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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO À DISTANCIA

Características da literatura Cabo Verdiana

Avelino Juliasse Pessulo - 708201656

Curso: Lingua Portuguesa


Disciplina: Literaturas Africanas
Ano de frequência: 3º
Ms. Paulino Nicau

Gurué, Abril de 2022


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Capa 0.5
Índice 0.5
Aspectos
Introdução 0.5
Estrutura organizacio
nais Discussão 0.5
Conclusão 0.5
Bibliografia 0.5
Contextualização
(Indicação clara do 1.0
problema)
Introdução
Descrição dos objectivos 1.0
Metodologia adequada
2.0
ao objecto do trabalho
Articulação e domínio do
discurso académico
Conteúdo (expressão escrita 2.0
cuidada, coerência /
Análise e coesão textual)
discussão Revisão bibliográfica
nacional e internacionais
2.
relevantes na área
deestudo
Exploração dos dados 2.0
Contributos teóricos
Conclusão 2.0
práticos
Paginação, tipo e
Aspectos tamanho de letra,
Formatação 1.0
gerais paragrafo, espaçamento
entre linhas

Normas
Referênci
APA 6ª Rigor e coerência das
as
edição em citações/referências 4.0
Bibliográf
citações e bibliográficas
icas
bibliografia
Folha para recomendações de melhoria: A ser preenchida pelo tutor

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Índice

Introdução..............................................................................................................................................1
Objectivos..............................................................................................................................................1
Objectivo geral.......................................................................................................................................1
Objectivos específicos............................................................................................................................1
Metodologia...........................................................................................................................................1
Impacto das actividades humanas sobre o desmatamento florestal na província da Zambézia...............2
O impacto das queimadas nas florestas em Moçambique.......................................................................2
Conceitos................................................................................................................................................2
O Desmatamento....................................................................................................................................2
As causas do desmatamento...................................................................................................................3
Áreas de risco de desmatamento............................................................................................................4
1.2.1 Exploração de lenha e fabrico de carvão.......................................................................................5
Consequências do desmatamento...........................................................................................................6
Conclusão...............................................................................................................................................8
Medidas de combate ao desmatamento..................................................................................................8
Referencias Bibliográficas......................................................................................................................8
Introdução

O presente trabalho procura investigar os impactos da formação identitária da população de


Cabo Verde nas obras literárias produzidas naquele país, bem como possíveis influências da
literatura na formação da identidade cultural do povo cabo-verdiano. A intenção é analisar
algumas produções literárias tendo como pano de fundo os processos históricos e políticos
vivenciados pelo arquipélago, principalmente ao longo do século XX, época de grandes
alterações nas dinâmicas sociais no mundo como um todo e em especial em ompreender como
a literatura pode influenciar a identidade de um povo, e vice-versa, nos ajuda a dimensionar o
papel que a literatura desempenha na vida de uma determinada população e como ela pode
ajudar a traçar 2 elementos fundamentais capazes de fornecer pistas sobre o futuro próximo de
todo um povo ou nação. esta pesquisa pretende inserir-se nos estudos sobre a importância da
literatura para e na formação das identidades culturais, e possui como objeto o
desenvolvimento concomitante da identidade nacional cabo-verdiana e de uma literatura
autêntica daquele país, tomando como principais pontos balizadores a proximidade temporal
entre o movimento conhecido como “Claridade” e o desenvolvimento de uma identidade
cultural baseada no conceito de mestiçagem, período fortemente influenciado pelas ideias do
sociólogo brasileiro Gilberto Freyre, e o posterior abandono da noção de pátria mestiça em
prol de uma tentativa de reaproximação com o continente africano e com a identidade negra.

Objectivos do trabalho
 compreender, pela análise de algumas produções literárias cabo-verdianas de
diferentes autores e períodos ao longo do século XX,
 Descrever o processo de formação de uma identidade cultural
 Identificar o impacto da literatura local, particularmente no que tange às temáticas que
permeiam as obras e às situações e dificuldades da vida cotidiana retratadas pelos
autores

Metodologia
Para a elaboração do presente trabalho usou.se a metodologia de pesquisa bibliográfica que
consistiu na consulta de vários livros, dissertações, revistas, artigos bem como o modulo da
cadeira.
Características da literatira cabo verdiana

A literatura cabo-verdiana caracterizava-se por um desprendimento quase total do ambiente,


sublimando-se numa expressão poética que nada tinha em comum com a terra e o povo do
arquipélago.

