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PEDIATRIA

Triagem Neonatal 2
Teste do Pezinho 2
Doenças 5
Fenilcetonúria 6
Hipotireoidismo Congênito 8
Doença Falciforme e Outras Hemoglobinopatias 12
Fibrose Cística 13
Hiperplasia Adrenal Congênita 15
Deficiência de Biotinidase 18
Teste da Orelhinha - Triagem Auditiva Neonatal (TAN) 20
Teste do Coraçãozinho 21
Teste do Olhinho - Teste do Reflexo Vermelho 23
Teste da Linguinha 24
Referências Bibliográficas 29

TRIAGEM
NEONATAL
___

Aline Marjorie 3ª etapa USCS


2

Triagem Neonatal
Público-alvo: população com idade de 0 a 28 dias de vida.

A triagem neonatal a partir da matriz biológica, “teste do pezinho”, é um conjunto de


ações preventivas, responsável por identificar precocemente indivíduos com
doenças metabólicas, genéticas, enzimáticas e endocrinológicas, para que estes
possam ser tratados em tempo oportuno, evitando as sequelas e até mesmo a morte.
Além disso, propõe o gerenciamento dos casos positivos por meio de monitoramento e
acompanhamento da criança durante o processo de tratamento.

Teste do Pezinho

Recomenda-se que o período ideal de coleta da primeira amostra esteja compreendido entre o
3o e o 5o dia de vida do bebê devido às especificidades das doenças diagnosticadas
atualmente.

Deve ser considerada como uma condição de exceção toda coleta realizada após o 28o dia de
vida, mesmo que não recomendada, por se tratar de um exame fora do período neonatal.
Consideram-se excepcionalidades as dificuldades de acesso de algumas aldeias indígenas e
populações de campo e da floresta, bem como questões culturais e casos de negligência.

Prematuros, baixo peso ao nascer ou gravemente enfermos

Podem dar falso positivo ou falso negativo;

Coleta de sangue venoso periférico;

Triagem seriada: pelo menos 3 amostras, podendo chegar a 4 ou 5;

1ª amostra: logo na admissão da UTI

2 amostra: 48h a 72h de vida

3ª amostra: logo depois da alta ou aos 28º dias de vida do bebê ainda internado
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Doenças

O Programa Nacional de Triagem Neonatal tem em seu escopo seis doenças: Fenilcetonúria,
Hipotireoidismo Congênito, Doença Falciforme e outras hemoglobinopatias, Fibrose Cística,
Hiperplasia Adrenal Congênita e Deficiência de Biotinidase.

A Lei nº 14.154/2021, alterou o Estatuto da Criança e do Adolescente, para aperfeiçoar o


Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN), por meio do estabelecimento de um rol
mínimo de doenças a serem rastreadas pelo teste do pezinho.

Terá a implementação de forma escalonada, de acordo com a seguinte ordem de progressão:

I – etapa 1:

a) fenilcetonúria e outras hiperfenilalaninemias;

b) hipotireoidismo congênito;
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c) doença falciforme e outras hemoglobinopatias;

d) fibrose cística;

e) hiperplasia adrenal congênita;

f) deficiência de biotinidase;

g) toxoplasmose congênita;

II – etapa 2:

a) galactosemias;

b) aminoacidopatias;

c) distúrbios do ciclo da ureia;

d) distúrbios da betaoxidação dos ácidos graxos;

III – etapa 3: doenças lisossômicas;

IV – etapa 4: imunodeficiências primárias;

V – etapa 5: atrofia muscular espinhal.

1. Fenilcetonúria
A Fenilcetonúria (PKU) é um dos erros inatos do metabolismo, com padrão de herança
autossômico recessivo. O defeito metabólico gerado, frequentemente causado pela
enzima Fenilalanina Hidroxilase, leva ao acúmulo do aminoácido Fenilalanina (FAL) no
sangue e ao aumento da Fenilalanina e da excreção urinária de Ácido Fenilpirúvico.

