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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 3

2 AS PRIMEIRAS RELAÇÕES ............................................................................ 4

2 LACTAÇÃO ...................................................................................................... 6

3 A RELAÇÃO ENTRE MÃE-BEBÊ ................................................................... 19

3.1 Os cuidados imediatos prestados ao recém-nascido e a promoção do


vínculo mãe-bebê .............................................................................................. 21

3.2 Dados da pesquisa................................................................................... 24

3.3 Resultados e Análise dos Relatos ............................................................ 26

4 MÃES DE RECÉM-NASCIDOS INTERNADOS NA UTI NEONATAL............. 36

4.1 Breve histórico das práticas de cuidados neonatais................................. 37

4.2 O vínculo mãe-bebê numa UTI neonatal.................................................. 40

4.3 A interação mãe-bebê em situações de nascimento de risco .................. 44

5 O CUIDADO COM AS MÃES NO PÓS-PARTO ............................................. 51

6 AS NECESSIDADES BÁSICAS DO BEBÊ..................................................... 55

7 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .................................................................... 60

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1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é
semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase
improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor
e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado.
O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos
ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar,
as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão
respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da
semana e a hora que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 AS PRIMEIRAS RELAÇÕES

O psicanalista inglês e teórico das relações objetais, Winnicott, em 1963,


descreveu o desenvolvimento emocional primitivo em termos da jornada da
dependência à independência, propondo três categorias: dependência absoluta,
dependência relativa e autonomia relativa. Segundo ele, é na fase de dependência
absoluta que a mãe desenvolve o que chamou de preocupação materna primária
(Winnicott, 1956). Este estado especial da mãe faz com que ela seja capaz de
compreender o bebê por meio de uma surpreendente capacidade de identificação,
constituindo-se com ele em uma unidade. A mãe, então, auxilia-o a se integrar. Diz
o autor que, se na fase de dependência absoluta, não há uma mãe capaz de se
conectar com seu bebê, este fica num estado de não-integração, tornando-se apenas
um corpo com partes soltas. De acordo com as ideias acerca do desenvolvimento
propostas por Winnicott, é aqui que ocorrem as falhas primitivas no
desenvolvimento, acarretando o surgimento de patologias mentais.

O que garante o desenvolvimento emocional e o equilíbrio diante das


privações e perdas é o ambiente favorável, aquele em que as privações e
perdas não predominam, apesar de existirem, propiciando ao bebê a
experiência da onipotência. Ao vivenciar a ilusão de onipotência
possibilitada pelo ambiente suficientemente bom, o bebê cria e recria o
objeto, em um processo gradual no seu psiquismo, que lhe serve de apoio
na memória (Winnicott, 1963a/1983a).

Bowlby (1969), por sua vez, descreveu a importância das primeiras relações
para o desenvolvimento, formulando, desse modo, a teoria do apego, quando
descreve as relações do bebê com sua mãe ou cuidador desde o nascimento até
os seis anos de idade. Defende que o ser humano herda um potencial para
desenvolver determinados tipos de sistemas comportamentais, como sugar, sorrir,
chorar, seguir com os olhos. A conduta instintiva é o resultado do controle desses
sistemas comportamentais integrados, que funcionam num determinado ambiente
de adaptabilidade evolutiva, em especial, de sua interação com a principal figura
deste ambiente, a mãe. Nesta perspectiva, o vínculo da criança com a mãe,

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chamado por ele, de apego, tem uma função biológica que lhe é específica e é o
produto da atividade destes sistemas comportamentais que têm a proximidade com
a mãe como resultado previsível. Portanto, ao longo do desenvolvimento, a criança
passa a revelar um comportamento de apego que é facilmente observado e que
evidencia a formação de uma relação afetiva com as principais figuras deste
ambiente. Nessa formulação, não há referência a necessidades fisiológicas e
impulsos, sustenta-se ainda que o ato de nutrir desempenha um papel apenas
secundário no desenvolvimento desses sistemas comportamentais. Desta forma,
torna-se claro que, para Bowlby, a formação do apego não é uma consequência da
satisfação das necessidades fisiológicas básicas como postula Freud. Esta
descrição coincide com as formulações de Spitz acerca da síndrome de
hospitalismo, ou seja, é necessária a existência de uma relação de afeto e de apego
como fator primário para um adequado desenvolvimento (BOWLBY, 1969).
A maioria dos teóricos das relações objetais, em seus estudos sobre
interação mãe-bebê, examinou fatores referentes ao papel da mãe neste processo,
enquanto menos atenção foi dada às contribuições da criança. Não há dúvida de
que a mãe possui, sim, a tarefa de se ligar ao bebê e auxiliá-lo em seu
desenvolvimento. Porém, sabemos, hoje, com o respaldo de pesquisadores
contemporâneos, que ao bebê também cabe esta tarefa e que este possui recursos
para enfrentar tal empreitada. Esta interação, portanto, segue um modelo
bidirecional, em que não apenas o comportamento do bebê é moldado pelo
comportamento da mãe, mas também o da mãe o é pelo comportamento do bebê
(SCHERMANN, 2001b).
BRUM & SCHERMANN (2004), nos lembram que diversos pesquisadores
afirmam a impresisonante capacidade dos bebês recém-nascido de responderem
ás interações:

Autores e pesquisadores contemporâneos, como Brazelton (1988),


Schermann (1994), Schaffer (1996), Wendland-Carro et al. (1999), Klaus
& Kennell (2000), Claussen & Crittenden (2000) e Schermann (2001b),
abordam o quanto os bebês recém-nascidos apresentam uma

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impressionante capacidade de responder às interações já nos primeiros
minutos. Iniciam a vida capazes de fazer discriminações importantes e de
localizar objetos por meio de várias indicações perceptivas. São capazes
de realizá-las pelo olhar, de identificar a voz do pai e da mãe.

A criança com quatro semanas já se comporta diferentemente com sua mãe,


seu pai e com estranhos. Expressões emocionais, rapidez de movimentos,
responsividade, tensões e brincadeiras são estes e muitos outros atributos que
diferenciam as pessoas e ajudam a produzir estilos distintos de interações
(SCHAFFER, 1996).
Portanto, a compreensão predominante é que a qualidade da interação
inicial mãe-bebê é um importante fator mediador entre os eventos perinatais e o
desenvolvimento sociocognitivo da criança (SCHERMANN, 2001a).

2 LACTAÇÃO

Fonte: https://lifewell.pt

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De acordo com os estudos realizados por BOSI & MACHADO (2005), são
muito antigos os problemas relacionados à alimentação infantil, acreditando-se que
o aleitamento artificial sempre tenha existido. Isso se deve à grande quantidade de
crianças abandonadas em instituições de caridade, já há séculos, durante tempos
economicamente difíceis, como se verifica na Antiguidade, em Roma. Em várias
ocasiões, foram encontrados recipientes ao lado de corpos de lactentes em
escavações arqueológicas (séc. V e VII), sugerindo-se que os gregos recebiam
alimentos de outras fontes além do leite materno, por meio de vasilhas de barro
encontradas em tumbas de recém-nascidos daquela época. Não é nenhum absurdo
deduzir, a partir desses achados, que os problemas relacionados à amamentação
sejam tão antigos quanto o próprio ato de amamentar.

Entre os povos gregos e romanos, havia o hábito de utilizar as amas-de-


leite para amamentar os seus recém-nascidos, não sendo tão frequente a
amamentação ao peito da própria mãe, porém, Hipócrates foi um dos
primeiros a reconhecer e escrever sobre os benefícios da amamentação,
evidenciando a maior mortalidade entre aqueles bebês que não
amamentavam no peito. Posteriormente, Sorano se interessou pelos
aspectos cor, odor, sabor e densidade do leite humano, e Galeno foi o
primeiro a considerar que a alimentação deveria ser feita sob a supervisão
de um médico (VINAGRE; DINIZ, 2001).

Segundo algumas pesquisas, alguns povos primitivos esvaziavam as


mamas (desprezando o leite) durante muitos dias antes de colocar o bebê ao peito,
com tempos limitados e rituais variando de tribos para tribos. Outros líquidos eram
providenciados na forma de chás de ervas: alguns um pouco fortes, outros com um
baixo valor nutricional (LAWRENCE, 1994, BADINTER, 1985; SILVA, 1997;
NAKANO, 1987). O Código de Hammurabi (cerca de 1800 a. C), da antiga Babilônia,
continha regulamentações sobre a prática do desmame, isto é, amamentar qualquer
criança de outras mulheres, sempre na forma de aluguel (amas-de-leite).
Nos tempos espartanos, a mulher, quando esposa do rei, tinha como
exigência que amamentasse o filho mais velho; enquanto as plebeias
amamentavam todas as crianças (MACHADO, 1999).

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O grande médico grego, Hipócrates, considerado o “pai da medicina”,
reconhecendo a importância da amamentação, declarando que: “somente
o leite da própria mãe é benéfico, o de outras é perigoso”. Publicações
europeias do final do período medieval e início da era moderna exaltavam
a importância do aleitamento materno para a infância. (BOSI e MACHADO,
2005)

Em 1472, pediatras descreviam as características de uma boa ama-de-leite


e aconselhavam a amamentação em casos de soluços, diarreia ou vômitos.
Em 1584, o pediatra Thomas Muffett escreveu sobre a utilização do leite
materno como remédio e terapia para homens e mulheres em “idade avançada ou
com doenças graves” (LAWRENCE, 1994:7).
Há informações de que no período entre 1500 a 1700, as mulheres inglesas
saudáveis não amamentavam seus filhos. Embora o aleitamento materno fosse
reconhecido como um regulador de nova gravidez, essas mulheres preferiam dar à
luz de 12 a 20 bebês, do que amamentá-los. Elas tinham a noção de que a
amamentação era responsável pela espoliação de seu corpo e as tornavam velhas
antes do tempo. Com isso, o desmame era iniciado precocemente, sendo utilizados
cereais ou massas oferecidos em colher (LAWRENCE, 1985; PALMER, 1988).
SENA (1997) recorda que as normas médicas e religiosas iam de encontro
a esse propósito, pois proibia-se a relação sexual durante o período de
amamentação, que deveria ser de 18 a 24 meses, por entenderem que isso tornaria
o leite humano mais fraco e com risco de envenenamento em caso de nova gravidez.
O conhecimento médico vigente na época também considerava que o colostro era
um leite ruim e que não deveria ser oferecido à criança.
As crianças eram alimentadas à base de leite de animais e de um alimento
chamado “panado”, feito à base de pão (farinha) e água. Na época, havia um disposto
na Constituição francesa de 1873, que visava a proteger crianças nascidas de
famílias ditas indigentes: amas-de-leite não poderiam amamentar mais do que 2
crianças além da própria e, cada criança deveria ter um berço, a fim de que não
corresse o risco de ser levado à cama pela mãe e morresse sufocado durante o
sono. (PALMER, 1988; LAWRENCE, 1994; SENA,1997).

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De acordo com diários de chefes de família da grande burguesia
parlamentar, as mães do século XVI amamentavam seus filhos e somente no final
deste século ao início do séc. XVII, a moda de enviar os filhos para casa de uma
ama conquistou as famílias de uma maneira irreversível.
BOSI & MACHADO (2005) nos informa que foi no século XVIII, que o envio
das crianças para casa de amas se estendeu por todas as camadas da sociedade
urbana. Ocorreu nesse período um aumento crescente de mortes infantis,
associadas às doenças adquiridas pelas amas-de-leite. Suas enfermidades
contaminavam os bebês e muitas dessas amas, com receio de que estivessem
“repassando afeto” aos bebês, passaram a oferecer o leite de vaca em pequenos
chifres furados (precursores das mamadeiras) porque, segundo um preconceito
firmemente arraigado na mentalidade popular, acreditava-se que sugando o leite,
suga-se também o caráter e as paixões de quem amamenta.

Esse procedimento passaria a ter enormes riscos à saúde das crianças,


pois além da oferta num recipiente não estéril, as mulheres desconheciam
a quantidade exata de água que deve ser misturada ao leite, além da
contaminação dessa água (BADINTER, 1985:124).

No Brasil, existem relatos dos séculos XVI e XVII, pouco precisos e muito
contraditórios, ao tratar dos antigos tupinambás. Contudo, esses documentos são
muito valiosos quando reatam a história da influência europeia sobre as sociedades
indígenas, radicadas no litoral do Brasil. Havia uma observação da cultura indígena
no Brasil colonial, mas os viajantes adotavam uma visão típica da tradição cristã,
estando pouco preocupados com os habitantes do Novo Mundo; viam os
tupinambás pelo viés europeu. “A cultura indígena foi descrita a partir do paradigma
teológico e do princípio de que os brancos eram eleitos de Deus, e por isso
superiores aos povos do novo continente” (RAMINELLI, 1979:11).

Os filhos das indígenas eram amamentados durante um ano e meio e,


neste período, eram transportados em pedaços de pano conhecidos por
typoia ou typyia. Mesmo se as mulheres tivessem que trabalhar nas roças,
não largavam dos filhos: carregavam as crianças nas costas ou
encaixavam-nas nos quadris. As indígenas nutriam e defendiam seus filhos

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de todos os perigos. Se soubessem que o bebê tinha mamado em outra
mulher, não sossegavam enquanto a criança não colocasse para fora todo
o leite estranho (RAMINELLI, 1997).

