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EMERGÊNCIAS
3. Emergências respiratórias
4. Emergências cardiovasculares
5. Emergências neurológicas
7. Choque
8. Toxicidade e Hipersensibilidade
ORGANIZAÇÃO E RECURSOS
1.1
ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E RECURSOS MATERIAIS E HUMANOS
Inexperiência funcional
Desconhecimento técnico e científico
Número insuficiente de profissionais
Problemas inerentes a materiais e equipamentos
Problemas associados ao tipo de organização de resposta
É importante que…
1
ORGANIZAÇÃO DE RECURSOS
Recursos Materiais
CARRO EMERGÊNCIA
NORMAS:
CONTEÚDO:
Material de VA e ventilação
Material de desfibrilhação
Material para fluidoterapia
Fármacos
Outros
REGRAS:
2
SOROS
soro fisiológico
lactato de ringer
!! não utilizar polieletrolíticos com ou sem glicose (por serem ricos em eletrólitos) !!
Recursos Humanos
Constituição da equipa
Liderança
Apesar de, tradicionalmente, a liderança ser atribuída a quem esta á cabeça do doente, tal não é
obrigatório, podendo ser assumida por outro elemento
Idealmente, quem assume a liderança deveria estar liberto de outras funções
Comunicação
Um bom processo de comunicação entre os vários elementos da equipa é fundamental
O líder tem de ser conhecedor das várias avaliações e intervenções
As ordens devem ser dirigidas a uma pessoa e não lançadas ao ar
Deve haver feedback de que se compreendeu a informação e que se cumpriu a ordem
PONTOS A RETER
Os profissionais de saúde devem ser capazes de atuar corretamente em situação de emergência,
nomeadamente perante PCR;
Os profissionais de saúde devem estar preparados para atuar de forma sistematizada e
padronizada numa situação de emergência;
Todo o material necessário a uma situação de emergência deve estar rapidamente acessível e
funcional;
Um carro de emergência deve conter o material necessário para assegurar o ABCDE;
Quando se inicia um processo de reanimação todos devem ser conhecedores das usas funções;
A liderança e um bom processo de comunicação são fundamentais.
3
EQUIPA 5 ELEMENTOS
EQUIPA 3 ELEMENTOS
4
ÉTICA EM URGÊNCIAS E REANIMAÇÃO 1.2
Imperativo Categórico:
“Age somente, segundo uma máxima tal, que possas querer ao mesmo tempo que se torne lei
universal”
Imperativo Prático:
“Age de tal modo que possas usar a humanidade, tanto em tua pessoa como na pessoa de qualquer
outro, sempre como um fim ao mesmo tempo e nunca apenas como um meio”
Os valores éticos:
O problema
5
Ética e legalmente temos o dever de socorrer:
Na ausência de sinais de morte cerebral
Na ausência de doença terminal documentada
Na ausência de recusa competente do doente
Desde que tal não implique riscos consideráveis para quem socorre
Princípios
A pesquisa poderá ser eticamente aceitável se:
Precedida de estudos prévios em animais /laboratório ou situações pré-clínicas
Não for possível noutro grupo de indivíduos
Os possíveis benefícios superam claramente os riscos
6
A reanimação não deve ser um prolongamento inútil da vida
As Normas e DNR
Devem ser regularmente revistas e escritas nas notas médicas e de enfermagem
Quando possível e indicado devem ser precedidas do consentimento informado do dte
Reanimação prolongada
Deverá ser ponderado o benefício social relativo à dádiva de órgãos sempre que a
vítima for um potencial dador e não esteja inscrito no Registo Nacional de Não Dadores.
7
1.3
RISCOS ASSOCIADOS À EMERGÊNCIA
Máscara;
Luvas;
Medidas
universais Óculos;
de Bata;
proteção
Máscara de reanimação com filtro e válvula unidirecional;
Insuflador manual (Ambu)
8
PONTOS A RETER
9
1.4
FARMACOLOGIA ESPECÍFICA EM EMERGÊNCIAS
Sempre que disponível, administrar oxigénio em altas concentrações a todas as vítimas de PCR (de forma a manter a SPO2
igual ou superior a 95%)
Oxigénio
Manter após a recuperação
Indicado também no tratamento de disritmias
A administração de fluidos está indicada em todas as situações de urgência
O tipo de fluido deve ser adequado à situação clínica da vítima
Fluidos NaCl a 0,9% e/ou Lactato de Ringer para a maioria das situações
Colóides em caso de hipovolémia grave
Glicose (em bólus) se hipoglicémia
Em suma:
O enfermeiro deve ser capaz de, em segurança, preparar e administrar drogas em contexto de emergência.
Todas as drogas têm efeitos benéficos e efeitos indesejados.
Tem vindo a ser demonstrado que, na maioria das situações, menos é melhor.
As drogas devem surgir inseridas num conjunto estruturado de medidas
1.5
INFORMAÇÃO AO DOENTE, À FAMÍLIA E TRANSMISSÃO DE MÁS
NOTÍCIAS
Comunicação da morte
Como comunicar?
Contacto precoce
Local apropriado
Cumprimentar, identificar-se pelo nome e função
Confirmar identidade do morto
Posicionar-se adequadamente
Olhar nos olhos
Eventualmente contacto físico
Usar o nome do defunto
Fazer breve resumo do acontecimento
Usar palavras simples
Pronunciar a palavra “morte”, “morreu”, “faleceu”
Dizer o que foi feito
Estar disponível para esclarecer dúvidas
Preparar o corpo para ser visto
Questões práticas, legais e religiosas
A maioria das RCP não tem sucesso, a família deve ser informada de forma precisa,
directa e honesta, ajudando-a a encarar a situação.
Deve-se dar tempo e liberdade para a família expressar os seus sentimentos e ver o
corpo, facilitando o processo de luto.
1
2
AVALIAÇÃO DA PESSOA EM SITUAÇÃO CRÍTICA
ABORDAGEM ABCDE
1
Correção imediata das situações
RESPIRAÇÃO (B) potencialmente fatais
O que fazer?
Auscultar tórax
Oximetria de pulso
Percutir tórax (som timpânico e que propaga som: ar fora do sítio normal; som maciço: subst que
compromete a parte pulmonar)
Palpar parede torácica (depressível, lesões?)
Verificar posição da traqueia (ver se há obstrução, colapso do parênquima pulmonar)
CIRCULAÇÃO (C)
Correção imediata das situações
Observar coloração pele potencialmente fatais
Avaliar T das extremidades
Tempo de preenchimento capilar (normal 3s)
Observar estado dos acessos venosos (em último caso: intra-ósseos ou jugulares)
Avaliar pulsos – auscultar pulso apical (no ápice)
Palpar pulso periférico e central simultaneamente (comparar os 2)
Avaliar PA
Procurar sinais de hemorragia (interna e externa).
O que fazer?
Colher sangue para gasometria e rotinas (bioquímica, hemograma, tempos de coagulação)
Providenciar acessos venosos
Iniciar fluidoterapia (soro fisiológico ou lactato de ringer) – para manter acesso permeável
Caracterizar FC
Monitorização simples (3 ou 5 derivações)
ECG 12 derivações
Procurar outros sinais de débito cardíaco insuficiente
- Alteração nível consciência (devido a hipóxia cerebral), débito urinário.
2
Correção imediata das situações
DISFUNÇÃO NEUROLÓGICA (D)
potencialmente fatais
Avaliação inicial rápida
AVPU AVDS
3
EXPOSIÇÃO (E)
Pode ser necessário expor completamente a pessoa Correção imediata das situações
potencialmente fatais
Respeitar a dignidade da pessoa
Minimizar perdas de calor
O exame céfalo-caudal pode ser útil
Não esquecer de observar a parte posterior da pessoa
PONTOS A RETER
4
3
EMERGÊNCIAS RESPIRATÓRIAS
Obstrução da VA
Inflamação ou Infecção
Doença aguda
Doença crónica
Toxicidade de substâncias inaladas (monóxido de carbono, pólens)
Reacção imune
Depressão do SNC (alteração do estado de consciência; qdo se afeta a parte central repercurssões nas outras)
Problemas cardíacos
Problemas circulatórios
Sinais e Sintomas
Respiração ruidosa
- Ressonar
- Estridor inspiratório (corpo estranho, edema...)
- Gargolejo (secreções de sangue na VA superior)
Obstrução óbvia (vómito, sangue, corpo estranho visível)
Posição do doente
1
Dados relevantes na História Clínica
Sinais de Gravidade
Compromisso ou R de compromisso da VA
Paragem Respiratória
FR < a 5 ou > a 36
Cianose central
Saturações de oxigénio < a 92-93%
Utilização de músculos acessórios
Diminuição da consciência, confusão e agitação
Pele pálida, diaforética ou cianosada
Respiração superficial
MEDIDAS INICIAIS
MEDIDAS ESPECÍFICAS
2
EDEMA AGUDO DO PULMÃO (EAP)
Estase circulatória
Pulmão encharcado
Impossibilidade de trocas gasosas
(Sangue + líquido intersticial)
Libertação de Secreções
Primeiro sinal
(espumosas e róseas)
Estágios do EAP
Pode estar relacionado com problemas cardíacos, circulatórios e do SNC ou sistémico (exº sépsis)
Sinais e sintomas
Dificuldade respiratória
Saturações de oxigénio reduzidas
Sons respiratórios diminuídos à auscultação
Presença de ruídos respiratórios (síbilos, roncos...)
Cianose ou palidez
Utilização dos músculos acessórios
Taquipneia
4
Intervenções
Assegurar ABC
Pedir ajuda especializada (pode ser necessária VA avançada)
Entubação Endotraqueal e admissão em UCI (a maioria)
Ventilação mecânica com pressão expiratória final positiva e com baixo volume corrente
Acesso vascular
Administração de fluídos judiciosamente, apenas para manter/repor a volémia
(Em alguns doentes é necessária a monitorização das pressões pulmonares)
PNEUMOTÓRAX
Acumulação de ar na cavidade pleral / fora do parênquima (há colapso: diminuição do espaço para trocas)
Sinais e Sintomas
Intervenções
5
DERRAME PLEURAL
Sinais e Sintomas
Intervenções
Obter radiografias do tórax (antero-posterior e de perfil)
Monitorizar o nível de saturação periférica de O2
Administração de O2 suplementar
Administração de analgésicos
Drenar o líquido pleural por toracocentese
Se o derrame for grande e em rápida acumulação, deve inserir-se um dreno torácico
TROMBOEMBOLIA PULMONAR
Isquémia aguda de uma área pulmonar por obstrução arterial devido a êmbolo (coágulo, ar, gordura);
Causas frequentes:
- Fibrilhação auricular;
- Trombose venosa dos MI ou veia cava;
- Êmbolo de ar ou gordura.
6
Sinais e Sintomas
Intervenções
Pedir ajuda especializada
Obter radiografias do tórax (antero-posterior e de perfil)
Monitorizar o nível de saturação periférica de O2
Administração de O2 suplementar
Administração de analgésico (morfina)
A terapêutica passa geralmente por administrar heparina, mas podem estar indicadas outras
formas de tratamento
PONTOS A RETER
7
4
EMERGÊNCIAS CARDIOVASCULARES
Ritmos de paragem
1
ASSISTOLIA
Ritmos desfibrilháveis
“Bombear”: está em paragem, não há circulação, por isso levanta-se o membro e faz-se
expressão para forçar o retorno venoso e a absorção dos fármacos.
2
Ritmos de peri-paragem
• FC < 60 bat/min
As Bradiarritmias podem ser fisiológicas: no caso dos atletas ou na presença de bloqueio aurículo-ventricular.
Se o doente já tiver sinais de isquémia e insuficiência deve ser administrada atropina (500
microgramas EV).
Intervenções
Vigilância
Compreensão das causas
Resposta às situações de instabilidade (conhecer o algoritmo para antecipar a resposta)
3
TAQUICARDIAS E TAQUIARRITMIAS
Taquicardia sinusal: ritmo sinusal igual ou superior a 100 p/m (tempo QRS é reduzido)
Taquicardias supraventriculares
Algumas diferenças no espaço e as amplitudes não estão ao mesmo nível
4
Sinais de instabilidade: Choque, sincope, isquémia e insuficiência cardíaca
Medidas vagais (que podem ser implementadas): massagem do seio carotídeo + pressão
supraciliar (para diminuir FC)
5
5
EMERGÊNCIAS NEUROLÓGICAS
No D:
Avaliação rápida da consciência AVDS
Avaliação das pupilas (diâmetro, reatividade à luz, simetria)
No E:
Avaliação focalizada (assimetrias na face – desvio da comissura labial, ptoses palpebrais –,
parestesias, paralisias, assimetrias na força nas extremidades, mental status)
AVPU AVDS
A – Álcool (drogas,toxinas)
E – Endócrino (hiperamoniémia, hiper ou hipo tiroidismo), environment (hiper/hipotermia),
eletrólitos
T – Trauma
situações mais I – Infeção (sistémica ou SNC)
complexas
P – Psiquiatria/ Porfíria (alteração hematológica – destruição de células sanguíneas)
S – Strock, space occupying lesions, shock
1
◘ Exame da pessoa SAMPLE
Sinais e sintomas
• Procurar sempre a história completa (SAMPLE)
Alergias
• Observar a pessoa
Medicação corrente
olhar para o tórax e observar o padrão da respiração
Past Illnesses/Pregnancy
estar atento ao hálito do doente (cetónico, álcool, fétido) Last meal
analisar a postura Eventos relacionados
- descorticação
- descerebração (associada ao hipo/hiper alterações metabólicas)
• Avaliar score de ECGlasgow
se < 8: imediata estabilização da VA Aplicação dos estímulos dolorosos
o Abertura dos olhos
Locais a evitar:
o Melhor resposta motora
Aréola mamilar
o Melhor resposta verbal
Área genital
Região supra-orbital (se traumatismo
craneano ou craneotomia)
Externo
◘ Avaliação dos pares cranianos Locais de eleição:
Leito ungueal
Do encéfalo partem 12 pares dos nervos cranianos
Musculo trapézio
o 3 exclusivamente sensoriais
Faces internas do membros
o 5 motores
o 4 são mistos
2
◘ Padrão da respiração
PRIORIDADES
CONVULSÕES – 1-2% da população tem convulsões por uma causa primária ou secundária
Primária
Epilepsia (+ frequente 10-20anos)
Secundária
Patologia intracraniana (trauma, massa, abcesso, AVC, infecção…)
Patologia extracraniana (tóxicos, metabólicos, hipertensão, hipertermia, eclampsia…)
TIPOS
3
CAUSAS
• Infecção
• Hiper e hipoglicemia
• Insuficiência Renal ou hepática
• Hipóxia
• AVC
• LOE
• Trauma
• Eclampsia
• Encefalopatia hipertensiva
• Toxicidade e hipersensibilidade a fármacos (salicitatos, tranquilizantes, ceftazidima, imipenem,
cloropromazina…)
PRIORIDADES
• Proteger
• Chamar ajuda
• Não tentar a introdução de objetos pela boca
• Administrar anticonvulsivo: clonazepam, diazepam, midazolam
Assegurar ABC
Chamar ajuda
Administrar Oxigénio
Posicionar protegendo a aspiração de vómito
Procurar e resolver a causa (se possível)
4
HIPOGLICEMIA
PRIORIDADES
• Proteger
• Assegurar ABC
• Chamar ajuda
• Administrar oxigénio
• Assegurar acesso venoso
• Administrar glicose hipertónica (10, 20 ou 30%) em bólus
• Reavaliar glicemia
• Administra novo bólus de glicemia se necessário
AUMENTO DA PIC
SINAIS
• Cefaleias
• Náuseas
• Vómitos
• Sonolência – coma
• Alteração das pupilas (midríase do lado afectado)
5
CONTROLE DA PIC – medidas básicas / intervenções
• Assegurar ABC
• Chamar ajuda
• Administrar oxigénio
• Posicionamento elevar cabeceira da cama 15-30º
• Manter a cabeça e pescoço alinhados
• Controlar a dor
• Atenção a intervenções demoradas e intempestivas:
aspiração de secreções
tentativas repetitivas para puncionar
introdução da SNG
Hipoxia
Hipercapnia
Hipotermia
Hipertermia
Hipoglicemia
Convulsões
Hipotensão
PONTOS A RETER
6
6
DESIQUILÍBRIOS HIDROELECTROLITICOS E ÁCIDO-BASE
(Soluções Parentéricas)
Equilíbrio Hidroelectrolítico – Cadeira de Terapêutica Geral
Tipos de
soluções
Cloreto de sódio
Cloreto de potássio
Gluconato de cálcio
Sulfato de Mágnésio
Electrolíticas Fosfato
Polielectrolíticas
Acidificantes
Cristalóides Alcalinizantes
Especiais
Dextrose
Glicose
Hidratos de
Frutose
Carbono
Levulose
Açucares invertidos
Mistas
Concentrado eritrocitário
Biológicas: Plasma fresco congelado
Coloidais Sangue total
Gelatinas
Não biológicas:
Dextrano 40%
1
ELETROLÍTICAS
Perda de sódio
Renal Extrarrenal
• Diuréticos • Perdas insensíveis
• Diurese osmótica • Perdas GI
• Nefropatias perdedoras de sal • Queimaduras
• Insuficiência suprarrenal (aldosterona)
• Sequestração
• Hemorragia
Hiperglicémia: Diurese osmótica com perda de H2O e sódio / perda de H2O do espaço intracelular
(aumento de 100mg/dl baixa Na em 1,4 mmol/l)
Perda de sódio
Perda de sódio
Desidratação com hipernatrémia
2
Contra-indicações
Insuficiência cardíaca congestiva
Insuficiência renal crónica
Cálculo do deficit de sódio: (140-sódio actual) x [(0,6x peso kg)]
Cloreto de potássio
Ampolas de 10 mmol em 10 ml
Hipocaliémia
Renal Extrarrenal
• Diuréticos • Perdas GI
• Fármacos • Sudorese
• Nefropatias perdedoras de potássio
• Alcalose metabólica
• Bicarbonatúria
Gluconato de Cálcio
Ampolas de 10ml (100mg/ml)
Cálcio sérico:
45% ligado à albumina vs 40% ionizado
Cálcio sérico total 8.5-10.5 mg/dl
Cálcio ionizado 4.65-5.25 mg/dl
Regulado por 3 eixos principais:
1. Hipoalbuminémia
2. Equilibrio ácido-base
3. Regulação hormonal – PTH e 1,25 dihidroxivitaminaD
3
Hipocalcémia
Sulfato de Magnésio
Ampolas de 10ml (200mg/ml)
Hipomagnesémia:
2 mecanismos principais:
Perda por via renal
Perda por via gastrointestinal (+vómitos, -diarreia)
Via Renal
• Diuréticos de ansa e tiazidas
• Expansão de volume
• Álcool
• Hipercalcémia
• Nefrotóxicos: aminoglicosídeos, anfotericina, pentamidina, CsA
• Defeitos tubulares de reabsorção de Mg (genéticos, raros)
Sintomas:
• Hipocaliémia
• Cardiovasculares – alargamento QRS, ondas T pontiagudas, aumento intervalo PR
• Hipocalcémia – diminuição da secreção de PTH, resistência à PTH
• Musculares – tetania, sinal de Chvostek, sinal de Trousseau
• Neurológicas – parestesias, convulsões
4
Tratamento:
• Se manifestações graves – arritmias ventriculares
• 2g diluídos em 100cc SF a perfundir em 1h
• Corrigir tb a hipocalcémia que se encontra associada
Fosfato
Várias formulações, + usada fosfato monopotássico
Hipofosfatémia:
3 mecanismos principais
Redistribuição interna: insulina, alcalose respiratória, hungry bone syndrome
Diminuição da absorção intestinal: dieta pobre, quelantes do P, esteatorreia/diarreia crónica
Aumento da excreção renal: Hiperparatiroidismo 1º e 2º, deficiência vit D
Sintomas:
• Cardiovasculares – depressão da contractilidade miocárdica, ICC
• Musculares – miopatia proximal, rabdomiólise
• Hematológicos – hemólise, disfunção plaquetária
Tratamento:
• Manifestações graves só se P<1mg/dl
• Sintomáticos podem requerer suplementos ev (não exceder 2.5mg/kg/6h, parar quando P>2mg/dl)
• Fosfato iv provoca hipocalcémia (precipitação), IR, arritmias
• Via oral é preferível
Polielectrolíticas
Composição semelhante à do plasma
Indicações: Multipurpose
Contra-indicações
Falência dos mecanismos reguladores
Hiponatrémia moderada a grave
Queimados
Insuficiência renal e cardíaca
Insuficiência suprarenal
5
Alcalinizantes
Bicarbonato de sódio (1,4% e 6,4%)
Lactato de sódio
Trometamina
Contra-indicações
Insuficiência cardíaca congestiva
Insuficiência hepática (lactato)
Hipocalcémia (bicarbonato)
Alcalose (todos)
Acidificantes
Cloreto de amónio
Alcalose metabólica
Hipoclorémia (Cl e H)
Especiais
Soluções semelhantes às polielectrolíticas mas com adição de alguns sais
Lactato de Ringer
Soros A, B, C, D, E (pediatria)
6
HIDRATOS DE CARBONO
Isotónicas ou Hipertónicas
Contra-indicações:
Coma hiperosmolar
AVC
Frutose: Pode ser usada na DM, mas é instável (pouco utilizada)
Contraindicações:
Coma hiperosmolar
AVC
Devem ser administradas em veia central se administração prolongada.
SOLUÇÕES MISTAS
Dextrose a 5% em SF
Polielectrolítico em Dx a 5% (moderadamente hiperosmolar)
Dextrose a 5% em NaCl a 0,45% (discretamente hiperosmolar)
Soluções com electrólitos e HC
Ligeira ou moderadamente hipertónicas
Soluções Pediátricas
Soros A, B, C e D
Associação de Dextrose, NaCl e bicarbonato
Quase isotónicas
7
SOLUÇÕES COLOIDAIS BIOLÓGICAS
Gelatinas
Muito utilizadas
Reposição de volémia rapidamente
Metabolizadas lentamente
Não provocam reacções alérgicas
Dextranos
Polímeros de alto (70-75KD) ou médio (40KD) peso molecular
Interferem com factor VIII da coagulação e com a tipagem (não administrar numa hemorragia antes
de colher tipagem)
Podem provocar reacções alérgicas
Indicações:
• Substituir volume circulante se sangue total ou plasma não disponível
• Melhoram a microcirculação nas policitémias (com ou sem flebotomia) - Dextranos
Contraindicações
Risco hemorrágico (1,2g/kg no primeiro dia e 0,6g/kg nos seguintes)
Reacções de hipersensibilidade conhecidas
Sistemas de microgotas
Nº de gotas/min = ml/h
HIPOPERFUSÃO CELULAR
- produz lactato e acidose metabólica
(Os mecanismos compensatórios que organismo dispõe para o efeito torna o choque muito grave)
1
Tipo de choque
Origem
CHOQUE COMPENSADO
Quadro clínico
CHOQUE DESCOMPENSADO
Quadro clínico
2
Choque hipovolémico
• Hemorrágico
- Trauma
- Pós cirurgia
- Hemorragia digestiva
• Não hemorrágico
- Vómitos
- Diarreia
-Queimadura
- Tratamento com diuréticos
Intervenção no choque
Assegurar VA
Administrar oxigénio de alta concentração
Elevar MI (se possível)
Monitorização (FC, ritmo, SpO2, PA, FR)
Acesso venoso ou intraósseo
Fluidoterapia em situação de PCR: cristalóides; Os colóides são para situações de choque
Bólus de cristalóide 1000 ml no adulto e 20 ml/Kg na criança
Repetir Bólus se necessário
3
Considerar a administração de colóides
Atenção à administração de fluidos se choque cardiogénico (considerar vasopressores)
Considerar administração glóbulos se hemorragia (após primeiros dois bólus)
Monitorizar o débito urinário.
CHOQUE CARDIOGÉNICO
Falência cardíaco
• EAM (lesão > 40% do musculo cardíaco
• Miocardite aguda
Causa mecânica
• Doença valvular aguda
Sinais
Hipotensão
Hipo perfusão tecidular (oligúria, extremidades frias, cianose, alteração da consciência)
Intervenção no choque
4
CHOQUE DISTRIBUTIVO
• Choque séptico: resposta sistémica a uma infecção grave com libertação de citocinas
pelos agentes infecciosos
Intervenções
5
CHOQUE OBSTRUTIVO
Existe compressão ou obstrução do coração, ou dos grandes vasos, com redução do débito
cardíaco
Aumento da P intratorácica: pneumotórax hipertensivo; ventilação mecânica com P positiva
Aumento da P intra pericárdica: tamponamento cardíaco
Neoplasia cardíaca
Intervenções
Assegurar VA
Administrar oxigénio em alta concentração
Monitorização (FC, ritmo, SpO2, FR)
Acesso venoso ou intraósseo
Resolver a causa (pneumotórax, tamponamento cardíaco, embolia, …)
Monitorizar débito urinário
- Anti-hipert
- beta bloqueantes
- Clonidina
- Opiodes
- fenotiazinas
PONTOS A RETER
Urgências Toxicológicas
Agentes tóxicos:
1
Potenciais efeitos sistémicos de substâncias tóxicas
Sistema Efeitos potenciais
Neurológico Nível de consciência alterado, resposta pupilar anómala, euforia, depressão,
confusão, coma, alucinações, agitação, agressividade, convulsões
Pulmonar Hiperventilação, hipoventilação, desequilíbrios ácido-base
Cardiovascular Taquicardia, bradicardia, disritmias, anomalias de condução, débito cardíaco
diminuído, contratilidade alterada, pressão arterial instável
Gastrintestinal Náuseas, vómitos, diarreia, função hepática anómala, coagulopatias
Renal/geniturinário Insuficiência renal, desequilíbrios eletrolíticos
INTERVENÇÃO – Prioridades:
assegurar ABC
proteger a VA, certificar que a oxigenação e a ventilação são adequadas
proporcionar suporte ao sistema cardiovascular
tentar identificar a toxina específica envolvida
posicionar o doente
administrar oxigénio suplementar
administrar fluidos orais
Se necessário:
entubação endotraqueal
ventilação mecânica
medicamentos vasoativos
2
Para além dos aspetos da segurança e do apoio psicológico, o tratamento centra-se:
Hipersensibilidades
Anafilaxia é uma condição clínica imunoalérgica, súbita, apresentada por alguns indivíduos
quando expostos a determinados alimentos, medicamentos, picada de insetos e fatores
físicos, e que pode acarretar situação ameaçadora para a vida.
Determina:
Alterações respiratórias broncoespasmos, edema da laringe;
Alterações cardiovasculares hipotensão, arritmias, isquemia miocárdica;
Alterações cutâneas urticária, angioedema, rubor;
Alterações gastrointestinais náusea, cólica abdominal, vómito e diarreia
4
Olhos vermelhos
Disfagia
Cólicas abdominais
Gastrointestinal Náuseas e vómitos
Diarreia
Tenesmo
Ansiedade, irritabilidade, letargia, confusão
Tontura, desorientação
Tremor
Sistema nervoso central Cefaleia, aura
Sensação de morte iminente
Síncope
Convulsão (rara)
Coma (tardio)
Fibrinólise e coagulação intravascular
Hematológico Sangramento mucoso
Equimose
Dor pélvica por aumento do tónus uterino
Genitourinário Sangramento vaginal
Incontinência urinária
5
Diagnóstico e terapêutica da anafilaxia:
Avaliação inicial:
A – Via aérea
B – Respiração
C – Circulação
D – Orientação
E – Exposição da pele
Estimar/verificar o peso
Sinais de gravidade:
Abordagem inicial Progressão rápida
Epinefrina Estridor
Oxigénio Desconforto respiratório
SIM NÃO Anti-histamínico
Fluidos endovenosos Má perfusão periférica Observação
Posição supina Arritmia
Ressuscitação Síncope
Cardiopulmonar
Acionar o serviço de Medidas preventivas:
emergência Procurar identificar a causa
Auto- injetor de epinefrina
Plano de ação para emergência
anafilática
Abordagem de 2ª linha Encaminhamento para médico
(medicações subsequentes) especialista
- agonista (inalatório)
Anti-histamínico Observação
Glucocorticóide
Outros vasopressores
Glucagon
6
Causas de anafilaxia / reação anfilactóide
Alimentos
Medicamentos (antibióticos, insulina, heparina, protamina, bloqueadores neuromusculares, anestésicos,
sulfas e derivados, antiinflamatórios, opiáceos, vacinas)
Veneno de insetos
Hemoderivados
Óxido de etileno
Látex
Progesterona
Líquido seminal
Exercício
Contrastes (iodados, fluoresceína)
Idiopática
Tratamento da anafilaxia
Diagnóstico da anafilaxia
Sim PCR
Não
Reavaliação do doente
7
Papel da adrenalina na anafilaxia
é a principal medicação
a via de administração principal é a IM em vasto lateral da coxa
deve ser fornecida o + precocemente possível
as dosas recomendadas são diferentes da PCR
não há contra-indicação ao seu uso
8
9
A PESSOA EM PARAGEM CARDIORRESPIRATÓRIA
Guidelines
1
Reanimação, com impacto negativo Estima-se que cerca de 15% dos indivíduos
que recuperam a circulação espontânea
Com custos económicos associados: após reanimação ficam com lesões
- Custos de não reanimar cerebrais graves.
Vidas perdidas
Anos de vida perdidos
- Custos de reanimar mal
Estima-se que quanto menos a taxa de sucesso das reanimações de um
hospital, maiores os custos
Trauma
Hipóxia
Pneumotórax
Hipotensão Principais causas de PCR
Hemotórax
Hipovolémia
Tamponamento Cardíaco
Alterações metabólicas
4
1
2 3
2
O ideal é prevenir
3
10
TRANSPORTE DO DOENTE EM SITUAÇÃO CRÍTICA
TRANSFERÊNCIA
Após RCP, os doentes devem ser transferidos para uma Unidade especializada!
UCI
Contacto prévio
Equipamento necessário
Manter cuidados
Informação clínica
1
11
PRÁTICAS DE SUPORTE IMEDIATO DE VIDA (ADULTO)
Permeabilizar a VA
1
Verificar a Ventilação (VOSP)
Se respira normalmente
continue a avaliação
coloque-a em PLS
peça ajuda ou mande alguém ir buscar ajuda
avalie periodicamente se a pessoa continua a respirar normalmente
Adjuvante da VA
Insuflador conectado a rampa
Plano Duro
Não Respira e não tem pulso Não respira
Proteção individual
30 compressões torácicas
+ 2 insuflações
REANIMAÇÃO INTRA-HOSPITALAR
ADJUVANTES DA VA
3
Tubos nasofaríngeos
PONTOS A RETER
4
DESFIBRILHAÇÃO AUTOMÁTICA EXTERNA (DAE)
Como funciona o DAE?
Todos os locais em que se prevê que possa acontecer uma PCR num período de 2 anos
devem estar equipados com DAE.
Desfibrilhação manual: imprimir traçado antes e depois; aplicar gel e limpar e aplicar de todas as vezes.
Comandos do DAE
Devem estar afastados 15 cm
(para não existir corrente eléctrica
a passar de um para o outro à
superfície - destrói os tecidos)
Eléctrodos
Não utilizar quando:
- Vítima molhada
- Contexto em local molhado
Bilateral
Posições alternativas
Antero-posterior
Particularidades em Pediatria
5
PONTOS A RETER
6
SUPORTE BÁSICO DE VIDA
O sucesso das manobras de RCP (Reanimação Cardio-Pulmonar) está condicionado pelo tempo. Se a
falência circulatória durar + de 3/4 min vão surgir lesões cerebrais, que poderão ser irreversíveis.
O SBV destina-se a ganhar tempo, mantendo parte das funções vitais até à chegada do SAV: utilização
de fármacos, ventilação por entubação traqueal, monitorização cardíaca e desfibrilhação eléctrica.
SEQUÊNCIA DE ACÇÕES
Avaliar as condições de segurança no local antes de abordar a vítima
Avaliar se a vítima responde: Está bem/Sente-se bem/Está-me a ouvir? (estimulação batendo suavemente nos ombros)
Se responder
• perguntar o que se passou/queixas
• ver se existem ferimentos
• pedir ajuda, ligar 112
• deixar a vítima na mesma posição se for possível
Se NÃO responder
• pedir ajuda gritando em voz alta: Socorro! Tenho uma vítima inconsciente!
Verificar a permeabilização das vias aéreas (vómito, sangue, dentes partidos ou próteses dentárias soltas
podem estar na origem da obstrução) – extensão da cabeça e elevação do mento
Avaliação da existência de ventilação (respiração) – aproximar a face da face da vítima olhando p/ o tórax, e:
VER se existem movimentos torácicos
OUVIR se existem ruídos de saída de ar pela boca ou nariz Durante 10
segundos
SENTIR na sua face se há saída de ar pela boca ou nariz
PULSAÇÃO da carótida
Se a vítima respirar normalmente/tem pulsação (e não existe suspeita de traumatismo da coluna cervical) deverá ser
colocada em PLS, deve ir pedir ajuda e voltar p/ junto da vítima, reavaliando-a frequentemente.
1
Se a vítima não respirar normalmente, ligar p/ o 112: Chamem o 112, tenho uma pessoa em paragem!
Se estiver sozinho terá de abandonar a vítima p/ efectuar o pedido de ajuda diferenciada, ligando 112.
Ao fazê-lo, deve informar que se encontra c/ uma vítima inconsciente que não respira normalmente,
fornecendo o local exacto onde se encontra.
Se estiver alguém junto de si deve pedir a essa pessoa que ligue 112, dizendo-lhe que a vítima está
inconsciente e não respira normalmente e fornecer o local exacto onde se encontra.
As manobras uma vez iniciadas devem ser continuadas sem interrupção até que:
◘ Chegue ajuda diferenciada e tome conta da situação
◘ A vítima recupere: inicie respiração normal, movimente ou abra os olhos
◘ O reanimador esteja exausto
2
3
Obstrução da Via Aérea (OVA) em Vítima Adulta
A OVA é uma emergência absoluta que se não for reconhecida e resolvida leva à morte em min. Uma
das formas + frequentes de OVA é a resultante de uma causa ‘extrínseca’ à via aérea – alimentos, sangue
ou vómito. Qq objecto sólido pode funcionar como corpo estranho e causar obstrução da via aérea –
obstrução por corpo estranho.
Podem ocorrer situações de OVA por edema dos tecidos da via aérea como por ex. no caso de uma
reacção anafilática, uma neoplasia ou uma inflamação da epiglote. A OVA deve ser considerada numa
vítima que faz paragem respiratória súbita, fica cianosada e inconsciente sem motivo aparente.
Na obstrução ligeira enquanto a vítima respira e consegue tossir de forma eficaz o reanimador não deve
interferir, devendo apenas encorajar a tosse, vigiar se a obstrução é ou não resolvida e se a tosse continua
a ser eficaz.
Na obstrução grave a vítima poderá demonstrar grande aflição e ansiedade e agarrar o pescoço c/ as 2
mãos. É necessário actuar rapidamente, se a obstrução não for resolvida a vítima poderá ficar inconsciente
e morrer. No caso de obstrução grave da via aérea causada por corpo estranho, deve começar por tentar a
desobstrução da via aérea c/ aplicação de pancadas inter-escapulares e, no caso de insucesso, tentar então
compressões abdominais (manobra de Heimlich).
4
◘ Se uma vítima consciente c/ OVA se apresenta c/ tosse ineficaz, incapaz de falar ou de respirar proceda
de imediato à aplicação de pancadas inter-escapulares:
• Coloque-se ao lado e ligeiramente por detrás da vítima, c/ 1 das pernas encostadas de modo a ter apoio
• Passe o braço por baixo da axila da vítima e suportá-la a nível do tórax c/ 1 mão, mantendo-a inclinada
p/ a frente, numa posição tal que se algum objecto for deslocado c/ as pancadas possa sair livremente pela
boca
• Aplique pancadas c/ a base da outra mão, na parte superior das costas, ao meio, entre as omoplatas,
isto é, na região inter-escapular
• Cada pancada deverá ser efectuada c/ a força adequada tendo como objectivo resolver a obstrução
• Após cada pancada deve verificar se a obstrução foi ou não resolvida, aplicando até 5 pancadas no total
◘ Se a obstrução não for resolvida c/ a aplicação das pancadas inter-escapulares, deve passar à aplicação
de compressões abdominais – Manobra de Heimlich. Esta manobra causa uma elevação do diafragma e
da P nas vias aéreas, c/ a qual se consegue uma espécie de ‘tosse artificial’, forçando a saída do corpo
estranho (nunca comprimir sobre o apêndice xifóide ou na margem inferior da grelha costal, mas sim na
linha média abdominal 1 pouco acima do umbigo).
• Coloque-se por trás da vítima, c/ 1 das pernas entre as pernas daquela
• Coloque os braços à volta da vítima ao nível da cintura
• Feche 1 das mãos, em punho, e coloque a mão c/ o polegar encostado ao abdómen da vítima, na linha
média 1 pouco acima do umbigo e bem afastada do apêndice xifóide
• C/ a outra mão agarre o punho da mão colocada anteriormente e puxe, c/ 1 movimento rápido e
vigoroso, p/ dentro e p/ cima na direcção do reanimador
• Repita as compressões abdominais até 5 vezes, vigiando sempre se ocorre ou não resolução da
obstrução e o estado de consciência da vítima. Deve repetir alternadamente 5 pancadas inter-escapulares e
5 compressões abdominais até à desobstrução ou até a vítima ficar inconsciente.
No caso de uma vítima de OVA ficar INCONSCIENTE durante a tentativa de desobstrução da via aérea o
reanimador deve:
Amparar a vítima até ao chão p/ que esta não se magoe
Activar o sistema de emergência médica ligando 112
Iniciar compressões torácicas, seguindo o algoritmo de SBV
Pesquisar a cavidade oral antes de efectuar as insuflações
5
6
12
PRÁTICAS DE SUPORTE IMEDIATO DE VIDA (PEDIÁTRICO)
Em pediatria a paragem cardíaca raramente é súbita. Acontece geralmente por agravamento progressivo da
dificuldade respiratória, exaustão respiratória e/ou hipovolémia.
