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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 3
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável -
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão
a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as
perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão
respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da
semana e a hora que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!
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2 TORNAR-SE MÃE
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4. ser regionalizada e baseada num sistema eficiente de referência e
articulação (cuidados diferenciados e cuidados primários);
5. ser multidisciplinar e multiprofissional;
6. ser integral e atender às necessidades emocionais, intelectuais,
sociais e culturais da mulher e família;
7. estar centrada na família e ser dirigida ao casal;
8. ser apropriada, ou seja, deve ter em conta as diferenças culturais;
9. ter em consideração o consentimento informado, respeitando a
tomada de decisão da mulher;
10. respeitar a privacidade, dignidade e confidencialidade da mulher.
Estes princípios asseguram fortemente a proteção e a promoção da saúde
das mulheres que pretendem a maternidade. Assim, os profissionais de saúde são
responsáveis pela promoção de vivências positivas da mulher no pós-parto,
potenciando as suas competências e favorecendo, desta forma, o aumento da sua
autoestima (ENDERLE, KERBER, SUSIN & MENDOZA-SASSI, 2012, p. 384).
Segundo Coelho (2014), a puérpera sofre inúmeras alterações:
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Normalmente a autoestima da mulher sofre variações ao longo do ciclo
gravídico-puerperal devido às constantes adaptações a que está sujeita e à
vulnerabilidade em que se encontra. Os estudos demonstram que o conhecimento
da autoestima durante o ciclo gravídico-puerperal é fundamental para avaliar o risco
desta vir a desenvolver sintomas depressivos no pós-parto, pelo que a sua
avaliação é imprescindível (FONTAINE & JONES, 1997; LOWDERMILK & PERRY,
2006).
Dessa feita, sabendo que as alterações psicoemocionais do puerpério
resultam de um fenómeno intercultural de prevalência elevada e que a autoestima
poderá influenciar a sua presença, assim como as características
sociodemográficas e obstétricas, torna-se necessário responder algumas
perguntas, conform nos sugere Coelho (2014):
Que alterações psicoemocionais ocorrem no puerpério, entre a 4ª e a
6ª semana após a data do parto?
Qual a relação entre as variáveis contextuais ao parto e as alterações
psicoemocionais do puerpério?
Qual a influência da autoestima e as alterações psicoemocionais do
puerpério?
Vejamos a seguir como funciona o ciclo gravídico-puerperal, bem como as
principais alterações do puerpério, com ênfase nos impactos na autoestima e
autoimagem.
Fonte: https://clinicarecanto.com.br
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3 CICLO GRÁVIDICO-PUERPERAL
Fonte: http://www.psicursos.com.br
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Para Erickson (1959), citado por Leal (2005), a gravidez constitui um
período rico em experiências e potencialmente crítico ou de crise de
desenvolvimento, o que implica um deslocamento do equilíbrio anterior e ainda, uma
maior vulnerabilidade pessoal. Leal (2005) acrescenta que:
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nascido, contribuindo, desta forma, para a relação mãe/bebé. No contexto da
ambivalência afetiva, o autor destaca a hipersensibilidade emocional da mulher
grávida. A suscetibilidade emocional desencadeia oscilações de humor, mesmo
perante situações insignificantes do dia a dia. Estas alterações emocionais têm uma
relação estreita com as mudanças corporais que permeiam a gravidez desde o
início, provocando angústias e inseguranças e comprometendo mesmo a sua
identidade feminina.
Quanto a maternidade, esta é descrita por Leal (2005), como algo que
transcende, em diversos níveis, a gravidez:
Fonte: www.semprematerna.com.br
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concepções, como a infância, a qualidade de vida e os direitos e deveres dos
cidadãos, se vestem de uma extrema relevância (Leal, 2005).
Bortoletti (2007), citando Dolto (2005), a palavra “mãe” significa a
“representação humana da criatividade, o próprio símbolo da fertilidade”. A
experiência de ser mãe é, tal como a gravidez, uma experiência única e profunda
na vida de uma mulher.