Com a chegada dos portugueses, muitas doenças foram aparecendo nas


tribos, contaminando os índios que não possuíam qualquer imunidade. Esse fato
acabou produzindo uma multidão de órfãos desamparados, o que findou por levar
os jesuítas a criar instituições destinadas a abrigar legiões de indiozinhos sem pai
(BOSI & MACHADO, 2005).
PRIORI (1997) acrescenta que, no século XVII, o abandono de crianças
passou a ser percebido entre a população de origem portuguesa. Ao longo do século
XVIII, a população dos principais centros portuários aumentou significativamente,
dobrando ou quadruplicando as modestas cifras do início do século. Durante esse
período, verificava-se que o abandono de crianças raramente acontecia no meio
rural e, quando as mães recebiam os filhos enjeitados, eram consideradas como
mães de aluguel. Essas mulheres eram contratadas pela Câmara ou Santa Casa
(entidades que abrigavam filhos de enjeitados da época), deveriam ser livres ou
escravas e durante um contrato, assinavam o termo de compromisso junto ao senhor
responsável pelas Instituições de assistência (PRIORI, 1997; RAMINELLI, 1997).
Quando a razão da acolhida correspondia a um interesse meramente financeiro,
a estada na residência das amas quase sempre colocava em risco a vida dos
bebês, pois, aos recém-nascidos era oferecida alimentação. Quando havia caso de
extrema necessidade, a legislação portuguesa previa a utilização de métodos
específicos.

“Aconselhava o uso de bom mel, ao qual se ajuntará um tanto de água. Os


caldos quentes, leite de vaca ou mesmo água morna com açúcar também
podiam ser administrados aos pequerruchos. Para tanto, havia um rol de
instrumentos recomendados, quase todos com péssimos resultados para
a saúde do abandonado. Normalmente se recorria a panos de linho poído
que de hora em hora podiam ser metidos na boca, ou então colheres de
pau, de marfim ou de prata; outros preferiam bonecas feitas de algodão,
ou de esponjas, forradas de pano de linho macio, as quais devem ser
molhadas no leite repetidas vezes, e chegar à boca das crianças”
(VENÂNCIO, 1997:196).

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Os profissionais responsáveis pela assistência também recomendavam a
utilização de práticas modernas para alimentar as crianças, como o emprego de
mamadeiras de vidro e pequenos bules que tinham um bico de borracha adaptado
à ponta de saída. VENÂNCIO (1997) afirma que muitos médicos da época, no
entanto, atribuíam as doenças comuns à infância aos contatos dos instrumentos
citados com os miasmas atmosféricos e diziam: “para isto, basta lembrarmos que
na criação por meio das colheres, perde o leite, mormente no inverno, aquela
temperatura que lhe é própria, que o ar pode alterar e decompor” (FRANCO,
1859:20 apud VENÂNCIO, 1997: 196). Relatavam também os riscos provocados
pelo uso de bonecas: “…esse método, se bem que tenha a vantagem da secreção
da saliva, cai nos outros defeitos da lactação por meio das colheres; acrescentando,
que se pode embaraçar a livre entrada do ar para os pulmões, e causar a sufocação”
(VENÂNCIO, 1997: 196 apud FRANCO, 1859:20).

Em 1790 o médico Dr. Francisco Mello Franco aconselhava que fossem


evitadas sopas feitas de carne, do seu arroz, e em geral de toda comida
animal, porque subministram humores tendentes ou à inflamação ou à
podridão, são demasiadamente nutrientes (VENÂNCIO, 1997)

Era rotina nos hospitais a utilização de medidas antimiasmáticas


recomendadas pelos médicos europeus da época. Os administradores hospitalares
passaram a utilizar regras ao selecionar as mulheres que adotariam bebês, evitando
entregar a quem não tivesse leite ou a homens sem escravas-amas, mas havia
fraudes, tanto no Brasil como em Portugal, por mulheres que se diziam recém-
paridas e outras pediam emprestado crianças gordas e com boa saúde e
apresentavam como seus próprios filhos (BUDIN, 1900; PRIORI, 1997).
Na residência onde essas crianças moravam, era comum receberem
alimentação artificial, não receberem afeto, nem as atenções necessárias. Outras
amas, quando ficavam impacientes com o comportamento das crianças, passaram
a dar aguardente misturada ao leite para acalmá-las, o que fez com que fosse

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necessária a adoção de medidas rígidas, como a elaboração de lei prevendo trinta
dias de prisão para quem utilizasse tal prática de alimentação.

Nos séculos XVII e XVIII, a sociedade admitia a morte de bebês como fato
corriqueiro, inevitável, quando cerca de 25% morriam antes de completar
o primeiro ano de vida. Segundo a crença da época, quando a criança
morria transformava-se em anjo, o que contribuía para que as famílias
suportassem a dor da perda e encarassem a morte de seus filhos como
uma verdadeira benção do Céu (COSTA, 1985; PRIORI, 1997;
VENÂNCIO, 1997).

Há relatos que no interior da Província do Ceará a morte do recém-


nascido “era recebida com tiros e foguetes, comida, bebida e música - uma festa
em que se dançava para o anjinho” (VENÂNCIO, 1997:208). Esses rituais eram
marcados por antigas tradições africanas e as autoridades religiosas
escandalizavam-se diante daquilo que consideravam uma grosseira deturpação
dos ensinamentos cristãos (COSTA, 1985; SENA, 1997; PRIORI, 1997).
Em Salvador, o período de aumento dessas ocorrências (1790-1812)
coincidiu com a grande subida dos preços dos bens de subsistência, tendo a
farinha de mandioca aumentado de 10 para 23 réis o litro. Sendo esse alimento
amplamente utilizado na alimentação das crianças, justifica-se o aumento da
mortalidade infantil. Quem não tinha condições de ser alimentado pela mãe-de-
leite acabava sempre falecendo (MACHADO, 1999).
Verificou-se que a taxa de mortalidade infantil provocada pela
alimentação artificial, no referido período, atingiu o impressionante número de
906/1000, ou seja, mais de 90% das crianças assistidas faleceram.

No Rio de Janeiro, o aleitamento artificial também encontrou adeptos entre


os administradores da Casa da Roda e sendo relatado que, em 1831, das
325 que deram entrada na instituição e ficavam internadas por um período
de 12 meses, apenas 22 sobreviveram (COSTA, 1983; PRIORI, 1997).

As crianças enjeitadas negras e mestiças, pertencentes às camadas mais


pobres e marginalizadas da sociedade brasileira, curiosamente faleciam em uma
proporção inferior aos brancos. Em Salvador, de 1758 a 1762, os índices de

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mortalidade foram de 626 em mil entre os brancos e apenas 555 mil entre os negros.
Concomitante a essa crescente mortalidade, verificava-se a negação da
maternidade entre a sociedade burguesa, através da gravidez indesejada, ou o
abandono das crianças pelas mulheres escravas, por falta de condições para criá-
las. Isso levou à prática de mães mercenárias e mães escravas de aluguel, que
empregavam desastrosas técnicas de alimentação artificial, levando milhares de
bebês à morte (MACHADO, 1999).
Durante o século XVIII, os médicos e administradores deram pouca atenção
ao tema, talvez porque essas mortes fossem consideradas como aspecto positivo
durante o período colonial. No entanto, a partir de 1800, o número de crianças
encaminhadas às amas através da Direção Mundial das Amas-de-leite declinou
substancialmente (BADINTER, 1985).
A implantação das faculdades e academias de medicina, durante o século
XIX, trouxeram vários projetos destinados a combater as altas taxas de mortalidade
dos expostos. VENÂNCIO (1997) cita que os índices de mortalidade infantil eram
assustadores e que os médicos e administradores sempre reforçavam o argumento
de que as mulheres seriam as grandes responsáveis e que o descaso das amas-
de- leite que acolhiam as crianças na Casa da Roda, consistia nos verdadeiros
motivos da morte em massa.

“Confinado ordinariamente a escravas, ou a outras mulheres, cujos hábitos


e posições nem sempre as colocam ao abrigo dos vícios, e que além disso
um leite sem princípios nutritivos suficientes, ou o que é ainda pior, que
sofreram ou sofrem de escrófulas, sífilis, boubas e outros incômodos, não
só não cuidam das crianças com atenção precisa, como ainda infiltram o
germe das enfermidades de que padecem, dando em resultado uma série
não interrompida de sofrimentos e perigos, logo que se manifesta a
evolução dentária causando-lhes frequentes vezes a morte no meio de
horríveis sofrimento.” (VENÂNCIO, 1997:217).

A mudança do comportamento materno no século XIX é caracterizado


através da disposição em aleitar o filho, excluindo qualquer outra criança. Além
disso, a mulher passa a dedicar a vida ao filho, procurando mudar os hábitos

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alimentares desde a gravidez, consumindo alimentos mais leves, à base de
legumes, frutas e laticínios, e prolongando essa dieta após o parto, pois conhecia a
relação essencial entre a alimentação, a qualidade e a quantidade de seu leite e,
portanto, a saúde de seu bebê (BADINTER, 1985).
Quanto as mulheres que não podiam amamentar e que tinham recursos,
eram orientadas a contratar uma ama-de-leite em domicílio, fiscalizando todos os
cuidados proporcionados ao bebê. No entanto, Badinter afirmar que essa conduta
só deveria ser adotada em casos excepcionais.

“Essa conduta só deveria ser adotada em casos desesperados e que a


babá- uma segunda mãe, seria o personagem central da família burguesa,
que logo adquire autoridade sobre a mãe ignorante. Pensava-se àquela
época que o simples fato de contrariá-la, poderia azedar o leite e preferia-
se calar a arriscar a saúde do bebê” (BADINTER, 1985:230).

As amas-de-leite, no entanto, “simulavam ser boas mães” e apropriavam-


se das crianças, estimulando-as a permanecer a maior parte do tempo com elas.
Essa prática tinha como finalidade criar um vínculo mais forte entre a criança e as
amas de leite, proporcionando uma condição de “apropriação do bebê”, evitando a
substituição ou demissão por parte das mulheres burguesas. O sistema de amas-
de-leite resistiu até o final do século XIX. Depois disso, o aleitamento artificial, sob
forma de mamadeira com leite de vaca, possibilitado pelo progresso de esterilização,
substituiu a amamentação mercenária. (LAWRENCE, 1994; SILVA, 1997; SENA,
1997).
Ainda durante o século XIX, uma grande quantidade de pesquisas
orientadas por médicos, visava um substituto para o leite materno a ser utilizado
durante o período de desmame. Segundo algumas literaturas da época, diferentes
opções foram consideradas: leite de vaca, adicionando-se açúcar e água; adição de
creme e água limonada para aumentar o pH do leite, favorecendo uma melhor
digestão do leite pelo trato intestinal. Com essas e outras descobertas, os
profissionais de saúde consideravam estar proporcionando uma melhor nutrição
para as crianças (CORADINI & FREDERIQ,1981; LAWRENCE, 1994; SENA, 1997).

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Um comerciante suíço, chamado Henri Nestlé, combinou açúcar e trigo
com leite de vaca, alimentada na grama dos Alpes. Ele direcionou muito
de seus esforços promocionais para mães. Considerava estar atuando
junto àquela que seria seu melhor marketing: “mães farão a publicidade
para mim” (GOLDEMBERG,1988:56).

Muitas das companhias de alimentos, no entanto, realizavam as


campanhas publicitárias em jornais médicos ou paramédicos. As indústrias faziam
a propaganda fortemente nos profissionais médicos que prescreviam as fórmulas
para as mães, público-alvo. Pouca ou nenhuma recomendação era feita, alertando
para o fato de que os produtos poderiam ser preparados com água contaminada.
Em 1888, o subcomitê da Associação Médica Americana não pôde chegar a um
consenso sobre o melhor leite substituto e a competição entre o marketing das
indústrias foi bastante evidente no final do século XIX. As propagandas descreviam
os produtos como “cientificamente preparados”, entretanto as avaliações nunca
eram provadas com documentação científica (CORADINI & FREDERIQ,1981;
COSTA, 1985; GOLDEMBERG, 1988).
APLLE (1987) e WALKER (1993) descrevem que a comercialização e a
“medicalização” nos cuidados da criança com o estabelecimento da alimentação
artificial, não só foi aceita por muitas mães, como também passou a ser uma prática
de alimentação “natural” e necessária. As soluções dos problemas da alimentação
da criança passam a ser vistas pelas mães através do marketing desempenhado
pelas indústrias.
No conjunto da propaganda, era reforçada a importância do aleitamento
materno, citando, no entanto, os estimulantes da lactação como “Lactífero”,
“Galactogeno” e outros. Posteriormente, foram recomendados “Farinha Láctea,
Maizena Dureya e Ovolmatine”, para caracterizar esses produtos na falta do leite
materno, associado à concepção de a criança saudável ser essencialmente gorda,
verificado na época pelos frequentes concursos de “robustez infantil”.
GOLDEMBERG (1989) cita que havia uma supervalorização dos
“substitutivos do leite materno, ressaltando-se a equivalência perfeita do produto, a

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facilidade do produto e a recomendação de eminentes pediatras. A partir de 1922
observa-se uma crescente veiculação de propagandas de leite em pó” (1989:108).
O “Lacto Mellin” era indicado para os casos excepcionais, contrapondo-se o
consumo à utilização de leite de vaca, e eram recomendado as crianças delicadas
que se criam só com a mamadeira ou cujas mães não podem aleitar seus filhos
(GOLDEMBERG, 1989:108).

A revista A Cigarra, numa edição de 1933, noticiou a fabricação, no Brasil,


dos leite em pó pela “Indústria Nacional de Alimentos Infantis” (Nestlé), que
enfatizava que a produção do leite no Brasil proporcionaria um produto
mais barato e com a vantagem de ser “meio gordo”, substituindo com maior
benefício, caso o leite materno “faltasse”. (FREDERICQ,1981;
GOLDEMBERG, 1989).