Sem a instituição, por meio de programas de Triagem Neonatal, do diagnóstico precoce e


do tratamento antes dos 3 meses de vida, a criança afetada pela Fenilcetonúria apresenta
um quadro clínico clássico, caracterizado por atraso global do desenvolvimento
neuropsicomotor (DNPM), deficiência mental, comportamento agitado ou padrão
autista, convulsões, alterações eletroencefalográficas e odor característico na urina. Os
pacientes cujo diagnóstico foi feito no período neonatal e foram submetidos à terapia
dietética adequada não apresentaram o quadro clínico acima descrito.
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São conhecidas três formas de apresentação metabólica, que são classificadas de acordo
com o percentual de atividade enzimática encontrado:

► Fenilcetonúria Clássica – atividade da enzima fenilalanina hidroxilase praticamente


inexistente, menor que 1% e, consequentemente, níveis de fenilalanina plasmática
superiores a 20 mg/dL;

► Fenilcetonúria Leve – atividade da enzima entre 1% e 3%, resultando em níveis


plasmáticos de fenilalanina entre 10 mg/dL e 20 mg/dL;

► Hiperfenilalaninemia Transitória ou Permanente – atividade enzimática superior a


3%, levando a níveis de fenilalanina entre 4 mg/dL e 10 mg/ dL. Nesse caso, não deve ser
instituída qualquer terapia, pois essa é considerada uma condição benigna que não
resulta em sintomatologia clínica.

Recomenda-se que a coleta seja feita somente após 48 horas do nascimento, pois, para
que o aumento da FAL possa ser detectado, é fundamental que a criança tenha ingerido
uma quantidade suficiente de proteína. Nos casos de recém-nascidos pré-termo, de
baixo peso ao nascer ou gravemente enfermos, devem ser colhidas três amostras,
conforme o protocolo de coletas especiais, independentes dos resultados.

O tratamento consiste basicamente em uma dieta com baixo teor de FAL, mantendo-se
os níveis adequados desse aminoácido para permitir o crescimento e desenvolvimento
normais do indivíduo.

A instituição de uma dieta isenta de FAL causaria um dano ainda maior do que a
Fenilcetonúria propriamente dita, ou seja, a Síndrome da Deficiência de Fenilalanina,
que é caracterizada por eczema grave, prostração, ganho de peso insuficiente,
desnutrição, além de deficiência mental e crises convulsivas.

O tratamento preconizado deverá ser mantido por toda a vida. Estudos realizados em
todo o mundo sugerem que a suspensão da dieta pode resultar em deterioração
intelectual e comportamental.

A dieta utilizada é hipoprotéica, suplementada por uma fórmula de aminoácidos isenta


de Fenilalanina (FAL).

Os objetivos a serem alcançados em relação ao tratamento são os seguintes:


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► manter a normalização dos parâmetros neuropsicomotores nos pacientes com


diagnóstico precoce e instituição do tratamento adequado antes dos 3 meses de vida;

► desenvolvimento pôndero-estatural adequado para a idade do paciente, apesar da


restrição dietética imposta;

► melhoria gradual das alterações neuropsicológicas observadas nos pacientes cujo


tratamento inicia-se a partir de 3 meses de idade (pacientes não submetidos à Triagem
Neonatal).

2. Hipotireoidismo Congênito
Hipotireoidismo congênito (HC) é um distúrbio metabólico sistêmico caracterizado pela
secreção insuficiente dos hormônios tireoidianos, tiroxina (T4) e triiodotironina (T3).
Estes hormônios estão relacionados com o funcionamento de vários órgãos e sistemas e
têm papel fundamental na maturação do sistema nervoso central.

O HC primário é o defeito endócrino metabó- lico congênito mais frequente, cuja


prevalência varia de 1:1.500 – 1:4.000 nascimentos nascidos vivos e acomete duas vezes
mais o sexo feminino. É a causa mais comum de deficiência mental passível de
prevenção. Estabelecer o diagnóstico e iniciar o tratamento precocemente é fundamental
para prevenir sequelas, principalmente neurológicas.

O período crítico de dependência dos hormônios tireoidianos para formação do sistema


nervoso central (SNC) abrange desde a vida fetal até dois anos de idade. As principais
consequências da ausência dos hormônios tireoidianos são: retardo mental grave,
falência do crescimento e distúrbios neurológicos como ataxia, incoordenação,
estrabismo, movimentos coreiformes e perda auditiva neurossensorial.

No recém-nascido, o HC costuma ser assintomático ou cursa com manifestações


inespecíficas e de instalação lenta, o que torna o diagnóstico clínico difícil.

A doença pode ser classificada em:

► primária – quando a falha ocorre na glândula tireoide;

► secundária – quando ocorre deficiência do hormônio estimulador da tireoide (TSH)


hipofisário;
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► terciária – quando ocorre deficiência do hormônio liberador da tireotrofina (TRH)


hipotalâmico;

► resistência periférica à ação dos hormônios tireóideos.

A idade ideal para a coleta da primeira amostra de sangue para a triagem é entre o 3o e
5o dia de vida, quando já ocorreu a diminuição do pico de elevação fisiológica do TSH.

