Você está na página 1de 23

Analises dos paemas dos altores do modernismo

Hellen Guimarães Silva1


Professora Akma Santos2

2022

1
Nome do departamento – Nome da Instituição – hellenguimaraessilva524@gmail.com
2
hellenguimaraessilva524@gmail.com
2

3°ANO A desaparecida e que ele mesmo vira


desfigurar-se.
1 Mário de Andrade Isto é bem de São Paulo, mudando a cada
momento, e mantendo a mesma cara.
1.1 Quando eu Morrer Como devia ser a rua Aurora em seu
tempo. . . certamente não como hoje, total-
Quando eu morrer quero ficar,
mente degradada e suja.
Não contem aos meus inimigos,
A Paissandú deveria ser lugar de belas mu-
Sepultado em minha cidade,
lheres onde poeta ia deleitar-se, como di-
Saudade.
zia.Bandeira em Pasárgada “tem prostitutas
Meus pés enterrem na rua Aurora,
bonitas pr’a gente namorar”.
No Paissandu deixem meu sexo,
A cabeça na Lopes Chaves remete a sua for-
Na Lopes Chaves a cabeça
mação familiar e educacional, o seu ponto de
Esqueçam.
partida para a vida, que o manteve na linha,
No Pátio do Colégio afundem
numa direção, merecedora da guarda da ca-
O meu coração paulistano:
beça, .
Um coração vivo e um defunto
Associar um coração bem vivo e um defundo
Bem juntos.
juntos, enterrados no Pátio do colégio, é uma
Escondam no Correio o ouvido
forte crítica aos descaminhos de nossa ci-
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
dade, uma viva morta, desde o início, espe-
Quero saber da vida alheia,
rando por uma ressurreição.
Sereia.
Seu ouvido direito e esquerdo nos correios e
O nariz guardem nos rosais,
telégrafos, seriam naturalmente
A língua no alto do Ipiranga
substituídos hoje pelos olhos na internet. De
Para cantar a liberdade.
qualquer forma, um grande curioso,
Saudade. . .
disposto a saber de tudo, seja legal seja o
Os olhos lá no Jaraguá
que for. Tudo era fonte de trabalho para a
Assistirão ao que há de vir,
poesia.
O joelho na Universidade,
O nariz nos rosais é algo desaparecido de
Saudade. . .
São Paulo de hoje, mas imagino os casarões
As mãos atirem por aí,
de seu tempo, com jardins de entrada, cheios
Que desvivam como viveram,
de rosais, onde o poeta apurava sua sensibi-
As tripas atirem pro Diabo,
lidade natural, animal, enquanto caminhava.
Que o espírito será de Deus.
“A lingua no Alto do Ipiranga para proclamar
Adeus.
a liberdade”, tem o sentido de
independência, de dizer o que quiser, ainda
1.2 Análise do poema: Quando eu morrer
que desagrade a outros, a verdade.
A palavra saudade, no final do verso denun-
Ele tem uma saudade antecipada de
cia a perda desta mesma liberdade. Nos
São Paulo, certamente uma São Paulo
3

remete a pensar que o poeta ressentia-se O escritor, batizado de Mário Raul de Moraes
com a falta da liberdade em seu tempo. Andrade, de fato nasceu
Os olhos no Jaraguá, representa foco, e vi- na Rua Aurora, em São Paulo, em 9 de outu-
são futura. Esperança, apesar de tudo. bro de 1893.
Deixar os joelhos na Universidade, sugere Teve uma infância tranquila nesse local e na
uma subserviência à ciência e não a uma juventude mudou-se para
religião. Rua Paissandu. Mais tarde reside na Lopes
“Atirar as mãos por aí”, mostra o descom- Chaves, onde permanece até sua
passo entre a inteligência e sabedoria, de morte. Atualmente, nesse endereço existe a
um lado, e a realidade de uma vida domi- Casa Mário de Andrade, espaço
nada pelos instintos e situações, de outro, cultural dedicado ao escritor.
que levaram o poeta muitas vezes a situa- Mário de Andrade nunca chegou a se casar,
ções contrárias ao seu desejo, uma verda- morando por toda a vida
deira “desvida”, se me permitem usar um com sua mãe, que é citada no texto com ter-
termo assim. nura e proximidade.
Entregar as tripas para o diabo e o espírito
para Deus, mostra a dicotomia humana, a in-
capacidade da integridade, a presença cons- 2 Clarice Lispector.
tante da ambiguidade, em vez da síntese.
2.1 Não te amo mais

1.3 Na rua aurora eu nasci


Não te amo mais.

Na rua Aurora eu nasci Estarei mentindo dizendo que

na aurora de minha vida Ainda te quero como sempre quis.

E numa aurora cresci. Tenho certeza que

no largo do Paiçandu Nada foi em vão.

Sonhei, foi luta renhida, Sinto dentro de mim que Você não significa

Fiquei pobre e me vi nu. nada. Não poderia dizer jamais que Alimento

nesta rua Lopes Chaves um

Envelheço, e envergonhado grande amor.

nem sei quem foi Lopes Chaves. Sinto cada vez mais que Já te esqueci! E

Mamãe! me dá essa lua, jamais usarei a frase EU TE AMO!

Ser esquecido e ignorado Sinto, mas tenho que dizer a verdade

Como esses nomes da rua. É tarde demais. . .


Nossa truculência
1.4 Analise Quando penso na alegria voraz Com que
comemos galinha ao molho pardo, Dou-me
Mário de Andrade retoma suas ori- conta de
gens e faz uma reflexão sobre sua nossa truculência.
trajetória de vida. Eu, que seria incapaz de matar uma galinha,
4

Tanto gosto delas vivas seus sentimentos, uma despedida ou uma


Mexendo o pescoço feio E procurando mi- porca de amor?
nhocas. No segundo poema ela traz um exemplo da
Deveríamos não comê-las e ao seu sangue? galinha para hipocrisia humana, como somos
Nunca. cegos e contraditórios com o fato de aconte-
Nós somos canibais, cimentos onde colocam os seres humanos
É preciso não esquecer. como canibais, não só no sentido da morte,
E respeitar a violência que temos. mas nos atos que não queríamos que fizes-
E, quem sabe, não comêssemos a galinha sem conosco, mas que fazemos com o outro,
ao molho pardo, Comeríamos gente com seu onde tudo resulta em uma hipocrisia, na falta
sangue. de sentimentos de compaixão, e na ambição
Minha falta de coragem de matar uma gali- do ser humano.
nha
E no entanto comê-la morta
Me confunde, espanta-me, Mas aceito. 3 Manuel Bandeira:
A nossa vida é truculenta:
3.1 Os Sapos
Nasce-se com sangue E com sangue corta-
se a união Que é o cordão umbilical.
Enfunando os papos,
E quantos morrem com sangue.
Saem da penumbra,
É preciso acreditar no sangue Como parte
Aos pulos, os sapos.
de nossa vida.
A luz os deslumbra.
A truculência.
Em ronco que aterra,
É amor também.
Berra o sapo-boi:
- “Meu pai foi à guerra!”
2.2 Análise: - “Não foi!” - “Foi!” - “Não foi!”.
O sapo-tanoeiro,
O primeiro poema, Clarice traz de fato Parnasiano aguado,
seu sentimento, isso era algo que nela era Diz: - “Meu cancioneiro
intensa e onde mostra a sua incerteza e cer- É bem martelado.
teza desse amor, o poema tem duas inter- Vede como primo
pretações, a primeira lida do primeiro verso Em comer os hiatos!
ao último como uma despedida de um amor Que arte! E nunca rimo
que a deixou muito abalada, e a segunda é Os termos cognatos.
lendo de baixo para cima, onde ela mostra O meu verso é bom
que por mais que diga que não ame esse ser, Frumento sem joio.
ela estará mentindo, pois nunca dirá com pa- Faço rimas com
lavras certas que ama, mas que é esse seu Consoantes de apoio.
sentimento. Assim deixando o leitor nesse Vai por cinquenta anos
impasse que ela mesmo traz nos Que lhes dei a norma:
5

