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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 3
2 LACTAÇÃO ...................................................................................................... 6
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é
semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase
improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor
e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado.
O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos
ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar,
as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão
respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da
semana e a hora que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!
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2 AS PRIMEIRAS RELAÇÕES
Bowlby (1969), por sua vez, descreveu a importância das primeiras relações
para o desenvolvimento, formulando, desse modo, a teoria do apego, quando
descreve as relações do bebê com sua mãe ou cuidador desde o nascimento até
os seis anos de idade. Defende que o ser humano herda um potencial para
desenvolver determinados tipos de sistemas comportamentais, como sugar, sorrir,
chorar, seguir com os olhos. A conduta instintiva é o resultado do controle desses
sistemas comportamentais integrados, que funcionam num determinado ambiente
de adaptabilidade evolutiva, em especial, de sua interação com a principal figura
deste ambiente, a mãe. Nesta perspectiva, o vínculo da criança com a mãe,
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chamado por ele, de apego, tem uma função biológica que lhe é específica e é o
produto da atividade destes sistemas comportamentais que têm a proximidade com
a mãe como resultado previsível. Portanto, ao longo do desenvolvimento, a criança
passa a revelar um comportamento de apego que é facilmente observado e que
evidencia a formação de uma relação afetiva com as principais figuras deste
ambiente. Nessa formulação, não há referência a necessidades fisiológicas e
impulsos, sustenta-se ainda que o ato de nutrir desempenha um papel apenas
secundário no desenvolvimento desses sistemas comportamentais. Desta forma,
torna-se claro que, para Bowlby, a formação do apego não é uma consequência da
satisfação das necessidades fisiológicas básicas como postula Freud. Esta
descrição coincide com as formulações de Spitz acerca da síndrome de
hospitalismo, ou seja, é necessária a existência de uma relação de afeto e de apego
como fator primário para um adequado desenvolvimento (BOWLBY, 1969).
A maioria dos teóricos das relações objetais, em seus estudos sobre
interação mãe-bebê, examinou fatores referentes ao papel da mãe neste processo,
enquanto menos atenção foi dada às contribuições da criança. Não há dúvida de
que a mãe possui, sim, a tarefa de se ligar ao bebê e auxiliá-lo em seu
desenvolvimento. Porém, sabemos, hoje, com o respaldo de pesquisadores
contemporâneos, que ao bebê também cabe esta tarefa e que este possui recursos
para enfrentar tal empreitada. Esta interação, portanto, segue um modelo
bidirecional, em que não apenas o comportamento do bebê é moldado pelo
comportamento da mãe, mas também o da mãe o é pelo comportamento do bebê
(SCHERMANN, 2001b).
BRUM & SCHERMANN (2004), nos lembram que diversos pesquisadores
afirmam a impresisonante capacidade dos bebês recém-nascido de responderem
ás interações:
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impressionante capacidade de responder às interações já nos primeiros
minutos. Iniciam a vida capazes de fazer discriminações importantes e de
localizar objetos por meio de várias indicações perceptivas. São capazes
de realizá-las pelo olhar, de identificar a voz do pai e da mãe.
2 LACTAÇÃO
Fonte: https://lifewell.pt
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De acordo com os estudos realizados por BOSI & MACHADO (2005), são
muito antigos os problemas relacionados à alimentação infantil, acreditando-se que
o aleitamento artificial sempre tenha existido. Isso se deve à grande quantidade de
crianças abandonadas em instituições de caridade, já há séculos, durante tempos
economicamente difíceis, como se verifica na Antiguidade, em Roma. Em várias
ocasiões, foram encontrados recipientes ao lado de corpos de lactentes em
escavações arqueológicas (séc. V e VII), sugerindo-se que os gregos recebiam
alimentos de outras fontes além do leite materno, por meio de vasilhas de barro
encontradas em tumbas de recém-nascidos daquela época. Não é nenhum absurdo
deduzir, a partir desses achados, que os problemas relacionados à amamentação
sejam tão antigos quanto o próprio ato de amamentar.
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O grande médico grego, Hipócrates, considerado o “pai da medicina”,
reconhecendo a importância da amamentação, declarando que: “somente
o leite da própria mãe é benéfico, o de outras é perigoso”. Publicações
europeias do final do período medieval e início da era moderna exaltavam
a importância do aleitamento materno para a infância. (BOSI e MACHADO,
2005)
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De acordo com diários de chefes de família da grande burguesia
parlamentar, as mães do século XVI amamentavam seus filhos e somente no final
deste século ao início do séc. XVII, a moda de enviar os filhos para casa de uma
ama conquistou as famílias de uma maneira irreversível.
BOSI & MACHADO (2005) nos informa que foi no século XVIII, que o envio
das crianças para casa de amas se estendeu por todas as camadas da sociedade
urbana. Ocorreu nesse período um aumento crescente de mortes infantis,
associadas às doenças adquiridas pelas amas-de-leite. Suas enfermidades
contaminavam os bebês e muitas dessas amas, com receio de que estivessem
“repassando afeto” aos bebês, passaram a oferecer o leite de vaca em pequenos
chifres furados (precursores das mamadeiras) porque, segundo um preconceito
firmemente arraigado na mentalidade popular, acreditava-se que sugando o leite,
suga-se também o caráter e as paixões de quem amamenta.
No Brasil, existem relatos dos séculos XVI e XVII, pouco precisos e muito
contraditórios, ao tratar dos antigos tupinambás. Contudo, esses documentos são
muito valiosos quando reatam a história da influência europeia sobre as sociedades
indígenas, radicadas no litoral do Brasil. Havia uma observação da cultura indígena
no Brasil colonial, mas os viajantes adotavam uma visão típica da tradição cristã,
estando pouco preocupados com os habitantes do Novo Mundo; viam os
tupinambás pelo viés europeu. “A cultura indígena foi descrita a partir do paradigma
teológico e do princípio de que os brancos eram eleitos de Deus, e por isso
superiores aos povos do novo continente” (RAMINELLI, 1979:11).