Houve um grande aumento na produção da Nestlé nos anos 40, que


destacava nas suas propagandas a facilidade do preparo, conservação das
propriedades do leite fresco e digestão do produto, esquecendo-se de esclarecer
que, durante o preparo, poderia haver contaminação, expondo principalmente as
crianças que possuem condições de vida precária; passa a ser reforçada a
importância de generalizar a utilização das fórmulas para todas as crianças, como
alimento opcional. (CORADINI & FREDERICQ,1981; GOLDEMBERG, 1989).
No final dos anos 40, iniciando os anos 50, os produtos são apresentados
como uma opção para facilitar a tarefa dos médicos que passam a prescrever
indiscriminadamente os produtos às mães, como a forma mais prática e viável para
seus filhos, pois asseguravam um “produto confiável”.
A partir de então surge a utilização de leites em pó, desde o momento da
secção do cordão umbilical, exaltando-se a composição do produto que teria toda a
segurança na substituição do leite materno. Outros produtos foram complementares
ao leite em pó como auxiliares no preparo da mamadeira (Mucilon, Nidex etc),
“traduzindo um deslocamento flagrante do eixo da propaganda de alimentos
infantis, originalmente centrado no aleitamento natural” (GOLDEMBER, 1985:119).

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Durante anos, foi utilizada a prática de fornecimento de produtos lácteos
aos profissionais de saúde (médicos e nutricionistas, em especial), que eram
considerados seletivos ao fornecimento de mensagens dirigidas às mães. Outras
estratégias de propaganda eram utilizadas, tais como:

“Serviços assistenciais dos hospitais-escola; das reuniões científicas;


cursos de atualização e congressos, com o patrocínio e divulgação dessas
indústrias; da manutenção de um serviço próprio de divulgação científica,
além da contribuição para o sustento de revistas científicas, com a
publicação sistemática de anúncios”. (GOLDEMBERG ,1989:122).

A partir do momento em que essas estratégias eram utilizadas e aceitas


pelo público, a indústria incutia nos profissionais de saúde, especialmente os
médicos, um sentimento de gratidão pela forma com que eram tratados
individualmente. Através desses meios táticos, a indústria da propaganda promovia
uma marca, e seus produtos eram associados à existência da ciência.
Segundo GOLDEMBERG (1989:123):

“Não se trata de desconsiderar o valor do leite artificial como um avanço


técnico e científico no desenvolvimento de medidas alternativas para o
aleitamento natural, nos restritos casos de sua indicação formal. O
problema reside, antes de mais nada, na veiculação de certas ideias a
partir das técnicas promocionais que fundamentavam e propiciavam o uso
indiscriminado dessa medida alternativa. ”

Paralelamente a essa influência da indústria junto aos profissionais de


saúde, havia um vazio do ensino médico, que abordava o alimento artificial com
um superdimensionamento em relação ao aleitamento natural. Diante do
desconhecimento a respeito da lactação e da importância do controle médico da
alimentação infantil, configura-se um momento propício à propagação de ideias
distorcidas, impedindo inclusive, a percepção, por parte dos profissionais, do seu
envolvimento frente à disseminação do leite artificial (MULLER,1974; FREDERICQ,
1981; BOSI, 1988; GOLDEMBERG, 1989).
A partir da disponibilidade do leite em pó no mercado, as mães passam a
ter que escolher entre amamentar seus filhos no seio ou na mamadeira.

17
Consequentemente, houve uma mudança do comportamento dessas mulheres, fato
evidenciado pela perda da autoconfiança, conforme descreve FREDERICQ (1981:
144):

“Anteriormente, todas as mulheres seguiam a tradição de suas avós e de


suas mães, amamentando seus filhos. Atualmente, a situação é bem
diferente, uma única empresa virtualmente monopoliza, no Brasil, o
mercado de leite em pó modificado para o uso infantil: a Nestlé. É esta a
principal empresa envolvida no lucrativo negócio de vender leite
‘maternizado’ a mulheres que, quase sempre, têm todas as condições
necessárias para alimentar seus filhos de maneira natural e autônoma”.

Assim como em todos os países de economia capitalista, no Brasil, nas


diversas camadas sociais, há uma diminuição do aleitamento tradicional ao seio.
Como consequência, houve um aumento nas taxas de morbidade e de mortalidade,
principalmente nas crianças alimentadas de maneira exclusivamente artificial,
comprovados em estudos realizados na época (MULLER, 1974; FREDERICQ,
1981).
O propósito dessa abordagem histórica e cultural, não é outra se não
rememorar a evolução de alguns aspectos específicos que contribuíram para a
prática da amamentação, e refletir sobre as inúmeras estratégias utilizadas em
diferentes épocas da humanidade, que repercutiram na tomada de decisão das
mulheres em oferecer o leite materno como alimento exclusivo para seus filhos.
Dentro da perspectiva de que essas mulheres recebem influência de
diversos segmentos, mas são elas que, de fato, decidem amamentar seus filhos,
abordaremos os aspectos relacionados ao vínculo estabelecido entre mãe e filho.

18
3 A RELAÇÃO ENTRE MÃE-BEBÊ

Fonte: https://mdemulher.abril.com.br

O vínculo entre mãe e o bebê tem uma relação muito interessante com a
amamentação. Todavia, atualmente, inúmeras mulheres concebem o ato de
amamentar como algo de interesse exclusivo do filho, alegando que, através dessa
prática estão transmitindo afeto, oferecendo saúde ao bebê, fazendo “sua
obrigação”.
É aceito e defendido pela maioria que no período dos doze primeiros meses
de vida, quase todos os bebês desenvolvem um forte vínculo com a figura materna.
Há no bebê uma propensão inata para relacionar-se com o seio humano, para suga-
lo e possuí-lo oralmente.

No devido tempo, o bebê aprende que ligado ao seio está uma criatura
humana, a mãe e, portanto, relaciona-se também com ela. Estabelece um
comportamento de apego que é considerado uma classe de

19
comportamento social de importância equivalente à do comportamento de
acasalamento e do parental” (BOWLBY, 1993; BUSNEL, 1997)

Conforme acredita-se, os próprios sistemas comportamentais se


desenvolvem no bebê como resultado de sua interação com o seu meio ambiente
de adaptabilidade e, em especial, de sua interação com a figura principal nesse
meio ambiente, que é a mãe. O primeiro espelho da criança é o rosto da mãe, que
muitas vezes expressa esse olhar como um “namoro do bebê”. No desenvolvimento
saudável, ao olhar para a mãe a criança se vê e fortalece o sentimento de ser. A
princípio não há uma diferenciação entre a mãe representando o ambiente e o bebê.
O que se vê é um par lactante-lactente (WINNICOTT, 1993; BOWBLY, 1993,
PEDROZO, 1993).
Os psicanalistas defendem que sob o predomínio dos impulsos orais, o seio
é percebido como fonte da própria vida. A proximidade física e mental
proporcionada pela amamentação, restaura a unidade perdida e a segurança
transmitida pela mãe e, muitos bebês estabelecem essa percepção, através de
sorriso ou o choro. Mãe e filho se comunicam até o final do primeiro ano de vida
num nível afetivo, no qual o bebê, através da descarga de tensão-choro e gritos,
pede ajuda. (BOWLBY, 1990; PEDROZO, 1993; WINNICOTT, 1993)

Após o parto a mãe precisa passar por um processo gradual de separação


e renúncia do sentimento de que o bebê ainda se confunde com ela:
conquistas e realizações dele se confundem à segurança transmitida pela
mãe. Como o bebê não possui nenhuma imagem do mundo, os estímulos
precisam ser transformados em experiências significativas, a fim de que ele
possa construir coerentemente essa imagem. Dessa construção depende
a reciprocidade entre mãe e filho, que permitirá que a percepção seja
gradativamente aprendida, coordenada e sintetizada, resultando no
estabelecimento de relações objetais. (KAHRBEK,1993)

Durante os primeiros meses, o bebê é conservado e se desenvolve na


proximidade da mãe em virtude das ações da própria; contudo, seja por iniciativa
da mãe ou do bebê, a proximidade é sempre mantida. Algumas mulheres, no
entanto, entendem essa necessidade de contato permanente, como um “risco” de
estar “mimando” ao bebê e evitam o contato mais frequente com o filho.
20
Segundo BOWBLY (1990:214), “só em sociedades humanas
economicamente mais desenvolvidas e, em especial, nas ocidentais, os bebês
estão comumente fora de contato com a mãe durante muitas horas por dia e, com
frequência, também durante a noite”.

3.1 Os cuidados imediatos prestados ao recém-nascido e a promoção do


vínculo mãe-bebê

De acordo com os estudos realizados por Cruz et al. (2007), o contato


imediato entre mãe e filho tem importância prioritária na visão humanizada de
cuidados ao bebê ainda na sala de parto. A fim de se evitar separações
desnecessárias entre o binômio, o que poderia prejudicar o aleitamento materno e
a aproximação ao bebê, é importante reduzir ao estritamente necessário os
procedimentos realizados no pós-parto imediato, quando se tratar de um bebê de
baixo risco.
A maneira como o bebê nasce, seja com suavidade, sofrimento, violência,
tranquilidade ou paciência, terá implicações diretas na efetividade do vínculo com
sua mãe. Por conta disso, foi desenvolvida uma filosofia de assistência ao parto,
denominada humanização do parto e nascimento, cuja preocupação essencial é
acolher bem o recém-nascido (RN), suavizando o impacto da diferença entre o
mundo intra e extrauterino (CRUZ et al., 2007).

É preconizado o emprego de uma luz difusa na sala de parto, silêncio,


ambiente menos frio e tranquilo, uma música suave e o contato corporal
imediato entre a mãe e o RN. Este deve ser colocado sobre o ventre da
mãe logo após o nascimento, sendo acariciado por ela e somente após
alguns minutos corta-se o cordão umbilical (MONTAGU, 1988).

Neste sentido, autores afirmam que em condições satisfatórias para a mãe


e o bebê, logo após o parto, deve-se estimular o contato físico entre ambos e a
sucção precoce por contribuírem para o estabelecimento ou continuidade do vínculo
além de favorecer a contratilidade uterina e auxiliar no processo de amamentação.

21
A humanização do atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde é
uma das metas do Ministério da Saúde. O Programa de Humanização do Pré-Natal
e do Nascimento (PHPN) estabeleceu os princípios da atenção a ser prestada nos
diferentes níveis de atenção à saúde pública e garantiu à mulher o direito de dar à
luz recebendo uma assistência humanizada e de boa qualidade. Na década de 90,
no Rio de Janeiro, a secretaria municipal iniciou a implantação da Política de
Humanização do Parto e Nascimento tendo como uma das estratégias a
hierarquização da assistência ao parto, com a inclusão da assistência aos partos de
baixo risco por enfermeiras obstétricas conforme o exemplo de alguns países
europeus (DIAS & DOMINGUES, 2005).
Conforme apresentando por Cruz et al. (2005), num estudo realizado no
centro obstétrico de uma instituição pública no município do Rio de Janeiro, que
adota os princípios da humanização no atendimento à mulher no pré-natal e
nascimento, foi observado que os cuidados prestados ao RN imediatamente após
o parto são essenciais para a adaptação do bebê diminuindo a morbimortalidade
neonatal. O delicado momento de transição do meio intra para o extrauterino é
marcado por inúmeras mudanças para a criança. O meio intrauterino proporciona
um ambiente de aconchego, de temperatura e luminosidade constantes, os ruídos
são ouvidos suavemente, não necessitando de esforço para realizar as funções
vitais. Com o nascimento o bebê vai se adaptando gradualmente ao meio
extrauterino superando as dificuldades inerentes ao seu desenvolvimento.
A primeira hora de vida de um bebê é um período denominado de
inatividade alerta do RN que dura em média quarenta minutos. Esses momentos
iniciais são uma fase sensível, precursora de apego e a primeira oportunidade de a
mãe ser sensibilizada pelo seu bebê, nesse contexto destaca-se a importância que
a realização de procedimentos assume na sala de parto. O profissional de saúde
envolvido no nascimento é uma figura facilitadora ou não deste processo,
possibilitando a aproximação precoce entre a mãe e seu filho para que o vínculo se
estabeleça. Nesta concepção, as ações dos profissionais de saúde no pós-parto

22
imediato em relação aos cuidados prestados ao recém-nascido podem interferir
negativamente na aproximação precoce entre a mãe e o bebê (ZVEITER, 1986).

Nos modelos tecnocrático e humanista de assistência ao parto e


nascimento, adotam-se procedimentos distintos para assistir à parturiente
e o RN. O modelo tecnocrático emprega os recursos tecnológicos
disponíveis, valoriza a hierarquia, a burocracia e visualizam o corpo como
uma máquina. No modelo humanista de assistência o corpo é percebido
como um organismo havendo união entre o corpo e a mente. Existe a
conexão do paciente aos seus aspectos múltiplos (família, sociedade,
saúde) e aos profissionais, valorizando-se a consideração, bondade e
respeito (Davis-Floyd, 2001)

Segundo Montagu (1988), os cuidados imediatos podem ser efetivados de


diferentes formas de acordo com o tipo de modelo de assistência adotado. Após o
nascimento, sempre que for possível, o bebê deverá ser encaminhado para sua mãe.
A secção do cordão umbilical imediatamente após o nascimento ocasiona a
separação do binômio e impede o contato e aproximação precoce de ambos. No
modelo de assistência humanizada observa-se que apesar da secção do cordão
umbilical ser um cuidado imediato, desde que mãe e bebê estejam em boas
condições, não necessita ser realizado logo após o nascimento, podendo-se
preservar o contato precoce entre a mãe e o RN.

