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504-65 ILÍADA, HOMERO
Muito bem! Começaremos a aula de hoje do Seminário, na qual leremos o
canto IV e V. Quando ele começa, os deuses estão sentados no Olimpo, brindando com taças douradas, e ficam olhando a cidade de Tróia de cima. Zeus não perde a chance de dar uma cutucada na sua esposa, e faz alguns comentários: “Duas são as deusas que Menelau tem como auxiliadoras: Hera, a Argiva, e Atena, a Alalcomeneia!” Alalcomeneia quer dizer a nobre, honrada, bondosa. Ela participa dos combates na Ilíada. É muito interessante, porque o Zeus reflete sobre o que ele deve fazer em relação à guerra. É uma reflexão irônica, como se, de certa forma, ele se divertisse com as possibilidades que ele tem em mãos. Se ele é o deus supremo, ele pode fuzilar a todos com seus raios e acabar com a guerra. Mas ele fica fazendo esses comentários, e, diante da ironia dele, Atena e Hera ficam sussurrando e planejando desgraças para os troianos. Hera que, como vocês sabem desde o primeiro canto, fala tudo o que tem vontade, interpela Zeus: “Crônida terribilíssimo, que palavra foste tu dizer? Como queres tu tornar estéril e vão o meu esforço, o muito suor que suei, os meus cavalos exaustos, quando chamava o povo para trazer a desgraça a Príamo e seus filhos? Faz como entenderes. Nós, os outros deuses, não te louvaremos.” É interessante essa posição que Hera assume, porque ela fala como se realmente tivesse se esforçado muito. É um comportamento curioso, porque ela fala isso lá de cima do Olimpo, refestelar, tomando néctar. Então, é uma característica do Homero. Em muitos momentos, ele coloca os deuses lutando contra ou a favor dos homens. Quando ele nos mostra os deuses na sua intimidade, não deixa de ser irônico que eles sejam tão humanos. O diálogo continua, e Zeus fica irritadíssimo com o que Hera disse. Ela responde… Apesar deste desentendimento, ela propõe um acordo. Zeus, então, propõe que Atena desça até a região do combate para ajudar os gregos. Então, ela desce. O texto diz: “Tal como o astro enviado pelo Crônida de retorcidos conselhos como portento a marinheiros ou ao vasto exército de povos, estrela brilhante, de que se protejam abundantes centelhas – assim se lançou em direção à terra Palas Atena, aterrando no meio deles com um salto; e o espanto dominou quem olhava, Troianos domadores de cavalos e Aqueus de belas cnêmides. E assim dizia um deles, olhando de soslaio para o outro ‘Virá de novo a guerra maligna e o fragor tremendo da refrega, ou então entre ambas as partes estabelece Zeus a amizade, ele que dispensa a guerra aos homens.’”
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É interessante, porque todos percebem a chegada da deusa, e percebem que alguma coisa acontecerá, seja para o bem ou para o mal. Imediatamente, ela penetra já transformada nos exércitos dos troianos se assemelhando a Laódoco, filho de Antenor, e procura esse tal de Pândaro até o encontrar: Em torno deles estavam as possantes fileiras de combate das tropas. Colocando-se ao lado deste sujeito, lhe diz: “Quererás tu seguir o meu conselho, ó fogoso filho de Licáon? Ousarias então disparar uma célere flecha contra Menelau, assim obtendo favor e glória entre todos os Troianos, principalmente, dentre todos, do rei Alexandre. Dele receberias decerto em primeiro lugar dons resplandecentes, se lee visse o belicoso Menelau, filho de Atreu, atingido pela tua seta e deposto em cima da pira dolorosa.” Helena é a esposa de Menelau, e Alexandre tinha raptado-a e a levado para Tróia. Como vimos na aula passada, Alexandre foi derrotado por Menelau no duelo, Afrodite a resgata e a leva para o quarto nupcial e faz Helena ir até lá, ou seja, age de maneira covarde. Há essa interrupção na guerra porque, neste intervalo, todos estão atônitos diante do que aconteceu, dizendo que os troianos têm que cumprir com sua parte do acordo, porque Menelau foi o vitorioso, e fica nessa situação até que retomamos a leitura. Atenas insufla num troiano a ideia de assassinar Menelau. Essa parte central é importantíssima, porque é aqui que recomeça a guerra. Apesar de já terem ocorrido inúmeras batalhas, está num momento em que estavam tentando fazer um acordo. Os gregos estão à espera de que Príamo, rei de Tróia, se manifeste e concordem em cumprir o acordo e devolver todos os tesouros que o filho dele roubou de Menelau. Este trecho é belíssimo e mostra toda a capacidade descritiva do Homero: “Assim falou Atena, persuadindo a tino àquele desatinado.” Vejam como ela não persuade o guerreiro, mas, sim, seu juízo natural. É uma sutileza muito interessante. O texto continua: Logo tirou Pândaro o arco bem polido, do chifre de um bode selvagem, que outrora ele próprio atingira debaixo do peito depois de esperar que saísse da rocha, ferindo-o no peito, de tal modo que o bode caiu para trás num recesso da rocha. Os chifres nasciam-lhe da cabeça com dezesseis pés de comprimento; e o artífice de chifres ajustara-os bem, alisando tudo com cuidado e adornando a ponta com ouro. Foi este o arco que ele retesou, depois de o ter apoiado bem no chão; e os valentes companheiros seguraram diante dele os escudos, não fossem levantar-se os filhos belicosos dos Aqueus, antes de ter sido atingido o belicoso Menelau, filho de Atreu. Abriu então o tampo da aljava e de lá tirou uma seta que não fora
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ainda disparada, aladas, baluarte de negras dores. E rapidamente ajustou à corda a flecha amarga, prometendo a Apolo Liceu do arco glorioso que lhe oferecia uma famosa hecatombe dos primeiros cordeiros nascidos, quando regressasse a casa, à sacra cidadela de Zeleia. Em simultâneo puxou os entalhes da seta e da corda bovina. Aproximou a corda do peito; e do arco, a ponta de ferro. Depois que esticou o grande arco em movimento circular, ressoou o arco, vibrou alto a corda, e apressou-se rápida a flecha aguda, desejosa de voar por entre a multidão.” É muito bonito. A capacidade de Homero de nos mostrar detalhes de maneira objetiva, clara e concisa é maravilhosa. Quando ele começa a descrever o arco, que é uma peça central no reinício da batalha, nos mostra a força do arco, e, para isso, ele sai da história da Ilíada e vai para o passado durante alguns versos para nos contar de onde vieram os chifres que fazem o arco, como o artesão deixa esses chifres perfeitos… Sabemos que até mesmo a corda é feita de um tendão bovino. Temos acesso a todos os detalhes, e essa capacidade de descer a eles sem transformar em algo cansativo e pegajoso é uma qualidade que nossos autores contemporâneos, pelo menos no Brasil, se esqueceram completamente. A maioria dos autores contemporâneos brasileiros têm um estilo muito mais telegráfico, e não têm essa