Reduzi sem danos rante a Semana de Arte Moderna de 1922,


A fôrmas a forma. evento que deu início ao Modernismo na Li-
Clame a saparia teratura e nas Artes no Brasil. Na poesia,
Em críticas céticas: Manuel Bandeira joga com as palavras à ma-
Não há mais poesia, neira dos parnasianos, colocando pontos es-
Mas há artes poéticas. . . “ senciais e características importantes defen-
Urra o sapo-boi: didos e cultuados pelos parnasianos, a exem-
- “Meu pai foi rei!”- “Foi!” plo da sonoridade e métrica regular. Manuel
- “Não foi!” - “Foi!” - “Não foi!”. Bandeira também fez uso de recursos como
Brada em um assomo ironia, sarcasmo e paródia.
O sapo-tanoeiro: Bandeira chama de sapos os poetas parna-
- A grande arte é como sianos que somente aceitavam a poesia ri-
Lavor de joalheiro. mada, formal, como os sonetos. Em “Os Sa-
Ou bem de estatuário. pos” ele também satirizou as reclamações
Tudo quanto é belo, dos poetas parnasianos e as comparou com
Tudo quanto é vário, o coaxar dos sapos num rio. Cada um des-
Canta no martelo“. ses poetas ele dá uma denominação dife-
Outros, sapos-pipas rente: sapo-boi, sapo tanoeiro e aos meno-
(Um mal em si cabe), res chama de saparia. Também mostra al-
Falam pelas tripas, gumas das regras que eles seguiam: comer
- “Sei!” - “Não sabe!” - “Sabe!”. hiatos, nunca rimar cognatos, dar importân-
Longe dessa grita, cia à forma.
Lá onde mais densa O poema é composto por 14 quartetos iso-
A noite infinita métricos, em versos de redondilha menor,
Veste a sombra imensa; com um ritmo que varia. Com rimas ricas e
Lá, fugido ao mundo, pobres, o poema está construído segundo o
Sem glória, sem fé, rigor formal adotado pelo Parnasianismo.
No perau profundo Manuel Bandeira também utiliza a personifi-
E solitário, é cação, pois são atribuídas aos sapos quali-
Que soluças tu, dades e ações próprias do homem: “Berra o
Transido de frio, sapo-boi:/ Meu pai foi à guerra!” ou “O sapo-
Sapo-cururu tanoeiro, / Parnasiano aguado, / Diz: – Meu
Da beira do rio. . . cancioneiro/ é bem martelado” ou “Urra o
sapo-boi:/ - ‘Meu pai foi rei” - “Foi!’”.
Por se tratar de uma crítica aos parnasia-
3.2 Análise:
nos, o poeta modernista faz uso de formas
na composição do poema para atacar o mo-
O poema “Os Sapos”, de Manuel Ban-
vimento da arte pela arte. Chamar o sapo-
deira, escrito em 1918, e publicado em 1919.
tanoeiro de “parnasiano aguado”, com seu
Foi declamado por Ronald de Carvalho du-
6

“cancioneiro bem martelado”, é dizer que o Em Pasárgada tem tudo


ritmo marcado do Parnasianismo é como o É outra civilização
coaxar do sapo-tanoeiro (ferreiro). Trata-se Tem um processo seguro
do desprezo irônico a esse ritmo. De impedir a concepção
O poeta destaca ainda as virtudes poéticas Tem telefone automático
parnasianas com termos rebuscados “Vede Tem alcalóide à vontade
como primo”, seguido de uma expressão Tem prostitutas bonitas
grosseira “Em comer hiatos”, com o verbo Para a gente namorar
“comer” em lugar de “suprimir” estendendo E quando eu estiver mais triste
a ideia de digerir a uma ocorrência estético- Mas triste de não ter jeito
formal. Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei -
3.3 Vou-me embora pra pasárgada
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada.
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
3.4 Análise:
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Publicado no livro Libertinagem, em
Vou-me embora pra Pasárgada
1930, o poema apresenta uma cidade ideali-
Aqui eu não sou feliz
zada como solução para os problemas. Pa-
Lá a existência é uma aventura
sárgada significa, portanto, uma espécie de
De tal modo inconseqüente
refúgio, um local maravilhoso - que só existe
Que Joana a Louca de Espanha
na imaginação do poeta - onde só há espaço
Rainha e falsa demente
para os prazeres da vida.
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive Ele foi escrito e construído com redon-

E como farei ginástica dilhas, que remete a ideia de um escapismo

Andarei de bicicleta muito comum em poemas arcadistas e ro-

Montarei em burro brabo mânticos, que buscavam sempre uma forma

Subirei no pau-de-sebo de aliviar a dor do amor não correspondido

Tomarei banhos de mar! ou uma inspiração em lugares distantes e

E quando estiver cansado campestres.