A maioria dos recém-nascidos com HC mostra-se normal ao nascer. O feto hipotireoideo


está protegido, até certo ponto, pela transferência placentária de hormônio tireoidiano
materno (T4) para a circulação fetal. Além disso, ocorre aumento dos níveis cerebrais de
tiroxina desiodase, enzima que converte o T4 em T3, fazendo com que sejam produzidas
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concentrações cerebrais de T3 próximas do normal, em detrimento de outras estruturas,


como no esqueleto, o que determina atraso na maturação óssea.

A observação clínica é de valor limitado na detecção do HC. O quadro clínico se


estabelece lentamente, em semanas ou meses, porém a maior parte das manifestações é
inespecífica. Por este motivo somente 5% das crianças são diagnosticadas clinicamente
no período neonatal.

O diagnóstico deve ser considerado em qualquer lactente que apresente icterícia


prolongada, hipotermia transitória, fontanela posterior aumentada, dificuldade de
sucção ou dificuldade respiratória às mamadas. Os sinais clássicos desenvolvem-se
durante as primeiras semanas após o nascimento. A maior parte dos sinais e sintomas
está presente em 6 a 12 semanas de vida, especialmente letargia, obstipação intestinal e
hérnia umbilical. O fácies cretinoide e o retardo de crescimento tornam-se,
progressivamente, mais óbvios após os primeiros meses de vida.

Os testes de triagem neonatal para HC não são diagnósticos e os resultados alterados


devem ser confirmados por determinação de concentrações séricas de TSH e T4T (T4
total) ou T4L (T4 livre).

Aproximadamente, 10% dos pacientes com HC apresentam anomalias congênitas


associadas, em contraste com a frequência de 3% observada na população geral.
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As anomalias cardíacas (estenose pulmonar e defeitos do septo atrial ou ventricular) são


as mais comumente observadas, seguidas de malformações do aparelho digestivo,
trissomias cromossômicas, malformações do trato urogenital e do SNC, e defeitos
múltiplos.

Dentre os benefícios esperados com o tratamento devem ser ressaltados:

► pacientes submetidos a triagem neonatal com diagnóstico e tratamento precoces se


beneficiarão com a prevenção da deficiência mental e dos demais danos provocados pela
doença;

► crianças com diagnóstico e tratamento tardios (iniciado com mais de 30 dias de vida)
apresentarão:

– melhoria do desenvolvimento neuropsicomotor. Estudos apontam que na ausência de


tratamento precoce, 40% dos indivíduos afetados mostram QI inferior a 70; 19%, QI
menor de 55, sendo a média geral em torno de 80. Com o tratamento muito do prejuízo
intelectual é recuperado, mas nunca serão restabelecidos os níveis normais. É possível
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que, em algumas crianças, a perda no desenvolvimento intelectual não apresente


recuperação com o tratamento pós-natal;

– recuperação do ritmo de ganho pôndero-estatural;

– normalização dos parâmetros metabólicos alterados, normalização da

frequência cardíaca, dos hábitos intestinais, dos hábitos de sono, da temperatura e


umidade da pele, etc.

3. Doença Falciforme e Outras Hemoglobinopatias


A Doença Falciforme (DF) é uma afecção genética com padrão de herança autossômico
recessivo, causada por um defeito na estrutura da cadeia beta da hemoglobina, que leva
as hemácias a assumirem forma de lua minguante, quando expostas a determinadas
condições, como febre alta, baixa tensão de oxigênio, infecções etc. As alterações
genéticas (mutação) nessa proteína (hemoglobina) são transmitidas de geração em
geração (padrão de herança familiar).

Padrão: a hemoglobina predominante em humanos adultos é chamada de hemoglobina


A (padrão Hb AA). A hemoglobina predominante em humanos recém-nascidos é a
Hemoglobina F (padrão Hb FA).