2
13
CUIDADOS PÓS-REANIMAÇÃO
Procedimentos
Avaliação da vítima
Monitorização funções vitais
Verificação do material de suporte
Avaliação e correção de fatores agravantes
Exames complementares (análises, Rx, …)
Recolha de informação
Registos
Transferência da vítima
Circulação
Assegurar:
Ritmo cardíaco estável Perfusão
Débito cardíaco eficaz órgãos nobres
1
Disfunção e Exposição
Perda de auto regulação cerebral SNC + suscetível variações PA
Avaliar estado neurológico pós PCR
Escala de Glasgow
Prevenir agravamento
Manter T corporal
Controlar/prevenir hipoTA, hipoxia, hipercapnia, hiper/hipotermia e hipoglicémia
VERIFICAR:
Permeabilidade da VA
Localização de TET
Via aérea e Ventilação
SNG
Funcionamento do ventilador/oxigénio
Acessos venosos/fluidos
Função circulatória
Algaliação
Necessidade de sedação/relaxamento
Estado neurológico
Controlar/prevenir convulsões
Causas de PCR
Avaliar e controlar situações precipitantes ou agravantes que exijam intervenção imediata:
Insuficiência respiratória – suporte ventilatório
EAM – trombólise / revascularização
Arritmias- algoritmos peri-paragem
Hipovolémia – reposição fluidos / causa
Convulsões – anti convulsivantes
Hipotensão – aminas vasoativas
Alt. metabólicas / eletrolíticas - correção
Intoxicações – antídotos, eliminação
Exames complementares
Permitem avaliar causas e eficácia das medidas instituídas:
Hemograma
Função Renal e Eletrólitos
Glicémia
Enzimas Cardíacas
Tóxicos / fármacos
Gasimetria arterial
ECG de 12 derivações
Radiografia de tórax
2
RESUMO
CONFIRMAR PROVIDENCIAR
Via aérea e ventilação SNG
Acessos venosos S. Vesical
Fixação dos vários dispositivos Registos
Informação aos familiares
(RE)AVALIAR/MONITORIZAR ANTECIPAR
FR, P e PA e Temperatura Rx do tórax
SpO2 Bioquímica, hemograma e
Glicémia reserva de sangue (SOS)
Débito urinário Gasimetria
3
ALGORITMOS
european
resuscitation
council
Reanimação intra-hospitalar
Colapsado / doente
Chamar AJUDA
& avaliar o doente
Chamar a equipa
de reanimação
Avaliar ABCDE
Reconhecer & tratar
SBV 30:2 Oxigénio, monitorização,
acesso ev
com oxigénio e adjuvantes
da via aérea
www.erc.edu | info@erc.edu
Publicado: Novembro 2010 by European Resuscitation Council Secretariat vzw, Drie Eikenstraat 661, 2650 Edegem, Belgium
Referência do produto: Poster_10_IHBLS_01_01_POR Copyright European Resuscitation Council
european
resuscitation
council
Reanimação intra-hospitalar
Colapsado / doente
Sinais
Não de vida? Sim
SBV 30:2
com oxigénio e adjuvantes da via aérea
www.erc.edu | info@erc.edu | Publicado: Novembro 2010 by European Resuscitation Council Secretariat vzw, Drie Eikenstraat 661, 2650 Edegem, Belgium | Referência do produto: Poster_10_IHBLS-A_01_01_POR Copyright European Resuscitation Council
european
resuscitation
council
Verificar a resposta
Abanar suavemente
Perguntar em voz alta: “Sente-se bem?”
Se não responder
Abrir a via aérea & avaliar a respiração
SBV 30:2
Se a vítima começar a acordar: mexer, abrir os olhos e respirar normalmente, parar o SBV
Se estiver inconsciente, colocá-la em posição lateral de segurança*.
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Publicado: Novembro 2010 by European Resuscitation Council Secretariat vzw, Drie Eikenstraat 661, 2650 Edegem, Belgium
Referência do produto: Poster_10_BLSAED_01_01_POR Copyright European Resuscitation Council
european
resuscitation
council
Não responde?
Não respira ou com respiração agónica ocasional
Chamar a equipa
de reanimação
SBV 30:2
Conectar o desfibrilhador / monitor
Minimizar interrupções
Avaliar
o ritmo
Retorno da circulação
1 Choque
espontânea
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Publicado: Novembro 2010 by European Resuscitation Council Secretariat vzw, Drie Eikenstraat 661, 2650 Edegem, Belgium
Referência do produto: Poster_10_ALS_01_01_POR Copyright European Resuscitation Council
european
resuscitation
council
• Amiodarona 300 mg IV em
10-20 min e repetir choque; Largo Estreito
seguida de:
• Amiodarona 900 mg em 24 h
As possibilidades incluem: Se taquicardia ventricular Retomou ritmo sinusal normal? Não Pedir ajuda especializada
• FA com bloqueio de ramo (ou ritmo incerto)
tratar como as de complexos estreitos • Amiodarona 300 mg IV em 20-60 min;
• FA com pré-excitação seguida de 900 mg em 24 h Sim
considerar amiodarona
• TV polimórfica Se previamente confirmada
(ex. torsades de pointes - TSV com bloqueio de ramo:
administrar magnésio 2 g em 10 min) • Administrar adenosina como nas
taquicardias de complexos estreitos
Provável TSVP por re-entrada Flutter auricular possível
• Registar ECG de 12 derivações em • Controlar a frequência
ritmo sinusal (ex. beta-bloqueadores)
• Se recidivar, administrar adenosina
*as tentativas de cardioversão eléctrica fazem-se sempre com sedação ou anestesia geral de novo & considerar anti-arrítmicos
profiláticos
www.erc.edu | info@erc.edu | Publicado Novembro 2010 by European Resuscitation Council Secretariat vzw, Drie Eikenstraat 661, 2650 Edegem, Belgium | Referência do produto: Poster_10_ALS-TACH_01_01_POR Copyright European Resuscitation Council
european
resuscitation
council
Atropina
500mcg ev
Satisfatório
Sim
Responde?
* As alternativas incluem:
• Aminofilina
• Dopamina
• Glucagon (nas intoxicações com beta-bloqueadores
ou bloqueadores dos canais de cálcio)
• O glicopirrolato pode ser utilizado em alternativa à Atropina
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Publicado: Novembro 2010 by European Resuscitation Council Secretariat vzw, Drie Eikenstraat 661, 2650 Edegem, Belgium
Referência do produto: Poster_10_ALS-BRAD_01_01_POR Copyright European Resuscitation Council
european
resuscitation
council
Suporte de Vida
do Recém-nascido
Durante todo o tempo perguntar: preciso de ajuda?
Avaliar (tónus), 30 s
respiração e frequência cardíaca
Reavaliar
Se a frequência cardíaca não aumentar
Ver os movimentos do tórax
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Publicado: Novembro 2010 by European Resuscitation Council Secretariat vzw, Drie Eikenstraat 661, 2650 Edegem, Belgium
Referência do produto: Poster_10_NLS_01_01_POR Copyright European Resuscitation Council
european
resuscitation
council
Não responde
Chamar ajuda
Cinco insuflações
15 compressões torácicas
2 insuflações
15 compressões
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Publicado: Novembro 2010 by European Resuscitation Council Secretariat vzw, Drie Eikenstraat 661, 2650 Edegem, Belgium
Referência do produto: Poster_10_PaedBLS_01_01_POR Copyright European Resuscitation Council
european
resuscitation
council
Avaliar
o ritmo
1 Choque Retorno da
com 4 J/Kg circulação
espontânea
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Publicado: Novembro 2010 by European Resuscitation Council Secretariat vzw, Drie Eikenstraat 661, 2650 Edegem, Belgium
Referência do produto: Poster_10_PALS_01_01_POR Copyright European Resuscitation Council
Práticas-
Laboratoriais
1
ADJUVANTES DA VIA AÉREA (VA)
1
SEM ADJUVANTES DA VA
VENTILAÇÃO
2
SUPORTE BÁSICO DE VIDA (SBV) PEDIÁTRICO
Não Respira
5 insuflações
15 compressões + 2 insuflações
3
2
DESFIBRILHAÇÃO MANUAL
Energia de 4 J
Cotovelo apoiado no abdómen
Murro aplicado no terço médio do esterno
Desfibrilhador manual
Monofásico Bifásico
Já não é fabricado; A energia passa pelo miocárdio em 2
A energia passa apenas de uma fases;
pá para a outra (sentido único) Menor quantidade de energia
numa só fase; aplicada;
Energia aplicada – até 360 J Menos riscos são mais eficientes;
(risco de lesão do músculo Energia aplicada – até 200 J
cardíaco; 1º choque – 150 J; seguintes – 200 J
1º choque – 200 J; seguintes – ou sempre 200 J;
360 J Portáteis, mais pequenos.
Considerações gerais:
1
Para avaliar ritmo:
Ritmo sinusal
Taquicardia
Ventricular
Fibrilhação Ventricular
Ritmo desfibrilhável
2
Assistolia
Máscara iGel
3
Introdução de Máscara Laríngea
Tubo Laríngeo
Tubo Orotraqueal
Mais seguro;
Suporta altas pressões;
Exige mais treino;
Vários tipos – no adulto tamanho 6 a 8;
Graduado lateralmente;
4
Laringoscópio
Fixas Articuladas
Maior visualização
Para introduzir:
Deve segurar-se na mão esquerda;
Testar balão e lubrificar;
Pré-oxigenar (a partir daqui temos 20-30 seg para entubar);
Entra na comissura labial à direita, levar até à linha mediana segurando a língua;
Parar antes da valécula;
Introduzir até à traqueia;
Auscultar o epigastro e os pulmões;
O tubo deve ficar sempre na comissura labial à direita e não na linha mediana.
Fixar de forma igual ao tubo laríngeo.
Cricotiroidoctomia
Medida de recurso;
Punção entre a cartilagem tiróide e a cartilagem cricóide – na
membrana cricotiroideia;
É uma punção realizada em aspiração.
5
3
SAV
Limpar a pessoa
Aplicar gel
Afastar todos
Chamar carga
Administrar choque
CHOQUE ADMINISTRADO!
1
Abordagem ABCDE
– No C:
Procurar outro acesso venoso para além do existente (se já existir algum prévio), para:
Colheitas de sangue (hemograma, bioquímica, tempos de coagulação)
Glicemia
Ter outro acesso venoso disponível, caso seja necessário
Verificar TRC (<3seg)
Temperatura da pele / extremidades
Coloração da pele
Existe plano duro? Compressões estão a ser bem feitas?
– No D:
Pupilas
Glicemia (quando há hipoglicemia: administra-se bólus de glicose hipertónica 10%)
4T 4H
Tóxicos Hipóxia
Tamponamento cardíaco Hipovolémia
Pneumotórax hipertensivo Hipotermia
Tromboembolismo Hipo ou hipercalémia metabólica
Pré-EAM MONAC:
Morfina
Oxigénio
Nitratos
Ácido Acetilsalicílico
Clopidogrel
Antídotos
Naloxona opióides
Flumazenil benxodiazepinas
2
SUPORTE DE VIDA PEDIÁTRICO
Dados de referência Parâmetros fisiológicos normais
Peso = 2x(idade+4)
Idade FR FC PA sist
Tubo traqueal 1mês 30-60 100-160 60-90
Recém-nascido Prematuro = 2,5 – 3 1 ano 20-30 80-160 70-118
Recém-nascido de termo = 3 – 3,5
2 anos 20-30 80-130 75-117
Lactente = 4 – 4,5
Criança = (idade/4)+4 4 anos 20-30 80-120 65-117
6 anos 18-24 80-120 65-115
Comprimento do tubo traqueal
10 anos 16-20 70-110 82-122
Orotraqueal = (idade/2)+12
Nasotraqueal = (idade/2)+15 14 anos 12-16 60-100 90-135
Olhos
3 À voz À ordem
Medicação 2 À dor À dor
1 Sem resposta Sem resposta
Adrenalina = 10mcg/Kg Bicarbonato de Sódio = 1 mEq/Kg
Atropina = 20 mcg/Kg Naloxona = 100 mcg/Kg 5 Choro apropriado, sorri Palavras, frases apropriadas,
4 Chora Palavras inapropriadas
Verbal
Amiodarona = 5 mg/Kg Adenosina = 100 mcg/Kg (duplicar
3 Choro inapropriado Chora, grita
Glicose 10% = 5 – 10 ml/Kg na segunda dose) 2 Grunhidos Incompreensível
1 Sem resposta Sem resposta
Sinais e sintomas de choque 6 Mov. espontâneos, apropriados Obedece a ordens
5 Localiza a dor Localiza a dor
Compensado Descompensado Motor 4 Fuga em flexão Fuga em flexão
Consciência normal Consciência ↓ 3 Descorticado Descorticado
TRC normal ou ↑ TRC ↑↑↑ 2 Descerebrado Descerebrado
1 Sem resposta Sem resposta
Pa normal ou ↑ PA ↓↓↓
FC ↑ FC ↑↑↑
FR ↑↑ FR ↑↑↑ normal ↓↓↓ GRUPO DE PROJECTO DE FORMAÇÃO, ASSESSORIA E
INVESTIGAÇÃO EM REANIMAÇÃO
Documentos de
Apoio
Alterações
Electrocardiográficas
Júlia Oliveira
Fernanda Silva
CARDIOLOGIA/UCIC
HSO - SA
OBJECTIVOS:
z GERAL:
FRelembrar conhecimentos acerca de
alterações electrocardiográficas.
OBJECTIVOS:
z Específicos:
- Identificar as principais características do
ECG normal;
- Reconhecer as principais disritmias
cardíacas e suas características específicas;
- Identificar as principais alterações
electrocardiográficas no EAM.
SUMÁRIO:
0 - Introdução
1 - ECG normal
1.1 – Ritmo sinusal normal e variantes
2 – Disritmias
2.1 – Disritmias auriculares
2.2 – Disritmias juncionais
2.3 – Disritmias ventriculares
2.4 – Bloqueios cardíacos
3 – ECG de EAM
4 – Conclusão
0 - INTRODUÇÃO
Å Taquicardia Sinusal
É um ritmo sinusal com uma frequência igual ou superior
a 100 bpm.
1.1 – Ritmo Sinusal Normal e variantes
Bradicardia Sinusal
É um ritmo sinusal com uma frequência inferior a
60 bpm.
2 - DISRITMIAS
ÅTaquicardia Supraventricular
Ritmo supraventricular com origem nas auriculas, no
exterior do nódulo SA com uma frequência entre os120 e
os 250 bpm.
2.1 – Disritmias auriculares
Å Flutter auricular
Disritmia supraventricular caracterizada pelo
aparecimento de ondas de flutter em forma de dentes de
serra, com uma frequência entre os 250 e os 350 bpm.
2.1 – Disritmias auriculares
Å Fibrilhação Auricular
Disritmia supraventricular caracterizada por múltiplos
focos auriculares ectópicos, contrações auriculares
descoordenadas e uma frequência ventricular
classicamente irregular.
2.2 – Disritmias Juncionais
Å Ritmo Juncional
Ritmo de escape passivo com origem na junção AV,
normalmente de forma acessória à depressão do
pacemaker sinusal mais elevado.
2.2 – Disritmias Juncionais
Å Taquicardia Juncional
Representam as disritmias supraventricularess que
surgem de junção AV com frequências que excedem a
frequência de escape juncional inerente, situada entre
40-60 bpm.
2.3 – Disritmias Ventriculares
Å Ritmo Ideoventricular
Ritmo de escape muito lento com origem nos
ventrículos e uma frequência entre os 15-40
bpm. Este pacemaker de escape surge
quando o nódulo SA superior ou os
pacemaker’s juncionais AV são disfuncionais.
ffn
Å Taquicardia Ventricular
Disritmia ventricular rápida, geralmente associada a
sintomas e sinais clínicos dramáticos. Caso não seja
tratada, a TV pode degenerar em FV fatal.
2.3 – Disritmias Ventriculares
Å Flutter Ventricular
Ritmo ventricular parecido com TV muito rápida. É muitas
vezes percursor de FV.
2.3 – Disritmias Ventriculares
Å Torsade de Pointes
Variante única da TV, na qual os complexos QRS
parecem enrolar-se em torno da linha isoeléctrica.
Embora muitas vezes autolimitada, esta disritmia pode
degenerar em FV.
2.3 – Disritmias Ventriculares
Å Fibrilhação Ventricular
Disritmia catastrófica caracterizada pela desorganização
total da actividade eléctrica do coração.
2.3 – Disritmias Ventriculares
Å Fibrilhação Ventricular
2.4 – Bloqueios Cardíacos
Å Bloqueio Sinoauricular
Perturbação na condução do nódulo SA para as
aurículas. Resulta na não despolarização das aurículas e
na ausência do complexo P-QRS-T.
2.4 – Bloqueios Cardíacos
Å Bloqueios Auriculoventriculares
Bloqueio AV 1º grau
Representa a condução consistentemente prolongada
entre as aurículas e os ventrículos.
2.4 – Bloqueios Cardíacos
Å Bloqueios Auriculoventriculares
Bloqueio AV 2º grau tipo I ( Mobitz I ou
Wenkebach )
Reflete a condução intermitente entre as aurículas e
os ventrículos. A localização do bloqueio situa-se
frequentemente dentro do nódulo AV.
2.4 – Bloqueios Cardíacos
Å Bloqueios Auriculoventriculares
Bloqueio AV 2º grau tipo II ( Mobitz II)
Reflete a perda intermitente ou repentina da condução
entre as aurículas e os ventrículos. A localização do
bloqueio encontra-se na maioria das vezes abaixo do
feixe de His.
2.4 – Bloqueios Cardíacos
Å Bloqueios Auriculoventriculares
Bloqueio AV 3º grau
Representa a total ausência de condução entre as
aurículas e os ventrículos. O BAVC é caracterizado pelo
batimento independente entre as aurículas e os
ventrículos.
3 – ECG de EAM
“Compreender as complexidades de um
ECG tanto pode ser um desafio como uma
recompensa”
Bradford C. Lipman
JOSÉ CARLOS AMADO MARTINS
Coimbra, 2010
JOSÉ CARLOS AMADO MARTINS
Coimbra, 2010
SUMÁRIO
BIBLIOGRAFIA ………………………………..……………………………………...……...35
3
1 - BREVE REVISÃO DA ANATOMIA E ELECTROFISIOLOGIA DO CORAÇÃO
O coração é um órgão que faz parte integrante do sistema cardiovascular. O principal objectivo
deste sistema é levar o sangue a todos os tecidos do corpo, de forma a satisfazer os seus requisitos
metabólicos.
Integrado neste sistema, o coração desenvolve um trabalho impressionante durante a vida de um
homem. De forma incansável, contrai-se 60-100 vezes por minuto e tem capacidade de se adaptar de
forma exímia às diferentes necessidades do indivíduo a cada segundo, como quando se passa do repouso
ao exercício e vice-versa.
É um órgão muscular, oco e dividido em quatro cavidades - duas aurículas que recebem o sangue e
dois ventrículos que o bombeiam para o exterior. Está situado no tórax, entre os pulmões, no mediastino
médio. Tem um volume de cerca do tamanho de uma mão fechada e pesa aproximadamente 300 gr. O seu
volume e peso podem no entanto variar com a idade, sexo, esforço físico ou patologia. Tem a forma de
um cone invertido, com o seu ápice orientado para baixo e para a frente.
Está protegido posteriormente pela coluna vertebral e anteriormente pelo esterno, localizando-se
sensivelmente ao nível da terceira, quarta e quinta costelas.
Encontra-se envolvido pelo pericárdio, um “saco duplo” e invaginado: a camada externa -
pericárdio parietal - e a camada interna - pericárdio visceral - que adere ao coração, tornando-se na
camada mais externa do mesmo. Entre ambos o espaço é virtual, apenas preenchido por 10-15 cc de
líquido seroso que lubrifica as superfícies.
A parede do coração é constituída por três camadas distintas: o pericárdio visceral; o miocárdio -
camada média, muscular; e o endocárdio - camada interna de endotélio.
O coração funciona como uma bomba de duas câmaras, servindo as aurículas de reservatórios e
efectuando os ventrículos a acção de bomba. A parte direita trabalha com baixas pressões, impulsionando
o sangue venoso para os pulmões. O lado esquerdo funciona com pressões elevadas, para bombear o
sangue arterial para todo o corpo.
Pelas várias diferenças, será conveniente que nos debrucemos um pouco sobre cada uma delas
separadamente:
Aurícula esquerda - que recebe o sangue das veias pulmonares e serve como um reservatório
durante a sístole ventricular esquerda e como um tubo oco durante o enchimento ventricular esquerdo.
Ventrículo esquerdo - que recebe o sangue da aurícula esquerda durante a diástole ventricular e o
ejecta para a circulação arterial sistémica na sístole ventricular. As suas paredes são três vezes mais
espessas que as do ventrículo direito.
Aurícula direita - que através das veias cava superior e inferior recebe o sangue que retorna ao
coração da circulação sistémica e através do seio coronário recebe o sangue proveniente da circulação do
próprio coração. Na diástole ventricular direita o sangue flúi desta para o ventrículo direito.
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Ventrículo direito - que recebe o sangue
proveniente da aurícula direita durante a diástole
ventricular e o ejecta para a circulação pulmonar
durante a sístole ventricular.
Optimizando o trabalho do coração estão as
válvulas cardíacas, cuja única função é a de assegurar
que o fluxo do sangue se faça num único sentido.
Existem dois tipos de válvulas no coração: as válvulas
auriculo-ventriculares, localizadas entre as aurículas e
os ventrículos (tricúspide à direita e bicúspide ou
mitral à esquerda) e as válvulas semilunares pulmonar
e aórtica localizadas entre o ventrículo direito e a
artéria pulmonar e entre o ventrículo esquerdo e a
aorta, respectivamente.
O trabalho cardíaco é comummente chamado de
ciclo cardíaco porque se processa de forma ritmada e
repetida e divide-se em duas fases: a diastólica que é caracterizada pelo relaxamento ventricular e pelo
seu enchimento com o sangue proveniente das aurículas e a sistólica durante a qual acontece a contracção
ventricular que impulsiona o sangue para a circulação. No início da sístole acontece o encerramento das
válvulas auriculo-ventriculares, que dão origem ao primeiro som audível. O segundo som tem origem no
encerramento das válvulas semi-lunares e ocorre no final da sístole, quando os ventrículos iniciam o seu
relaxamento.
Devido à “impermeabilidade” do endocárdio e à espessura das paredes musculares, torna-se
imperativo que o coração possua um sistema
vascular próprio pois é um músculo, e como
tal consumidor de oxigénio. É irrigado pelas
artérias coronárias, direita e esquerda. Nascem
na base da aorta, imediatamente após a
válvula aórtica e percorrem a face externa do
coração, em depressões naturais, sulcos, e
para perfundir o espesso músculo cardíaco dão
origem a ramos que penetram na parede
muscular e vão irrigar o miocárdio. Pode
existir variabilidade na disposição das
coronárias, no entanto, na maioria dos casos, a
artéria coronária direita irriga a aurícula e
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ventrículo direitos e por vezes também é responsável pela irrigação dos nódulos sinusal e auriculo-
ventricular. A artéria coronária esquerda ramifica-se em duas grandes artérias: a descendente anterior
(que irriga a parte anterior do ventrículo esquerdo, uma pequena parte anterior e posterior do ventrículo
direito) e a circunflexa (que irriga a aurícula esquerda, a região superior anterior e posterior do ventrículo
esquerdo).
O sangue venoso é drenado das paredes cardíacas principalmente para a aurícula direita, através do
seio coronário, que recolhe o sangue das veias cardíacas. No entanto algum sangue é drenado
directamente nos ventrículos através de canalículos profundos.
A circulação nas artérias coronárias é maior no início da diástole, após o encerramento da válvula
aórtica, enquanto que durante a sístole o fluxo de sangue para as coronárias é praticamente inexistente.
CONCEITOS GERAIS
Princípio de Frank-Starling
Quanto mais se estira a fiba miocárdica antes da sístole, mais potente será a contracção
ventricular.
Pós carga ou after load
Resistência ao fluxo sanguíneo quando este deixa o ventrículo esquerdo.
Depende fundamentalmente das resistências vasculares periféricas.
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Inotropismo
Poder de contracção.
Influencia a FE, o VS e o DC.
Cronotropismo
Frequência das contracções.
Dromotropismo
Condutibilidade (e velocidade da condução) do estímulo eléctrico.
Batmotropismo
Irritabilidade do miocárdio.
Potencial para desencadear disritmias.
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A palavra “despolarização” indica a inversão rápida do potencial da membrana em repouso.
Segue a seguinte sequência:
1. aumento da permeabilidade da membrana ao Na+
2. influxo rápido de Na+
3. saída de K+ e entrada de Ca+
Esta deslocação de iões cria uma corrente eléctrica que provoca uma resposta da célula e,
simultaneamente, se espalha às células adjacentes.
O cálcio que entra na célula é conduzido ao sarcoplasma onde se difunde pelas miofibrilhas,
catalizando as reacções químicas que promovem o deslizamento dos filamentos de actina e miosina
A repolarização é o processo pelo qual a célula volta ao estado de repouso. A permeabilidade da
membrana ao sódio diminui e é activada a bomba de sódio e potássio.
Excitabilidade
É a capacidade que possuem certas células para responder a um estímulo. A intensidade mínima
que tem de ter o estímulo para a célula responder chama-se limiar de excitação. A resposta das fibras
miocárdicas ao estímulo é a contracção.
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Automatismo
Há células do coração que são capazes de se excitar sem necessidade de um estímulo externo. À
propriedade de gerar impulsos sem necessidade de estímulos externos denomina-se automatismo. Os
grupos celulares com propriedade de automatismo são chamados de marcapassos naturais.
O principal marcapasso natural no Homem (e outros mamíferos) é o nódulo sinusal ou nódulo
sino-auricular, gerando impulsos a uma frequência de 60-100 por minuto.
No entanto, outras estruturas têm capacidade para gerar impulsos, como é o caso do nódulo
aurículo-ventricular (40-50 i/min) ou até das fibras de Purkinge (30-35 i/min), para dar apenas dois
exemplos.
Condutividade
É a propriedade mediante a qual a excitação eléctrica se transmite de umas células miocárdicas às
que lhe são adjacentes. A velocidade de condução depende dos grupos celulares e do sentido de
propagação do impulso.
Refractariedade
É uma propriedade comum a todas as células cardíacas e consiste em que, após uma excitação,
existe um intervalo de tempo em que a célula é incapaz de responder a um novo estímulo,
independentemente da sua intensidade (período refractário absoluto).
Após este período, existe um intervalo de tempo em que, um estímulo superior ao limiar de
excitação conseguem provocar resposta – é o período refractário relativo.
Contractilidade
À semelhança dos outros músculos, o músculo cardíaco é contráctil por natureza. O coração é um
sistema electromecânico. Se existe dissociação entre o estímulo eléctrico e a resposta a esse estímulo, o
coração deixa de ser eficaz.
No fundo, a contractilidade é a capacidade das células cardíacas responderam a um estímulo,
contraindo-se.
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Este impulso leva à despolarização das células das aurículas e, simultaneamente, propaga-se ao
nódulo aurículo-ventricular (NAV) através do sistema internodal (vias anterior, média, posterior e de
Backmann).
O NAV está situado do lado inferior direito do septo interauricular. Aqui chegado, o impulso
sofre um ligeiro retardamento (0,01s) antes de se propagar ao feixe de His, e deste, às fibras de Purkinge.
O feixe His começa, anatomicamente, na cauda do NAV e bifurca-se nos ramos direito e
esquerdo. O ramo direito desce pelo lado direito do septo interventricular, dando origem a uma rede de
fibras (de Purkinge) para todo o ventrículo direito.
O ramo esquerdo bifurca-se em feixes (anterior e posterior), e estes dão origem à rede de fibras de
Purkinge que transmitem o impulso a todo o ventrículo esquerdo.
CONTROLO E REGULAÇÃO
Como já foi dito, o nódulo sinusal é o marcapasso natural do coração, fazendo com que este se
contraia, ritmicamente, cerca de 60 – 70 vezes por minuto quando em repouso. No entanto, sabemos que
em várias situações, o ritmo pode acelerar, aumentando o número de contracções por minuto e,
simultaneamente, pode também aumentar o volume de sangue ejectado a cada contracção. Ou seja, se em
situação de repouso o débito cardíaco é de cerca de 4 a 6 litros de sangue por minuto, quando solicitado,
esse débito pode aumentar 4 a 7 vezes.
Este controle é feito em função de:
- do volume de sangue que chega ao coração (retorno venoso) ou pré load.
- inervação pelo simpático
- inervação pelo parassimpático
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Mas também interferem:
- os níveis hemáticos do sódio e potássio
- a temperatura
- a pressão arterial contra a qual o coração tem de se contrair ou after load
- a pressão arterial de oxigénio e dióxido de carbono
-…
Impulso
0,11 s
NS
activação activação
auricular NAV
despolarização activação
auricular feixe HIS
repolarização Activação
auricular Rede Pukringe
activação
ventricular
despolarização
ventricular
repolarização
ventricular
O ELECTROCARDIOGRAMA (ECG)
O ECG é uma apresentação gráfica das forças eléctricas produzidas pelo coração.
É um meio de diagnóstico essencial na avaliação cardíaca, embora deva ser sempre
complementado com a clínica ou outros exames. De facto, um ECG pode revelar-se normal, mesmo em
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situação de patologia cardíaca, assim como podem surgir variações aparentemente anómalas numa pessoa
saudável.
O ECG mais vulgar é o ECG padrão ou de 12 derivações.
Nestas derivações, a amplitude dos impulsos eléctricos é aumentada em cerca de 50% de forma a
produzir um traçado de mais fácil interpretação.
Em conjunto, as derivações bipolares e as unipolares, permitem fazer uma avaliação das forças
eléctricas no plano frontal.
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O TRAÇADO ELECTROCARDIOGRÁFICO
O traçado electrocardiográfico é registado numa base de papel milimétrico próprio para o efeito.
Este apresenta as linhas milimétricas inscritas a “risco fino” e, a cada 0.5 cm, a “risco cheio”. A
impressão é feita com papel a deslocar-se a uma velocidade de 0.25 mm/seg, o que implica que na
horizontal:
cada quadrado milimétrico represente 0.04 seg de tempo decorrido
o espaço entre duas linhas cheias representa 0.20 seg
1500 quadrados pequenos ou 300 grandes, representam um minuto
Na vertical, cada quadrado milimétrico representa 0.1 mV. Um quadrado grande representa
0.5mV.
As ondas registadas no papel constam de deflexões acima (positivas) e abaixo (negativas) de uma
linha de base. A direcção de deflexão depende:
- da direcção da passagem do impulso electrónico
- da distancia entre a finte do impulso e o eléctrodo positivo
- localização do eléctrodo
Em regra, quando a corrente eléctrica passa no sentido do eléctrodo positivo, a deflexão será
positiva, e vice-versa.
As ondas registadas pelo ECG são designadas pelas letras P, Q, R, S, T e U.
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- 0.11 seg. de duração (ou menos)
Onda Q – deflexão negativa que resulta do início da despolarização inferior a 0.04 seg.
Onda R – deflexão positiva que se segue à onda Q e que representa a despolarização ventricular
Onda S – deflexão negativa, que se segue à onda R e que representa o final de despolarização ventricular.
Onda T – deflexão positiva que representa a repolarização ventricular.
Normal:
- arredondada e ligeiramente assimétrica
- amplitude inferior a 5mm
Onda U – deflexão geralmente positiva entre a onda T e a onda S que representa a repolarização
do sistema de condução intraventricular (fibras de Puringe). Nem sempre é visível.
Intervalo PR
Representa o tempo da condução entre o NS e o NAV, incluindo o atraso fisiológico que o
impulso sofre neste último. É medido desde o início da onda P até ao início de R.
Normal – intervalo PR = 0,12-0,20 seg.
Complexo QRS
Corresponde todo o processo de despolarização ventricular. Em termos de tempo, o intervalo é
medido desde o início da onda Q até ao final de S.
Segmento ST
Representa a fase de planalto do potencial de acção. É normalmente isoeléctrico, uma vez que não
existe corrente.
Ritmo Sinusal
É o ritmo normal que traduz uma actividade eléctrica cardíaca normal.
Para um ritmo poder ser considerado sinusal deve:
presença e regularidade das ondas P
cada onda P é seguida de um complexo QRS
o intervalo PR é regular e normal
a duração do QRS é regular e normal
Se a frequência das ondas P é entre 60-100/min estamos perante um ritmo sinusal normal. Falamos de
bradicardia ou taquicardia sinusal quando estão mantidas as condições anteriores mas a frequência se
encontra abixo de 60 ou acima de 100 / min, respectivamente.
1. Contar o número de quadrados pequenos entre dos QRS consecutivos e dividir 1500 por esse
número.
2. Contar o número de quadrados grandes entre dos QRS consecutivos e dividir 300 por esse nº.
3. Contar o número de QRS registados em 30 quadrados grandes consecutivos e multiplicar por
10.
Monitorização
Para permitir uma monitorização contínua do traçado de ECG, as derivações convencionais foram
alteradas, de forma a facilitar a colocação dos eléctrodos e a diminuir o incomodo provocado pelos cabos.
Assim, são utilizadas derivações equivalentes a DI, DII e DIII.
Os eléctrodos deverão ser colocados:
- Na linha médio-clavicular abaixo da clavícula direita;
- Na linha médio-clavicular abaixo da clavícula esquerda;
- na médio-axilar esquerda, na base do tórax
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2 - ARRITMIAS / DISRRITMIAS
Arritmia (ou disrritmia) é uma alteração da frequência e/ou do ritmo cardíacos, resultante de uma
falha no sistema de condução. Estas perturbações da condução resultam essencialmente de alterações na
formação ou na condução dos impulsos eléctricos, ou de ambas as situações.
As arritmias podem aparecer como resultado de uma alteração cardíaca primária, de uma resposta
secundária a um problema sistémico, ou como uma complicação da toxicidade de um fármaco e do
desequilíbrio electrolítico. Neste sentido, o reconhecimento e correcção de quaisquer anormalidades
agravantes é essencial ao tratamento da arritmia.
O diagnóstico é feito pelo ECG e avaliação do pulso (frequência e ritmo). A prova de esforço
poderá ter utilidade na avaliação de arritmias induzidas pelo esforço.
Há várias formas de classificar as arritmias. Em função do ritmo (bradicardias ou taquicardias), em
função da origem (cardíaca ou extracardíaca, primárias ou secundárias) ou por razões anatómicos (supra-
ventriculares ou ventriculares). Estas formas de classificação são referidas pelos vários autores
consultados, no entanto o seu interesse é reduzido para o presente trabalho, pelo que nos limitamos a falar
separadamente das principais arritmias.
Bradicardia Sinusal
Ocorre quando a frequência do nódulo sinusal é inferior a 60. Habitualmente não requer terapêutica
específica, excepto se for inferior a 50 ou se estiverem presentes sinais de hipoperfusão.
Sendo a frequência cardíaca de facto baixa, deve administrar-se atropina, com a finalidade de trazer
a frequência cardíaca para as 60 pulsações / minuto. No adulto a dose de atropina é de 0,5 mg no mínimo
(geralmente 1 mg), podendo ser repetida até um máximo de 3 mg. Se a bradicardia sinusal for sintomática
recorrente ou persistente, poderá haver indicação para colocação de “pacing”.
A bradicardia sinusal pode ser normal em atletas bem treinados e nalguns indivíduos durante o
sono.
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Bloqueios Aurículo-Ventriculares (BAV)
BAV de 1º Grau
Devido a lentificação da condução AV (nó AV ou feixe de His), apresentando um intervalo PR
superior a 0,20 s. Pode ser fisiológico (atletas) ou dever-se a situações de fibrose do miocárdio, lesões
isquémicas ou efeito secundário de alguns medicamentos.
BAV de 2º Grau
Caracteriza-se por nem todas as ondas P serem conduzidas e divide-se em
- BAV Mobitz tipo I, com fenómeno de Wenckenbach
O intervalo PR vai aumentando, até que uma onda P não é conduzida
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Traçado de ECG de Bloqueio 2º Grau 2:1
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Fibrilhação Auricular
Quando na aurícula vários pontos disparam espontânea e rápidamente, tornando impossível a
propagação organizada da despolarização, surge então a fibrilhação auricular. Traduz-se por uma
multiplicidade de pequenas áreas que se contraem e descontraem continuamente, sem eficácia contráctil.
As embolias pulmonares e o hipertiroidismo são causas conhecidas de fibrilhação auricular, assim como o
consumo de café, tabaco, álcool, stress e cansaço extremo.
O ECG revela uma linha basal irregular, sem ondas P bem definidas e um ritmo ventricular
irregular, na ordem das 170-180 contracções / minuto.
Flutter auricular
O flutter auricular é um tipo de disritmia em que a aurícula funciona a um ritmo de 250-350
contracções por minuto. No ECG surgem ondas com aspecto de dente de serra. As contracções
ventriculares dependem da condução AV, existindo geralmente um bloqueio do tipo 2:1, 3:1 ou 4:1. O
complexo QRS é normal.
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Traçado de ECG de flutter auricular
É, quase sempre, um sinal cardíaco de doença orgânica. Pode estar presente na doença coronária,
valvulopatia reumática, doenças do miocárdio e hipertiroidismo. Podem ainda ser causas prováveis, os
distúrbios electrolíticos (K, Ca e Mg), as intoxicações medicamentosas por digitálicos e antiarritmicos, a
cafeína e o etanol.
O mecanismo subjacente ao seu aparecimento está relacionado com o disparo rápido de um foco
auricular ectópico.
Os vários autores consultados concordam que a principal queixa que leva o doente ao médico são
as palpitações. No entanto, quando as frequências ventriculares são rápidas, pode ocorrer dor torácica.
O tratamento tem como objectivo diminuir a frequência ventricular e converter o ritmo em sinusal.
Deve iniciar com a correcção das causas precipitantes e seguir com a administração de digitálicos,
bloqueadores (bloqueadores dos canais de cálcio para reduzir a condução auriculo-ventricular e a
amiodarona para cardioversão farmacológica.
Em situações de emergência, em que há comprometimento hemodinâmico, a cardioversão eléctrica
de baixa energia pode estar indicada. A massagem do seio carotídeo pode ser uma manobra útil para
diminuir a resposta ventricular.
O enfermeiro deve fazer um controle hemodinâmico frequente, bem como do ritmo e frequência
cardíacas; ter preparado o material de emergência (desfibrilhador, pace externo e material de RCP), para
eventual complicação da arritmia ou mesmo paragem cardio-respiratória.
Taquicardia sinusal
A taquicardia sinusal não é uma arritmia e representa geralmente uma resposta a algum estado
fisiológico ou patológico, como é o caso da febre, cansaço ou hipovolémia, entre outros.
O traçado de ECG apresenta todas as características de um ritmo sinusal, mas com uma frequência
superior a 100 b/min.
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Taquicardia auricular
A taquicardia auricular tem origem nas aurículas, seja em focos ectópicos, seja por fenómenos de
reentrada..
Estas taquicardias apresentam complexos QRS estreitos, distinguindo-se da taquicardia sinusal pela sua
frequência geralmente mais elevada (120-250 b/min) e pelo seu carácter irregular.
Taquicardia ventricular
A taquicardia ventricular é definida como aquela que persiste por mais de 30 segundos ou requer a
supressão em virtude de colapso hemodinâmico. O ritmo pode ser ligeiramente irregular a uma frequência
de 100-200 contracções / minuto. O intervalo PR está ausente e o complexo QRS é largo e de forma
atípica.
Os sintomas resultantes da taquicardia ventricular dependem da frequência ventricular, da duração
da taquicardia, bem como da presença e da extensão da cardiopatia subjacente. A hipotensão e síncope
surgem quando a taquicardia é rápida e está associada à disfunção miocárdica grave e doença cerebro-
vascular.
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Uma vez que precede frequentemente a fibrilhação ventricular, exige um tratamento rápido e
eficaz, sendo a cardioversão eléctrica (ou desfibrilhação) o tratamento de primeira escolha em indivíduos
instáveis, o que acontece na maioria dos casos. As situações estáveis são tratadas com antiarritmicos por
via endovenosa.
Fibrilhação ventricular
A fibrilhação ventricular corresponde à despolarização e subsequente contracção totalmente
desorganizada de pequenas áreas do ventrículo. Não existe uma efectiva actividade de bomba.
Caracteriza-se electrocardiograficamente por uma desorganização grosseira sem formas ou intervalos
com valor repetitivo identificado.
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Está habitualmente associado a uma das seguintes causas reversíveis:
4Hs 4Ts
Hipoxia pneunoTórax hiperTensivo
Hipovolémia Tamponamento
Hiper/Hipocaliémia / alterações Tóxicos / iaTrogenia medicamentosa
metabólicas) Tromboembolia
Hipotermia
Assistolia
Traduz-se por uma linha sem sinais de actividade eléctrica ventricular ou auricular. Podem aparecer
deflexões, causadas pelas manobras de reanimação, pela ventilação ou serem apenas artefactos da linha
da base, que podem confundir este ritmo com a FV fina. Uma linha recta significa desconexão do monitor
e não assistolia.