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de todos os perigos. Se soubessem que o bebê tinha mamado em outra
mulher, não sossegavam enquanto a criança não colocasse para fora todo
o leite estranho (RAMINELLI, 1997).
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Os profissionais responsáveis pela assistência também recomendavam a
utilização de práticas modernas para alimentar as crianças, como o emprego de
mamadeiras de vidro e pequenos bules que tinham um bico de borracha adaptado
à ponta de saída. VENÂNCIO (1997) afirma que muitos médicos da época, no
entanto, atribuíam as doenças comuns à infância aos contatos dos instrumentos
citados com os miasmas atmosféricos e diziam: “para isto, basta lembrarmos que
na criação por meio das colheres, perde o leite, mormente no inverno, aquela
temperatura que lhe é própria, que o ar pode alterar e decompor” (FRANCO,
1859:20 apud VENÂNCIO, 1997: 196). Relatavam também os riscos provocados
pelo uso de bonecas: “…esse método, se bem que tenha a vantagem da secreção
da saliva, cai nos outros defeitos da lactação por meio das colheres; acrescentando,
que se pode embaraçar a livre entrada do ar para os pulmões, e causar a sufocação”
(VENÂNCIO, 1997: 196 apud FRANCO, 1859:20).
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necessária a adoção de medidas rígidas, como a elaboração de lei prevendo trinta
dias de prisão para quem utilizasse tal prática de alimentação.
Nos séculos XVII e XVIII, a sociedade admitia a morte de bebês como fato
corriqueiro, inevitável, quando cerca de 25% morriam antes de completar
o primeiro ano de vida. Segundo a crença da época, quando a criança
morria transformava-se em anjo, o que contribuía para que as famílias
suportassem a dor da perda e encarassem a morte de seus filhos como
uma verdadeira benção do Céu (COSTA, 1985; PRIORI, 1997;
VENÂNCIO, 1997).
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mortalidade foram de 626 em mil entre os brancos e apenas 555 mil entre os negros.
Concomitante a essa crescente mortalidade, verificava-se a negação da
maternidade entre a sociedade burguesa, através da gravidez indesejada, ou o
abandono das crianças pelas mulheres escravas, por falta de condições para criá-
las. Isso levou à prática de mães mercenárias e mães escravas de aluguel, que
empregavam desastrosas técnicas de alimentação artificial, levando milhares de
bebês à morte (MACHADO, 1999).
Durante o século XVIII, os médicos e administradores deram pouca atenção
ao tema, talvez porque essas mortes fossem consideradas como aspecto positivo
durante o período colonial. No entanto, a partir de 1800, o número de crianças
encaminhadas às amas através da Direção Mundial das Amas-de-leite declinou
substancialmente (BADINTER, 1985).
A implantação das faculdades e academias de medicina, durante o século
XIX, trouxeram vários projetos destinados a combater as altas taxas de mortalidade
dos expostos. VENÂNCIO (1997) cita que os índices de mortalidade infantil eram
assustadores e que os médicos e administradores sempre reforçavam o argumento
de que as mulheres seriam as grandes responsáveis e que o descaso das amas-
de- leite que acolhiam as crianças na Casa da Roda, consistia nos verdadeiros
motivos da morte em massa.
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alimentares desde a gravidez, consumindo alimentos mais leves, à base de
legumes, frutas e laticínios, e prolongando essa dieta após o parto, pois conhecia a
relação essencial entre a alimentação, a qualidade e a quantidade de seu leite e,
portanto, a saúde de seu bebê (BADINTER, 1985).
Quanto as mulheres que não podiam amamentar e que tinham recursos,
eram orientadas a contratar uma ama-de-leite em domicílio, fiscalizando todos os
cuidados proporcionados ao bebê. No entanto, Badinter afirmar que essa conduta
só deveria ser adotada em casos excepcionais.
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Um comerciante suíço, chamado Henri Nestlé, combinou açúcar e trigo
com leite de vaca, alimentada na grama dos Alpes. Ele direcionou muito
de seus esforços promocionais para mães. Considerava estar atuando
junto àquela que seria seu melhor marketing: “mães farão a publicidade
para mim” (GOLDEMBERG,1988:56).
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facilidade do produto e a recomendação de eminentes pediatras. A partir de 1922
observa-se uma crescente veiculação de propagandas de leite em pó” (1989:108).
O “Lacto Mellin” era indicado para os casos excepcionais, contrapondo-se o
consumo à utilização de leite de vaca, e eram recomendado as crianças delicadas
que se criam só com a mamadeira ou cujas mães não podem aleitar seus filhos
(GOLDEMBERG, 1989:108).
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Durante anos, foi utilizada a prática de fornecimento de produtos lácteos
aos profissionais de saúde (médicos e nutricionistas, em especial), que eram
considerados seletivos ao fornecimento de mensagens dirigidas às mães. Outras
estratégias de propaganda eram utilizadas, tais como:
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Consequentemente, houve uma mudança do comportamento dessas mulheres, fato
evidenciado pela perda da autoconfiança, conforme descreve FREDERICQ (1981:
144):
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3 A RELAÇÃO ENTRE MÃE-BEBÊ
Fonte: https://mdemulher.abril.com.br
O vínculo entre mãe e o bebê tem uma relação muito interessante com a
amamentação. Todavia, atualmente, inúmeras mulheres concebem o ato de
amamentar como algo de interesse exclusivo do filho, alegando que, através dessa
prática estão transmitindo afeto, oferecendo saúde ao bebê, fazendo “sua
obrigação”.