Deito na beira do rio A fuga então mencionada no po-


Mando chamar a mãe - d’água. ema seria para Pasárgada, uma cidade
Pra me contar as histórias tecnológica na imaginação de Bandeira.
Que no tempo de eu menino Com muitas referências ao modernismo e à
Rosa vinha me contar admiração pelas máquinas e a tecnologia,
Vou-me embora pra Pasárgada o poema tem um pensamento bastante
7

contrário ao pensamento arcadiano. que zomba dos outros,


você que faz versos,

A fuga para esta cidade é uma metá- que ama, protesta?


fora para a busca pela liberdade, para uma e agora, José?
vida que poderia ter sido mais prazerosa, não (. . . )
fosse a tuberculose que acometia o poeta. José, e agora?
Nesta liberdade também estava o desejo de Se você gritasse,
viver uma vida ativa que a doença o privou se você gemesse,
de ter. Em vários momentos da obra, é pos- se você tocasse
sível identificar um retorno à infância antes a valsa vienense,
da doença se instalar. se você dormisse,
se você cansasse,
Outro tema abordado é o afeto e con-
se você morresse. . .
tato físico, temas sensíveis para Manuel Ban-
Mas você não morre,
deira.
você é duro, José!
Neste sentido, a fuga para Pasárgada Sozinho no escuro
também traria a possibilidade de viver aven- qual bicho do mato,
turas amorosas e a satisfação dos desejos sem teogonia,
eróticos em um lugar onde não existe soli- sem parede nua
dão. Dessa forma, Pasárgada, essa incrível para se encostar
cidade imaginada, transcendeu a própria po- sem cavalo preto
esia e se tornou a representação de um lugar que fuja a galope,
onde a vida é melhor, um símbolo de liber- você marcha, José!
dade e hedonismo, que prega o prazer como José, para onde?
estilo de vida.
4.2 Analise

4 Carlos Drumnond de Andrade

Poema é repleto de versos livres, uma


4.1 José
das principais características do modernismo
(período do qual o autor fez parte). Contudo,

E agora, José? essa simplicidade não torna os seus versos

A festa acabou, menos impactantes.

a luz apagou, Muito pelo contrário. “José” pode ser


o povo sumiu, considerado o poema mais atemporal do au-
a noite esfriou, tor. Escrito em um período caótico da história
e agora, José? brasileira, que compreende o meio da se-
e agora, você? gunda guerra mundial e o início da ditadura
você que é sem nome, com o Estado Novo de Vargas, os versos
8

ainda encontram contexto em 2022. Também é possível notar o rompi-

Muitos brasileiros ainda se sentem mento estético com as escolas literárias an-
um José! É preciso comprar gás, mas o salá- teriores, em especial, com o parnasianismo.
rio acabou. E agora, José? É preciso comprar Drummond não precisava escrever bonito
comida, mas o dinheiro não deu. E agora, para deixar as palavras belas e com uma
José? É preciso fazer faculdade. E agora, mensagem capaz de dar significado a qual-
José? quer geração.

O poema retrata a desesperança pre- O poema parece repetitivo aos olhos

sente principalmente em situações sociais. de um leigo, mas há uma intencionalidade


A indagação do eu-lírico reflete o desespero em cada uma das palavras que se repetem.
e a incapacidade de encontrar uma saída, Assim como os versos, os percalços (pedras)
uma solução. Em algum momento e área da da vida também nos encontram em mais de
vida, todos nós, já nos sentimos um José, uma circunstância.
tornando esse um dos melhores poemas de Eles podem até nos deixar esgotados,
Drummond de Andrade. mas acabam gravando na memória uma es-
pécie de ensinamento, assim como os ver-
sos do autor. Porque se tem uma coisa que
4.3 Meio do Caminho
Drummond conseguiu, foi tornar esse poema
literalmente inesquecível.

No meio do caminho tinha uma pedra


tinha uma pedra no meio do caminho 3º ANO B
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento 5 Mario de Andrade
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
5.1 Moça Linda Bem Tratada (1922)
Nunca me esquecerei que no meio do cami-
nho
tinha uma pedra
Moça linda bem tratada,
tinha uma pedra no meio do caminho
Três séculos de família,
no meio do caminho tinha uma pedra.
Burra como uma porta:
Um amor.
4.4 Analise Grã-fino do despudor,
Esporte, ignorância e sexo,
Nele vemos, mais uma vez, a simplici- Burro como uma porta:
dade dos escritos de Drummond. Versos sim- Um coió.
ples, linguagem direta, sem rodeios e sem Mulher gordaça, filó,
palavras rebuscadas. Um retrato do período De ouro por todos os poros
que ajudou a consolidar: o modernismo. Burra como uma porta:
9

Paciência. . . 5.4 ANALISE DO POEMA:


Plutocrata sem consciência,
Nada porta, terremoto
Que a porta de pobre arromba: NESSE POEMA, PRESENTE EM LIRA PAU-
Uma bomba. LISTANA (1945), MÁRIO DE ANDRADE RE-
TORNA SUAS
ORIGENS E FAZ UMA REFLEXÃO SOBRE
5.2 Análise do poema SUA TRAJETORIA DE VIDA.
O ESCRITO, BATIZADO DE RAULDE MO-
RAIS ANDRADE, DE FATO NASCEU NA
Escrito em 1922 por Mário de Andrade, o RUA AURORA, EM SÃO
poema é apontado como uma das primeiras PAULO, EM 9 DE OUTUBRO DE 1893.
composições modernistas da literatura naci- TEVE UMA INFANCIA TRANQUILA NESSE
onal. Moça Linda Bem Tratada é um retrato LOCAL E NA JUVENTUDE MUDOU-SE
satírico da “alta roda” brasileira; através do PARA RUA PAISSANDU.
humor, o poeta enumera os defeitos da socie- MAIS TARDE RESIDE NA LOPES CHAVE,
dade na qual vivia. Por trás de uma aparência ONDE PERMANECE ATÉ SUA MORTE.
cuidada, a realidade era bastante diferente: ATUALMENTE, NESSE
apesar de terem riquezas, costumes e luxos ENDEREÇO EXISTE A CASA MÁRIO DE
variados, estes indivíduos eram encarados ANDRADE, ESPAÇO CULTURAL DEDI-
como burros e superficiais. Porém, a última CADO AO ESCRITOR.
estrofe do poema vai mais longe e afirma que
o “plutocrata”, ou seja, o rico que explora o
pobre, pode não ser burro mas é perigoso.

5.3 NA RUA AURORA EU NASCI 6 Manuel Bandeira

6.1 O último poema


NA RUA AURORA EU NASCI
NA AURORA DE MINHA VIDA Assim eu queria o meu último poema
E NUMA AURORA CRESCI. Que fosse terno dizendo as coisas mais sim-
NO LARGO DO PAIÇANDU ples e menos intencionais
SONHEI, FOI LUTA RENHIDA, Que fosse ardente como um soluço sem lá-
FIQUEI POBRE E ME VI NU. grimas
NESTA RUA LOPES CHAVES Que tivesse a beleza das flores quase sem
ENVELHEÇO, E ENVERGONHADO perfume
NEM SEI QUEM FOI LOPES CHAVES. A pureza da chama em que se consomem
MAMÃE! ME DÁ ESSA LUA, os diamantes mais límpidos
SER ESQUECIDO E IGNORADO A paixão dos suicidas que se matam sem
COMO ESSES NOMES DA RUA. explicação.
10

