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Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

História da Antiguidade Clássica


Docente: Amílcar Guerra
João Castanheira, nº49118.
Esta ficha de leitura é realizada no âmbito da disciplina de História da Antiguidade
Clássica lecionada pelo professor Amílcar Guerra. O trabalho incidirá na obra Ilíada, de
Homero, em que serão identificados certos momentos, ao longo dos vinte e quatro cantos,
onde se poderá verificar as hierarquias na sociedade grega, quem era detentor de poder,
como os usavam e quais os seus limites ao representa-los na sociedade.

Logo no início da obra é-nos apresentado uma demonstração da supremacia de


Agamémnon perante os presentes, entre eles Aquiles, que durante a Ilíada é visto como
um individuo superior perante ambos os exércitos gregos e troianos. Nesta passagem
Aquiles apresenta-se descontente com as decisões de Agamémnon em lhe retirar os
presentes recebidos pelos Aqueus pelas suas vitórias, especialmente Briseida, deixando
assim Aquiles furioso com esta injustiça que o Atrida estava a cometer (Il, I, 172-187),
causando a retirada de Aquiles da guerra deixando-o com intensões de voltar à sua terra
abandonando o exército grego.

No segundo canto é descrita a assembleia aonde estão presentes vários indivíduos,


entre eles Ulisses que embora não detenha um estatuto como o de Agamémnon ou
Menelau é ouvido com grande consideração por todos e os seus conselhos que ao longo
da Ilíada são considerados, mesmo pelos que evidentemente são superiores a ele, bastante
importantes e úteis. Para além de Ulisses na assembleia, Agamémnon, reconhece a
superioridade no discurso de um ancião (Il, II, 370), algo que ao longo da obra se verifica
que os conselhos dos mais velhos são tomados em grande consideração devido a
possuírem maior experiencias de vida do que os novos, vistos assim sempre como uma
fonte de sabedoria.

No canto III Ulisses é outra vez reconhecido, desta vez pelos anciãos troianos,
como um indivíduo bastante inteligente e impossível de se rivalizar, embora o seu aspeto
não fosse muito intimidador à primeira vista (Il, III, 203-224). Também neste canto é
respondido por Helena a um dos anciãos sobre Ajax, em que a sua superioridade não é
atribuída à arte do discurso mas sim à guerra sendo indicado como um grande guerreiro
(Il, III, 225-230).

Outro modo em que se verifica o destaque de um indivíduo, sem ser pela sua
posição hierárquica nos gregos é no canto IV em que Diomedes se destaca somente pelas
suas acções na batalha que se desenrola neste canto.
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No canto IX observa-se novamente outro indivíduo, Trasimedes, que é tido em
grande consideração na assembleia dos gregos devido aos seus conselhos, e que por isto,
é seguido sem ser contestado (Il, IX, 64-85). É também neste mesmo canto que
Agamémnon, demonstra o seu poder a partir das exorbitantes oferendas que este apresenta
a Aquiles para o apaziguar na esperança de que este volte para a guerra com o seu exército,
os Mirmidões. Embora Agamémnon não vá directamente a Aquiles é possível perceber
que embora o Atrida seja o líder das forças gregas, Aquiles e o seu exército a nível militar
detêm um grande poder na situação dos gregos na batalha contra os troianos.

No canto seguinte Heitor dirige-se aos seus melhores soldados, intitulando-os


como os mais nobres, dando a entender que ao se terem destacado a nível militar estes
soldados são considerados superiores aos restantes (Il, X, 299). Para além disto Heitor
demonstra, como anteriormente Agamémnon tinha feito com Aquiles, o seu poder ao
prometer dádivas ao guerreiro que estivesse disposto a infiltrar-se no campo dos aqueus
e tentar adquirir informações sobre os planos do inimigo (Il, X, 304-327).

Algo que ainda se verifica no final no canto X e que se destaca nos momentos de
batalha durante a Ilíada, é que os indivíduos conhecedores de medicina apresentam-se
como elementos bastante importantes durante e após as batalhas pelos soldados (Il, X,
828-836).

É no canto XII que se verifica que os conselhos de indivíduos respeitados só têm


influencia até um certo ponto como se verifica no caso de Polidamante em que este
aconselha Heitor sobre as suas acções durante a batalha, mas este decide ignora-las e
realçar que as suas ordens são finais e não admitiria que nenhum homem sobre o seu
comando não as cumprisse sobre a pena de morte (Il, XII, 211-247).

Ainda neste canto, marcado pela invasão dos troianos aos campos gregos, é
possível verificar-se a mentalidade dos homens ricos, detentores de poder, do exército
grego em que estes vêm como sua responsabilidade para com os que os seguiam estarem
em destaque na batalha ou seja colocarem-se na dianteira nesta altura de dificuldades para
o exército grego (Il, XII, 310-328).

Mais uma vez verifica-se, no canto XIV, na assembleia grega os conselhos dados
não por grandes soberanos como Agamémnon e Menelau, homens de poder, mas por
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Diomedes que anteriormente ganhou mérito devido das suas acções na guerra (Batalha
presente no canto IV), que apresenta perante Agamémnon e os presentes os seus
concelhos que são recebidos e obedecidos sem serem questionados (Il, XIV, 109-133).

Neste período da obra, canto XVI, Aquiles e o seu exército continuam ausentes
da batalha. É nesta altura que Pátroclo vem suplicar a Aquiles que este pusesse de lado a
sua cólera e desse auxílio ao exército romano. Tendo em conta as várias tentativas ao
longo da obra para que Aquiles retomasse o seu lugar na guerra conclui-se que embora
Agamémnon seja o líder do exército grego, Aquiles e os Mirmidões detêm um grande
poder militar que é visto por grande parte dos gregos como essencial para derrotar os
troianos, tornando-se evidente neste canto pela suplica de Pátroclo que leva Aquiles a
concordar emprestar-lhe as suas armas (Il, XVI, 30-45).

No canto XIX, mais uma vez Agamémnon por Aquiles regressar à guerra,
demonstra os seus poderes ao restituir todos os dons antes retirados ao Pelida, entre eles
Briseida, juntamente com os que antes tinha recusado como incentivo para este regressar
à guerra e no processo Aquiles admite que apenas Agamémnon possui o poder de restituir
ou dar dons como ele bem entender (Il, XIX, 146-153).

Ainda neste mesmo canto volta-se a afirmar o poder de conselheiro que Ulisses
possui perante figuras como Agamémnon e Aquiles em que o seu conselho é ouvido e
seguido embora mais uma vez Agamémnon decida usar a sua autoridade para impor as
suas próprias condições e os conselhos de Ulisses (Il, XIX, 154-183).

No canto XXIII volta-se a verificar a afirmação do poder que Agamémnon detém


sobre o seu exército por parte de Aquiles quando este diz que é sobretudo a ele que “(…)
a hoste dos Aqueus sobretudo obedece.” (Il, XXIII, 156-160).

Neste último canto da Ilíada de Homero, Aquiles demonstra o seu poder em


relação, não só aos Mirmidões, mas também ao exército grego quando promete a Príamo
ao garantir-lhe doze dias de paz para se realizar o funeral de Heitor, demonstrando assim
por parte de Aquiles um enorme poder sobre o exército grego que durante o decorrer da
Ilíada esteve apenas associado a Agamémnon como o único individuo capaz de
influenciar os soldados gregos.

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