capacidade de se distanciar da narrativa central, visitar partes que lançariam novas luzes sobre a narrativa central, e depois retornar a ela com a naturalidade com que Homero faz. Homero descreve com tanta exatidão o gesto e o percurso da flecha, porque quer acentuar o momento da batalha que provocará o reinício da guerra. É um momento crucial na batalha. Os gregos estão todos sentados, e só alguns capitães estavam de pé, porque ainda aguardam que os troianos se manifestem a respeito do que aconteceu no canto anterior. Acontece essa traição, provocada pela deusa Atena para que a guerra aconteça. Então, o narrador continua a dizer: “Mas de ti, ó Menelau, não se esqueceram os imortais deuses bem-aventurados, antes de mais a filha de Zeus que conduz as hostes, que se postou junto de ti e desviou a flecha pontiaguda. Desviou-se da pele, do mesmo modo que uma mãe afasta uma mosca do filho deitado sob o efeito do sono suave;” Isso é belíssimo, pela delicadeza e facilidade com que Atena, que tinha insuflado o guerreiro para atirar em Menelau, agora, ao lado dele, afasta a seta para que ela não a fira mortalmente. A descrição continua: “e ela própria guiou a seta até o ponto onde as douradas pregadeiras do cinto e o colete duplo se sobrepunham. Embateu contra o fecho do cinto de adornos variegados, penetrou o colete ricamente trabalhado e o saio que ele vestia como proteção para o corpo e barreira contra os dardos,
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o qual mais que tudo o protegia. Também através dele penetrou. Deste modo feriu a seta a parte de fora da carne, e logo jorrou da ferida o negro sangue. Tal como quando uma mulher tinge de púrpura o marfim – mulher da Meônia ou da Cária – para adornar o bocete dos cavalos, e jaz na câmara de tesouros e muitos são os cavaleiros que desejam levá-lo; mas ali permanece como adorno do rei, adereço com o qual tanto o cavaleiro como o cavalo se glorificam – do mesmo modo, ó Menelau, se te tingiam as coxas de sangue: as tuas lindas coxas, as pernas e os belos tornozelos por baixo.” O sangue jorra pelas pernas de Menelau, e a comparação que Homero faz é gloriosa, heróica, porque é um sangue nobre que escorre. Não é de qualquer pessoa e nem em qualquer situação. Trata-se de alguém que acabou de vencer o opositor de maneira justa e aguarda uma decisão igualmente justa. Essa descrição é uma coisa perfeita. Quando Agamenon, irmão de Menelau, vê o sangue escorrendo, ele estremece, e, ainda que ele perceba que há partes da flecha que estão para fora da pele, ele imediatamente começa a fazer um discurso. É curioso, porque ele dá o irmão como morto. Este sujeito tem a habilidade de falar bobagem. Ele exagera, de maneira irônica, para reforçar que este gesto dos troianos foi uma traição terrível, afinal, Menelau tinha acabado de vencer o oponente troiano. Enquanto estão lá, esperando que o rei Príamo cumpra o prometido, um troiano lançou essa flecha contra Menelau. No fim, o discurso de Agamenon se torna soberbo; ele foi antipático desde o primeiro canto. Menelau interfere, dizendo que a ferida foi superficial, mas o Agamenon manda chamar o médico para curar a ferida. Enquanto estão se ocupando com Menelau, para parar o sangramento, os aqueus vestem todas as armas e começam a se preparar depois do discurso do Agamenon. Então, Agamenon começa a percorrer os diferentes grupos que estão lutando junto com os gregos para animá-los para a guerra e ver se todos estão preparados para o embate. A cada exército, ele se dirige ao capitão do exército e dá ordens, repreende as pessoas que querem fugir da guerra. Além disso, encontra os dois ajantes, que são os dois Ájax que aparecem na Ilíada. Um Ájax é um dos melhores heróis, depois de Aquiles, e o outro é Ájax, o menor, que é filho do rei da Lócrida, e um hábil lutador. Então, ele fala com os dois. Essa figura é muito bonita: “Tal como da sua atalaia o homem cabreiro vê uma nuvem avançando por cima do mar, impelida pelo sopro do zéfiro, e na distância a que se encontra lhe parece a nuvem mais negra que betume ao avançar por cima do mar, trazendo um grande vendaval; e treme ao vê-la e conduz o rebanho para dentro de uma gruta – assim junto dos dois Jantes se moviam os densos batalhões de mancebos criados por Zeus para a guerra furiosa.”
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Logo a seguir, Agamenon vai falar com Nestor, guerreiro idoso, mas um homem sábio. Há um momento de humor homérico excelente, que diz: “Em seguida encontrou Nestor, o límpido orador de Pilos, dispondo seus companheiros e incitando-os a combater em torno do possante Pélagon, de Alastor, de Crômio; do poderoso Hêmon e da Biante, pastor do povo. Dispôs primeiro os cavaleiros com seus cavalos e carros; por trás colocou muita e valete infantaria, que seria o baluarte da guerra; no meio colocou os covardes, para que tivessem de combater à força, à sua revelia.” Ele faz um discurso, e o texto diz: “Assim os incitava o ancião, o conhecedor de guerras antigas. Ao vê-lo se regozijou o poderoso Agamenon, e falando dirigiu-lhe palavras aladas: “Ancião, prouvera que, à semelhança do coração no teu peito, também os teus membros te obedecessem e fosse firme a tua força! Mas a velhice que chega a todos te oprime. Quem dera que outro tivesse a tua idade, e que tu próprio fosses um dos mancebos!” Então Nestor respondeu a Agamenon: “Atrida, muito quereria eu ser aquele que fui quando matei o divino Ereutálion. Mas não é de uma vez que aos homens os deuses dão todas as coisas.” É uma sabedoria que todos nós deveríamos ter para não cairmos naquele que é o principal pecado para a cultura grega: o pecado da húbris. Teve o equilíbrio de dizer que não é de uma vez que aos homens os deuses dão todas as coisas. Cada coisa tem a sua hora para chegar na vida; o equilíbrio de Nestor revela que ele está longe de ser acometido pelo pecado da húbris, que é a insolência, a incapacidade de se saciar com aquilo que a vida nos dá. É uma falta de autocontrole, a incapacidade de reconhecermos nossos próprios limites. Quando lemos A República, vimos que a moderação era uma virtude crucial para Platão. Buscar o equilíbrio entre as várias facetas da vida é fundamental para viver uma vida boa e justa. O Nestor até pode demonstrar melancolia por não ter mais a força que tinha quando era jovem. Vejam que manifestar melancolia é uma coisa; se revoltar contra a natureza ou contra os deuses por causa do que é a vida normal dos homens é terrível. Nestor, como homem experimentado, sabe que a arrogância extrema pode levar à destruição, porque conduz o homem ao pecado. Agamenon continua visitando os exércitos, e, no fim, se depara com Ulisses, o Odisseu, e começa a tirar sarro dele, como se Ulisses fosse um vagabundo e não estivesse fazendo nada para participar da guerra, se escondendo e deixando que outros exércitos fossem para frente. O Odisseu tem uma