6.2 Analise Rosa vinha me contar


Vou-me embora pra Pasárgada
Um dos fatores mais apresentados nos poe- Em Pasárgada tem tudo
mas de Manuel Bandeira é a É outra civilização
morte. Também podemos apontar o uso de Tem um processo seguro
versos livres em suas obras literárias. De impedir a concepção
O último poema se trata em prender o leitor Tem telefone automático
para obter uma relação de cumplicidade, me- Tem alcaloide à vontade
talinguístico. Tem prostitutas bonitas
Os versos são caracterizados como meta po- Para a gente namorar
ema, ou seja, uma lírica E quando eu estiver mais triste
que fala sobre ela mesma. O eu-lírico tenta Mas triste de não ter jeito
colocar de pé tudo que ele Quando de noite me der
gostaria de colocar em seu último poema. Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
6.3 Vou-me embora pra Pasárgada
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura 6.4 Analise
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha Um dos mais consagrados poemas de ban-
Rainha e falsa demente deira, nos versos encontra-se o
Vem a ser contraparente escapismo, a vontade do eu-lírico de sair da
Da nora que nunca tive sua condição atual e ir ao um
E como farei ginástica rumo totalmente idealizado.
Andarei de bicicleta Pasárgada era uma cidade Persa, capital do
Montarei em burro brabo primeiro império persa. É ali
Subirei no pau-de-sebo que o sujeito poético vai ou se refugia quando
Tomarei banhos de mar! foge do cotidiano.
E quando estiver cansado Na lírica modernista, ela propõe uma fuga do
Deito na beira do rio campo para uma cidade mais
Mando chamar a mãe-d’água tecnológica, onde o eu-lírico não se sente
Pra me contar as histórias só(naturalismo) e na cidade pode
Que no tempo de eu menino exercer melhor suas funções(sexualidade).
11

7 Oswald de Andrade tem-se um tom irônico.

7.1 Meus oito anos - Oswald de Andrade 7.3 Pronominais – Oswald de Andrade

Oh que saudades que eu tenho Dê-me um cigarro


Da aurora de minha vida Diz a gramática
Das horas Do professor e do aluno
De minha infância E do mulato sabido
Que os anos não trazem mais Mas o bom negro e o bom branco
Naquele quintal de terra Da Nação Brasileira
Da Rua de Santo Antônio Dizem todos os dias
Debaixo da bananeira Deixa disso camarada
Sem nenhum laranjais Me dá um cigarro.
Eu tinha doces visões
Da cocaína da infância 7.4 Análise:
Nos banhos de astro-rei
Do quintal de minha ânsia O poema “Pronominais”, de Oswald de An-
A cidade progredia drade ressalta a proposta de reduzir a dis-
Em roda de minha casa tância entre a linguagem falada e a escrita,
Que os anos não trazem mais uma das principais característica do Primeiro
Debaixo da bananeira Tempo Modernista (1922-1930), renegando,
Sem nenhum laranjais desse modo, o passadismo acadêmico.
Neste poema, observa-se a defesa da co-
7.2 Análise: locação pronominal que segue o padrão fo-
nético brasileiro, a próclise é mais comum,
O poema “Meus oito anos” nessa fase do diferente do padrão português que orienta a
modernismo brasileiro, surgiu em norma culta pela valorização da ênclise. No
forma de paródia porque faz uma referência primeiro verso de. Pronominais “Dê-me um
a outra obra que já existia, escrito no cigarro”, exemplifica uma das muitas diferen-
século XIX, por Casimiro de Abreu, um autor ças existentes entre a língua que a gramática
da segunda geração romântica brasileira. As normativa considera correta e a língua, ge-
palavras expressas por Oswald de Andrade, ralmente, falada pela maioria das pessoas,
constatam que, por como se percebe no último verso “Me dá um
pertencer à época do modernismo, faz um cigarro.”
retrato falado da realidade aqui existente, ou Ao analisar Pronominais outra característica
seja, fala das condições políticas, sociais e modernista foi destacada pelo
econômicas pelas quais perpassava a situ- autor, o uso do verso livre, a fim de traduzir a
ação circundante naquela época, tais como liberdade plena da forma, a qual não
o crescimento desordenado das cidades, en- significa ausência de ritmo, mas criar a cada
tre outros aspectos. Assim concluímos que verso um ritmo.
12

Ao escrever este poema o autor optou por a poesia do cotidiano.


ressaltar essas duas características, com o As pedras mencionadas nesta poesia podem
intento de acentuar outras particularidades ser classificadas como obstáculos ou pro-
como a procura pelo moderno, pelo polêmico blemas que as pessoas encontram na vida,
e, ao mesmo tempo, o nacionalismo se ma- descrita neste caso como um “caminho”.
nifesta em relação à linguagem, pois uma Essas pedras podem impedir a pessoa de
das mais importantes propostas do projeto seguir o seu percurso, ou seja, os proble-
artístico mas podem impedir de avançar na vida. Os
desse poeta é a ruptura com os padrões da versos “nunca me esquecerei desse aconte-
língua literária culta e busca de uma cimento na vida de minhas retinas tão fatiga-
língua brasileira, que incorporasse todos os das” transmitem uma sensação de cansaço
“erros” gramaticais, vistos por ele como ver- por parte do autor, e do acontecimento que
dadeiras contribuições para a definição da ficará sempre na memória do poeta. Assim,
nacionalidade. as pedras mencionadas também podem indi-
Com essa produção Oswald de Andrade rei- car um acontecimento relevante e marcante
tera o pensamento de Anibal Machado – para a vida de uma pessoa.
“Não sabemos definir o que queremos mas Poema da primeira fase do modernismo.
sabemos discernir o que não queremos.”
7.7 Ausência
7.5 No meio do caminho
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
No meio do caminho tinha uma pedra E lastimava, ignorante, a falta.
Tinha uma pedra no meio do caminho Hoje não a lastimo.
Tinha uma pedra Não há falta na ausência.
No meio do caminho tinha uma pedra A ausência é um estar em mim.
Nunca me esquecerei desse acontecimento E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada
Na vida de minhas retinas tão fatigadas nos meus braços,
Nunca me esquecerei que no meio do cami- que rio e danço e invento exclamações ale-
nho gres,
Tinha uma pedra porque a ausência, essa ausência assimi-
Tinha uma pedra no meio do caminho lada,
No meio do caminho tinha uma pedra. ninguém a rouba mais de mim.

7.6 Análise: 7.8 Análise:

O poema mais célebre de Drummond, pelo O sentimento de ausência, de vazio a nossa


seu caráter singular e temática fora do co- volta é algo que acontece muito
mum.Publicado em 1928, na Revista da An- frequentemente hoje em dia e às vezes isso
tropofagia, “No Meio do Caminho” expressa o ocorre pela falta de alguém importante na-
espírito modernista que pretende aproximar quele momento, porém esse é um senti-
13

mento nosso, de cada um e que dificilmente 8.2 Anseali:


sairá de nós.
No poema Ausência que foi escrito por Car- O Soneto de contrição, escrito em 1938, é
los Drummond de Andrade relata exatamente um dos poucos que se dirige efetivamente
esse sentimento que pega muitas pessoas a alguém identificado: uma amada chamada
normalmente e transmite um sentimento vi- Maria. Além do nome, mais nada saberemos
vido por ele. O poeta Drummond tenta expli- a respeito da jovem por quem o eu-lírico nu-
car que sofremos muitas vezes por algo que tre tanto afeto.
nunca tivemos. Então é necessário assimilar No princípio do poema, os versos compa-
esta “ausência”, ou seja, talvez você esteja ram o amor sentido com a dor provocada por
sofrendo por “algo” que realmente “nunca uma doença ou com a sensação de solidão
teve”, então, quando você consegue “absor- presente numa criança que vagueia sozinha.
ver”, entender isso, O sofrimento deixa de No entanto, apesar das comparações iniciais
existir porque você “assimilou” esta tal au- sugerirem sofrimento, logo o eu-lírico dá a
sência, ou seja, ausência de algo ou de al- volta e mostra que o afeto provocado pela
guém que nunca esteve presente. Poema da amada é divino e proporciona uma calma e
segunda fase do modernismo. um descanso jamais sentidos.