O impacto do colonialismo não foi tão drástico, impulsivo e dramático em Cabo Verde como
o foi nas outras regiões africanas que passaram pelo processo de colonização portuguesa. Este
ocorrido acabou criando condições que foram importantes para o surgimento da literatura
cabo-verdiana.

O grande passo para a virada da temática da literatura produzida em Cabo Verde foi dado em
1936, na Ilha de S. Vicente, por um grupo de intelectuais, que lançou a revista Claridade. Os
intelectuais que possibilitaram a publicação da revista foram, Baltasar Lopes, Manuel Lopes e
Jorge Barbosa

A poesia de Manuel Bandeira foi uma grande inspiração para os intelectuais cabo-verdianos,
que também destacaram Jorge de Lima e Ribeiro Couto como descobertas instigantes.

Como mostram os versos do poema “Palavra profundamente”, de Jorge Barbosa , dedicado ao


poema de mesmo nome de Manuel Bandeira:

….Enquanto isso Manuel Bandeira vai passando

por nós no tempo

na sua alegria melancólica

na sua alegria de coração apertado

vai passando na sua

poesia profundamente.

Jorge Barbosa também se define como um poeta inovador, ao dar à sua poesia uma entonação
dramática e traduzida denúncia.Um poema que marca a escrita de Jorge Barbosa, de um “eu”
em constante tensão com um ambiente exterior é Prisão: 
Prisão

Pobre do que ficou na cadeia

de olhar resignado,

a ver das grades quem passa na rua!

pobre de mim que fiquei detido também

na Ilha tão desolada rodeada de Mar!...

... as grades também da minha prisão

A literatura em Cabo Verde apresenta uma particularidade que a distingue de outras


produzidas noutras colónias de língua portuguesa, pelo alto índice de mestiçagem, a pobreza
do solo, precariedade de emprego, atraso de aparecimento de editoras e escolas.

Em Cabo Verde apoesia não traduz o movimento revolucionário da negritude, ela evidencia
uma realidade diferente identificando a luta grandiosa e vital contra uma natureza hostil,
contra a persistência de seca e a erosão permanente devido às “lestadas”, os ventos alísios.

Os temas culturais mais recorrentes na literatura cabo verdiana

Os temas culturais mais correntes da literatura caboverdiana são: a seca, a fome, a emigração,
o mar, a evasão, o isolamento, a insularidade, o amor, a saudade ou a simplicidade de uma
existência pacífica. Tudo isso sobressaindo numa expressão única a caboverdianidade ou
ainda melhor, a morabeza. Para se exprimir, o caboverdiano utiliza no quotidiqno da sua vida
o crioulo, que podemos definir como português clássico, com algumas formas quase
semelhantes ao galego; encontramos no crioulo palavras com raízes em português, mas
também palavras com origens nas expressões vindas de dialectos africanos. O crioulo é uma
língua única e comum, com algumas diferenças de pronúncias e vocabulário entre o grupo das
ilhas do sul chamado sotavento e o grupo das ilhas do norte chamado barlavento. O crioulo é
expressivo e musical, é a língua que traduz melhor o lirismo popular conhecido hoje
internacionalmente, através da música graças a diva dos pés nus Cesária Évora.
A língua portuguesa considerada pelo fundador da nacionalidade cabo-verdiana Amílcar
Cabral, como que melhor herança do colonialismo, é uma língua administrativa e oficial.

Apesar de não ter apoio escolar, o crioulo começou a ser utilizado como língua literária a
partir do fim de século IX, obtendo um sucesso com os escritores Eugénio Tavares e Pedro
Cardoso, que influenciaram a criação em 1936 da revista Claridade ou o princípio de literatura
moderna cabo-verdiana com uma poesia de luta, pondo em evidência o ambiente sócio-
cultural, económico e político das ilhas, uma poesia sem resignação nem fatalismo, como
ensinava a igreja colonial, cujo único ponto positivo foi de poder estar na origem da difusão
do ensino em Cabo Verde, fazendo com que o país pudesse conhecer cedo os seus escritores e
homens de letras, tais como: António Pedro, Jorge Barbosa, Baltasar Lopes, Manuel Lopes,
Jaime de Figueiredo, Gabriel Mariano e muitos outros.