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Atualmente, os esforços são no sentido de promover um parto
normal/natural, ou seja, um modelo pouco intervencionista e mais
humanizado, em que a fisiologia, como pressuposto, constitui o principal
desafio do nascimento. E ainda, um modelo que possibilite à mulher uma
maior autonomia, ou seja, um maior controlo sobre o próprio parto, com
direito à opção fundamentada e escolha informada (COELHO, 2014).
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Maldonaldo (2003), citado por Bortoletti (2007), acredita que mesmo que o
parto aconteça em circunstâncias ideais, a carga emocional é tão grande que é
impossível eliminar totalmente os receios, seja pela imprevisibilidade da situação,
bem como pela “perda” do cordão umbilical e o tão esperado encontro com o bebê
“real”. Este primeiro contato, pode despertar na mãe o receio de não conseguir
satisfazer as necessidades básicas para o desenvolvimento saudável do seu bebê.
Pode, igualmente, ser decepcionante, quando este contato com o bebê real não
corresponde exatamente ao que ocorria com o bebê da sua fantasia. Por isso,
Maldonado (2003), defende a importância da preparação emocional da mulher para
o nascimento e maternidade, e não exclusivamente para o tipo de parto, de forma
a minimizar as possibilidades desta se sentir frustrada. Tal como já foi citado
anteriormente, o novo papel é naturalmente gerador de ansiedades e preocupações
e requer muitas adaptações e restruturações, sobretudo maternas.
Segundo Coelho (2014):
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Mendes (2009, p. 68) define pós-parto como sendo um período transitório,
“de continuidade de um processo já vivido e, pelas circunstâncias pessoais e
interpessoais que envolvem a mulher, o homem e a família, confere uma vivência e
experiências únicas nas dimensões físicas, psíquicas e sociais”.
Na obra de Crum (2006), encontramos o seguinte comentário:
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Diversos autores defendem o princípio de que a reformulação da identidade
e a reorganização das relações interpessoais é uma realidade presente, tanto na
mãe como no pai do bebê (Canavarro & Pedrosa, 2005; Manning, 2006).
Da revisão da literatura, salienta-se uma clara ideia de complexidade da
transição para a parentalidade traduzida, não apenas pela complexidade de
influências e fatores determinantes, mas também pelas múltiplas interações em
causa (COLEHO, 2014).
Mendes (2009), citando Canavarro e Pedrosa (2005), afirma que o
nascimento é um momento especial, que implica grandes e profundas mudanças
na vida de ambos os pais, sobretudo quando se trata do primeiro filho. Os autores
consideram este processo de ajustamento um percurso de aprendizagem de ambos
os pais, quer na relação consigo próprios, quer na relação com o bebê, quer ainda
na sua relação conjugal. E citando Figueiredo (2004), o autor acrescenta que o
impacto do nascimento se estende de igual forma à família extensa.
Estudos demonstram evidências de que a qualidade do relacionamento
conjugal da puérpera e da sua relação com os elementos femininos próximos,
nomeadamente a sua mãe, é particularmente determinante para a sua saúde mental
(MATTHEY, BARNETT, UNGENER & BRENT, 2000 citado por MENDES, 2009).
Há estudos ainda que mostram que a maneira como ambos os pais se
adaptam à parentalidade é determinada pela vivência destes com a sua família de
origem durante a infância e, inclusive, com a relação dos próprios pais entre si
(BELSKY & ISABELLA, 1985, citado por MENDES, 2009).
No que diz respeito à relação conjugal, o nascimento de um filho implica
uma reorganização da dinâmica do relacionamento anterior e a preparação conjunta
para a parentalidade. Para além das mudanças que operam a nível dos processos
operacionais, como é exemplo a partilha das tarefas domésticas e dos cuidados
prestados ao bebé, Colman e Colman (1994, citado por Mendes, 2009) destacam
as mudanças que ocorrem a nível do relacionamento sexual. A conciliação do papel
parental com o relacionamento sexual pode ser particularmente difícil e delicada,
sobretudo, e uma vez mais, quando se trata de um primeiro filho.
