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O primeiro canto da Ilíada vai se deter à causa da peste que é lançada aos Aqueus e o
conflito entre Aquiles e Agamemnon, o qual ascendeu a cólera de Aquiles, causando
inumeráveis danos aos Aquivos. Os sete primeiros versos do Canto I apresentam-nos como
prefácio:
canta-me a cólera – ó deusa” – funesta de Aquiles Pelida, causa que foi de os Aquivos
sofrerem trabalhos sem conta e de baixarem para o Hades as almas de heróis
numerosos e esclarecidos, ficando eles próprios aos cães atirados e como pasto das
aves. Cumpriu-se de Zeus o desígnio desde o princípio em que os dois, em discórdia,
ficaram cindidos, o de Atreu filho, senhor de guerreiros, e Aquiles divino (HOMERO,
Ilíada, I, vv. 1-7).
Nas guerras, o exército vitorioso ficava com as riquezas do adversário, e todas essas
riquezas são divididas entre os guerreiros do exército. No entanto, as partes que serão divididas
recebem um determinado valor dado a importância do guerreiro: quanto mais virtuoso o
guerreiro, tanto maior a riqueza que este receberá. O que Agamemnon presencia após a
revelação de Calcante, tendo, pois, que restituir à Crises sua insígnia, põe em xeque seu poder
diante de todo seu exército e súditos. Aquiles, então, apresenta-se aos olhos de Agamemnon
como alguém que objetiva o trono:
Conquanto sejas astuto, divino Pelida, não penses que poderás enganar-me com teus
subterfúgios e manhas. Queres guardar o teu prêmio, mas pensas que eu deva a dozela
ao sacerdote mandar, desse modo ficando sem nada? Seja! Contato que um novo
presente aos Aquivos magnânimos, de igual valia, me cedam, conforme o desejo que
expendo. Caso a mo dar se recusem, pretendo em pessoa ir buscá-lo, quer seja o
prêmio de Ajaz, ou o do grande Odisseu, eu até mesmo o que tiveste por sorte
(HOMERO, Ilíada, I, vv. 131-139).
Desse modo, Agamemnon sente-se ameaçado por Aquiles, e para não ceder às objeções
dele, intimida-o, alegando que se for de sua vontade ir buscar a sua insígnia, ele o fará. Se, por
um lado, vemos Agamemnon sentir-se ameaço por Aquiles o trono, por outro, vemos Aquiles
angustiado por Agamemnon, pois este, aos olhos de Aquiles, apresenta-se como alguém
despido de vergonha, interesseiro, covarde e, embora sejam sempre dos Aquivos os maiores
esforços nas guerras, é Agamemnon que obtém a maior parte das riquezas. Vale dizer que
Aquiles não tem interesse nenhum pelo reinado, mas pela gloria eterna, e só é possível alcançá-
la no campo de batalha.
Quando Agamemnon determina que pegará para si a escrava de Aquiles, este, impelido
gigantesca irá, se põe a empunhar a espada, quando chega Atenas e repousa a mão sobre seu
movimento, freando-o. A Aquiles o conselho é dado de que nada faça, aguardando, pois será
ele recompensado muito em breve. Nota-se que em momento algum é explanado à Aquiles as
recompensas advindas do recuo da sua ação contra Agamemnon. No entanto, Aquiles sabe que
é a figura central do exército grego, o pupilo de Zeus, e sendo sua vontade a glória, atento ao
conflito com os troianos, não haveria outro momento, senão este, para se fazer tamanha valia:
(...) há de chegar o momento em que todos os nobres Aquivos hão de gritar por
Aquiles, sem vires, então, nenhum modo de protegê-lo, no tempo em que às mãos
desse Heitor homicida uns sobre os outros caírem. Por dentro hás de, então, remoer-
te de desespero, por teres o Aqueu mais ilustre injuriado (HOMERO, Ilíada, I, vv.
240-244).
Tifão nasce da união entre dois pares de opostos, a saber, Gaia, divindade primordial de
potência geradora, e Tártaro, ponto abissal e profundo, onde habitam os titãs lançados por Zeus.
Pode-se dizer que, salvo Zeus, Tifão seria o mais poderoso entre os deuses, não obstante sua
força, dado a origem do seu nascimento por dois princípios do universo. Assim, o confronto
entre Tifão e Zeus assinala um confronto pelo poder, o qual possibilitará ser rei dos imortais e
mortais. Zeus, após o confronto com Cronos, havia se tornado o pai dos deuses e dos homens,
pois, derrotando Cronos, libertou os deuses do Olimpo que estavam presos na barriga de
Cronos. É de Zeus, portanto, a liderança e justiça em razão dos deuses e homens.
Tifão nasce na cisão da batalha entre os deuses do Olimpo e os titãs divinos, que durou
dez anos. O mundo que já havia sofrido incontáveis destruições e tomou várias configurações,
com a luta entre Zeus e Tifão pelo poder do Cosmos, marcará sua última reconfiguração e
reordenação. Tifão é força pura e fogo incandescente, Zeus, por outro lado, traz consigo os
trovões, raios e relâmpagos. A luta entre os dois atinge tamanha proporção que Gaia, Urano e
o Tártaro estremeciam. Incêndios jaziam sobre os oceanos. Toda Terra, Céu e Mar ferveram.
Do Hades sentia-se os estrondos, e mesmo eles alcançaram os titãs, presos no que há de mais
profundo, o Tártaro. A derrocada de Tifão acontece quando, Zeus, irado, “tomando as suas
armas – o trovão, o relâmpago e o raio flamejante –, levantou-se do alto do Olimpo e golpeou
Tifão”. Ao cair, lança sobre os negros vales das montanhas um chama, onde arderá Gaia,
vaporizando-se, agindo a chama sobre seu solo.
Evidencia-se, portanto, que a luta entre Zeus e Tifão deu fim a terceira geração, pois, a
ordem do mundo, tendo ela sofrido vários danos em razão do conflito entre os deuses do Olimpo
e os Titãs, não suportará as duas potências mais fortes entre os deuses. A morte de Tifão, assim
como dará fruto ao vento, que é causa de respiração dos mortais, bem como toda Gaia será
reconfigurada, dando luz à quarta geração.
A questão concernente à finitude é um problema que sempre ganha espaço nas reflexões
humanas. Entre os gregos a abordagem é significativa, e dado seu reconhecimento diante do
fim, lançarão sobre a vida duas formas distintas de abordá-la. A primeira diz respeito a coragem
que cada indivíduo deve possuir, mas, antes de tudo, deve-se prevalecer a vida. É contrário ao
que nos relada Homero na Ilíada, onde o herói tem sua excelência e honra na morte em batalha.
A segunda faz referência aos momentos comemorados, onde os poetas da lírica grega arcaica
se reúnem a beber, cantar, suavizando, portanto, a vida. Evidencia-se, então, a relação intrínseca
entre amor e morte na lírica grega: dado a efemeridade da vida, faz-se necessário senti-la,
apreciá-la. Nesse sentido, o vinho, o amor e arte poética são instâncias que possibilitam melhor
viver a vida. O amor erótico é invocado na lírica grega, e nos banquetes, são os jovens que serão
desejados, pois, ainda que se instrua o indivíduo aos conhecimentos externos, falta-lhe o
conhecimento íntimo, entre os corpos. A lírica grega, portanto, possibilita a reunião entre os
indivíduo que tem como objetivo beber, cantar e amar, aproveitando os mementos, uma vez
que a vida é finita e nada a ela escapa.