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9 POETAS E 21 POEMAS DE AMOR

AL BERTO
Alberto Raposo Pidwell Tavares, Al Berto, nasceu em 11 de Janeiro de
1948, em Coimbra. Era filho de família da alta burguesia de origem britânica.
Um ano depois foi para o Alentejo e é em Sines onde passa toda a infância e
adolescência até que a familia decide enviá-lo para a Escola António Arroio,
em Lisboa. Al Berto frequentou diversos cursos de artes plásticas, em Portugal
e em Bruxelas, onde se exilou em 1967. A partir de 1971 dedicou-se
exclusivamente à literatura. Estreou-se com o título À Procura do Vento no
Jardim de Agosto (1977). A sua poesia retomou, de algum modo, a herança
surrealista, fundindo o real e o imaginário.
A sua obra poética engloba Trabalhos do Olhar (1982), Salsugem (1984), O
Medo/Trabalho Poético, 1976-1986 (prémio de poesia de 1987 do Pen Club),
O Livro dos Regressos (1989), A Secreta Vida das Imagens (1991), Luminoso
Afogado (1995) e Horto de Incêndio (1997). Morreu em 13 de junho de 1997
em Lisboa. 

PERNOITAS EM MIM O AMOR AUMENTA

pernoitas em mim o amor aumenta com o amarelecimento do linho


      e se por acaso te toco a memória...amas maior quietude rodeia agora a casa lunar
      ou finges morrer soçobram do fundo dos espelhos submersos os
pressinto o aroma luminoso dos fogos instrumentos
      escuto o rumor da terra molhada de muitos e delicados trabalhos
      a fala queimada das estrelas repousam sobre a erva para sempre
é noite ainda
      o corpo ausente instala-se vagarosamente só o desejo dalguma eternidade despertaria o terno
      envelheço com a nómada solidão das aves arado
já não possuo a brancura oculta das palavras mas a vida tropeça nos húmidos orgãos da terra
      e nenhum lume irrompe para beberes  as selvagens flores afligir-te-ão o olhar
por isso inventaremos o necessário ciclo do outono

a noite dilata a viagem


pressentimos a nervosa luta dos corpos contra a velhice
mas nada há a fazer
resta-nos descer com as raízes do castanheiro
até onde se ramificam as primeiras águas e se refaz o
desejo

as bocas erguem-se
procuram um rápido beijo no éter da casa

ALEXANDRE O’NEIL

Alexandre Manuel Vahia de Castro O'Neill de Bulhões, nasceu em Lisboa


a 19 de Dezembro de 1924. O seu pai, António Pereira de Eça O'Neill de
Bulhões era empregado bancário, e sua mãe Maria da Glória Vahia de Castro
O'Neill de Bulhões, doméstica. Inicia os seus estudos em 1932. Em 1946 sai
de casa dos pais devido a conflitos familiares e vai viver para casa do tio
materno. Em 1948 surgem as primeiras manifestações públicas de interesse
pelo fenómeno poético. O'Neill surge então como um dos fundadores do
Movimento Surrealista de Lisboa. O'Neill, tal como a maioria dos artistas
portugueses não pôde viver da sua Arte. Afirmava «viver de versos e
sobreviver da "publicidade". Foi intérprete de uma generosa "biografia do
amor". Vasto foi o seu currículo, onde constam diversas colaborações para
jornais, revistas, televisão etc. Morreu em 1986 por doença cardíaca.
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REDACÇÃO GAIVOTA
Uma senhora pediu-me Se uma gaivota viesse
um poema de amor. trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
Não de amor por ela, nesse céu onde o olhar
mas «de amor, de amor». é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar.
À parte aquelas
trivialidades «minha rosa, lua do meu céu interior» Que perfeito coração
que podia eu dizer no meu peito bateria,
para ela, a não destinatária, meu amor na tua mão,
que não fosse por ela? nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.
Sem objecto, o poema
é uma redacção Se um português marinheiro,
dos 100 Modelos dos sete mares andarilho,
de Cartas de Amor. fosse quem sabe o primeiro
a contar-me o que inventasse,
HÁ PALAVRAS QUE NOS BEIJAM se um olhar de novo brilho
Há palavras que nos beijam no meu olhar se enlaçasse.
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança, Que perfeito coração
De imenso amor, de esperança louca. no meu peito bateria,
Palavras nuas que beijas meu amor na tua mão,
Quando a noite perde o rosto, nessa mão onde cabia
Palavras que se recusam perfeito o meu coração.
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas Se ao dizer adeus à vida
Entre palavras sem cor, as aves todas do céu,
Esperadas, inesperadas me dessem na despedida
Como a poesia ou o amor. o teu olhar derradeiro,
(O nome de quem se ama esse olhar que era só teu,
Letra a letra revelado amor que foste o primeiro.
No mármore distraído,
No papel abandonado) Que perfeito coração
Palavras que nos transportam no meu peito morreria,
Aonde a noite é mais forte, meu amor na tua mão,
Ao silêncio dos amantes nessa mão onde perfeito
bateu o meu coração.