Hemoglobinopatias: As hemoglobinopatias podem ser resultantes de mutações que


afetam os genes reguladores promovendo um desequilíbrio no conteúdo quantitativo das
cadeias polipeptídicas e consequentemente nos tipos normais de hemoglobina,
causando as talassemias. Também podem ser originadas de alterações envolvendo genes
estruturais que promovem a formação de moléculas de hemoglobinas com
características bioquímicas diferentes das hemoglobinas normais, denominadas
hemoglobinas variantes. As hemoglobinas variantes mais frequentes são a hemoglobina
S (Hb S) e hemoglobina C (Hb C). O indivíduo heterozigoto é popularmente conhecido
como “traço falcêmico” ou “traço falciforme” (Hb AS). Poderão também ser identificadas
outras hemoglobinas variantes (Hb D, Hb E, Hb Hasharon, etc.) com ou sem significado
clínico. Nos procedimentos de triagem neonatal em recém-nascidos, é possível
identificar de forma diferenciada os indivíduos heterozigotos (Hb FAS) dos indivíduos
homozigotos, ou seja, doentes (Hb FS).
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O termo doença falciforme (DF) é usado para definir as hemoglobinopatias nas quais o
fenótipo predominante é o da Hb S, mesmo quando associada a outra hemoglobina
variante (Hb Var). Os tipos de DF mais frequentes são Hb SS, a S-beta Talassemia e as
duplas heterozigoses Hb SC e Hb SD. Essas variações causadas por heterozigoses
compostas podem apresentar quadros clínicos variados.

O paciente afetado apresenta as seguintes alterações clínicas: anemia hemolítica, crises


vaso-oclusivas, crises de dor, insuficiência renal progressiva, acidente vascular cerebral,
maior susceptibilidade a infecções e sequestro esplênico. Podem ocorrer também
alterações no desenvolvimento neurológico, com provável etiologia vaso-oclusiva de
sistema nervoso central.

Os pacientes que não forem submetidos à triagem neonatal e, portanto, não tratados
precocemente, podem apresentar um quadro inicial que inclui os seguintes sintomas:
irritabilidade, febre moderada, anemia hemolítica, síndrome mão-pé (dactilite),
infecções e esplenomegalia. Em casos raros, a septicemia pneumocócica fulminante
pode ser a primeira manifestação da DF, levando ao óbito após o aparecimento da febre.
O pico de morbimortalidade situa-se ao redor de 2 a 3 anos de vida, sendo que as
principais causas de morte são: a septicemia e choque (por streptococcus pneumoniae
ou haemophilus influenzae) e a anemia profunda por sequestro esplênico.

O ideal é que o tratamento seja iniciado antes dos quatro meses de vida para que a
prevenção das infecções e outras complicações que podem levar à morte da criança seja
efetivo.As princi- pais medidas preconizadas para alcançar esse objetivo são:
antibioticoterapia profilática (esquema especial de vacinação), suplementação com ácido
fólico, além do seguimento clínico especializado.

4. Fibrose Cística
A Fibrose Cística (FC) ou Mucoviscidose, como também é conhecida, é uma das doenças
hereditárias consideradas graves, determinada por um padrão de herança autossômico
recessivo e afeta especialmente os pulmões e o pâncreas, num processo obstrutivo
causado pelo aumento da viscosidade do muco. Nos pulmões, esse aumento na
viscosidade bloqueia as vias aéreas propiciando a proliferação bacteriana (especialmente
pseudomonas e estafilococos), o que leva à infecção crônica, à lesão pulmonar e ao óbito
por disfunção respiratória. No pâncreas, quando os ductos estão obstruídos pela
secreção espessa, há uma perda de enzimas digestivas, levando à má nutrição.
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Essa afecção apresenta um índice de mortalidade muito elevado, porém, nos últimos
anos, o prognóstico tem melhorado muito, mostrando índices de 75% de sobrevida até o
final da adolescência e de 50% até a terceira década de vida. Estudos anteriores
demonstram que apenas 10% dos pacientes ultrapassavam os 30 anos de idade.

Muitas crianças com Fibrose Cística não apresentam nenhum sinal ou sintoma da
doença ao nascimento. Isso pode perdurar por semanas, meses ou mesmo anos. Cerca de
5% a 10% dos pacientes afetados nascem com obstrução intestinal por mecônio, a qual
pode ser visualizada já na avaliação ultrassonográfica. A síndrome íleo meconial envolve
distensão abdominal, impossibilidade de evacuação e vômitos. Eventualmente, mesmo
os adultos podem apresentar um quadro semelhante a esse. Dentre os demais sintomas
podem estar incluídos: esteatorreia, dificuldade de ganho de peso, problemas
respiratórios, perda de sal pelo suor, dor abdominal recorrente, icterícia prolongada,
edema hipoproteinêmico, pancreatite recorrente, cirrose biliar, acrodermatite
enteropática e retardo no desenvolvimento somático.

O curso clínico da doença se caracteriza por períodos de remissão e períodos de


exacerbação, com aumento da frequência e gravidade das exacerbações com o passar do
tempo.

Sintomas mais graves e complicações incluem a desnutrição, o diabetes, a insuficiência


hepática e a osteoporose. No trato gênito urinário, observa-se puberdade tardia,
azoospermia em até 95% dos homens, e infertilidade em 20% das mulheres.