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habilidade incrível para falar e já demonstrou isso em outros cantos. Ele não se contém, e diz: “Que palavra passou além da barreira dos teus dentes? Como podes tu dizer que rejeitamos a guerra, quando nós Aqueus levamos a guerra afiada contra os troianos domadores de cavalos? Proferistes palavras de vento.” Agamenon sorri, porque sabe que está falando isso somente para provocar Ulisses, e sabe que este teria essa reação. Depois, Agamenon se dirige ao filho de Tideu, Diomedes. Ele estava de pé, junto aos cavalos e aos carros, e junto dele estava Estênelo, filho de Capaneu. Então, Agamenon repreende o rapaz, dá uma bronca nele, lembra os feitos do pai de Diomedes e diz que o filho por ele gerado é pior do que ele na guerra, embora seja melhor na conversa. A reação do Diomedes é oposta à de Ulisses ou de Aquiles; por respeito, ele fica em silêncio. Vejam como é uma personalidade completamente diferente de Ulisses e de Aquiles, e, no lugar dele, o amigo dá uma resposta: “Amigo, fica em silêncio e obedece às minhas palavras: não considero vergonhoso que Agamenon, pastor do povo, incite a combater os Aqueus de belas cnêmides. Dele será a glória, na eventualidade de os Aqueus chacinar os Troianos e tomarem a sacra Ílion; e sobre ele se abaterá o sofrimento, se forem os Aqueus chacinados. Que agora tu e eu nos concentremos na coragem feroz.” É interessante fazermos alguns comentários. Notem que há um paralelismo que o Homero cria mais uma vez; a cena que inicia o canto é a discussão entre os deuses. Na sequência do ataque da deusa, a cena se repete entre os homens. O Agamenon revisa as tropas, provocando ou elogiando os guerreiros, como se conhecesse a psicologia de cada um, exatamente como Zeus conhece o que motiva cada um dos deuses. Ele fala sabendo como instigar Hera e Atena, e é o mesmo comportamento que encontramos em Agamenon. Ambos, quando falam, falam para induzir reações específicas. Há um paralelismo, o qual é um grave problema, a respeito do qual Homero tinha plena consciência, e é exatamente por isso que, muitas vezes, ele trata os deuses de forma irônica. Nada muda na vida dos deuses o fato de Zeus zombar de Hera e Atenas, e depois mandar Atenas reiniciar a guerra, afinal, são deuses imortais. Então, para Zeus, é como se ele estivesse jogando um jogo de tabuleiro, mas para o Agamenon, não; a provocação e a luta são questões de vida e morte. Há um paralelismo, mas ele revela uma ironia. Aquilo que é um comportamento que não provoca alteração alguma na vida dos deuses. Para os homens, é comprometedor, porque os coloca numa situação de vida ou morte. O exército grego, então avança, e a descrição do Homero é belísisma: Tal como na praia de muitos ecos as ondas do mar são impelidas em rápida sucessão pelo sopro do Zéfiro e surge primeiro
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a crista no mar alto, mas depois ao rebentar contra a terra firme emite um enorme bramido e em torno dos promontórios incha e se levanta, cuspindo no ar a espuma salgada – assim avançavam em rápida sucessão as falanges dos Dânaos para a guerra incessante; e cada um dos comandantes dava ordens aos seus soldados, mas os outros marchavam em silêncio – nem terias te apercebido de que toda aquela tropa que avançava tinha voz no peito, pois todos se calavam com medo dos comandantes. E em torno de todos reluziam as armas embutidas, com as quais avançavam vestidos.” É uma cena belíssima, e é interessante como Homero se dirige a nós, que estamos lendo, exatamente como se dirige àqueles que, na sua época, ouviam o poema. Você não teria notado que toda aquela tropa que avançava tinha voz no peito, pois todos se calavam. Enquanto isso, os troianos são incitados à batalha, que finalmente começa, quando chegam a um mesmo sítio; o texto descreve: “Quando chegaram ao mesmo local para se enfrentarem uns aos outros, brandiram todos juntos os escudos, as lanças e a fúria de homens de brônzeas couraças; e os escudos cravados de adornos embateram uns contra os outros, e surgiu um estrépito tremendo. Então se ouviu o gemido e o grito triunfal dos homens que matavam e eram mortos. A terra ficou alagada de sangue. Tal como os rios invernosos se precipitam das montanhas, atirando juntos o enorme caudal para a embocadura de dois vales, e das poderosas nascentes vêm lançar as águas num oco desfiladeiro, e lá longe nas montanhas o pastor chega a ouvir-lhes o estrondo – assim era o eco e o terror dos que embatiam uns contra os outros.” Agora começa um trecho que tem cenas de um realismo impressionante: “Foi Antíloco o primeiro a matar um homem armado dos Troianos, um valente que combatia na primeira linha: Equepolo, filho de Talísio. Primeiro desferiu-lhe um golpe no elmo com crinas de cavalo e pela testa adentro lhe empurrou a lança; além do osso foi a ponta de bronze e a escuridão cobriu-lhe os olhos: tombou em combate mortal como se desmorona uma muralha. Ao cair agarrou-lhe pelos pés o poderoso Elefanor, filho de Calcodonte, magnânimo comandante dos Abantes, procurando arrastá-lo para longe dos projéteis, para depressa o despir das armas. Mas foi curta a duração do seu esforço. Pois enquanto arrastava o cadáver o avistou o magnânimo Agenor, e nas costelas, que deixara expostas a descoberto do escudo, o feriu com um golpe da brônzea lança, deslassando-lhe os membros.” Há outros trechos lindíssimos, como a morte do jovem Simoésio. Homero relembra como sua mãe o deu a luz:
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“o florescente Simoésio, ainda solteiro, que outrora a mãe dera à luz junto às correntes do Simoente, quando descia do Ida; pois aí se dirigir com os pais para ver os rebanhos. Por essa razão lhe puseram o nome de Simoésio; mas aos pais não restituiu o que gastaram ao criá-lo, pois breve foi a sua vida, subjugado como foi pela lança do magnânimo Ájax.” Percebam como Homero retorna ao passado, conta o nascimento deste lutador e mostra como é jovem para nos preparar para sua morte, para que ela seja algo triste para nós. Ele continua: “Enquanto avançava entre os primeiros foi atingido no peito, junto ao mamilo direito; e completamente lhe trespassou o ombro a lança de bronze. No chão caiu como o álamo que cresceu nas terras baixas de uma grande pradaria, liso, mas com ramos viçosos na parte de cima – álamo que com o ferro fulgente o homem fazedor de carros cortou para com ele fabricar um lindíssimo carro, e que deixou a secar, jazente, na beira de um rio.” Não há forma mais bela de lamentar a morte de um jovem. A descrição é belíssima. Há realismo, mas também há