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Ainda que a literatura dê ênfase à relação conjugal como fator determinante
da adaptação à parentalidade, importa referir que as próprias mudanças implicadas
nesta transição, nos diversos contextos, também acabam por se refletir na
qualidade da relação dos cônjuges (COWAN & COWAN, 1988, citado por
CANAVARRO & PEDROSA, 2005).
Segundo Santana (2007):
Canavarro e Pedrosa (2005) comentam que para o casal, esta época surge,
por um lado, como um período de riscos de desencontros e insatisfação e, por outro
lado, como um período de oportunidade de ascender a níveis mais gratificantes no
contexto das relações conjugal e familiar.
Os contextos sociais influenciam significativamente na adaptação à
parentalidade, principalmente na vertente materna e, sobretudo no que concerne ao
contexto profissional e suporte social. É unânime entre os autores que as maiores
exigências de conciliação dos cuidados prestados ao bebê e das tarefas
profissionais são maternas. O apoio instrumental e o apoio emocional são
fundamentais para a conciliação destes papeis. O pai do bebê e a família extensa
são identificados como sendo as fontes de apoio mais relevantes e indispensáveis
(CANAVARRO & PEDROSA, 2001).
Para Coelho (2014), as primeiras três semanas do pós-parto são
habitualmente referidas pela mãe como muito exaustivas, uma vez que esta se
encontra focalizada nas necessidades do seu bebê durante 24 horas por dia.
Bortoletti (2007) defende que o nascimento de um filho exige toda a atenção
e dedicação materna, pelo que requer uma grande proteção das suas reservas
emocionais, que são essenciais para a relação desta com o seu bebê.
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Nystrom e Ohrling (2004), citado por Mendes (2009) enunciaram as
categorias da perspectiva materna acerca da experiência da parentalidade,
identificadas no primeiro ano de vida do bebê: a satisfação e confiança no papel de
mãe, a preocupação e o esforço por ser a primeira pessoa responsável pelo bem-
estar do bebê, a gestão do tempo disponível para o autocuidado e, por último, a
sensação de fadiga e de esgotamento físico.
Fonte: https://arita.com.br
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a atenção e a energia da mãe é centrada no bebé, pelo que, o seu descanso cai,
muitas vezes, no esquecimento (MANNING, 2006).
Comportamentos dependentes-independentes. A fase dependente-
independente é a fase seguinte, durante a qual, habitualmente, a mãe tem alta. É
caracterizada pelo fato da mãe se tornar mais independente e mais interessada na
aprendizagem de competências para cuidar do bebê. Manning (2006) descreve
algumas situações próprias dessa fase:
Fonte: https://www.portalmommys.com.br
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4 ALTERAÇÕES PSICOEMOCIONAIS DO PUERPÉRIO
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Destacam as alterações que decorrem essencialmente do novo papel
parental e da conciliação deste com a vida conjugal/sexual, destacando,
por último as diversas alterações familiares, no sentido em que a presença
do novo membro vai interferir com o equilíbrio já estabelecido entre os
diferentes membros da família.
Rosenberg (2007), por sua vez, faz um alerta para a necessidade ímpar de
se proceder à identificação precoce e precisa dos transtornos psicoemocionais da
gravidez e do puerpério, tendo sempre como linha de atuação a promoção da
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integridade biopsicossocial da grávida, bebê e família, no sentido de favorecer e
facilitar a formação de vínculos saudáveis. E relembra que a concretização deste
objetivo só se torna possível através de um trabalho de equipa e de prevenção,
sobretudo ao nível primário.
Leal e Marôco (2010), nos informa que o fenômeno de blues pós-parto foi
descrito, inicialmente, por Moloney, em 1952, que o definiu como sendo uma reação
depressiva envolvendo sintomas de fadiga, receio e dificuldades cognitivas, tendo
a denominação de “third day depression”.