8.3 A Rosa de Hiroshima

Pensem nas crianças


8 Vinicius de Moraes
Mudas telepáticas
8.1 Soneto de contrição Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Eu te amo, Maria, eu te amo tanto Pensem nas mulheres
Que o meu peito me dói como em doença Rotas alteradas
E quanto mais me seja a dor intensa Pensem nas feridas
Mais cresce na minha alma teu encanto. Como rosas cálidas
Como a criança que vagueia o canto Mas oh não se esqueçam
Ante o mistério da amplidão suspensa Da rosa da rosa
Meu coração é um vago de acalanto Da rosa de Hiroshima
Berçando versos de saudade imensa. A rosa hereditária
Não é maior o coração que a alma A rosa radioativa
Nem melhor a presença que a saudade Estúpida e inválida
Só te amar é divino, e sentir calma. . . A rosa com cirrose
E é uma calma tão feita de humildade A antirrosa atômica
Que tão mais te soubesse pertencida Sem cor sem perfume
Menos seria eterno em tua vida. Sem rosa sem nada.
14

8.4 Análise: 9 Oswaldo de Andrade

O poema de Vinicius de Moraes foi criado a 9.1 Erro de português


partir da tragédia da bomba atômica
ocorrida no final da Segunda Guerra Mun- Quando o português chegou
dial, no Japão. Rosa de Hiroshima tornou-se Debaixo de uma bruta chuva
um grande protesto, primeiro em forma de Vestiu o índio
poema e mais tarde em forma de música. Os Que pena!
versos abordam as consequências da guerra, Fosse uma manhã de sol
o desastre que as bombas atômicas - apeli- O índio tinha despido
dadas pelos norte-americanos de Fat Man e O português.
Little Boy - fizeram em Hiroshima e Nagasaki.
O início do poema mostra os efeitos da radi- 9.2 Analise
oatividade nas vítimas civis que foram
atingidas. As crianças, alheias ao conflito de As Características do modernismo que es-
duas grandes nações, tornaram-se nos ver- tão presente no poema são o uso de versos
sos de Vinicius de Moraes “mudas telepáti- livres e brancos, linguagem simples e colo-
cas”. As “meninas cegas inexatas” parecem quial (‘’bruta chuva”, ‘’que pena”), revisão do
fazer menção às consequências da radioati- passado histórico, questões culturais e na-
vidade nas gerações futuras. É só no nono, cionalismo (‘’Quando o português chegou”,
no décimo e no décimo primeiro verso que a O índio tinha despido o português), ironia
causa de todo o mal é revelada: (‘’que pena”). Além dessas características, o

“Mas oh não se esqueçam poema traz uma grande critica social ao re-

Da rosa da rosa velar que o ‘’erro”, segundo o ponto de vista

Da rosa de Hiroshima“ do poema modernista, é a colonização portu-

Os últimos versos fazem menção explícita guesa que ‘’ vestiu” o índio com sua cultura.
ao bombardeamento em Hiroshima, que ir- Segundo o poema, seria melhor que o índio
radiou doenças e uma grande contaminação tivesse ‘’ despido” a cultura portuguesa para
nas pessoas e no solo por várias gerações. a troca cultural. O poema
O poeta usa rosa como uma metáfora ao mo- também pode ser interpretado com outro
mento que bomba explodiu, formando uma ponto de vista, como, por exemplo, a vesti-
imagem como uma rosa se desabrochando. menta dos índios e dos portugueses quando
-3° fase do modernismo. chegaram ao Brasil.

3.º Ano C
9.3 Pronominais

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
15

Mas o bom negro e o bom branco É bem martelado.


Da Nação Brasileira Vede como primo
Dizem todos os dias Em comer os hiatos!
Deixa disso camarada Que arte! E nunca rimo
Me dá um cigarro. Os termos cognatos.
O meu verso é bom
9.4 Analise Frumento sem joio.
Faço rimas com
As características do modernismo que es- Consoantes de apoio.
tão presentes no poema é o uso de versos
livres e brancos, linguagem simples e colo- 10.2 O Anel de Vidro
quial (‘’Deixa disso camarada”, ‘’Me dá um
cigarro”), revisão do passado histórico, ques- Aquele pequenino anel que tu me deste,
tões culturais e nacionalismo (‘’mulato sabido, – Ai de mim – era vidro e logo se quebrou. . .
mas o bom negro e o bom branco da Nação Assim também o eterno amor que prome-
Brasileira”). O poema, pronominais, traz uma teste,
forte crítica social a linguagem e aos norma- - Eterno! era bem pouco e cedo se acabou.
lizadores da língua, ou seja, os gramáticos Frágil penhor que foi do amor que me tiveste,
que criticavam o linguajar do povo brasileiro. Símbolo da afeição que o tempo aniquilou, –
Oswaldo de Andrade quis evidenciar que os Aquele pequenino anel que tu me deste,
brasileiros em seu cotidiano não falam ‘’ de- – Ai de mim – era vidro e logo se quebrou. . .
me um cigarro”, mas dizem ‘’ me da, um ci- Não me turbou, porém, o despeito que in-
garro’. Desse modo o autor defende a identi- veste
dade e o linguajar coloquial da população. Gritando maldições contra aquilo que amou.
De ti conservo no peito a saudade celeste. . .
10 Manuel Bandeira Como também guardei o pó que me ficou
Daquele pequenino anel que tu me deste. . .
10.1 Os sapos (trecho do poema)
10.3 Analise ( Os Sapos)
Enfunando os papos,
Saem da penumbra, Bandeira consegue em Os sapos reproduzir
Aos pulos, os sapos. as características essenciais
A luz os deslumbra. defendidas pelos parnasianos. Trata-se, por-
Em ronco que aterra, tanto, de um poema que carrega
Berra o sapo-boi: métrica regular e preocupação com a sonori-
- “Meu pai foi à guerra!” dade, imitações que neste caso
- “Não foi!” - “Foi!” - “Não foi!”. estão a serviço da rejeição à poesia parnasi-
O sapo-tanoeiro, ana. O poema segue um esquema de rimas
Parnasiano aguado, ABAB, sendo destoante apenas o último ter-
Diz: - “Meu cancioneiro ceto. Em termos de estrutura, Os sapos é
16

construído a partir de redondilhas menores. Não se pode deixar de lembrar também a