É aceito e defendido pela maioria que no período dos doze primeiros meses
de vida, quase todos os bebês desenvolvem um forte vínculo com a figura materna.
Há no bebê uma propensão inata para relacionar-se com o seio humano, para suga-
lo e possuí-lo oralmente.
No devido tempo, o bebê aprende que ligado ao seio está uma criatura
humana, a mãe e, portanto, relaciona-se também com ela. Estabelece um
comportamento de apego que é considerado uma classe de
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comportamento social de importância equivalente à do comportamento de
acasalamento e do parental” (BOWLBY, 1993; BUSNEL, 1997)
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A humanização do atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde é
uma das metas do Ministério da Saúde. O Programa de Humanização do Pré-Natal
e do Nascimento (PHPN) estabeleceu os princípios da atenção a ser prestada nos
diferentes níveis de atenção à saúde pública e garantiu à mulher o direito de dar à
luz recebendo uma assistência humanizada e de boa qualidade. Na década de 90,
no Rio de Janeiro, a secretaria municipal iniciou a implantação da Política de
Humanização do Parto e Nascimento tendo como uma das estratégias a
hierarquização da assistência ao parto, com a inclusão da assistência aos partos de
baixo risco por enfermeiras obstétricas conforme o exemplo de alguns países
europeus (DIAS & DOMINGUES, 2005).
Conforme apresentando por Cruz et al. (2005), num estudo realizado no
centro obstétrico de uma instituição pública no município do Rio de Janeiro, que
adota os princípios da humanização no atendimento à mulher no pré-natal e
nascimento, foi observado que os cuidados prestados ao RN imediatamente após
o parto são essenciais para a adaptação do bebê diminuindo a morbimortalidade
neonatal. O delicado momento de transição do meio intra para o extrauterino é
marcado por inúmeras mudanças para a criança. O meio intrauterino proporciona
um ambiente de aconchego, de temperatura e luminosidade constantes, os ruídos
são ouvidos suavemente, não necessitando de esforço para realizar as funções
vitais. Com o nascimento o bebê vai se adaptando gradualmente ao meio
extrauterino superando as dificuldades inerentes ao seu desenvolvimento.
A primeira hora de vida de um bebê é um período denominado de
inatividade alerta do RN que dura em média quarenta minutos. Esses momentos
iniciais são uma fase sensível, precursora de apego e a primeira oportunidade de a
mãe ser sensibilizada pelo seu bebê, nesse contexto destaca-se a importância que
a realização de procedimentos assume na sala de parto. O profissional de saúde
envolvido no nascimento é uma figura facilitadora ou não deste processo,
possibilitando a aproximação precoce entre a mãe e seu filho para que o vínculo se
estabeleça. Nesta concepção, as ações dos profissionais de saúde no pós-parto
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imediato em relação aos cuidados prestados ao recém-nascido podem interferir
negativamente na aproximação precoce entre a mãe e o bebê (ZVEITER, 1986).
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existência de movimentos oculares de bebês de zero a seis meses verificando-se a
existência de uma fixação rudimentar desde o primeiro dia de vida que se
estabilizava em torno do quinto dia. Quando mãe é a pessoa que está mais em
contato com o bebê e que também lhe oferece outras estimulações, o primeiro
objeto atraente que surge no campo visual do RN é o rosto da mãe. Os cuidados
maternos formam a base da vida emocional e de relacionamento do RN.
Montagu (1988) esclarece que a vertente humanizadora de assistência ao
parto e nascimento preconiza que os profissionais devem estimular a aproximação
entre a mãe e o bebê no pós-parto imediato, em contato pele a pele. Os cuidados
podem ser prestados mantendo-se e respeitando este momento de interação para
que se favoreça o estabelecimento precoce do vínculo.
O estudo citado acima foi apoiado por uma pesquisa, aprovada pelo Comitê
de Ética da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, tendo-se solicitado
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autorização à chefia da unidade para a entrada em campo (Processo CEP n.
1106/2005).
Encontramos em Cruz et al (2007) a informação de que foram selecionados
num primeiro momento os prontuários das puérperas de parto normal, cujos bebês
tiveram APGAR entre 8-10, caracterizando um RN de baixo risco, de mães
multíparas, em função de sua vivência com a parturição e o nascimento. Foram
abordadas as mulheres no dia seguinte ao parto, questionando-as quanto ao
interesse em participar da pesquisa.
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saturação dos depoimentos. Para preservar o anonimato das mulheres as
entrevistas foram numeradas sequencialmente (CRUZ et al., 2007).
As entrevistas foram transcritas e analisadas, com a técnica de análise de
conteúdo, procedendo-se uma análise temática com os seguintes passos: pré-
análise; exploração do material e tratamento dos resultados; interferência e
interpretação (BARDIN, 1977). Cruz et al. (2007) nos informa o protocolo adotado.
Segundo as autoras, ocorreu a seleção dos documentos importantes para análise
(pré-análise). As transcrições foram submetidas à leitura e releitura e, tendo-se
definido as unidades de registro no texto, marcando o início e o final de cada uma
delas no texto analisado (exploração do material). Identificamos e nomeamos os
temas, ou unidades de significação, associados ao objeto de estudo (tratamento dos
resultados). Em seguida foram qualificados os temas, bem como, definidos e
nomeadas as categorias, que consiste em agrupar os temas em conjuntos maiores
do que o próprio tema e atribuir nomes para as categorias definidas em função do
que os temas expressam (tratamento dos resultados, interferência e interpretação).
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Na análise dos relatos emergiram três categorias, dentre elas: Os cuidados
prestados ao RN sob a ótica da mãe e A interferência dos cuidados prestados ao
RN na aproximação mãe-bebê, descritas a seguir.