Diante de uma doença com um prognóstico tão grave e cuja sintomatologia manifesta-se
geralmente em torno dos primeiros anos de vida, os programas de triagem neonatal são
de importância fundamental para o seu acompanhamento adequado. O diagnóstico
presuntivo é estabelecido com a análise dos níveis da tripsina imunorreativa (IRT). A
análise do IRT só deve ser realizada em amostras colhidas com até 30 dias de vida do RN,
pois após esse período, os resultados não são confiáveis como testes de triagem. O
exame confirmatório dos casos suspeitos é a dosagem de cloretos no suor “Teste de
Suor”.

A quantidade anormal de sal nas secreções corporais, especialmente no pulmão e no


pâncreas, leva a uma perda pelo suor, fato que é característico da doença em bebês e
crianças maiores. Quando a análise do teor de cloro no suor mostrar níveis alterados e
quadro clínico compatível, pode-se estabelecer o diagnóstico de Fibrose Cística, pois
apenas de 1% a 2% dos pacientes apresentam níveis padrão de cloro no suor.
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O tratamento do paciente com Fibrose Cística consiste em acompanhamento médico


regular, suporte dietético, utilização de enzimas pancreáticas, suplementação vitamínica
(vitaminas A, D, E, K) e fisioterapia respiratória. Quando em presença de complicações
infecciosas, é indicada a antibioticoterapia de amplo espectro. Além do esquema vacinal
habitual, as crianças devem receber também imunização antipneumocócica e
anti-hemófilos.

5. Hiperplasia Adrenal Congênita


Hiperplasia adrenal congênita (HAC) é o termo utilizado para caracterizar um conjunto
de doenças, de herança autossômica recessiva, potencialmente letais, resultantes da
deficiência de uma das enzimas responsáveis pela síntese de cortisol nas glândulas
adrenais.

Nos diversos grupos étnicos as deficiências enzimáticas mais comuns em HAC são:
21-hidroxilase, que responde por cerca de 95% dos casos, e 11-beta-hidroxilase,
encontrada em aproximadamente 5% dos casos. Ambas estão envolvidas na rota de
síntese do cortisol e da aldosterona. Na população brasileira, a deficiência da
21-hidroxilase também é a mais frequente, seguida da 17-alfa-hidroxilase, sendo a
11-beta-hidroxilase muito rara.

O diagnóstico presuntivo da HAC na triagem neonatal é realizado pela quantificação da


17-hidroxi-progesterona (17-OHP), seguido de testes confirmatórios no soro.

As manifestações clínicas na HAC dependem da enzima envolvida e do grau de


deficiência enzimática (total ou parcial). A apresentação clínica pode se expressar por
insuficiência glicocorticoide, insuficiência mineralocorticoide, excesso de andrógenos ou
ainda por insuficiência de andrógenos.

Na deficiência da 21-hidroxilase existe um espectro de manifestações clínicas que


podem ser divididas em três formas: forma clássica perdedora de sal, forma clássica não
perdedora de sal e forma não clássica.

Forma clássica perdedora de sal

Constitui a forma clínica mais comum da deficiência da 21-hidroxilase (70%–75% dos


casos de forma clássica). Nos recém-nascidos do sexo femi- nino, há virilização da
genitália externa (aumento de clitóris, fusão labial em graus variáveis e formação de seio
urogenital), decorrente do excesso de andró- genos durante a vida intrauterina. No sexo
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masculino ocorre a diferenciação normal da genitália externa na vida intrauterina,


embora também sejam des- critos casos com macrogenitossomia ao nascimento. A
deficiência mineralocorticoide se manifesta precocemente (em geral a partir da 2a
semana), com crise adrenal: depleção de volume, desidratação, hipotensão,
hiponatremia e hiperpotassemia e, se não tratada, pode evoluir para óbito.

Forma clássica não perdedora de sal (virilizante simples)

Os sinais de virilização, em ambos os sexos, ocorrem de forma semelhante ao descrito na


forma perdedora de sal e, nos recém-nascidos do sexo feminino, há virilização da
genitália externa. Sem diagnóstico e tratamento precoces, ambos os sexos apresentarão
virilização pós-natal, caracterizada por clitorome- galia, aumento peniano, pubarca
precoce, velocidade de crescimento aumentada e maturação óssea acelerada, resultando
em baixa estatura final. Como nessa forma não há deficiência mineralocorticoide com
repercussão clínica, os recém-nascidos do sexo masculino são frequentemente
identificados em idade tardia, por sinais de hiperandrogenismo.