Os versos trabalham com a ironia e com a semelhança do nome escolhido para o
paródia a fim de despertar o público sapo modernista com a cantiga de roda
leitor para a necessidade de ruptura e trans- Sapo-cururu. Os últimos dois versos do
formação da poesia. poema de Bandeira recuperam os dois pri-
Os versos de Manuel Bandeira são metalin- meiros versos da composição popular:
guísticos porque falam da própria Sapo-cururu
poesia, ou melhor, daquilo que a poesia não Da beira do rio
deveria ser. Os sapos refletem Quando o sapo canta, Ó maninha,
sobre o que supostamente é a arte e o bom É que sente frio.
poema. O que o diálogo imaginário A mulher do sapo
entre os sapos produz é um exercício de re- Deve estar lá dentro
flexão sobre as normas de Fazendo rendinha, Ó maninha,
composição dos versos. Para o casamento
Os sapos mencionados (o boi, o tanoeiro, o
Bandeira, através da paródia, critica a preo-
pipa) são metáforas dos diferentes
cupação excessiva dos parnasianos
tipos de poetas. O sapo-tanoeiro é um típico
com o aspecto formal da linguagem. Se-
exemplar do poeta parnasiano,
gundo o poeta e seus companheiros
que destila as regras de composição:
modernistas, esse estilo de poesia deveria
O sapo-tanoeiro, Parnasiano aguado,Diz:
ser ultrapassado.
- “Meu cancioneiro Outra característica importante do poema é
É bem martelado. a presença de fortes traços de
Vede como primo humor. A própria circunstância instaurada -
Em comer os hiatos! sapos refletindo sobre os estilos de
Para ele, a grande poesia é como o ofício de poesia - já é por si só hilariante. Não por
um joalheiro, há que se lapidar com acaso Os sapos faz parte de um
precisão e paciência: conjunto de criações que os modernistas ba-

Brada em um assomo tizaram de poema-piada.

O sapo-tanoeiro: A criação de Bandeira foi tão essencial para

- A grande arte é como os modernistas que Sérgio Buarque

Lavor de joalheiro. de Holanda chegou a definir Os sapos como


o hino nacional do Modernismo.
O sapo-cururu, por sua vez, é uma represen-
Nas estrofes de Bandeira, contudo, vemos
tação do poeta modernista que
aquilo que o poema não deve ser,
aspira por liberdade e reivindica a simplici-
embora os novos rumos ainda não estejam
dade e o uso de uma linguagem
propriamente sugeridos nos versos.
cotidiana. Quando entra em cena, ele
apresenta-se com uma opinião divergente
se comparada a todos os outros sapos.
17

10.4 Analise ( O Anel de Vidro): ideias do trovadorismo, estilo literário medie-


val. O eu lírico revela-se um trovador, como
O valor que aquele anel tinha para ela era o se fosse um poeta antigo entoando cantigas
mesmo que o amor. Para ela, a saudade que com seu instrumento de corda. O texto pode
ela sentia, se firmava no anel, que enquanto ser lido como versos musicais que se sobre-
o amor existisse, o anel também existiria. põem. Há o uso de onomatopeias, ou seja,
Desse modo, que alguém prometeu amor e palavras que imitam sons, como se observa
que lhe deu o anel, logo este anel se quebrou em “Cantabona!”, sugerindo o som de tam-
e o amor também acabou, o anel era o sím- bores indígenas, e “Dlorom”, evocando a so-
bolo desse amor .Há lirismo sentimental, pre- noridade de um alaúde.
sente em boa medida pela retomada da qua- Ao dizer “Sou um tupi tangendo alúde!”, Má-
drinha popular “O anel que tu me deste/Era rio relaciona a cultura indígena
vidro e se quebrou [. . . ]”. com a europeia, pois o alaúde era um instru-
seria caracterizad[a] pela presença marcante mento árabe usado por
de elementos da tradição parnaso simbolista, trovadores medievais na Europa. Assim, pro-
sendo, por isso, ainda um tanto convencional vocando a sensação de que o
ou, para alguns, ‘’pré- Brasil é um lugar onde há uma mistura cultu-
modernista”. ral.

11 Mário de Andrade
12 Vinicius de Morais
11.1 O Trovador
12.1 A ROSA DE HIROSHIMA
Sentimentos em mim do asperamente
dos homens das primeiras eras. . . Pensem nas crianças
As primaveras de sarcasmo Mudas telepáticas
intermitentemente no meu coração arlequi- Pensem nas meninas
nal. . . Cegas inexatas
Intermitentemente. . . Pensem nas mulheres
Outras vezes é um doente, um frio Rotas alteradas
na minha alma doente como um longo som Pensem nas feridas
redondo. . . Como rosas cálidas
Cantabona! Cantabona! Mas oh não se esqueçam
Dlorom. . . Da rosa da rosa
Sou um tupi tangendo um alaúde! Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
11.2 Analise A rosa radioativa
Estúpida e inválida
O poema acima também faz parte do Pau- A rosa com cirrose
liceia Desvairada. Nele, o autor enfatiza as A antirrosa atômica
18

Sem cor sem perfume Mas oh não se esqueçam


Sem rosa sem nada Da rosa da rosa
(Vinícius de Moraes) Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
12.2 Análise:
[. . . ]
A repetição “da rosa da rosa da rosa” confere
O poema A Rosa de Hiroshima é tipicamente
um poder absoluto à rosa radioativa em si,
social, escrito na proximidade temporal da
como se ela pudesse ocasionar o apareci-
primeira bomba atômica sobre o Japão, e
mento de outras rosas, marcas terríveis dos
ostenta uma clareza impressionante de jul-
que nasceram marcados com as manchas vi-
gamento: as crianças mudas, as meninas ce-
oláceas do câncer ocasionado pela radiação
gas, as mulheres cujos destinos foram para
(= rosa radioativa, hereditária, a verdadeira
sempre alteradas, assim como o de todas as
rosa de Hiroshima que dá o título ao poema).
criaturas que ali se encontravam.
Observa-se, ainda, a presença da alitera-
Observe:
ção coma repetição do fonema /r/ no poema,
[. . . ]
como se fosse um grito de socorro nascido
Pensem nas mulheres
das profundezas dos seres que por Aquilo
Rotas alteradas
passaram ainda estivesse ali, ecoando ao
Pensem nas feridas
longo da História, ao longo do que os “huma-
Como rosas cálidas
nos” fizeram a outros humanos.
[. . . ]
Todas as vezes que ouvimos alguém decla-
mar o poema, há uma confusão que se faz 12.3 PÁTRIA MINHA
no trecho: “pensem nas mulheres rotas, alte-
radas” -a vírgula deve ser considera assim;- Barcelona , 1949
como no poema original não existe virgula- A minha pátria é como se não fosse, é íntima
ção entre partes da oração e sequer ponto Doçura e vontade de chorar; uma criança
final, imaginamos que o poeta quisesse dizer dormindo
“mulheres cujas rotas tivessem sido altera- É minha pátria. Por isso, no exílio
das pelos acontecimentos”, tiradas de seu Assistindo dormir meu filho
cotidiano, fora do destino que tinham esco- Choro de saudades de minha pátria.
lhido para elas próprias e para os seus. Caso Se me perguntarem o que é a minha pátria,
contrário, poderíamos interpretar apenas que direi:
tais mulheres estavam rotas (= rasgadas) e Não sei. De fato, não sei
alteradas (= fora de controle) pela situação Como, por que e quando a minha pátria
criada pela bomba atômica. Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a
É de grande significação, também, a imagem água
criada nos versos: Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
[. . . ] Em longas lágrimas amargas.
19