Perante a suspeita de assistolia deve-se sempre:
• Confirmar se as conexões dos eléctrodos estão bem;
• Aumentar a amplitude do registo do ECG;
• Mudar de derivação.
Há casos em que a actividade auricular persiste alguns minutos antes da assistolia completa, como
podemos ver na segunda figura.
Traçado de assistolia
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3 - OS SÍNDROMES ISQUÉMICOS CORONÁRIOS AGUDOS
A ANGINA INSTÁVEL
O termo «angina» significa uma “resposta sensorial a uma falta transitória de O2 no miocárdio.
Angina instável é uma manifestação de doença coronária que se situa entre a angina e o enfarte do
miocárdio. O termo instável refere-se ao carácter imprevisível da evolução e de possíveis réplicas.
A instabilidade da placa arterosclerótica com libertação de substâncias vasoreactivas e formação de
trombo representa o substracto patogénico comum aos síndromes isquémicos agudos.
O seu possível aparecimento em repouso é, em parte, devido à trombose intermitente provocada
pela interacção das plaquetas com o colagénio, posto a descoberto na superfície lesada da placa.
Os aspectos característicos do diagnóstico da dor da angina são a localização (pelo tórax, mas não
focalizada), o carácter (aperto, peso e sensação de pressão, mas nunca como punhalada), a irradiação
(frequentemente pelo braço esquerdo e às vezes para o direito ou ambos; a irradiação para a garganta e
queixo também é sugestiva), os factores precipitantes (esforço, stress, o frio ou exercício após refeição ou
sem qualquer factor aparente).
O doente com angina instável deve ser internado em ambiente hospitalar. É importante identificar e
tratar imediatamente condições concomitantes que possam intensificar a isquémia como a hipertensão e a
diabetes não controlados, cardiomegália, insuficiência cardíaca, arritmias e qualquer doença febril aguda.
A hipótese de enfarte do miocárdio deve ser excluída.
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Resumindo, a angina instável é uma entidade definida por uma ou mais das seguintes
características:
- angina de esforço que ocorre com frequência crescente e é provocada por esforços cada vez
menores, também conhecida por angina em crescendo;
- episódios de angina que acontecem de forma recorrente e imprevisível, sem relação com o
esforço.
- episódio prolongado de dor sem causa desencadeante aparente, levando à suspeita de EAM
mas sem evidência electrocardiográfica ou laboratorial de EAM.
O diagnóstico é feito com base na história e nas alterações transitórias do segmento ST, mais
comum depressões e/ou inversões da onda T que ocorrem durante episódios de dor torácica.
No tratamento são importantes o repouso, a sedação, o uso de nitratos, betabloqueantes,
antagonistas dos canais de cálcio, anticoagulantes e antiagregantes plaquetários. Na insuficiência desta
terapêutica, indica-se então a cateterização cardíaca e a arteriografia coronária, que determinará o
tratamento por angioplastia ou por cirurgia.
Aos enfermeiros cabe a promoção do repouso, o alívio da dor e a administração de oxigénio. O
reduzir do medo e ansiedade são também importantes. Devem ser observados e registados os aspectos
característicos da dor. Será também importante a monitorização de ECG contínuo, valorização e
documentação das características da dor e avaliar os efeitos terapêuticos e secundários da medicação
administrada.
No ensino ao doente e família devemos apontar para a necessidade da mudança de estilos de vida,
para formas mais saudáveis.
O EAM
De acordo com LEON e MORRIS (1996) “o enfarte agudo do miocárdio (EAM) corresponde ao
desenvolvimento agudo ou súbito de uma área localizada ou circunscrita de necrose miocárdica devido a
isquémia grave, secundária a um fluxo sanguíneo e/ou oxigenação inadequados”. Acrescentam ainda que
um enfarte do miocárdio em evolução é um processo no qual um segmento do miocárdio se encontra em
progressão de isquémia para uma necrose efectiva e que geralmente decorre da oclusão de uma artéria
coronária.
A isquémia do miocárdio resulta do desequilíbrio entre a necessidade e a oferta de O2 ao
miocárdio. A causa mais comum é a obstrução das artérias coronárias epicárdicas por placas de
aterosclerose.
Outro factor importante é o da insuficiente remoção dos produtos de metabolismo na área de
isquémia, contribuindo para o agravamento da situação pelo seu efeito tóxico.
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A formação do trombo é habitual no local onde a placa aterosclerótica rompe, colocando o seu
conteúdo em contacto com o sangue. O contacto das plaquetas com as fibras do colagénio expostas, leva à
agregação plaquetária e formação do coágulo. O dano irreversível com morte celular, inicia-se 20-40
minutos após a oclusão arterial. A isquémia tem início geralmente na região subendocárdica e expande-se
para fora numa progressão idêntica às vibrações produzidas por uma pedra a cair na água. A onda de
necrose, pode estender-se a toda a parede ventricular tornando o EAM transmural.
A dor é a queixa inicial mais usual em doentes com EAM. A dor do enfarte é profunda e visceral e
os adjectivos comummente utilizados para a descrever são peso, aperto e esmagamento. Apontam ainda a
referência por alguns doentes como a “pior dor que já experimentou”. Tem características semelhantes ao
desconforto da angina, porém é mais intensa e dura muito mais tempo; habitualmente é superior a 30
minutos.
É fundamental suspeitar de EAM se a dor persiste por tempo superior a 15 minutos, não cedendo
ao repouso e a nitratos.
A dor retroesternal pode irradiar para o dorso, pescoço, maxilas ou braço esquerdo, ombro
esquerdo e braços, omoplata e cotovelos, ou ainda epigastro imitando um desconforto abdominal.
Tipos de enfarte
Embora a dor seja a queixa mais comum, nem sempre
está presente, pois 15 a 20% dos EAM são indolores. A
incidência do enfarte indolor é maior em doentes com
diabetes mellitus (aumentando com a idade).
A dor pode fazer-se acompanhar por fraqueza,
sudorese, náuseas, vómitos, torturas, ansiedade e dispneia
Outras formas de apresentação mais rara incluem a
perda súbita de consciência, um sindroma confusional agudo,
sensação de intensa debilidade, arritmia ou diminuição
inexplicável da tensão arterial.
O diagnóstico baseia-se na história clínica, no ECG e
na evolução dos enzimas cardíacos característicos.
ECG
Na sua fase inicial, o EAM pode não dar alterações electrocardiográficas ou surgirem pequenas
alterações inespecíficas.
No EAM ocorrem em sequência ou simultaneamente três eventos fisiopatológicos: isquémia, lesão
e enfarte. As manifestações electrocardiográficas desses processos incluem alterações nas ondas T
(isquémia), nos segmentos ST (lesão) e no complexo QRS (infarto).
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As alterações iniciais da onda T, em caso de isquémia miocárdica aguda são ondas T altas e
pontiagudas acompanhadas mais tarde de ondas T simetricamente invertidas. Pode ser o único achado no
EAM sem supradesnivelamento de ST
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ECG de EAM Antero-lateral
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Enzimas
A creatinaquinase (CK) a desidrogenase láctica (LDH) e a aspartato transaminase (AST) são todas
libertadas pela desagregação da membrana dos miócitos mortos, mas a AST já não é utilizada para o
diagnóstico de EAM, pela sua baixa especificidade. As subfracções enzimáticas relativamente específicas
da musculatura cardíaca são a CK-MB e a isoenzima LDH1.
Mais actuais e mais específicas são os enzimas mioglobina, troponinas (I e T) e isomorfas de CK-
MB. São libertadas mais precocemente que o CK-MB, pelo que o doseamento por anticorpos
monoclonais destas enzimas pode conduzir a um diagnóstico mais rápido. Os doentes com angina instável
não apresentam geralmente elevação seriada de enzimas, o que já permite neste momento um diagnóstico
diferencial mais precoce entre a angina e o enfarte.
Tratamento
Os objectivos do tratamento são aliviar a dor aguda, reduzir o trabalho cardíaco, prevenir e tratar
disritmias e minimizar a área de enfarte.
O alívio da dor é um factor prioritário no tratamento do EAM. A morfina é óptima para a redução
da dor e ansiedade sendo geralmente bem tolerada, com pouca depressão cardíaca. Usa-se geralmente em
bólus por via endovenosa.
A nitroglicerina ajuda a reduzir a dor mediante a redução da necessidade miocárdica em oxigénio,
pela sua acção vasodilatadora. Pode ser usada via sub-lingual e/ou endovenosa.
A redução do trabalho cardíaco é outro objectivo que é importante atingir, uma vez que permite
reduzir as necessidades de O2, já comprometidas pela trombose. Assim, a administração de O2 e a baixa
da frequência cardíaca, permitem pelo menos proteger a área que circunda o enfarte (área de isquémia),
limitando a sua progressão.
A prevenção e tratamento das disritmias numa fase precoce são importantes para a eliminação de
algumas mortes súbitas e inexplicadas. As taquidisritmias na fase aguda do enfarte do miocárdio
envolvem sempre um maior consumo de O2 e uma baixa do débito cardíaco, por diminuição da diástole,
pelo que a sua supressão rápida é importante (FONG, 1994). Refere ainda que os factores predisponentes
ao aparecimento das taquidisritmias são múltiplos.
A diminuição do fluxo sanguíneo e a acumulação dos metabolitos na área de enfarte ocasionam
acidose, aumento do potássio extra-celular e do cálcio intra-celular. Por outro lado, a reperfusão ocasiona
a libertação de radicais livres. O tónus simpático e parassimpático também estão alterados. Todos estes
factores facilitam os mecanismos de reentrada e do aumento do automatismo, favorecendo o
aparecimento das disritmias.
Destas, a fibrilhação ventricular é a mais temível, e que leva muitas vezes à morte do doente,
ocorrendo com alguma frequência nas primeiras 24 horas após o enfarte.
30
As disritmias podem ser tratadas com sucesso se pessoal treinado e equipamento apropriado
estiverem disponíveis ao surgir esta complicação. A eficácia das unidades coronarianas está relacionada
com a rapidez com que chegar o doente para vigilância / tratamento.
O último objectivo do tratamento - minimizar a área de enfarte - tem neste momento duas armas:
os trombolíticos e o tratamento por PTCA. A reperfusão da zona isquémica pela dissolução imediata do
trombo por um destes processos, é a abordagem ideal para reduzir a área de enfarte. Há evidência
considerável que o tratamento é tanto mais eficaz quanto mais precocemente for instalado. Logo na
abordagem inicial do doente, e assim que se suspeita de um EAM, devem se administrados 300 mg de
AAS, por via oral, de preferência mastigados.
O plano de acção de enfermagem passa pela administração da terapêutica prescrita, pela
administração de O2, da manutenção de ambiente calmo e permanecer junto do doente, de forma a
promover o alívio da dor. A prevenção das disritmias consegue-se pelo controle dos sinais vitais, pelo
proporcionar repouso absoluto, ajudar nas actividades de vida diária, ensinar o doente a evitar o esforço,
manter os acessos venosos, manter o doente em posição semi-fowler, controlar o balanço hidro-
electrolítico e vigilância do traçado de ECG para despiste precoce das disritmias. Falam ainda na
importância da redução da ansiedade pela promoção do repouso, pela administração de tranquilizantes
e/ou sedativos, pela promoção de ambiente calmo, pela demonstração de disponibilidade e pela
informação ao doente.
É ainda importante diminuir a sobrecarga sensorial, mantendo um ambiente calmo e sem ruídos,
que permita períodos de repouso.
A explicação do ambiente, todos os métodos, procedimentos e equipamento bem como a
transmissão de um clima de confiança contribuem significativamente para a segurança, tranquilidade e
aceitação do internamento.
O posicionamento em semi-fowler facilita a expansão pulmonar diminuindo assim o risco de
atelectasias, diminui igualmente o retorno venoso, baixa a pré-carga e reduz o trabalho do coração.
Sendo a angioplastia uma prática comum para o tratamento da EAM, merece a nossa reflexão no
que se refere a alguns cuidados especiais. Neste sentido, deve ser explicado ao doente a técnica e
sensações possíveis de sentir (náuseas, calor, aperto). Deve ser realizada tricotomia inguinal. Após o
exame é importante vigiar a PA, ritmo e frequência cardíaca, a circulação periférica (principalmente no
membro inferior do lado puncionado) e o aparecimento de hematoma no local da punção.
Também a terapêutica fibrinolítica apresenta algum risco de complicações, pelo que merece alguns
cuidados especiais da parte do pessoal de enfermagem. A hemorragia é a complicação mais esperada,
dado que a trombólise inibe a formação de trombos e acelera a sua lise. Assim, o despiste precoce de
hemorragias é fundamental, principalmente de hemorragia intracraneana, que sendo pouco frequente é
sem dúvida a mais preocupante.
31
Não menos importante é a terapia de revascularização coronária por cirurgia. É um procedimento
que, por não se conseguir aplicar num curto intervalo de tempo, é mais utilizado em situação de angina do
que propriamente de enfarte agudo.
Tão cedo quanto possível deve estimular-se o doente para o retornar das suas actividades e iniciar-
se a preparação para a alta, que deve visar a mudança do estilo de vida de forma a eliminar factores de
risco e a reintegração do doente no seu ambiente familiar, social e profissional.
CATETERISMO CARDÍACO
Foi em meados da década de 80 que a cirurgia cardíaca, com a circulação extracorpórea, se tornou
um processo rotineiro em seres humanos. Tal facto resultou da maior sobrevivência do doente cardíaco, à
custa não só duma diminuição das complicações pós-operatórias, mas também duma mais precisa
terapêutica cirúrgica, baseada num diagnóstico mais correcto. O estudo hemodinâmico das cavidades
esquerda e direita é decisivo para o êxito da intervenção. A cateterização cardíaca fornece dados
invasivos sobre a hemodinâmica central (cardíaca) e periférica (vascular). Podem medir-se as pressões em
todas as câmaras cardíacas, durante o ciclo cardíaco e o fluxo sanguíneo pode ser quantificado.
Básicamente o cateterismo cardíaco é realizado para:
·Confirmar um diagnóstico de doença cardíaca e determinar a extensão em que ela afecta a
estrutura e função do coração;
·Determinar anormalidades congénitas;
·Obter uma imagem clara da anatomia do coração antes da cirurgia cardíaca;
·Obter pressões dentro das cavidades cardíacas e dos grandes vasos;
·Medir a concentração, saturação de oxigénio do sangue dentro das cavidades cardíacas;
·Determinar o débito cardíaco;
·Obter biópsias endocárdias;
·Permitir a infusão de agentes fibrinolíticos directamente dentro de uma artéria coronária
obstruída.
Antes do cateterismo, o doente deverá discutir com o cardiologista sobre o objectivo, vantagens e
risco do exame. Para muitos doentes, o cateterismo cardíaco é o primeiro grande meio após o diagnóstico
de possível doença cardíaca. Por isso é normal que esteja ansioso e tenha muitas questões a pôr.
0 caterismo cardíaco é realizado num laboratório de hemodinâmica. Normalmente são cateterizados
ambos os lados do coração. No entanto, se o estudo é dirigido à possível obstrução de uma coronária, só é
cateterizado o lado esquerdo do coração.
32
Cateterismo esquerdo Durante o qual são medidas as pressões da aorta, no ventrículo esquerdo
e na aurícula esquerda. É usado contraste radiopaco para visualizar o lado esquerdo do coração e as
artérias coronárias.
Os cateteres utilizados são:
- cateter de Pigtail ( em rabo de boi, orifício distal com 6 a 8 orifícios laterais, com 110 cm de
comprimento)
- cateter de Judkins esquerdo (ponta pré-formada de acordo com a coronária que se pretende
estudar, orifício distal).
Cateterismo direito Inclui as medições hemodinâmicas na aurícula direita, ventrículo direito,
artéria pulmonar e uma injecção de contraste radiopaco para visualizar as artérias coronárias. Podem
também ser colhidas amostras de sangue para análise.
O cateter utilizado é:
- cateter de Judkins direito (ponta pré-formada de acordo com a coronária direita, orifício distal).
Na manhã do exame o doente mantém-se em jejum. Uma pré-medicação é administrada antes do
doente ser conduzido à sala de cateterismo. Durante todo o exame o doente mantém-se acordado e
colaborante. Os catéteres são introduzidos na região inguinal, após a administração de anestésico local. A
artéria femoral é usada para cateterizar o coração esquerdo, incluindo as coronárias. A veia femoral é
usada para introduzir cateteres no lado direito do coração (no entanto, também podem ser utilizadas as
veias braquial ou jugular interna). Durante o exame o doente é heparinizado para diminuir o risco de
embolias. No fim do exame os catéteres são removidos, devendo ser exercida pressão sobre a região
inguinal até à perfeita hemostase. Depois do cateterismo o doente deve ficar em repouso durante 6 horas.
Embora o cateterismo cardíaco se tenha tornado um instrumento de diagnóstico mais seguro e mais
útil nos últimos anos, ele está longe de ser inócuo e tem complicações próprias. A maior parte está
relacionada com o local da punção. A formação de um coágulo durante o cateterismo é evitada pela
administração de anticoagulantes (4.000 a 5.000 U de heparina), o que aumenta o risco de hemorragia no
local de introdução do catéter. O traumatismo decorrente da punção arterial pode potencializar o
vasoespasmo ou a formação de um coágulo causando a oclusão arterial temporária ou permanente na
extremidade afectada. Frequentemente surgem Disrritmias durante o cateterismo devido à estimulação
directa da aurícula e do ventrículo pelo cateter. Pode surgir dor anginosa que ocorre quando o meio de
contraste substitui o fluxo de sangue através das artérias coronárias. Ocasionalmente o doente pode
apresentar uma reacção ao meio de contraste iodado, manifestada por rubor, náuseas, vómitos e urticária.
São raras as perfurações do miocárdio e da aorta que constituem complicações mortais do cateterismo
cardíaco.
A angiografia é um método valioso de diagnóstico cardíaco, oferecendo grande ajuda para a
compreensão das doenças do coração e dos vasos. Consiste na injecção endovenosa nos locais desejados
33
pelo médico. Imediatamente após ter sido injectado o contraste é tirado uma série de imagens que
mostram o trajecto do contraste à medida que ele circula através dos grandes vasos e do coração.
A intervenção de enfermagem no cateterismo cardíaco começa com a preparação física e
emocional do doente. As principais providências a serem tomadas na preparação do doente são:
· Explicar ao doente o procedimento, a sua finalidade e seus riscos;
·Explicar que o exame será realizado numa sala especial para cateterismo, onde ficará deitado
sobre uma mesa de raios X e monitorizado;
·Informar ao doente sobre o uso de anestesia local para introdução do cateter;
·Alertá-lo para o aparecimento de determinadas sensações, nomeadamente de vibração à medida
que o cateter passa pelo coração e de calor quando o contraste é injectado (esta sensação de
calor pode perdurar cerca de 30 segundos após a administração);
·Perguntar se há uma história prévia de alergias particularmente a substâncias que contenham
iodo ou mariscos;
·Pedir ao doente para assinar termo de responsabilidade para a realização do exame, após
informação cuidada sobre os procedimentos;
·Suspender alimentação 6 a 8 horas antes do exame;
·Cateterizar veia periférica;
·Administrar pré-medicação prescrita (sedativos e anti-histaminicos);
34
BIBLIOGRAFIA
35
RAMALHÃO, Carlos; SIMÕES, Lino; MACEDO, Filipe - Arritmias. “Actual Cardiologia”.Lisboa ISSN
0871-7915. Vol. 6, nº 57 (Dezembro 1996), p. 1867-1877.
RIPE, James- Angina instável. In RIPE, James; CSETE, Maria - Manual de Tratamento intensivo. Rio de
Janeiro: Editora Brasileira de Medicina, 1987. ISBN 85-85046-04-X. p. 78-80
SANDLER, Gerald - Enfarte do miocárdio. “Nursing”. Lisboa. ISSN 0871-6196. Ano 5, nº 49 (Fevereiro
1992), p. 29-31
SELWYN, Andrew P.; BRAUNWALD, Eugene - Cardiopatia isquémica. In BRAUNWALD et al -
Medicina interna Harrison. 11ª ed Vol 1. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1988. p. 907-912
STANDLER, Gerald - Angina de peito. “Nursing”. Lisboa. ISSN 0871-6196. Ano 4, nº 41 (Junho 1991),
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THELAN, Lynne; DAVIE, Joseph; URDEN, Linda – Enfermagem em cuidados intensivos – diagnóstico
e intervenção. Lisboa: Lusodidacta, 1996. ISBN 972-95399-1-X
VILLALTA, P. - Arritmias y antiarritmias. In MARTIN, C.; ESTEBAN, A. - Manual de cuidados
intensivos en enfermaria. Barcelona: Springer-Verlag Ibérica, 1996. ISBN 84-07-00158-9. p. 63-73
36
ORGANIZAÇÃO E RECURSOS PARA REANIMAÇÃO INTRA-
HOSPITALAR
A paragem cardio-respiratória (PCR) é sempre uma situação em que o tempo é
fundamental. Sabe-se que quatro a cinco minutos após a PCR, a percentagem de sucesso
situa-se abaixo dos 50%, sendo cada vez maior a probabilidade de uma possível
recuperação ser acompanhada de sequelas neurológicas (e outras) graves e irreversíveis.
Numa situação de emergência há necessidade de organizar, em reduzido espaço de tempo,
meios técnicos, físicos e humanos, de modo a responder prontamente às necessidades.
Mas todos sabemos que existem alguns factores que podem dificultar a prestação, como a
inexperiência profissional, o desconhecimento técnico e científico, o número insuficiente de
profissionais ou problemas inerentes a materiais e equipamentos, entre outros. É, pois,
importante que o material e equipamento estejam disponíveis e funcionais para uso imediato
e que cada profissional saiba exactamente o que fazer quando ocorrer uma situação de
emergência
Assim, devem ser pensados e preparados antecipadamente:
o O material e equipamento necessários a uma resposta eficaz;
o A constituição da equipa;
o As funções dos seus membros;
o A sua interligação;
o A preparação/formação de todos os profissionais de saúde em
Suporte de Vida.
O material e o equipamento
O material e equipamento necessários a uma situação de urgência devem estar disponíveis
para utilizar assim que necessário. Ainda que existam outras formas, a maneira mais rápida
e fácil de o conseguir é através de um “carro de emergência”.
O carro de emergência é um recurso importante na medida em que permite transportar de
uma forma rápida e organizada todo o material necessário para responder a uma situação
de urgência.
Existem vários tipos e podem ser encontradas outras soluções. Mas em qualquer caso
devem ser respeitdos alguns princípios universais:
o Existirem normas de organização, manutenção e utilização;
o Serem padronizados, com uma organização semelhante para todo o hospital
(unidade de saúde), exceptuando as diferenças necessárias entre unidades (p. ex:
adulto e pediatria)
o Deve ser sujeito a processos de auditoria, isto é verificação por uma pessoa externa
ao serviço.
Relativamente à utilização e manutenção de um carro de urgência, são normas gerais:
o O carro deve estar sempre selado com o selo adequado (selo numerado).
o Após cada utilização em situação de emergência, a reposição do material deve ser
efectuada pelo enfermeiro responsável pelo doente em que foi utilizado, devendo
essa reposição acontecer o mais breve possível.
o O material deve ser verificado de acordo com uma check list, que deve ser
preenchida após a reposição do stock preestabelecido. Esta deve conter o registo do
número do selo que lacra o carro e ser assinado (assinatura e número
mecanográfico) por quem o verifica.
o Deve ser estabelecida uma rotina de verificação periódica (mensal).
o Os carros dos diversos serviços (unidades) devem estar sujeitos a uma verificação
externa, sem aviso prévio (por entidade a determinar), para assegurar a sua
prontidão.
Fluidos
Cloreto de Sódio a 0,9% em água (soro fisiológico) (100 ml e 500 ml)
Lactato de Ringer (500ml)
Gelafundina (ou outro coloide) (500ml)
Glicose a 5% em água (100 ml)
Fármacos
Atropina 0,5 mg
Adrenalina 1 mg
Amiodarona 150 mg
Adenosina 6 mg
Bicarbonato de Sódio 8,4%
Cloreto de Potássio 7,45%
Cloreto Sódio 20cc
Gluconato de cálcio 10%
Sulfato de Magnésio 20%
Labetalol 100mg
Isoprenalina 2mg
Digoxina 0,5 mg
Dopamina 200 mg
Dextrose a 30% 20cc
Glucagom 1mg
Brometo de vecurónio
Diazepan 10 mg
Midazolam 15 mg
Propofol 1%
Clonazepam
Flumazenil 0,5 mg
Naloxona 400 µg
Furosemida 20 mg
Metilprednisolona 125mg e 1g
Nitroglicerina 0,5 mg
Ácido Acetilsalicílico 100 mg
Água bidestilada 20cc
Outro equipamento
Tesoura
Garrote
Toalhetes de álcool
Compressas
Ligadura
Adesivo (rolo)
Contentor de cortantes
Contentor para lixo
Luvas / óculos e batas de protecção
Tabelas de cálculo e diluição
Ficha de registo
Mini-plano duro
Estetoscópio
Esfigmomanómetro
Lanterna para avaliação das pupilas
Máquina para teste rápido de glicemia e respectivas fitas-teste
Check list
Para que o potencial de utilização do Carro de Urgência seja o máximo devem ser
respeitadas várias regras:
Não utilizar indiscriminadamente, mas apenas para as situações de urgência;
Respeitar rigorosamente o stock dos materiais e medicamentos;
Seguir a check list para verificação e reposição;
Proceder à reposição imediata após cada utilização;
Estabelecer uma rotina de verificação;
Manter o carro selado;
Existir um elemento na equipa responsável pela verificação do carro;
Toda a equipa deve ser conhecedora do seu conteúdo;
Organização da equipa
Idealmente uma equipa de reanimação é constituída por cinco elementos. Sabemos no
entanto que o número real depende de vários factores como o número de profissionais no
turno ou mesmo a sua disponibilidade naquele momento específico. Três elementos é um
mínimo aceitável para uma reanimação.
As figuras seguintes apresentam várias possibilidades de organização da equipa de
reanimação em função do número de elementos disponíveis.
A liderança da equipa deve ser assumida pelo médico ou enfermeiro melhor preparado para
tal. Por princípio, quem lidera fica ou fica à cabeça do doente limitando-se a assegurar a via
aérea e ventilação, ou apenas assegura a monitorização, avaliação do ritmo e choque, se
necessário. Mas se o número de profissionais o permitir, o líder pode e deve estar liberto de
qualquer outra função, dedicando toda a sua atenção ao processo na sua globalidade.
Equipa de 5 elementos:
1 – lidera e realiza registos
2 – assegura VA e ventilação (troca com 3 a cada 2 minutos)
3 – assegura compressões (troca com 2 a cada 2 minutos)
4 – monitoriza, avalia ritmo e choca se indicado, assegura acesso vascular e administra
drogas
5 – apoia 2 e 3
Equipa de 4 elementos:
1 – lidera, realiza registos e apoia 4
2 – assegura VA e ventilação (troca com 3 a cada 2 minutos)
3 – assegura compressões (troca com 2 a cada 2 minutos)
4 – monitoriza, avalia ritmo e choca se indicado, assegura acesso vascular e administra
drogas
Neste caso, a liderança pode ser assegurada pelo elemento 2 (passando a ficar só na VA e
liderança do caso) ou pelo 4.
Equipa de 3 elementos:
1 – assegura VA e ventilação (troca com 2 a cada 2 minutos)
2 – assegura compressões (troca com 2 a cada 2 minutos)
4 – monitoriza, avalia ritmo e choca se indicado, assegura acesso vascular e administra
drogas e lidera
Neste caso, a liderança pode ser assegurada pelo elemento 1 (passando a ficar só na VA e
liderança do caso).
Comunicação
Em reanimação é fundamental um bom processo de comunicação entre os vários elementos
da equipa é fundamental. O ideal é que a comunicação se processe entre o líder e cada um
dos elementos da equipa, através de ordens simples, precisas, claras, que devem ser
seguidas de feedback de que se compreendeu a informação e de que se cumpriu a ordem
ou do resultado de um dados de avaliação que tenha sido pedido.
Digitally signed by Francisco
Francisco Henrique Moura George
DN: c=PT, o=Ministério da
+01'00'
NÚMERO: 008/2011
DATA: 28/03/2011
ASSUNTO: Organização do material de emergência nos serviços e unidades de Saúde
PALAVRAS-CHAVE: Material de emergência
PARA: Rede Hospitalar, Rede de Cuidados de Saúde Primários, Rede de Cuidados
Continuados Integrados
CONTACTOS: Departamento da Qualidade na Saúde (dqs@dgs.pt)
DIREÇÃO-GERAL DA SAÚDE | Alameda D. Afonso Henriques, 45 - 1049-005 Lisboa | Tel: 218430500 | Fax: 218430530 | E-mail: geral@dgs.pt | www.dgs.pt 1/11
- Este documento foi redigido ao abrigo do novo Acordo Ortográfico -
III - COMPOSIÇÃO e ORGANIZAÇÃO do “CARRO DE EMERGÊNCIA”
1. O conteúdo-tipo do “carro de emergência” consta do Anexo 1 da presente Orientação1.
2. A organização dos fármacos e do material deverá ser adaptável às características físicas do
“carro de emergência” de cada unidade de saúde, considerando-se, sempre, a facilidade de
acesso rápido e com menor probabilidade de erro.
3. Sugere-se como organização do “carro de emergência”:
a) Base superior: Desfibrilhador, estetoscópio, bala de oxigénio (com debitómetro),
insuflador manual com saco/reservatório e filtro descartável.
b) 1ª Gaveta: Fármacos de 1ª linha em situações de emergência (constantes na
checklist).
c) Nota: Separar fármacos com apresentação idêntica, de forma a diminuir o erro na
administração. Por exemplo, separar a atropina da adrenalina, colocando-as em
cantos opostos da gaveta com uma cor de fundo diferente e colocando os fármacos
mais utilizados segundo um código de cores que favoreça uma reacção mais
instintiva, rápida e menos dada a equívocos.
d) 2ª Gaveta: Material para via aérea (laringoscopios, vias orofaríngeas, sonda de
aspiração rígida, etc.), excepto tubos endotraqueais, que deverão estar organizados
por tamanho, noutra divisória do carro ou equipamento transportável).
e) 3ª Gaveta: Material para acessos venosos (inclui kit para cateterização central); pás
do desfibrilhador e do pacemaker.
f) 4ª Gaveta: Restante material: soros mais usados; prolongadores, torneiras, etc.
1
Cf o referido em II, 1. da presente Orientação quanto à adequação do conteúdo do “carro de emergência”
V - RECOMENDAÇÕES de MANUTENÇÃO
1. Manter o desfibrilhador sempre ligado à corrente eléctrica.
2. Deve diariamente:
a) Verificar-se se o “carro de emergência” está devidamente selado.
b) Testar-se o desfibrilhador, independentemente das verificações periódicas da
responsabilidade da marca e registar em folha própria (Anexo 2).
3. Deve mensalmente:
a) Verificar-se, com a Check list, a validade, acondicionamento dos fármacos e material
e registar na folha de abertura do carro (Anexo 4).
b) Efectuar-se a troca dos fármacos ou material três meses antes da data de fim da sua
validade.
c) Selar-se o “carro de emergência” após cada verificação, reposição ou auditoria.
2
Não esquecer de activar a equipa de emergência médica intrahospitalar, de acordo com a Circular Normativa da
Direcção-Geral da Saúde nº 15/DQS/DQCO de 22/06/2010
APOIO CIENTÍFICO
Miguel Soares de Oliveira (Coordenador), Ângela Aragão, António Lages Amorim, António
Marques, Augusto Ribeiro, Berta Nunes, Helena Jardim, João Paulo Bessa, José Artur Paiva,
Fernando Próspero, Lúcia Pinto, Maria Adriana Machado, Maria Barros, Patrício Ramalho, Renato
Bessa de Melo
BIBLIOGRAFIA
Circular Normativa DGS, nº 15 DQS/DQCO, de 22/06/2010 (“Criação e Implementação de uma Equipa de Emergência
Médica Intra-hospitalar (EEMI)”)
Tibballs J, et al. Reduction of hospital mortality and of preventable cardiac arrest and death on introduction of a
pediatric medical emergency team. Pediatr Crit Care Med 10:306-312, 2009
Santamaria J, et al. Changing cardiac arrest and hospital mortality rates through a medical emergency team takes time
and constant review. Crit Care Med 38:445-450, 2010.
DiGiovine B. Rapid Response Teams: Let us pick up the pace. Crit Care Med 38:700-701, 2010
Francisco George
Diretor-Geral da Saúde
Material de Fluidoterapia
Cloreto de Sódio 0.9% 500 ml 1
1000 ml 1
Lactacto de Ringler 500 ml 1
Gelafundina 500 ml 1
Hidroxietilamido (HAES) 500 ml 1
Manitol a 20% 250 ml 1
Bicarbonato de Sódio 8.4% 100 ml 1
Soro glicosilado 5% 500 ml 1
100 ml 1
Cateter I.V. 14G →24G 4
Aplicador p/cateter 14G→24G 4
Sistema de soro 5
Torneira de 3 vias c/prolongador 5
Seringa irrecuperável 1 c.c. 5
2 c.c. 5
5 c.c. 5
10 c.c. 5
20 c.c. 5
Agulhas irrecuperáveis I.M. (0.8x40mm) 10
I.V. (0.9x40mm) 10
S.C. (0.60x25mm) 10
Agulha-Intraóssea1 Adulto 2
Criança* 2
1material dos Serviços de Urgência da Rede de Serviços de Urgência
2o desfibrilhador deverá ser automático/semi-automático nos Centros de Saúde, USF e Extensões de Saúde e manual com monitor
de sinais vitais e ECG 12 derivações nos Serviços/ Serviços de Urgência
* nos Serviços/ Unidades de Saúde em que se justifique ter material pediátrico
TESTE DO DESFIBRILHADOR
MÊS_______________________ ANO_____________ (anexo2)
FICHA DE AUDITORIA
RESPONSÁVEL PELA
MANUTENÇÃO
LOCALIZAÇÃO
ASPECTO GERAL
SELO
FOLHAS DE REGISTO
ÚLTIMA VERIFICAÇÃO
OBSERVAÇÕES:
_____________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________
RECOMENDAÇÕES:
_____________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________
AUDITOR______________________________________________
CONTEXTO
Os doentes que são internados nos Hospitais acreditam que estão a ser admitidos num
espaço seguro, onde eles, e as suas famílias, têm o direito a receberem o melhor tratamento
possível. Sentem-se confiantes que, se a sua condição clínica se agravar, estão no melhor
sítio para uma pronta e eficaz intervenção. No entanto, há alguma evidência de que tal nem
sempre acontecerá.1 Existem, actualmente, estudos que demonstram que há variabilidade
na mortalidade intra-hospitalar durante os dias da semana e as horas do dia, com aumento
da mortalidade durante os fins-de-semana e a noite.2,3 Este “efeito de fim-de-semana”
também foi verificado em hospitais portugueses.4
De uma maneira geral, os sinais clínicos de deterioração de uma situação clínica aguda são
relativamente semelhantes, independentemente de qual a doença subjacente e reflectem,
habitualmente, falência do sistema respiratório, cardiovascular e/ou neurológico.5
1 National Institute for Health and Clinical Excellence (NICE). Acutely ill patents in hospital: recognition of and
response to acute illness in adults in hospital. National Institute for Health and Clinical Excellence, London, 2007
(www.nice.org.uk)
2 Bell CM, et al. Mortality among patients admitted to hospitals on weekends as compared with weekdays. N Engl J
NORMA
Sendo hoje em dia aceite, com base na literatura disponível e no parecer das Ordens
Profissionais e das Sociedades Cientificas afins, que uma intervenção precoce e adequada
pode diminuir a mortalidade e a morbilidade dos doentes hospitalizados que sofrem um
processo de deterioração clínica agudo, é imperativa a implementação de mecanismos
organizacionais que permitam a sua rápida identificação e instituição atempada de
terapêutica optimizada.
Neste sentido, a Direcção-Geral da Saúde, no uso das suas competências, determina, por
recomendação do Departamento da Qualidade na Saúde, a criação e implementação, a
nível nacional, das Equipas de Emergência Médica Intra-hospitalares (EEMI).
CENTROS PARTICIPANTES
6 National Institute for Health and Clinical Excellence (NICE). Acutely ill patents in hospital: recognition of and
response to acute illness in adults in hospital. National Institute for Health and Clinical Excellence, London, 2007
(www.nice.org.uk)
Alameda D. Afonso Henriques, 45 - 1049-005 Lisboa - Portugal - Tel 218 430 500 - Fax: 218 430 530 - Email: geral@dgs.pt
2
Direcção-Geral da Saúde Circular Normativa
7 Campello G, et al. Immediate and long-term impact of medical emergency teams on cardiac arrest prevalence and
mortality: a plea for periodic basic life-support training programs. Crit Care Med 37:3054-3061, 2009.
8 Hillman K, et al. Redefining in-hospital resuscitation: The concept of the medical emergency team. Resuscitation
48:105-110, 2001.
9 DeVita MA, et al. Findings of the First Conference on Medical Emergency teams. Crit Care Med 34:2463-2478,
2006.
10 Lee A, et al. The medical emergency team. Anaesth Intensive Care 23:183-186, 1995.
Alameda D. Afonso Henriques, 45 - 1049-005 Lisboa - Portugal - Tel 218 430 500 - Fax: 218 430 530 - Email: geral@dgs.pt
3
Direcção-Geral da Saúde Circular Normativa
Cada Hospital deverá, de acordo com a sua organização interna e os recursos disponíveis,
assegurar a existência, 24 horas por dia, 365 dias/ano, de uma EEMI12. Esta deve ser
constituída por um Médico e um Enfermeiro com competências em abordagem avançada da
via aérea, técnicas de reanimação e, preferencialmente, formação em
emergência/intensivismo.13
A resposta às eventuais necessidades da população pediátrica internada também tem que
ser assegurada14. O modelo de organização das equipas de cada Unidade de Saúde
dependerá, entre outros, da dimensão das suas enfermarias pediátricas, sendo, no entanto,
obrigatório que os elementos que respondem a esta faixa etária tenham formação em
Suporte Avançado de Vida Pediátrico15.
O sistema deverá assegurar resposta a toda a população da Instituição, incluindo, além dos
doentes internados, utentes das consultas, visitantes, profissionais de saúde, etc.
Para um cabal cumprimento destas tarefas, nomeadamente para que a activação do
sistema aconteça nas melhores condições (ramo aferente), é necessário e imprescindível
formar todos os profissionais da instituição, mesmo das áreas não clínicas, em suporte
básico de vida, em monitorização clínica, em critérios de activação da EEMI e no seu papel
no funcionamento do sistema.
2478, 2006.
14 Tibballs J et al. Reduction of paediatric in-patient cardiac arrest and death with a medical emergency team:
pediatric medical emergency team. Pediatr Crit Care Med 10:306-312, 2009.
16 Nolan JP et al. European Resuscitation Council Guidelines for resuscitation 2005. Section 4. Adult advanced life
4. ACÇÕES PÓS-REANIMAÇÃO
5. COMUNICAÇÃO
A EEMI deverá ter uma forma rápida, segura e eficaz de ser activada, a partir de qualquer
ponto da Unidade de Saúde. Para tal, poderá ser implementado um sistema rádio,
telemóvel, ou outro. Em qualquer dos casos, TODOS os profissionais da Unidade de Saúde
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terão que ter dele conhecimento e a ele terem fácil e rápido acesso17. Cartazes com a sua
divulgação, bem como com os critérios de activação da equipa são úteis na prossecução
deste objectivo18.