No modelo medicalizado no momento em que o bebê nasce, geralmente,


o cordão umbilical é cortado, ergue-se a criança para mostrá-la à mãe e
ela é levada para o berço aquecido, não havendo qualquer tipo de
aproximação e interação entre o binômio, sendo impossibilitados de dar
seguimento ao vínculo precoce que se estabelece logo após o nascimento.
(LACAVA, 2002)

Em relação à manutenção da temperatura corpórea no modelo humanista


prioriza-se o aquecimento do RN, no contato pele a pele com a mãe em um quarto
aquecido e, se necessário, cobri-lo com um cobertor, na assistência intervencionista
é preconizado que a perda calórica é minimizada secando-se rapidamente a pele e
o cabelo do RN colocando-o em ambiente aquecido (WHALEY & WONG, 1999).
Maldonado (1990), por sua vez, afirma que outro tipo de contato importante
que se estabelece entre a mãe e o RN é o visual. Um estudo demonstrou a

23
existência de movimentos oculares de bebês de zero a seis meses verificando-se a
existência de uma fixação rudimentar desde o primeiro dia de vida que se
estabilizava em torno do quinto dia. Quando mãe é a pessoa que está mais em
contato com o bebê e que também lhe oferece outras estimulações, o primeiro
objeto atraente que surge no campo visual do RN é o rosto da mãe. Os cuidados
maternos formam a base da vida emocional e de relacionamento do RN.
Montagu (1988) esclarece que a vertente humanizadora de assistência ao
parto e nascimento preconiza que os profissionais devem estimular a aproximação
entre a mãe e o bebê no pós-parto imediato, em contato pele a pele. Os cuidados
podem ser prestados mantendo-se e respeitando este momento de interação para
que se favoreça o estabelecimento precoce do vínculo.

A importância da proximidade e do toque entre o binômio é relatada


mencionando pesquisas que evidenciam as vantagens no estado de
saúde, atenção e responsividade dos filhos que foram carregados no colo
em comparação com os que não o foram. É relatado que os bebês
acariciados pela mãe logo após o nascimento apresentavam uma
incidência menor de resfriados, gripes, vômitos, diarreias em relação aos
que foram desprovidos desse ato (Montagu, 1988).

Segundo Cruz et al. (2007), a existência de um período sensível,


imediatamente após o parto, foi evidenciada em estudo. Durante esta fase, um
contato intenso e ininterrupto da mãe com o seu bebê proporciona a receptividade
mais precoce da mãe e sua adaptação, dando prosseguimento ao vínculo que
começou a ser estabelecido já na vida intrauterina. Outros benefícios deste contato
inicial incluem o fato de a amamentação ocorrer mais cedo e o estreitamento da
atração emocional.

3.2 Dados da pesquisa

O estudo citado acima foi apoiado por uma pesquisa, aprovada pelo Comitê
de Ética da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, tendo-se solicitado

24
autorização à chefia da unidade para a entrada em campo (Processo CEP n.
1106/2005).
Encontramos em Cruz et al (2007) a informação de que foram selecionados
num primeiro momento os prontuários das puérperas de parto normal, cujos bebês
tiveram APGAR entre 8-10, caracterizando um RN de baixo risco, de mães
multíparas, em função de sua vivência com a parturição e o nascimento. Foram
abordadas as mulheres no dia seguinte ao parto, questionando-as quanto ao
interesse em participar da pesquisa.

Àquelas que concordaram foi apresentado o Termo de Consentimento


Livre e Esclarecido e realizado uma entrevista semiestruturada, com
auxílio de um gravador, tendo quatro questões abertas: Fale-me sobre o
momento do seu parto; Após o nascimento o que foi feito com o RN; O que
significou para você os cuidados prestados ao RN no momento do parto;
Os cuidados prestados ao RN no momento do parto interferiram na sua
aproximação a ele? (Cruz et al., 2007)

Segundo a autora, o instrumento foi testado, previamente, para verificar


possíveis incorreções e falhas na técnica da entrevista, por duas das pesquisadoras
que, após os ajustes necessários procederam à coleta em local reservado. Duas
das pesquisadoras, na ocasião das entrevistas, desenvolviam práticas assistenciais
na maternidade em que ocorreu o estudo, o que facilitou a aproximação às
depoentes.
Alguns dados foram levantados de seus prontuários como nível de
escolaridade, idade, paridade, procedência e número de consultas de pré-natal
permitindo delinear o seu perfil. No grupo investigado três mulheres tinham idade
inferior a 19 anos, para que fossem incluídas na pesquisa solicitou-se autorização
a um responsável e que ambos assinassem o Termo de Consentimento. Durante
as entrevistas notamos que as mães verbalizavam com dificuldade sua percepção
do momento do parto e aproximação ao recém-nascido. Mostravam-se tímidas e
expressavam-se com poucas palavras, embora estimuladas a falar pelas
pesquisadoras durante os relatos. Foram realizadas 25 entrevistas em função da

25
saturação dos depoimentos. Para preservar o anonimato das mulheres as
entrevistas foram numeradas sequencialmente (CRUZ et al., 2007).
As entrevistas foram transcritas e analisadas, com a técnica de análise de
conteúdo, procedendo-se uma análise temática com os seguintes passos: pré-
análise; exploração do material e tratamento dos resultados; interferência e
interpretação (BARDIN, 1977). Cruz et al. (2007) nos informa o protocolo adotado.
Segundo as autoras, ocorreu a seleção dos documentos importantes para análise
(pré-análise). As transcrições foram submetidas à leitura e releitura e, tendo-se
definido as unidades de registro no texto, marcando o início e o final de cada uma
delas no texto analisado (exploração do material). Identificamos e nomeamos os
temas, ou unidades de significação, associados ao objeto de estudo (tratamento dos
resultados). Em seguida foram qualificados os temas, bem como, definidos e
nomeadas as categorias, que consiste em agrupar os temas em conjuntos maiores
do que o próprio tema e atribuir nomes para as categorias definidas em função do
que os temas expressam (tratamento dos resultados, interferência e interpretação).

A partir da análise dos relatos emergiram as categorias: 1- O significado


do momento do parto (56 unidades de registro e 23,5%), 2- Os cuidados
prestados ao RN sob a ótica da mãe (62 unidades de registro e 26,1%) e
3A interferência dos cuidados prestados ao RN na aproximação mãe-bebê
(120 unidades de registro e 50,3%) (interpretação dos achados). No
momento, apresentamos a análise de duas categorias. (Cruz et al., 2007)

3.3 Resultados e Análise dos Relatos

O perfil das entrevistadas era o seguinte: quanto à idade 10 mulheres


tinham entre quinze e vinte anos, sete entre vinte e um e vinte e cinco e
oito acima de vinte e cinco anos; em relação ao nível de escolaridade três
mães eram analfabetas, 13 tinham o ensino fundamental incompleto, sete
o ensino fundamental completo e duas o ensino médio; quanto à realização
de consultas de pré-natal 15 mulheres tiveram de zero a três consultas,
oito de quatro a seis consultas e duas mais de seis consultas; em relação
ao número de gestações 19 mães tiveram duas ou três e seis de quatro a
seis gestações. (Cruz et al., 2007)

26
Na análise dos relatos emergiram três categorias, dentre elas: Os cuidados
prestados ao RN sob a ótica da mãe e A interferência dos cuidados prestados ao
RN na aproximação mãe-bebê, descritas a seguir.

Fonte: https://brasil.babycenter.com

Conforme mencionamos anteriormente, a instituição onde a investigação


ocorreu adota os dois modelos de assistência ao parto (tecnocrático e humanista).
A equipe que atua no serviço é composta por médicos, enfermeiras obstétricas,
neonatologistas e auxiliares de enfermagem. Como o número de profissionais ainda
é insuficiente (duas enfermeiras para cada turno de 12 horas), nem todas as
entrevistadas foram assistidas no mesmo modelo de assistência como pudemos
perceber em seus relatos. Por este motivo, as puérperas referiram que
imediatamente após o nascimento seus bebês foram levados a outro local para a
realização de cuidados. Vale destacar que em seus depoimentos as mães
revelaram desconhecer o que seria feito com seus bebês. Essa prática, ainda

27
presente, gerava nas mulheres ansiedade e expectativa como podemos observar
nos seguintes relatos, apresentados na obra de Cruz et al. (2007):

Ah... logo pegaram ela pra limpa e demoraram muito tempo pra coloca ela
perto de mim aí eu fiquei até preocupada (Puérpera 15).
Foram limpar, né? Levaram para o lado... eu fiquei com medo, a gente fica
com medo de troca de bebê...(Puérpera 03).

Quando analisados esses trechos de depoimentos foi possível notar que na


prestação de assistência ao parto e nascimento houve priorização do modelo
tecnocrático, com a separação entre a mãe e o bebê para realizar cuidados ao
recém-nascido. No entanto, este tempo em que o bebê esteve separado, se
constituía em um período sensível propício para a aproximação precoce e efetiva
entre ambos. O período sensível no RN está presente na primeira hora após o
nascimento por um período de 45 a 60 minutos, no qual enxerga e orienta a cabeça
na direção das vozes das pessoas. Assim, os minutos iniciais de vida extrauterina
são, portanto, ideais para o bebê estabelecer contato com os pais. Em condições
satisfatórias para a mãe e bebê, autores lembram a importância de se proporcionar
o contato físico entre ambos e a sucção precoce que contribuem para o
estabelecimento ou continuidade do vínculo e estimulam o aleitamento (LACAVA,
GOLDMAN, VIEIRA, 2002).
Os relatos dos depoimentos das puérperas entrevistadas revelam que existe
uma relação entre o tipo de cuidado prestado à mulher e RN e a aproximação
precoce, destacando-se a importância da assistência humanizada no parto e
nascimento que prioriza o contato inicial de toque e aconchego entre ambos,
conforme salientam os relatos:

Assim que ela nasceu veio pra cima de mim, achei muito gostoso... e com
certeza une mais os dois, mãe e filho (Puérpera 21).
Eu tive mais carinho assim... já estava amando a minha filha, então dali eu
passei a amar mais ainda (Puérpera 14). (Cruz et al., 2007)

As respostas das mulheres revelaram que a oportunidade de desfrutar


imediatamente após o parto o contato com seus filhos faz com que se sintam plenas
28
e realizadas, em condições de proporcionar amor e aconchego, o que favorece a
união de ambos. O contato epidérmico entre mãe e bebê é muito importante, pois é
através dele que o bebê começa a se integrar com o mundo e se preparar para
experiências até então desconhecidas. É este contato corporal que constitui a
origem principal do bem-estar, segurança e afetividade, dando ao bebê a
capacidade de procurar novas vivências.

Em estudo realizado com mães adolescentes foi verificada a importância


de favorecer o contato e aproximação entre ambos, logo após o
nascimento, para que se estabeleça o vínculo tendo-se constatado em
todas as observações realizadas na sala de parto (Oliveira; Madeira,
2002).

Entretanto, as mulheres assistidas no modelo tecnocrático, verbalizaram


sua satisfação e confiança, conforme podemos observar nos seus relatos:

Levaram pra cuidar dela e depois trouxeram para eu ficar perto dela [...]
até que eu gostei estava preocupada para ver se não afetou nada
(Puérpera 04). Levaram ele, limparam, cuidaram dele [..]) significou que
ele está bem né?, eles cuidaram direito (Puérpera 20).
Levaram pra limpar... significou muita coisa, achei legal como trataram
dela. Foram bastante cuidadoso (Puérpera 06). (Cruz et al., 2007)

Segundo Cruz et al. (2007), os depoimentos comprovam uma grande


preocupação das mães com a saúde e integridade física de seus filhos, visualizando
nos cuidados prestados a garantia de sua preservação. No caso específico da
Puérpera 04, que apresentou ameaças de abortamento durante a gestação, sua
preocupação estava relacionada com o nível de comprometimento desses
episódios na saúde do bebê. Outras mulheres, entretanto, expressaram um enorme
desejo de ficar com seus bebês antes de qualquer tipo de intervenção. Desta forma
valorizaram a importância da aproximação e do toque logo após o nascimento,
conforme preconiza a assistência humanizada do parto, para que pudessem
manifestar toda a sua emoção pelo contato, olhar e aconchego.

Cortando o cordão ele já estava no meu colo [...] Ah, foi maravilhoso porque
é o momento mais esperado da mãe, o neném no colo (Puérpera 08).

29
Botaram ela “pra mim” segurar, pra mim ver ela. Eu fiquei contente, abracei
ela. É muito bom ter esse contato logo assim de cara (Puérpera 11).
É o primeiro contato que a gente tem com o bebê, o primeiro toque, pele a
pele... (Puérpera 19). (Cruz et al., 2007)

Estas descrições revelam o desejo e a necessidade de sentir seus bebês


logo após o nascimento, para que possam estabelecer contato físico, pele a pele e
assim transmitirem carinho e amor já que aguardaram, ansiosamente, por este
momento no processo de gestar. Manter mãe e bebê juntos logo após o nascimento
favorece o estímulo da operação de mecanismos sensoriais, hormonais,
fisiológicos, imunológicos e comportamentais conhecidos, que provavelmente unem
os pais aos bebês (ROCHA; SIMPIONATO; MELLO, 2003). A sequência de
interações entre a mãe e o bebê, durante este período, liga-os um ao outro e
assegura o desenvolvimento posterior do apego.

Na experiência do parto humanizado de mães adolescentes foi observado


que o corpo do bebê junto ao corpo da mãe parece ser uma só pessoa em
seu primeiro contato, parecendo que agiam sincronicamente, que
respiravam numa cadência harmônica, olhavam-se, conheceram-se pelo
toque, cheiro e entregavam-se passivamente um ao outro sendo dissipado
naquele encontro toda turbulência do momento do parto pelo prazer de
estarem juntos (OLIVEIRA; MADEIRA, 2002).