Vontade de beijar os olhos de minha pátria O não poder dizer-te: aguarda. . .


De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabe- Não tardo!
los. . . Quero rever-te, pátria minha, e para
Vontade de mudar as cores do vestido (auri- Rever-te me esqueci de tudo
verde!) tão feias Fui cego, estropiado, surdo, mudo
De minha pátria, de minha pátria sem sapa- Vi minha humilde morte cara a cara
tos Rasguei poemas, mulheres, horizontes
E sem meias, pátria minha Fiquei simples, sem fontes.
Tão pobrinha! Pátria minha. . . A minha pátria não é florão,
Porque te amo tanto, pátria minha, eu que nem ostenta
não tenho Lábaro não; a minha pátria é desolação
Pátria, eu semente que nasci do vento De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
Eu que não vou e não venho, eu que perma- E praia branca; a minha pátria é o grande rio
neço secular
Em contato com a dor do tempo, eu elemento Que bebe nuvem, come terra
De ligação entre a ação e o pensamento E urina mar.
Eu fio invisível no espaço de todo adeus Mais do que a mais garrida a minha pátria
Eu, o sem Deus! tem
Tenho-te no entanto em mim como um ge- Uma quentura, um querer bem, um bem
mido Um libertas quae sera tamen
De flor; tenho-te como um amor morrido Que um dia traduzi num exame escrito:
A quem se jurou; tenho-te como uma fé “Liberta que serás também”
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não E repito!
me sinto a jeito Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Nesta sala estrangeira com lareira Que brinca em teus cabelos e te alisa
E sem pé-direito. Pátria minha, e perfuma o teu chão. . .
Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Que vontade me vem de adormecer-me
Maine, Nova Inglaterra Entre teus doces montes, pátria minha
Quando tudo passou a ser infinito e nada Atento à fome em tuas entranhas
terra E ao batuque em teu coração.
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o Não te direi o nome, pátria minha
monte até o céu Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Muitos me surpreenderam parado no campo Não rima com mãe gentil
sem luz Vives em mim como uma filha, que és
À espera de ver surgir a Cruz do Sul Uma ilha de ternura: a Ilha
Que eu sabia, mas amanheceu. . . Brasil, talvez.
Fonte de mel, bicho triste, pátria minha Agora chamarei a amiga cotovia
Amada, idolatrada, salve, salve! E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que mais doce esperança acorrentada Que peça ao sabiá
20

Para levar-te presto este avigrama: Vontade de mudar as cores do vestido (auri-
“Pátria minha, saudades de quem te ama. . . verdes!) tão feias
Vinicius de Moraes.” De minha pátria, de minha pátria sem sapa-
tos
E sem meias, pátria minha
12.4 Análise:
Tão pobrinha!
Nesses versos, o poeta aborda uma triste
No que concerne aos aspectos relativos à
questão da realidade social existente no Bra-
letra, novamente encontramos o tema do
sil, que é o problema da pobreza. Na se-
exílio e amor à pátria reforçando as ques-
gunda estrofe Vinícius afirma não saber o
tões de identidade nacional já mencionada
que é a sua pátria, fato que pode ser en-
e ainda de mestiçagem por apresentar um
tendido como referência às diversas culturas
dialogismo intertextual com outros poemas
que a compõe.
que tratam dessa temática.
Todavia, ainda que seja difícil compreendê-
A mestiçagem é notória já na forma do po-
la, na distância em que se encontra, só as
ema que incorpora elementos do gênero
lágrimas aliviam a amargura dessa incompre-
narrativo. Além disso, algumas estrofes são
ensão e da saudade.
fragmentadas, de modo que aparece a que-
O poeta rememora, na sexta estrofe, uma de
bra do verso que pode ocasionar a leitores
suas estadas na Nova Inglaterra
desatentos uma ligeira confusão. Por exem-
(EUA) quando observava o céu e visualizava
plo, na primeira estrofe o poeta fala sobre
duas estrelas que ficam próximas da
a “[. . . ] íntima / Doçura e vontade de chorar
constelação do Cruzeiro do Sul, esperando
[. . . ]”, mas coloca a palavra “íntima” no pri-
ver surgir a imagem da Cruz do Sul que o
meiro verso.
remeteria à terra amada, porém o dia ama-
Vinícius exerceu cargos diplomáticos em Los
nhece logo em seguida. Essa imagem do
Angeles, na Califórnia e no Uruguai e en-
Cruzeiro do Sul é emblemática no que tange
quanto esteve longe do Brasil descreveu na
à questão da identidade nacional, visto que
canção “Pátria Minha” a saudade que sentira
ela se encontra na Bandeira brasileira e no
da sua pátria com a mesma paixão que devo-
escudo do exército nacional.
tava às mulheres. Aliás, esse é um traço ca-
Nota-se que o Hino Nacional Brasileiro tam-
racterístico em sua obra que aparece várias
bém é bastante parodiado ou citado
vezes no poema quando o poeta personifica
em muitas composições poéticas ou não,
a terra amada como uma mulher a qual de-
comprovando o que foi dito até sobre a es-
seja “beijar os olhos”, “miná-la, de passar-lhe
crita ser mestiça no domínio literário. No
as mãos pelos cabelos. . . ”.
poema em estudo, versos do hino apresen-
No entanto, Vinicius, bem como Murilo Men-
tamse ora intentando acentuar um momento
des também verte um olhar crítico sobre a
saudosista do poeta, como na sétima estrofe,
sua pátria não se limitando a idolatrá-la ce-
“[. . . ] pátria minha / ‘Amada, idolatrada, salve,
gamente, como o fez Gonçalves Dias, o que
salve! ’”; ora visando rechaçar o que canta o
é verificável na terceira estrofe:
21