6. EQUIPAMENTO/ MATERIAL
7. FORMAÇÃO
17 Nolan JP et al. European Resuscitation Council Guidelines for resuscitation 2005. Section 4. Adult advanced life
mortality: a plea for periodic basic life-support training programs. Crit Care Med 37:3054-3061, 2009.
19 Gabbott D, et al. Cardiopulmonary resuscitation standards for clinical practice and training in the UK. Resuscitation
66:13-29, 2005.
20 Comissão Regional do Doente Critico. Um ano de reflexão e mudança. Porto, Administração Regional de Saúde do
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8. REGISTO
Cada activação da EEMI deve ficar registada, e deste registo deve constar a hora de inicio
do quadro de agravamento clínico, a hora da chamada/activação, a hora de chegada ao
local, a área do internamento da origem da activação, o motivo da chamada, a avaliação
clínica realizada à chegada, as medidas diagnósticas e/ou terapêuticas já instituídas antes
da chegada da equipa, as atitudes adoptadas pela equipa e ainda o resultado dessa
intervenção. O registo deve ser efectuado segundo o modelo de Utstein, para assegurar a
sua comparabilidade22.
Estes registos devem ser regularmente auditados e fazerem parte de um programa
institucional de Melhoria Continua da Qualidade (ver abaixo)23.
22 ILCOR Consensus Statement, Recommended Guidelines for Monitoring, Reporting, and Conducting Research on
Medical Emergency Team, Outreach, and Rapid Response Systems: An Utstein-Style Scientific Statement. Circulation.
2007;116:2481-2500
23 Nolan JP et al. European Resuscitation Council Guidelines for resuscitation 2005. Section 4. Adult advanced life
mortality: a plea for periodic basic life-support training programs. Crit Care Med 37:3054-3061, 2009.
24 Mock C et al. Guidelines for trauma quality improvement programmes. Geneva, World Health Organization, 2009
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CRONOGRAMA DE IMPLEMENTAÇÃO
Francisco George
Director-Geral da Saúde
25 Juillard CJ, Mock C, et al. Establishing the evidence base for trauma quality improvement: a collaborative WHO-
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Direcção-Geral da Saúde Circular Normativa
Anexo 1
Fluxograma de Activação da Equipa de Emergência Médica Intra-hospitalar
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European Resuscitation Council
Guidelines for Resuscitation 2010
3
Jerry P. Nolan*, Jasmeet Soar, David A. Zideman, Dominique Biarent, Leo L. Bossaert, Charles Deakin,
Rudolph W. Koster, Jonathan Wyllie, Bernd Böttiger, on behalf of the ERC Guidelines Writing Group**.
Jerry P. Nolan
Consultant in Anaesthesia and Intensive Care Medicine
Royal United Hospital
Bath, UK
E mail jerry.nolan@btinternet.com
*Corresponding author
4
Freddy K. Lippert,
Gamal Abbas,
Andrew S. Lockey,
Annette Alfonzo,
David Lockey,
Hans-Richard Arntz,
Jesús López-Herce,
John Ballance,
Ian Maconochie,
Alessandro Barelli,
Koenraad G. Monsieurs,
Michael A. Baubin,
Nikolaos I Nikolaou,
Dominique Biarent,
Jerry P. Nolan,
Joost Bierens,
Peter Paal,
Robert Bingham,
Gavin D. Perkins,
Leo L. Bossaert,
Violetta Raffay,
Hermann Brugger,
Thomas Rajka,
Antonio Caballero,
Sam Richmond,
Pascal Cassan,
Charlotte Ringsted,
Maaret Castrén,
Antonio Rodríguez-Núñez,
Cristina Granja,
Claudio Sandroni
Nicolas Danchin,
Gary B. Smith,
Charles D. Deakin,
Jasmeet Soar,
Joel Dunning,
Petter A. Steen,
Christoph Eich,
Kjetil Sunde,
Marios Georgiou,
Karl Thies,
Robert Greif,
Jonathan Wyllie
Anthony J. Handley,
David Zideman
Rudolph W. Koster,
6
da responsabilidade de
Conselho Português de Ressuscitação
Edição: Paula Grácio, Revista Saúde Infantil / ASIC - Associação de Saúde Infantil de Coimbra
Abreviaturas 7
Introdução
O Sumário das Recomendações fornece os algoritmos de As recomendações que se seguem não pretendem estabe-
tratamento essenciais para a reanimação de crianças e adul- lecer a única forma possível de reanimar; limitam-se a re-
tos e salienta as principais alterações às recomendações de flectir uma perspectiva largamente aceite da forma como a
2005. Em cada uma das restantes nove secções, publica- reanimação deve ser praticada com segurança e eficácia. A
das como artigos individuais neste número do Resuscitation, publicação de recomendações novas e revistas não significa
fornecem-se orientações pormenorizadas que as actuais sejam ineficazes ou inseguras.
10
Sumário das recomendações 11
Suporte Avançado de Vida no Adulto • Dá-se muito maior ênfase ao tratamento da síndrome pós-
-paragem cardíaca.
As alterações mais importantes nas recomendações ERC 2010 • Reconhece-se que a implementação de um protocolo de
para o Suporte Avançado de Vida (SAV) incluem:6, 15 tratamento pormenorizado e estruturado pode aumentar a
sobrevida das vítimas de paragem cardíaca depois do RCE.
• Acentua-se a importância das compressões torácicas de • Aumenta-se a ênfase na utilização de intervenção coronária
elevada qualidade, com o mínimo de interrupções durante percutânea primária em doentes com indicação (incluindo
qualquer das intervenções de SAV: as compressões só de- os que estão em coma) com RCE estabilizado depois de
vem ser interrompidas, para permitir intervenções específi- paragem cardíaca.
cas e pelo mínimo tempo possível • Revêem-se as recomendações para controlo da glicemia:
• Incentiva-se o uso de “sistemas de detecção e alerta de do- no adulto com RCE estável depois de PCR e recomenda-se
entes em deterioração” nos hospitais, para permitir o trata- o tratamento da glicemia>10 mmol L-1 (>180 mg dl-1) evitan-
mento atempado e que previna a PCR do hipoglicemias
• Aumenta-se a atenção aos sinais de alarme associados a • Utilização de hipotermia terapêutica em sobreviventes de PCR
risco potencial de morte súbita pré-hospitalar de ritmos iniciais não desfibrilháveis ou desfibrilháveis, em
• Retira-se a recomendação para fazer um período pré defi- coma. Reconhece-se o baixo nível de evidência disponível,
nido de SBV, antes de desfibrilhar, nas PCR em ambiente quando estão em causa ritmos não desfibrilháveis.
pré-hospitalar e não testemunhadas pelos operacionais do • Reconhece-se que muitos dos indicadores de mau prognós-
SEM tico nos sobreviventes de paragem cardíaca em coma não
• Recomenda-se a manutenção das compressões torácicas são fiáveis, em particular nos doentes tratados com hipoter-
enquanto se carrega o desfibrilhador – para minimizar o mia terapêutica.
tempo de pausa pré-choque
• Desvaloriza-se o papel do murro précordial
• Defende-se a aplicação de três choques seguidos em caso
de fibrilhação ventricular (FV) / taquicardia ventricular sem Abordagem inicial das síndromes
pulso (TVsP) que ocorre durante a cateterização cardíaca
ou no pós-operatório imediato de cirurgia cardíaca
coronárias agudas
• Não se recomenda a administração de fármacos por via tra-
queal – se não se consegue acesso ev os fármacos devem As alterações das recomendações de 2005, na abordagem das
ser administrados por via IO (intra-óssea) síndromes coronárias agudas incluem:7, 16
• No tratamento das FV/TVsP deve-se administrar 1mg de
adrenalina depois do 3º choque, logo que as compressões • Introduziu-se a designação síndrome coronária aguda - en-
torácicas tenham sido retomadas e repeti-la a intervalos de farte do miocárdio sem supra-desnivelamento do ST (SCA
3-5 min (ciclos alternados). A amiodarona, 300mg ev, tam- - EM sem SST) para incluir EM sem SST e a angina instável
bém se administra depois do 3º choque porque o diagnóstico diferencial depende de biomarcadores
• Já não se recomenda o uso, por rotina, de atropina na assis- que podem só ser detectados horas mais tarde, enquanto
tolia ou actividade eléctrica sem pulso (EAsP) a decisão de tratamento depende da apresentação e das
•R eduz-se a ênfase na entubação traqueal a menos que possa manifestações clínicas.
ser efectuada por operacional altamente qualificado e com o • Anamnese, exame clínico, biomarcadores, critérios ECG e
mínimo de interrupção das compressões torácicas índices de risco não são confiáveis para identificar doentes
• Aumenta-se a ênfase na utilização de capnografia para que podem ter alta precoce em segurança.
confirmar a posição do tubo traqueal, avaliar a qualidade • O papel das unidades de dor torácica (UdT) é identificar do-
do SBV e como indicador precoce do retorno da circulação entes com indicação para tratamentos invasivos, repetindo
espontânea (RCE) o exame clínico, ECG e biomarcadores. Podem-se incluir
• Reconhece-se a potencial utilidade da ecografia durante o testes de provocação, em doentes seleccionados, incluindo
SAV. exames de imagem como a tomografia cardíaca computori-
zada, ressonância magnética, etc
Reconhece-se que a hiperóxia depois do RCE pode ser prejudi- • Devem-se evitar anti-inflamatórios não esteróides (AINES).
cial: depois de estabelecido o RCE a saturação da hemoglobina • Os nitratos não devem ser utilizados para diagnóstico.
no sangue periférico (SaO2) pode ser adequadamente monito- • Só se deve administrar oxigénio suplementar aos doentes
rizada por oximetria de pulso ou gasometria do sangue arterial, com hipoxémia, dispneia ou congestão pulmonar. A hiperó-
ajustando a fracção de O2 no ar inspirado para ter a SaO2 entre xia pode ser prejudicial no enfarte não complicado.
94 - 98%. • As recomendações para utilização de ácido acetil salicílico
(AAS) foram mais liberalizadas; o AAS deve ser administra-
Sumário das recomendações 13
do pelas testemunhas com ou sem presença de operacio- sinais de vida e, se estiverem seguros da técnica, podem
nais dos SEM. também procurar um pulso central para o diagnóstico de pa-
• As recomendações para tratamento dos doentes com o EM ragem cardíaca e decidir se devem ou não iniciar compres-
com SST e SCA – EM sem SST, com os novos anti-pla- sões torácicas. A decisão de iniciar RCP deve ser tomada
quetários e anti-trombínicos, foram revistas com base em em menos de 10 segundos. De acordo com a idade, podem
estratégias terapêuticas. verificar-se o pulso carotídeo (crianças), braquial (lactentes)
• Desaconselha-se o uso de inibidores da Gp IIb/IIIa antes da ou femoral (crianças e lactentes).
angiografia / intervenção coronária percutânea (ICP) • A relação compressões/ventilações (C/V) usada nas crian-
• Actualiza-se a estratégia de reperfusão para os EM com SST ças depende da presença de um ou mais reanimadores.
• A ICP primária (ICPP) é a estratégia de reperfusão prefe- Os reanimadores leigos, que geralmente aprendem apenas
rencial desde que tenha lugar em tempo oportuno e seja técnicas para reanimador único, devem ser ensinados a
executada por equipa experiente. usar uma relação de 30 compressões para 2 ventilações,
• Para assegurar que a ICPP é feita em tempo oportuno, o tal como nas recomendações para adultos, permitindo a
SEM pode ultrapassar o hospital mais próximo. qualquer pessoa treinada em SBV reanimar crianças com
• O tempo oportuno entre o início da fibrinólise e a primeira um mínimo de informação adicional. Os reanimadores com
insuflação do balão varia de 45 a 180 minutos, dependendo dever de resposta devem aprender e utilizar uma relação
do local do enfarte, idade do doente e duração do sintomas. C/V de 15:2; podem, no entanto, usar a relação de 30:2 se
• Nos casos em que a fibrinólise falha recomenda-se a execu- estiverem sós, particularmente se não conseguirem um nú-
ção de “ICP de recurso”. mero adequado de compressões. Nas paragens por hipóxia
• Desencoraja-se a ICP imediatamente a seguir à fibrinólise a ventilação mantém-se um componente fundamental da
(“ICP facilitada”) por rotina. RCP. Os reanimadores que não querem ou não conseguem
• Os doentes submetidos a fibrinólise eficaz em hospital sem efectuar ventilação boca-a-boca devem ser encorajados a
ICP devem ser encaminhados para angiografia e eventu- fazer, no mínimo, RCP só com compressões.
al ICP, a realizar idealmente 6 – 24h depois da fibrinólise • Deve ser reforçada a necessidade de se conseguir com-
(abordagem “fármaco-invasiva”). pressões correctas, de profundidade adequada e com o
mínimo de interrupções, para minimizar o tempo sem débi-
Em doentes com RCE pós-paragem cardíaca pode haver in- to. Deve comprimir-se o tórax pelo menos 1/3 do diâmetro
dicação para angiografia e, se necessário, ICP, como parte do antero-posterior em todas as crianças (aproximadamente 4
protocolo pós-paragem cardíaca. cm em lactentes e 5 cm em crianças). A necessidade de
• Para concretizar estes objectivos é necessário coordenar os uma descompressão completa após cada compressão deve
SEM e os hospitais com e sem capacidade para ICP. ser realçada. A frequência de compressões deve ser pelo
• As recomendações para uso de beta-bloqueadores são menos de 100 min-1, mas não superior a 120 min-1, quer em
mais restritivas: não há evidência que suporte a utilização lactentes quer em crianças. A técnica de compressão em
de beta-bloqueadores por rotina, a menos que se destinem lactentes inclui compressão com dois dedos para reanima-
a controlar taquidisritmias. Os beta-bloqueadores, em pe- dor único e técnica de abraço com dois polegares para dois
quenas doses, devem ser iniciados só depois de o doente ou mais reanimadores. Para crianças maiores, a técnica de
estar estabilizado. uma ou de duas mãos pode ser usada, dependendo da pre-
• As recomendações para a utilização profilática de antiar- ferência do reanimador.
ritmícos, inibidores da enzima conversora da angiotensina • Os desfibrilhadores automáticos externos (DAEs) são segu-
(IECAS) e inibidores dos receptores da angiotensina (IRAS) ros e eficazes quando usados em crianças com mais de um
não foram alteradas. ano de idade. A energia emitida pelo equipamento é atenua-
da para 50-75 J através da utilização de software próprio ou
pás pediátricas, que devem ser usados para crianças entre
1 e 8 anos. Em crianças com mais de 1 ano de idade pode
ser usado um DAE para adulto sem modificação, se não
Suporte de vida pediátrico estiver disponível um equipamento manualmente ajustável
ou um atenuador de choque. Existem relatos de casos de
As principais alterações no suporte pediátrico de vida, nestas utilização eficaz de DAEs em lactentes com menos de 1 ano
recomendações, incluem8, 17: de idade; nas raras situações de ritmo desfibrilhável num
lactente com menos de 1 ano é aceitável a utilização de um
• Reconhecimento da paragem cardíaca – Os profissionais DAE preferivelmente com atenuador de choque.
de saúde não conseguem determinar de modo fiável, em • Para reduzir o tempo de paragem circulatória durante a
menos de 10 segundos, a presença ou ausência de pulso utilização de um desfibrilhador manual, e se o tamanho da
em lactentes e crianças. Estes profissionais devem procurar criança o permitir, devem manter-se as compressões toráci-
14 Sumário das recomendações
cas enquanto se aplicam e carregam as pás ou placas auto- Nestes casos deve ser usada uma mistura de ar e oxigénio,
-adesivas. Quando o desfibrilhador já está carregado, faz-se cuidadosamente e sob orientação de oximetria de pulso. Se
uma breve pausa nas compressões para administrar o cho- não houver mistura de ar e oxigénio, deve usar-se o que
que. Por uma questão de simplicidade e consistência com estiver disponível.
as orientações para SBV e SAV de adultos, recomenda-se • Os prematuros de menos de 28 semanas de gestação de-
nas crianças uma estratégia de choque único com uma dose vem ser completamente envolvidos até ao pescoço com
fixa de 4 J kg-1 (de preferência bifásico, sendo aceitável o uma película plástica (do tipo usado para conservar alimen-
monofásico). tos) sem serem secos, imediatamente após o nascimento.
• A utilização de tubos traqueais com cuff é segura emlacten- Depois, os cuidados imediatos e estabilização devem ser
tes e crianças pequenas. O tamanho deve ser seleccionado prestados sob uma fonte de calor radiante. Devem ser man-
usando uma fórmula validada. tidos envolvidos nessa película até ser confirmada a tempe-
• A segurança e a utilidade da pressão na cricóide durante a ratura após a admissão na unidade neonatal. A temperatura
entubação traqueal não estão comprovadas. Assim, a apli- da sala de partos para estes prematuros deve ser pelo me-
cação de pressão na cricóide deve ser modificada ou inter- nos de 26ºC.
rompida se dificultar a ventilação, bem como a rapidez ou • A relação compressões/ventilações recomendada para a re-
facilidade da entubação. animação neonatal continua a ser de 3:1.
• A monitorização do dióxido de carbono expirado (CO2), de pre- • Não está recomendada a aspiração de mecónio da boca
ferência por capnografia, é útil para confirmar o correcto posi- e nariz de um bebé ainda não nascido, com a cabeça ain-
cionamento do tubo traqueal e é recomendada para avaliar e da a nível do períneo. Na presença de um recém-nascido
optimizar a qualidade da RCP durante a sua realização. hipotónico e em apneia que nasceu através de mecónio,
• Após o restabelecimento de circulação espontânea, deve é razoável inspeccionar rapidamente a orofaringe e remo-
tactear-se o débito de oxigénio inspirado de modo a reduzir ver eventuais obstruções. Se houver um reanimador com
o risco de hiperóxia. competência adequada, a entubação e aspiração traqueais
• A implementação de sistemas de resposta rápida em am- podem ser úteis. No entanto, se a tentativa de entubação
bientes pediátricos intra-hospitalares pode reduzir as taxas for demasiado prolongada ou não conseguida, deve iniciar-
de paragem cardíaca e respiratória e de mortalidade intra- -se ventilação por máscara, especialmente na presença de
-hospitalar. bradicardia persistente.
• As recomendações 2010 incluem novos tópicos, como cana- • A via intra-venosa (iv) é recomendada se for necessário usar
lopatias, e diversas novas circunstâncias especiais: trauma, adrenalina, na dose de 10-30 micrograma kg-1. Se tiver que
pré e pós-operatório do estadio 1 da cirurgia de Norwood se usar a via traqueal, é provável que seja necessária uma
para correcção de ventrículo único, circulação de Fontan, e dose de pelo menos 50-100 micrograma kg-1 para obter um
hipertensão pulmonar. efeito semelhante a 10 micrograma kg-1 por via iv.
• Para além da avaliação clínica, recomenda-se a detecção
de dióxido de carbono no ar expirado como método mais fiá-
vel para confirmar a colocação correcta de um tubo traqueal
Suporte de vida neonatal em recém-nascidos com circulação espontânea.
• A utilização de hipotermia terapêutica é recomendada, quan-
As principais alterações nas recomendações 2010 para a re- do disponível, em recém-nascidos de termo ou quase-termo
animação do recém-nascido são as seguintes9, 18: com encefalopatia hipoxico-isquémica moderada a grave
em evolução. Esta medida não altera a reanimação imediata
• É agora recomendado um intervalo de pelo menos um minu- mas é importante para os cuidados pós-reanimação.
to até à clampagem do cordão, após o parto, em bebés cli-
nicamente bem. Ainda não existe evidência suficiente para
recomendar a altura ideal para a clampagem do cordão em
bebés que nascem com compromisso clínico significativo. Princípios da formação em reanimação
• A reanimação de recém-nascidos de termo deve ser efectu-
ada com ar ambiente. Se, apesar de uma ventilação eficaz, As questões chave identificadas pelo grupo de trabalho em Edu-
a oxigenação se mantiver inadequada (idealmente avaliada cation, Implementation and Teams (EIT) do International Liaison
por oximetria), deve ponderar-se a utilização de uma con- Committee on Resuscitation (ILCOR) durante o processo de
centração de oxigénio mais elevada. avaliação da evidência para as recomendações 2010 são11,19
• Os recém-nascidos prematuros com menos de 32 semanas
de gestação podem não atingir, apenas com ar ambiente, • As acções de formação devem ser avaliadas para assegurar
as mesmas saturações de oxigénio que os bebés de termo. que atingem consistentemente os objectivos de aprendiza-
Sumário das recomendações 15
gem. O objectivo é assegurar que os formandos adquirem e ções ventriculares (FV) tratadas pelos SEM é de 17 por 100 000
mantêm as competências e os conhecimentos que lhes per- habitantes e que a sobrevida à alta hospitalar é de 10,7% para
mitam actuar correctamente em caso de paragem cardíaca todos os ritmos e 21,2% para as PCR por FV. Dados recentes
e melhorar o prognóstico dos doentes. de 10 locais na América do Norte são notavelmente consistentes
• Há alternativas eficazes aos cursos de suporte básico de com estes números: sobrevida média de 8,4% à alta hospitalar
vida (SBV e DAE) orientados por Instrutores, que incluem nas paragens cardíacas em todos os ritmos, tratadas por SEM
cursos em pequenos vídeos / auto-aprendizagem apoiada e 22% para as FV.23 Há alguma evidência de que a sobrevida
por computador, com apoio mínimo ou mesmo sem Instru- pós-paragem cardíaca a longo prazo vem aumentando.24, 25 Na
tor, associados a sessões práticas. análise do ritmo inicial, cerca de 25-30% das vítimas de PCR-
• O ideal é que todo o cidadão tenha treino em SBV incluindo -PH têm FV, percentagem que baixou nos últimos 20 anos.26-
compressões torácicas e ventilação. Contudo, há circuns- 30
É provável que o número de vítimas com FV ou taquicardia
tâncias em que se justifica treinar apenas compressões (ex. ventricular (TV) no momento do colapso seja muito maior e que
treino de improviso em situações com muito pouco tempo). quando os operacionais do SEM registam o primeiro electrocar-
Os formandos que só foram treinados a fazer apenas com- diograma (ECG) o ritmo tenha deteriorado (evoluído?) para as-
pressões devem ser encorajados a fazer a formação clássi- sistolia.31, 32 Quando o ritmo é registado imediatamente a seguir
ca em SBV. ao colapso, em particular pelos DAE locais, a percentagem de
• Os conhecimentos em SBV e SAV deterioram-se em três a doentes em FV pode ser da ordem dos 59%33 to 65%.34.
seis meses. A avaliação frequente permite identificar os que
necessitam de treino de re-certificação para manter conhe- A incidência de PCR intra-hospitalar relatada é mais variável,
cimentos e competências. anda na ordem das 1-5 por 1000 internamentos.35 Dados re-
• Devem ser considerados na formação de leigos e profis- centes do American Heart Association‘s National Registry of
sionais de saúde equipamentos com capacidade para fazer CPR indicam que a sobrevida à data da alta hospitalar depois
registos e mostrar, de imediato, ao reanimador a qualidade de PCR intra-hospitalar é de 17.6% (todos os ritmos). 36 O ritmo
da reanimaçãa. inicial, em 25% dos casos, é FV ou TV sem pulso dos quais 37%
• A ênfase adicional nas competências não técnicas como li- sobrevive à data da alta hospitalar; Quando o ritmo inicial é ac-
derança, trabalho em equipa, resolução de problemas e co- tividade eléctrica sem pulso ou assistolia só 11.5% sobrevivem
municação estruturada, melhoram o desempenho na RCP e à data da alta hospitalar
os cuidados com o doente.
• As reuniões de equipa para planificação das tentativas de
reanimação e as reuniões para avaliação do desempenho
quer das simulações de treino quer das reanimações reais Consenso Internacional em ciência
ajudam a melhorar o desempenho das equipas e as compe-
tências individuais. cardio-pulmonar
• A investigação disponível sobre o impacto do treino em rea-
nimação e o resultado com doentes é escassa. Contudo, os O International Liaison Committee on Resuscitation (ILCOR)
estudos com manequins são úteis e os investigadores devem inclui representantes da American Heart Association (AHA), do
ser incentivados a estudar e relatar o impacto das intervenções European Resuscitation Council (ERC), do Heart and Stroke
formativas nos resultados verificados com doentes. Foundation do Canada (HSFC), do Australian and New Zealand
Committee on Resuscitation (ANZCOR), Resuscitation Council
of Southern Africa (RCSA), da Inter-American Heart Foundation
(IAHF), e do Resuscitation Council of Asia (RCA). Os investiga-
dores dos conselhos membros do ILCOR avaliam o estado da
Epidemiologia e resultados da para- ciência da reanimação a cada período de 5 anos, desde 2000.
gem cardíaca As conclusões e recomendações da International Consensus
Conference on Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency
A doença cardíaca isquémica é a principal causa de morte no Cardiovascular Care With Treatment Recommendations de
mundo.20 Na Europa, a doença cardiovascular representa cerca 2005 foram publicadas no final de 2005.37, 38 A mais recente
de 40% de todas as mortes antes dos 75 anos.21 A morte súbita International Consensus Conference teve lugar em Dallas em
é responsável por mais de 60% das mortes do adulto por do- Fevereiro de 2010 e as conclusões e recomendações, publica-
ença coronária.22 Dados provenientes de 37 comunidades na das, deste processo constituem a base destas recomendações
Europa indicam que a incidência anual de paragens cardíacas ERC 2010.2
no pré hospitalar (PCR-PH), em todos os ritmos tratadas pelos Cada um dos seis grupos de trabalho ILCOR: suporte básico de
SEM é de 38 por 100 000 habitantes (Atwood, 2005, 75). Com vida (SBV); suporte avançado de vida (SAV); Síndromes coro-
base nestes dados estima-se que a incidência anual de fibrilha- nárias agudas (SCA); suporte de vida Pediátrico (SVP); suporte
16 Sumário das recomendações
A cadeia de sobrevivência
As acções que relacionam a vítima de paragem cardíaca súbita com
a sobrevida constituem a Cadeia de Sobrevivência (Figura 1.1).
Fig. 1.3. Algoritmo da obstrução da via aérea por corpo estranho (sufocação) no adulto. © 2010 ERC.
Tabela 1.1 • Distinção entre obstrução da via aérea por corpo estranho (OVACE) ligeira e gravea
Sinal Obstrução ligeira Obstrução grave
Incapaz de falar,
“Está sufocado?” “Sim”
pode acenar
Não respira / respiração ruidosa / tosse
Outros sinais Consegue falar, tossir e respirar
inaudível / inconsciente
a
Sinais gerais de OVACE: durante alimentação, vítima pode apontar para garganta
Electroterapias: desfibrilhadores automáticos 21
externos, desfibrilhação, cardioversão e pacing5
1. Assegurar que quer a vítima quer os circunstantes estão em precoce e a probabilidade de sobrevida é melhor. Ainda não há
segurança avaliação de programas de DAE em áreas residenciais. A aqui-
2. Seguir a sequência do SBV do adulto: sição de DAE para uso individual domiciliário, mesmo em caso
•S e a vítima não responde e não respira normalmente, mandar de risco elevado de morte súbita, provou não ser eficaz.101
alguém buscar ajuda, procurar e trazer um DAE se disponível;
• Se o reanimador está só, utiliza o telemóvel para alertar o SEM
– só abandona a vítima se não houver nenhuma outra opção Uso hospitalar de DAE
3. Iniciar a reanimação com a sequência de SBV do adulto. Se À data da publicação dos 2010 Consensus on CPR Science Con-
o reanimador está só e tiver acesso a um DAE começa por ference não há dados de estudos aleatorizados publicados com-
aplicar o DAE. parando o uso de desfibrilhadores manuais com a DAE em con-
4. Logo que o DAE esteja disponível: texto intra-hospitalar. Há dois estudos de nível inferior, em adultos
com paragem cardíaca intra-hospitalar e ritmos desfibrilháveis que
• Ligar o DAE, desnudar o peito da vítima e aplicar os eléctrodos
mostram sobrevidas mais elevadas quando a desfibrilhação foi pro-
• Se há mais de um reanimador, um mantém o SBV enquanto
porcionada em contexto de programas de DAE do que quando só
o outro aplica os eléctrodos
há desfibrilhadores manuais.102, 103 Apesar da evidência ainda ser
• Seguir de imediato os comandos verbais/visuais do DAE
limitada a DAE deve ser considerada em contexto hospitalar com
• Garantir que ninguém toca na vítima enquanto o DAE ana-
a intenção de proporcionar desfibrilhação precoce (<3min depois
lisa o ritmo.
do colapso), em particular nas áreas em que os profissionais de
5a. Se o choque estiver indicado: saúde não têm competências especificas no reconhecimento de
• Garantir que ninguém toca na vítima; ritmos ou onde a utilização de desfibrilhadores é rara. Deve incluir
• Ligar o botão de acordo com o comando um programa local e eficaz de treino e retreino.104 O número de
• Reiniciar de imediato o SBV com 30:2; profissionais treinado deve ser o suficiente para que o choque seja
• Prosseguir de acordo com os comandos visuais / de voz aplicado em menos de três minutos depois do colapso em qualquer
5b. Se o choque não estiver indicado: área do hospital. Os hospitais devem monitorizar o tempo colapso-
• Retomar de imediato o SBV com 30 compressões para duas -1ºchoque e os resultados das reanimações tentadas.
ventilações
• Prosseguir de acordo com os comandos visuais / de voz
6. Continuar a seguir os comandos do DAE até:
Choque em modo manual ou semi-automático
• Chegar ajuda profissional que tome conta da situação;
• A vítima dar sinais de estar a despertar: mexer, abrir os olhos Muitos DAE podem operar quer em modo manual quer semi-
e respirar normalmente; -automático, mas são poucos os estudos que comparam estas
• O reanimador ficar exausto. duas opções. Demonstra-se que o modo semi-automático reduz
o tempo para o 1º choque, quer em contexto hospitalar105 quer
pré-hospitalar106 com maior taxa de conversão de FV,106 e menor
Programas de acesso público à desfibrilhação aplicação de choques sem indicação.107 Por outro lado em modo
semi-automático o tempo de compressões torácicas é menor,107,
Os programas de DAE devem ser activamente considerados em 108
principalmente porque o tempo de pausa para análise do ritmo
locais públicos como aeroportos, 52 recintos desportivos, escritórios, é maior. Apesar destas diferenças, na análise global dos dados
casinos 55 aviões, 53 onde a paragem cardíaca é geralmente teste- não há em nenhum dos estudos, 105, 106, 109 diferenças no RCE,
munhada e estão presentes reanimadores treinados. Há progra- sobrevida, percentagem ou altas hospitalares. O modelo de des-
mas de acesso público à DAE com tempos de resposta muito rápi- fibrilhação que proporciona os melhores resultados depende do
dos e há estudos não aleatorizados com polícias e socorristas de sistema implementado, da perícia, treino e capacidade dos rea-
primeira linha,97, 98 que relatam sobrevidas da ordem dos 49%-74%. nimadores para reconhecer ritmos no ECG. A redução da pausa
Ainda não atingimos toda a potencialidade dos DAE, porque pré-choque e do tempo sem compressões torácicas aumenta a
são utilizados preferencialmente em locais públicos e 60-80% perfusão dos órgãos vitais e a probabilidade de RCE.71, 110, 111
das paragens cardíacas ocorrem em casa. O acesso público à Com os desfibrilhadores manuais e com alguns DAE é possível
desfibrilhação (APD) e os programas de DAE para socorristas manter as compressões torácicas durante a carga do desfibri-
de primeira linha podem aumentar o número de vítimas a quem lhador e dessa forma reduzir a pausa pré-choque para menos
é feito SBV e desfibrilhação precoce e por essa via aumentar a de 5 segundos. Os operacionais treinados podem aplicar o cho-
sobrevida das PCR por SCA no pré-hospitalar.99 Dados recentes que em modo manual mas exigem treino frequente de trabalho
de estudos de âmbito nacional nos EUA e Japão 33, 100 mostram em equipa e reconhecimento de ritmos
que quando há acesso a DAE a desfibrilhação é muito mais
Electroterapias: desfibrilhadores automáticos 23
externos, desfibrilhação, cardioversão e pacing5
Desfibrilhação
Análise da forma das ondas da fibrilhação
Um versus uma série de três choques seguidos
É possível prever, com segurança variável, o sucesso da desfi-
brilhação analisando a forma das ondas de fibrilhação.120-139 Se é A interrupção das compressões torácicas reduz a possibilidade
possível identificar a forma das ondas de fibrilhação e o momento de converter a FV noutro ritmo.71 Há estudos que demonstram
ideal para o choque, em estudos prospectivos, deve ser possí- que o tempo sem compressões é significativamente menor nos
vel prevenir a aplicação de choques de alta energia ineficazes e algoritmos com um choque isolado do que nos que têm séries
assim minimizar a lesão do miocárdio. Esta tecnologia está em de três choques seguidos.148 e alguns,149-151 mas nem todos,148,
desenvolvimento e investigação activos, mas a sua sensibilida- 152
sugerem que a estratégia de um só choque tem benefícios
de e especificidade ainda não são suficientes para introduzir, na significativos na mortalidade.
prática clínica, a análise da forma das ondas de desfibrilhação. Quando a desfibrilhação é necessária, deve aplicar-se um só
choque e prosseguir imediatamente com compressões toráci-
cas. Não atrasar a reanimação para analisar o ritmo ou palpar
SBV antes da desfibrilhação pulso depois de aplicar o choque. Manter o SBV (30 compres-
sões: 2 duas ventilações) durante dois minutos até se voltar a
Há vários estudos que analisaram as vantagens de fazer um analisar o ritmo e a dar outro choque (se indicado) (see Section
período de SBV antes da desfibrilhação, em particular nas PCR 4 Advanced Life Support).6
não testemunhadas ou colapsos prolongados sem reanimação. Se a FV / TV surgir durante o cateterismo cardíaco ou no pós-
Da revisão que serviu de base às recomendações de 2005 re- -operatório precoce da cirurgia cardíaca, (altura em que as
sultou a recomendação de que era razoável recomendar aos compressões podem garrar as suturas cardíacas), considerar a
operacionais dos SEM que fizessem 2 minutos de SBV, antes possibilidade de aplicar até três choques antes de iniciar as com-
da desfibrilhação, nas vítimas com colapso longo (>5minutos).140 pressões torácicas (ver na secção 8, em situações especiais). 10
Esta recomendação baseou-se em estudos clínicos que demons- A estratégia dos três choques seguidos também pode ser consi-
traram que quando o tempo de resposta excede os 4-5 minutos, derada se o doente está monitorizado com um desfibrilhador ma-
o RCE, a sobrevida à data da alta hospitalar141, 142 e a sobrevida nual e a PCR é presenciada. Embora não haja dados a suportar
ao ano142, em adultos com FV ou TV em contexto pré-hospitalar a estratégia dos três choques em sequência, é improvável que
24 Electroterapias: desfibrilhadores automáticos
externos, desfibrilhação, cardioversão e pacing5
Monitorização e reconhecimento
1. Sumário das Recomendações do doente em risco
2. Suporte Básico de Vida do Adulto e utilização de
desfibrilhadores automáticos externos4 Para reconhecer precocemente o doente em risco de vida, cada do-
3. Electroterapias: desfibrilhadores automáticos ex- ente deve ter um plano de monitorização de sinais vitais que explicite
ternos, desfibrilhação, cardioversão e pacing5 as variáveis a monitorizar e a frequência com que devem ser ava-
4. Suporte Avançado de Vida do Adulto6 liadas.192 Muitos hospitais utilizam escalas de alerta ou critérios de
5. Abordagem inicial das síndromes coronárias7 activação precoce para identificar a necessidade de escalar a moni-
6. Suporte de vida pediátrico8 torização ou pedir ajuda especializada (“reconhecer e activar”).193-197
7. Suporte de Vida neo-natal 9
8. Paragem cardíaca em situações especiais: alte-
rações electrolíticas, envenenamentos, afoga- A resposta ao doente em risco de vida
mento, hipotermia acidental, hipertermia, asma,
A resposta ao doente que está em risco de vida ou que pode
anafilaxia, cirurgia cardíaca, trauma, gravidez,
vir a estar em risco de vida é dada, geralmente, pelas equipas
electrocussão10
de emergência médica (EEM / MET), equipas de resposta rá-
9. Princípios da formação em reanimação11 pida (ERR /RRT), ou equipas de cuidados intensivos externas
1. A ética da reanimação e as decisões de fim-de- (ECIE/CCOT).198-200 Estas equipas coexistem ou substituem as
-vida12 tradicionais equipas de PCR, que respondem tipicamente aos
doentes em PCR. As MET/RRT geralmente são compostas por
médicos e enfermeiros das enfermarias de cuidados intensi-
Suporte avançado de vida do adulto vos ou medicina e são activados por critérios pré-definidos. Os
CCOT são constituídos predominantemente por enfermeiros a
título individual ou em equipa.201 Uma meta-análise recente de-
Prevenção da PCR intra-hospitalar
monstrou que os sistemas de RRT/MET estavam associados
à redução das taxas de PCR fora das UCI, mas não se asso-
O primeiro elo da cadeia de sobrevivência é o reconhecimento
ciavam à redução da mortalidade hospitalar.202 As equipas de
precoce do doente em risco e a prevenção da PCR.180 A per-
emergência têm um papel da maior importância na melhoria dos
centagem de doentes que tem alta para o domicílio, pós-PCR
cuidados de fim-de-vida e na implementação das DNTR (Deci-
intra-hospitalar, é inferior a 20%.36, 181, 182 A prevenção da PCR
sões de Não Tentar Reanimar), que, pelo menos, contribuem
intra-hospitalar exige formação dos profissionais, monitorização
para a redução das taxas de PCR.203-206
dos doentes, um sistema de alarme para pedir ajuda e capaci-
dade para responder com ajuda eficaz.183
Recomendações para a prevenção da PCR
intra-hospitalar
O problema
Os Hospitais devem implementar sistemas de resposta que in-
A PCR nas enfermarias sem monitorização, geralmente não ocorre cluam:
como acidente súbito e imprevisto nem é habitualmente causada por (a) profissionais treinados no reconhecimento dos sinais de
doença cardíaca primária.184 Estes doentes têm geralmente deterio- deterioração do doente e na resposta rápida ao doente
ração fisiológica lenta e progressiva, com hipóxia e hipotensão que em risco,
não é detectada pelos profissionais ou é reconhecida mas insuficien- (b) monitorização regular e apropriada dos sinais vitais
temente tratada.185-187 Muitos destes doentes têm PCR não monito- (c) orientações claras (ex: linha de chamada de emergência
rizadas, o ritmo cardíaco subjacente é, geralmente, não desfibrilhá- ou índices de alerta precoce) para ajudar os profissionais
vel;182, 188 e a sobrevida à data da alta hospitalar é baixa.36, 181, 188 a detectar precocemente o doente que deteriora,
(d) um modelo claro e uniforme de pedido de ajuda e
(e) capacidade para responder de imediato e com eficácia
Formação em Urgência / Emergência aos pedidos de ajuda.183
A formação dos profissionais é uma componente essencial da im- Neste contexto as estratégias que podem prevenir a PCR intra-
plementação dos sistemas de prevenção da PCR.189 Num estudo -hospitalar evitáveis, são:
australiano, a melhoria da taxa hospitalar de PCR ocorreu, virtu- 1. Tratar os doentes em risco de vida ou em risco de deterio-
almente toda, na fase de formação e implementação do sistema ração em área apropriada com nível de cuidados propor-
da equipa de emergência médica.190, 191 cionais à gravidade da doença.