Fonte: https://brasil.babycenter.com
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presente, gerava nas mulheres ansiedade e expectativa como podemos observar
nos seguintes relatos, apresentados na obra de Cruz et al. (2007):
Ah... logo pegaram ela pra limpa e demoraram muito tempo pra coloca ela
perto de mim aí eu fiquei até preocupada (Puérpera 15).
Foram limpar, né? Levaram para o lado... eu fiquei com medo, a gente fica
com medo de troca de bebê...(Puérpera 03).
Assim que ela nasceu veio pra cima de mim, achei muito gostoso... e com
certeza une mais os dois, mãe e filho (Puérpera 21).
Eu tive mais carinho assim... já estava amando a minha filha, então dali eu
passei a amar mais ainda (Puérpera 14). (Cruz et al., 2007)
Levaram pra cuidar dela e depois trouxeram para eu ficar perto dela [...]
até que eu gostei estava preocupada para ver se não afetou nada
(Puérpera 04). Levaram ele, limparam, cuidaram dele [..]) significou que
ele está bem né?, eles cuidaram direito (Puérpera 20).
Levaram pra limpar... significou muita coisa, achei legal como trataram
dela. Foram bastante cuidadoso (Puérpera 06). (Cruz et al., 2007)
Cortando o cordão ele já estava no meu colo [...] Ah, foi maravilhoso porque
é o momento mais esperado da mãe, o neném no colo (Puérpera 08).
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Botaram ela “pra mim” segurar, pra mim ver ela. Eu fiquei contente, abracei
ela. É muito bom ter esse contato logo assim de cara (Puérpera 11).
É o primeiro contato que a gente tem com o bebê, o primeiro toque, pele a
pele... (Puérpera 19). (Cruz et al., 2007)
Fonte: https://www.cleverfreitas.com.br
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Embora os RNs fossem de baixo risco e tivessem nascido em boas
condições, os relatos citados evidenciam que esta aproximação inicial entre mãe-
bebê fica condicionada ao profissional que a assiste nesta ocasião. Vale lembrar,
no entanto, que as mulheres tiveram seus filhos numa instituição que vem adotando
a política de humanização do parto e nascimento, entretanto a mudança de
paradigma, crenças e práticas envolve uma série de fatores. Discutindo a
implantação da política de humanização do parto e nascimento é referido que esta
modalidade de assistência é influenciada pelo modelo organizacional, do
envolvimento e aderência dos gerentes à proposta e da capacitação e sensibilidade
dos profissionais, sendo, em última instância, atrelada à subjetividade do
relacionamento pessoal entre a mulher e o profissional de saúde (CRUZ et al.,
2007).
O modelo tradicional de assistência ao parto e nascimento, entretanto,
desperta nas mães os sentimentos mais diversificados, gerando incertezas e
medos:
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Esse contato logo assim de cara facilita porque aí ela já começa a me
conhecer... desde pequenininha, desde a hora que nasce (Puérpera 11).
... ele ficou um pouquinho comigo... é importante, foi muito bom... porque
ele sente o nosso cheiro, o cheiro da mãe que ele já conhece já (Puérpera
20).
... ele ficou um pouco comigo... foi muito bom, senti o calorzinho do meu
filho...é bom porque o neném já conhece, já fica conhecendo o calorzinho
da mãe...(Puérpera 16).
Não acho que isso interfere, para mim é tudo a mesma coisa, sendo meu
filho...(Puérpera 01).
... ele foi levado...precisava ser limpo... acho que influencia mas não é tão
importante assim não (Puérpera 10).
Acho que não interfere porque ele precisava ser limpo, de cuidados... se
eu estiver olhando não me importo que levem não (Puérpera 03).
É acho que até tem influência, ...acho que não sei explicar. (Puérpera 24).
Não! Acho que não tem nada a ver (Puérpera 06). (Cruz et al., 2007)
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baixo risco; o número insuficiente de consultas de pré-natal realizadas (15 mulheres
tiveram de zero a três consultas) ocasião em que seriam orientadas em relação às
condutas no parto e rotinas da instituição; o perfil sóciodemográfico das mesmas
(baixa escolaridade e nível socioeconômico) que contribui para agravar suas
limitações e modelam seu comportamento aceitando as determinações sem
questionar. Temos consciência de que a associação desses fatores acaba
contribuindo, de maneira significativa, para a exclusão social dessas mulheres,
que não reivindicam seus direitos e aceitam com passividade as determinações
das instituições de saúde. Um estudo realizado num centro obstétrico de Santa
Catarina constatou que, em sua maioria, as mulheres desconhecem as ações
preconizadas pelo Ministério da Saúde, ficando satisfeitas com o atendimento que
recebem (REIS & PATRÍCIO, 2005). Os autores acreditam que caso as mulheres
fossem cientes de seus direitos, talvez fossem mais exigentes, atuantes e menos
dominadas.
Para o Ministério da Saúde o início de todo o processo do nascer saudável
está na assistência ao pré-natal ocasião em que os profissionais de saúde devem
esclarecer a gestante e sua família sobre o processo de gestar e parir, numa
concepção humanizada de assistência. Ressaltando a importância da mulher e seu
acompanhante serem preparados para o momento do parto e poderem vivenciá-los
com mais tranquilidade e participação, sendo o nascimento visualizado como um
momento da família.
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assistência intervencionista, em função da preocupação com a saúde de seus filhos.
Acreditam que esses cuidados são vitais para garantir a integridade física da criança,
sendo parte das funções dos profissionais de saúde e que não devem interferir em
seu trabalho. A partir de suas descrições, ficou evidente que o parto
institucionalizado está arraigado em suas falas como uma prática culturalmente
construída.