poesia. É como se o poeta se lamentasse pela morte de alguém que não foi capaz nem de restituir aos pais tudo o que eles empregaram na formação do filho. Ao mesmo tempo, tudo é perfeitamente visível em Homero. Quando Ájax mata Simoésio, Homero descreve: “contra ele atirou Ântifo da couraça faiscante, filho de Príamo, a lança pontiaguda. Mas não lhe acertou, atingindo antes na virilha Leuco, valente companheiro de Ulisses, que arrastava o cadáver. Tombou em cima dele, largando a mão do cadáver. Pela morte dele, muito se encolerizou Ulisses, que avançou através da linha de frente armado de bronze faiscante; posicionou-se perto e arremessou a lança reluzente, olhando em redor. Os troianos recuaram perante o arremesso do guerreiro. E não foi em vão que lançou, mas atingiu o filho ilegítimo de Príamo, Democoonte, que viera de Ábido, dos estábulos de rápidas éguas. Foi ele que Ulisses, irado por causa do companheiro, atingiu na têmpora com a lança, cuja ponta de bronze penetrou através da outra têmpora. A escuridão cobriu-lhe os olhos; caiu com um estrondo e as armas ressoaram em torno dele.” É como se os gregos estivessem avançando. Apolo vem e incentiva os troianos, lembrando-os de que Aquiles não está na guerra. Eles podem estar demonstrando força, mas o principal guerreiro está descansando na praia. O texto diz:
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“Então Diores, filho de Amarinceu, foi acorrentado pelo destino. Foi atingido na perna direita junto ao calcanhar por uma pedra lacerante; fora o comandante dos Trácios que o atirara, Piro, filho de Ímbraso, que até ali viera do Eno. Tanto os nervos como os ossos a pedra impiedosa esmagou; e ele caiu para trás no pó, enquanto estendia ambas as mãos aos queridos companheiros. A vida saía-lhe pela boca. Mas quem o atingira, Piro, veio correndo, e desferiu-lhe um golpe junto ao umbigo. Logo todas as vísceras se entornaram no chão e a escuridão cobriu-lhe os olhos.” Parece até uma cena de cinema. O homem tombando para trás, com os braços erguidos, e a vida saindo pela sua boca aberta. Isso aqui é de uma beleza extraordinária! Trata-se de uma capacidade descritiva fascinante. É importante percebermos que Homero é tratado por essa característica de descrever os personagens em termos de ações e de comportamentos; ele não fala muito das emoções, dos pensamentos e dos sentimentos. O que prevalece são as ações, as atitudes e os comportamentos. Isso faz com que as descrições ganhem uma força surpreendente. Não é uma narrativa intimista. Ele não descreve se o sujeito refletiu sobre o que sua vida poderia ter sido e não foi, enquanto sua vida sai pela boca. Esta é uma invenção moderna e ocidental, e que o existencialismo acabou levando a extremos; temos, então, um exagero com o próprio ‘eu’, que é uma coisa terrível, uma literatura em que os personagens só sabem repisar nos próprios problemas interiores, como se os problemas do mundo se concentrassem neles próprios. É um defeito, porque, na verdade, o que nos define não é o que pensamos, mas, sim, aquilo que fazemos. Outra questão importante é que Homero não cria arquétipos; ele cria pessoas, que têm virtudes e falhas, que cometem erros e acertos. Quando ele cria personagens assim, isso provoca em nós, leitores, uma identificação imediata. Nós também não podemos nos esquecer do seu uso repetitivo de certas expressões, que eu analisei nas aulas introdutórias. Essa repetição também produz um efeito muito interessante, porque cria o que podemos chamar de uma narrativa circular, que está sempre retomando certos temas e motivos ao longo do poema. Isso contribui para criar um senso de unidade e de coerência na história. O canto V é aberto com a volta à figura de Diomedes, que conhecemos no canto anterior, e já começa com ele recebendo, da própria deusa Atena, força e coragem para que se tornasse preeminente entre todos os Argivos e obtivesse uma fama gloriosa. É como se a deusa o estivesse presenteando, pelo fato de ele ter sido tão comedido e respeitoso com Agamenon, exatamente por ele ter sido equilibrado, por ter ouvido Agamenon e por ter repreendido o amigo que quis responder ao chefe supremo dos gregos. Atena começa o canto presenteando Diomedes: “Fez-lhe arder do elmo e do escudo uma chama indefectível,
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como o astro na época das ceifas que pelo brilho sobressai entre os outros, depois de ter se banhado no Oceano. Foi uma chama destas que ela lhe acendeu na cabeça e nos ombros; e enviou-o para o meio da refrega, onde se juntava o maior número de combatentes.” O canto abre com a atenção centrada na figura de Diomedes. Aí, então, o Homero começa a contar: “Havia entre os Troianos um certo Dares, homem rico e irrepreensível, sacerdote de Hefesto. Tinha dois filhos: Fegeu e Ideu, conhecedores de toda espécie de combate.. Estes, separando-se dos outros, investiram contra Diomedes. Eles seguiam montados no carro, mas ele avançava a pé. E quando já estavam perto, aproximando-se uns dos outrossim foi Fegeu o primeiro a arremessar a lança de longa sombra.” Vejam que bonito. Não é a lança, mas a sua sombra. É quase como uma descrição indireta, de quão longa é a lança. A descrição continua: “Por cima do ombro esquerdo do Tidida voou a ponta da lança sem o atingir. Em seguida lançou-se contra ele com seu bronze o Tidida; e não foi em vão que o dardo lhe fugiu da mão, pois acertou-lhe no peito, entre os mamilos, atirando-o do carro. Ideu saltou para trás, deixando o lindíssimo carro, sem ousar colocar-se de plantão para proteger o cadáver do irmão. Não teria aliás escapado à escuridão do destino se Hefesto não o tivesse protegido, escondendo-o nas trevas, para que de todo o sacerdote idoso não fosse acometido pela dor.” É muito bonito como toda história tem um porquê; as coisas não ocorrem de forma gratuita. Diomedes arremata os cavalos e dá aos companheiros. Quando derrubaram um inimigo, imediatamente, a primeira coisa a ser feita era roubar os cavalos e as armas para usar contra eles. Depois que Atena deu este poder a Diomedes, ela pegou na mão do Ares e ele, que é o deus da guerra, disse para irem embora e deixarem que se dessem mal sozinhos. Eles se sentam na ribeira arenosa do rio Escamandro e ficam assistindo a batalha, e os gregos colocam os troianos em fuga. A batalha é tremenda; continuam a lutar, caem dos carros, atingem uns aos outros com lança, Menelau mata um sujeito com a lança, e assim um mata o outro. Há uma morte fantástica, aqui: “Perseguiu-o Meríonedes: quando o apanhou, trespassou-lhe a nádega direita. A ponta da lança atravessou a bexiga completamente, penetrando debaixo do osso: ele caiu de joelhos e encobriu-o a morte.” Vejam como eles conheciam muito bem a anatomia. As figuras são impressionantes:
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“E Meges matou Pedeu, filho de Antenor – filho ilegítimo, embora o tivesse criado a divina Teano de forma igual aos queridos filhos, para agradar ao marido. Dele se aproximou o filho de Fileu, famoso lanceiro, atingindo-o com a lança afiada no nervo do pescoço: e o bronze cortou por completo a língua debaixo dos dentes. Tombou no pó e seus dentes morderam a frieza do bronze.” Agora começa a descrição da luta de Diomedes. Homero diz: “Assim se esforçavam eles na labutação da refrega. Quanto ao Tidida, não perceberias a que lado pertencia, se era com os Troianos a sua camaradagem, ou com os Aqueus. É que ele irrompia pela planície, semelhante ao rio no auge da torrente invernosa, cujo caudal arrasta os diques; não o contêm as barreiras dos diques, nem os muros das viçosas vinhas contêm o rio que se precipita de repente quando o impele a chuva de Zeus, ficando assim destruídas muitas e belas obras dos homens. Deste modo pelo Tidida eram desbaratadas as falanges dos Troianos: não lhe resistiam, apesar de serem em número maior.” Ele vira um gigante. É uma coisa impressionante. Então, ele é acertado no ombro. Um dos troianos, então, grita: “Foi atingido o melhor dos Aqueus; e não julgo que ele aguente por muito tempo a flecha poderosa, se na verdade me incitou o soberano filho de Zeus, quando parti da Lícia.” O Diomedes pede que o amigo arranque a seta de seu ombro, e ele faz isso. A túnica fica manchada de sangue, então Diomedes faz uma prece a Atena. Palas Atena ouve e responde: “Tem coragem, ó Diomedes, e luta contra os Troianos! No teu peito eu coloquei a força de teu pai – a força inquebrantável que tinha Tideu, cavaleiro portador de escudo. E tirei da frente dos teus olhos a bruma que lá pairava, para que conheças bem quem é deus e quem é homem. Por isso se vier ao teu encontro algum deus para te testar, não combate de modo algum contra os outros deuses imortais, a não ser que Afrodite, filha de Zeus, entre na refrega: a ela poderás ferir com o bronze afiado.” A força do Diomedes triplica, e ele mata todo mundo. Homero nos conta as consequências que a morte do sujeito provoca: “Ali os matou Diomedes, privando-os a ambos da vida amada, deixando ao pai deles o pranto e o luto doloroso, uma vez que não permaneceram vivos para que o pai os recebesse no seu regresso; pelo que outros familiares dividiram a fortuna.”
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Neste momento surge Eneias, um grande herói troiano, e que os troianos trazem como fundador de Roma. O Eneias vai até o Pândaro e pergunta onde estão o seu arco e as suas setas. Diz que ele deveria matar o sujeito. O Pândaro responde para o Eneias arrependido, porque ele veio para a guerra sem os melhores armamentos que tinha. Então, recorda os cavalos e os carros que deixou, e que poderiam fazer com que ele tivesse mais sucesso como guerreiro. Ele diz que o arco não estaria funcionando, porque já tinha disparado contra dois comandantes dos gregos, e que não sabia mais o que fazer. Eneias chama atenção deles, e diz que não poderiam falar assim, porque estava desestimulado: “As coisas não mudarão de feição até que nós dois com carro e cavalos enfrentemos aquele homem e o ponhamos à prova nas armas.” Ele, então, manda que suba para o carro e que juntos ataquem Diomedes. Pândaro fala, então, para que ele segure as rédeas e conduza os cavalos, porque tinha medo que eles se descontrolassem durante o ataque, e isso facilitaria que Diomedes fosse contra eles. Eles sobem no carro, chocoteam os cavalos e o amigo de Diomedes, ao vê-los aproximando, diz que é melhor saírem dali. Diomedes ficou bravo: “Não me fales em medrosas retiradas, pois não me convencerás! Não faz parte da minha natureza combater escondido, nem rebaixar-me perante outros. A minha vontade é firme. Recuso-me a montar no carro; é da maneira que estou que irei ao encontro deles. Palas Atena não me deixa tremer.” Ele quer roubar os cavalos de Eneias, porque são especiais. Ele conta como é que estes cavalos nasceram; enquanto isso, se aproximam os dois guerreiros, e eles têm um diálogo no meio da batalha. O inimigo joga a lança, mas acerta no escudo de Diomedes. Através do escudo, a lança atinge o colete, e ele comemora, mas Diomedes o diz que não acertou: “Porém não penso que vós dois desistireis, até que um ou outro, tombando, farte de sangue o deus Ares, guerreiro do escudo de cabedal!” Então, Diomedes mata Pândaro. Ele atira a lança e Atena a guia até o nariz da vítima, e o bronze cortou a língua pela raiz, e a ponta da lança saiu por baixo, pela base do queixo; ele tomba do carro e ressoa por cima dele as armas reluzentes. Eneias salta do carro para o chão, mas Diomedes o acerta com uma rocha enorme. Ele estilhaça o quadril e dilacera os tendões; Eneias cai de joelhos e Afrodite vem em sua defesa, porque Afrodite é a mãe dele e o leva no colo. Primeiro, eles conseguem roubar os cavalos do Eneias, que eram um presente recebido de seu pai. As éguas do pai tinham sido cobertas pelos cavalos divinos de Zeus. Os filhotes, Anquiles pegou para ele, e dois deles, deu para Eneias. Diomedes obedece o que Atena tinha dito, e vai atrás deles. Com a mão cortada,
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ela solta o filho, mas Apolo vem e a protege. Não satisfeito, Diomedes enfrenta a deusa, e diz algo fortíssimo a ela: “Não te basta iludires as mulheres na sua debilidade?” É exatamente o que Afrodite fez nos cantos anteriores e na parte anterior à história da Ilíada com Helena. Ela é ajudada pelo Ares, e eles fogem para o Olimpo. Lá, a mãe de Afrodite cuida do ferimento da filha e conta histórias a ela passagens em que os homens tinham conseguido ferir os deuses. Para quem se interessar, pesquisar sobre o assunto é interessante. Diomedes foi incitado por Atena a ferir Afrodite. Zeus aconselha a filha a ficar longe da batalha, e Diomedes, por sua vez, está lá, lutando e enfrentando o próprio deus Apolo. Chega uma hora que o próprio Apolo tem de chamar atenção dele para evitar sua cólera, e ele leva Eneias para um lugar onde ele será curado imediatamente e retornará à batalha. Apolo, vendo a situação das coisas, pede para que Ares entre na batalha para ferir o Diomedes; Ares topa na hora e encoraja os troianos. Acontece, então, uma batalha muito interessante; Sarpedon, filho de Zeus, repreende Heitor por estar fraquejando. Ares, então, lança uma noite sobre os exércitos, mas só faz isso porque Atena se retirou da batalha. Então, ele está livre para agir em benefício dos troianos. Eneias retorna, já curado magicamente, enquanto Agamenon percorre as forças, encorajando-as, e ele próprio começa a lutar. Eneias volta e começa a matar os gregos. Antíloco, filho