Periodização da Literatura cabo verdiana

O primeiro período

1.º Período, das origens até 1925. ou de Iniciação, por, a par de grandes vazios, abranger uma
variada gama de textos (não necessariamente literários) muito influenciados pelas duas fases
do baixo romantismo e do parnasianismo (embora com iniciativas de alguma vocação
regionalista ou mesmo de «vocação patriótica», no primeiro quartel do séc. XX), antes da fase
moderna.

Em Cabo Verde, após a introdução do prelo, em 1842, e a publicação do romance cabo-


verdiano de José Evaristo d’Almeida, O escravo (1856), em Lisboa, segue-se um longo
período (ainda hoje mal conhecido no que respeita ao século XIX), até à publicação do livro
de poemas Arquipélago (1935), de Jorge Barbosa, e da revista Claridade (1936), Fundada por
Baltasar Lopes, Manuel Lopes e Jorge Barbosa, entre outros […]. A criação, em 1 866, do
Liceu-Seminário de São Nicolau (Ribeira Brava), que durou até 1928, muito contribuiu para o
surgimento de uma classe de letrados equiparável ou superior à dos angolanos. Em 1877,
criou-se a imprensa periódica não oficial. […]

2.° Período, de 1926 a 1935, a que chamamos Hesperitano, antecede a modernidade que o
movimento da Claridade (1936) incarnou. Desde os primeiros tempos, até ao final deste 2°
Período, entendemos, com Manuel Ferreira, que vigorou o Cabo-verdianismo, caracterizado
como de «regionalismo telúrico», mas que, nalguns textos, se expande para temas e elementos
recorrentes da literatura cabo-verdiana, como os da fome, do vento e da terra seca, ou de certa
insatisfação e incomodidade, numa atmosfera muito próxima do naturalismo.

O fundamento que leva a que se possa designar tal período como Hesperitano ressalta da
assunção do antigo mito hesperitano ou arsinário. Trata-se do mito, proveniente da
Antiguidade Clássica, de que, no Atlântico, existiu um imenso continente, a que deram o
nome de Continente Hespério. As ilhas de Cabo Verde seriam, então, as ilhas arsinárias, de
Cabo Arsinário, nome antigo do Cabo Verde continental, recuperado da obra de Estrabão.

Os poetas criaram o mito poético para escaparem idealmente à limitação da pátria portuguesa,
exterior ao sentimento ou desejo de uma pátria interna, íntima, simbolicamente representada
pela lenda da Atlântida, de que resultou também o nome de atlantismo hesperitano, por
oposição ao continentalismo africano e europeu.

3.° Período, que principia no ano de 1936 (ano da publicação da revista-mater Claridade) e
vai até 1957, muito mais tarde do que a fase a que Luís Romano chama dos «Regionalistas ou
Claridosos» (para ele termina com os neo-realistas da revista Certeza, de 1944).

Ainda em 1941, sai Ambiente, livro de poemas de Jorge Barbosa. António Nunes publica,
depois, os Poemas de longe (1945) e Manuel Lopes, os Poemas de quem ficou (1949), a que
se segue o romance fundador Chiquinho (1947), de Baltasar Lopes, passando pelo Caderno de
um ilhéu (1956), de Jorge Barbosa, e o primeiro romance de Manuel Lopes, Chuva braba
(1956). Todos sem interferência da Negritude, mas, curiosamente, coincidindo no tempo as
publicações de neo-realistas e claridosos, não sem que, entretanto, fossem impressos livros
deslocados no tempo, como os Lírios e cravos (1951), de Pedro Cardoso, e as Poesias (1952),
de Januário Leite, poetas do cabo-verdianismo.

4.° Período, indo de 1958 a 1965, em que, com o Suplemento Cultural, se assume uma nova
cabo-verdianidade que, por não desdenhar o credo negritudinista, se pode apelidar de Cabo-
verdianitude, que, desde a sua ténue assunção por Gabriel Mariano, num curto artigo (1958),
até muito depois do virulento e celebrado ensaio de Onésimo Silveira (1963), provocou uma
verdadeira polémica em torno da aceitação tranquila do patriarcado da Claridade. Do
Suplemento Cultural do Boletim Cabo Verde fizeram parte Gabriel Mariano, Ovídio Martins,
Aguinaldo Fonseca, Terêncio Anahory e Yolanda Morazzo. […]
5.° Período, entre 1966 e 1982, do Universalismo assumido, sobretudo por João Vário,
quando o PAIGC (acoplando forças políticas de Cabo Verde e da Guiné-Bissau) se achava já
envolvido, desde 1963, na luta armada de libertação nacional, abrindo, aquele poeta, muito
mais cedo do que nas outras colónias, a frente literária do intimismo, do abstraccionismo e do
cosmopolitismo: aliás, só depois da independência, e passado algum tempo, surgiu
descomplexada e polémica, sobretudo em Angola e Moçambique. Podemos datar de 1966,
com a impressão dos poemas, em Coimbra, de Exemplo geral, de João Vário (João Manuel
Varela), essa viragem, que, diga-se, pouco impacto veio provocar.