Os autores lembram, ainda, que foi nos anos cinquenta que surgiram os
primeiros trabalhos de investigação sobre as alterações emocionais do puerpério
imediato, então designadas de “Maternity Blues” (HENSHAW, 2003, citado por
LEAL & MARÔCO, 2010).
O blues pós-parto é um fenômeno intercultural com elevada prevalência, de
carácter transitório e benigno, ocorrendo em mulheres saudáveis do ponto de vista
físico e psicológico. Conforme vemos na obra de Coelho (2014),
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o 3º e o 4º dia, registando-se um pico por volta do 5º dia, e nunca se verifica a partir
do 10º dia do puerpério (LEAL & MAROCO, 2010; LOWDERMILK & PERRY, 2006;
FIGUEIREDO, 2001).
Os estudos empíricos, conforme apresentados em algumas obras,
elucidam que por volta do 3º ou 4º dia após o parto, uma grande maioria das
mulheres, sente um mal-estar físico e psicológico, exibe uma elevada preocupação
com o bebê, podendo manifestar dificuldades em amamentar e em cuidar dele.
Tanto exalta alegria e energia, como de repente chora sem razão aparente,
manifesta ansiedade e tensão, podendo mesmo evoluir para a irritabilidade e
hostilidade para com quem a rodeia (FIGUEIREDO, 2001, LANA, 2001, CITADO
POR LEAL & MAROCO, 2010).
É consenso entre os autores a opinião de que as mudanças de humor, neste
contexto, não são relacionáveis com as variáveis sociodemográficas, com as
complicações obstétricas, com a vulnerabilidade prévia à doença psicopatológica,
com as circunstâncias adversas da vida, e mesmo com o suporte social da mãe
(O’HARA ET AL.,1990, PITT, 1973, KENNERLEY & GATH, 1989, YALOM ET AL.,
1968, HAPGOOD et al., 1988, citado por FIGUEIREDO, 2001).
Entretanto, outros autores, como Henshaw (2003), citado por Leal & Marôco
(2010), chamam a atenção para investigações que sustentam que o blues pós-parto
é mais frequente em mulheres que são mães pela primeira vez, em situações de
partos difíceis, cesarianas, falta de experiência nos cuidados ao recém-nascido e
no caso de a alimentação do bebê depender de substitutos do leite materno.
Para Leal & Maroco (2010):
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Para Lana (2001), o blues pós-parto resulta das variações hormonais do
pós-parto e dos fatores psicossociais (Leal & Maroco, 2010).
Coelho (2014) faz a seguinte contribuição acerca do tema:
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em que a puérpera se distancia da própria realidade e, em particular, do recém-
nascido.
De acordo com Cantilino et al. (2010), se comparada ao Blues Pós-parto, a
Psicose Puerperal, é considerada a perturbação mais grave, mas, também, aquela
que apresenta uma incidência inferior, de cerca de 0.2%. Apesar de considerada
transitória, os autores assinalam as implicações adversas e severas que a psicose
pode ter para a saúde da mãe e do bebê.
Os sintomas são repentinos, apesar de geralmente serem precedidos de
uma ou duas noites de insônia, e é caracterizada por um quadro de confusão aguda.
Os sintomas identificados são: as insônias, a confusão, a desorientação, a agitação,
os comportamentos bizarros, as ideias de referência e alucinação (SHAPIRO &
NASS, 1986, ZIPORYN, 1984, citado por FIGUEIREDO, 2001). Os mesmos
normalmente sofrem oscilações repentinas, ou seja, a puérpera alterna entre
momentos de adaptação à realidade e prestação adequada dos cuidados ao recém-
nascido e momentos de perda total do contato com a realidade, acompanhada,
inclusive, de uma atitude de indiferença para com o bebê (KLOMPENHOUWER,
1991, citado por FIGUEIREDO, 2001).