26 Suporte Avançado de
Vida do Adulto6
Fig. 1.5. Algoritmo da abordagem inicial da paragem cardíaca intra-hospitalar. © 2010 ERC.
2. O doente em estado crítico necessita de observações regu- cácia aos apelos do sistema de reconhecimento/alerta da
lares: cada doente deve ter um plano de monitorização dos instituição. Tem de estar disponível 24h/dia. A equipa deve
sinais vitais que inclua variáveis a monitorizar e respectiva ser composta por operacionais com formação em cuidados
periodicidade, em função do estado do doente e do risco com o doente em estado crítico.
de deterioração ou até PCR. A literatura mais recente su- 7. Treinar todo o pessoal clínico em reconhecimento, monito-
gere a monitorização de variáveis facilmente acedíveis em rização e abordagem do doente em estado crítico. Incluir
qualquer ambiente hospitalar incluindo pulso, pressão arte- recomendações sobre procedimentos clínicos enquanto
rial sistémica, frequência respiratória, nível da consciência, se aguarda a chegada de pessoal com mais experiência.
temperatura corporal e oximetria de pulso.192, 207 Garantir que cada um sabe o papel que lhe cabe na equipa
3. Utilizar sistemas de reconhecimento / alerta (quer chaman- de emergência.
do por ajuda, quer utilizando critérios de reconhecimento 8. Os hospitais devem incentivar todos os profissionais a pe-
precoce) para identificar doentes em risco de deterioração dir ajuda sempre que reconheçam um doente em risco de
clínica ou até PCR. deterioração ou até de PCR. Devem ser treinados em co-
4. Utilizar tabelas que permitam o registo e observação fácil e municação estruturada (SEAR: Situação – Enquadramen-
regular dos sinais vitais e dos critérios de reconhecimento to – Avaliação – Recomendações)208, com a intenção de
precoce assegurar articulação eficaz entre médicos, enfermeiros e
5. Definir políticas claras e explícitas a exigir resposta clínica os outros profissionais de saúde
à deterioração fisiológica baseada no sistema de reconhe- 9. Identificar os doentes em quem a morte é esperada e por isso
cimento/alerta utilizado. Devem-se estabelecer recomenda- não há indicação para reanimar em caso de PCR bem como
ções relativas aos procedimentos clínicos subsequentes e às os doentes que não desejam ser reanimados. Os hospitais
responsabilidades médicas e de enfermagem específicas. devem ter uma política de DNR clara, articulada com as reco-
6. O hospital deve ter um sistema de resposta à emergência mendações nacionais e compreendida por todos os clínicos.
claramente identificado. São admissíveis diferentes mode- 10.Auditar adequadamente todas as PCR, “falsas paragens” mor-
los, desde que respondam em tempo oportuno e com efi- tes inesperadas e internamentos na UCI não antecipados pelos
Suporte Avançado de 27
Vida do Adulto6
dados do processo clínico. Auditar igualmente os antecedentes -variabilidade de decisões e todas as recomendações devem
e a resposta clínica a cada um destes acontecimentos ser validadas prospectivamente.
a monitorização por capnografia para confirmar e monitorizar a da equipa” deve monitorizar a qualidade da reanimação e
posição do tubo traqueal (se houver débito cardíaco). rodar os operacionais se a qualidade da reanimação não for
a adequada.
• Programar um tempo inspiratório de 1 segundo e o volume
corrente que produza uma expansão do tórax normal. Adi- A monitorização contínua do CO2TE (CO2Tele-Expiratório) pode
cionar O2 suplementar logo que possível. ser utilizada como indicador da qualidade da reanimação, apesar
• Logo que tenha sido colocada uma via aérea supra-glótica de não haver um valor alvo definido para CO2TE durante a reani-
ou feita a entubação traqueal manter as compressões torá- mação. Aceita-se que valores da CO2TE inferiores a 10mmHg se
cicas sem interrupção (interrompendo só para desfibrilhar e associam a menor probabilidade de RCE e podem indicar que a
pesquisar pulso quando indicado) com uma frequência de qualidade das compressões torácicas precisa de ser melhorada.
100 min-1, e ventilar a 10 min-1. Evitar hiperventilação (quer Sempre que possível a pessoa que faz compressões torácicas
por excesso de frequência e/ou volume corrente) porque deve ser substituída cada 2min, sem interromper as compressões.
pode piorar o prognóstico.
• Se não há adjuvantes para a ventilação considerar a ventilação
boca-a-boca. Se há razões clínicas para evitar a ventilação bo- Algoritmo de tratamento em SAV
ca-a-boca ou o operacional não quer ou não é capaz de o fazer,
fazer compressões torácicas eficazes até à chegada da ajuda. Apesar do algoritmo de SAV (Fig. 1.6) se aplicar a todas as
• À chegada do desfibrilhador, aplicar as pás e analisar o ritmo. situações de PCR, há intervenções adicionais que se justificam
Se existirem pás auto-adesivas, aplicá-las sem interromper nas PCR em circunstâncias especiais (ver Secção 8).10 As in-
as compressões torácicas. As pás do desfibrilhador ou as tervenções que contribuem seguramente para salvar vidas das
auto-adesivas permitem identificar o ritmo mais rapidamente vítimas de PCR são: SBV imediato e eficaz, manutenção de
do que com a colocação de eléctrodos, sem interromper as compressões torácicas ininterruptas e de elevada qualidade
compressões torácicas.222 e a desfibrilhação precoce nas FV/TV. A Adrenalina aumenta
• Quando se utilizam desfibrilhadores manuais fazer uma pausa a probabilidade de RCE, mas não há nenhuma prova de que
breve para identificar o ritmo, se for FV/TV accionar a carga qualquer outro medicamento ou intervenção avançada sobre a
enquanto outro reanimador mantém as compressões torácicas. via aérea melhore a sobrevida das vítimas de PCR à data da
alta hospitalar.226-229 Por isso apesar do uso de medicamentos
Quando o desfibrilhador estiver carregado, interromper as compres- e intervenções avançadas na via aérea estarem incluídas no
sões torácicas, assegurar que toda a equipa está afastada da vítima SAV, têm importância secundária à desfibrilhação precoce e às
e aplicar o choque. Com DAE seguir os comandos verbais e visuais compressões torácicas ininterruptas e de elevada qualidade.
Como nas recomendações anteriores, o algoritmo de SAV dis-
• Reiniciar compressões imediatamente a seguir à tentativa
tingue ritmos desfibrilháveis de ritmos não desfibrilháveis. Os
de desfibrilhação
ciclos são genericamente iguais, com um período de SBV de 2
• Minimizar as interrupções nas compressões torácicas. Com
minutos, antes de avaliar o ritmo e, quando indicado, avaliar o
desfibrilhadores manuais pode-se reduzir o tempo de pausa
pulso. Quando indicada, a adrenalina é administrada na dose
nas compressões a menos de 5 segundos.
de 1mg a intervalos de 3-5min, até se conseguir o RCE – o
• Manter a reanimação até à chegada da equipa de emer-
momento para administrar a adrenalina é descrito na Fig 1.6
gência ou até o doente apresentar sinais de vida. Com DAE
seguir os comandos verbais e visuais. Com desfibrilhador
manual seguir o algoritmo universal de SAV
Ritmos desfibrilháveis (fibrilhação ventricular
• Iniciada a reanimação e desde que haja operacionais sufi-
cientes, canular uma veia e preparar os medicamentos que
/ taquicardia ventricular sem pulso)
podem ser necessários na reanimação (ex: adrenalina).
A FV/TV é o primeiro ritmo monitorizado em cerca de 25% dos
• Designar a pessoa responsável por passar a informação
casos de PCR quer no hospital.36, quer no pré-hospitalar.24, 25, 146
clínica ao “líder da equipa”. Utilizar um modelo de comuni-
Durante a reanimação de ritmos que inicialmente eram assis-
cação estruturado (ex: SBAR, RSVP).208, 223
tolias ou AEsP também surgem FV/TV em cerca de 25% dos
• Localizar o processo do doente.
casos. Confirmada a PCR, feito o pedido de ajuda e do desfi-
• A qualidade das compressões torácicas na reanimação intra-
brilhador, iniciar SBV com compressões torácicas / ventilações
-hospitalar é muitas vezes sub-ótpima.224, 225 Nunca é demais
sublinhar a importância das compressões torácicas contínu- numa relação de 30:2.
as. Mesmo as pequenas interrupções têm consequências Quando o desfibrilhador chega manter compressões torácicas
desastrosas nos resultados e todos os esforços devem ser enquanto de aplicam as pás ou os eléctrodos.
concentrados em manter compressões eficazes, sem inter- • Se o ritmo é FV/TV accionar a carga do desfibrilhador enquan-
rupções e durante todo o processo da reanimação. O “líder to outro operador mantém as compressões torácicas.
Suporte Avançado de 29
Vida do Adulto6
Quando a carga está completa, parar as compressões, con- ainda mais o miocárdio se ainda não estiver estabelecida
firmar rapidamente se todas as pessoas estão afastadas da circulação eficaz.
vítima e aplicar um choque (360-J monofásicos ou 150–200 J • Manter SBV 2minutos e depois fazer pausa breve para ava-
bifásicos). liar o ritmo; se a FV/TV persiste aplicar um novo choque
• Reduzir ao mínimo a pausa entre o fim das compressões e a (360-J monofásicos ou 150–360 J bifásicos). Retomar de
aplicação do choque (pausa pré-choque); mesmo 5-10 segundos imediato SBV (30:2) começando pelas compressões toráci-
de atraso reduzem a probabilidade do choque ser eficaz.71, 110 cas, sem avaliar o ritmo nem pesquisar o pulso
• Retomar de imediato SBV (30:2) começando pelas compres- • Manter SBV 2minutos e fazer pausa breve para avaliar o
sões torácicas eficazes, sem avaliar o ritmo nem pesquisar ritmo; se a FV/TV persiste aplicar um 3º choque (360-J mo-
o pulso. Mesmo que a desfibrilhação tenha restabelecimen- nofásicos ou 150–360 J bifásicos). Retomar de imediato
to um ritmo com circulação eficaz decorre algum tempo até SBV (30:2) começando pelas compressões torácicas, sem
que a perfusão seja adequada230 e é muito raro que o pulso avaliar o ritmo nem pesquisar o pulso
seja palpável de imediato a seguir à desfibrilhação.231 Além • Se já estiver colocado acesso ev /io, administrar adrena-
disso o tempo gasto a tentar palpar o pulso compromete lina 1mg e amiodarona 300mg, logo que as compressões
30 Suporte Avançado de
Vida do Adulto6
tenham sido retomadas. Se não se conseguiu RCE com o 3º Ts) que se estiverem presentes devem ser corrigidas. Confirmar
choque a adrenalina contribui para a perfusão do miocárdio os contactos e posição dos eléctrodos / pás de desfibrilhação e
e aumenta a probabilidade de sucesso do choque seguinte. gel de contacto.
Em estudo animais, o pico de concentração da adrenalina A entubação traqueal é a melhor e mais eficaz das formas de
ocorre cerca de 90 segundos depois da administração pe- assegurar a via aérea, mas só deve ser tentada por operacio-
riférica.233 nais treinados, com experiência regular e continuada nesta téc-
• Caso se tenha conseguido o RCE é possível que o bolus nica. Os operacionais experientes devem tentar a laringoscopia
de adrenalina provoque taquicardia e hipertensão e preci- e entubação traqueal sem interromper as compressões toráci-
pite a recorrência da FV. Contudo, imediatamente a seguir cas, podendo ser necessária uma breve pausa (que não deve
ao RCE as concentrações plasmáticas de adrenalina são exceder os 10seg) para fazer passar o tubo pelas cordas vo-
elevadas, 234 e não há estudos que documentem a possibili- cais. Em alternativa a entubação traqueal pode ser diferida até
dade de dano adicional. A interrupção das compressões, a ao RCE, para que não haja interrupções nas compressões torá-
meio do ciclo, para pesquisar pulso é igualmente prejudicial. cicas. Não há nenhum estudo que demonstre que a entubação
A capnografia pode permitir detectar o RCE sem parar as traqueal melhora a sobrevida pós PCR. Depois da entubação
compressões e poderia ser uma estratégia para evitar a ad- confirmar a posição do tubo traqueal e fixá-lo. Nos doentes com
ministração de bolus de adrenalina nos doente já com RCE. entubação traqueal as compressões torácicas devem ser contí-
Há dois estudos prospectivos em humanos que demons- nuas com uma frequência de 100 min-1 sem pausa para ventilar.
tram um aumento significativo do CO2TE com o RCE.235, 236
• Ao fim do ciclo de 2min de SBV se o ritmo passou a assisto- Na ausência de peritos na entubação traqueal é aceitável como
lias ou AEsP ver algoritmo dos ritmos “não desfibrilháveis”. alternativa a colocação de um dispositivo da via aérea supra-
Se o ritmo é não desfibrilhável e organizado (complexos -glótico (ex. máscara laríngea) (Secção 4e). Com o dispositivo
regulares e estreitos) pesquisar pulso. A pesquisa de pulso da via aérea supra-glótico colocado tentar manter as compres-
deve ser breve e só deve ser tentada se existir um ritmo or- sões em contínuo, sem interromper para ventilar. Se a fuga de
ganizado. Desde que haja dúvidas sobre a existência de pul- ar na insuflação for excessiva e resultar em ventilação insufi-
so, mesmo com ritmo organizado, retomar as compressões ciente ter-se-ão de interromper as compressões torácicas du-
torácicas. Se há RCE iniciar os cuidados pós-reanimação. rante a insuflação (30:2).
Até haver RCE administrar adrenalina na dose de 1mg cada
3-5min, independentemente do ritmo, na prática será uma admi-
nistração a cada dois ciclos de 2min de SBV. Se a vítima exibe Acessos intravasculares
sinais de vida (movimentos voluntários, tosse, respiração normal)
confirmar o ritmo; se existir ritmo organizado pesquisar pulso. Se Se não estiver assegurado um acesso ev, estabelecer um. A ca-
há pulso continuar com os cuidados pós-reanimação. Se não há teterização de veias periféricas é mais rápida, fácil e segura do
pulso manter SBV. Manter SBV numa relação de 30:2 é cansati- que a cateterização central. Os fármacos administrados por via
vo pelo que o membro da equipa que faz compressões torácicas periférica devem ser seguidos de bólus de 20mL de soro. Se a
deve rodar cada 2min, sem interromper as compressões. colocação de acesso ev for difícil, considerar a possibilidade de
colocar acesso intra-ósseo (IO). Os fármacos administrados por
Murro pré-cordial via io chegam ao plasma em dose e tempo comparável ao que
se passa quando administrados por acesso venoso central.242
A probabilidade de um murro pré-cordial reverter um ritmo des- Os sistemas mecânicos de colocação de acesso IO facilitam a
fibrilhável é muito baixa 237-239 e a probabilidade de sucesso execução da técnica.243
limita-se aos primeiros segundos a seguir à instalação do ritmo As concentrações plasmáticas dos fármacos administrados por
desfibrilhável.240 O sucesso é maior com a TVsP do que com a tubo traqueal são imprevisíveis e as doses óptimas são desco-
FV. A aplicação do murro pré-cordial não deve atrasar o pedido nhecidas, pelo que deixou de se recomendar a administração
do desfibrilhador. O murro pré-cordial só tem indicação na PCR de qualquer fármaco por via traqueal.
testemunhada em doente monitorizado, se estiverem presente
vários operacionais e se não existir desfibrilhador à mão de ime-
diato.241 Na prática é improvável que se reúnam estas condições Fármacos
a não ser em ambiente de sala de emergência ou UCI.239
Adrenalina
Via aérea e ventilação
Apesar da utilização generalizada de adrenalina na reanimação
Durante o tratamento da FV assegurar compressões torácicas e dos vários estudos utilizando a vasopressina, não há nenhum
de elevada qualidade, entre as tentativas de desfibrilhação. estudo controlado com placebo que demonstre que a utilização
Considerar as situações potencialmente reversíveis (4 Hs e 4 de qualquer vasopressor em qualquer fase da reanimação por
Suporte Avançado de 31
Vida do Adulto6
PCR melhore a sobrevida com estado neurológico intacto à data corrigidas. A sobrevida da vítima com AEsP ou com assistolia
da alta hospitalar. Apesar da ausência de dados em humanos a é improvável a menos que se identifique uma situação reversí-
adrenalina continua a ser recomendada com base em dados de vel, com possibilidade de tratamento eficaz. Se o ritmo inicial é
estudos com animais e discreto aumento de sobrevida no cur- AEsP ou assistolia, iniciar SBV (30:2) e administrar adrenalina
to prazo em humanos.227, 228 Desconhece-se a dose óptima de logo que haja acesso venoso. Se o diagnóstico for assistolia
adrenalina e não há dados que suportem a utilização de doses confirmar, se todas as conexões estão bem ligadas, sem inter-
repetidas. Há poucos dados da farmacocinética da adrenalina du- romper o SBV. Quando se coloca uma via aérea avançada, as
rante a reanimação. Desconhece-se igualmente qual a duração compressões passam a ser contínuas sem pausa para ventilar.
da reanimação e número de choques que devem preceder a ad- Ao fim de 2min verificar o ritmo. Se é assistolia retomar SBV
ministração de fármacos. Não há evidência suficiente que suporte de imediato. Se o ritmo é organizado pesquisar pulso. Se não
ou refute a utilização de qualquer vasopressor, em associação ou há pulso (ou se há dúvidas sobre a presença de pulso) retomar
alternativa à adrenalina, quando se avalia em qualquer ritmo de SBV de imediato. Administrar adrenalina 1mg ev/io em ciclos
paragem a sobrevida ou o resultado neurológico. Tendo por base alternados (cada 3-5min) logo que haja acesso venoso: Se hou-
um consenso de peritos recomenda-se a administração de adre- ver pulso iniciar cuidados pós-reanimação. Se durante a reani-
nalina 1mg ev, depois do 3º choque e depois de reiniciadas as mação surgirem sinais de vida, avaliar ritmo e pesquisar pulso
compressões torácicas, a repetir cada 3-5min (ciclos alternados), Se durante o tratamento da assistolia ou AEsP, a seguir a um
sem interrupção das compressões torácicas. ciclo de 2min de SBV, o ritmo alterar para FV, seguir o algo-
ritmo dos ritmos desfibrilháveis. Caso contrário manter SBV e
Fármacos anti-arrítmicos
administrar adrenalina cada 3-5min. Se, entre dois ciclos, surgir
Não há evidência de que a administração de qualquer anti-arrít- no monitor um traçado de FV, manter o SBV até completar os
mico, por rotina, na PCR em humanos tenha qualquer influência dois minutes, avaliar o ritmo e proceder em conformidade, incluin-
no resultado à data da alta hospitalar. A amiodarona melhora o do desfibrilhar se indicado – para minimizar as interrupções nas
prognóstico de curto prazo à admissão hospitalar na FV refrac- compressões torácicas
tária ao choque, em comparação com placebo, 244 e com a lido-
caína, 245. Com base no consenso de peritos recomenda-se a Atropina
administração de 300mg de amiodarona ev, em bólus se a FV / A assistolia durante a PCR é geralmente causada por patologia
TV persiste após três choques. Em caso de FV/TV refractária ou miocárdica primária e não por excesso de estimulação vagal,
recorrente poder-se-ão administrar mais 150mg de amiodarona não havendo evidência de que a atropina seja benéfica no trata-
seguida de mais 900mg em perfusão ev nas 24h seguintes. A li- mento da assistolia nem da AEsP. Há estudos recentes que não
docaína, na dose de 1mg/Kg-1, pode ser utilizada em alternativa demonstraram qualquer benefício na utilização da atropina quer
quando não há amiodarona disponível. Não administrar Lidoca- na PCR pré-hospitalar quer hospitalar;226, 251-256 e já não se reco-
ína aos doentes a quem já tenha sido administrada amiodarona. menda o uso de atropina por rotina na assistolia nem na AEsP.
Magnésio
O magnésio utilizado por rotina em contexto de PCR não aumenta a Causas potencialmente reversíveis
sobrevida.246-250 e não está recomendado no tratamento da PCR a não
ser em caso de “torsade de pointes” (ver disritmias peri-paragem). Durante a reanimação deve-se considerar a possibilidade de
existirem causas de PCR ou factores agravantes para os quais
Bicarbonato
há tratamento específico. Por facilidade de memorização divi-
Não se recomenda a administração, por rotina, de bicarbonato dem-se esses factores agravantes em dois grupos de quatro
durante a reanimação por PCR nem depois do RCE. Em caso intitulados 4H ou 4T. Ver detalhes na secção 8.10
de PCR associada a hiperkaliémia e/ou intoxicação por anti-
-depressores tricíclicos administrar 50mmol de bicarbonato de Fibrinólise durante a reanimação
sódio, eventualmente a repetir em função da evolução analítica.
Não se deve utilizar, por rotina, fibrinólise na reanimação.257
Considerar a fibrinólise se a PCR foi provocada por embolia
Ritmos não desfibrilháveis (assistolia e AEsP pulmonar documentada ou suspeita. Há relatos de boa recupe-
– actividade eléctrica sem pulso) ração neurológica de doentes, em PCR, submetidos a fibrinólise
por embolia pulmonar aguda que fizeram mais de 60 minutos
A actividade eléctrica sem pulso (AEsP) define-se como PCR de reanimação. Quando se faz fibrinólise considerar a manu-
com actividade eléctrica que normalmente se associa a pulso tenção da reanimação 60-90min antes de terminar a tentativa
palpável. A AEsP está frequentemente associada a situações de reanimação.258, 259 Não há contra-indicação para continuar a
reversíveis que podem ser tratadas se forem identificadas e reanimação depois da administração de fibrinolíticos.
32 Suporte Avançado de
Vida do Adulto6
por rotina de técnicas primárias e secundárias para confirmação Sistema de controlo por impedância
da posição do tubo reduzem esse risco. A avaliação primária
inclui a observação da expansão torácica bilateral e simétrica, O sistema de controlo por impedância é uma válvula que limita
a auscultação pulmonar ao nível das axilas (sons pulmonares a entrada de ar nos pulmões, na fase de retracção entre com-
simétricos) e do epigastro (não se devem ouvir sons de insu- pressões; diminui a pressão intra-torácica e aumenta o retorno
flação). A avaliação clínica da posição do tubo não é totalmente venoso ao coração.
fiável. A confirmação secundária pela detecção do CO2 no ar Há uma meta-análise recente que conclui que aumenta o RCE e
exalado ou os sistemas esofágicos de detecção devem reduzir a sobrevida a curto prazo, mas não melhora significativamente
o risco de entubação esofágica não detectada. O desempenho a sobrevida à data da alta nem o estado neurológico intacto à
destes equipamentos varia consideravelmente e nenhum deles data da alta quando utilizada em adultos com PCR pré-hospita-
pode ser considerado mais do que um adjuvante a necessitar lar.290 Na ausência de dados que demonstrem que o sistema de
de outras técnicas confirmatórias. 284 Nenhuma destas técnicas controlo por impedância melhora a sobrevida à data da alta não
secundárias distingue a entubação de um brônquio principal da se recomenda a sua utilização por rotina.
entubação traqueal correcta.
A fiabilidade dos detectores colorimétricos de CO2, dos siste-
mas de detecção esofágica e dos capnómetros de curva não Sistema de reanimação por PCR da
é superior à da auscultação e observação directa da expansão Universidade de Lund (LUCAS)
torácica na confirmação da posição do tubo traqueal durante
a reanimação por PCR. A capnografia com curva é o método O sistema de reanimação por PCR da Universidade de Lund
mais sensível e específico para confirmar e monitorizar em con- (LUCAS - Lund University cardiac arrest system) é um apare-
tínuo a posição do tubo traqueal nas vítimas de PCR e deve lho de compressão esternal accionado a gás, dotado de uma
complementar a avaliação clínica (auscultação e visualização campânula de sucção para descompressão activa. Apesar de
através das cordas vocais). Os monitores portáteis tornam a haver estudos em animais que demonstram que o SBV-LUCAS
capnografia, para diagnóstico inicial e monitorização da posição melhora a hemodinâmica e a sobrevida a curto prazo quando
do tubo traqueal, acessível em todos os contextos em que se comparado com SBV clássico.291, 292 não há estudos aleatori-
faz entubação, incluindo o pré, o intra-hospitalar e emergência. zados em humanos a comparar a reanimação-LUCAS com a
Na ausência de capnografia de onda é preferível assegurar a reanimação clássica
via aérea avançada com um adjuvante supraglótico.
O SBV clássico, quando muito assegura cerca de 30% da perfu- A cinta de distribuição de pressão (AutoPulse) é um adjuvan-
são cerebral e coronária normais.285 Há técnicas e equipamen- te de compressão torácica, circunferencial, composto por uma
tos que podem melhorar a hemodinâmica e a sobrevida a curto cinta constritora pneumática e um plano duro dorsal. Apesar
prazo, quando utilizados por operadores experientes, em casos de melhorar a hemodinâmica,293-295 os resultados dos estudos
seleccionados. Contudo, o sucesso de qualquer das técnicas de clínicos são contraditórios. Um estudo multicêntrico aleatoriza-
reanimação depende do treino e formação dos reanimadores e do e controlado com 1000 adultos, não evidenciou melhoria na
dos recursos disponíveis (incluindo pessoal). As novas técnicas sobrevida às 4h e os resultados neurológicos, quando a reani-
e os adjuvantes podem ser melhores do que o SBV clássico mação foi feita pelos operacionais do SEM em PCR primária e
quando utilizados por alguns grupos. Contudo os equipamentos pré-hospitalar, foram piores.296 Há um estudo não aleatorizado,
que se revelaram eficazes com equipas altamente treinadas ou em humanos, que relata aumento de sobrevida à data da alta
em condições de teste, quando testados em situações clínicas em PCR pré-hospitalar.297
não controladas, podem provocar interrupções frequentes.286
Há adjuvantes da circulação que têm sido utilizados quer no
pré-hospitalar quer no intra-hospitalar, se bem que, actualmen- Estado da arte referente ao LUCAS e AutoPulse
te, nenhum deles seja recomendado para utilização por rotina.
É prudente que os operacionais sejam bem treinados e que Estão, em curso, dois grandes estudos multicêntricos, para
quando se utilizam adjuvantes da circulação se implementem avaliação do sistema de reanimação por PCR da Universidade
programas de avaliação contínua que assegurem que a sobre- de Lund (LUCAS) e da cinta de distribuição de pressão (Auto-
vida não é afectada negativamente. Apesar de as compressões Pulse). Aguardam-se os resultados com interesse. Em contexto
torácicas serem frequentemente de má qualidade,287-289 nenhum hospitalar utilizam-se equipamentos mecânicos para suporte da
adjuvante demonstrou ser superior ao SBV clássico. circulação em doente a ser submetidos a intervenções coroná-
34 Suporte Avançado de
Vida do Adulto6
rias primárias (ICP) 298, 299, a tomografias computorizadas300 e 1. Choque – manifestando-se por palidez, sudação, extremi-
ainda a tentativas de reanimação prolongadas(ex hipotermia,301, dades frias e suadas (aumento da actividade adrenérgica),
302
intoxicações, trombólise por embolia pulmonar, transporte alterações da consciência (redução da perfusão cerebral)
prolongados etc) casos em que a fadiga do reanimador pode e hipotensão (sistólica <90mmHg).
comprometer a eficácias das compressões torácicas. Em con- 2. Síncope – perda de consciência em resultado da hipoper-
texto pré-hospitalar, esses equipamentos mecânicos podem ser fusão cerebral
muito úteis em casos de encarceramento, com espaço limitado 3. Insuficiência cardíaca – as disritmias comprometem a efi-
para fazer compressões torácicas eficazes. No transporte pré- cácia do miocárdio por reduzirem a perfusão coronária.
-hospitalar as compressões torácicas são habitualmente de má Nas situações agudas pode-se manifestar por edema pul-
qualidade e as compressões mecânicas podem ser uma opor- monar (falência esquerda) e/ou turgescência da jugular e
tunidade para manter SBV de boa qualidade durante a transfe- congestão hepática (falência direita).
rência por ambulância.303, 304 Os equipamentos mecânicos têm
4. Isquémia do miocárdio – que ocorre quando o consumo de
ainda a vantagem de permitir desfibrilhar sem interromper as
O2 excede o fornecimento. Pode-se apresentar como dor
compressões. O papel dos equipamentos mecânicos em todas
torácica (angina) ou sem dor, só com alterações no ECG
as situações requer mais avaliação.
(isquémia silenciosa). A presença de isquémia do miocárdio
é particularmente importante quando há doença coronária
subjacente ou doença cardíaca estrutural, porque pode as-
sociar-se a complicações com risco de vida incluindo a PCR.
Disrtimias péri-paragem
Opções de tratamento
A identificação e tratamento correctos das disritmias peri-para-
gem no doente em estado crítico, podem prevenir a PCR e sua Conhecido o ritmo e avaliada a presença ou ausência de sinais
recorrência se a reanimação inicial foi sucedida. Os algoritmos de gravidade, as opções de tratamento dividem-se em:
devem permitir que um operacional SAV, não especialista, trate
o doente, numa emergência, com segurança e eficácia. Se o 1. Eléctricas (cardioversão, pacing)
doente não estiver em estado crítico há alternativas a conside-
2. Farmacológicas (anti-arrítmicos (e outros) fármacos)
rar (PO ou parentéricas) que são menos familiares ao não peri-
to. Nestes casos há oportunidade para obter ajuda de um car-
diologista ou de um médico sénior com qualificação adequada.
Taquicardias
A abordagem e tratamento inicial do doente com taquidisritmia
deve seguir a sequência ABCDE. Os elementos chave nesta Se o doente estiver instável
abordagem incluem: reconhecer os sinais de gravidade, admi-
nistrar O2 em alta concentração, assegurar uma cesso venoso,
Se o doente está instável, a deteriorar, com qualquer dos sinais
monitorizar (ECG, pressão arterial, SpO2). Sempre que possível
e sintomas de gravidade, descritos atrás, causados pela disrit-
fazer ECG de 12 derivações, que ajuda a caracterizar o ritmo
mia, tentar de imediato a cardioversão sincronizada (Fig 1.7).
quer antes quer depois da intervenção. Corrigir as alterações
No doente com coração normal é excepcional que haja sinto-
electrolíticas (ex: K+, Mg2+, Ca2+). Ao planear o tratamento consi-
mas quando a frequência cardíaca é <150min-1. Se a função
derar a causa e contexto da disritmia.
cardíaca está comprometida e /ou há co-morbilidades associa-
Na avaliação e tratamento de todas as disritmias equacionar das, pode ficar sintomático e instável com frequências inferio-
dois factores: a condição do doente (estável ou instável) e a res. Se a cardioversão falhar a conversão para ritmo sinusal e o
natureza da disritmia. Na conversão das disritmias em ritmo doente se mantiver instável, administrar amiodarona 300mg ev,
sinusal, os anti-arrítmicos são mais lentos a actuar e menos fiá- em 10-20 minutos, e tentar nova cardioversão eléctrica.
veis que o choque eléctrico, por isso os fármacos tendem a ser À dose inicial de carga da amiodarona deve seguir-se uma per-
reservados para os doentes estáveis e o choque eléctrico reco- fusão de 900mg em 24h
mendado para os doentes instáveis com sinais de gravidade.
Marcadores Bioquímicos vitimas tratadas com hipotermia: Dadas as limitações dos dados
disponíveis, a decisão de limitação do nível de cuidados não
Não há evidência que apoie a utilização de marcadores séricos pode ser tomada com base num único indicador de prognóstico.
(ex: proteína S100, enolase neuronal específica) ou do LCR, isola-
dos, na definição do prognóstico nos doentes em coma pós-PCR,
com ou sem hipotermia terapêutica. Nas limitações incluem-se
não só o limitado nº de doentes estudados como as inconsistên- Doação de órgãos
cias nos limites de validação para definição do prognóstico.
Faz-se transplante de órgãos sólidos com sucesso pós-PCR.380
Este grupo de doentes oferece uma oportunidade inexplorada para
Estudos electrofisiológicos aumentar o nº de dadores. A colheita de órgãos em dadores com
coração parado classifica-se como controlada e não controlada.381
Nenhum estudo electro-fisiológico é fiável a definir o prognós- Diz-se controlada quando a colheita é programada para depois da
tico de doentes em coma, nas 24h que se seguem à PCR. Às suspensão do suporte de funções vitais em caso de lesão vital irre-
24h, no doente em coma pós-PCR e que não tenha sido sub- versível. Diz-se não controlada quando a colheita é feita em dador
metido a hipotermia terapêutica, a ausência de resposta cortical em PCR ou sujeito a manobras de reanimação sem RCE.
N20 à estimulação do nervo mediano com potenciais evocados
somato-sensoriais (PESS) antecipa um mau prognóstico (morte
ou CDP de 3 ou 4) com FPR de 0.7% (95% IC: 0.1-3.7).376
Centros de PCR
Estudos de imagem A sobrevida pós-PCR, publicada, tem uma enorme variabilidade
entre hospitais.57-63 Há alguns dados de baixo nível de evidência
Há muitos estudos sobre o valor da imagem (ressonância mag- que sugerem que as UCI que admitem mais de 50 doentes / ano
nética nuclear, tomografia computorizada, tomografia computo- pós-PCR têm melhores resultados do que as que admitem me-
rizada por emissão simples de fotões, angiografia cerebral, dop- nos de 20 casos /ano.61 Há evidência indirecta que correlaciona
pler transcraniano, medicina nuclear, espectrofotometria quase a existência de sistemas de reanimação cardíaca regionais com
infra-vemelha) na antecipação do prognóstico de adultos que melhor prognóstico no caso de doentes com EM com SST (en-
sobreviveram a PCR.15 Não há nenhum estudo de elevado nível farte do miocárdio com supra de ST).382-404
que permita recomendar qualquer destes meios de diagnóstico A implicação destes dados poderia ser a de que os centros e
para avaliar o prognóstico de doentes em coma pós-PCR. sistemas especializados em PCR poderiam ser mais eficazes,
se bem que não haja qualquer evidência directa que suporte
esta hipótese.405-407
Fig. 1.9. D
efinições das síndromes coronárias agudas. SCA – síndromes coronárias agudas; EM - enfarte de miocárdio; supra
ST - supra-desnivelamento ST; AI - angina instável.
42 Abordagem inicial das
síndromes coronárias7
tações distintas de doença coronária: enfarte do miocárdio com recção da situação que põe a vida em risco como a fibrilhação
supra de ST (EM com SST), enfarte do miocárdio sem supra ventricular (FV) ou as bradicardias extremas e a preservação da
de ST (EM sem SST) e a angina de peito instável (API). O EM função ventricular minimizando a extensão da lesão do miocár-
sem SST e a API geralmente associam-se sob a designação de dio. As recomendações actuais centram-se nas primeiras horas
SCA- EM sem SST. A fisiopatologia comum às SCA é a rotura pós-início dos sintomas. O tratamento pré-hospitalar e no SU
ou erosão de placa aterosclerótica.412 O ECG diferencia os EM
varia em função das disponibilidades, recursos e organização
com SST dos SCA-EM sem SST (presença ou ausência de su-
locais. O tratamento pré-hospitalar é muitas vezes preconizado
pra desnivelamento de ST). Os segundos podem-se apresentar
com base em dados de estudos pós-admissão hospitalar, ha-
com infra desnivelamento do ST, com alterações inespecíficas
do ST/onda T ou até com ECG normal. Na ausência de SST o vendo poucos estudos de elevada qualidade no pré-hospitalar.
diagnóstico de EM sem SST assenta na elevação plasmática As European Society of Cardiology e a American College of Car-
dos biomarcadores específicos de necrose do miocárdio em diology/American Heart Association publicaram recomendações
particular a troponina I ou T. detalhadas sobre o tratamento das SCA com e sem SST. As re-
As SCA são a causa mais frequente de disritmia maligna segui- comendações ERC estão em linha com essas orientações.413, 414
da de morte súbita. Os objectivos do tratamento incluem a cor-
Fig. 1.10. Algoritmo de tratamento das síndromes coronárias agudas; PA, pressão arterial; ICP, intervenção coronária per-
cutânea; HNF, heparina não fraccionada. *Prasugrel, dose de carga de 60mg, pode ser usado como alternativa ao
clopidogrel em situações de EM com supra ST e ICP programada, desde que não haja história de AVC ou AIT. Na
altura de redacção destas recomendações o ticagrelor não foi ainda aprovado como alternativa ao clopidogrel.
Abordagem inicial das 43
síndromes coronárias7
A necessidade de oxigénio suplementar deve decorrer da monito- de clopidogrel administrada o mais precocemente possível. O
rização da SaO2 por oximetria de pulso (SpO2). Estes doentes não prasugrel ou ticagrelor podem ser utilizados em vez do clopido-
necessitam de oxigénio suplementar a menos que estejam hipoxé- grel antes da ICP programada. Os doentes com EM com SST tra-
micos. Há dados limitados que sugerem que o oxigénio em altas tados com fibrinólise devem ser tratados com clopidogrel (300mg
concentrações pode ser prejudicial nos doentes com EM não com- em dose de carga nos < 75 anos e 75mg sem dose de carga nos
plicado.424-426 O objectivo é ter uma SpO2 de 94–98%, ou 88–92% se > 75 anos) associado a AAS e anti-trombínico.
o doente está em risco de insuficiência respiratória hipercápnica.427
Tratamento das síndromes coronárias A inibição dos receptores da glicoproteina (Gp) IIB/IIIA é o elo final
agudas – causa da agregação plaquetária. O eptifibatide e o tirofiban provocam
inibição reversível enquanto que o abciximab provoca inibição
Inibidores da agregação plaquetária irreversível do receptor da Gp IIB/IIIA. Não há dados suficiente
para apoiar a utilização por rotina dos inibidores do receptor da
A inibição da agregação plaquetária tem a maior importância Gp IIB/IIIA no pré-tratamento dos SCA e EM com ou sem SST.
no tratamento inicial das síndromes coronárias agudas, assim
como na prevenção secundária, já que a activação e agregação
das plaquetas é o acontecimento iniciador da SCA. Anti-trombínicos
Ácido acetil-salicílico (AAS) A heparina não fraccionada (HNF) é um inibidor indirecto da trom-
bina, que se utiliza como adjuvante do tratamento fibrinolítico, em
Grandes estudos aleatorizados e controlados mostram diminuição associação com o AAS ou da ICPP, sendo uma componente im-
da mortalidade com a administração de AAS (75-325 mg) a doentes portante do tratamento da angina instável e do EM com SST. Há
hospitalizados com SCA. Alguns estudos sugerem redução da mor- vários anti-trombínicos alternativos para tatar doentes com SAC,
talidade com a administração mais precoce.428, 429 Recomenda-se a que em comparação com a HNF são mais específicos sobre o
administração de AAS, o mais precocemente possível, a todos os factor Xa activado (heparinas de baixo peso molecular (HBPM),
doentes com suspeita de SCA, a menos que o doente tenha alergia fondaparinux) ou são inibidores directos da trombina (bivalirudin).
verdadeira ao AAS. O AAS deve ser administrado pelo primeiro pro- Com estes novos anti-trombínicos não há necessidade de contro-
fissional de saúde que contacta o doente, por quem ajuda o doente lo da coagulação e o risco de trombocitopenia é menor.
ou pelo centro de orientação de doentes urgentes. A dose inicial de A enoxaparina em comparação com a HNF reduz em conjunto a
AAS mastigável é de 160-325 mg. As formas solúveis ou ev devem mortalidade, enfartes do miocárdio e a necessidade de revascula-
ser tão eficazes como a mastigável. rização urgente, quando administrado nas primeiras 24-36h após
início dos sintomas nos SAC – EM semSST.432, 433 Nos doentes
Inibidores dos receptores de ADP com risco de hemorragia aumentado, administrar fondaparinux ou
bivalirudina, que causam menos hemorragia do que a HNF.434-436
As tienopiridinas (clopidogrel, prasugrel) e a ciclo-pentil-triazolo- Nos doentes com intervenção invasiva planeada a enoxaparina
-pirimidine, ticagrelor, inibem os receptores de ADP de forma ou a bivalirudina são alternativas razoáveis à HNF. Há vários es-
irreversível o que diminui a agregação plaquetária ainda mais tudos aleatorizados com doentes com EM com SST submetidos a
do que o AAS faz. fibrinólise, que demonstram que a enoxaparina produz melhores
O clopidogrel adicionado à heparina e ao AAS nos SAC - EM sem resultados do que a HNF (independentemente do fibrinolítico utili-
SST de alto risco melhora o prognóstico.430, 431 O clopidogrel deve zado) mas nos > 75 anos há um ligeiro aumento das hemorragias
ser administrado o mais precocemente possível e em associação em doentes com baixo peso <60Kg.437-439
com o AAS e anti-trombínico a todos os doentes com SAC - EM A enoxaparina é uma alternativa segura e eficaz à HNF para a
sem SST. Se a opção for por um tratamento conservador adminis- ICPP em simultâneo (i.e. uso alargado de tienopiridinas e/ou
trar uma dose de carga de 300mg, se a opção incluir ICP progra- bloqueadores dos receptores de Gp IIB/IIIA).440, 441 Não há dados
mada a dose inicial deve ser de 600mg. O prasugrel ou ticagrelor suficientes para recomendar outra HBPM além da enoxaparina
podem ser administrados em vez do clopidogrel. na ICP programada e no EM com SST. A bivaluridina é também
Apesar de não haver nenhum grande estudo com clopidogrel no uma alternativa à HNF no EM com SST e ICP programada
pré-tratamento dos doentes com EM com SST e ICP programa-
da, é provável que esta estratégia seja benéfica. Como a inibição
plaquetária é dose dependente recomenda-se, nos doentes com
EM com SST e ICP programada, uma dose de carga de 600mg
Abordagem inicial das 45
síndromes coronárias7
em várias horas depois da fibrinólise (abordagem “farmaco-invasiva”) PCR, como parte da estratégia para melhorar os resultados.317
melhora o prognóstico. Esta estratégia inclui a transferência precoce O tratamento de reperfusão não deve limitar outros tratamentos
para angiografia e ICP depois do tratamento fibrinolítico.463, 464 como a hipotermia terapêutica.