Um fato preocupante que o estudo revelou foi o número reduzido de
consultas do pré-natal que a maioria das mães havia comparecido, cerca de três
consultas. Considerando a recomendação do Ministério da Saúde no Programa de
Humanização do Pré-natal e Nascimento (BRASIL, 2000), que preconiza a
realização de no mínimo seis consultas de pré-natal durante o processo de
gestação, podemos afirmar que estas mulheres tiveram um acompanhamento
insuficiente, com prejuízo no seguimento de sua gestação e, consequentemente,
nas orientações pertinentes para a ocasião. Em sendo gestantes de baixo risco
teriam sido orientadas quanto ao direito de ter um contato precoce com o seu filho,
nascendo em boas condições de vitalidade, desde o momento do parto e a
importância dessa prática para a aproximação de ambos, conforme recomenda o
Manual do Ministério da Saúde.
Este resultado está em consonância com um estudo que avaliou a
implantação do Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento.
A análise dos relatos, de acordo com Cruz et al. (2007), evidenciou que a
mulher-mãe vivencia as sensações do processo de gestar e parturição de maneira
única e particular. Cabe aos profissionais de saúde, portanto, uma atuação sensível,
harmônica e integrada compreendendo toda singularidade que o momento
comporta. É importante que suas ações estejam em conformidade com a proposta
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da humanização da assistência, sendo facilitadores da aproximação entre a mulher
e seu concepto, contribuindo, então, para o contato precoce e apego entre a mãe e
o RN.
Cruz et al. (2007), conclui sua obra com a seguinte afirmação:
Fonte: http://www.rondonia.ro.gov.br
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4.1 Breve histórico das práticas de cuidados neonatais
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comparadas com as crianças do grupo controle, no qual as mães não tiveram contato
precoce com seus filhos.
Kleinman (1992), em seu trabalho “The epidemiology of low birthweight”,
refere sobre as medidas precisas que são feitas rotineiramente por ocasião do
nascimento. Uma das formas de classificação é feita com os dados sobre peso ao
nascer. A medida é composta por um acordo entre idade gestacional e crescimento
intrauterino. A classificação usada sobre peso divide-se em: baixo peso ao nascer
(abaixo de 2.500 gramas), esta categoria é por sua vez dividida em: muito baixo peso
ao nascer (menos de 1.500 gramas) e moderado baixo peso ao nascer (de 1.500
a 2.499 gramas). No outro extremo da escala, estão os bebês com alto peso ao
nascer (4.500 gramas ou mais). Esta subdivisão tem sido usada para identificar de
forma mais precisa os bebês com riscos mais sérios. Em relação à idade
gestacional, distingue- se pré-termo (gestação com menos de 37 semanas), a termo
(gestação de 38 semanas a 42 semanas) e pós-termo (gestação com mais de 42
semanas).
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McCormick (1992) e Bee (1997) expõem sobre a queda da mortalidade
infantil como um todo nos Estados Unidos. De 1950 a 1980, houve um decréscimo
de 29,2 por 1.000 nascidos vivos, complementando que muito destas mudanças
tem ocorrido entre mortes no período neonatal.
De 1960 a 1987, baixo peso ao nascer baixou em média para 0,8% ao ano
entre brancos e 0,3% ao ano entre negros, nos Estados Unidos. O declínio também
tem sido grande em relação à mortalidade das crianças nascidas com baixo peso.
A sobrevivência de crianças nascidas abaixo de 1.500 gramas mais que dobrou,
tanto para negros quanto para brancos.
A diminuição dos números da mortalidade infantil e neonatal torna claro o
aumento da sobrevivência de crianças de alto risco, que são aquelas com baixo peso
ou com muito baixo peso ao nascer, o que é amplamente atribuído aos avanços da
tecnologia e à maior capacidade que temos acerca de informações científicas sobre
os cuidados necessários para os bebês que necessitam de internação em UTIN. O
cuidado intensivo neonatal continua a ser efetivo no aumento da sobrevivência de
crianças de alto risco (BRAZELTON, 1988; MCCORMICK, 1992; KLEINMAN, 1992;
SINASC,1999).
Desta forma, os autores predizem que este aumento de sobrevivência,
especificamente em relação aos bebês com muito baixo peso ao nascer, poderia
ter um pequeno, mas perceptível impacto na prevalência de deficiências no
desenvolvimento neurológico e mental de crianças (MCCORMICK,1992 e
KLEINMAN,1992).
McCormick (1992) coloca em pauta os limites dos efeitos da tecnologia
neonatal, alertando que os resultados de vários estudos começam a sugerir que a
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sobrevivência abaixo de 500 gramas e 23 semanas de gestação é extremamente
rara, em parte porque podemos estar nos aproximando de limites biológicos.
Segundo Brum e Schermann (2004), nos informam:
De acordo com Belli (1995), há, todavia, ocasiões, que este vínculo mãe-
filho é prejudicado, interrompido abruptamente, principalmente quando a
sobrevivência do neonato está em risco. Isso ocorre em situações de parto
prematuro ou de nascimento de bebê de alto risco, que precisa permanecer na
Unidade de Terapia Intensiva neonatal (UTI neonatal), longe do contato com a mãe.
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Inúmeros problemas podem emergir dessa situação, tais como: privação da
manutenção do vínculo mãe-filho; preocupação das mães pela recuperação e
sobrevivência do filho; sentimento de culpa derivado desta situação e outros, como
os fatores socioeconômicos, que podem influenciar a estabilidade familiar.
REICHLE (1975) lembra que a simples menção dos termos cuidados
intensivos ou estado crítico traz à mente situações negativas. A intervenção em UTI
significa normalmente para o paciente e seus familiares uma piora das condições
físicas, colocando o paciente em proximidade com a morte.