de Nestor, se aproxima para defender Menelau, e, então, continuam lutando e começam a bater em outros soldados. Ele enfia a espada na testa do sujeito, rouba cavalos, Heitor investe contra eles, e, com eles, seguem as falanges dos troianos vigorosos. Ênio, apesar do nome masculino, é a deusa da carnificina. Alguns dizem que é filha do próprio Ares. Diomedes, quando vê o deus da guerra diante dele, dá uma fraquejada, porque, afinal, ele é um mortal: “Ao vê-lo estremeceu Diomedes, excelente em auxílio: tal como o homem que atravessa uma grande planície estaca desamparado ante o curso impetuoso do rio a fluir para o mar, e recua ao ver o rio fervilhando de espuma – assim naquele momento recuou o Tidida, falando à hoste: ‘Amigos, como admiramos o divino Heitor por ser lanceiro e guerreiro corajoso! Está sempre a seu lado um deus, que afasta a desgraça, como agora Ares, semelhante a um homem mortal. Mas cedei, sempre de rosto voltado para os Troianos: contra os deuses não queirais combater pela força.’” Ele se lembra do conselho de Atena. Heitor mata dois homens, atinge outro, e assim continuam. Neste trecho há um movimento incrível de gestos dos soldados, e Ájax tem de recuar. Eles continuam lutando, e então acontece algo incrível: um neto e um filho de Zeus se enfrentam. Eles estão em lados opostos;
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Sarpedon, filho, com os troianos, e Tlepólemo, neto, do lado dos gregos. No fim, o neto de Zeus morre. O texto diz: “Os divinos companheiros de Sarpedon, igual dos deuses, levaram-no da batalha. Pesava-lhe ao arrastar-se a lança comprida, pois a ninguém ocorrera o pensamento de lhe arrancar da coxa a lança do freixo, para que andasse – estavam apressados, de tal modo se esforçavam por lhe acudir.” Então, vem Ulisses furioso, e mata vários troianos, até que, no fim, Pélago extrai a lança, enquanto ele perde os sentidos. Sob o ímpeto de Ares, os gregos começam a recuar. A deusa Hera, mulher de Zeus, vê os gregos recuando, e, então, envia Atena. As duas vão num carro absolutamente maravilhoso, e Atena deixou decair no chão sua veste macia; veste bordada, que ela própria fizera com suas mãos. Vestiu a túnica do próprio Zeus e envergou as armas para a guerra lacrimosa. Em torno dos ombros atirou a égide bordada, toda ela engalanada de Pânico, e elas vão para cima. Seguem o carro flamejante, que fazem os portões do céu se abrirem; elas conduzem os cavalos até chegarem à terra, mas, antes, questiona Zeus sobre Ares, ao que ele respondeu: “ Contra ele incita Atena, arrebatadora de despojos, ela que sempre quis atingi-lo com dores cruéis.” É importante falarmos um pouco a respeito do carro, porque este é um símbolo que está presente em todas as religiões do mundo antigo. Todas elas conheciam um carro que rola, produzindo enorme estrondo, e com um condutor todo-poderoso que vai guiando através da imensidão do Céu. Nas batalhas, estes carros se tornam presentes. Essa tradição se manteve, inclusive, nos tempos modernos – claro que diluída da sua força, mas, por outro lado, conquistando alguma beleza. Há entidades fantásticas que usam carros para se mover, como as próprias fadas. Há um conto, inclusive, no qual as fadas usam um tipo de carro para atos bons, e outro, para atos maus. Mesmo em Platão, há essa imagem do carro como se ele representasse a natureza física do homem – os nossos apetites, nosso instinto de conservação e de destruição, nossas paixões interiores… Em Platão, quem conduz o carro (nosso lado material), é a natureza espiritual, porque é ela que cuida para que o carro não se desvie. Ele também está presente na tradição judaico-cristã em vários momentos. No livro de Reis, por exemplo, quando o profeta Elias é levado ao Céu enquanto conversava com Eliseu, que é quem ele tinha escolhido para ser seu substituto, surge um carro de fogo, com cavalos de fogo, e Elias sobe aos Céus no meio de um redemoinho. Eliseu, vendo aquela cena fantástica, grita: “Meu Pai! Carro de Israel e seu condutor!” Elias tinha se transformado, ele próprio, no carro de Israel; ele era o condutor e o carro de Israel. É uma imagem belíssima. Zeus, então, coloca Atena para atrapalhar a vida do Ares, e elas, então, começam a chamar atenção dos gregos. Hera diz:
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“Vergonha, Argivos! Reles vilezas, belos só de aspecto! Enquanto nesta guerra participava o divino Aquiles, nunca os Troianos saíam para lá das Portas Dardânias, pois receavam a sua lança potente! Agora longe da cidade pelejam junto às côncavas naus.” Atena, então, se aproxima de Diomedes, e é muito bonito: “Para junto do Tidida saltou a deusa, Atena de olhos esverdeados. Encontrou o soberano perto de seus cavalos e de seu carro, refrescando a ferida que com a flecha Pândaro lhe infligira. O suor afligia e se afadigar o braço, levantando o cinturão para limpar o negro sangue. Mas a deusa agarrou o jugo dos cavalos e disse: ‘Pouco parecido contigo foi o filho que gerou Tideu. Tideu não era de pequena estatura, mas um guerreiro!’” Ou seja, ela chama Diomedes para a guerra novamente, e ele responde que o problema não era com ele mas, sim, com Ares. Atena, então, dá ordem para que ele ataque o próprio Ares: “não receies tu Ares por esse motivo, nem outro dos imortais, a tal ponto sou eu tua auxiliadora. Mas contra Ares conduz primeiro os cavalos de casco não fendido: fere-o de perto e não receies Ares furioso que aqui desvaira, esse forjado flagelo, todas as coisas para todos os homens!” A própria deusa sobe no carro com Diomedes, e para se esconder, ela veste uma gorra para que Ares não percebesse que era ela. Ares, então, parte para cima do Diomedes, que não tem medo. O texto descreve: “Quando estavam já perto, avançando um contra o outro, Ares arremeter por cima do jugo e das rédeas dos cavalos com a lança de bronze, desejoso de o privar da vida. Com sua mão segurou a lança Atena de olhos esverdeados, e atirou-a por cima do carro para seguir seu vão caminho. Em seguida arremeter Diomedes, excelente em auxílio, com a lança de bronze; e apressou-a Palas Atena até o baixo-ventre, onde o cingia uma conta protetora. Foi aí que o atingiu e feriu, rasgando a linda pele;” Ares urra de dor, como nove ou de mil homens na guerra, e um tremor dominou os Aqueus e os Troianos. Como todos os deuses, foge para junto de seu pai, e Zeus o censura e culpa sua mãe. Cura o filho, mas dá uma bronca nele. No fim, tudo se resolve bem. A partir do próximo canto, a luta continua, mas, agora, a ajuda dos deuses sofrerá transformações. O canto V, que acabamos de ler, é o que chamamos de Aristéia. Essa palavra vem do grego que significa ‘excelência’, nobreza. Também deriva de ‘Aristos’, de ‘aristocracia’, que significa ‘o melhor’.