6.° Período, de 1983 à actualidade, começando por uma fase de contestação, comum aos
novos países, para gradualmente se vir afirmando como verdadeiro tempo de Consolidação do
sistema e da instituição literária. O primeiro momento é dominado pela edição da revista
Ponto & Vírgula (1983-1987), liderada por Germano de Almeida e Leão Lopes.

Analise de algumas obras literárias cabo verdianas

O conto, intitulado o Rapaz doente,

Neste conto, as posições sociais das personagens são contrastadas de forma explícita e
contundente, ao mesmo tempo em que o autor reafirma, através das duas personagens
principais, alguns traços identitários do povo cabo-verdiano, como a resignação perante o
destino e a religiosidade.

A esse respeito Rosemari Calzavara afirma em um artigo de 2011: Nesta narrativa que ora
analisamos, nos deparamos com uma dualidade social bem definida na qual uma representante
da pequena-burguesia cabo-verdiana (D. Maninha) se vê numa situação de desconforto ao
receber por encomenda um ilhéu doente, enviado por seu marido, para que ela lhe desse
tratamento e cura. O esforço de D. Maninha para cumprir o pedido do marido e exercer o seu
papel de cristã é exatamente do mesmo tamanho da vontade que ela tem de livrar-se
rapidamente daquela “encomenda problemática”, ela faz tudo o que está ao seu alcance, mas o
faz de tal maneira que lhe garanta a certeza de que o rapaz voltará para o lugar de onde veio.
(2011, p. 73)

Além da “obrigação cristã” de D. Maninha, que aparenta ser a força maior que motiva e
justifica suas ações no sentido de cumprir a tarefa que lhe foi dada pelo seu marido, o conto
dedica grande atenção à aceitação plena e inconteste com que o rapaz enfrenta sua doença,
sem desespero ou grandes esperanças de salvação, como se sua doença fosse parte da ordem
natural das coisas contra a qual ele nada podia fazer.

Essa passividade frente à doença acaba tomando, ao longo do conto, uma dimensão social e
cumprindo a função de denúncia contra o descaso das autoridades contra os pobres, como fica
explicitado na fala de um enfermeiro que D. Maninha procura na tentativa de internar o rapaz
e, simultaneamente, resolver e se livrar do problema:

- Sabe minha senhora, a culpa não é nossa... São ordens... E ia acrescentando pesaroso, que
todos os dias apareciam casos como aquele: tudo quanto se fazia era dar consulta e receitar.
Se o doente pudesse, tratava-se, se fosse pobre... paciência. (p. 32)

A denúncia contra a condição de pobreza experimentada pela maioria da população do


arquipélago é um tema que perpassa toda a antologia. Durante a maior parte do tempo esse
tipo de crítica se dá na forma de colocações sutis, mas, em alguns momentos, assume um teor
mais ácido e mais direto, revelando a grande preocupação de Gabriel Mariano com as
injustiças sociais e demais temas a esse correlatos.

O conto Vida e Morte De João Cabafume

O conto vida e morte de Joao Cabafume é um diálogo entre os personagens João Cabafume e
Bia dá mostras de quão diretas as críticas sociais do autor podem ser:

- Gentes, eu gostaria de saber uma coisa: porque é que pobre vai à igreja, reza quando deita e
nunca sai da pobreza?

- Nhô padre falou que pobre quando morre vai para o céu.

- E rico? - Rico... não sei... - Rico não vai. 57 - Rico deve ir... - Rico nunca foi.

- Rico bom vai. - Não tem rico bom, Bia... (p. 72)

Em alguns pontos, as críticas sociais de Gabriel Mariano assumem um tom provocador, como
nessa fala de um personagem:

“Titia, porque é que os anjos são todos brancos e loiros? Eu nunca vi um anjo preto nem de
cabelo ruim... Você já viu?” (p. 111).