Outro fator tão essencial para o estímulo da interação, e consequente


aproximação entre ambos, é permitir que haja contato do bebê com o seio materno.
Mesmo que ele não seja amamentado, neste momento é válido que sinta o
cheiro, ou consiga lamber o mamilo de sua mãe. Para que ocorra a amamentação
nos primeiros momentos da vida extrauterina, os profissionais necessitam criar
condições que estimulem os sentidos do bebê, pois ele sabe como buscar e
encontrar os seios de sua mãe quase que imediatamente (ODENT, 2002).
Segundo as considerações feitas por Cruz et al. (2007), os RNs deste
estudo nasceram em boas condições de vitalidade (APGAR 8-10) e poderiam
permanecer com suas mães, conforme as recomendações do programa de
humanização do parto. Entretanto, em estudo realizado num Centro de Parto
Normal, que adota as recomendações do Ministério da Saúde, verificou-se que 6%
30
dos RNs (em 100 nascimentos) apresentaram quadro de desconforto respiratório e
foram transferidos para UTI neonatal, denotando a importância da capacitação dos
profissionais de saúde para o atendimento dos RNs.

Fonte: https://www.cleverfreitas.com.br

Os cuidados prestados ao bebê na ocasião do parto e as sensações


provenientes desse momento têm um significado importante para as mães. A
aproximação (ou não) de ambos no pós-parto imediato fica na dependência da
conduta do profissional que assiste a mulher no processo de parturição, de suas
crenças e valores, como também da política institucional vigente conforme os
relatos clarificam:

Primeiro colocaram em cima de mim pra abraçar e beijar, depois foram


cuidar dele, a limpeza da criança, os cuidados. (Puérpera 05).
Cortando o cordão ele já estava no meu colo. (Puérpera 08)
Levaram pra limpar. Me mostraram e levaram, não colocaram em cima de
mim, não (Puérpera 15). (Cruz et al., 2007)

31
Embora os RNs fossem de baixo risco e tivessem nascido em boas
condições, os relatos citados evidenciam que esta aproximação inicial entre mãe-
bebê fica condicionada ao profissional que a assiste nesta ocasião. Vale lembrar,
no entanto, que as mulheres tiveram seus filhos numa instituição que vem adotando
a política de humanização do parto e nascimento, entretanto a mudança de
paradigma, crenças e práticas envolve uma série de fatores. Discutindo a
implantação da política de humanização do parto e nascimento é referido que esta
modalidade de assistência é influenciada pelo modelo organizacional, do
envolvimento e aderência dos gerentes à proposta e da capacitação e sensibilidade
dos profissionais, sendo, em última instância, atrelada à subjetividade do
relacionamento pessoal entre a mulher e o profissional de saúde (CRUZ et al.,
2007).
O modelo tradicional de assistência ao parto e nascimento, entretanto,
desperta nas mães os sentimentos mais diversificados, gerando incertezas e
medos:

Queria amamentar, cuidar... fiquei muito ansiosa (Puérpera 09).


Foram limpar...levaram pro lado e eu fiquei olhando sempre porque a gente
fica com medo de troca de bebê. Fiquei contando os dedos... eu fiquei com
medo...(Puérpera 03).
Logo pegaram ela pra limpar e demoraram muito tempo pra colocar ela
perto de mim... foi ruim porque eu fiquei preocupada, queria vê-
la...(Puérpera 18). (Cruz et al., 2007)

Os relatos acima evidenciam o receio dessas mães com a troca de bebês,


fato que muito preocupa as mulheres pela ocorrência em algumas instituições em
nosso país, como, também, a vontade de estar com seus filhos e constatar, pelo
toque e olhar, que eram perfeitos, saudáveis vivenciando de forma plena aquele
momento tão esperado.
As mulheres assistidas segundo a proposta do parto humanizado
conseguem expressar o significado deste momento, conforme os na obra de Cruz
eta al. (2007):

32
Esse contato logo assim de cara facilita porque aí ela já começa a me
conhecer... desde pequenininha, desde a hora que nasce (Puérpera 11).
... ele ficou um pouquinho comigo... é importante, foi muito bom... porque
ele sente o nosso cheiro, o cheiro da mãe que ele já conhece já (Puérpera
20).
... ele ficou um pouco comigo... foi muito bom, senti o calorzinho do meu
filho...é bom porque o neném já conhece, já fica conhecendo o calorzinho
da mãe...(Puérpera 16).

Em seus relatos as mães explicitam sua emoção em relação ao momento


do parto e o contato precoce ao seu filho. O tipo de assistência recebida transparece
em suas falas e nas sensações descritas denotando o significado deste momento
para a promoção da aproximação entre a mãe e o bebê. Em estudo relatado por
Corrêa (2004), que avaliou a relação entre a mãe e o bebê no pós-parto
evidenciou-se que o contato pele a pele entre ambos, de forma contínua por pelo
menos 20 minutos, a partir do nascimento e o estímulo ao aleitamento espontâneo
na primeira hora de vida do RN gera nas mulheres uma emoção que interfere no
vínculo da relação mãe-bebê. É verdade que nem todas as mães percebem este
momento com esta conotação. Além de verbalizarem desconhecer a importância
desse contato inicial para a promoção da aproximação precoce a seus bebês,
mostram-se indiferentes às modalidades de assistência ao parto e nascimento
não conseguindo visualizar a distinção entre os modelos (tecnocrático ou
humanista) e a relação destes para a mãe e o bebê, conforme os relatos clarificam:

Não acho que isso interfere, para mim é tudo a mesma coisa, sendo meu
filho...(Puérpera 01).
... ele foi levado...precisava ser limpo... acho que influencia mas não é tão
importante assim não (Puérpera 10).
Acho que não interfere porque ele precisava ser limpo, de cuidados... se
eu estiver olhando não me importo que levem não (Puérpera 03).
É acho que até tem influência, ...acho que não sei explicar. (Puérpera 24).
Não! Acho que não tem nada a ver (Puérpera 06). (Cruz et al., 2007)

De acordo com estes relatos, é evidente que essas mães desconhecem as


ações preconizadas pelo Ministério da Saúde para o parto de baixo risco. Esta
constatação, todavia, pode estar relacionada a diversos fatores, dentre eles a falta
de esclarecimentos acerca de seus direitos enquanto mulher e mãe de um RN de

33
baixo risco; o número insuficiente de consultas de pré-natal realizadas (15 mulheres
tiveram de zero a três consultas) ocasião em que seriam orientadas em relação às
condutas no parto e rotinas da instituição; o perfil sóciodemográfico das mesmas
(baixa escolaridade e nível socioeconômico) que contribui para agravar suas
limitações e modelam seu comportamento aceitando as determinações sem
questionar. Temos consciência de que a associação desses fatores acaba
contribuindo, de maneira significativa, para a exclusão social dessas mulheres,
que não reivindicam seus direitos e aceitam com passividade as determinações
das instituições de saúde. Um estudo realizado num centro obstétrico de Santa
Catarina constatou que, em sua maioria, as mulheres desconhecem as ações
preconizadas pelo Ministério da Saúde, ficando satisfeitas com o atendimento que
recebem (REIS & PATRÍCIO, 2005). Os autores acreditam que caso as mulheres
fossem cientes de seus direitos, talvez fossem mais exigentes, atuantes e menos
dominadas.
Para o Ministério da Saúde o início de todo o processo do nascer saudável
está na assistência ao pré-natal ocasião em que os profissionais de saúde devem
esclarecer a gestante e sua família sobre o processo de gestar e parir, numa
concepção humanizada de assistência. Ressaltando a importância da mulher e seu
acompanhante serem preparados para o momento do parto e poderem vivenciá-los
com mais tranquilidade e participação, sendo o nascimento visualizado como um
momento da família.

Os resultados do estudo, em relação aos cuidados imediatos prestados ao


RN, por ocasião do parto, revelam que para algumas mães o fato desses
cuidados serem prestados fora do seu campo visual gerava-lhes a
sensação de preocupação com o RN, afastamento do filho, ansiedade e
medo pela separação. Para essas mulheres o modelo de assistência
medicalizado, que prioriza basicamente a manutenção da integridade
física do RN no pós-parto imediato, remete-lhes à sensação de opressão
por serem privadas do contato precoce ao seu concepto (Cruz et al., 2007)

Outras mulheres, entretanto, eram indiferentes ao fato de o bebê ser


afastado para receber os primeiros cuidados e valorizavam esta forma de

34
assistência intervencionista, em função da preocupação com a saúde de seus filhos.
Acreditam que esses cuidados são vitais para garantir a integridade física da criança,
sendo parte das funções dos profissionais de saúde e que não devem interferir em
seu trabalho. A partir de suas descrições, ficou evidente que o parto
institucionalizado está arraigado em suas falas como uma prática culturalmente
construída.
Um fato preocupante que o estudo revelou foi o número reduzido de
consultas do pré-natal que a maioria das mães havia comparecido, cerca de três
consultas. Considerando a recomendação do Ministério da Saúde no Programa de
Humanização do Pré-natal e Nascimento (BRASIL, 2000), que preconiza a
realização de no mínimo seis consultas de pré-natal durante o processo de
gestação, podemos afirmar que estas mulheres tiveram um acompanhamento
insuficiente, com prejuízo no seguimento de sua gestação e, consequentemente,
nas orientações pertinentes para a ocasião. Em sendo gestantes de baixo risco
teriam sido orientadas quanto ao direito de ter um contato precoce com o seu filho,
nascendo em boas condições de vitalidade, desde o momento do parto e a
importância dessa prática para a aproximação de ambos, conforme recomenda o
Manual do Ministério da Saúde.
Este resultado está em consonância com um estudo que avaliou a
implantação do Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento.

Apenas 20% das mulheres inscritas realizam as seis consultas do pré-


natal, apenas 7% realizam as seis consultas e todos os exames básicos e
apenas um pequeno grupo de mulheres recebia a assistência adequada
considerando todos os aspectos pontuados no programa (SERRUYA et al.,
2004).

A análise dos relatos, de acordo com Cruz et al. (2007), evidenciou que a
mulher-mãe vivencia as sensações do processo de gestar e parturição de maneira
única e particular. Cabe aos profissionais de saúde, portanto, uma atuação sensível,
harmônica e integrada compreendendo toda singularidade que o momento
comporta. É importante que suas ações estejam em conformidade com a proposta

35
da humanização da assistência, sendo facilitadores da aproximação entre a mulher
e seu concepto, contribuindo, então, para o contato precoce e apego entre a mãe e
o RN.
Cruz et al. (2007), conclui sua obra com a seguinte afirmação:

Acreditamos que a prática dos profissionais de saúde que assistem à


mulher no momento do parto e, ainda hoje, separam mãe e RN de baixo
risco, com medidas extremamente intervencionistas, devam ser
repensadas. Torna-se imprescindível que esses trabalhadores revisem
suas condutas, muitas vezes rotineiras, a despeito de estudos que
comprovam o contrário.

Entretanto, cabe considerar que a transformação do modelo assistencial


hegemônico vigente não se consolida rapidamente e requer uma mudança de
paradigma, crenças, atitudes e práticas.

4 MÃES DE RECÉM-NASCIDOS INTERNADOS NA UTI NEONATAL

Fonte: http://www.rondonia.ro.gov.br

36
4.1 Breve histórico das práticas de cuidados neonatais

Nas décadas de 1950 e 1960, havia nas maternidades e nos berçários, a


preocupação com a proteção de pacientes contra os perigos reais de
doenças contagiosas, o que resultou em políticas extremas de isolamento
e separação. O medo da disseminação de infecções foi responsável pela
separação física entre as áreas obstétricas e pediátricas nos hospitais.
Além da diarreia, a infecção respiratória era presente nas maternidades e
nas unidades infantis hospitalares, por serem contagiosos. Como
resultado, as maternidades hospitalares reuniam os bebês a termo em
grandes enfermarias a portas fechadas, e a presença de pais e familiares
era excluída (KLAUS; KENNELL, 2000)

As regras rígidas da enfermaria de recém-nascidos foram mantidas até o


começo da década de 1970, quando tiveram início os cuidados centrados na família,
no que diz respeito ao parto. Foram, então, abertos os portões das unidades
obstétricas, e os pais e outros membros próximos à família receberam a permissão
para visitar o recém-nascido no quarto da mãe. Na década de 1980, as mães foram
estimuladas a ficar com seus filhos por períodos prolongados, enquanto que nos
anos 90, novas unidades obstétricas foram construídas e a mãe e o bebê passaram
a dividir o mesmo quarto (KLAUS & KENNELL,2000).
Dois estudos foram fundamentais para que as portas das Unidades de
Terapias Intensivas Neonatais (UTIN) se abrissem para a entrada dos pais e
familiares. O primeiro foi realizado na Universidade de Stanford na Califórnia
(KLAUS et al., 1970): os pesquisadores estudaram, por dois anos, 44 mães,
permitindo que entrassem na enfermaria logo após o nascimento dos seus filhos
para que pudessem pegá-los e alimentá-los enquanto ainda se encontravam em
incubadoras. Para avaliar a ameaça de infecções, foram feitas culturas semanais
nos bebês. Os resultados não mostraram aumento em bactérias perigosas, mesmo
com as visitas das mães.
Em 1982 foi realizado outro estudo, também por Klaus e Kennell, no
Hospital da Universidade de Cleveland. Permitiu-se a um grupo de mães que
entrasse nas UTIs para pegar e cuidar seus bebês. As crianças desse grupo tiveram
um escore mais alto no teste de StanfordBinet (que avalia o QI dos bebês), quando

37
comparadas com as crianças do grupo controle, no qual as mães não tiveram contato
precoce com seus filhos.
Kleinman (1992), em seu trabalho “The epidemiology of low birthweight”,
refere sobre as medidas precisas que são feitas rotineiramente por ocasião do
nascimento. Uma das formas de classificação é feita com os dados sobre peso ao
nascer. A medida é composta por um acordo entre idade gestacional e crescimento
intrauterino. A classificação usada sobre peso divide-se em: baixo peso ao nascer
(abaixo de 2.500 gramas), esta categoria é por sua vez dividida em: muito baixo peso
ao nascer (menos de 1.500 gramas) e moderado baixo peso ao nascer (de 1.500
a 2.499 gramas). No outro extremo da escala, estão os bebês com alto peso ao
nascer (4.500 gramas ou mais). Esta subdivisão tem sido usada para identificar de
forma mais precisa os bebês com riscos mais sérios. Em relação à idade
gestacional, distingue- se pré-termo (gestação com menos de 37 semanas), a termo
(gestação de 38 semanas a 42 semanas) e pós-termo (gestação com mais de 42
semanas).