ALMADA NEGREIROS

Nasceu a  7 de Abril de 1893 na Roça Saudade, Ilha de São Tomé


e faleceu em Lisboa a 15 de Junho de 1970.
Estudou na Escola Nacional de Belas-Artes em Lisboa e, entre
1919 e 1920, em Paris. Da sua actividade como escritor sobressai
a colaboração nas revistas Orpheu (1915) e Portugal Futurista
(1917), bem como o romance Nome de Guerra e a obra poética A
Invenção do Dia Claro. Escreveu também artigos diversos em
jornais e revistas, enquanto ensaísta e crítico.
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ACONTECEU-ME Quando havia mais luz


a luz tornava-me quase real o seu corpo
Eu vinha de comprar fósforos e apagavam-se-me os seus olhos
e uns olhos de mulher feita o mistério suspenso por um cabelo
olhos de menos idade que a sua pelo hábito deste real injusto
não deixavam acender-me o cigarro. tinha de pôr mais distância entre ela e mim
Eu era eureka para aqueles olhos. para acender outra vez aqueles olhos
Entre mim e ela passava gente como se não passasse que talvez não fossem como eu os vi
e ela não podia ficar parada e ainda que o não fossem, que importa?
nem eu vê-la sumir-se. Vi o mistério!
Retive a sua silhueta Obrigado a ti mulher que não conheço.
para não perder-me daqueles olhos que me levavam
espetado AMOR
E eu tenho visto olhos ! Quis-te tanto que gostei de mim!
Mas nenhuns que me vissem Tu eras a que não serás sem mim!
nenhuns para quem eu fosse um achado existir Vivias de eu viver em ti
para quem eu lhes acertasse lá na sua ideia e mataste a vida que te dei
olhos como agulhas de despertar por não seres como eu te queria.
como íman de atrair-me vivo Eu vivia em ti o que em ti eu via.
olhos para mim! E aquela que não será sem mim
tu viste-a como eu
e talvez para ti também
a única mulher que eu vi!

ANTÓNIO FEIJÓ
António Joaquim de Castro Feijó nasceu em Ponte de Lima
a 1 de Junho de 1859 e morreu em Estocolmo em 20 de Junho
de 1917. Fez os estudos liceais em Braga e estudou Direito na
Universidade de Coimbra, terminando o curso em 1883.
Em 1886 ingressou na carreira diplomática. Exerceu cargos no
Brasil (consulados de Pernambuco e Rio Grande do Sul) e, a
partir de 1895, na Suécia, bem como na Noruega e Dinamarca.
Casou em 24 de Setembro de 1900 com a sueca Maria Luisa
Carmen Mercedes Joana Lewin (nascida em 19 de Agosto de
1878), cuja morte prematura, em 21 de Setembro de 1915, o
viria a influenciar numa temática fúnebre, patente na sua obra.