Segundo Coelho (2014), a psicose, assim como o blues Pós-parto, também
tem início nos momentos imediatos ao nascimento do recém-nascido. Figueiredo
(2001), apresenta dados de estudos empíricos que mostram que não se registam
casos de psicose puerperal antes do 3º dia ou depois da 4ª semana do pós-parto,
sendo que a maioria tem início durante a primeira semana do nascimento, e mais
de dois em três casos, tem início durante as duas primeiras semanas. Os estudos
revelam ainda que a duração do surto psicótico é habitualmente de cinco a doze
meses, sendo sempre inferior à duração de um surto que ocorra num outro
momento da vida da mulher.
Coelho (2014), traz uma informação importante em sua obra:
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Do ponto de vista etiológico, é consensual entre vários autores assinalados
por Figueiredo (2001), que os fatores biológicos relacionados com o parto
e a vulnerabilidade psicopatológica prévia da mulher, são considerados os
fatores etiológicos mais relevantes da perturbação em questão. No
contexto biológico, ressaltam as variações hormonais bruscas dos níveis
de estrogénio e progesterona, decorrentes do parto, tal como se verifica
no blues pós-parto. No que concerne aos fatores psicossociais e
socioculturais, vários estudos têm revelado que não existe qualquer
relação entre estes e a ocorrência de psicose puerperal, com exceção da
primiparidade (Kumar, 1994, citado por Figueiredo, 2001).
A Depressão Pós-parto (DPP) foi definida pela primeira vez em 1968 pelo
autor Pitt no primeiro estudo empírico sobre esta perturbação (Figueiredo, 2001).
O mesmo Figueiredo, cita em sua obra, um trecho de O’Hara (1997, p. 172),
sobre o tema:
De acordo com Cantilino et al. (2010), a DPP pode causar, tal como as
demais perturbações, repercussões na interação mãe-bebê.
Coelho (2014), ressalta a importância de se distinguir a DPP em relação à
depressão que ocorre em momentos que não estão relacionados com o parto, ainda
que haja divergências de opiniões no que diz respeito à necessidade de distinguir a
DPP.
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Para Figueiredo (2001), citado por Coelho (2014):
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Segundo demonstrou um estudo realizado por Faisal-Cury e Menezes
(2006), há uma associação significativa entre a ansiedade materna no primeiro mês
de puerpério e as intercorrências com o recém-nascido. (PEROSA, CANAVEZ,
SILVEIRA, PADOVANI & PERAÇOLI, 2009)
Segundo Lowdermilk (2006), a investigação analítica demonstrou que a
fadiga materna, sentida nos sete dias após o parto, é preditiva para a DPP ao
vigésimo oitavo dia do puerpério. O autor cita, ainda, certa publicação de Beck
(2002), elencando treze fatores de risco da DPP, hierarquizados, sendo os três
últimos aqueles cuja relação com a DPP é menos significativa:
1. depressão pré-natal,
2. baixa autoestima,
3. stress por cuidar do bebé,
4. ansiedade pré-natal,
5. vida stressada,
6. ausência de suporte social,
7. relação conjugal problemática,
8. história prévia de depressão,
9. temperamento difícil do bebé,
10. blues pós-parto,
11. o estado civil de solteira,
12. a baixa condição socioeconómica,
13. a gravidez não planejada ou não desejada.
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5 AUTOESTIMA E AUTOIMAGEM
Fonte: https://www.natue.com.br
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pelos outros, tem sobre o próprio indivíduo; a comparação social, que surge quando
o indivíduo se compara com os seus pares sociais, nas alturas em que não é
detentor de uma informação objetiva sobre determinado comportamento seu; e, por
último, a autoatribuição, que se prende com a tendência que o indivíduo tem em
tirar ilações a seu respeito, sobre as suas ações, em função do sucesso ou fracasso
dos seus esforços (VAZ-SERRA, 2011).