Para ZIEGEL; CRANLEY (1985b), a primeira visita à UTI neonatal pode ser
deprimente para os pais. O recém-nascido tem, com frequência, pelo menos uma
infusão endovenosa, fios ligados para monitorização, sonda endotraqueal acoplada
a um respirador e, na maioria das vezes, permanece confinado em incubadora.
Esses autores, afirmam que os pais necessitam receber apoio do médico e do
enfermeiro e uma explicação realista do prognóstico, para que possam
compreender a doença do seu bebê e o porquê de todo o equipamento existente
para os cuidados que ele está recebendo. Essas autoras ainda acrescentam que:
41
e o bebê. Para isso, a mãe deverá ter livre acesso à unidade neonatal podendo tocar
e acariciar o filho, mesmo sem poder pegá-lo no colo quando ainda está em estado
grave.
Considerando que, não obstante o aparato tecnológico que envolve uma
UTI neonatal, as mães têm condições e o direito de participar da assistência de seus
filhos (BELLI; TSUNECHIRO. 1989, 1992). Esta crença também é enfatizada por
ZIEGEL; CRANLEY (1985a), ao afirmarem que os pais devem ser considerados
como membros da equipe de assistência e não como visitantes.
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4. A participação dos pais - visita liberada durante 24 horas do dia e
ampla oportunidade para participação do cuidado do filho (FISER et
al., 1981)
43
Fonte: https://interfisio.com.br
Além disso, de acordo com o até aqui exposto sobre a importância das
primeiras relações para o desenvolvimento e da existência das capacidades dos
recém-nascidos para a interação já nos primeiros minutos de vida, o que podemos
pensar quando este vínculo entre a mãe e o bebê é de alguma forma dificultado
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pela internação do bebê em UTIN? Em que ponto a teoria do desenvolvimento nos
instrumentaliza para que possamos lidar e dirimir as consequências deste trauma?
Como podemos ajudar o bebê e sua mãe para que encontrem a melhor forma de
passar e viver este momento de risco e conseguirem formar um apego seguro?
(BRUM & SCHERMANN, 2004)
Quanto aos aspectos psicológicos, várias pesquisas têm sido realizadas no
sentido de compreender os processos que envolvem o bebê e sua família numa
situação de nascimento de risco. Portanto, neste contexto de internação de um bebê
em UTIN, cheia de estímulos, muitas vezes hiperestimulantes e agressivos para o
bebê, apesar de indispensáveis para sua sobrevivência, encontramos pais
assustados e inseguros acerca da sobrevivência de seus filhos e em relação a que
tipo de ajuda podem oferecer a estas pequenas crianças. Estes bebês, apesar de
enfermos e com risco, possuem capacidades para se recuperarem se as interações
sociais e tecnológicas apropriadamente incentivadoras forem iniciadas quando ele
é pequeno (KLAUS & KENNELL, 2000; SCHERMANN, 2001b).
Os bebês prematuros, mesmo nas primeiras semanas, já são responsivos
à algumas formas de estímulos sociais (SCHAFFER, 1996; SCHERMANN, 1994).
Um fator de previsão positiva é a capacidade dos pais de se relacionarem com o
bebê e trabalharem em sua recuperação (BRAZELTON, 1988; KLAUS & KENNELL,
2000).
Segundo Brum e Schermann (2004):
Brazelton (1988), por sua vez, afirma que o luto dos pais, depois do
nascimento prematuro, é inevitável. Os pais não somente demonstram esta reação
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pela perda do bebê perfeito que esperavam, mas também lamentam o bebê que
produziram, culpando-se consciente ou inconscientemente. Complementa dizendo
que nessa situação de risco é muito difícil para os pais manterem seu vínculo com
o bebê, o que numa situação como essa podemos considerar normal.
Segundo Siefert (1994):
O que o bebe vê quando olha para o rosto da mãe? Estou sugerindo que,
normalmente, o que o bebe vê é a si mesmo. Em outras palavras, a mãe
está olhando para e aquilo com o que ela se parece está relacionado com
o que ela vê ali. Se a mãe falha nesse intercâmbio porque seu rosto não é
um espelho, o bebe crescerá desconcertado quanto a espelhos e quanto
ao que o espelho tem a oferecer.
Quando o rosto da mãe não reage, o bebê tem a experiência de não receber
de volta o que está dando. Olha e não se vê. Este é um fato que ocorre quando as
mães se encontram em depressão pós-parto, ou em luto por estarem
temporariamente impossibilitadas de se conectarem com o mundo. Diante das
adversidades da vida, esses bebês encontram outras vias para realizarem o
processo de desenvolvimento, a partir do ambiente. Neste sentido Winnicott (1971)
sugeriu, por exemplo, que na ausência da reação materna o bebê aprende ao longo
dos meses a decifrar as várias feições da mãe numa tentativa de predizer seu
humor, buscando assim comportar-se de acordo com o que decifra e afastando suas
necessidades pessoais temporariamente, o que, de acordo com o autor, pode levar
a um desenvolvimento com dificuldades. Winnicott (1971) diz que, passando pela
fase de se ver refletido no rosto da mãe, o bebê conseguirá chegar à individualização
de uma forma mais facilitada.
É claro, pela literatura observada, que o luto e a depressão materna têm um
impacto na direção da prática de cuidados para com a criança e no relacionamento
mãe-criança. Portanto, nessas situações, pode haver enorme estresse por parte
dos pais para acompanharem o nascimento de um bebê com baixo peso ao nascer
(FIELD, 1997). Intervenções podem ser designadas para monitorar e tratar tal
47
situação especial. Portanto, nessa situação, os pais necessitam de apoio. Uma
primeira questão a ser trabalhada é permitir que os pais expressem abertamente
sua tristeza; desta forma surge uma possibilidade maior de se adaptarem melhor a
situação. Brazelton (1988) e Klaus & Kennell (2000) citam que a mãe que tem
condições de enfrentar junto com seu bebê as dificuldades e de colocá-la em
palavras, trabalhando seus sentimentos de culpa, tende a lidar de forma mais rápida
e fácil com a situação. A expressão dos sentimentos conduz à ligação com o recém-
nascido.