FÁBULA ANTIGA RONDÓ


No princípio do mundo o Amor não era cego; As tuas cartas vêm tocadas
Via mesmo através da escuridão cerrada duma ideal melancolia
Com pupilas de Lince em olhos de Morcego. não sei quem és, e todavia
beijo essas letras desmaiadas.
Mas um dia, brincando, a Demência, irritada,
Num ímpeto de fúria os seus olhos vazou; Como as violetas perfurmadas
Foi a Demência logo às feras condenada, que a sombra esconde à luz do dia,
As tuas cartas vêm tocadas
Mas Júpiter, sorrindo, a pena comutou. duma ideal melancolia
A Demência ficou apenas obrigada
A acompanhar o Amor, visto que ela o cegou, Nas minhas horas tresloucadas,

Como um pobre que leva um cego pela estrada. horas de febre e de agonia,
Unidos desde então por invisíveis laços como esperança fugidia,
Quando a Amor empreende a mais simples jornada, de mil quimeras iriadas,
Vai a Demência adiante a conduzir-lhe os passos  as tuas cartas vêm tocadas...
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O AMOR E O TEMPO - Súbito, o Amor e o Tempo, combinados,
Abrem as asas trémulas ao vento...
Pela montanha alcantilada - «Por que voais assim tão apressados?
Todos quatro em alegre companhia, Onde vos dirigis?» - Nesse momento
O Amor, O Tempo, a minha Amada
E eu subíamos um dia Volta-se o Amor e diz com azedume:
- «Tende paciência, amigos meus!
Da minha Amada no gentil semblante Eu sempre tive este costume
já se viam indícios de cansaço; De fugir com o Tempo... Adeus! Adeus!»
O Amor passava-nos adiante
E o Tempo acelerava o passo

- «Amor! Amor! mais devagar!


Não corras tanto assim, que tão ligeira
Não pode com certeza caminhar
A minha doce companheira!»

ANTÓNIO GEDEÃO
Nasceu em 1906 e morreu em 1997. Poeta, professor e historiador da ciência
portuguesa. António Gedeão, pseudónimo de Rómulo de Carvalho, concluiu,
no Porto, o curso de Ciências Físico-Químicas, exercendo depois a actividade
de docente. Teve um papel importante na divulgação de temas científicos,
colaborando em revistas da especialidade e organizando obras no campo da
história das ciências e das instituições, como A Actividade Pedagógica da
Academia das Ciências de Lisboa nos Séculos XVIII e XIX.
Revelou-se como poeta apenas em 1956, com a obra Movimento Perpétuo. A
esta viriam juntar-se outras obras, como Teatro do Mundo (1958), Máquina de
Fogo (1961), Poema para Galileu (1964), Linhas de Força (1967) e ainda
Poemas Póstumos (1983) e Novos Poemas Póstumos (1990).

AMADOR SEM COISA AMADA SONETO


Resolvi andar na rua Não pode Amor por mais que as falas mude
com os olhos postos no chão. exprimir quanto pesa ou quanto mede.
Quem me quiser que me chame Se acaso a comoção falar concede
ou que me toque com a mão é tão mesquinho o tom que o desilude

Quando a angústia embaciar Busca no rosto a cor que mais o ajude,


de tédio os olhos vidrados, magoado parecer aos olhos pede,
olharei para os prédios altos, pois quando a fala a tudo o mais excede
para as telhas dos telhados. não pode ser Amor com tal virtude.

Amador sem coisa amada, Também eu das palavras me arreceio,


aprendiz colegial. também sofro do mal sem saber onde
Sou amador da existência, busque a expressão maior do meu anseio.
não chego a profissional.
E acaso perde, o Amor que a fala esconde,
em verdade, em beleza, em doce enleio?
Olha bem os meus olhos, e responde.
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ARY DOS SANTOS

José Carlos Ary dos Santos (Lisboa, 7 de Dezembro de 1937 -- 18 de


Janeiro de 1984) foi um poeta e declamador de poesia.
Oriundo de uma família da alta burguesia, José Carlos Ary dos Santos,
conhecido no meio social e literário por Ary dos Santos, vê publicados
aos 14 anos, através de familiares, alguns dos seus poemas, considerados
maus pelo autor. No entanto, Ary dos Santos revelaria verdadeiramente as
suas qualidades poéticas em 1954, com dezasseis anos de idade. É nessa
altura que vê os seus poemas serem seleccionados para a Antologia do
Prémio Almeida Garrett.