Nos últimos 20 anos, o Coeficiente de Mortalidade Infantil (CMI) tem


mostrado mudanças significativas do perfil epidemiológico da mortalidade
de crianças no primeiro ano de vida em Porto Alegre. Ao se compararem
os dados da mortalidade infantil no município referentes a 1980 e 1999,
observa-se uma queda no CMI de 37,24 para 12,19 óbitos para cada 1.000
nascidos vivos. Isso representa um decréscimo de, aproximadamente,
67%. Em relação aos óbitos neonatais (de 0 a 27 dias de vida) de 1980
para 1999, houve uma queda de 20,00 para 7,12 óbitos para cada 1.000
nascidos vivos. Quanto ao coeficiente de mortalidade pós-natal (de 28 a
364 dias de vida), observa-se um declínio no mesmo período de 16,46
para 5,07 óbitos para cada 1.000 nascidos vivos, destes óbitos 61,2%
foram entre o primeiro e o terceiro mês de vida (SINASC, 1999)

Entre as afecções do período perinatal, os transtornos relacionados à


prematuridade, ao baixo peso ao nascer e à síndrome da angústia respiratória do
recém-nascido foram os principais responsáveis pelos óbitos ocorridos no primeiro
ano de vida (quase 70% dos óbitos ocorreram nos primeiros seis dias de vida). Dos
23.854 nascidos vivos, em Porto Alegre, no ano de 1999, 8,1% eram prematuros e
9,5% com baixo peso ao nascer (SINASC,1999).

38
McCormick (1992) e Bee (1997) expõem sobre a queda da mortalidade
infantil como um todo nos Estados Unidos. De 1950 a 1980, houve um decréscimo
de 29,2 por 1.000 nascidos vivos, complementando que muito destas mudanças
tem ocorrido entre mortes no período neonatal.

Crianças de baixo peso ao nascer são aproximadamente 50% mais


propensas a terem sérios problemas de desenvolvimento do que outras
doenças. Crianças de muito baixo peso ao nascer (quase todas prétermo)
são de grande risco para mortalidade e morbidade. (KLEINMAN, 1992)

De 1960 a 1987, baixo peso ao nascer baixou em média para 0,8% ao ano
entre brancos e 0,3% ao ano entre negros, nos Estados Unidos. O declínio também
tem sido grande em relação à mortalidade das crianças nascidas com baixo peso.
A sobrevivência de crianças nascidas abaixo de 1.500 gramas mais que dobrou,
tanto para negros quanto para brancos.
A diminuição dos números da mortalidade infantil e neonatal torna claro o
aumento da sobrevivência de crianças de alto risco, que são aquelas com baixo peso
ou com muito baixo peso ao nascer, o que é amplamente atribuído aos avanços da
tecnologia e à maior capacidade que temos acerca de informações científicas sobre
os cuidados necessários para os bebês que necessitam de internação em UTIN. O
cuidado intensivo neonatal continua a ser efetivo no aumento da sobrevivência de
crianças de alto risco (BRAZELTON, 1988; MCCORMICK, 1992; KLEINMAN, 1992;
SINASC,1999).
Desta forma, os autores predizem que este aumento de sobrevivência,
especificamente em relação aos bebês com muito baixo peso ao nascer, poderia
ter um pequeno, mas perceptível impacto na prevalência de deficiências no
desenvolvimento neurológico e mental de crianças (MCCORMICK,1992 e
KLEINMAN,1992).
McCormick (1992) coloca em pauta os limites dos efeitos da tecnologia
neonatal, alertando que os resultados de vários estudos começam a sugerir que a

39
sobrevivência abaixo de 500 gramas e 23 semanas de gestação é extremamente
rara, em parte porque podemos estar nos aproximando de limites biológicos.
Segundo Brum e Schermann (2004), nos informam:

Passos consideráveis têm sido dados no sentido da melhora tanto da


média de sobrevivência quanto da qualidade de vida de bebês prematuros
muito pequenos, quando todas as técnicas modernas são empregadas. Os
avanços nos cuidados obstétricos e neonatais e na tecnologia levaram,
gradualmente, a uma melhora considerável na qualidade de sobrevivência
para até mesmo os bebês de muito baixo peso (BRUM & SCHERMANN,
2004)

4.2 O vínculo mãe-bebê numa UTI neonatal

Como já foi bastante enfatizado no capítulo anterior, quando a mãe se


vincula com seu filho, ela estabelece um compromisso emocional com a criança,
o qual pode ser a força fundamental que estimula a mãe a cuidar do filho. Sem
este compromisso por parte de quem cuida do bebê, as probabilidades de ele
crescer e desenvolver-se adequadamente são menores. A ausência deste
compromisso pode gerar perturbações de vinculação, e esta perturbação pode
constituir-se em uma das circunstâncias que leva a criança a ser maltratada e a
não se desenvolver adequadamente (KANG, 1982).

Existem evidências consideráveis de que, no momento do nascimento e


durante meses a fio, as necessidades maternas de contato mãe-filho
excedem as do bebê. A necessidade de contato íntimo materno é muito
maior e consideravelmente mais prolongada, servindo não só a importantes
funções psicológicas como a muitas de natureza fisiológica do período
puerperal (MONTAGU , 1988).

De acordo com Belli (1995), há, todavia, ocasiões, que este vínculo mãe-
filho é prejudicado, interrompido abruptamente, principalmente quando a
sobrevivência do neonato está em risco. Isso ocorre em situações de parto
prematuro ou de nascimento de bebê de alto risco, que precisa permanecer na
Unidade de Terapia Intensiva neonatal (UTI neonatal), longe do contato com a mãe.

40
Inúmeros problemas podem emergir dessa situação, tais como: privação da
manutenção do vínculo mãe-filho; preocupação das mães pela recuperação e
sobrevivência do filho; sentimento de culpa derivado desta situação e outros, como
os fatores socioeconômicos, que podem influenciar a estabilidade familiar.
REICHLE (1975) lembra que a simples menção dos termos cuidados
intensivos ou estado crítico traz à mente situações negativas. A intervenção em UTI
significa normalmente para o paciente e seus familiares uma piora das condições
físicas, colocando o paciente em proximidade com a morte.
Para ZIEGEL; CRANLEY (1985b), a primeira visita à UTI neonatal pode ser
deprimente para os pais. O recém-nascido tem, com frequência, pelo menos uma
infusão endovenosa, fios ligados para monitorização, sonda endotraqueal acoplada
a um respirador e, na maioria das vezes, permanece confinado em incubadora.
Esses autores, afirmam que os pais necessitam receber apoio do médico e do
enfermeiro e uma explicação realista do prognóstico, para que possam
compreender a doença do seu bebê e o porquê de todo o equipamento existente
para os cuidados que ele está recebendo. Essas autoras ainda acrescentam que:

Quando nasce uma criança sadia, o desapontamento em relação ao sexo


e a aparência geral é prontamente superado. Contudo, se for um filho
prematuro, doente, com anomalias, ou se a criança morre, a família passa
por um período de tristeza profunda e permanece em crise por algum
tempo. (Ziegel; Cranley, 1985)

RAMOS; MORAES (1970) e IRWIN; LLOYD-STILL (1987) indicam que


parte importante do tratamento da criança é reduzir a ansiedade dos pais por meio
do oferecimento de apoio, para ajudá-los na expressão de seus sentimentos. Se a
mãe ou o pai experimentam um relacionamento positivo com um profissional no
hospital, seu nível de ansiedade diminui e sua percepção da situação torna-se mais
positiva.
Ainda em relação a assistência à família de recém-nascido de alto risco,
uma equipe hospitalar deverá - mesmo dentro das circunstâncias especiais de
cuidados intensivos - facilitar ao máximo as possibilidades de contato entre a mãe

41
e o bebê. Para isso, a mãe deverá ter livre acesso à unidade neonatal podendo tocar
e acariciar o filho, mesmo sem poder pegá-lo no colo quando ainda está em estado
grave.
Considerando que, não obstante o aparato tecnológico que envolve uma
UTI neonatal, as mães têm condições e o direito de participar da assistência de seus
filhos (BELLI; TSUNECHIRO. 1989, 1992). Esta crença também é enfatizada por
ZIEGEL; CRANLEY (1985a), ao afirmarem que os pais devem ser considerados
como membros da equipe de assistência e não como visitantes.

A presença do familiar deve ser vista com naturalidade, e não como um


elemento ainda estranho no ambiente hospitalar. A família não deve mais
ser vista como "visitante", mas como integrante do processo de cuidar. Os
familiares fazem parte do mundo da vida daquela criança e aos
profissionais cabe a sensibilidade de compreendê-los nessa perspectiva.
O cuidado centrado na família tem sido descrito na literatura como uma
abordagem de parceria para a realização dos cuidados em saúde e na
tomada de decisões. (Kuo et al., 2012)

Da mesma forma, VERNY; KELLY (1991), além de apontarem o direito dos


pais, consideram que estes devem insistir para participar dos cuidados ao filho,
mesmo àqueles confinados em UTI.
Uma equipe realizou uma investigação com vinte e dois pais de crianças
internadas em uma UTI pediátrica, com a finalidade de identificar as "intervenções"
que ajudaram a diminuir o estresse destes pais. As intervenções identificadas
relacionavam-se a:
1. Informação sobre a unidade - rotinas e procedimentos hospitalares:
condições, tratamento e evolução da doença do filho;
2. Relacionamento com os membros da equipe hospitalar -
conhecimento de módicos e enfermeiras que são responsáveis pelo
cuidado do seu filho; disponibilidade constante dos mesmos;
3. Serviços para conforto dos pais - sala de espera especial para UTI,
lanchonete ou acomodações que permitam o repouso e o preparo de
refeições dos pais enquanto o filho permanece na UTI;

42
4. A participação dos pais - visita liberada durante 24 horas do dia e
ampla oportunidade para participação do cuidado do filho (FISER et
al., 1981)

Cientes da situação delicada que envolve a assistência às mães de recém-


nascidos internados na UTI neonatal, considerou-se relevante desenvolver um
programa sistematizado de assistência a essas mães. Para elaborar esse
programa, é de fundamental importância conhecer as experiências, sentimentos e
expectativas sentidas pelas mães de recém-nascido internados na UTI neonatal.
(Belli, 1995).
É indispensável entender qual o papel das mães cujos filhos permanecem
na UTI neonatal, recebendo os cuidados o a atenção de outras pessoas que não as
suas mães. O que essas mães têm feito nos hospitais onde é permitida a sua
entrada na UTI neonatal? E permitido a elas alguma forma de participação nos
cuidados? Elas querem participar no cuidado? (Belli, 1995)
Segundo Belli (1995), para responder a essas indagações, foi realizado um
estudo, a fim de obter subsídios para elaborar um programa de assistência às mães
destes recém-nascidos. Este foi realizado em maternidades de três hospitais
públicos da cidade de São Paulo. Essas maternidades foram selecionadas porque
pertencem a instituições que funcionam como hospitais de ensino, e os berçários
contam com área destinada a cuidados de recém-nascidos em estado crítico,
denominada UTI neonatal. Fizeram parte deste estudo 20 mães de recém-nascidos
internados na UTI neonatal.

43
Fonte: https://interfisio.com.br

4.3 A interação mãe-bebê em situações de nascimento de risco

As pesquisas e descobertas a respeito dos cuidados perinatais e neonatais,


acrescidas aos esforços para amenizar o trauma do bebê e de sua família, tiveram
um efeito direto na transformação de UTIs neonatais em ambientes mais humanos.
Tanto é que os dados históricos e epidemiológicos demonstram as grandes
evoluções que ocorreram no atendimento e cuidados às mães e seus bebês em
relação a avanços tecnológicos, biológicos e psicológicos.

É inquestionável a importância e a necessidade de interação precoce e


contínua entre as mães e o recém-nascido após o nascimento. No entanto,
no caso do bebê prematuro, doente ou com malformação, verificamos que
este processo de vinculação pode estar prejudicado, não só na sala de
parto, mas por um período indeterminado, uma vez que o recém-nascido
de alto risco necessita de cuidados especiais na unidade neonatal (Belli,
1995)

Além disso, de acordo com o até aqui exposto sobre a importância das
primeiras relações para o desenvolvimento e da existência das capacidades dos
recém-nascidos para a interação já nos primeiros minutos de vida, o que podemos
pensar quando este vínculo entre a mãe e o bebê é de alguma forma dificultado
44
pela internação do bebê em UTIN? Em que ponto a teoria do desenvolvimento nos
instrumentaliza para que possamos lidar e dirimir as consequências deste trauma?
Como podemos ajudar o bebê e sua mãe para que encontrem a melhor forma de
passar e viver este momento de risco e conseguirem formar um apego seguro?
(BRUM & SCHERMANN, 2004)
Quanto aos aspectos psicológicos, várias pesquisas têm sido realizadas no
sentido de compreender os processos que envolvem o bebê e sua família numa
situação de nascimento de risco. Portanto, neste contexto de internação de um bebê
em UTIN, cheia de estímulos, muitas vezes hiperestimulantes e agressivos para o
bebê, apesar de indispensáveis para sua sobrevivência, encontramos pais
assustados e inseguros acerca da sobrevivência de seus filhos e em relação a que
tipo de ajuda podem oferecer a estas pequenas crianças. Estes bebês, apesar de
enfermos e com risco, possuem capacidades para se recuperarem se as interações
sociais e tecnológicas apropriadamente incentivadoras forem iniciadas quando ele
é pequeno (KLAUS & KENNELL, 2000; SCHERMANN, 2001b).
Os bebês prematuros, mesmo nas primeiras semanas, já são responsivos
à algumas formas de estímulos sociais (SCHAFFER, 1996; SCHERMANN, 1994).
Um fator de previsão positiva é a capacidade dos pais de se relacionarem com o
bebê e trabalharem em sua recuperação (BRAZELTON, 1988; KLAUS & KENNELL,
2000).
Segundo Brum e Schermann (2004):

A necessidade de os pais se envolverem com seus bebês, auxiliando-os


no processo de recuperação, torna-se, muitas vezes, um fator complicador,
pois os pais, diante do nascimento prematuro de seus filhos, veem-se
roubados da euforia em que se encontravam e mergulham em um
ambiente de preocupação e agitação. Diante da situação, diversos pais
sentem-se desorganizados, desnorteados, ansiosos e terrivelmente
cansados, sendo incapazes de compreender o que está acontecendo e de
responder adequadamente.