Suporte de vida pediátrico Fig. 1.11. Algoritmo do suporte básico de vida pediátrico para
pessoas com dever de resposta.
5B. Se a respiração for anormal ou ausente: Se pesquisar o pulso, não demorar mais de 10 segundos.
• Remover cuidadosamente qualquer obstrução evidente da Na criança com mais de 1 ano — palpar o pulso carotídeo.
via aérea No lactente — palpar o pulso braquial, na face interna do braço.
• Efectuar cinco insuflações iniciais Em crianças e lactentes pode palpar-se o pulso femoral, entre a
• Durante estas insuflações procurar qualquer resposta, como tos- espinha ilíaca antero-superior e a sínfise púbica.
se ou engasgamento. A presença ou ausência desta resposta faz
parte da avaliação de sinais de vida, que será descrita adiante. 7A. Se há a certeza de ter encontrado sinais de vida dentro
de 10 segundos:
Insuflações iniciais na criança com mais de 1 ano: • Se necessário, manter insuflações até a criança começar a
• Manter extensão da cabeça e elevação do queixo. respirar normalmente.
• Manter o nariz fechado, pinçando-o com o polegar e indica- • Se inconsciente, deitar a criança na posição lateral de se-
dor da mão que está na testa. gurança
• Permitir abertura da boca mantendo elevação do queixo. • Reavaliar a criança regularmente.
• Inspirar e colocar os lábios à volta da boca da criança, ga-
rantindo uma boa selagem. 7B. Se não houver sinais de vida, e a menos que haja a
• Insuflar lentamente durante 1–1.5 seg e verificar elevação CERTEZA ABSOLUTA de ter palpado um pulso, com mais
do tórax. de 60 batimentos min-1 (bpm), dentro de 10 segundos:
• Mantendo extensão da cabeça e elevação do queixo, afas- • Iniciar compressões torácicas.
tar a boca da criança e observar o tórax a descer durante a • Alternar compressões torácicas e insuflações:
exalação.
• Inspirar de novo e repetir a sequência cinco vezes. Avaliar Compressões torácicas
a eficácia vendo os movimentos torácicos semelhantes aos Comprimir a metade inferior do externo em todas as crianças.
que se veriam em respiração normal. Para não comprimir o abdómen superior, localizar o apêndice
xifóide, no ângulo onde as últimas costelas se encontram na li-
Insuflações iniciais no lactente: nha média. Comprimir o esterno cerca de um dedo acima deste
• Manter posição neutra da cabeça e elevação do queixo. ponto. A compressão deve ser suficiente para deprimir o ester-
• Inspirar e cobrir a boca e nariz do lactente com a boca, ga- no pelo menos um terço da profundidade do tórax. Não recear
rantindo uma boa selagem. Se não se conseguir cobrir o na-
comprimir demais – comprimir com Força e Rápido.
riz e a boca, num lactente maior, o reanimador pode tentar
•Descomprimir totalmente e repetir com uma frequência de pelo
selar só o nariz ou a boca do lactente com a sua boca (se
menos 100 bpm (mas não mais de 120 bpm). Depois de 15
usar o nariz, manter lábios fechados para evitar fuga).
compressões, estender a cabeça, elevar o queixo e efectuar
• Insuflar lentamente durante 1–1.5 seg e verificar elevação
duas insuflações eficazes. Manter compressões e insuflações
do tórax.
numa relação de 15:2. O melhor método de compressão varia
• Mantendo posição neutra da cabeça e elevação do queixo,
ligeiramente entre lactentes e crianças.
afastar a boca da do lactente e observar o tórax a descer
durante a exalação. Compressão torácica em lactentes
• Inspirar de novo e repetir a sequência cinco vezes. Avaliar Um reanimador único comprime o esterno com as pontas de
a eficácia vendo os movimentos torácicos semelhantes aos dois dedos. Se houver dois ou mais reanimadores, usar a técni-
que se veriam em respiração normal. ca do abraço. Colocar os dois polegares lado a lado na metade
Quer em crianças quer em lactentes, se for difícil conseguir uma inferior do esterno (ver acima) com as pontas apontando para a
insuflação eficaz, a via aérea pode estar obstruída: cabeça do lactente. Abrir ambas as mãos com os dedos juntos,
• Abrir a boca da criança e remover qualquer obstrução visí- envolvendo a porção inferior da grelha torácica do lactente, com
vel. Não fazer limpeza às cegas com o dedo. as extremidades dos dedos apoiando o dorso. Em qualquer dos
• Garantir que a extensão da cabeça e elevação do queixo métodos, comprimir a metade inferior do esterno pelo menos
são adequadas, mas evitando hiperextensão do pescoço. 1/3 da profundidade do tórax do lactente (cerca de 4 cm).
• Se a extensão da cabeça e elevação do queixo não abrirem Compressão torácica em crianças de mais de 1 ano de idade
a via aérea, tentar subluxação da mandíbula. Colocar a base de uma mão sobre a metade inferior do esterno
• Fazer cinco tentativas de insuflação eficazes. Se continuar (ver acima). Levantar os dedos para garantir que não se aplica
sem se conseguir, avançar para compressões torácicas. pressão nas costelas da criança. O reanimador posiciona-se ver-
6. Avaliar a circulação da criança ticalmente acima do tórax da vítima e, com o braço estendido,
Não demorar mais de 10 seg a: comprime o esterno deprimido-o pelo menos um terço da profun-
• Procurar sinais de vida — incluem qualquer movimento, tos- didade do tórax (cerca de 5 cm). Em crianças maiores ou para re-
se ou respiração normal (não valorizar respiração irregular e animadores mais pequenos, esta compressão consegue-se mais
“gasps” ocasionais). facilmente usando as duas mãos com os dedos entrelaçados.
Suporte de vida pediátrico8 49
Fig. 1.12. Algoritmo da obstrução da via aérea por corpo estranho em pediatria. © 2010 ERC.
50 Suporte de vida pediátrico8
A principal diferença em relação ao algoritmo dos adultos é que compensada e não tratada levará à paragem cardio-respirató-
as compressões abdominais não devem ser usadas em lactentes. ria. Assim, o objectivo primário do suporte de vida pediátrico é
Apesar de haver lesões causadas por compressões abdominais a intervenção precoce e eficaz em crianças com insuficiência
em todas as idades, o risco é especialmente alto em lactentes e respiratória e circulatória, de modo a evitar a progressão para
crianças muito pequenas. A razão é devido à posição horizontal paragem cardio-respiratória.
das costelas, que deixam os orgãos abdominais mais expostas a
traumatismos. Por isso, as orientações para o tratamento da OVA- Via aérea e ventilação
CE são diferentes em lactentes e em crianças. A Tabela 1.2. lista
sinais importantes para o reconhecimento da OVACE em crianças. • Abrir a via aérea e assegurar a ventilação e oxigenação ade-
quadas. Administrar oxigénio em alto débito.
• Monitorização respiratória (primeira linha – oximetria de pulso/
Tabela 1.2 • Sinais de obstrução da via aérea por corpo estranho SpO2).
(OVACE) • Conseguir uma ventilação e uma oxigenação adequadas pode
exigir o uso de adjuvantes da via aérea, ventilação com más-
Sinais gerais de OVACE cara e insuflador (VMI), uso de máscara laríngea (ML), asse-
Episódio testemunhado
Tosse/sufocação gurar via aérea definitiva por entubação traqueal e ventilação
Início súbito por pressão positiva.
História recente de brincar / comer pequenos objectos • Muito raramente, pode ser necessária uma via aérea cirúrgica.
Tradicionalmente têm sido utilizados tubos sem cuff em crian- ção de uma modesta expansão torácica. Após protecção da via
ças até aos 8 anos de idade. No entanto, a utilização de tubos aérea por entubação traqueal, continuar ventilação com pressão
com cuff pode ter vantagens em algumas circunstâncias, p. ex. positiva a 10-12 ciclos min-1 sem interromper as compressões
quando a compliance pulmonar está reduzida, a resistência torácicas. Após restabelecimento da circulação, ou se a criança
da via aérea é elevada ou se há grande fuga de ar através da mantém circulação eficaz, ventilar com frequência de 12 a 20 ci-
glote 483, 490, 491. Ao usar um tubo com cuff também se aumenta clos min-1 de modo a atingir valores normais de PaCO2.
a probabilidade de escolher o tubo de diâmetro adequado na A monitorização do CO2 no final da expiração (ETCO2), por
primeira tentativa 483, 484, 492. A pressão de insuflação do cuff deve capnómetro ou detector colorimétrico, permite confirmar o po-
ser monitorizada e mantida abaixo de 25 cm H2O, dado que sicionamento do TET em crianças com peso superior a 2 kg e
uma pressão excessiva pode causar lesão isquémica dos teci- pode ser usada em ambientes pré-hospitalar e hospitalar, bem
dos laríngeos e susbsequente estenose 493. como durante o transporte da criança 504-507. Uma mudança de
A deslocação, colocação incorrecta e obstrução de tubos tra- cor ou a presença de uma curva capnográfica adequada duran-
queais ocorrem com frequência em crianças entubadas e asso- te mais de quatro ventilações, indica posicionamento do tubo na
ciam-se a aumento do risco de morte 281, 494. Não existe nenhu- árvore traqueobrônquica, quer na presença de circulação eficaz
ma técnica que seja 100% eficaz na distinção entre localização quer durante a reanimação numa paragem cardio-respiratória.
esofágica ou traqueal de um tubo 495-497. A avaliação da posição A capnografia não permite excluir entubação de um brônquio.
correcta de um TET faz-se por: Por outro lado, a ausência de CO2 expirado durante uma para-
• laringoscopia com observação do TET colocado para além gem cardio-respiratória não implica má colocação do tubo, visto
das cordas vocais; que um CO2 baixo ou não detectável pode reflectir ausência ou
• detecção de CO2 no final da expiração em crianças com diminuição de fluxo sanguíneo pulmonar 235, 508-510. A capnografia
circulação eficaz (pode também ser detectado durante RCP pode ainda dar informação sobre a eficácia de compressões to-
eficaz, mas não é completamente fiável); rácicas e ser um indicador precoce de restabelecimento de cir-
• observação de expansão torácica simétrica durante ventila- culação espontânea 511, 512. Se os valores de ETCO2 se mantêm
ção com pressão positiva; abaixo de 15 mmHg (2 kPa) deve ser melhorada a qualidade
• observação de embaciamento do tubo durante a expiração; das compressões torácicas. Não existe actualmente evidência
• ausência de distensão gástrica; que apoie o uso de um limiar de ETCO2 como indicador para a
• auscultação de entrada de ar bilateral e simétrica nas axilas suspensão de manobras de reanimação.
e vértices do tórax; Os aparelhos de detecção esofágica (ODD), como o balão auto-insu-
• ausência de ruído de entrada de ar no estômago à auscul- flável ou seringa de aspiração podem ser usados para confirmação
tação; secundária do posicionamento do TET em crianças com circulação
• melhoria ou estabilização da SpO2 consoante quadro clínico eficaz 513, 514. Não existem estudos sobre a utilização destes aparelhos
(sinal diferido!); de detecção em crianças em contexto de paragem cardio-respiratória.
• melhoria ou manutenção da frequência cardíaca dentro dos
A avaliação clínica da saturação arterial de oxigénio (SaO2) não
valores normais para a idade (sinal diferido!).
é fiável; deve portanto ser monitorizada continuamente a SpO2
com oximetria de pulso.
Numa criança em paragem cardio-respiratória em quem não se
detecta CO2 expirado, ou se há dúvidas na sua detecção, ape-
sar de compressões torácicas adequadas, deve confirmar-se o
Circulação
posicionamento do TET por laringoscopia directa.
• Técnicas como capnografia, monitorização invasiva da subsequentes. A dose máxima por administração é 1 mg. Pode
pressão arterial, gasimetria, monitorização do débito repetir-se doses de adrenalina, se necessário, a cada 3-5 minu-
cardíaco, ecocardiografia e saturação de oxigénio venosa tos. A via traqueal não é recomendada 522-525 mas, se tiver que
central (ScvO2) podem ser úteis na orientação do trata- ser usada, a dose é dez vezes maior (100 microgramas kg-1).
mento da insuficiência respiratória e/ou circulatória.
Acesso vascular
Tratamento avançado da paragem cardio-
Durante a reanimação pode ser difícil estabelecer acesso veno- respiratória
so num lactente ou criança: se esse acesso não for conseguido
até um minuto, deve ser introduzida uma via intra-óssea 519, 520. 1. Quando uma criança não responde e não tem sinais de
As vias intra-venosas ou intra-ósseas são claramente preferi- vida (respiração, tosse e movimentos detectáveis) iniciar
das para administrar fármacos, face à via traqueal 521. RCP de imediato.
2. Ventilar com máscara e insuflador e oxigénio a 100%.
Adrenalina 3. Iniciar monitorização. Usar desfibrilhador manual ou DAE
para identificar e tratar ritmos desfibrilháveis tão rapida-
A dose de adrenalina recomendada em crianças, por via IV/IO, mente quanto possível (Figura 1.13).
é de 10 microgramas kg-1 para a primeira administração e doses
A B C – Iniciar e manter suporte básico de vida novo com carga semelhante à que tinha sido eficaz. Iniciar per-
fusão contínua de amiodarona.
A e B – Oxigenar e ventilar com máscara e insuflador A ecocardiografia pode ser usada para identificar causas poten-
• Ventilar com pressão positiva com alta concentração de oxi- cialmente tratáveis de paragem cardíaca na criança, permitindo
génio visualização rápida da função cardíaca 527 e diagnóstico de tam-
• Administrar 5 insuflações iniciais, seguidas de compressões ponamento pericárdico 268. No entanto necessita da presença
torácicas e ventilação com pressão positiva, numa relação de um operador experiente e as vantagens devem ser avaliadas
de 15:2 face ao eventual prejuízo de interromper as compressões torá-
• Evitar fadiga do reanimador substituindo regularmente a cicas para a sua realização.
pessoa que efectua compressões torácicas
• Iniciar monitorização cardio-vascular
deve tentar-se cardioversão eléctrica imediata. A cardioversão de oxigénio (ScvO2 na veia cava superior) ou espectroscopia
eléctrica (síncrona com a onda R) está também indicada quan- na região de infravermelhos (circulação esplâncnica e cerebral)
do não há acesso vascular disponível ou se a adenosina não foi 542-544
. O tratamento das elevadas resistências vasculares sisté-
eficaz. A energia do primeiro choque para cardioversão eléctrica micas por bloqueio dos receptores alfa-adrenérgicos pode me-
de uma TSV é 0.5 -1 J Kg-1 e do segundo choque 2 J Kg-1. lhorar a oferta sistémica de oxigénio 545, diminuir a incidência de
As taquicardias de complexo QRS largo são raras na criança, colapso cardio-vascular 546 e melhorar a sobrevida 547.
e mais provavelmente de origem supraventricular do que ven-
tricular 530. No entanto, em crianças hemodinamicamente instá-
veis, devem ser consideradas como TV até prova em contrário. Pós-operatório de cirurgia de Fontan para
A cardioversão síncrona é o tratamento de escolha da TV instá- correcção de ventrículo único
vel com pulso. Deve ser ponderada medicação antiarrítmica se
uma segunda cardioversão não for eficaz ou se a TV recidivar. Crianças com anatomia tipo Fontan ou hemi-Fontan, em situa-
ção pré-paragem, podem beneficiar de oxigenação melhorada
Arritmias estáveis e de débito cardíaco optimizado através da instituição de venti-
lação por pressão negativa 548, 549. A oxigenação extracorpórea
Enquanto se garante a via aérea, ventilação e circulação da
por membrana (ECMO) pode ser útil como recurso em crianças
criança, contactar ajuda especializada para decidir início de
com falência da circulação de Fontan, mas não é possível emitir
terapêutica específica. Dependendo da história clínica, apre-
recomendações contra ou a favor de ECMO em crianças com
sentação e diagnóstico electrocardiográfico, uma criança está-
hemi-Fontan ou como recurso durante a reanimação 550.
vel com uma taquicardia de complexos largos pode ser tratada
como uma TSV, nomeadamente com manobras vagais ou ade-
Hipertensão pulmonar
nosina. Se esta terapêutica não resultar ou se o diagnóstico de
TV for entretanto confirmado no ECG, a amiodarona pode ser
As crianças com hipertensão pulmonar estão em risco aumen-
considerada como opção.
tado de paragem cardíaca 551, 552. Nestas crianças devem ser
seguidos os protocolos de reanimação habituais, com ênfase na
utilização de Fio2 elevada e alcalose/hiperventilação, já que estas
Situações especiais em Pediatria
medidas podem ser tão eficazes como o óxido nítrico inalado na
diminuição das resistências vasculares pulmonares 553. É mais
Canalopatias provável que a reanimação seja bem sucedida em pacientes com
uma causa reversível tratados com epoprostenol intra-venoso or
Quando ocorre uma paragem cardíaca inexplicada numa crian-
óxido nítrico inalado 554. Devem ser reiniciadas as medicações ha-
ça ou adulto jovem, deve fazer-se uma história clínica pessoal e
bituais anti-hipertensão pulmonar que possam ter sido suspensas
familiar completas (incluindo antecedentes de síncope, convul-
e deve ser considerado o uso de epoprostenol em aerossol ou
sões, acidentes/afogamentos não explicados ou morte súbita)
óxido nítrico inalado 555. Os dispositivos de assistência ventricular
e rever todos os ECGs disponíveis. Todos os lactentes, crian-
direita podem melhorar a sobrevida 556-559.
ças e adultos jovens com morte súbita, inesperada, devem, se
possível, ser submetidos a autópsia completa, de preferência
realizada por um patologista com experiência em patologia car-
Cuidados pós-paragem
díaca 531-540. Deve ponderar-se a conservação e estudo genético
de tecidos para determinar a presença de uma canalopatia. Os
Os princípios dos cuidados pós-paragem e o tratamento do síndrome
familiares de vítimas de morte súbita cuja causa não foi possí-
pós-paragem cardíaca em crianças são semelhantes aos do adulto.
vel esclarecer em autópsia devem ser referenciados a centros
especializados em perturbações do ritmo cardíaco.
Monitorização e controlo de temperatura
Pós-operatório da 1ª fase de correcção de ventrículo
A hipotermia é frequente em crianças após reanimação cardio-
único -respiratória 350. Uma hipotermia central (32-34ºC) pode ser be-
néfica, enquanto que a febre pode ser lesiva para o cérebro
A incidência de paragem cardíaca em lactentes no pós-operató- em situação pós-paragem. Hipotermia ligeira tem um perfil de
rio do 1º estadio de reparação de ventrículo único, é de cerca de segurança aceitável em adultos 355, 356 e em recém-nascidos 560-
20%, com uma sobrevida na alta de cerca de 33% 541. Não exis- 565
. Se bem que possa melhorar o prognóstico neurológico em
te evidência de que a reanimação deva ser efectuada de modo crianças, um estudo observacional não apoia nem desaconse-
diferente do habitual. O diagnóstico da situação pré-paragem lha a utilização da hipotermia terapêutica na paragem cardíaca
é difícil, mas pode ser ajudado por monitorização da extracção em crianças 566.
Suporte de vida pediátrico8 55
Uma criança que recupera circulação espontânea após para- febre, com antipiréticos e /ou arrefecimento físico, reduz a lesão
gem cardio-respiratória, mas que se mantém em coma, pode neuronal 567, 568.Os antipiréticos e outros fármacos aceites para
beneficiar de arrefecimento até uma temperatura central de 32- o tratamento da febre são seguros; devem portanto ser usados
34ºC durante pelo menos 24 h. Uma criança reanimada com para o tratamento agressivo da febre nestas circunstâncias.
sucesso, com recuperação de circulação espontânea e em
hipotermia, não deve ser activamente reaquecida, salvo se a
temperatura central seja inferior a 32ºC. Após um período de Controlo de glicémia
hipotermia ligeira, a criança deve ser reaquecida lentamente, a
0.25-0.5ºC h-1. Quer a hipo- quer a hiperglicémia podem comprometer o prog-
Estas orientações são baseadas em evidência do uso de hipo- nóstico de crianças e adultos gravemente doentes e devem por
termia terapêutica em recém-nascidos e adultos. No momento isso ser evitadas. No entanto, um controlo rígido da glicémia
da redacção destas recomendações, estão a decorrer ensaios pode também ser prejudicial. Apesar de não existir evidência
prospectivos, multicêntricos, de hipotermia terapêutica em crian- suficiente para apoiar ou refutar uma estratégia específica de
ças após paragem cardíaca em ambiente hospitalar e pré-hos- controlo da glicémia em crianças com RCE após paragem car-
pitalar. (www.clinicaltrials.gov NCT00880087 e NCT00878644) díaca 3, 569, 570, está indicado monitorizar a glicémia e evitar a
A febre, frequente após reanimação cardio-respiratória, associa- hipoglicémia bem como a hiperglicémia prolongada.
-se a mau prognóstico neurológico 346, 348, 349, com o risco aumen-
tando por cada grau de temperatura acima de 37ºC 349. Existem
dados experimentais limitados sugerindo que o tratamento da
56
Suporte de vida neo-natal9 57
ção e após trabalho de parto aparentemente normal, cerca de 2 Quando um parto ocorre numa área não preparada para esse
por 1000 (0.2%) apresentaram necessidade de reanimação ao fim, o equipamento mínimo deve incluir um dispositivo para ven-
nascer. Destes, 90% responderam a ventilação com máscara, tilação pulmonar, seguro e adequado ao tamanho do recém-
enquanto os 10% restantes pareceram não responder apenas a -nascido, toalhas e panos secos e aquecidos, um equipamento
essa ventilação e foram por isso entubados. esterilizado para cortar o cordão umbilical e luvas para os pro-
A necessidade de reanimação ou de ajuda especializada ao nascer fissionais de saúde. É também útil dispor de um aspirador com
é mais provável quando há evidência intra-parto de compromisso uma sonda de tamanho adequado e um depressor de língua
fetal significativo, nascimentos antes das 35 semanas de gestação, (ou laringoscópio) que permita visualização da orofaringe. Os
partos com apresentação pélvica e gravidezes múltiplas. Apesar de partos não planeados em ambiente extra-hospitalar envolvem
muitas vezes ser possível prever antes do nascimento a necessi- principalmente os serviços de emergência pré-hospitalar, que
dade de reanimação ou estabilização, tal nem sempre acontece. devem estar preparados para estas situações.
Assim, deve haver pessoal, treinado em suporte de vida neonatal,
disponível para todos os partos e, se houver necessidade de qual- Controlo de temperatura
quer intervenção, os cuidados ao recém-nascido devem ser da sua
exclusiva responsabilidade. Uma pessoa experiente em entubação Um recém-nascido molhado e exposto não consegue manter a
traqueal do recém-nascido deve, idealmente, estar disponível para temperatura corporal mesmo numa sala que parece confortavel-
partos com elevada probabilidade de necessitar de reanimação mente aquecida para um adulto. Os bebés com compromisso
neonatal. Devem ser desenvolvidas recomendações locais, desig- clínico são particularmente vulneráveis 572. A exposição de um
nando quem deve estar presente nos partos, com base na prática recém-nascido ao frio baixa a tensão arterial de oxigénio 573 e
local e em auditorias clínicas. aumenta a acidose metabólica 574. Para evitar a perda de calor:
Todas as instituições onde ocorram partos devem estabelecer
um programa de formação adequado, com o objectivo de ensi- • Proteger o bebé de correntes de ar.
nar as orientações e competências destinadas à reanimação de • Manter a sala de partos aquecida. Para bebés com menos
recém-nascidos. de 28 semanas de gestação, a temperatura na sala de par-
tos não deve ser inferior a 26ºC 575, 576.
• Os recém-nascidos de termo devem ser secos imediatamen-
Parto planeado no domicílio te após o parto. Cobrir o corpo e cabeça do bebé, excepto
a face, com panos quentes e secos para prevenir perda de
As recomendações sobre quem deve assistir a um parto pla- calor. Em alternativa, colocar o bebé pele-a-pele com a mãe
neado no domicílio variam de país para país, mas a decisão e cobrir ambos com uma toalha.
de ter um parto no domicílio, depois de assumida pelo pessoal • Se o recém-nascido precisa de ser reanimado deve ser co-
médico e de enfermagem, não deve comprometer os princípios locado numa superfície aquecida, sob uma fonte de calor
de reanimação neonatal. Algumas limitações à reanimação de radiante previamente ligada.
um bebé nascido em casa são inevitáveis, devido à distância de • Em grandes prematuros (principalmente abaixo de 28 se-
outros recursos, e este facto deve ser bem clarificado à mãe na manas) secar e envolver pode não ser suficiente. Um modo
altura em que se planeia o parto no domicílio. Dois profissionais mais eficaz de manter estes recém-nascidos aquecidos é
treinados devem, idealmente, assistir a todos os partos planea- envolvê-los (corpo e cabeça, excepto a face) em película
dos no domicílio; pelo menos um deve ter formação completa e plástica do tipo usado para conservar alimentos, sem os se-
experiência na realização de ventilação por máscara e de com- car antes, e colocá-los então sob a fonte de calor radiante.
pressões torácicas no recém-nascido.
Avaliação inicial
Equipamento e ambiente
O índice de Apgar foi inicialmente proposto como um modo
Ao contrário da reanimação cardio-respiratória no adulto, a re- “simples e claro de classificar os recém-nascidos”, para ser
animação neonatal é frequentemente um procedimento previ- usado como “base para discussão e comparação dos resulta-
sível. Assim, é possível preparar o equipamento e o ambiente dos de práticas obstétricas, métodos de analgesia materna e
antes do parto. Idealmente a reanimação deve ser efectuada resultados da reanimação” 577. Não foi desenvolvido para iden-
numa área aquecida, bem iluminada, sem correntes de ar, com tificar recém-nascidos com necessidade de reanimação 578. No
uma superfície plana para reanimação colocada sob aquece- entanto, alguns componentes individuais do índice, nomeada-
dor radiante, com todo o restante equipamento de reanimação mente a frequência respiratória, frequência cardíaca e tónus,
prontamente disponível. Este equipamento deve ser verificado se avaliados rapidamente, podem identificar bebés que neces-
com regularidade. sitam de ser reanimados 577. Para além disso, uma avaliação
Suporte de vida neo-natal9 59
A melhor forma de avaliar a FC é por auscultação cardíaca, no 2. Apneico ou com respiração inadequada
ápex. A palpação do pulso na base do cordão umbilical é muitas Tónus normal ou diminuído
vezes eficaz mas pode ser enganadora; só é fiável se for clara- Frequência cardíaca inferior a 100 min-1
mente superior a 100 min-1 579. Em recém-nascidos que necessi-
tam de reanimação e/ou de suporte respiratório continuado, um Secar e envolver. Este recém-nascido pode melhorar com ven-
oxímetro de pulso pode fornecer uma avaliação fiável da FC 580. tilação por máscara, mas se esta não melhorar a frequência
cardíaca, podem ser necessárias compressões torácicas.
Coloração
3. Apneico ou com respiração inadequada
Observar a coloração é um mau método de avaliar a oxige- Hipotónico
nação 581, que deve idealmente ser avaliada por oximetria de Frequência cardíaca baixa ou indetectável
pulso. Geralmente um bebé saudável nasce cianosado mas ra- Pálido, com má perfusão
pidamente começa a ficar rosado, cerca de 30 segundos após
o início de uma respiração eficaz. A cianose periférica é habitual Secar e envolver. Será necessário controlo imediato da via aé-
e, por si só, não significa hipoxémia. A persistência de palidez rea, insuflação pulmonar e ventilação. Após conseguidas estas
apesar de ventilação pode indicar acidose significativa ou, rara- medidas, o bebé pode ainda necessitar de compressões toráci-
mente, hipovolémia. Apesar de a coloração ser um mau método cas e, eventualmente, de fármacos.
de avaliar a oxigenação, não deve ser ignorada; um recém-
Resta ainda um grupo muito raro de bebés que se mantêm hi-
-nascido cianosado deve ser avaliado por oximetria de pulso.
poxémicos apesar de estarem a respirar adequadamente e te-
rem boa frequência cardíaca. Neste grupo incluem-se diversos
Tónus diagnósticos possíveis como hérnia diafragmática, défice de
surfactante, pneumonia congénita, pneumotórax ou cardiopatia
Quando um recém-nascido está muito hipotónico provavelmen- congénita cianótica.
te estará não reactivo e necessitará de ser ventilado.
Habitualmente, secar o recém-nascido produz estimulação O suporte de vida neonatal deve ser iniciado se, na avaliação
táctil suficiente para iniciar uma respiração eficaz. Devem ser inicial, o recém-nascido não tiver respiração regular e eficaz ou
evitados métodos de estimulação mais vigorosos. Se um curto se tiver frequência cardíaca inferior a 100 min-1. Habitualmente,
período de estimulação não resultar em respiração espontânea a abertura da via aérea e a insuflação pulmonar são suficientes.
eficaz, serão necessárias outras formas de intervenção. Para além disso, outras intervenções mais avançadas serão inú-
teis se estas duas não tiverem sido conseguidas adequadamente.
60 Suporte de vida neo-natal9
Colocar o bebé em decúbito dorsal com a cabeça em posição O suporte circulatório com compressões torácicas apenas será
neutra. Uma toalha ou pano dobrado, com cerca de 2 cm de eficaz se tiver havido insuflação pulmonar adequada. Deve ini-
espessura, debaixo dos ombros do recém-nascido, pode ajudar ciar-se compressões torácicas se a frequência cardíaca for infe-
a manter a cabeça em posição correcta. Em bebés hipotónicos rior a 60 min-1 apesar de ventilação eficaz. O método mais eficaz
pode ser útil a subluxação da mandíbula ou a utilização de uma de compressões torácicas é a técnica do abraço – colocar os
via aérea orofaríngea de tamanho adequado. dois polegares lado a lado sobre o terço inferior do esterno, ime-
A aspiração apenas é necessária se a via aérea estiver obstruí- diatamente abaixo da linha intermamilar, com os outros dedos
da e deve ser efectuada sob visualizção directa. Uma aspiração envolvendo o tórax e apoiando o dorso 583-586. Outro método de
agressiva da faringe pode provocar espasmo laríngeo, bradi- encontrar a localização correcta das compressões é localizar
cardia vagal e atrasar o início de respiração espontânea 582. A o apêndice xifóide e colocar os polegares cerca de um dedo
presença de mecónio espesso num bebé pouco reactivo é a acima. O esterno deve ser comprimido até uma profundidade de
única indicação para considerar a aspiração imediata da orofa- cerca de um terço do diâmetro antero-posterior do tórax, permi-
ringe. Deve ser usada uma sonda de aspiração 12 – 14 FG, ou tindo descompressão completa entre compressões 587.
uma sonda Yankauer, ligada a uma fonte de vácuo limitada a A relação compressões/ventilações deve ser de 3:1, procurando
menos 100 mmHg. conseguir um total de 120 eventos por minuto, isto é, 90 compres-
sões e 30 ventilações. Verificar a frequência cardíaca espontânea
depois de cerca de 30 segundos, e depois periodicamente, inter-
rompendo as compressões quando for superior a 60 min-1.
Ventilação
ragem cardíaca sem resposta a outras medidas, apenas deve díaca de um recém-nascido não é detectável e se mantém inde-
ser administrado após a RCP garantir ventilação e circulação tectável após 10 minutos, é adequado ponderar a suspensão da
adequadas. Nessas circunstâncias, uma dose de 1 a 2 mmol reanimação. Nos casos em que a frequência cardíaca ao nascer
kg-1 pode ser administrada, por injecção intra-venosa lenta. é inferior a 60 min-1 e não melhora após 10 ou 15 minutos de me-
didas de reanimação contínuas e aparentemente correctas, essa
decisão é muito menos clara. Nesta situação não existe evidência
Fluidos suficiente acerca do prognóstico que permita uma orientação se-
gura em relação a manter ou suspender a reanimação.
Perante uma suspeita de perda de sangue ou se o recém-nas-
cido parece estar em choque (pálido, com má perfusão e pulsos
fracos) e se não respondeu a outras medidas de reanimação, Comunicação com os pais
deve ser considerada a administração de fluidos 588. Esta é uma
situação rara. Na ausência de sangue adequado (i.e., sangue A equipa que cuida de um recém-nascido deve manter os pais
O Rh-negativo irradiado e desleucocitado) deve ser preferido informados acerca da evolução do bebé. Ao nascer, devem ser
um cristalóide isotónico, e não albumina, para restabelecer o prestados os cuidados de rotina segundo as orientações locais
volume intra-vascular. Administrar inicialmente um bólus de 10 e, se possível, colocar o bebé junto da mãe logo que possível.
ml kg-1 que, se for eficaz, pode ser repetido para manter a esta- Se for necessária reanimação, os pais devem ser informados
bilidade hemodinâmica. dos procedimentos e do motivo porque foram necessários.
Todas as discussões e decisões devem ser registadas no pro-
cesso da mãe antes do parto e nos registos do recém-nascido
Suspensão da reanimação depois do nascimento.
International Programme on Chemical Safety (IPCS) lista tem tendência a dar lugar à fibrilhação auricular, seguida de FV
uma série de centros de intoxicações no website: http:// e finalmente assistolia.596 No hospital as vítimas de hipotermia
www.who.int/ipcs/poisons/centre/en/ grave devem ser reaquecidas por processos activos e internos.
• O http://toxnet.nlm.nih.gov/ tem bases de dados on-line com As arritmias, excepto a FV, tendem a reverter espontaneamen-
informações sobre toxicologia e acidentes com tóxicos. te, à medida que a temperatura corporal sobe e em regra não
necessitam de tratamento imediato. A bradicardia pode ser uma
resposta fisiológica à hipotermia e não há indicação para pace
a não ser que a hipotermia persista com compromisso hemo-
Afogamento dinâmico depois do aquecimento. Nas vítimas com hipotermia
grave não está definida a temperatura a partir da qual se deve
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que os afoga-
iniciar a desfibrilhação nem a frequência com que deve ser ten-
mentos provocam 450,000 mortes por ano, em todo o mundo. É
tada. Podem-se utilizar DAE. Se o ritmo é FV, aplicar um cho-
uma causa de morte acidental frequente na Europa. O principal
que com a energia máxima; se a FV/TV persiste depois de três
factor de prognóstico no pós-afogamento é a duração da hipó-
choques, diferir a tentativa de desfibrilhação até a temperatura
xia, pelo que as prioridades no tratamento da vítima devem ser
ser >30ºC.597 Quando se utiliza DAE seguem-se os comandos
o restauro imediato da oxigenação, ventilação e perfusão.
do aparelho, enquanto se reaquece a vítima. Para conseguir
A reanimação imediata, no local do acidente, é essencial para a a desfibrilhação o reaquecimento e o SBV podem ter que ser
sobrevida e preservação do estado neurológico, pelo que é neces- mantidos durante horas.597
sário que a reanimação seja iniciada pelas testemunhas e activa-
O reaquecimento pode ser passivo, activo externo ou activo
ção do SEM seja imediata. As vítimas que chegam ao hospital com
interno. O reaquecimento passivo é indicado em vítimas cons-
RCE e respiração, em geral recuperam com bom prognóstico. A
cientes com hipotermia ligeira, que ainda conseguem ter arre-
investigação no afogamento é escassa, quando comparada com a
pios (“shiver”). As vítimas inconscientes devem ser encaminha-
PCR primária, pelo que é necessária mais investigação.593 As reco-
das para hospitais com capacidade para fazerem aquecimento
mendações descritas em detalhe na secção 8 das recomendações
activo interno e externo. No doente hipotérmico em PCR o mé-
ERC, destinam-se a profissionais de saúde e pessoas com espe-
cial interesse nesta área, ex: nadadores salva-vidas.10 todo de aquecimento activo interno ideal é a circulação extra-
-corporal, porque proporciona suporte da circulação e oxigena-
ção suficientes enquanto a temperatura corporal é aumentada a
ritmo de 8 - 12°C h-1.598
Hipotermia acidental
Durante o reaquecimento é necessário perfundir grande quan-
Diz-se que há hipotermia quando a temperatura corporal baixa tidade de fluídos porque a vasodilatação provoca aumento da
dos 35ºC, de forma não intencional. capacitância vascular. É essencial manter monitorização hemo-
A hipotermia é arbitrariamente classificada como ligeira (35– dinâmica contínua e fluidos aquecidos ev. Evitar a hipertermia
32˚C), moderada (32–28˚C) ou grave (< 28˚C).594 No doente durante e pós aquecimento. Depois da RCE aplicar os algorit-
hipotérmico os sinais de vida, por si só, são insuficientes para mos clássicos, incluindo a hipotermia ligeira se indicado, apesar
declarar a morte. de não existirem estudos formais.