ESTRELA DA TARDE MEU AMOR

Era a tarde mais longa de todas as tardes que me Meu amor     meu amor
acontecia meu corpo em movimento
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu minha voz à procura
entardecia do seu próprio lamento
Era tarde, tão tarde, que a boca tardando-lhe o beijo
morria. Meu limão de amargura     meu punhal a escrever
Quando à boca da noite surgiste na tarde qual rosa nós parámos o tempo     não sabemos morrer
tardia e nascemos     nascemos
Quando nós nos olhámos, tardámos no beijo que a do nosso entristecer.
boca pedia
e na tarde ficámos, unidos, ardendo na luz que Meu amor     meu amor
morria meu pássaro cinzento,
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol a chorar lonjura,
amanhecia do nosso afastamento
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver
outro dia. Meu amor     meu amor
meu nó de sofrimento
DESESPERO minha mó de ternura
minha nau de tormento
Não eram meus os olhos que te olharam este mar não tem cura      este céu não tem ar
Nem este corpo exausto que despi nós parámos o vento     não sabemos nadar
Nem os lábios sedentos que poisaram e morremos     morremos
No mais secreto do que existe em ti. devagar      devagar.

Não eram meus os dedos que tocaram


Tua falsa beleza, em que não vi
Mais que os vícios que um dia me geraram
E me perseguem desde que nasci.

Não fui eu que te quis. E não sou eu


Que hoje te aspiro e embalo e gemo e canto,
Possesso desta raiva que me deu

A grande solidão que de ti espero.


A voz com que te chamo é o desencanto
E o esperma que te dou, o desespero.
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CARLOS DE OLIVEIRA
Carlos de Oliveira (Belém do Pará, 10 de Agosto de 1921 — Lisboa, 1 de
Julho de 1981). Filho de emigrantes portugueses, só viveu no Brasil os dois
primeiros anos de vida: em 1923, os seus pais regressam a Portugal,
acabando por se fixar na região de Cantanhede, mais precisamente na aldeia
de Febres, onde seu pai exercia medicina. Em 1933 muda-se para Coimbra,
cidade onde permanece durante quinze anos, a fim de concluir os estudos
liceais e universitários. Ingressa na Faculdade de Letras da Universidade de
Coimbra em 1941.
Morreu na sua casa em Lisboa a 1 de Julho de 1981, com 60 anos
incompletos.

BILHETE POSTAL CARTA A ÁNGELA


Escrevo-te agasalhando o nosso amor,
que o tempo é este inverno sem disfarce: Para ti, meu amor, é cada sonho
Pelos meus olhos fartos de miséria de todas as palavras que escrever,
Mereço bem a luz da tua face. cada imagem de luz e de futuro,
cada dia dos dias que viver
Mas no meu coração as pobres coisas
choram, a cada lágrima exigida, Os abismos das coisas, quem os nega,
a tristeza precisa pra que eu saiba se em nós abertos inda em nós persistem?
quanto custa a alegria de uma vida! Quantas vezes os versos que te dou
na água dos teus olhos é que existem!

Quantas vezes chorando te alcancei


e em lágrimas de sombra nos perdemos!
As mesmas que contigo regressei
ao ritmo da vida que escolhemos!

Mais humana da terra dos caminhos


e mais certa, dos erros cometidos,
foste de novo, e de sempre, a mão da esperança
nos meus versos errantes e perdidos.