Brazelton (1988), por sua vez, afirma que o luto dos pais, depois do
nascimento prematuro, é inevitável. Os pais não somente demonstram esta reação

45
pela perda do bebê perfeito que esperavam, mas também lamentam o bebê que
produziram, culpando-se consciente ou inconscientemente. Complementa dizendo
que nessa situação de risco é muito difícil para os pais manterem seu vínculo com
o bebê, o que numa situação como essa podemos considerar normal.
Segundo Siefert (1994):

A maioria dos pais reagirá ao nascimento de uma criança comprometida


com choque e torpor. Eles experimentarão sensações de confusão e
abandono, podendo comportar-se de modo irracional, chorar sem controle
ou, até mesmo, tentar fugir. Seus espectros de atenção serão pequenos,
sendo que terão dificuldade em absorver informações ou tomar decisões.
Alguns pais descrevem sensações como se “estivessem ficando loucos”
durante este período.

Os especialistas Alfaya & Schermann (2001) estudaram a depressão


materna em três grupos: 20 mães de bebês prematuros e 14 mães de bebês a termo
que necessitaram de cuidados intensivos neonatais, bem como 24 mães de bebês a
termo sadios. Utilizaram o Inventário de Depressão de Beck para verificar a
depressão materna e encontraram que as mães dos bebês prematuros
apresentaram uma incidência maior entre os níveis moderado e grave para a
depressão. Este resultado indica, portanto, relação entre o evento do nascimento
prematuro com indicadores de depressão materna.
Alguns autores como: Rauh & Brennan (1992), Schaffer (1996) e Pickle
(2000) também defendem que o luto e a depressão materna nessa situação têm um
papel significativo na saúde emocional e no bem-estar da criança. Desta forma, as
necessidades psicológicas da criança, a conexão emocional entre a díade e o
comportamento de apego podem ficar comprometidos e, muitas vezes, os cuidados
que a mãe pode oferecer acabam não sendo suficientes para o estabelecimento de
uma adequada comunicação entre ambos. A não responsividade da mãe, então,
pode ser esperada como tendo enormes consequências para a criança. Estas
crianças podem acabar tendo muito mais riscos de apresentarem resultados
adversos no estabelecimento do apego precoce e no desenvolvimento emocional
se uma ação de intervenção não for tomada.
46
Segundo Schaffer (1996), com cerca de dois meses de idade, há um
aumento significativo na acuidade visual do bebê. Como resultado, as crianças
tornam-se mais atentas ao meio ambiente externo, em particular, para com outras
pessoas. Ressalta que um bebê, diante da face inexpressiva da mãe, apresenta-se
perturbado e aborrecido, refletindo o estado depressivo da mãe.
O psicanalista Winnicott (1971), em uma de suas obras, afirmou o seguinte:

O que o bebe vê quando olha para o rosto da mãe? Estou sugerindo que,
normalmente, o que o bebe vê é a si mesmo. Em outras palavras, a mãe
está olhando para e aquilo com o que ela se parece está relacionado com
o que ela vê ali. Se a mãe falha nesse intercâmbio porque seu rosto não é
um espelho, o bebe crescerá desconcertado quanto a espelhos e quanto
ao que o espelho tem a oferecer.

Quando o rosto da mãe não reage, o bebê tem a experiência de não receber
de volta o que está dando. Olha e não se vê. Este é um fato que ocorre quando as
mães se encontram em depressão pós-parto, ou em luto por estarem
temporariamente impossibilitadas de se conectarem com o mundo. Diante das
adversidades da vida, esses bebês encontram outras vias para realizarem o
processo de desenvolvimento, a partir do ambiente. Neste sentido Winnicott (1971)
sugeriu, por exemplo, que na ausência da reação materna o bebê aprende ao longo
dos meses a decifrar as várias feições da mãe numa tentativa de predizer seu
humor, buscando assim comportar-se de acordo com o que decifra e afastando suas
necessidades pessoais temporariamente, o que, de acordo com o autor, pode levar
a um desenvolvimento com dificuldades. Winnicott (1971) diz que, passando pela
fase de se ver refletido no rosto da mãe, o bebê conseguirá chegar à individualização
de uma forma mais facilitada.
É claro, pela literatura observada, que o luto e a depressão materna têm um
impacto na direção da prática de cuidados para com a criança e no relacionamento
mãe-criança. Portanto, nessas situações, pode haver enorme estresse por parte
dos pais para acompanharem o nascimento de um bebê com baixo peso ao nascer
(FIELD, 1997). Intervenções podem ser designadas para monitorar e tratar tal

47
situação especial. Portanto, nessa situação, os pais necessitam de apoio. Uma
primeira questão a ser trabalhada é permitir que os pais expressem abertamente
sua tristeza; desta forma surge uma possibilidade maior de se adaptarem melhor a
situação. Brazelton (1988) e Klaus & Kennell (2000) citam que a mãe que tem
condições de enfrentar junto com seu bebê as dificuldades e de colocá-la em
palavras, trabalhando seus sentimentos de culpa, tende a lidar de forma mais rápida
e fácil com a situação. A expressão dos sentimentos conduz à ligação com o recém-
nascido.
Rauh & Brennan (1992) ainda dizem que intervenções com crianças
nascidas pré-termo, mais especificamente crianças de muito baixo peso,
apresentam maior sucesso quando as mães expressam maior necessidade de
suporte. Estas mães mostraram-se mais aptas em seu processo de adaptação
maternal aos seis meses de vida do bebê. Portanto, para as mães que expressaram
uma baixa necessidade de suporte, as intervenções tiveram um efeito negativo. Os
autores encontraram em uma amostra de crianças de alto risco, que mães com
baixo suporte social eram mais resistentes à intervenção que aquelas com altos
níveis de suporte.

Programas de intervenção precoce são fundamentais neste período,


minimizando o sofrimento psíquico materno causado pelo conflito em gerar
um filho, muitas vezes, percebido como incompleto, auxiliando os pais no
manejo destas situações e oferecendo apoio psicológico (SCHERMANN &
ALFAYA,2000).

Outro ponto importante para o estabelecimento da interação é que os pais


sejam capazes de entender o bebê e as capacidades que traz consigo ao nascer
para a interação e consequentemente para recuperar-se. Nesse sentido, a pesquisa
de Wendland-Carro et al. (1999), já citada, demonstra que fornecer informações às
mães sobre as capacidades dos recém-nascidos para a interação é uma ação capaz
de fomentar a sensitividade e responsividade materna, podendo auxiliar na
sincronia da díade e consequentemente na formação de um apego seguro. Estes
dados comprovam que se pode conseguir uma maior qualidade de vida tanto para

48
o bebê quanto para sua família com ações simples em saúde.
Expressar sentimentos, assim como obter informações sobre as
capacidades dos recém-nascidos, torna mais fácil a aproximação dos pais com seus
bebês. No trabalho de Brazelton (1988) e Klaus & Kennel (2000), encontramos
respaldo para a questão. Os autores expõem que se um bebê pequeno e prematuro
é tocado, embalado e acariciado diariamente ou se conversamos com ele durante
sua permanência na enfermaria, ele poderá apresentar menos falhas na respiração,
ganho de peso e um progresso mais rápido em algumas áreas do funcionamento
cerebral que pode persistir por meses depois da alta hospitalar. O simples fato de
acariciar um bebê prematuro por cinco minutos a cada hora altera a motilidade
intestinal, o choro, a atividade e o crescimento. Portanto, é importante que tanto
quanto possível, as mães toquem e falem com seus bebês prematuros, pois o grau
com que uma mãe pode cuidar de seu bebê, durante o período em que ele estiver
na enfermaria de cuidados intensivos, irá, obviamente, influenciar seu
relacionamento com ele e facilitar para que seu desenvolvimento se processe de
forma satisfatória.

Os pais, neste contexto, necessitam de apoio, sendo necessário, portanto,


enfatizar que eles têm um papel fundamental no cuidado com seus bebês
prematuros; mesmo que estes estejam sendo cuidados por outros, há algo
que só os pais são capazes de fazer de forma única pelo seu bebê. Os
pais estarão mais prontos para enfrentarem a situação se tiverem tempo e
apoio para realizar o trabalho de luto e se souberem que podem ligar-se
totalmente a seus bebês como se tivessem vivido a experiência comum do
vínculo, embora o processo possa exigir mais tempo (BRAZELTON, 1988;
KLAUS & KENNELL,2000).

Rauh & Brennan (1992), ao escreverem sobre as perspectivas


intervencionistas com crianças de baixo peso ao nascer referem estudos em que foi
encontrada uma significativa relação entre ambiente e desenvolvimento em
crianças nascidas pré-termo, ou seja, nestes estudos as crianças nascidas pré-
termo foram altamente responsivas às influências do ambiente. Tal plasticidade por
parte da criança, assim como a importância do ambiente embasam uma geração

49
inteira de estudos de intervenção precoce dirigido a sistemas familiares de crianças
de baixo peso e pré-termos. Os autores complementam que o suporte adicional às
famílias de bebês de alto risco somado ao contexto social destas famílias tem
enorme influência no desenvolvimento posterior destas crianças.
Conforme pode ser constatado nos textos de Bee (1997), o apoio aos pais
é positivo para o desenvolvimento do bebê. Os pais que sentem possuir um apoio
adequado apresentam maior probabilidade de terem filhos com apego seguro. São
mais capazes de manejar o esforço extra de um bebê de baixo peso ao nascer ou
de um bebê com temperamento difícil.
Brum e Schermann (2004), citam o trabalho dos pesquisadores Jacobson e
Frye (1991), com um grupos de mães e o resultado é muito interessante:

Jacobson & Frye (1991) designaram, aleatoriamente, 46 mães de classe


social mais pobres, a um grupo de controle ou a um grupo de apoio
experimental. A intervenção ocorreu no período pré-natal e depois durante
o primeiro ano após o parto. Esses bebês aos 14 meses foram avaliados
quanto ao apego. Jacobson e Frye descobriram que os bebês cujas mães
eram parte do grupo de apoio estavam mais seguramente apegados do
que aqueles cujas mães não receberam essa ajuda especial.

50
5 O CUIDADO COM AS MÃES NO PÓS-PARTO

Fonte: http://lillo.com.br

Em sociedades mais remotas, em que as mulheres se encarregavam


comunitariamente da criação das crianças, enquanto os homens se ocupavam
exclusivamente da procura de alimento, o puerpério (ou o pós-parto) funcionava
como um tempo de repouso e de atenção exclusiva ao recém-nascido.
Todavia, a realidade social contemporânea é outra. Vivemos em famílias
nucleares, em apartamentos pequenos, às vezes, afastados de nossas famílias
primárias e em cidades nas quais não é tão fácil encontrar algo semelhante a uma
comunidade de mulheres que ajudam nas tarefas domésticas e constroem uma rede
invisível de apoio (GUTMAN, 2016).

Todas as puérperas precisam dessa rede para não desmoronar diante das
feridas físicas e emocionais deixadas pelo parto. Além do mais, quarenta
dias é muito pouco para a recuperação dentro de nosso esquema social,
porque ninguém defende as necessidades impostergáveis da díade mãe-
bebê, e a maioria das mulheres são obrigadas a voltar precocemente ao
trabalho (MACHADO, 1999)

Para as mulheres modernas e urbanas, o panorama é desalentador. Cada

51
mulher está muito sozinha em sua situação: a desestruturação emocional causada
pelo nascimento do filho, a falta de uma rede social, o homem como único interlocutor
e os imperativos sociais que manipulam os fios das decisões pessoais e familiares.
É exatamente com isso que se deparam os profissionais ao abordar uma
mulher puérpera desarmada. O aparente rompimento do vínculo de casal, os
desacordos familiares, a solidão, a falta de referências, o distanciamento afetivo das
pessoas que acreditavam serem as mais próximas e um bebê que chora sem parar.
Conforme encontramos em Gutman (2016):

Dentro deste esquema, os profissionais podem oferecer informações


realistas a respeito das surpresas apresentadas pelo puerpério a homens
e mulheres. Devem difundir com a maior exatidão possível os conceitos
sobre a natureza da fusão emocional entre mãe e recém-nascido, sobre as
necessidades específicas de uma mulher puérpera, sobre os cuidados
indispensáveis que precisa receber. Dessa maneira, cada casal poderá
determinar se está em condições de gerar o cuidado necessário ou se é
preciso procurar apoios complementares (substitutos da comunidade de
mulheres das sociedades mais solidárias) fora do núcleo familiar.