No pré-hospitalar a reanimação só deve ser interrompida se a
causa de morte puder ser claramente atribuída a uma lesão fa-
tal, doença fatal, asfixia prolongada ou se o tórax é impossível Hipertermia
de comprimir. Os princípios da prevenção, de SBV e de SAV
aplicam-se da mesma forma no doente hipotérmico. Utilizar a Hipertermia significa que os mecanismos de termorregulação
mesma relação e frequência das compressões / ventilações que corporal se esgotaram e a temperatura corporal excede a que
na vítima normotérmica. A hipotermia pode causar rigidez do habitualmente é mantida pelos mecanismos homeostáticos. A
tórax, tornando a ventilação e as compressões mais difíceis hipertermia pode ter causas exógenas como as condições am-
O coração hipotérmico pode não responder aos fármacos car- bientais ou ser secundária à produção de calor endógeno.
dio-activos e às tentativas de cardioversão eléctrica e pacing. As formas de hipertermia relacionadas com o ambiente ocor-
O metabolismo está lentificado, facilitando o aparecimento de rem quando o calor, geralmente na forma de energia radiante,
níveis tóxicos de todos os fármacos administrados em doses é absorvido pelo corpo a uma velocidade superior à que o corpo
repetidas.595 A adrenalina e os restantes fármacos devem ser pode perder pelos mecanismos de termorregulação. A hiperter-
protelados até o doente estar aquecido até, aproximadamente, mia exprime-se ao longo de um continuum de situações que se
aos 30ºC. Depois dos 30ºC o intervalo para administração de iniciam com stress pelo calor, exaustão pelo calor, golpe de calor,
fármacos deve ser o dobro do preconizado na normotermia. A disfunção multiorgânica e em algumas circunstâncias PCR.599
partir dos 35ºC devem ser utilizados os protocolos tradicionais. O golpe de calor é a resposta inflamatória sistémica à tempera-
À medida que a temperatura central baixa, a bradicardia sinusal tura > 40.6 °C. Acompanha-se de alterações mentais e níveis
Paragem cardíaca em situações especiais: alterações electrolíticas, envenenamentos, afogamento, 65
hipotermia acidental, hipertermia, asma, anafilaxia, cirurgia cardíaca, trauma, gravidez, electrocussão10
de disfunção de órgãos variável. Há dois tipos de golpe de calor: • Hiper-insuflação dinâmica, i.e. pressão tele-expiratória auto-
o clássico golpe de calor sem exercício que ocorre em períodos -positiva (auto-PEEP), que pode ocorrer em asmáticos em
de temperaturas ambiente elevadas, que atinge preferencial- ventilação mecânica. A auto-PEEP é provocada pelo apri-
mente os idosos durante as ondas de calor.600 O golpe de calor sionamento do ar inspirado, com “bloqueio da respiração” (o
associado ao exercício que ocorre após esforço físico extremo ar inspirado não consegue sair, porque a broncoconstrição
em condições de temperatura elevada e/ou humidade elevada, pode impedir a expiração se o tempo expiratório for insufi-
atinge mais vezes jovens adultos.601 A mortalidade por golpe de ciente para permitir a saída de todo o volume corrente). Em
calor atinge 10% a 50 %.602 resultado a pressão intra-torácica aumenta com compromis-
O tratamento baseia-se na terapêutica de suporte das funções so do retorno venoso seguida de hipotensão.
vitais, optimização do ABCDE e arrefecimento rápido do doen- • Pneumotórax hipertensivo (muitas vezes bilateral).
te.603-605 Iniciar o arrefecimento antes da vítima chegar ao hospi-
tal, com o objectivo de que a temperatura central seja de cerca
de 39ºC. O doente com golpe de calor grave deve ser tratado
em ambiente de cuidados intensivos. Intervenções-chave para impedir a PCR
Não há estudos específicos de PCR em doentes com hipertermia.
Em caso de PCR seguem-se as recomendações gerais para ao O doente com asma grave exige tratamento médico agressivo,
SBV e SAV e promove-se o arrefecimento do doente. Devem- com base na metodologia ABCDE, para evitar que a situação
-se utilizar técnicas idênticas às que se utilizam na indução da se deteriore. Os doentes cuja SaO2 é <92% ou em que a asma
hipotermia. Não há dados referentes ao limiar da desfibrilhação se apresenta com risco de vida estão em risco acrescido de
em doentes com hipertermia, pelo que a desfibrilhação segue a desenvolver hipercapnia, pelo que devem ser monitorizados por
regra geral associada ao arrefecimento do doente. Estudos em gasometria. Estes doentes devem ser tratados por clínicos ex-
animais sugerem que o prognóstico das PCR em condições de perientes e em ambiente de cuidados intensivos. Os fármacos
hipertermia é mau, em comparação com os que ocorrem em con- específicos e a sequência do tratamento variam com as práticas
dições de normotermia.606, 607. O risco de lesão neurológica grave locais e estão descritos em pormenor na secção 8 das reco-
aumenta por cada grau de temperatura corporal >37°C.349 mendações ERC 2010
a evidência a suportar esta intervenção seja limitada, é imprová- adulto, titular a adrenalina ev começando com 50 microgramas
vel que, em situações limítrofes, faça mal.15 ev e ajustar as doses seguintes em função da resposta. Admi-
A hiper-insuflação dinâmica aumenta a impedância trans-torá- nistrar no início O2 na maior concentração disponível, utilizando
cica.618 Considerar o aumento da energia do choque da desfi- máscara com reservatório.427 Fazer rapidamente “fluid challenge”
brilhação se as tentativas de desfibrilhação iniciais falharem.14 com 500-1000mL de fluidos ev no adulto (20 mL kg-1 na criança),
No asmático grave em PCR há boa evidência a suportar a mas- monitorizar a resposta e perfundir mais volume ev se necessário.
sagem cardíaca directa com tórax aberto. O algoritmo dos 4H Os restantes tratamentos (corticosteróides, anti-histamínicos, …)
e 4T ajuda a identificar as causas de PCR relacionadas com a indicados no tratamento da asma grave são descritos em por-
asma. Durante a PCR pode ser difícil diagnosticar pneumotórax menor na secção 8g. Se ocorre PCR, iniciar de imediato SBV e
hipertensivo, que quando existe pode ser sugerido pela assi- continuar de acordo com as recomendações. Pode ser neces-
metria da expansão torácica, hipofonese homolateral, desvio sário fazer reanimação prolongada. Os reanimadores devem-se
da traqueia no sentido contrário e aparecimento de enfisema assegurar de que a ajuda foi pedida e que vem a caminho já que
subcutâneo. Em mãos experientes a eco é mais rápida e tem são necessárias intervenções de SAV, precocemente.
maior sensibilidade do que o Rx de tórax na identificação de O doseamento da triptase dos mastócitos ajuda a confirmar o
pneumotórax.619 Na PCR relacionada com asma grave conside- diagnóstico de anafilaxia. O ideal é colher três amostras: logo
rar sempre a possibilidade de pneumotórax bilateral que a reanimação começa, outra 1-2h depois do início dos sin-
Com oxigenação extra-corporal consegue-se manter a perfusão tomas e a terceira amostra 24h depois, no período de convales-
e a oxigenação em casos de falência respiratória e circulató- cença. Os doentes com anafilaxia devem ser todos encaminha-
ria. Há descrições de sucesso no tratamento com oxigenação dos para Alergologista capaz de identificar a causa e preparar o
extra-corporal, de adultos, em PCR relacionada com a asma;620, doente para lidar com episódios futuros
621
contudo o seu papel na PCR associada à asma nunca foi
investigado em estudos controlados.
Paragem cardíaca pós-cirurgia cardíaca
devem ter por objectivo obter uma pressão arterial sistólica de critas no passado. Naqueles em quem foi tentada a reanimação
pelo menos 80mmHg e frequência de 100 min-1. por PCR traumática e sobreviveram o resultado neurológico é
bom em 1,6% dos casos.
Desfibrilhação
Commotio cordis
Neste contexto há risco de disjunção esternal ou lesão miocár-
dica causadas pelas compressões torácicas externas.634-637 No Commotio cordis é a PCR ou quase PCR provocada por trauma
pós-operatório da cirurgia cardíaca a presença de FV/TV em fechado do précordio.647-651 O impacto no tórax na fase vulnerá-
doentes monitorizados é indicação para aplicar, de imediato, vel do ciclo cardíaco pode provocar arritmia maligna (geralmen-
três choques seguidos (se necessários) te FV). Ocorre principalmente em desportistas (mais frequente
No pós operatório precoce de cirurgia cardíaca, a falência da no “baseball”) e em actividades recreativas, sendo as vítimas
série de três choques, deve activar a possibilidade de re-ester- geralmente jovens (idade média 14 anos). A sobrevida média
notomia. As desfibrilhações seguintes devem seguir o algoritmo do commotio cordis é de 15%, mas se a reanimação correcta se
universal e se a re-esternotomia foi executada, devem ser feitas iniciar nos primeiros 3min, chega aos 25%.651
com as pás internas e o desfibrilhador carregado a 20J.
A adrenalina deve ser utilizada com cautela e titulada em função Não há indicadores de sobrevida fiáveis na PCR traumática. Há
um estudo que descreve a presença de pupilas reactivas e ritmo
da resposta (no adulto, 100 ou menos microgramas ev). Admi-
sinusal com boa correlação com a sobrevida.652 Noutro estudo
nistrar amiodarona 300 mg ev directa se depois do 3º choque
de trauma penetrante a presença de pupilas reactivas, activida-
não desfibrilhar, mas nunca atrasar a re-esternotomia.
de respiratória e ritmo sinusal correlacionaram-se com a sobre-
vida de forma não significativa.646 Há três estudos que relatam a
ausência de sobreviventes em doentes com assistolia ou ritmos
Re-esternotomia de emergência
agónicos.642, 646, 653 Um outro relata a ausência de sobreviventes
na AEsP por trauma fechado.654 Com base nestes estudos o
É parte integrante da reanimação pós-cirurgia cardíaca, se as
American College of Surgeons e a National Association de mé-
restantes causas reversíveis de PCR tiverem sido excluídas. Na
dicos dos SEM elaboraram recomendações para não iniciar a
FV/TV, depois de assegurada a via aérea e a ventilação e se de-
reanimação em contexto pré-hospitalar.655
pois de aplicados três choques em sequência não desfibrilhar,
há indicação para re-esternotomia sem demora. Na assistolia e
AEsP também há indicação para re-esternotomia se as restan-
Tratamento
tes intervenções falharem.
A sobrevivência de PCR traumática correlaciona-se com o tem-
po de reanimação pré-hospitalar.644, 656-660 No local, estabelecer
Desfibrilhação interna apenas as intervenções essenciais e se a vítima tem sinais de
vida, transferi-la rapidamente para o hospital mais próximo. Em
A desfibrilhação interna com pás aplicadas directamente nos ventrí- doentes com indicação, considerar a possibilidade de toraco-
culos, requer menos energia do que a desfibrilhação externa. Utili- tomia no local.661, 662 Não atrasar a transferência por causa de
zar 20J, 5J se o doente esteve em circulação extra-corporal (CEC). intervenções de eficácia não provada como a imobilização da
Manter as compressões cardíacas, enquanto o desfibrilhador car- coluna.663 Tratar as situações reversíveis: hipoxémica (oxigena-
rega, utilizando pás internas e se o choque for aplicado na fase de ção e ventilação), hemorragias acessíveis (compressão digital,
descompressão a probabilidade de sucesso aumenta.638, 639 torniquetes e fármacos hemostáticos), hemorragias não com-
pressíveis (enfaixamento, fluidos ev), pneumotórax hipertensivo
(descompressão torácica) tamponamento cardíaco (toracoto-
mia imediata). Na PCR por hipovolémia as compressões toráci-
[h2] PCR traumática cas podem não ser eficazes, mas a maioria dos sobreviventes
não tem hipovolémia e neste subgrupo de doentes a reanima-
A PCR traumática tem uma mortalidade elevadíssima, com so- ção pelo algoritmo de SAV pode salvar vidas. A reanimação não
brevida global de 5,6% (0-17%)640-646 Por razões não esclareci- deve atrasar o tratamento das causas potencialmente reversí-
das as taxas de sucesso actuais são melhores do que as des- veis (e.g., toracotomia no tamponamento cardíaco).
68 Paragem cardíaca em situações especiais: alterações electrolíticas, envenenamentos, afogamento,
hipotermia acidental, hipertermia, asma, anafilaxia, cirurgia cardíaca, trauma, gravidez, electrocussão10
Toracotomia para reanimação O compromisso do retorno venoso e débito cardíaco também podem
comprometer a eficácia das compressões torácicas.
Em caso de PCR por trauma penetrante, pode estar indicada to-
racotomia para reanimação pré-hospitalar, se no local estiverem Passos essenciais no SBV na mulher grávida:
médicos com treino específico. A toracotomia de emergência tem • Pedir ajuda precocemente (incluindo obstetra e neonatologista).
melhor indicação se a vítima com trauma cardíaco penetrante
chegar com sinais de vida ou actividade ECG testemunhados, Iniciar SBV de acordo com as recomendações. Garantir compres-
depois de um período curto de reanimação e transporte (sobre- sões torácicas de boa qualidade com o mínimo de interrupções.
vida esperada 31%).664 A toracotomia de emergência no trauma
fechado deve ficar limitada às vítimas com PCR testemunhada ou • Deslocar manualmente o útero para a esquerda para aliviar
com sinais vitais presentes à chegada (sobrevida esperada 1,6%) a compressão da veia cava inferior.
• Promover a inclinação lateral esquerda da bacia / abdómen
se possível – não se sabe qual é o ângulo ideal para essa in-
Ecografia clinação, mas recomenda-se 15-30º. O ângulo da inclinação
deve permitir compressões torácicas eficazes e, se neces-
A ecografia é um auxiliar precioso na avaliação do traumatiza- sário, extrair o feto por cesariana (ver abaixo)
do. Pode diagnosticar, em minutos, com fiabilidade: hemoperito-
neu, hemo-pneumotórax, tamponamento cardíaco na fase pré-
-hospitalar.665 Hoje é possível fazer ecografia no pré-hospitalar
apesar da sua eficácia estar por provar.666 Modificações do suporte avançado de vida
Modificações das recomendações para o SBV Considerar a necessidade de histerotomia imediata ou cesaria-
da mulher grávida na logo que a grávida entra em PCR. Em algumas circunstân-
cias a tentativa de reanimação imediata restaura um ritmo po-
Depois das 20 semanas de gravidez o útero da mulher grávida faz tencialmente eficaz, que nos primeiros meses de gravidez pode
pressão posterior, comprimindo a veia cava inferior e a aorta, compro- ser compatível com o prosseguimento da gravidez até ao termo.
metendo quer o retorno venoso quer o débito cardíaco. A obstrução Se a reanimação inicial não é eficaz, a retirada do feto pode
do retorno venoso, por compressão uterina pode causar hipotensão aumentar a possibilidade de recuperação da mãe e do feto.674-676
e choque e se a doente está em estado crítico precipitar PCR670, 671 Na gravidez < 20 semanas, não é necessário considerar ce-
Paragem cardíaca em situações especiais: alterações electrolíticas, envenenamentos, afogamento, 69
hipotermia acidental, hipertermia, asma, anafilaxia, cirurgia cardíaca, trauma, gravidez, electrocussão10
Tabela 8.1 • Alterações do cálcio e magnésio com a apresentação clínica associada, manifestações no ECG e tratamento recomendado
técnicas e não técnicas (ex. trabalho em equipa, liderança, co- condições específicas. 694, 699, 702, 707, 708, 711, 717, 718 Abaixo suge-
municação estruturada).691, 692 A formação básica e avançada re-se uma abordagem para a formação em reanimação.
são um continuum, apesar da divisão arbitrária.
O curriculum para a formação em SBV e DAE deve ser ajustado • O leigo que desempenha funções a cuidar de cidadãos
aos destinatários e mantido o mais simples possível. As com- como os socorristas de primeira ajuda, os nadadores-salva-
ponentes básicas da formação em SBV e DAE devem ser as dores e os que cuidam de menores devem aprender a fazer
seguintes: 13, 19 compressões torácicas e ventilações
• Na reanimação de crianças, os adultos devem ser aconse-
• Avaliar risco pessoais e do local antes de iniciar a reanimação lhados a utilizar a sequência que treinaram para o adulto,
já que o prognóstico é pior se não fizerem nada. Os não-
Reconhecer a PCR avaliando a resposta, abrindo a via aérea e -especialistas que queiram aprender reanimação pediátrica
avaliando a respiração.4, 13 por terem crianças a seu cargo (pais, professores, educa-
dores de infância, salva-vidas, etc) devem aprender que é
• Reconhecer que a respiração anormal, agónica, no indiví- preferível iniciar a reanimação com cinco insuflações e um
duo inconsciente, que não responde, é sinal de PCR.69, 715 minuto de SBV antes de deixar a vítima para ir buscar ajuda,
• Compressões torácicas de boa qualidade (incluindo fre- se não existir mais ninguém, para o fazer. As compressões
quência, profundidade, expansão e minimização das inter- torácicas na criança devem deprimir pelo menos 1/3 do diâ-
rupções) e ventilações. metro antero-posterior do tórax.8
• Considerar a utilização, na formação, de equipamento de A formação em reanimação deve chegar a todo o cidadão. A au-
treino com comandos e avaliação de desempenho, porque sência de formação não é obstáculo para iniciar a reanimação
melhoram a aquisição e retenção de competências na for- em particular sob orientação telefónica do centro de orientação
mação em SBV.716 de doentes.
• A formação em SBV e DAE deve treinar o algoritmo clássico
com compressões torácicas e ventilações. A reanimação só
com compressões torácicas tem vantagens potenciais em
Princípios da formação em reanimação11 73
Métodos de treino em SBV e DAE que queiram aprender reanimação pediátrica por terem
crianças a seu cargo (pais, professores, educadores de
Há inúmeros métodos de treino em SBV e DAE. O método mais infância, salva-vidas, etc) devem aprender que é preferível
utilizado é o curso tradicional orientado pelo formador.719 Os pro- iniciar a reanimação com cinco insuflações e um minuto de
gramas de autoformação (ex: vídeo, DVD, suporte em compu- SBV antes de deixar a vítima para ir buscar ajuda, se não
tador), bem concebidos, com orientação mínima ou inexistente existir mais ninguém, para o fazer. As compressões toráci-
de formadores, são alternativas eficazes na formação em SBV e cas na criança devem deprimir pelo menos 1/3 do diâmetro
DAE para leigos e profissionais de saúde.720-734 É essencial que antero-posterior do tórax.8
a formação inclua treino prático assumindo que é necessário A formação em reanimação deve chegar a todo o cidadão. A ausên-
reanimar mais do que alguns minutos.13 Sugere-se uma aborda- cia de formação não é obstáculo para iniciar a reanimação em parti-
gem base e simplificada para a formação: cular sob orientação telefónica do centro de orientação de doentes
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98
MANUAL DE
SUPORTE BÁSICO DE VIDA
Manual de Suporte Básico de Vida
COORDENAÇÃO TÉCNICA
Departamento de Formação em Emergência Médica
AUTORES
Ana Sofia Madeira
Nuno Pinto
Fernando Nieves
Guilherme Henriques
João Porto
Carlos Alves
REVISÃO DE TEXTO
Helena Castro
Regina Pimentel
Raquel Ramos
Luis Meira
Adriana Machado
Índice
Bibliografia .............................................................................................................................................................................................................99
Índice de Figuras
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Figura 20 – Permeabilização da via aérea com extensão da cabeça e elevação da mandíbula .......................................................................... 60
Figura 21 – Permeabilização da via aérea com sub-luxação da mandíbula .......................................................................................................... 60
Figura 22 – Pocket Mask ........................................................................................................................................................................................ 62
Figura 23 – Ventilação boca-máscara: posição lateral .......................................................................................................................................... 63
Figura 24 – Ventilação boca-máscara: posição cefálica ........................................................................................................................................ 64
Figura 25 – Dispositivos para administração de oxigénio por inalação ................................................................................................................. 65
Figura 26 – Ventilação com Insuflador Manual: 2 reanimadores ........................................................................................................................... 65
Figura 27 – Aspirador e aspiração de secreções ................................................................................................................................................... 69
Capítulo 4
Índice de Esquemas
Capítulo 2
Capítulo 4
LISTA DE ACRÓNIMOS
OBJECTIVOS
1. CONCEITOS E DEFINIÇÕES
É a actividade na área da saúde que abrange tudo o que se passa desde o local onde
ocorre uma situação de emergência até ao momento em que se conclui, no
estabelecimento de saúde adequado, o tratamento definitivo que aquela situação exige.
No ano de 1980, após um ano de trabalho desenvolvido por uma Comissão de Estudo de
Emergência Médica e que culminou com a apresentação de uma proposta de
desenvolvimento de um Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM), foi constituído o
Gabinete de Emergência Médica (GEM) que tinha como principal atribuição a elaboração
de um projecto de organismo que viesse a desenvolver e coordenar o Sistema Integrado
de Emergência Médica (SIEM).
Como resultado do trabalho desenvolvido pelo GEM, em 1981 foi criado o Instituto
Nacional de Emergência Médica (INEM) sendo extintos o SNA e o GEM.
O INEM, dispondo à partida dos meios de socorro/transporte (instalados pelo SNA na PSP
e em Quartéis de Bombeiros), das centrais 115 e de uma rede de avisadores SOS
colocados em estradas nacionais e, tendo como principal objectivo o desenvolvimento e
coordenação do SIEM, reorganiza e desenvolve as Centrais de Emergência e os
Avisadores SOS e remodela os Postos de Ambulância, estabelecendo acordos com
Bombeiros, Polícia e Cruz Vermelha para a constituição de Postos de Emergência Médica
(PEM) e Postos Reserva.
Logo no ano seguinte, o INEM põe em funcionamento na sua sede a primeira Central
medicalizada de informação toxicológica, o Centro de Informação Antivenenos (CIAV).
Criado em 16 de Junho de 1982 no INEM, o CIAV teve a sua origem no ‘SOS - Centro
Informativo de Intoxicações’, serviço privado fundado em 1963 pelo médico Filipe Vaz, o
qual mais tarde viria a ceder toda a documentação deste Centro ao INEM.
Nos anos seguintes o INEM põe em funcionamento o Centro de Formação de Lisboa, que
tem como finalidade a formação de Médicos, Enfermeiros, Operadores de Central e
Tripulantes de Ambulância em Técnicas de Emergência Médica.
Os psicólogos do CAPIC garantem, 24 horas por dia, o apoio psicológico das chamadas
telefónicas recebidas nos CODU que o justifiquem e, através das UMIPE (Unidades Móveis
de Intervenção Psicológica de Emergência) podem ser accionados para o local das
ocorrências onde seja necessária a sua presença.
Além dos serviços e dos meios de intervenção já referidos, o INEM dispõe ainda de vários
meios com capacidade de intervenção em situações excepcionais, nomeadamente
catástrofes ou acidentes graves de que resultem vítimas em números elevados.
Entre estes meios podem ser referidas as Viaturas de Intervenção em Catástrofe (VIC), as
viaturas para intervenção em situações envolvendo agentes NRBQ (Nuclear &
Radiológicos, Biológicos e Químicos) e o Hospital de Campanha.
As VIC estão sedeadas em cada uma das quatro Delegações Regionais do INEM (Lisboa,
Porto, Coimbra, e Faro) e podem ser accionadas a qualquer momento. Estas viaturas
permitem a montagem de Postos Médicos Avançados, melhorando as condições em que
as equipas dos vários meios de socorro intervêm e permitindo a prestação de melhores
cuidados de Emergência no local das ocorrências.
3. FASES DO SIEM
Tendo como base o símbolo da ‘Estrela da Vida’, a cada uma das suas hastes corresponde
uma fase do SIEM.
3.1. Detecção
3.2. Alerta
É a fase em que se contactam os serviços de emergência, utilizando o Número Europeu de
Emergência - 112.
3.3. Pré-socorro
Conjunto de gestos simples que podem e devem ser efectuados até à chegada do socorro.
3.4. Socorro
Corresponde aos cuidados de emergência iniciais efectuados às vítimas de doença súbita
ou de acidente, com o objectivo de as estabilizar, diminuindo assim a morbilidade e a
mortalidade.
3.5. Transporte
Esta fase corresponde ao tratamento no serviço de saúde mais adequado ao estado clínico
da vítima. Em alguns casos excepcionais, pode ser necessária a intervenção inicial de um
estabelecimento de saúde onde são prestados cuidados imprescindíveis para a
estabilização da vítima, com o objectivo de garantir um transporte mais seguro para um
hospital mais diferenciado e/ou mais adequado à situação.
4. INTERVENIENTES NO SIEM
Agentes da autoridade;
Bombeiros;
Tripulantes de ambulância;
Técnicos de Ambulância de Emergência;
Médicos e enfermeiros;
Pessoal técnico hospitalar;
Pessoal técnico de telecomunicações e de informática.
5. ORGANIZAÇÃO DO SIEM
5.1. O INEM
O INEM, através do Número Europeu de Emergência - 112, dispõe de vários meios para
responder com eficácia, a qualquer hora, a situações de emergência médica.
5.2. CODU
Compete aos CODU atender e avaliar no mais curto espaço de tempo os pedidos de
socorro recebidos, com o objectivo de determinar os recursos necessários e adequados a
cada caso. O funcionamento dos CODU é assegurado em permanência por médicos e
técnicos, com formação específica para efectuar:
O atendimento e triagem dos pedidos de socorro;
O aconselhamento de pré-socorro, sempre que indicado;
A selecção e accionamento dos meios de socorro adequados;
O acompanhamento das equipas de socorro no terreno;
O contacto com as unidades de saúde, preparando a recepção hospitalar dos
doentes.
Em caso de acidente ou doença súbita ligue, a qualquer hora, 112. A sua colaboração é
fundamental para permitir um rápido e eficaz socorro às vítimas, pelo que é fundamental
que faculte toda a informação que lhe seja solicitada.
Siga sempre as instruções que lhe derem, elas constituem o pré-socorro e são
fundamentais para ajudar a(s) vítima(s). Desligue apenas o telefone quando lhe for
indicado e esteja preparado para ser contactado posteriormente para algum esclarecimento
adicional.
5.3. AMBULÂNCIAS
5.4. MOTAS
5.5. UMIPE
5.6. VMER
Actuam na dependência directa dos CODU, tendo uma base hospitalar, isto é, estão
localizadas num hospital. Têm como principal objectivo a estabilização pré-hospitalar e o
acompanhamento médico durante o transporte de vítimas de acidente ou doença súbita em
situações de emergência.
5.7. HELICÓPTEROS
Os CODU coordenam:
Motociclos de Emergência;
UMIPE;
VMER;
Helicópteros.
O INEM presta também orientação e apoio noutros campos da emergência tendo, para tal,
criado vários sub-sistemas:
O Centro de Orientação de Doentes Urgentes Mar (CODU MAR) tem por missão prestar
aconselhamento médico a situações de emergência que se verifiquem em inscritos
marítimos. Se necessário, o CODU MAR pode accionar a evacuação do doente e organizar
o acolhimento em terra e posterior encaminhamento para o serviço hospitalar adequado.
5.9. CIAV
TÓPICOS A RETER
OBJECTIVOS
INTRODUÇÃO
- Ele respira?
- Acho que não. Depressa! Querem deixar o homem morrer?
- A ambulância vai já a caminho, bem como uma equipa médica. Quer fazer alguma coisa
para ajudar a salvar o seu vizinho? Sabe fazer suporte básico de vida?
Quando surge uma paragem cardíaca e/ou respiratória as hipóteses de sobrevivência para
a vítima variam em função do tempo de intervenção. A medicina actual tem recursos que
permitem recuperar para a vida activa, vítimas de paragem cardíaca e respiratória desde
que sejam assegurados os procedimentos adequados em tempo oportuno. Se o episódio
ocorrer num estabelecimento de saúde, em princípio, serão iniciadas de imediato
manobras de suporte básico e avançado de vida, pelo que existe uma maior probabilidade
de sucesso.
A chegada de um meio de socorro ao local, ainda que muito rápida pode demorar tanto
como... 6 minutos! As hipóteses de sobrevivência da vítima terão caído de 98% para...11%
se os elementos que presenciaram a situação não souberem actuar em conformidade.
Em condições ideais, todo o cidadão devia estar preparado para saber fazer SBV.
1. A CADEIA DE SOBREVIVÊNCIA
Para o funcionamento adequado deste elo é fundamental que quem presencia uma
determinada ocorrência seja capaz de reconhecer a gravidade da situação e saiba activar o
sistema de emergência, ligando adequadamente 112.
A incapacidade de adoptar estes procedimentos significa falta de formação. A consciência
de que estes procedimentos podem salvar vidas humanas deve ser incorporada o mais
cedo possível na vida de cada cidadão.
Para que uma vítima em perigo de vida tenha maiores hipóteses de sobrevivência é
fundamental que sejam iniciadas de imediato, no local onde ocorreu a situação, manobras
de reanimação. Isto só se consegue se quem presencia a situação tiver a capacidade de
iniciar o Suporte Básico de Vida.
O SBV permite ganhar tempo, mantendo alguma circulação e alguma ventilação até à
chegada de socorro mais diferenciado, capaz de instituir procedimentos de Suporte
Avançado de Vida.
Desfibrilhação Precoce
A maioria das paragens Cardio-Respiratória no adulto ocorre devido a uma perturbação do
ritmo cardíaco a que se chama Fibrilhação Ventricular (FV). Esta perturbação do ritmo
cardíaco caracteriza-se por uma actividade eléctrica caótica de todo o coração, em que não
há contracção do músculo cardíaco e, portanto, não é bombeado sangue para os tecidos.
O único tratamento eficaz para esta arritmia é a desfibrilhação, que consiste na aplicação
de um choque eléctrico, externamente a nível do tórax da vítima, para que, ao atravessar o
coração, possa parar a actividade caótica que este apresenta.
Também este elo da cadeia deve ser o mais precoce possível porque a probabilidade de
conseguir tratar a FV com sucesso depende do tempo. A desfibrilhação logo no 1º minuto
em que se instala a FV pode ter uma taxa de sucesso próxima dos 100 % mas ao fim de 8
- 10 minutos a probabilidade de sucesso é quase nula.
Este elo da cadeia é uma ‘mais-valia’. Nem sempre a desfibrilhação por si só é eficaz para
recuperar a vítima ou, por vezes, pode mesmo não estar indicada. O SAV permite
conseguir uma ventilação mais eficaz (através da entubação traqueal) e uma circulação
também mais eficaz (através da administração de fármacos). Idealmente deverá ser
iniciado ainda na fase pré-hospitalar e continuado no hospital, permitindo a estabilização
das vítimas de PCR que foram reanimadas para melhorar a sua qualidade de vida.
Recomenda-se que os operadores dos CODU sejam treinados para colher informação,
com protocolos específicos, a quem pede ajuda. As questões formuladas para obter
informação devem esclarecer se a vítima responde e como está a respiração. Na ausência
de respiração, ou se a vitima não responde e não respira normalmente, deve ser activado o
socorro, por suspeita de PCR.
Quando sujeitas a situações de pressão as cadeias partem pelo elo mais fraco. A paragem
cardíaca é a mais emergente das situações com que se defrontam os profissionais de
saúde. O acontecimento é geralmente inesperado e o sucesso do tratamento exige rapidez
e coordenação. Nesta situação, a cadeia de sobrevivência, como todas as cadeias, partirá
pelo seu elo mais fraco.
Em resumo:
Por vezes, o desejo de ajudar alguém que nos parece estar em perigo de vida pode levar-
nos a ignorar os riscos que podemos correr. Se não forem garantidas as condições de
segurança antes de se abordar uma vítima poderá, em casos extremos, ocorrer a morte da
vítima e do reanimador.
Existe uma regra básica que nunca deve ser esquecida: o reanimador não deve expor-se a
si, nem a terceiros, a riscos que possam comprometer a sua integridade física.
Na maioria das vezes, uma avaliação adequada e um mínimo de cuidado são suficientes
para garantir as condições de segurança necessárias.
Se pára numa estrada para socorrer alguém, vítima de um acidente de viação deve:
Posicionar o seu carro para que este o proteja funcionando como escudo, isto é,
antes do acidente no sentido no qual este ocorreu;
Sinalizar o local com triângulo de sinalização à distância adequada;
Ligar as luzes de presença ou emergência;
Usar roupa clara para que possa mais facilmente ser visível;
Desligar o motor para diminuir a probabilidade de incêndio.
Nas situações em que a vítima sofre uma intoxicação podem existir riscos acrescidos para
quem socorre, nomeadamente no caso de intoxicação por fumos ou gases tóxicos (como
os cianetos ou o ácido sulfúrico). Para o socorro da vítima de intoxicação é importante
identificar o produto bem como a sua forma de apresentação (em pó, líquida ou gasosa) e
contactar o CIAV para uma informação especializada, nomeadamente sobre possíveis
antídotos.
Em caso de intoxicação por produtos gasosos é fundamental não se expor aos vapores
libertados, que nunca devem ser inalados. O local onde a vítima se encontra deverá ser
arejado ou, na impossibilidade de o conseguir, a vítima deverá ser retirada do local.
Nas situações em que o tóxico é corrosivo (ácidos ou bases fortes) ou em que pode ser
absorvido pela pele, como os organofosforados (exemplo: 605 Forte®), é mandatório, além
de arejar o local, usar luvas e roupa de protecção para evitar qualquer contacto com o
produto, bem como máscaras para evitar a inalação.
Se houver necessidade de ventilar a vítima com ar expirado deverá ser sempre usada
máscara ou outro dispositivo com válvula unidireccional, para não expor o reanimador ao ar
expirado da vítima. Nunca efectuar ventilação boca-a-boca.
Em resumo:
Ao socorrer vítimas em que possa ter ocorrido uma intoxicação deverá cumprir
rigorosamente as medidas universais de protecção, isto é, usar luvas, bata,
máscaras e óculos (ou máscara com viseira).
O sangue é o principal veículo de contágio, em relação ao qual devem ser adoptadas todas
as medidas universais de protecção.
São igualmente importantes medidas de protecção em relação ao contacto com fluidos
orgânicos (como o sémen ou secreções vaginais, líquidos amniótico, pleural, peritoneal ou
cefaloraquidiano). Não se consideram necessárias as mesmas medidas de protecção em
relação a fluidos orgânicos como a saliva, secreções brônquicas, suor, vómito, fezes ou
urina, na ausência de contaminação com sangue.
Existe um risco pequeno de infecção por picada com agulha contaminada, pelo que é
necessário adoptar medidas cuidadosas no manuseio de objectos cortantes ou picantes os
quais devem imediatamente ser colocados em contentores apropriados.
Em resumo:
No caso de não serem utilizadas máscaras individuais, as superfícies dos manequins são
desinfectadas com um produto apropriado que minimiza o risco de transmissão de vírus,
bactérias ou fungos entre os praticantes.
3. SBV NO ADULTO
Nos países ocidentais umas das principais causas de morte são as doenças
cardiovasculares.
A maioria destas mortes (cerca de 2/3) ocorre fora do ambiente hospitalar.
As manobras de SBV não são, por si só, suficientes para recuperar a maior parte das
vítimas de paragem cardio-respiratória.
O SBV destina-se a ganhar tempo, mantendo parte das funções vitais até à chegada do
Suporte Avançado de Vida. No entanto, em algumas situações em que a falência
respiratória foi a causa primária da paragem cardio-respiratória, o SBV poderá reverter a
causa e conseguir uma recuperação total.
Como referido anteriormente o conceito de SBV implica que seja praticado sem recurso a
qualquer equipamento específico.
Como em qualquer outra situação, deve começar por avaliar as condições de segurança
antes de abordar a vítima.
Como referido anteriormente, o conceito de SBV implica que seja praticado sem recurso a
qualquer equipamento específico. A utilização de algum equipamento para permeabilizar a
via aérea (exemplo: tubo orofaríngeo) ou de máscara facial para as insuflações ou
O reanimador deve posicionar-se junto da vítima para que, se for necessário, possa fazer
insuflações e compressões sem ter que fazer grandes deslocações.
Está bem?
Sente-se bem?
Se a vítima responder, pergunte o que se passou, se tem alguma queixa, procure ver se
existem sinais de ferimentos e, se necessário, vá pedir ajuda, ligando 112. Desde que isso
não represente perigo acrescido, deixe-a na posição em que a encontrou;
Se a vítima não responder, e estiver sozinho peça ajuda gritando em voz alta ‘Preciso de
ajuda! Está aqui uma pessoa desmaiada!’. Não abandone a vítima e prossiga com a
avaliação. Se houver outro reanimador, informe-o e prossiga a avaliação;
AJUDA!
Está aqui uma
pessoa desmaiada!
NOTA: Ao efectuar a elevação do mento não comprima as partes moles, devendo colocar
os dedos apenas na parte óssea (no maxilar inferior).
Se existir a suspeita de traumatismo da coluna cervical não deve ser feita a extensão da
cabeça. Várias situações podem causar traumatismo da coluna cervical, nomeadamente:
acidentes de viação, quedas, acidentes de mergulho ou agressão por arma de fogo. Nestes
casos a permeabilização da via aérea deve ser feita apenas por técnicos devidamente
credenciados, pelo que deve ligar 112.
Se estiver sozinho, após verificar que a vítima não respira, terá de abandoná-la para
efectuar o pedido de ajuda diferenciada, ligando 112. Ao fazê-lo, deve informar que se
encontra com uma vítima inconsciente que não respira normalmente, fornecendo o local
exacto onde se encontra.
Se estiver alguém junto de si deve pedir a essa pessoa que ligue 112, dizendo-lhe, se
necessário, como deverá proceder (isto é, deve dizer que a vítima está inconsciente e não
respira normalmente) e fornecer o local exacto onde se encontra, e que no fim da ligação
regresse novamente. Enquanto o segundo elemento vai efectuar o pedido de ajuda
diferenciada, o primeiro inicia de imediato as compressões torácicas.
Este pedido de ajuda diferenciada é extremamente importante para que a vítima possa ter
desfibrilhação e/ou SAV o mais rápido possível, já que é improvável que a vítima recupere
apenas com manobras de SBV. Como foi referido anteriormente a causa mais frequente de
PCR, num adulto, é de origem cardíaca, habitualmente devido a uma perturbação do ritmo
cardíaco – Fibrilhação Ventricular, cujo único tratamento é a desfibrilhação.
Para iniciar compressões torácicas a vítima deve estar em decúbito dorsal sobre uma
superfície rígida com a cabeça no mesmo plano do resto do corpo:
Ajoelhe-se junto à vítima;
Coloque a base de uma mão no centro do tórax da vítima (na metade inferior do
esterno);
Coloque a outra mão sobre esta;
Entrelace os dedos e levante-os, ficando apenas a base de uma mão sobre o
esterno, e de forma a não exercer qualquer pressão sobre as costelas;
Mantenha os braços esticados e, sem flectir os cotovelos, posicione-se de forma
que os seus ombros fiquem perpendiculares ao esterno da vítima;
Pressione verticalmente sobre o esterno, de modo a que este baixe pelo menos 5
cm (no máximo 6 cm);
Alivie a pressão, de forma que o tórax possa descomprimir totalmente, mas sem
perder o contacto da mão com o esterno;
Repita o movimento de compressão e descompressão de forma a obter uma
frequência de pelo menos 100/min (no máximo 120/min);
Recomenda-se que comprima ‘com força e rapidez’.
Para isso devem minimizar-se as pausas (planear as acções seguintes com antecipação)
e comprimir o tórax ‘com força e rapidez’ (deprimir o tórax 5 a 6 cm a um ritmo de 100 a
120/min).