Em conjunto com esse tipo de alerta para as questões relativas à discriminação racial e à
desigualdade social, Mariano por vezes propõe, por meio de seus personagens, alternativas
um pouco mais radicais que chegam a conter traços de insurgência e revolta, como quando
João Cabafume afirma que “burro é que trabalha só para comer” e que “remédio bom não é
para todos” (p. 75); ou, mais claro ainda, na indagação de Caduca, no conto homônimo: Nhô
Crisóstomo falou que não tem trabalho. Por isso todo mundo deu nome e vai para o Sul.

Todos esses elementos que ajudam a compor a identidade cultural do arquipélago se fazem
representados, com maior ou menor relevância, na antologia Vida e Morte de João Cabafume,
assim como estão todos presentes nas demais obras analisadas.

Reflexao sobre acontos na lteratura cabo verdiana

Alguns contos retratam mais especificadamente algumas dessas temáticas, ao desenvolver a


narrativa em torno de uma delas. É o caso, por exemplo, do conto Titia, que se desenrola ao
redor do tema emigração; a personagem título vive em Lisboa e através dela são expostos os
destinos de seus filhos:

Como vocês já sabem Titia tem três filhos: Nhonhô, Lela e Zulmira. Lela continua fazendo
paródia em S. Vicente, Zulmira vive com um brasileiro na Argentina e Nhonhô é o tal que
trabalha em Moçambique e deve chegar para a semana em gozo de licença graciosa. (p. 116)
Já o conto Ti Lobo, nomeado em referência a uma história folclórica bem conhecida em Cabo
Verde e reproduzida em alguns livros infantis, gira em torno da temática da seca, retratando
de forma contundente a calamidade pública causada pelas estiagens prolongadas que de
tempo em tempo assolam o arquipélago:

Um dia, tinha nessa altura doze anos, João sentiu fome. Os pais também sentiram fome. Os
pais, as outras pessoas, todo mundo nas Queimadas sentiu fome. Os homens começaram por
vender as mobílias. Depois arrancaram as fechaduras e as batentes das portas e venderam.
Aqueles que tinham casa cobertas de telhas trocaram as telhas por comida. As terras também
foram vendidas porque já ninguém acreditava que chuva voltasse. Os trapiches já não
rodavam e os botes apodreciam na ourela do mar. (p. 97)

A decisão de vender até mesmo as terras em troca da sobrevivência não chega a parecer
estranha por si só, uma vez que tudo, até mesmo as fechaduras e os batentes das portas eram
vendidos, mas o que mais chama a atenção é a justificativa do narrador: as terras eram
vendidas porque a estiagem era tãoprolongada que ninguém mais acreditava no retorno das
chuvas, o que demonstra o nível de desespero e principalmente o nível de descrença no futuro
que acometia a população. Essa falta de fé no futuro talvez seja a questão de fundo que
explica outros elementos presentes nesses contos e também nas outras obras analisadas nesta
dissertação, como o sentimento de resignação e a opção pela emigração enquanto alternativa
de se obter melhores condições de vida.

Conclusão

Ao terminar, o trabalho abordou sobre a literatura cabo verdiana onde se fez a analise de
algumas obras e a periodização das literaturas cabo verdiana. Com o rabalho conclui-se que
Cabo Verde, que viu surgir diferentes abordagens a respeito do indivíduo cabo verdiano no
longo processo que levou as ilhas à independência, com consequente formação de uma nova
identidade nacional. Por essa razão será dada uma certa centralidade ao desenvolvimento
histórico de Cabo Verde no decorrer dessa dissertação, a fim de clarificar determinadas
noções que fizeram e ainda fazem parte do imaginário coletivo cabo-verdiano. Desde a
descoberta das ilhas até o início do século XX, os intelectuais caboverdianos tinham a África
como uma espécie de potência adormecida, pelo que vigorou no arquipélago, durante os
primeiros séculos a partir do descobrimento, uma identidade cultural referenciada
basicamente em Portugal, a despeito da posição geográfica do arquipélago. Posteriormente,
uma identidade atlântica, sob os pressupostos da ideia de mestiçagem, tomou forma e ganhou
força na década de 1930, mesmo período em que uma nova literatura, com características
mais marcadamente cabo-verdianas, desabrochava no encalço da revista Claridade, sob forte
influência do modernismo nordestino que na mesma época crescia em importância no Brasil.
Após essa tendência liderada pela Claridade, o panorama político em meio aos movimentos
de descolonização da África favoreceu uma busca por referências dentro do próprio
continente africano, procurando bases em suas tradições e em sua realidade singular frente ao
mundo.
Referencias Bibliograficas

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