Rauh & Brennan (1992) ainda dizem que intervenções com crianças
nascidas pré-termo, mais especificamente crianças de muito baixo peso,
apresentam maior sucesso quando as mães expressam maior necessidade de
suporte. Estas mães mostraram-se mais aptas em seu processo de adaptação
maternal aos seis meses de vida do bebê. Portanto, para as mães que expressaram
uma baixa necessidade de suporte, as intervenções tiveram um efeito negativo. Os
autores encontraram em uma amostra de crianças de alto risco, que mães com
baixo suporte social eram mais resistentes à intervenção que aquelas com altos
níveis de suporte.
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o bebê quanto para sua família com ações simples em saúde.
Expressar sentimentos, assim como obter informações sobre as
capacidades dos recém-nascidos, torna mais fácil a aproximação dos pais com seus
bebês. No trabalho de Brazelton (1988) e Klaus & Kennel (2000), encontramos
respaldo para a questão. Os autores expõem que se um bebê pequeno e prematuro
é tocado, embalado e acariciado diariamente ou se conversamos com ele durante
sua permanência na enfermaria, ele poderá apresentar menos falhas na respiração,
ganho de peso e um progresso mais rápido em algumas áreas do funcionamento
cerebral que pode persistir por meses depois da alta hospitalar. O simples fato de
acariciar um bebê prematuro por cinco minutos a cada hora altera a motilidade
intestinal, o choro, a atividade e o crescimento. Portanto, é importante que tanto
quanto possível, as mães toquem e falem com seus bebês prematuros, pois o grau
com que uma mãe pode cuidar de seu bebê, durante o período em que ele estiver
na enfermaria de cuidados intensivos, irá, obviamente, influenciar seu
relacionamento com ele e facilitar para que seu desenvolvimento se processe de
forma satisfatória.
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inteira de estudos de intervenção precoce dirigido a sistemas familiares de crianças
de baixo peso e pré-termos. Os autores complementam que o suporte adicional às
famílias de bebês de alto risco somado ao contexto social destas famílias tem
enorme influência no desenvolvimento posterior destas crianças.
Conforme pode ser constatado nos textos de Bee (1997), o apoio aos pais
é positivo para o desenvolvimento do bebê. Os pais que sentem possuir um apoio
adequado apresentam maior probabilidade de terem filhos com apego seguro. São
mais capazes de manejar o esforço extra de um bebê de baixo peso ao nascer ou
de um bebê com temperamento difícil.
Brum e Schermann (2004), citam o trabalho dos pesquisadores Jacobson e
Frye (1991), com um grupos de mães e o resultado é muito interessante:
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5 O CUIDADO COM AS MÃES NO PÓS-PARTO
Fonte: http://lillo.com.br
Todas as puérperas precisam dessa rede para não desmoronar diante das
feridas físicas e emocionais deixadas pelo parto. Além do mais, quarenta
dias é muito pouco para a recuperação dentro de nosso esquema social,
porque ninguém defende as necessidades impostergáveis da díade mãe-
bebê, e a maioria das mulheres são obrigadas a voltar precocemente ao
trabalho (MACHADO, 1999)
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mulher está muito sozinha em sua situação: a desestruturação emocional causada
pelo nascimento do filho, a falta de uma rede social, o homem como único interlocutor
e os imperativos sociais que manipulam os fios das decisões pessoais e familiares.
É exatamente com isso que se deparam os profissionais ao abordar uma
mulher puérpera desarmada. O aparente rompimento do vínculo de casal, os
desacordos familiares, a solidão, a falta de referências, o distanciamento afetivo das
pessoas que acreditavam serem as mais próximas e um bebê que chora sem parar.
Conforme encontramos em Gutman (2016):
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Precisa de assistência, de companhia e da disponibilidade de outra
pessoa, que não interfira nem abuse de sua autoridade, que não a julgue
nem se intrometa, mas que esteja presente. Que se encarregue das tarefas
delegáveis (cuidar dos filhos maiores, limpar, cozinhar, lavar roupa,
arrumar a casa etc.) e tenha capacidade de atender às necessidades sutis
de uma mãe com um bebê nos braços.
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diversas intercorrências que podem surgir no período puerperal e é de
extrema importância que a equipe esteja em contato com essa mãe. O
profissional deve aproveitar esse momento de sensibilidade da mulher
para atender suas necessidades (SOUZA & FERNANDES, 2014).
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6 AS NECESSIDADES BÁSICAS DO BEBÊ
Fonte: https://dicasrecemnascidos.com
Quando nasce o bebê, ele precisa que um adulto faça quase tudo por ele,
exercendo a função de proteção, alimentação, higiene. Isso não significa que esta
função precisa ser feita somente pela mãe, pois a criança precisa da função de mãe
e não necessariamente da mãe biológica.
O bebê humano nasce com uma falta, exposto à suas necessidades, por
isso depende de outro para sobreviver.
Segundo THEISEN (2014), a mãe (Outro) é possuidora de referências
significantes através das quais a criança inaugura sua constituição psíquica. Assim,
esse Outro vai apostando na suposição de um sujeito nesse bebê, estabelecendo
a demanda do bebê. Desse modo, entende-se que:
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A mãe articula a demanda do bebê ao seu saber inconsciente, à sua rede
significante, atribui à ação do bebê um sentido, a partir do qual realiza a
oferta de uma ação específica. Mas, neste movimento de articulação da
pulsão pela demanda, também se abre a dimensão do desejo, pois a pulsão
não fica toda articulada na demanda, o desejo sempre escapa, sempre
insiste na busca da realização do que ficou inscrito como satisfação
(JERUSALINSKY, 2002, p. 138).