Para isso, além de abordar a totalidade da biografia humana da mulher


convertida em puérpera, também é preciso perguntar sobre os procedimentos mais
banais. Porque é justamente ali, no espaço doméstico, que as mulheres costumam
se desesperar diante da impossibilidade de cuidar da criança quando outro filho
exige atenção, a comida queima no forno, o telefone toca e vem a vontade de fazer
xixi. Elas ficam sozinhas o dia todo, desmanchando-se e tentando encontrar no
espelho aquela mulher que recordam ter sido (GUTMAN, 2016).
A autora afirma ainda que há inúmeros recursos práticos que podem ser
indicados e avaliados em sua justa medida por um profissional que mereça a
confiança do casal. A ideia principal é a de que uma mulher puérpera não deve ficar
sozinha durante muito tempo.
Machado (1999), fala sobre as principais necessidades da mulher puérpera:
:

52
Precisa de assistência, de companhia e da disponibilidade de outra
pessoa, que não interfira nem abuse de sua autoridade, que não a julgue
nem se intrometa, mas que esteja presente. Que se encarregue das tarefas
delegáveis (cuidar dos filhos maiores, limpar, cozinhar, lavar roupa,
arrumar a casa etc.) e tenha capacidade de atender às necessidades sutis
de uma mãe com um bebê nos braços.

Dentro de nossa estrutura social, acreditamos que cabe delegar essas


obrigações ao homem, pressupondo que, assim, ele se transformará em um pai
moderno. No entanto, não é essa a tarefa primordial que torna o funcionamento
familiar equilibrado. A esposa pede ao marido algo que ele não sabe, não conhece
e não compreende e que, na maioria dos casos, não fez parte dos acordos do casal.
Por sua vez, o marido, imaturo e necessitado, exige da mulher que tenha
mais disponibilidade para recebê-lo à noite com alegria e carinho, no formato de
disponibilidade genital, já que a aproximação sexual fazia parte dos acordos prévios.
A realidade é que a presença da criança faz vir à tona os desencontros que já existiam.
Também é verdade que uma mãe e um pai não são suficientes para criar um filho.
Esta ideia pode parecer extravagante, mas creio que somos “desenhados” para
viver em comunidade, como a maioria dos mamíferos (GUTMAN, 2016).
O que fazer? Em primeiro lugar, ver que existem opções. Os profissionais
podem orientar fazendo perguntas até que os nomes de algumas pessoas próximas
que possam passar a apoiar a mulher puérpera apareçam no rol das possibilidades:
se a situação econômica da família permitir, podem sugerir que contratem alguém
(uma empregada doméstica ou uma babysitter) que lhes permita delegar algumas
tarefas, que possa ficar com o bebê nos braços enquanto a mãe come, toma banho
ou sai para dar uma volta. Ou mesmo para, simplesmente, lhe fazer companhia. Às
vezes, essa função pode ser exercida por um parente, um núcleo de amigas
organizadas, uma rede de vizinhas. Mas quero destacar que toda mulher puérpera
precisa de apoio afetivo, e que isto é uma prioridade, não um luxo.
Sobre esse período tão singular, Souza e Fernandes, afirmaram o seguinte:

É um período onde a mulher está mais vulnerável a alterações emocionais,


necessitando de atenção e ser assistida por uma equipe de saúde. Há

53
diversas intercorrências que podem surgir no período puerperal e é de
extrema importância que a equipe esteja em contato com essa mãe. O
profissional deve aproveitar esse momento de sensibilidade da mulher
para atender suas necessidades (SOUZA & FERNANDES, 2014).

Depois de compreendermos que as necessidades básicas de uma mãe


puérpera precisam ser atendidas, poderemos pretender que se amplie sua
capacidade de se relacionar com o homem. Ou seja, precisamos disponibilizar
recursos que permitam ao casal se aliviar concretamente das obrigações cotidianas,
de modo que, até mesmo com um bebê no meio, ambos tenham tempo de dizer um
ao outro o que está acontecendo com eles e possuam disponibilidade física e
emocional para se amar.
Todos os profissionais que trabalham com famílias sabem que os casais
atravessam esses períodos como se fossem naufrágios em que poucos se salvam.
E, em parte, é assim porque não contamos com recursos emocionais nem sociais
que facilitem a criação dos filhos. Estamos demasiadamente sozinhos, temos
famílias muito pequenas. Precisamos inventar outros modelos solidários para que o
pós-parto não seja um suplício, mas um período de sabedoria celestial (GUTMAN,
2016).
É um desafio para homens, mulheres e profissionais interessados nas
problemáticas humanas.

54
6 AS NECESSIDADES BÁSICAS DO BEBÊ

Fonte: https://dicasrecemnascidos.com

Quando nasce o bebê, ele precisa que um adulto faça quase tudo por ele,
exercendo a função de proteção, alimentação, higiene. Isso não significa que esta
função precisa ser feita somente pela mãe, pois a criança precisa da função de mãe
e não necessariamente da mãe biológica.
O bebê humano nasce com uma falta, exposto à suas necessidades, por
isso depende de outro para sobreviver.
Segundo THEISEN (2014), a mãe (Outro) é possuidora de referências
significantes através das quais a criança inaugura sua constituição psíquica. Assim,
esse Outro vai apostando na suposição de um sujeito nesse bebê, estabelecendo
a demanda do bebê. Desse modo, entende-se que:

55
A mãe articula a demanda do bebê ao seu saber inconsciente, à sua rede
significante, atribui à ação do bebê um sentido, a partir do qual realiza a
oferta de uma ação específica. Mas, neste movimento de articulação da
pulsão pela demanda, também se abre a dimensão do desejo, pois a pulsão
não fica toda articulada na demanda, o desejo sempre escapa, sempre
insiste na busca da realização do que ficou inscrito como satisfação
(JERUSALINSKY, 2002, p. 138).

Só é possível aproximar-se do universo do bebê através do conhecimento


intuitivo, e não do conhecimento racional, pois se trata de um ser regido por
necessidades e leis que escapam às previsões mentais dos adultos. Esta
aproximação intuitiva que aflora nas mães é muito desvalorizada socialmente. Por
isso, as mulheres não respeitam os sentimentos óbvios que surgem pelo fenômeno
de fusão emocional, que lhes permite ficar milimetricamente conectadas com as
manifestações de seus bebês.
Quando comparado aos demais mamíferos, o bebê humano nasce
prematuramente. Podemos considerar que são nove meses de gestação
intrauterina e, depois, nove meses de gestação extrauterina. Quer dizer, quando a
criança chega aos 9 meses de idade, tem um desenvolvimento semelhante ao de
outros mamíferos poucos dias depois do nascimento (possibilidade de locomoção,
por exemplo).
Segundo Gutman (2016):

Durante os primeiros nove meses de vida extrauterina as necessidades


básicas dos bebês são, essencialmente, semelhantes àquelas que eram
satisfeitas com comodidade no ventre de suas mães, a saber:
comunicação, contato, movimento e alimentação permanente (nessa
ordem).

A autora em sua obra explica com detalhes cada uma dessas necessidades
básicas (Gutman, 2016), segue um resumo:
Comunicação: Refere-se à comunicação permanente com a figura
materna (a mãe ou a pessoa que a substitui) através do olhar, das palavras, da
percepção de sua presença e do amor. Um bebê se constitui em ser humano na
medida em que está em total comunicação com o outro, de preferência a mãe.

56
Permanente significa “o tempo todo”, 24 horas de colo, calor, abrigo, movimento,
ritmo.
Contato: O bebê deveria ficar nos braços da mãe ou de algum substituto a
maior parte do tempo, apoiado fisicamente, tocado, até mesmo apertado, como de
fato estava no útero da mãe. É preciso que as mesmas vivências uterinas se
assemelhem às vivências no meio aéreo, pois isso lhe proporciona segurança e
confiança. Isso permite que ele fique em contato permanente com outro corpo, que
delimita o próprio corpo, que o protege, balança, abriga e canta para ele.
Isto é aparentemente simples, no entanto, a maioria das mães não conta
com apoio externo suficiente para permanecer com o bebê no colo a maior parte do
dia. Também não conta com histórias de vida suficientemente amorosas nem
repletas de confiança. Por isso, inconscientemente, elas travam uma luta interna
entre a necessidade primária e filogenética que lhes é ditada pelo coração e aquilo
que a sociedade, a família ou a cultura esperam delas e classificam de normal e
saudável. De fato, em nossa sociedade ocidental, raras vezes temos oportunidade
de encontrar mães carregando bebês pendurados em seu corpo. Pelo contrário,
abundam os carrinhos de bebê, bercinhos, cadeirinhas ou qualquer outro objeto que
mantenha o bebê afastadíssimo do corpo da mãe. Quero ressaltar que dentro do
útero materno o bebê tinha todas as partes de seu corpo em contato com outro
corpo, apertado e com limites muito precisos. É essa a sensação que o bebê precisa
reproduzir. O espaço aéreo é infinito. Quando não há contato completo, a sensação
é a de estar caindo em um precipício.
Movimento: Durante a vida intrauterina o bebê estava em contínuo
movimento. Não somente pelos movimentos da mãe ao caminhar, se sentar, dormir
ou escrever, mas também porque a criança permanecia em contato permanente
com os movimentos dos órgãos internos, tanto de digestão, respiração ou circulação
cardíaca. A quietude completa não existia e, no meio aéreo, a quietude representa
um perigo para o bebê.

57
Alimentação permanente: Significa que, assim como no útero, a
necessidade de alimento é quase constante, e não me refiro apenas ao alimento
material que denominamos de leite. A possibilidade de sugar, ingerir e satisfazer
a fome deveria estar disponível cada vez que o bebê pedisse. Prestemos atenção
na facilidade com que as mães se negam a dar o peito à criança porque ela “já
comeu”. Deveríamos refletir sobre o poder que exercemos sobre elas como
adultos, dizendo arbitrariamente quando é justo oferecer alimento e quando isso
não é adequado ou merecido. No útero, não existia a espera. A criança era
alimentada espontaneamente. Machado afirma que para criar bebês atendendo às
suas necessidades básicas é indispensável reconhecer a natureza do bebê humano
e diz como fazer isso:

Precisamos observá-los, e partir de uma confiança genuína em seu


comportamento. E também fundir-nos na fusão, na qual viveremos como
se fossem nossas as sensações primitivas de nossos bebês, permitindo-
nos regressões, que têm uma péssima reputação, mas são indispensáveis
durante o puerpério. Devemos nos permitir, inclusive, que irrompam com
clareza as sensações do bebê que nós mesmas já fomos. Pode parecer
assustador que essas vivências reapareçam se não foram agradáveis,
mas, como dissemos antes, o corpo do bebê revela, indefectivelmente, a
alma da mãe, e a alma não registra o tempo. Pode manifestar alguma
situação do presente, como também uma experiência muito antiga. Criar
um bebê real é também reviver o bebê que fomos. (GUTMAN, 2016)

O que acontece quando as mães criam seus bebês guiadas por conselhos
e receitas recebidas, deixando de atender suas sensações viscerais?
Simplesmente, a sombra aparece em manifestações incômodas, como doenças,
choro desmedido e protestos dignos de bebês que resolveram chamar a atenção.
Somos uma sociedade extremamente violenta com nossas crias. Insistimos
em não atender as queixas dos bebês, que dependem de forma exclusiva dos
cuidados dos adultos. Um bebê humano não tem qualquer autonomia em relação
ao próprio corpo. Ao nascer, sequer sustenta a cabeça, e só consegue se deslocar
por volta dos 9 meses. Portanto, está à mercê de nossas caprichosas ideias
modernas.

58
As mães costumam ser acusadas de “superprotetoras” e seu papel maternal
é desmerecido quando têm a coragem de manter o bebê sobre o seu corpo. O temor
familiar e social pressupõe que o bebê acostumado a permanecer em contato
corporal com a mãe não poderá, no futuro, se acostumar a prescindir do contato
físico. É um pensamento linear e extremamente infantil.
Se o bebê for privado de algo que seja básico dentro do leque de suas
necessidades, crescerá reivindicando eternamente aquilo que não obteve. É o que
acontece com pessoas que atravessaram a guerra e a fome — a situação real foi
modificada, elas se transformaram em indivíduos ricos e poderosos e, mesmo
assim, continuam experimentando a sensação primária de fome e de perda. Um
senhor de 92 anos que passou a guerra no Leste Europeu continua comendo as
migalhas que os outros abandonam em seus pratos, porque ainda sente fome em
suas entranhas. Uma criança não apoiada corporalmente procurará eternamente o
contato compulsivo. Uma criança não amada pedirá amor em todos os lugares, e
sempre se sentirá insatisfeita. Por outro lado, quando um bebê tem suas
necessidades respeitadas, logo cresce e evolui. Se sua segurança interior for forte,
terá mais coragem e vontade de explorar o mundo exterior.(GUTMAN, 2016)
Segundo Winnicott, a base da saúde mental é estabelecida nos primórdios
da infância pelo provimento de cuidados dispensados à criança por uma
maternagem suficientemente boa.

A mãe que ativamente se adapta, de um modo fértil, dá ao seu bebê uma


base para estabelecer contato com o mundo e, mais do que isso, propicia
ao bebê uma riqueza em suas relações com o mundo que pode
desenvolver-se e atingir plena fruição, com o decorrer do tempo, quando a
maturidade chegar. Uma parte importante dessa relação inicial do bebê
com a mãe é a inclusão na mesma de poderosos impulsos instintivos; a
sobrevivência do bebê e da mãe ensina ao bebê, através da experiência,
que são permissíveis as experiências instintivas e as ideias excitadas, e
que elas não destroem, necessariamente, o tranquilo tipo de relações, de
amizade e de participação (WINNICOTT, 1982).

59
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