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Ela é a maior batalha de um guerreiro. É a batalha que o guerreiro mais predomina, e que ele atinge o ponto máximo como herói. O canto V é a aristéia de Diomedes. Este canto é exatamente como a Odisséia, as aventuras de Odisseu. Em relação ao Diomedes, não podemos nos esquecer que muitos estudiosos acreditam que, originalmente, o canto V era, na verdade, um poema independente que Homero teria anexado à Ilíada. Outra questão importante a ser salientada é que Diomedes se apresenta como uma figura heróica. Desde o momento em que Agamenon se dirige a ele, a sua reação é de uma nobreza exemplar, de alguém que é um aristocrata. Ele tem a mesma bravura de Aquiles, mas há uma diferença significativa entre os dois, porque Diomedes é cortês e tem autocontrole. Este canto V nos apresenta um modelo alternativo de heróis para compararmos com Aquiles. Enquanto tudo isso acontecia, Aquiles estava na praia, revoltadinho porque teve de dar a escrava a Agamenon. Pelo diálogo, a impressão que temos é de que Diomedes não recebeu prêmios de guerra, como Agamenon e Aquiles. Quando ele é convocado a participar da luta, ele cumpre seu dever com muita intensidade. É uma ponderação importante que temos de fazer em relação a este personagem, mas, no transcorrer da Ilíada, veremos muitas outras cenas bélicas maravilhosas. Essa foi a nossa aula de hoje. Na semana que vem, veremos o canto VII e VIII. Nos apressaremos na Ilíada, mas muita gente me escreve falando que não vê a hora de chegar em Dom Quixote. Será uma experiência incrível. CARLOS PRADO: Professor, qual é a diferença entre persuadir o guerreiro e persuadir seu tino desajustado? Acho que não entendi muito bem a sutileza. RODRIGO GURGEL: É uma questão de criar uma figura de linguagem que é muito específica. Você persuade o guerreiro na vontade inteira, mas persuadir o tino é persuadir aquele ponto onde mora a capacidade de decisão do guerreiro. É uma forma mais sutil de narrar a mesma coisa. É uma figura belíssima. EDNA RABELO: Professor, seria correto dizer que os homens são apresentados por Homero como simples joguetes nas mãos dos deuses? RODRIGO GURGEL: Eu não vejo Homero os colocando como simples joguetes nas mãos dos deuses, mas a presença deles é assim, e vejam que eles continuam lutando, apesar de os deuses terem se afastado. Nós veremos o resultado deste apoio, que ora pende para um lado, ora pende para outro; tem gente que já devorou a Ilíada, e ao fim devem ter visto o que acontece. GUSTAVO CS: A ironia vai tecendo toda a trama? Atualmente, a ironia está rara? Acredito que ela é nuclear da natureza humana. RODRIGO GURGEL: O Homero tem muita ironia, sobretudo quando se refere aos deuses e os paralelismos que faz. Não é uma ironia tão evidente, como encontramos em textos mais sarcásticos ou mais humorísticos. A ironia está em baixa porque ela é uma figura muito sutil, embora tenha infinidade de variações
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e de tons. Para produzir seu efeito, ela exige que o leitor seja inteligente e perspicaz, e aquilo que ele deveria considerar como figurado, ele levará como literal. Isso acontece muito na internet. ZELITA MARIA SOARES VELOSO: Professor, Noely aqui. Comecei a ler a Ilíada em fev/22 e por vários motivos só terminei após 1 ano. Quando comecei, achei que uma realidade de guerra fosse muito distante. No entanto, veio a Croácia. Não é incrível que hoje outras pessoas apresentem essas atitudes heróicas ao enfrentarem esses conflitos em prol de algo em que acreditam? Gostaria de ouvir seu comentário sobre isso. RODRIGO GURGEL: A guerra é uma coisa estúpida. Infelizmente, às vezes é necessária. O nosso dever é tentar negociar com nossos semelhantes, mas, muitas vezes, diante da ignorância ou da maldade deles, não há outro recurso a não ser a guerra. Deve ser sempre o último recurso. Se vocês pensarem bem, vejam o motivo que dá início na guerra dos gregos contra Tróia; o motivo é o rapto de uma mulher. Se tivesse sido a mulher de um camponês, não teria acontecido nada, mas como era mulher do rei de Esparta, então se cria este problema, e as diferentes tribos gregas acabam se unindo. Perceba que muitos sujeitos que estão na guerra na Ilíada nem sabem por que estão. Acho que isso é o que acontece em toda guerra. Este é o poder que o Estado tem de fazer com que as pessoas obedeçam. Qual governo não pode ter sua liderança contestada? Em tese, todos poderiam ter, se as regras fossem claras. No fundo, toda guerra é um absurdo, e o que move a guerra é um desejo extraordinário de poder de uma ou mais pessoas. JONATAS FARIAS SOARES: Como podemos nos livrar da tentação da Húbris mesmo em momentos difíceis? RODRIGO GURGEL: Temos de tomar cuidado e ficar atentos sempre. Para isso, temos consciência. Temos de ser moderados; a temperança e a prudência são as virtudes que têm de nos conduzir. Estamos sempre sendo tentados pelo desejo do excesso, de querer ter tudo e controlar tudo. O ser humano tem essa tendência ao excesso, não só em termos de maldade, mas também de felicidade. Os deuses puniam os excessivamente felizes, porque achavam que todo ser humano precisava ter momentos de alegria e de felicidade, mas também sofrimento. Não é justo que, diante do sofrimento de toda a humanidade, uma parte viva apenas com alegrias; então, os deuses puniam igualmente os extremamente felizes e os extremamente poderosos. O perigo da húbris não é algo que pertence só à cultura grega, mas, sim, é uma característica do ser humano. Essa coisa da insaciedade destrói o ser humano. Isso não é só um crime de egoísmo, mas, sim, também um desejo de poder que ninguém deve ter. Os próprios legisladores foram percebendo isso e criando sistemas que pudessem regular os poderes que dirigem os países. Na prática, as coisas não funcionam. Ideal seria que as pessoas fossem contidas – se não pela própria virtude, pela força.