Forma não clássica (de início tardio)

Essa forma de apresentação é cerca de 15 vezes mais frequente do que a forma clássica
de HAC, e as manifestações podem aparecer na infância, adolescência ou idade adulta.
No sexo feminino, devido ao hiperandrogenismo, a apresentação pode se dar por
aumento discreto do clitóris, pubarca precoce, ciclos menstruais irregulares, hirsutismo
e infertilidade. No sexo masculino, por ser oligossintomático, o quadro costuma não ser
diagnosticado. Alguns pacientes podem ainda ser assintomáticos, os quais geralmente
são diagnosticados na investigação dos familiares de um caso índex.

Manifestações clínicas em recém‐nascidos

Em recém-nascidos do sexo feminino, o diagnóstico da forma clássica da de- ficiência da


21-hidroxilase é suspeitado pela presença de virilização da genitália externa, que pode
inclusive se assemelhar à genitália masculina, sem gônadas palpáveis. Já em
recém-nascidos do sexo masculino, como em geral a macro- genitossomia não é
evidente ao nascimento, o diagnóstico clínico é dependen- te do grau de deficiência
mineralocorticoide. A forma perdedora de sal apresenta-se nos primeiros dias de vida,
mais frequentemente a partir da segunda semana, com desidratação, hipotensão,
taquicardia, vômitos, perda de peso, letargia, hiponatremia e hiperpotassemia. A forma
não perdedora de sal (virilizante simples) apresenta-se mais tardiamente, com pubarca
precoce, velocidade de crescimento aumentada ou maturação óssea acelerada, podendo
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apresentar, mais tardiamente, sinais de virilização, tais como engrossamento da voz,


aumento da massa muscular e crescimento clitoriano e peniano pós-natal.

Pacientes assintomáticos com HAC forma não clássica não necessitam de tratamento.
Para pacientes do sexo feminino com hiperandrogenismo, além da reposição hormonal
com baixas doses de glicocorticoide, deve ser seguido o tratamento proposto no
Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Sín- drome dos Ovários Policísticos e
Hirsutismo.

O diagnóstico precoce e o tratamento adequado melhoram o padrão de crescimento,


podendo normalizá-lo na maior parte dos casos.

O tratamento deve ser contínuo ao longo da vida. O intervalo entre consultas, levando
em consideração os dados clínicos e a realização de exames laboratoriais, deve seguir o
que foi sugerido pelo especialista.
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6. Deficiência de Biotinidase
A deficiência de biotinidase (DB) é uma doença metabólica hereditária na qual há um
defeito no metabolismo da biotina. Como consequência, ocorre uma depleção da biotina
endógena devido a uma incapacidade de o organismo fazer a sua reciclagem ou de usar a
biotina ligada à proteína fornecida pela dieta. Assim, como a maioria dos erros inatos do
metabolismo, essa doença apresenta uma herança autossômica recessiva, com mais de
140 mutações descritas (WOLF, 2010; PINDOLIA; JORDAN; WOLF, 2010).

Clinicamente, manifesta-se geralmente a partir da sétima semana de vida, com


distúrbios neurológicos e cutâneos, tais como crises epiléticas, hipotonia, microcefalia,
atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, alopecia e dermatite eczematoide. Nos
pacientes com diagnóstico tardio observam-se, frequentemente, distúrbios visuais,
auditivos, assim como atraso motor e de linguagem (WOLF, 2011).

O tratamento dessa condição é muito simples e de baixo custo, pois consiste na


reposição oral de biotina, na dose de 10 mg/dia a 20 mg/dia.

Weber, Scholl e Baumgartner (2004) publicaram um estudo de seguimento de pacientes


com DB, e concluíram que os pacientes diagnosticados em período sintomático
frequentemente apresentam atraso do desenvolvimento e risco de desenvolverem
sequelas auditiva, visual e de funções nervosas superiores irreversíveis, ao contrário do
que se observou nos pacientes diagnosticados em fase pré-sintomática (período
neonatal).
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Para a triagem neonatal da deficiência de biotinidase é necessária a realização de um


teste de triagem (qualitativo), de um teste confirmatório (quantitativo) e do estudo
complementar dos pacientes afetados e familiares, além do acompanhamento
ambulatorial e tratamento das crianças identificadas como portadoras da deficiência de
biotinidase.