próprio hino, nas estrofes nove, dez e doze, recebe a liberdade em troca. Quando na ver-
como podemos constatar a seguir: dade, a tradução correta seria “Liberdade
Pátria minha. . . A minha pátria não é florão, ainda que tardia”, uma vez que o movimento
nem ostenta ao qual faz referência visava a Independên-
Lábaro não; a minha pátria é desolação cia do Brasil e a criação de um Estado Repu-
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta blicano.
E praia branca; a minha pátria é o grande rio Finalmente, a última estrofe apresenta um
secular lugar de cruzamento, para onde convergem
Que bebe nuvem, como terra elementos culturais completamente díspares
E urina mar. formando um texto rico e mestiço. Nos dois
Mais do que a mais garrida a minha pátria primeiros versos da última estrofe do poema
tem Vinícius de Moraes revisita a peça Shakes-
Uma quentura, um querer bem, um bem peare Romeu e Julieta quando, num dado
Um libertas quae sera tamen momento, o casal enamorado refere-se aos
Que um dia traduzi num exame escrito: pássaros cotovia e rouxinol como símbolos
“Liberta que serás também” do dia e da noite respectivamente.
E repito! Agora chamarei a amiga cotovia
[. . . ] E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Não te direi o nome, pátria minha Que peça ao sabiá
Teu nome é pátria amada, é patriazinha Para levar-te presto este avigrama:
Não rima com mãe gentil “Pátria minha, saudade de quem te ama. . .
Vives em mim como uma filha, que és Vinícius de Moraes.”
Uma ilha de ternura: a ilha Porém, neste caso, é preciso que seja um
Brasil, talvez. rouxinol do dia para que possa pedir ao sabiá
Nesses versos, são expressas, ainda, carac- – novamente a recorrência ao pássaro gon-
terísticas relativas à aspectos geográficos da çalvino que simboliza a terra querida – para
sua pátria que possui caminhos desolados enviar um “avigrama” à sua pátria falando
e “terra sedenta”, provavelmente numa alu- da sua saudade e do seu amor. A criação
são ao sertão nordestino e a vida castigada da palavra avigrama, um telegrama levado
do seu povo. Em contapartida, a terra que- por uma ave, já implica uma mestiçagem do
rida tem “uma quentura, um querer bem”, ou termo ave com telegrama. Por fim, conclui o
seja, uma cordialidade que faz com que seja poema como quem finda uma carta, reme-
amada apesar dos seus problemas. tendo suas sudações e assinando, associ-
Num bom exemplo de mestiçagem lingüís- ando mais uma vez outro gênero textual ao
tica, a frase em latim que marcou o gênero poético.
movimento da Inconfidência mineira “Liber-
tas quae sera tamen” aparece numa bem hu-
morada tradução do poeta para “Liberta que
serás também” sugerindo que quem liberta
22

13 Clarisse Lispector 13.1 O lustre

A obra A hora da estrela apresenta caráter O lustre (1946), segundo romance de


metalinguístico, já que o narrador Rodrigo Clarice Lispector, foi escrito quando a
S. M. mostra ao leitor o processo de com- autora vivia na Europa, tendo sido finalizado
posição da protagonista Macabéa. Ele faz em Nápoles, ao término da II Guerra
reflexões existenciais, além de contar a his- Mundial. Nele se reconhecem características
tória da moça nordestina, que trabalha como já anunciadas em Perto do coração
datilógrafa no Rio de Janeiro. selvagem: enredo sem estrutura definida e
Órfã aos dois anos de idade, ela é criada fluxo de consciência, que valoriza as
e reprimida por uma tia muito religiosa que sensações e a percepção das coisas.
vive em Maceió. Anos depois, ela e a tia se O livro conta a história de Virgínia, desde a
mudam para o Rio de Janeiro. Nessa cidade, infância na Granja Quieta até a vida
a tia falece. Sozinha no mundo, Macabéa vai solitária na cidade. O título remete ao ele-
morar com mais quatro moças, com quem mento decorativo da casa paterna:
divide um quarto. “Havia o lustre. A grande aranha escandecia.
A datilógrafa começa a namorar o nordestino Olhava-o imóvel, inquieta, parecia
Olímpico, um operário ambicioso que deixa pressentir uma vida terrível. Aquela existên-
a moça para namorar a colega de trabalho cia de gelo. Uma vez! Uma vez a um
dela, uma mulher chamada Glória. Por fim, relance – o lustre se espargia em crisânte-
depois de consultar uma cartomante, que faz mos e alegria. Outra vez – enquanto
uma boa previsão para seu futuro, a prota- ela corria atravessando a sala – ele era uma
gonista é atropelada e tem a sua hora da casta semente”. Associado às
estrela: imagens da aranha e do crisântemo (usada
Esse não-saber pode parecer ruim mas não em rituais fúnebres), inseto e flor, o
é tanto porque ela sabia muita coisa assim lustre introduz uma poética feminina trágica:
como ninguém ensina cachorro a abanar o prevê a “vida terrível” de
rabo e nem a pessoa a sentir fome; nasce-se personagens vocacionados ao isolamento,
e fica-se logo sabendo. Assim como ninguém conflito e à falta de afeto.
lhe ensinaria um dia a morrer: na certa mor- No romance, a morte é uma presença para
reria um dia como se antes tivesse estudado a protagonista: sua indiferença pelo
de cor a representação do papel de estrela. que a vida pode ter de Eros; o suposto afo-
Pois na hora da morte a pessoa se torna gamento de um homem, que a
brilhante estrela de cinema, é o instante de assombra mesmo adulta; a recordação de
glória de cada um e é quando como no canto quando, em criança, acompanha o
coral se ouvem agudos sibilantes. estado intermitente da avó entre vida e
morte; e a Sociedade das Sombras,
criada por seu irmão Daniel para torturá-la.
A crítica Olga de Sá (Cadernos de
23

Literatura Brasileira, do IMS) identifica “na


ficção clariciana, uma metafisica da
morte”; o “paradigma talvez seja Virgínia de
O lustre, que morre no final da
narrativa, mas cuja morte é indicada desde
o início”.
A protagonista padece de vesguice física e
existencial. A compreensão limitada
do mundo a aproxima de Lucrécia, de A ci-
dade sitiada. Desde a infância, Virgínia
desmaia facilmente, sentindo prazer com a
“sensação de voo rasante”, e cria
relações negativas com as pessoas. Também
neste sentido, a imagem do lustre
evoca a falta, o que não brilha, como a exis-
tência opaca de Virgínia: “O lustre
implume. Como um grande e trêmulo cálice
d’água”.
O escritor Lúcio Cardoso, amigo íntimo de
Clarice, considerou o título do livro
aquém da singularidade da autora. Ela res-
pondeu: “Exatamente pelo que você
não gostou, pela pobreza dele, é que eu
gosto. Nunca consegui mesmo
convencer você de que eu sou pobre. (. . . )
Infelizmente, quanto mais pobre, com
mais enfeites me enfeito. No dia em que eu
conseguir uma forma tão pobre como
eu o sou por dentro, em vez de carta, você
receberá uma caixinha cheia de pó
de Clarice”

Você também pode gostar