tua mente clara?
Combates, na vanguarda das linhas, os Tróicos,
solitário. Morreu teu companheiro altivo;
Héctor se pavoneia na armadura de Aquiles.6

Ilíada, XVIII, 128-134 [Tétis fala a seu filho, Aquiles]:

De verdade,

5
Tradução de Haroldo de Campos. O verso 12, no original é: 
6
Trecho original dos versos 472-3: /,
que Paula Corrêa traduz assim: “Heitor, ele próprio / trazendo nos ombros as armas do Eacida, ufana-se”.
A tradução apresentada no corpo do texto é de Haroldo de Campos.
3
filho, se os fatos são esses, não será mal-
-feito que, imunes, salves da ruína iminente
os companheiros. Mas tuas armas brônzeas, quase
mármore de tão rútilas, os Tróicos têm-nas;
Hector as enverga, elmo plumitênsil; impa,
todo-gala.7

Odisséia, XIV, 191-280 [Já em Ítaca, Odisseu é interpelado por Eumeu, o porqueiro]
Disse-lhe, então, em resposta, Odisseu, o guerreiro solerte:
“Sem o menor subterfúgio pretendo contar-te a verdade.
(...)
Quanto à linhagem, me orgulho de vir da vastíssima Creta,
de homem de ricos haveres, a quem muitos outros nasceram
filhos legítimos, todos criados no próprio palácio
pela mulher; eu nasci de uma escrava por ele comprada.
Mas a mim tinha afeição, qual se filho legítimo fosse,
o herói Castor, filho de Hílace, de quem em orgulha ser filho,
que, qual um deus, pelo povo de Creta era honrado e estimado,
(...)
Mas, quando Zeus, que vê longe, mandou contra nós a funesta
Expedição, que foi causa da morte de muitos guerreiros,
a Idomeneu, juntamente comigo, tocou a incumbência
de governar umas naus para Tróia.
[no Egito]
Ao quinto dia chegamos à bela corrente do Egito,
em cujo seio ordenei que ancorassem as naves recurvas.
Aos companheiros diletos dei logo instruções apropriadas,
para que junto das naves ficassem, de guarda a elas todas,
e distribuí logo espias, mandando que aos postos se fossem.
Os orgulhosos, porém, pela própria cobiça levados,
os belos campos dos homens egípcios puseram-se logo
a devastar, carregando mulheres e tenras crianças,
e a morte a dar aos varões. Logo o alarma chegou à cidade.
Os moradores os gritos ouviram, e em massa acorreram,
ao romper da alva, apinhando-se o vale de peões e cavalos
e do fulgor de aêneas armas. Nos meus companheiros o Crônida
fulminador desânimo inspira, ninguém se atrevendo
a resistir, que por muitos lados a morte ameaçava.
Muitos dos nossos ali foram mortos por bronze afiado;
outros, com vida apanhados, porque como escravos vivessem.
O próprio Zeus, entretanto, me fez conceber uma idéia.
Bem melhor fora que a morte ali mesmo no Egito me viesse
e meu destino eu cumprisse, que dores sem conta ainda tive.
No mesmo instante arranquei da cabeça o elmo caro e bem-feito,
bem como o escudo dos ombros, jogando das mãos a hasta longa,
e aproximei-me do carro em que o rei se encontrava; abracei-o
pelos joelhos, beijando-o; salvou-me ele, então, protegendo-me.
Fez-me subir para o carro e ao palácio, entre prantos, levou-me.8

Odisséia, XI, 473-493.

“Filho de Laertes, de origem divina, Odisseu engenhoso,


que nova empresa, infeliz, mais ousada que as outras concebes?
Como até o Hades ousaste baixar, onde os mortos se encontram,
de consciências privados, quais vãos simulacros de homens?”

7
Haroldo de Campos. Trechos do original: 130: (...)
131-132: / Paula Corrêa traduz
assim: “Heitor de elmo fremente, ele próprio / trazendo-as aos ombros, ufana-se...”
8
Carlos Alberto Nunes.
4
Isso me disse; em resposta lhe torno as seguintes palavras:
“Ó nobre filho do Eácida, Aquiles, primeiro entre os Dânaos!
Vim, por me ser necessário pedir um conselho a Tirésias
sobre a maneira de em Ítaca alpestre chegar de tornada.
Ainda ao país dos Aqueus não fui ter, nem à pátria querida;
sim continuo a vagar e a sofrer. Mas ninguém, nobre Aquiles,
é tão feliz como tu, no passado e nos tempos vindouros.
Enquanto vivo, os Argivos te honrávamos, qual se um deus fosses;
ora que te achas no meio dos mortos, sobre eles exerces
mando inconteste. Não podes queixar-te da Morte, ó Pelida!”
Isso lhe disse; ele, logo, me volve as seguintes palavras:
“Ora, não venhas, solerte Odisseu, consolar-me da Morte,
pois preferiria viver empregado em trabalhos do campo
sob um senhor sem recursos, ou mesmo de parcos haveres,
a dominar deste modo nos mortos aqui consumidos.
É preferível de dares notícias do meu filho ilustre.
Sempre ele nos prélios avança ele à frente, ou atrás ele fica?”9

G) Horácio e o abandono do escudo – Ode II, 7.

O saepe mecum tempus in ultimum Ó amiúde, ao meu lado, à hora derradeira


deducte Bruto militiae duce, Levado, sendo Bruto da campanha o chefe,
quis te redonavit Quiritem Quem te restabeleceu como quirite
dis patriis Italoque caelo, Aos deuses pátrios e ao ítalo céu,

Pompei, meorum prime sodalium, 5 Pompeu, de meus camaradas o primeiro, 5


cum quo morantem saepe diem mero Com quem amiúde abati com o mero
fregi coronatus nitentis O moroso dia, com os cabelos reluzentes,
malobathro Syrio capillos? Coroados com sírio malobatro?

tecum Philippos et celerem fugam Contigo vivi Filipos e a fuga célere,


sensi relicta non bene parmula, 10 Depois de abandonado, não belamente,
cum fracta virtus et minaces [o escudo 10
turpe solum tetigere mento: Quando se abateu a coragem e os ameaçadores
Torpe solo tocaram com o queixo;
sed me per hostis Mercurius celer
denso paventem sustulit aere, Mas a mim, pávido, célere Mercúrio
te rursus in bellum resorbens 15 Alçou em denso ar por entre as hostes,
unda fretis tulit aestuosis. A ti, sorvendo-te de volta à guerra, 15
uma vaga arrastou em alvorotados mares. 15
ergo obligatam redde Iovi dapem
longaque fessum militia latus Então, oferece a Jove o banquete devido
depone sub lauru mea nec E, da longa campanha fatigado, o flanco
parce cadis tibi destinatis. 20 Repousa sob o meu loureiro e não
Poupes as ânforas a ti destinadas. 20
oblivioso levia Massico
ciboria exple, funde capacibus Com o mássico entorpecente, às bordas enche
unguenta de conchis. quis udo As delicadas taças, verte os perfumes
deproperare apio coronas Das acolhedoras conchas. Quem cuida
Em se apressar às coroas de úmido aipo
curatve myrto? quem Venus arbitrum 25
dicet bibendi? non ego sanius Ou de murta? Quem, por Vênus escolhido, 25
bacchabor Edonis: recepto Regulará a bebida? Eu não celebrarei Baco
dulce mihi furere est amico. Com mais sensatez que os Edonos: é doce,
Reencontrado um amigo, livrar-me ao furor.

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Carlos Alberto Nunes.
5

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