Interpretação dos resultados

► Deficiência profunda de biotinidase: atividade enzimática menor que 10%


considerando o limite inferior de referência para indivíduos não portadores de
deficiência de biotinidase;

► Deficiência parcial de biotinidase: atividade enzimática entre 10% e 30%,


considerando o limite inferior de referência para indivíduos não portadores de
deficiência de biotinidase;

► Sem deficiência de biotinidase: atividade enzimática acima de 30%, considerando o


limite inferior de referência para indivíduos não portadores de deficiência de biotinidase.

Fatores responsáveis por falso‐positivos:

1. Prematuridade;

2. Doença hepática;

3. Icterícia;

4. Fatores ambientais e técnicos (cuidados com a coleta, conservação da amostra, tempo


de processamento e transporte, etc.).

Fatores responsáveis por falso‐negativos

1. Uso de sulfonamidas;

2. Transfusão de hemoderivados.

O tratamento medicamentoso consiste na utilização de biotina em doses diárias de


acordo com a subclassificação da deficiência de biotina, baseada no teste quantitativo
(WOLF, 2010; 2012):

► Crianças com deficiência parcial de biotinidase: 5 mg/ dia a 10 mg/dia;


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► Crianças com deficiência profunda de biotinidase: 10 mg/dia a 20 mg/dia.

Teste da Orelhinha - Triagem Auditiva Neonatal (TAN)

O Teste da Orelhinha ou Triagem Auditiva Neonatal é um exame importante para detectar se o


recém-nascido tem alterações na audição. É realizado através dos exames de emissões
otoacústicas e/ou Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico. É rápido, seguro e indolor e
o ideal é que seja realizado a partir de 24 horas de vida do recém-nascido e antes da alta
hospitalar. Após a sua realização é possível iniciar o diagnóstico e o tratamento das alterações
auditivas precocemente. Quando detectado algum problema, o bebê é encaminhado para um
serviço de diagnóstico, onde serão realizados a avaliação otorrinolaringológica e exames
complementares.

A TAN deve ser realizada, preferencialmente, nos primeiros dias de vida (24h a 48h) na
maternidade, e, no máximo, durante o primeiro mês de vida, a não ser em casos quando a saúde
da criança não permita a realização dos exames. No caso de nascimentos que ocorram em
domicílio, fora do ambiente hospitalar, ou em maternidades sem triagem auditiva, a realização
do teste deverá ocorrer no primeiro mês de vida.
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Teste do Coraçãozinho

Exame indolor, realizado através de um oxímetro de pulso que estima a concentração de


oxigênio no sangue, sendo capaz de detectar problemas cardíacos congênitos complexos desde o
nascimento.

Embora 1 a 2 recém-nascidos a cada 1.000 apresentem cardiopatia congênita crítica ao nascer,


cerca de 30% desses casos recebem alta hospitalar sem o diagnóstico. isso acontece porque a
alta hospitalar ocorre após 48 horas de vida do rN e, nesse momento, muitas alterações podem
ainda não estar se manifestando, com a ausculta cardíaca aparentando normalidade.

Por consequência disso, muitos bebês podem evoluir para choque, hipóxia e óbito precoce, tanto
que, atualmente, as cardiopatias congênitas, representam cerca de 10% dos óbitos infantis.

Nessas alterações, existe mistura de sangue entre a circulação sistêmica e pulmonar, o que gera
redução da saturação periférica de O2.

Passos:

• Colocação do Oxímetro de Pulso: assim, o teste do coraçãozinho é feito a partir da colocação


do oxímetro de pulso. Os sensores são posicionados no membro superior direito (MSD) –
pré-ductal – e em um dos membros inferiores (Mi) – pós-ductal, sendo que as extremidades
devem ser aquecidas para uma aferição adequada.
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• Avaliação do monitor: quando o rN não apresenta alterações, o monitor mostra uma onda de
traçado homogêneo, com a saturação periférica maior ou igual a 95%, tanto na medida dos MSD
quanto do Mi, sendo a diferença entre ambos menor que 3%.

Observações:

• quando o resultado for anormal, deve-se realizar uma nova aferição após 1 hora. Caso essa
alteração permaneça, realiza-se o ecocardiograma nas 24 horas seguintes.
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• Esse teste tem uma sensibilidade de 75% e especificidade de 99%. Por isso, mesmo com o
teste, há chances de certas alterações não serem detectadas, principalmente as do tipo
coarctação de aorta. Assim, a realização do teste não exclui a necessidade de se realizar um
exame físico detalhado e minucioso.

