Você está na página 1de 1

ANA CRISTINA CÉSAR e sentir separado dentre os dentes

um lete de sangue
SONETO
nas gengivas
Pergunto aqui se sou louca
CÉSAR, Ana Cristina. A teus pés.
Quem quer saberá dizer

Pergunto mais, se sou sã

**************************************************
E ainda mais, se sou eu

Nós poetas perguntamos: ser marginal é não


correr atrás de padrinhos literários de grandes
Que uso o viés pra amar

editores?

E njo ngir que njo

Ser marginal é não se sentar em fúnebres


Adorar o ngimento

academias pra molhar o biscoitinho?

Fingindo que sou ngida

Ser marginal é não ngir de mudo surdo burro


quando pisam o seu pé?

Pergunto aqui meus senhores

Ser marginal é tentar viver lutar e ganhar a


quem é a loura donzela

vida com a poesia minha alegria?

que se chama Ana Cristina

Ser marginal é não jogar esse jogo, então


temos a declarar: somos poetas marginais e
E que se diz ser alguém

mais, magistrais, e como tais declaramos


É um fenômeno mor

criada a POBRÁS — órgão que lutará pelos


Ou é um lapso sutil?

direitos:

1 - direito de ir e vir;

  2 - direito de assistência médica, psiquiátrica


CONVERSA DE SENHORAS e jurídica;

3 - ser reconhecido como trabalhador;

Não preciso nem casar 4 - direito ao dinheiro;

Tiro dele tudo o que preciso 5 - livre acesso a qualquer grá ca da união;

6 - livre acesso a botequins, cabarés e


Não saio mais daqui
palácios da cidade;

Duvido muito 7 - isenção de agrante;

Esse assunto de mulher já terminou 8 - abatimento no preço do papel;

O gato comeu e regalou-se 9 - aposentadoria com tempo indeterminado


Ele dança que nem um realejo de serviço;

Escritor não existe mais 10 - acesso à informação e aos meios de


Mas também não precisa virar deus comunicação;

Tem alguém na casa 11 - reconhecimento do registro da POBRÁS


Você acha que ele agüenta? como documento único e infalível.

Sr. ternura está batendo Manifesto POBRÁS.

Eu não estava nem aí Editorial do Almanaque Biotônico Vitalidade nº 1, publicado pelo


Conchavando: eu faço a tréplica Grupo Nuvem Cigana, em 1976.

Armadilha: louca pra saber ************************************************************


Ela é esquisita Geração mimeógrafo
Também você mente demais
Ele está me patrulhando a adolescência germinou entre a fumaça
Para quem você vendeu seu tempo? do gás lacrimogêneo
Não sei dizer: quei com o gauche a poesia escrita na poeira
Não tem a menor lógica a música das cachoeiras
Mas e o trampo? o silêncio da esplanada
Ele está bonzinho os rodamoinhos vermelhos.
Acho que é mentira os mimeógrafos não imprimiam mais
Não começa pan etos,
mas poemas.1

olho muito tempo o corpo de um poema


até perder de vista o que não seja corpo

1CHAVES, Xico. PoETa clandestino. Rio de Janeiro: Ed. Núcleo 3, 1986, p. 8.


fi
fi
fl
fi
fi
fi
fl
fi
fi
fi
fi

Você também pode gostar