Se estiverem presentes dois elementos com treino em SBV, quando o elemento que foi
efectuar o pedido de ajuda diferenciada regressar, deve entrar para as compressões
torácicas, aproveitando o tempo em que o primeiro elemento efectua as 2 insuflações para
localizar o ponto onde deverá fazer as compressões. Deste modo reduzem-se as perdas
de tempo desnecessárias.
Capítulo 2. Figura 9. Manobras de SBV a 2 reanimadores (com máscara de bolso e com insuflador manual).
Deve iniciar as compressões logo que esteja feita a segunda insuflação, aguardando
apenas que o outro reanimador se afaste, não esperando que a expiração se complete
passivamente.
As mãos devem ser mantidas sempre em contacto com o tórax, mesmo durante a fase das
insuflações. Deverá ter o cuidado, nesta fase, de não exercer qualquer pressão, caso
contrário aumenta a resistência à insuflação de ar, a ventilação não é eficaz e ocorre
insuflação gástrica com a consequente regurgitação.
O reanimador que está a fazer as insuflações deverá preparar-se para iniciar as mesmas
logo após a 30ª compressão, com o mínimo de perda de tempo possível.
Isto requer treino para que não haja perda de tempo mas sem prejuízo da correcta
execução das manobras.
Troca de Reanimadores
O reanimador que está a fazer as compressões deve anunciar (ex: durante as insuflações)
que pretende trocar no final da próxima série de 30 compressões. Durante essa série de 30
compressões o reanimador que estava a fazer as insuflações preparara-se para passar a
fazer compressões.
As manobras uma vez iniciadas devem ser continuadas sem interrupção até que:
Inconsciente?
Gritar por
AJUDA
Permeabilizar a
Via Aérea
Ligar 112
Continuar até:
30 compressões torácicas A vítima recuperar:
Movimento;
Abertura dos olhos;
Respiração Normal;
Chegada de ajuda
2 Insuflações diferenciada;
30 Compressões Exaustão.
O SBV quando executado correctamente, permite manter a vítima viável até à chegada do
SAV. Podem no entanto ocorrer alguns problemas.
Em resumo:
O SBV é uma medida de suporte que permite manter a vítima viável até à chegada
do Suporte Avançado de Vida;
A sequência de acções baseia-se na metodologia ABC: Via Aérea, Ventilação,
Circulação;
É fundamental saber como e quando pedir ajuda e iniciar precocemente as
manobras de SBV.
Tal como foi referido anteriormente, se a vítima respira normalmente mas está
inconsciente, deve ser colocada em posição lateral de segurança (PLS).
Quando uma vítima se encontra inconsciente em decúbito dorsal, mesmo que respire
espontaneamente, pode desenvolver um quadro de obstrução da via aérea e deixar de
respirar, devido ao relaxamento do palato mole e da epiglote.
A via aérea pode também ficar obstruída por regurgitação do conteúdo gástrico, secreções
ou sangue.
Nestes casos a vítima deve ser colocada numa posição que mantenha a permeabilidade da
via aérea, garantindo a não obstrução por relaxamento do palato mole e epiglote,
permitindo a livre drenagem de um qualquer líquido da cavidade oral, evitando a entrada do
mesmo nas vias respiratórias, nomeadamente no caso de a vítima vomitar.
Ser uma posição o mais ‘lateral’ possível para que a cabeça fique numa posição em
que a drenagem da cavidade oral se faça livremente;
Ser uma posição estável;
Não causar pressão no tórax que impeça a respiração normal;
Possibilitar a observação e acesso fácil à via aérea;
Ser possível voltar a colocar a vítima em decúbito dorsal de forma fácil e rápida;
Não causar nenhuma lesão à vítima.
Dobre o outro braço sobre o tórax e encoste a face dorsal da mão à face da vítima do
lado do reanimador;
Com a outra mão segure a coxa da vítima, do lado oposto ao seu, imediatamente acima
do joelho e levante-a, de forma a dobrar a perna da vítima a nível do joelho;
Mantenha uma mão a apoiar a cabeça e puxe a perna, a nível do joelho, rolando o
corpo da vítima na sua direcção, para espaço criado para o efeito;
Ajuste a perna que fica por cima de modo a formar um ângulo recto a nível da coxa e
do joelho;
Se necessário, ajuste a mão sob a face da vítima para que a cabeça fique em
extensão;
Se a vítima tiver que permanecer em PLS por um longo período de tempo, recomenda-se
que ao fim de 30 minutos seja colocada sobre o lado oposto, para diminuir o risco de
lesões resultantes da compressão sobre o ombro.
Em resumo:
As vítimas inconscientes que respiram devem ser colocadas em PLS, desde que
não haja suspeita de trauma;
A colocação em PLS permite manter a permeabilidade da via aérea e evitar a
entrada de conteúdo gástrico na via aérea.
Em resumo:
As vítimas inconscientes que respiram devem ser colocadas em PLS, desde que
não haja suspeita de trauma;
A colocação em PLS permite manter a permeabilidade e evitar a entrada de
conteúdo gástrico na via aérea.
A OVA é uma emergência absoluta que se não for reconhecida e resolvida leva à morte em
minutos.
Uma das formas mais frequentes de obstrução da via aérea é a resultante de uma causa
‘extrínseca’ à via aérea – alimentos, sangue ou vómito. Qualquer objecto sólido pode
funcionar como corpo estranho e causar obstrução da via aérea – obstrução por corpo
estranho.
A água não actua como ‘corpo estranho’ pelo que não estão indicadas manobras de
desobstrução da via aérea em vítimas de afogamento pois podem causar complicações e
apenas atrasam o início de SBV.
Podem ocorrer situações de obstrução da via aérea por edema dos tecidos da via aérea
como por exemplo no caso de uma reacção anafilática (alergia), uma neoplasia (cancro) ou
uma inflamação da epiglote (epiglotite) sendo esta última mais frequente nas crianças -
obstrução patológica.
A obstrução da via aérea deve ser considerada numa vítima que faz paragem respiratória
súbita, fica cianosada e inconsciente sem motivo aparente.
Nos adultos, a obstrução da via aérea por corpo estranho (OVA CE) ocorre habitualmente
durante as refeições, com os alimentos, e está frequentemente associada a alcoolismo ou
tentativa de engolir pedaços de comida grandes e mal mastigados. Os doentes idosos com
problemas de deglutição estão também em risco de obstrução da via aérea por corpo
estranho e devem ser aconselhados a comer de forma cuidadosa.
5.1.2. CLASSIFICAÇÃO
A obstrução da via aérea pode ser grave ou ligeira.
Distinção entre obstrução da via aérea por corpo estranho (OVA CE) ligeira e grave
Na obstrução ligeira ainda existe a passagem de algum ar a vítima começa por tossir,
ainda consegue falar e pode fazer algum ruído ao respirar.
Enquanto a vítima respira e consegue tossir de forma eficaz o reanimador não deve
interferir, devendo apenas encorajar a tosse, vigiar se a obstrução é ou não resolvida e se
a tosse continua a ser eficaz.
A vítima com obstrução ligeira / parcial da via aérea pode, logo à partida, apresentar uma
tosse ineficaz, dificuldade respiratória marcada e cianose, ou estes sinais podem surgir
progressivamente se a situação não for resolvida.
Consciente?
Sinais de OVA?
Avaliar a GRAVIDADE
Iniciar SBV
Capítulo 2. Esquema 2. Algoritmo Desobstrução da Via Aérea por Corpo Estranho - Adulto.
No caso de obstrução grave da via aérea causada por corpo estranho, deve começar por
tentar a desobstrução da via aérea com aplicação de pancadas inter-escapulares e, no
caso de insucesso, tentar então compressões abdominais (manobra de Heimlich).
Vítima Consciente
Enquanto a vítima respira e consegue tossir de forma eficaz o reanimador não deve
interferir, devendo apenas encorajar a tosse, vigiar se a obstrução é ou não resolvida e se
a tosse continua a ser eficaz.
Se uma vítima consciente com obstrução da via aérea se apresenta com tosse ineficaz,
incapaz de falar ou de respirar proceda de imediato à aplicação de pancadas inter-
escapulares:
Coloque-se ao lado e ligeiramente por detrás da vítima, com uma das pernas
encostadas de modo a ter apoio;
Passe o braço por baixo da axila da vítima e suportá-la a nível do tórax com uma
mão, mantendo-a inclinada para a frente, numa posição tal que se algum objecto for
deslocado com as pancadas possa sair livremente pela boca;
Aplique pancadas com a base da outra mão, na parte superior das costas, ao meio,
entre as omoplatas, isto é, na região inter-escapular;
Cada pancada deverá ser efectuada com a força adequada tendo como objectivo
resolver a obstrução;
Após cada pancada deve verificar se a obstrução foi ou não resolvida, aplicando até
5 pancadas no total.
Capítulo 2. Figura 17. Desobstrução da via aérea - Aplicação das pancadas inter-escapulares.
Se a obstrução não for resolvida com a aplicação das pancadas inter-escapulares, deve
passar à aplicação de compressões abdominais - Manobra de Heimlich.
Esta manobra causa uma elevação do diafragma e aumento da pressão nas vias aéreas,
com a qual se consegue uma espécie de ‘tosse artificial’, forçando a saída do corpo
estranho.
Coloque-se por trás da vítima, com uma das pernas entre as pernas daquela;
Coloque os braços à volta da vítima ao nível da cintura;
Feche uma das mãos, em punho, e coloque a mão com o polegar encostado ao
abdómen da vítima, na linha média um pouco acima do umbigo e bem afastada do
apêndice xifóide;
Capítulo 2. Figura 18. Desobstrução da via aérea – Colocação das mãos na Manobra de Heimlich.
Com a outra mão agarre o punho da mão colocada anteriormente e puxe, com um
movimento rápido e vigoroso, para dentro e para cima na direcção do reanimador;
A manobra de Heimlich também pode ser executada pela própria vítima de obstrução da
via aérea, caso se encontre sozinha. Para tal deverá colocar uma mão em punho um pouco
acima do umbigo e com a outra mão em cima da primeira comprimir para cima e para
dentro com um movimento rápido.
No caso de não obter sucesso poderá comprimir a porção superior do abdómen contra
uma superfície rija como por exemplo as costas de uma cadeira ou um varão de escadas.
Vítima Inconsciente
No caso de uma vítima de obstrução da via aérea ficar inconsciente durante a tentativa de
desobstrução da via aérea o reanimador deve:
Enquanto a vítima mantiver obstrução da via aérea não se deve colocar tubo oro faríngeo
pois dificulta a saída do objecto que está a provocar a obstrução.
Em resumo:
A obstrução da via aérea é uma situação emergente que pode levar à morte da
vítima em poucos minutos;
Reconhecer a situação e iniciar de imediato medidas adequadas pode evitar a
paragem cardio-respiratória e salvar uma vida.
6.1. Afogamento
6.2. Electrocussão
Desligar sempre a fonte de energia antes de abordar a vítima. No caso de corrente de alta
voltagem, há possibilidade de a mesma ser conduzida à distância por um fenómeno de
‘arco voltaico’.
Iniciar SBV logo que possível considerando sempre a possibilidade de existência de
traumatismo da coluna cervical e adequando as manobras a essa situação.
6.3. Gravidez
A gravidez é uma situação especial pela existência simultânea de duas vítimas – a mãe e o
feto. As probabilidades de sobrevivência do feto dependem do sucesso da reanimação da
mãe.
No último trimestre da gravidez, pelas dimensões que o útero atinge, o retorno de sangue
ao coração pode estar comprometido, pela compressão que o útero faz sobre a veia cava
inferior. Se não existir retorno de sangue ao coração, não é possível manter circulação.
A descompressão da veia cava inferior consegue-se colocando uma almofada (ou algo
equivalente) debaixo da anca direita da vítima, para que o útero seja deslocado para a
esquerda.
As manobras de SBV não sofrem qualquer outra alteração.
6.4. Hipotermia
A hipotermia define-se pela presença de uma temperatura central < 35º C, ocorrendo,
habitualmente, quando a vítima fica exposta, durante um período prolongado de tempo, ao
frio. As vítimas que ingeriram álcool ou drogas, ou as que ficam inconscientes são mais
susceptíveis à hipotermia.
Sabe-se que a hipotermia confere algum grau de ‘protecção’ aos órgãos nobres,
nomeadamente o cérebro, pelo que é frequente a recuperação total (isto é sem sequelas
neurológicas) de vítimas que estiveram longos períodos de tempo em PCR (sobretudo as
mais jovens).
É fundamental aquecer a vítima. Para isso devem ser retiradas as roupas frias ou
molhadas, cobrir a vítima e colocá-la em local abrigado. Se possível aquecer o ambiente
(ex: célula sanitária da ambulância).
Caso não exista paragem respiratória é fundamental manter a permeabilidade da via aérea
e aquecer a vítima, não esquecendo que não devem ser efectuados movimentos bruscos,
por exemplo, na colocação em PLS ou no transporte da vítima, pois podem desencadear
arritmias e levar à paragem cardio-respiratória.
6.5. Intoxicações
Tente saber com exactidão o que aconteceu, isto é, qual o tóxico, qual a sua forma de
apresentação, há quanto tempo ocorreu a intoxicação e por que via (inalado, ingerido,
derramado, etc.). Procure embalagens vazias, restos de medicamentos ou outros produtos,
cheiros característicos, seringas ou agulhas ou, ainda, sinais de corrosão da pele ou da
boca de forma a esclarecer a situação.
Se for necessário efectuar ventilação com ar expirado a vítima só deve ser ventilada
através de máscara facial ou outro dispositivo com válvula unidireccional. Deve conectar
uma fonte de oxigénio, sempre que disponível, em concentrações elevadas, EXCEPTO na
Uma vítima de PCR não deve ser movida do local onde foi encontrada apenas por
conveniência do reanimador e as manobras de SBV não devem ser interrompidas até á
chegada de ajuda, a não ser que a vítima mostre sinais de recuperação.
Caso o local onde se encontra a vítima não seja seguro, como por exemplo em caso de
incêndio, risco de agressão ou desmoronamento, esta deve ser removida para um local
seguro onde se possa iniciar de imediato o SBV.
Na situação em que não é possível deslocar ao local onde a vítima se encontra, uma
equipa que possa efectuar SAV, há necessidade de efectuar o transporte da vítima até
uma unidade hospitalar onde possa então ser instituído o SAV.
Nestas circunstâncias poderá haver necessidade de transportar a vítima por locais onde
não é possível manter continuamente o SBV (por ex: escadas).
Recomenda-se nestes casos que sejam efectuadas manobras de SBV nos patamares e
que seja combinado um sinal, ao qual as manobras são interrompidas e a vítima
transportada para o patamar seguinte, o mais rapidamente possível, onde é reiniciado o
SBV.
As interrupções devem ser breves e sempre que possível evitadas. Não interromper o SBV
no transporte para a ambulância nem durante o transporte até ao hospital.
A utilização de aparelhos/dispositivos mecânicos de compressões torácicas parece ter
benefício durante o transporte em ambulância de vítimas em PCR.
Em resumo:
TÓPICOS A RETER
OBJECTIVOS
INTRODUÇÃO
Nesses casos a avaliação imediata da via aérea, a sua permeabilização e a ventilação são
essenciais, não apenas para prevenir lesões hipóxicas cerebrais e de outros órgãos vitais,
mas também porque sem uma re-oxigenação adequada pode ser impossível pôr em
funcionamento um miocárdio ‘parado’.
Há três manobras que podem melhorar a permeabilidade da via aérea obstruída pela
língua ou outras estruturas da via aérea superior: extensão da cabeça, elevação do
mento e protusão da mandíbula.
A obstrução da via aérea pode ser grave ou ligeira. O mecanismo da obstrução pode ser
parcial ou total (ou completa).
Pode ocorrer a qualquer nível desde o nariz e boca até à traqueia. No doente inconsciente,
o local mais comum de obstrução da via aérea, é ao nível da faringe.
Até há pouco tempo esta obstrução era atribuída à queda da língua para trás, resultante da
perda do tónus normal dos músculos que ligam a língua ao maxilar inferior e à base da
língua, como consequência da perda de consciência. A causa precisa da obstrução da via
aérea em doentes inconscientes foi identificada estudando pacientes sob anestesia geral.
Estes estudos mostraram que a obstrução ocorre devido ao relaxamento do palato mole e
da epiglote, e não à queda da língua.
A obstrução também pode ser causada pelo vómito ou pelo sangue (resultante de
regurgitação do conteúdo gástrico ou trauma) e ainda por corpos estranhos.
A obstrução a nível da laringe pode ocorrer por edema de estruturas da via aérea superior,
na sequência de queimaduras, inflamação ou anafilaxia.
O espasmo laríngeo pode ainda resultar de uma resposta excessiva à estimulação da via
aérea superior ou devido à inalação de um corpo estranho.
A obstrução da via aérea abaixo da laringe é menos comum mas pode surgir devido a
secreções brônquicas excessivas, edema da mucosa, broncospasmo, edema pulmonar,
aspiração do conteúdo gástrico, hemorragia pulmonar, pneumotórax secundário a trauma
torácico ou barotrauma.
Distinção entre obstrução da via aérea por corpo estranho ligeira e grave
A obstrução completa da via aérea num doente ainda a fazer esforço respiratório resulta
num movimento respiratório paradoxal. A observação revela que quando o doente tenta
inspirar a parede torácica levanta mas o abdómen é empurrado para dentro.
O padrão normal da respiração é um movimento síncrono para cima e para fora do
abdómen (que é empurrado para baixo pelo diafragma) com o levantamento da parede
torácica.
Durante a obstrução da via aérea outros músculos acessórios da respiração são chamados
a participar, como os do pescoço e os músculos dos ombros, tentando auxiliar o
movimento da caixa torácica.
É necessário proceder ao exame completo do pescoço, do tórax e abdómen para
diferenciar movimentos paradoxais que podem mimetizar uma respiração normal.
O exame deve incluir o VOS, confirmando a ausência de ruídos respiratórios, de modo a
diagnosticar correctamente uma obstrução completa da via aérea.
Quando tentamos ouvir o fluxo de ar devemos lembrar-nos que a respiração normal é
calma e o som suave, que na obstrução completa há silêncio total e que qualquer ruído
respiratório indica obstrução parcial da via aérea. Se a obstrução da via aérea não for
resolvida em poucos minutos, de forma a permitir ventilação adequada, podem ocorrer
lesões do sistema nervoso e outros órgãos vitais por hipóxia, levando a paragem cardíaca
a curto prazo, a qual pode ser irreversível (capítulo 2).
Uma vez reconhecido qualquer grau de obstrução devem ser tomadas de imediato
medidas para permeabilizar a via aérea.
Existem três manobras que podem ser usadas para permeabilizar a via aérea obstruída por
estruturas da via aérea superior, num doente inconsciente:
Extensão da cabeça;
Elevação do mento (queixo);
Protusão da mandíbula;
A gravidade só por si não explica a obstrução da via aérea num doente inconsciente, já que
a obstrução pode ocorrer quando um doente está na posição supina, em pronação ou em
posição lateral. A actividade anormal de vários músculos da língua, faringe, pescoço e
laringe pode resultar numa incapacidade de manter a permeabilidade da via aérea quando
a cabeça está numa posição neutra ou flectida.
O uso de adjuvantes (como o tubo orofaríngeo) pode ser de alguma utilidade, mas pode
não ser, por si só, o suficiente para prevenir a obstrução.
A protusão da mandíbula é uma manobra alternativa que leva o maxilar inferior para a
frente, aliviando a obstrução causada pelo palato mole e epiglote. Pode também ser usada
quando há uma obstrução nasal e a boca precisa de ser aberta para conseguir uma via
aérea.
A protusão da mandíbula é a técnica de escolha nos doentes em que há uma suspeita de
lesão da coluna cervical.
Tal como já foi referido anteriormente, esta técnica não deve ser usada em vítimas em
relação às quais existe suspeita de traumatismo da coluna cervical, dado que a extensão
da cabeça pode agravar lesões existentes a nível da coluna cervical.
Estes métodos simples têm sucesso na maioria dos casos em que a obstrução da via
aérea resulta de um relaxamento dos tecidos moles.
Depois de cada manobra deve avaliar-se o sucesso usando a metodologia VOS. Em caso
de insucesso é necessário procurar outras causas de obstrução da via aérea.
Um corpo estranho sólido visível na boca deve ser removido usando os dedos, uma pinça
ou por aspiração.
Próteses dentárias deslocadas ou partidas devem ser removidas, mas aquelas que
estiverem bem adaptadas, não devem ser retiradas já que podem ajudar a manter os
contornos da face, facilitando uma boa selagem para a ventilação boca a boca ou com
máscara facial.
2. VENTILAÇÃO
No adulto a necessitar de reanimação o mais provável é que a PCR seja de causa cardíaca
pelo que a reanimação deve iniciar-se pelas compressões torácicas e não pelas
insuflações. Não se deve perder tempo a verificar se há corpos estranhos na boca a menos
que a insuflação não faça o tórax elevar-se.
A ventilação com ar expirado pode ser iniciada em qualquer local sem recursos a qualquer
equipamento, no entanto, proporciona apenas cerca de 16 % de oxigénio. Há situações em
que esta técnica não é exequível como no caso da presença de sangue ou vómito na boca
ou pelo risco de infecções ou intoxicações.
Existem dispositivos que permitem interpor uma barreira entre o reanimador e a vítima e,
por vezes, administrar simultaneamente oxigénio de forma a aumentar a concentração de
oxigénio no ar expirado. São designadas por máscaras de bolso ou pocket masks.
A máscara de bolso é um dispositivo composto por uma máscara facial, com uma válvula
unidireccional. A válvula unidireccional permite ao reanimador soprar para o interior da
boca da vítima e que o ar expirado pela vítima não reflua para o reanimador, sendo
eliminado por um orifício de escape. Fica, assim, isolada a via aérea da vítima da do
reanimador.
São habitualmente transparentes para permitir detectar a presença de sangue, secreções
ou vómito que possam surgir. Algumas têm uma conexão para ligação de oxigénio
suplementar.
Comprima apenas na margem da máscara para que não existam fugas de ar;
Faça insuflações soprando na válvula unidireccional, observando a expansão do
tórax.
Capítulo 3. Figura 23. Ventilação boca-máscara com ‘Pocket Mask’ – posição lateral.
Capítulo 3. Figura 24. Ventilação boca-máscara com ‘Pocket Mask’ – posição cefálica.
A sua utilização eficaz requer treino continuado dado que é necessário efectuar em
simultâneo vários movimentos: extensão da cabeça, elevação do mento, pressão da
máscara sobre a face e insuflação do balão. A má técnica pode causar hipoventilação ou
distensão gástrica e regurgitação.
Não havendo boa adaptação da máscara à face da vítima existem fugas de ar que
impedem uma correcta ventilação. A fuga de ar não se compensa aumentando a
velocidade de compressão do balão que, tal como nos outros métodos de ventilação, deve
ser lenta durante a fase de insuflação de ar, pelos motivos já anteriormente expostos. Se
ocorrerem fugas de ar deve ser revisto o posicionamento das mãos e a localização da
máscara na face da vítima.
O insuflador manual deve ser utilizado quando se encontram presentes dois reanimadores,
com treino na sua utilização, um deles adapta a máscara à face da vítima com ambas as
mãos (tal como descrito em relação à máscara facial em posição cefálica) e o outro
comprime lentamente o balão para efectuar a insuflação de ar.
Deve estar garantida a permeabilidade da via aérea, sendo útil a colocação de um tubo
orofaríngeo, mas é fundamental a manutenção do correcto posicionamento da cabeça em
extensão e elevação do mento.
2.2.1. BOCA-A-BOCA:
2.2.2. BOCA-NARIZ:
A ventilação boca-a-nariz está recomendada quando é impossível ventilar pela boca, o que
pode acontecer por:
Impossibilidade de abrir a boca da vítima;
Existência de lesões graves da face;
Dificuldade em conseguir uma boa adaptação da boca à boca da vítima.
Para ventilar por este método deve manter a cabeça da vítima inclinada para trás, com
uma mão na testa, usar a outra mão para levantar o maxilar e simultaneamente cerrar os
lábios.
Deve, então, fazer uma inspiração profunda, colocar a sua boca à volta do nariz da vítima e
insuflar, fazendo duas insuflações pausadas (tal como descrito anteriormente). Quando
retira a boca a vítima expira passivamente, podendo ser necessário abrir intermitentemente
a boca da vítima para permitir a expiração.
A técnica de ventilação boca-nariz pode ainda ser adequada para iniciar precocemente a
ventilação no salvamento de vítimas de submersão (afogamento). Neste caso as mãos são
habitualmente necessárias para suportar a cabeça da vítima fora de água podendo não ser
possível efectuar a ventilação boca-a-boca.
2.2.3. BOCA-ESTOMA:
Algumas pessoas, por motivo de doença ou de acidente, são operados à laringe, ficando
com ela total ou parcialmente removida ou mesmo obstruída. Neste caso, as pessoas
passam a respirar por um orifício que comunica directamente com a traqueia e que se situa
na base do pescoço, imediatamente acima do esterno (estoma ou orifício de
traqueostomia).
Nesta situação, não é necessário fazer a extensão da cabeça para permeabilizar a via
aérea, uma vez que o orifício de traqueostomia se encontra localizado em comunicação
directa com a traqueia.
Pode sair ar pela boca e/ou nariz da vítima durante a ventilação boca-estoma, impedindo a
correcta ventilação, o que pode ser evitado encerrando a boca e o nariz da vítima com uma
das mãos.
Pode estar inserida no estoma uma cânula de traqueostomia (tubo de plástico rígido) que
deve ser retirada caso esta não esteja permeável (por exemplo, por acumulação de
secreções) e não for possível a sua desobstrução. Se a cânula estiver permeável a
ventilação pode ser efectuada soprando na cânula.
3. ASPIRAÇÃO
Nas situações de obstrução parcial da via aérea por um fluido – vómito, sangue ou
secreções é necessário proceder à aspiração da cavidade oral e da orofaringe, utilizando
para o tal o aspirador de secreções, de forma a manter a permeabilidade da via aérea.
A aspiração da cavidade oral pode ser feita com uma sonda rígida ‘tipo Yankauer’ ou com
uma sonda de aspiração de maior calibre, sobretudo nos casos em que é preciso aspirar
conteúdo alimentar espesso.
Quando a vítima já tem uma via orofaríngea colocada e é necessário efectuar a aspiração,
para além da aspiração da cavidade oral pode ser necessário também aspirar o seu interior
de forma a manter a permeabilidade da via aérea. Nestas situações deve utilizar-se uma
sonda de calibre apropriado, habitualmente de menor calibre que a utilizada para aspiração
da cavidade oral, de forma a permitir a sua manipulação no interior do tubo.
É necessário ter em atenção que a sonda não deve ser introduzida profundamente, mas
apenas o necessário para aspirar as secreções ou outros fluidos presentes na hipofaringe,
de forma a manter a permeabilidade da via aérea. Introduzir a sonda profundamente terá
como consequência a estimulação das zonas da faringe que condicionam o reflexo de
vómito ou mesmo a indução de um espasmo laríngeo com o consequente agravamento da
obstrução da via aérea.
A aspiração de secreções deve ser feita de forma cuidada para não causar traumatismos
da mucosa da cavidade oral ou da faringe. A sonda deve ser introduzida sem estar em
aspiração e ser retirada em aspiração activa efectuando movimentos circulares suaves.
TÓPICOS A RETER
OBJECTIVOS
INTRODUÇÃO
A criança está particularmente sujeita a situações de obstrução da via aérea dado que é de
menor diâmetro e colapsa com facilidade. Também a língua, de dimensões relativas
maiores, mais facilmente causa obstrução da via aérea.
A frequência cardíaca (FC) nas crianças é mais elevada que nos adultos e a manutenção
de uma circulação adequada está muito dependente desta, isto é, só pelo facto de
apresentar uma FC baixa a criança pode apresentar sinais de insuficiência circulatória.
Como veremos mais adiante, face a uma FC baixa e sinais de má perfusão periférica é
necessário proceder como se de ausência de sinais de vida se tratasse.
As situações em que a criança está mais vezes em risco acontecem em casa ou próximo,
habitualmente com alguém conhecido por perto. A maioria das emergências pediátricas
será abordada inicialmente por um não-especialista em Pediatria.
Compreende-se portanto que a ‘Prevenção’ tem particular importância uma vez que, se a
situação de insuficiência respiratória for detectada precocemente e tratada de forma
adequada, pode ser evitada a PCR.
A palpação de pulso não deve ser entendido como o principal sinal de PCR. Mesmo os
profissionais de saúde terão dificuldade em confirmar ou excluir, com absoluta certeza, a
presença de pulso em menos de 10 segundos nas crianças.
Na criança que não responde, não respira normalmente, e não apresenta sinais de vida
(abertura dos olhos, movimento ou tosse), deve ser iniciado de imediato o SBV, com
compressões e insuflações.
Os profissionais de saúde, caso tenham experiência, poderão optar por, adicionalmente,
palpar o pulso para decidir o início das compressões, desde que essa decisão seja tomada
até 10 segundos.
O SBV deve ser de qualidade: as compressões devem ser efectuadas com uma frequência
de 100 por minuto (até um máximo de 120/min), devem deprimir o tórax 1/3 do seu
diâmetro antero-posterior (cerca de 4 cm no lactente e 5 cm na criança com mais de 1
A activação do sistema de emergência médica deve ser feita após ter efectuado cerca de 1
minuto de SBV, excepto no caso específico (e pouco frequente) de crianças com doença
cardíaca conhecida ou história de arritmias, em que deve ligar 112 antes de iniciar o SBV.
O SBV em recém-nascidos nas primeiras horas de vida tem algumas particularidades que
devem ser do conhecimento de todos os que podem estar envolvidos no seu cuidado,
desde o momento do parto. Este campo particular do SBV pediátrico deve, portanto, ser do
conhecimento dos profissionais de saúde.
A forma mais simples, para o utilizador comum e que aprendeu SBV, será adaptar o
algoritmo de SBV do adulto à vítima em idade pediátrica, pois é preferível que faça algum
SBV do que nenhum.
Como em qualquer outra situação, deve começar por avaliar as condições de segurança
antes de abordar a criança.
Como referido anteriormente, o conceito de SBV implica que seja praticado sem recurso a
qualquer equipamento específico. A utilização de algum equipamento para permeabilizar a
via aérea (exemplo: tubo orofaríngeo) ou de máscara facial para insuflação com ar
expirado (exemplo: máscara de bolso) implica a designação de ‘SBV com adjuvantes de
via aérea’.
O reanimador deve posicionar-se junto da vítima para que, se for necessário, possa fazer
insuflações e compressões sem ter que fazer grandes deslocações.
Bebé…
Bebé… Estás bem?
Sentes-te bem?
Se a criança responder, se mexer ou cumprir instruções que lhe são dadas (como abrir os
olhos ou apertar a mão), deixá-la na posição em que está, ou na que ela pretender adoptar
e ir pedir ajuda se necessário, reavaliando-a frequentemente.
Se a criança não responder, e estiver sozinho, peça ajuda gritando em voz alta ‘Preciso
de ajuda! Está aqui uma criança desmaiada!’. Não abandone a criança e prossiga a
avaliação.
Se estiver alguém consigo, informe o segundo reanimador e prossiga a avaliação;
AJUDA!
Está aqui uma
criança desmaiada!
Capítulo 4. Figura 31. Permeabilização da via aérea com extensão da cabeça e elevação do mento.
A posição de recuperação usada nas crianças obedece aos mesmos princípios da PLS do
adulto e pode ser usada a mesma técnica. Nos lactentes sugere-se a colocação em
decúbito lateral, usando uma almofada ou um lençol dobrado, colocado por trás, a nível
das costas, para manter a posição estável.
Cada insuflação de ar deve ser lenta e feita durante 1 - 1,5 Seg., com um volume de ar
suficiente para causar uma expansão torácica visível e após cada insuflação, deve afastar
a boca e manter a via aérea permeável para permitir a expiração e repetir o procedimento,
voltando a encher o peito de ar antes de cada insuflação para melhorar o conteúdo de
oxigénio no ar expirado que irá insuflar.
Na criança (do 1.º ano até aos sinais de puberdade) utilizar a técnica de ventilação boca-
a-boca ou boca-máscara, tal como descrito para o adulto.
Nas situações em que não consegue efectuar uma boa adaptação da boca à volta da boca
e nariz é igualmente adequado efectuar ventilação boca-a-boca ou boca-nariz e mais uma
vez se recorda que não é a idade que marca o limite mas efectivamente o tamanho da
vítima.
A pesquisa de corpos estranhos na cavidade oral através da exploração digital ‘às cegas’
não deve ser feita.
A introdução do dedo (pinça ou sonda de aspiração), apenas deve ser feita para remover
um corpo estranho visível, sempre com o máximo cuidado para não empurrar o objecto.
No lactente deve palpar o pulso braquial, na parte interna do braço, e na criança o pulso
carotídeo. Em qualquer dos grupos pode palpar o pulso femoral.
Se a criança apresenta sinais de circulação mas não respira, continue insuflação com ar
expirado até que esta respire normalmente. Insufle a 12 a 20 ciclos por minuto.
Se detectar pulso palpável, deve contar a frequência cardíaca; se esta for < 60 / minuto e
existirem sinais de má perfusão periférica deve igualmente iniciar compressões torácicas
tal como na ausência de sinais de circulação.
As compressões torácicas, tanto nos lactentes como nas crianças, devem ser efectuadas
sobre a metade inferior do esterno, um dedo acima do apêndice xifóide que, percorrendo
uma das grelhas costais inferiores, se localiza onde as duas se encontram.
Não deve ser apenas a idade da criança a determinar a técnica a aplicar. Nas crianças
maiores poderá ser necessário usar o mesmo método do adulto, ou seja, sobrepor a outra
mão à que se encontra um dedo acima do apêndice xifóide, entrelaçar os dedos e levantá-
los de forma a não exercer pressão sobre o hemitórax oposto, mantendo os braços
esticados e sem flectir os cotovelos, pressionar verticalmente sobre o esterno. Neste caso
é usada também a relação compressões insuflações 15:2.
Capítulo 4. Figura 43. Insuflações sem perder a referência do ponto das compressões torácicas.
Caso estejam presentes dois reanimadores um inicia o SBV enquanto o outro vai ligar
112, logo que detectada a PCR.
Caso esteja presente apenas um reanimador devem ser mantidas as manobras de SBV
durante 1 minuto (5 ciclos de 15:2, ou 3 ciclos 30:2 se for o caso) altura em que, se ainda
estiver sozinho, deverá ir pedir ajuda ligando 112.
No caso dos lactentes, ou sempre que a criança seja suficientemente pequena para ser
transportada ao colo, deve levá-la consigo para manter as manobras de SBV durante esse
período de tempo.
Após o pedido de ajuda apenas deverá reavaliar o lactente ou a criança se, quando a
deixou para pedir ajuda, ela apresentava sinais que entretanto pudessem ter-se
deteriorado (como a existência de respiração normal e / ou pulso). Caso contrário deve
reiniciar de imediato as compressões torácicas.
A única excepção a realizar 1 minuto de SBV antes de pedir ajuda é o caso duma criança
que colapsa subitamente perante o reanimador, e este se encontra sozinho com a vítima.
Neste caso a causa provável da paragem cardíaca é uma arritmia e a criança pode
necessitar de desfibrilhação.
Após o pedido de ajuda deve regressar para junto da criança e continuar as manobras de
SBV de forma ininterrupta, até que:
Chegue ajuda diferenciada;
A criança recupere sinais de vida: comece a acordar, inicie movimentos, abra os
olhos e respire normalmente, ou apresente pulso palpável com FC > 60 bpm;
Fique exausto e incapaz de continuar o SBV.
Inconsciente?
Gritar por
AJUDA
Permeabilizar a
Via Aérea
5 Insuflações
Continuar até:
15 Compressões torácicas A vítima recuperar:
Movimento;
Abertura dos olhos;
Respiração Normal;
Chegada de ajuda
2 Insuflações diferenciada;
15 Compressões Exaustão.
Manter o neonato aquecido é outro aspecto fundamental. Para tal é necessário secá-lo,
dado que com a pele húmida o neonato perde rapidamente calor.
Ao contrário do que acontece no adulto, a obstrução da via aérea (OVA) nas crianças é
uma situação mais frequente.
A maioria das situações de OVA nas crianças ocorre durante a alimentação ou quando as
crianças estão a brincar com objectos de pequenas dimensões. Muitas vezes são
situações presenciadas pelo que o socorro pode ser iniciado de imediato, ainda com a
vítima consciente.
Na criança, a obstrução da via aérea por corpo estranho (OVA CE) manifesta-se por
dificuldade respiratória de início súbito com tosse e estridor. Estes mesmos sinais também
podem surgir na obstrução da via aérea por infecção ou inflamação, como na epiglotite,
mas o seu início é habitualmente menos abrupto e acompanhado por febre. Nestas
situações não está indicado proceder a manobras de desobstrução da via aérea.
Deve-se suspeitar de OVA:
Se a alteração do estado da criança for muito súbita;
Se não existirem outros sinais de doença;
Se existir história de a criança ter comido ou brincado com objectos de pequenas
dimensões imediatamente antes do início dos sintomas.
4.2. Classificação
Se a obstrução é ligeira, provavelmente por ser parcial, a criança tosse, consegue falar ou
chorar, faz algum ruído a respirar e pode estar agitada. Neste caso, desde que a criança
consiga tossir, não deve interferir, encorajando-a apenas a continuar a tossir. Quando a
obstrução é total o quadro é de obstrução grave, a criança não consegue tossir, falar ou
chorar e não se ouve qualquer ruído respiratório. Pode inicialmente manter-se reactiva ou
ficar inconsciente.
Sinais de obstrução da via aérea por corpo estranho (OVA CE) ligeira e grave na
criança
Consciente?
Sinais de OVA?
Avaliar a GRAVIDADE
Permeabilizar VA
5 Insuflações
Iniciar SBV
Capítulo 4. Esquema 4. Algoritmo de Desobstrução da Via Aérea por Corpo Estranho – Criança.
Consciente:
Segure o lactente em decúbito ventral com a cabeça mais baixa que o resto do corpo,
suportando a cabeça com uma mão e apoiando o tórax no antebraço e / ou na coxa
(neste último caso deverá estar sentado);
Aplique pancadas inter-escapulares (nas costas, entre as duas omoplatas) com o
bordo da mão, usando uma força adequada ao tamanho da criança, para tentar
remover o corpo estranho. Se necessário aplicar até um total de 5 pancadas inter-
escapulares;
Com uma mão, segure a cabeça do lactente na região occipital e rode-o em bloco,
para que este fique em decúbito dorsal sobre o outro antebraço. Mantenha a
cabeça a um nível inferior ao do resto do corpo;
Consciente:
Se a criança consegue respirar e tossir deve apenas encorajá-la a tossir;
Não tente efectuar a manobra digital para retirar o corpo estranho, se este não estiver
visível, nem repita este procedimento continuamente;
Tente efectuar 5 insuflações, verificando a eficácia de cada insuflação: se a
insuflação não promove a expansão torácica, reposicione a cabeça antes de nova
tentativa;
Inicie SBV (5 ciclos de 15:2 ou 3 ciclos de 30:2);
Pesquise a cavidade oral antes de tentar efectuar as insuflações;
Se for observado um corpo estranho, deve tentar removê-lo através da manobra digital
(também pode ser usada uma pinça ou um aspirador de secreções).
No lactente ou na criança, sempre que parecer que a obstrução foi resolvida, deve ser
permeabilizada a via aérea, como anteriormente referido, e reavaliada a respiração
(VOS).
TÓPICOS A RETER
Bibliografia