Teste do Olhinho - Teste do Reflexo Vermelho

O exame funciona como uma ferramenta de rastreamento de qualquer alteração que possa
comprometer a transparência dos meios oculares. A luz lançada pelo oftalmoscópio monocular
direto atravessa as camadas do globo ocular – transparentes – e reflete a coloração dos vasos
que nutrem a retina. Por isso, a opacificação de qualquer camada deixa o reflexo vermelho
diminuído ou ausente.

todos os recém-nascidos devem realizar o teste antes da alta da maternidade. Caso seja
detectada qualquer alteração nesse exame, a criança deve ser encaminhada em até 30 dias para
um oftalmologista. A importância de determinar qualquer modificação faz referência ao fato de
que, quando não tratadas, muitas dessas crianças podem ficar cegas, já que é nessa fase que
ocorre o estímulo do córtex visual.
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Passos:

• Utiliza-se o oftalmoscópio monocular direto, a 30 cm do olho do paciente, em sala


escurecida.

• Ambos os olhos do bebê devem ser iluminados, assim, poderemos visualizar o reflexo
vermelho.

• Após o teste de triagem, é aconselhado que a criança realize o teste ao menos 2 a 3 vezes ao
ano, nos primeiros 3 anos de vida, sendo encaminhada em caso de detecção de qualquer
alteração.

Teste da Linguinha

O exame deve ser realizado, preferencialmente, no 1o mês de vida do RN para que dificuldades
relacionadas à amamentação sejam evitadas, diminuindo a ocorrência de desmame precoce e
introdução desnecessária da mamadeira. O teste também é de extrema importância para a
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prevenção de futuras dificuldades no desenvolvimento da fala, o que afetaria a comunicação, o


relacionamento social e o desenvolvimento profissional dessa criança no futuro.

O teste é feito a partir da aplicação do Protocolo de avaliação do frênulo lingual com escores
para bebês. Ele é dividido nas seguintes categorias:

• história clínica;

• Avaliação anatomofuncional; e

• Avaliação da sucção não nutritiva e nutritiva.

Para a triagem Neonatal

Para avaliação inicial de triagem, realiza-se somente a avaliação anatomofuncional do bebê nas
primeiras 48 horas após o nascimento, ainda na maternidade – é a única parte que tem os seus
escores avaliados isoladamente. Essa avaliação já permite identificar casos de anquiloglossia
mais severos e indicar ou não a frenotomia lingual antes da alta hospitalar.

A pontuação total dessa categoria é de 0 (melhor resultado) a 12 (pior resultado). Quando o


scores final for igual ou maior que 7, considera-se que existe interferência do frênulo nos
movimentos da língua.

técnica

• Elevação da língua: deve-se realizar a lavagem das mãos e calçar as luvas de procedimento,
após isso, os dedos indicadores são introduzidos embaixo da língua, em suas margens laterais,
para que haja elevação.

Observação:

Caso existam dúvidas na pontuação ou não seja possível visualizar o frênulo lingual, o bebê
deve ser encaminhado para o reteste após 30 dias de vida, devendo os pais serem orientados
sobre as possíveis dificuldades de amamentação.

reteste

O bebê deve estar desperto e com fome, para que a avaliação da sucção nutritiva possa ser
realizada. Se após a avaliação completa – scores da avaliação anatomofuncional e avaliação da
sucção não nutritiva e nutritiva – for igual ou maior que 13, considera-se interferência do
frênulo da língua nos movimentos linguais e o bebê deve ser encaminhado para cirurgia.
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Referências Bibliográficas

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção


Especializada e Temática. Triagem neonatal : deficiência de biotinidase / Ministério da Saúde,
Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Especializada e Temática. – Brasília :
Ministério da Saúde, 2015. 32 p. : il.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção


Especializada e Temática. Triagem neonatal biológica: manual técnico / Ministério da Saúde,
Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Especializada e Temática. – Brasília:
Ministério da Saúde, 2016. 80 p. : il.

Sociedade Brasileira de Pediatria. Hipertireoidismo Congênito , 2018.


https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/_21369c-DC_Hipotireoidismo_Congenito.pdf

Sociedade Brasileira de Pediatria. Hiperplasia Adrenal Congênita, 2019.


https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/22106c-GPA_-_Hiperplasia_Adrenal_Congenita-
TriagemNeonatal.pdf

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações


Programáticas Estratégicas.

Diretrizes de Atenção da Triagem Auditiva Neonatal / Ministério da Saúde, Secretaria de


Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas e Departamento de
Atenção Especializada. – Brasília : Ministério da Saúde, 2012.

Manual de habilidades profissionais: atenção à saúde do recém-nascido / Organização de Rejane


da Silva Cavalcante et al. – Belém: EDUEPA, 2019. (Neonatologia) 116 p.

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