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FICHAMENTO

ANDREAS HUYSSEN
“MEMÓRIAS DO MODERNISMO”

Aline Cristina Maziero

Andreas Huyssen é professor de Literatura Alemã e de Literatura Comparada na


Universidade Colimbia, onde leciona desde 1986. Ewstudou em diversas universidades
da Europa, como Madri, Colonia, Paris e Munique. Seus principais temas de interesse
são o modernismo e o pós-modernismo, a teoria crítica da Escola de Frankfurt, memória
cultural, trauma histórico, cultura urbana e globalização.
Na introdução de seu livro Memórias do Modernismo (1997), Huyssen destaca
que desde meados do século XIX a cultura da modernidade se caracteriza por uma
relação “volátil” entre a “alta arte” e a “cultura de massa”. Para o autor, o modernismo
se constitui como uma estratégia consciente de exclusão e uma ansiedade contra a
contaminação da cultura de massa. Porém, a insistência do modernismo na autonomia
da obra de arte, sua hostilidade para com a cultura de massa, a separação que estabelece
entre cotidiano e cultura e o distanciamento de assuntos políticos, econômicos e
culturais, sempre foram alvo de críticas e houve tentativas de desestabilização desta
oposição a partir de dentro do próprio modernismo, sem, contudo, alcançar efeitos
duradouros. Com isso, a oposição entre o modernismo e a cultura de massa permaneceu
resistente por várias décadas. Huyssen declara que seu livro sugere explicações teóricas
e históricas para a longevidade desse paradigma e se questiona em que medida o pós-
modernismo pode ser entendido como uma nova perspectiva.
O primeiro ponto discutido é o da vanguarda histórica que foi liquidada pelos
regimes de exceção e retrospectivamente absorvida pelo modernismo, a ponto de ser
frequentemente vista como sinônimo deste. Huyssen, no entanto, afirma que talvez uma
das intenções dessa vanguarda fosse desenvolver uma relação diferenciada entre a alta
cultura e a cultura de massa, sendo, por esse motivo, distinta do modernismo. Essa
distinção, segundo o autor, permite focalizar tendências dentro da cultura da
modernidade, e em última instancia, ajudará na compreensão do pós-modernismo e de
sua história.
Para isso, Huyssen cria a categoria do “Grande Divisor”, “o tipo de discurso que
insiste na distinção categórica entre alta cultura e cultura de massa” (HUYSSEN, 1997,
p. 9) Segundo o autor, essa crença no Grande Divisor predominou na academia até a
década de 1980, mas foi senfo cada vez mais questionada pelo desenvolvimento das
artes, do cinema, da literatura e da crítica. O segundo grande desafio a essa dicotomia é
proposto pelo pós-modernismo, que ainda que de forma distinta da adotada pelas
vanguardas históricas, rejeita as teorias e práticas do Grande Divisor.
Segundo Huyssen, para compreender a relação que se estabelece entre
modernismo e pós-modernismo é necessário considerar a relação que se estabelece entre
eles e a cultura de massa. Muitas discussões perdem um pouco o sentido do próprio
objeto ao tentar definir o pós-moderno apenas em termos de estilo. Em comum, tanto
modernismo quanto vanguarda definiram sua identidade em relação à cultura tradicional
burguesa e à cultura popular, que é cada vez mais, a cultura de massa. As discussões de
modo geral tendem a valorizar a cultura tradicional em detrimento da cultura de massa,
que quando é considerada, é apenas de forma negativa. “Uma vontade explícita deste
livro é começar a corrigir esse desequilíbrio, e, com isso, contribuir para uma melhor
compreensão dos espaços em branco existentes entre modernismo e pós-modernismo”.
(HUYSSEN, 1997, p. 10). O autor esclarece que neste livro está preocupado com
questões teóricas e históricas que ajudem a entender a cultura contemporânea e sua
relação com o modernismo e o Grande Divisor, uma vez que o modernismo se tornou
estéril e as fronteiras entre alta cultura e cultura de massa se tornaram cada vez mais
fluidas.
Huyssen cita Adorno como o teórico por excelência do Grande Divisor.

O impulso político por trás de seus trabalhos era o de salvar a


dignidade e a autonomia da obra de arte das pressões totalitárias dos
espetáculos de massa fascistas, do realismo socialista e de uma
degradação cada vez maior da cultura de massa comercial no
Ocidente. Tal projeto era cultural e politicamente válido naquele
tempo e contribui em grande medida para a nossa compreensão da
trajetória do modernismo. (HUYSSEN, 1997, p. 11).

Huyssen, por seu turno, argumenta que este projeto já se esgotou e está sendo
substituído por um novo paradigma, o paradigma do pós-moderno. Mais do que uma
ruptura, nos termos de Huyssen, o pós-moderno é uma negociação constante e até
obsessiva com o moderno.
Outro dos temas discutido pelo autor é o destino da memória dentro da cultura
pós-moderna. O autor destaca que os últimos anos viram surgir uma explosão do
discurso da memória e afirma que memória e representação são duas preocupações
chave do fim de século e de milênio. De seu ponto de vista, a re-presentação sempre
vem depois, ainda que os meios de comunicação de massa tentem nos passar a ilusão de
pura presença, e a memória, por conseguinte, vem depois também, uma vez que é
baseada na representação. O passado precisa ser articulado para se transformar em
memória.
Nesse sentido, Huyssen complementa que o status temporal da memória é
sempre o presente, e não o passado, como poderia sugerir uma investigação mais
ingênua.
É essa tênue fissura entre o passado e o presente que constitui a
memória, fazendo-a poderosamente viva e distinta do arquivo, ou de
qualquer outro mero sistema de armazenamento e recuperação. A
instabilidade da memória, assim, não é apenas o resultado de algo
como um esquecimento geracional, natural, que pode ser contra-
atacado através de uma representação mais confiável. Em vez disso,
ela está dada nas próprias estruturas de representação em si. A
obsessão com a memória na cultura contemporânea deve ser lida em
termos dessa dupla problemática. (HUYSSEN, 1997, p. 15).

No contexto da discussão sobre memória, Huyssen insere também a discussao

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