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Eugénio de Andrade
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
ABAIXO O MISTÉRIO DA POESIA
Temos de ir devagarinho
E sorrindo amalandrada
Vivam, apenas
Vivam, apenas.
Sem complicações.
A transformar os espinhos
Em rosas e canções.
Vivam, apenas.
Rifão Quotidiano
Uma nêspera
Estava na cama
Deitada
Muito calada
A ver
O que acontecia
Chegou uma Velha
E disse:
E zás comeu-a
É o que acontece
Às nêsperas
Caladas
A esperar
O que acontece
Eugénio de Andrade
As Palavras
Desamparados, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Eugénio de Andrade
in Até Amanhã