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EDNA RABELO: Professor, na outra aula, ao mencionar que Aquiles não se iludia, ao contrário de Heitor, seria certo inferir que Homero assim os distingue por ser Aquiles semideus e pretendendo ressaltar sua superioridade? RODRIGO GURGEL: Pode ser. Eles têm uma personalidade completamente diferente. Aquiles age por extremos; agora, por exemplo, está se comportando como uma criança, deixando os amigos morrerem, deitado na praia e sonhando com a mulher que perdeu. VERA NUNES DE CARVALHO: Era hábito as mulheres também lerem a Ilíada e saberem esta de cor? RODRIGO GURGEL: Eu acho que sim, porque a Ilíada era lida para públicos amplos, principalmente na aristocracia. Certamente as mulheres ouviam, e, quando foi passada para o papel, aquelas que eram alfabetizadas certamente liam. Tanto é que haviam mulheres poetas na Grécia. Como ela, deveriam existir outras poetisas na Grécia. PATRÍCIA NOLETO: É muito emocionante! Jamais imaginei que leriam um épico dessa envergadura e ficaria apreensiva para ver o que vai acontecer na sequência. É sensacional. Ação e emoção o tempo todo! RODRIGO GURGEL: A gente lê como se estivesse em um filme! É impressionante, maravilhoso. Homero é incrível. ADRIANA MARIA: A discórdia entre as deusas foi por causa da beleza? RODRIGO GURGEL: Sim. Explico isso na aula anterior. EDNA RABELO: Fico indignada com toda essa interferência dos deuses e em como eles usam as pessoas para atingir seus próprios fins! Por que eles não lutam entre si mesmos em outro local? RODRIGO GURGEL: Há momentos em que eu também fico bravo com esses caras. CARLOS PRADO: Professor, no fim deste último canto Zeus diz a Ares: ‘Tu que és todas as coisas para todos os homens…’ O senhor poderia discorrer sobre isso? Quer isto dizer que queremos sempre a guerra? RODRIGO GURGEL: Nós somos movidos por uma ferocidade interior; o ser humano é movido por uma violência que é incrível. Estamos em constante disputa. O que nos ajuda é que temos consciência, não cedemos à violência porque temos cultura e educação, mas muitas pessoas não sabem seus limites e os ultrapassam constantemente. Eu não acredito em deuses gregos, mas, hoje de manhã, quando acordei, ouvi uma música horrível; saí para olhar, e era uma das casas do outro lado da rua, com a garagem aberta e o som no carro no volume alto, às oito da manhã. Meu ímpeto era querer enfiar o rádio na boca do sujeito, mas sou comedido, educado e civilizado. O nosso ânimo é de reagir ao que nos contraria de maneira violenta. GISELA PIZZATTO: Professor, não há desconhecidos na Ilíada, todos os mortos e aqueles que matam têm nome, sobrenome e história. Nos faz sentir mais a dor dessas batalhas.
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RODRIGO GURGEL: Sem dúvida alguma. É incrível como Homero consegue mesmo dar vida a estes personagens, e perceba que ele faz isso com economia de recursos. Ele não fica um canto inteiro contando a história de uma família, mas em cinco, seis, sete versos, ele coloca aquela figura humana diante de você com nome, nome da família, passado, a promessa de um futuro que não vai se realizar. Isso é fenomenal. Em termos de composição literária, isso é incrível. ALESSANDRO YURI ALEGRETTE: Professor, por falar em guerra, gostaria de saber sua opinião sobre “Adeus às armas” e “Por quem os sinos dobram?” de Ernest Hemingway. RODRIGO GURGEL: Eu gosto, mas pediria a vocês que não nos desviássemos do Homero. EDNA RABELO: E seriam os deuses culpados de húbris? Quero dizer: eles têm esse defeito? Afinal, tudo acontece por causa deles ou provocado por eles. RODRIGO GURGEL: O problema é que eles são deuses, Edna; talvez seja isso que Homer tenta mostrar. Eles acusam os homens de húbris, mas também cometem excessos. Quando Ares entra na batalha, ele esquece que é deus e que tem poder maior do que os outros, e começa a dizimar todo mundo. Afrodite, também está quietinha, fazendo Helena cair nos braços do raptor, assistindo a guerra de camarote, mas quando o filho dela se fere, ela salva o menino. Os deuses são folgados, é essa a verdade. RITA MARÍLIA TOMASCHEWSKI: Professor, entre tantas interpretações, podemos pensar que temos em nós todos os deuses que se manifestam em nossa tomada de decisão? RODRIGO GURGEL: Eu acho que essa é a grande lição. Todas essas forças estão dentro de nós, o problema é que não somos invencíveis. Essas forças existem em termos de potência, modelam mais ou menos as responsabilidades. São deuses que nasceram da imaginação humana. THIAGO: Professor, quando o Homero interrompe a narração da batalha para contar a história toda de um sujeito que vai morrer logo em seguida, seria correto dizer que ele fez isso não só para gerar no leitor um sentimento de piedade, mas também para patentear o poder inexorável da morte? RODRIGO GURGEL: Sim, sem dúvidas. A morte tem poder de bruscamente interromper a vida e mudar tudo. Esta é uma lição que não podemos esquecer, afinal, podemos morrer a qualquer momento. ALESSANDRO YURI ALEGRETTE: Os deuses seriam arquétipos dos defeitos e qualidades do ser humano. Podemos compreendê-los dessa forma? RODRIGO GURGEL: Podemos. CONCEIÇÃO MIRANDA: Obrigada, professor! RODRIGO GURGEL: Eu que agradeço! É uma alegria estar aqui com vocês. O seminário, para mim, é uma coisa maravilhosa.
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CRISTIANE LASMAR: Caro Rodrigo, estou feliz porque hoje ocnsegui assistir ao vivo. Só queria dizer que as aulas estão incríveis. RODRIGO GURGEL: Cristiane, você é uma amiga querida do Rio de Janeiro e uma antropóloga excelente. Vocês deveriam segui-la e acompanhar o blog. RENATA CIAVEIRO: Muito obrigada, professor! Suas aulas são fantásticas. Nos reportam totalmente para esse maravilhoso épico! RODRIGO GURGEL: Muito obrigado, Renata! O objetivo é penetrarmos fundo no livro! GISELA PIZZATTO: Professor, usei a cólera de Aquiles esta semana para corrigir um comportamento do meu filho. RODRIGO GURGEL: É isso aí, Gisela. ALESSANDRO YURI ALEGRETTE: Obrigado pela excelente aula, professor. Sempre aprendo muito com seus comentários. Um bom final de semana a todos! RODRIGO GURGEL: Para você também, um ótimo fim de semana! G FERREIRA: Primeira aula que consegui assistir, montaram um suporte na cama para encaixar o notebook, foi ótimo. Obrigado. RODRIGO GURGEL: Poxa vida, que dureza, meu velho. Ainda bem que botaram um suporte aí para você. Estimo suas melhoras e espero que você se recupere logo. DANIELA ZANOTTO: Professor, o senhor é rodeado pelos anjos da equipe de suporte – Diandra e Lidiane tenazmente ajudaram a superar qualquer dificuldade por amor ao nosso crescimento com o senhor. Obrigada. RODRIGO GURGEL: Elas são fantásticas, mesmo. Duas meninas excepcionais, apesar de a Diandra me fazer trabalhar muito. VERA NUNES DE CARVALHO: Por que sempre a mesma metáfora “Fechou os olhos para a escuridão”? Por que não criar outras para dizer o mesmo? RODRIGO GURGEL: Se você assistir às duas aulas introdutórias, entenderá o porquê. Eu falei sobre como isso cria uma estrutura circular, que dá sentido ao texto. Não podemos nos esquecer que, no início, a Ilíada e a Odisséia eram declamadas. Essa repetição favorecia não só o declamador, que tinha pontos de apoio para não esquecer o texto, mas também os ouvintes. Essas repetições eram feitas para facilitar a repetição dos outros. Assista às duas aulas para compreender melhor o porquê dessas e de outras repetições que são usadas no poema. Muito bem, meus caros. Terminamos por hoje. Muito obrigado pela presença e não se esqueçam que os alunos do Seminário têm um desconto excelente na Oficina de Escrita Criativa. Um abração para vocês!
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