Transpondo os versos vieste à minha vida


e um rio abriu-se onde era areia e dor.
Porque chegaste à hora prometida
aqui te deixo tudo, meu amor!

EUGÉNIO DE ANDRADE
Nasceu em 19 de Janeiro de 1923 em Póvoa de Atalaia, Fundão, no
seio de uma família de camponeses. A sua infância foi passada com
a mãe, na sua aldeia natal.
Mais tarde, prosseguindo os estudos, foi para Castelo Branco,
Lisboa e Coimbra, onde residiu entre 1939 e 1945. Em 1947 entrou
para a Inspecção Administrativa dos Serviços Médico-Sociais, em
Lisboa. Em 1950 foi transferido para o Porto, onde fixou residência.

Abandonou a ideia de um curso de Filosofia para se dedicar à poesia


e à escrita, actividades pelas quais demonstrou desde cedo profundo
interesse, a partir da descoberta de trabalhos de Guerra Junqueiro e
António Botto. Camilo Pessanha constituiu outra forte influência do
jovem poeta Eugénio de Andrade.
Faleceu a 13 de Junho de 2005.
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QUASE NADA OBSCURO DOMÍNIO


O amor Amar-te assim desvelado
é uma ave a tremer entre barro fresco e ardor.
nas mãos de uma criança. Sorver entre lábios fendidos
Serve-se de palavras o ardor da luz orvalhada.
por ignorar
que as manhãs mais limpas Deslizar pela vertente
não têm voz da garganta, ser música
onde o silêncio aflui
MADRIGAL e se concentra.
Tu já tinhas um nome, e eu não sei
se eras fonte ou brisa ou mar ou flor.
Nos meus versos chamar-te-ei amor.

JORGE DE SENA
Jorge de Sena nasceu em Lisboa, a 2 de Novembro de 1919, e faleceu em
Santa Barbara, na Califórnia, a 4 de Junho de 1978. É hoje considerado um
dos grandes poetas de língua portuguesa e uma das figuras centrais da cultura
do nosso século XX. Jorge de Sena, que começara a escrever em 1936,
estreando-se em 1942 com Perseguição, acaba por se licenciar em
Engenharia Civil (1944) pela Universidade do Porto, trabalhando na Junta
Autónoma de Estradas de 1948 a 1959, ano em que se exila no Brasil,
receando as perseguições políticas resultantes de uma falhada tentativa de
golpe de estado, a 11 de Março desse ano, em que está envolvido. A mudança
para o Brasil permite-lhe uma reconversão profissional que vai ao encontro da
sua vocação, dedicando-se ao ensino da literatura, acabando por se doutorar
em Letras na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara (São
Paulo), em 1964, obtendo também o diploma de Livre-Docência, para o que
teve que naturalizar-se brasileiro (1963). 

COMO QUEIRAS, AMOR, COMO TU QUEIRAS

Como queiras, Amor, como tu queiras,


Entregue a ti, a tudo me abandono, Como queiras, Amor, como tu queiras.
seguro e certo, num terror tranquilo, de frágil que és não poderás salvar-me,
A tudo quanto espero e quanto temo, Tua nobreza, essa ternura tépida
entregue a ti, Amor, eu me dedico quais olhos marejados, carne entreaberta,
será só escárnio, ou, pior, um vão sorriso
Nada há que eu não conheça, que eu não saiba, em lábios que se fecham como olhares de raiva.
e nada, não, ainda há por que eu não espere Não poderás salvar-me, nem salvar-te.
como de quem ser vida é ter destino. Apenas como queiras ficaremos vivos.

As pequeninas coisas da maldade, a fria Será mais duro que morrer, talvez
tão tenebrosa divisão do medo Entregue a ti, porém, eu me dedico
em que os homens se mordem com rosnidos àquele amor por qual fui homem, posse
de malcontente crueldade imunda, e uma tão extrema sujeição de tudo.
eu sei quanto me aquarda, me deseja,
e sei até quanto ela a mim me atrai. Como queiras, Amor, como tu queiras.

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