A autora em sua obra explica com detalhes cada uma dessas necessidades
básicas (Gutman, 2016), segue um resumo:
Comunicação: Refere-se à comunicação permanente com a figura
materna (a mãe ou a pessoa que a substitui) através do olhar, das palavras, da
percepção de sua presença e do amor. Um bebê se constitui em ser humano na
medida em que está em total comunicação com o outro, de preferência a mãe.
56
Permanente significa “o tempo todo”, 24 horas de colo, calor, abrigo, movimento,
ritmo.
Contato: O bebê deveria ficar nos braços da mãe ou de algum substituto a
maior parte do tempo, apoiado fisicamente, tocado, até mesmo apertado, como de
fato estava no útero da mãe. É preciso que as mesmas vivências uterinas se
assemelhem às vivências no meio aéreo, pois isso lhe proporciona segurança e
confiança. Isso permite que ele fique em contato permanente com outro corpo, que
delimita o próprio corpo, que o protege, balança, abriga e canta para ele.
Isto é aparentemente simples, no entanto, a maioria das mães não conta
com apoio externo suficiente para permanecer com o bebê no colo a maior parte do
dia. Também não conta com histórias de vida suficientemente amorosas nem
repletas de confiança. Por isso, inconscientemente, elas travam uma luta interna
entre a necessidade primária e filogenética que lhes é ditada pelo coração e aquilo
que a sociedade, a família ou a cultura esperam delas e classificam de normal e
saudável. De fato, em nossa sociedade ocidental, raras vezes temos oportunidade
de encontrar mães carregando bebês pendurados em seu corpo. Pelo contrário,
abundam os carrinhos de bebê, bercinhos, cadeirinhas ou qualquer outro objeto que
mantenha o bebê afastadíssimo do corpo da mãe. Quero ressaltar que dentro do
útero materno o bebê tinha todas as partes de seu corpo em contato com outro
corpo, apertado e com limites muito precisos. É essa a sensação que o bebê precisa
reproduzir. O espaço aéreo é infinito. Quando não há contato completo, a sensação
é a de estar caindo em um precipício.
Movimento: Durante a vida intrauterina o bebê estava em contínuo
movimento. Não somente pelos movimentos da mãe ao caminhar, se sentar, dormir
ou escrever, mas também porque a criança permanecia em contato permanente
com os movimentos dos órgãos internos, tanto de digestão, respiração ou circulação
cardíaca. A quietude completa não existia e, no meio aéreo, a quietude representa
um perigo para o bebê.
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Alimentação permanente: Significa que, assim como no útero, a
necessidade de alimento é quase constante, e não me refiro apenas ao alimento
material que denominamos de leite. A possibilidade de sugar, ingerir e satisfazer
a fome deveria estar disponível cada vez que o bebê pedisse. Prestemos atenção
na facilidade com que as mães se negam a dar o peito à criança porque ela “já
comeu”. Deveríamos refletir sobre o poder que exercemos sobre elas como
adultos, dizendo arbitrariamente quando é justo oferecer alimento e quando isso
não é adequado ou merecido. No útero, não existia a espera. A criança era
alimentada espontaneamente. Machado afirma que para criar bebês atendendo às
suas necessidades básicas é indispensável reconhecer a natureza do bebê humano
e diz como fazer isso:
O que acontece quando as mães criam seus bebês guiadas por conselhos
e receitas recebidas, deixando de atender suas sensações viscerais?
Simplesmente, a sombra aparece em manifestações incômodas, como doenças,
choro desmedido e protestos dignos de bebês que resolveram chamar a atenção.
Somos uma sociedade extremamente violenta com nossas crias. Insistimos
em não atender as queixas dos bebês, que dependem de forma exclusiva dos
cuidados dos adultos. Um bebê humano não tem qualquer autonomia em relação
ao próprio corpo. Ao nascer, sequer sustenta a cabeça, e só consegue se deslocar
por volta dos 9 meses. Portanto, está à mercê de nossas caprichosas ideias
modernas.
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As mães costumam ser acusadas de “superprotetoras” e seu papel maternal
é desmerecido quando têm a coragem de manter o bebê sobre o seu corpo. O temor
familiar e social pressupõe que o bebê acostumado a permanecer em contato
corporal com a mãe não poderá, no futuro, se acostumar a prescindir do contato
físico. É um pensamento linear e extremamente infantil.
Se o bebê for privado de algo que seja básico dentro do leque de suas
necessidades, crescerá reivindicando eternamente aquilo que não obteve. É o que
acontece com pessoas que atravessaram a guerra e a fome — a situação real foi
modificada, elas se transformaram em indivíduos ricos e poderosos e, mesmo
assim, continuam experimentando a sensação primária de fome e de perda. Um
senhor de 92 anos que passou a guerra no Leste Europeu continua comendo as
migalhas que os outros abandonam em seus pratos, porque ainda sente fome em
suas entranhas. Uma criança não apoiada corporalmente procurará eternamente o
contato compulsivo. Uma criança não amada pedirá amor em todos os lugares, e
sempre se sentirá insatisfeita. Por outro lado, quando um bebê tem suas
necessidades respeitadas, logo cresce e evolui. Se sua segurança interior for forte,
terá mais coragem e vontade de explorar o mundo exterior.(GUTMAN, 2016)
Segundo Winnicott, a base da saúde mental é estabelecida nos primórdios
da infância pelo provimento de cuidados dispensados à criança por uma
maternagem suficientemente boa.
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