Enquanto a autoimagem é definida por Vaz-Serra (2011, p. 463) como a
“percepção que um indivíduo tem de si próprio” e do mundo à sua volta, a
autoestima é definida como sendo o resultado da avaliação que o indivíduo faz de
si próprio. Segundo o autor, as identidades da autoestima relacionam-se com o
conteúdo do autoconceito, sendo a autoestima uma parte integrante do mesmo.
Ainda sobre o tema, o autor Vaz-Serra (2011), comenta o seguinte:
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suas ações ou o seu desempenho social perante os outros, no intuito de compensar
as suas experiências de auto-depreciação; O sentimento de inveja perante os bens,
aptidões, estatuto ou os recursos sociais dos outros, que emerge frequentemente
devido ao sentimento de inferioridade. Este facto pode tornar a pessoa possessiva,
sobretudo no que respeita a exigir a atenção das pessoas mais próximas.
Vaz-Serra (2011) destaca as características dos indivíduos com baixa
autoestima:
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No entanto, é importante salientar que esta avaliação nunca deve ser
menosprezada, principalmente, durante o ciclo gravídico-puerperal.
Segundo alguns autores, inúmeros estudos comprovam que a autoestima
da mulher pode sofrer oscilações, decorrentes das inúmeras adaptações e stress a
que a mulher se encontra sujeita nos processos de gravidez e nos processos de
transição para a parentalidade (CANAVARRO & PEDROSA, 2005; VAZ-SERRA,
2011).
Figueiredo (2001) afirma o seguinte:
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ansiedade tendem a diminuir. Este estudo conclui, assim, que a puérpera sujeita a
programas de aconselhamento e de educação para a saúde em contexto de
cuidados de saúde primários, revela maior capacidade e facilidade de adaptação ao
processo de transição para a maternidade.
Silva et al. (2010), num estudo qualitativo, cujo objetivo era conhecer a
interação das puérperas com DPP com os seus filhos e compreender a percepção
dos familiares, constatou que a autoestima limitada constitui um dos fatores de risco
relacionados à DPP mais citados pelas entrevistas. Nas suas conclusões, ressalva
a ideia de que a avaliação da autoestima deve ser parte integrante dos cuidados na
vigilância pré-natal.
Fonte: https://www.dossierfamilial.com
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6 O PUERPÉRIO: UMA ANÁLISE PSICANALÍTICA
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que diz respeito à subjetividade humana, a psicanálise é muito clara em definir que
o sentido de uma experiência ou de um fenômeno só pode ser atribuído por cada
sujeito em sua singularidade. De forma que cada acontecimento vivido pelo sujeito
não é um acontecimento em si mesmo, mas a interpretação que o sujeito faz do
vivido. Não existe a gestação em termos psíquicos, mas a forma como a mulher X
significa o evento corporal, o qual ela nunca terá acesso direto, sem a intermediação
da linguagem.
Iaconelli (2016), se referindo ao estado psíquico da mulher durante a
gestação, afirma:
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tais fantasias. Uma vez que ele é desconhecido e só se dará a conhecer no pós-
parto e não de imediato, o que decorre do período anterior é uma projeção maciça,
interpelada por notícias sobre gênero do bebê ou possíveis doenças diagnosticáveis
desde o útero.
Uma das singularidades da contemporaneidade vive-se um acontecimento
inédito que é o estranhamento do estranhamento em função das idealizações a que
estão sujeitas a maternidade e, principalmente, a relação mãe bebê. Trata-se de
uma suposição de que a mulher deveria reconhecer o bebê de imediato e não
estranhá-lo. Como o bebê é um estranho por definição, as mulheres são incutidas
a interpretar seu estranhamento como rejeição ao bebê. (IACONELLI, 2016)
Nas palavras de Iaconelli (2016):
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e mães. A experiência de homens e mulheres no ciclo tem um apelo narcísico
diferente devido à gestação e parto, que obriga a mulher a elaborar um
acontecimento em seu próprio corpo, embora não saibamos a priori como cada
mulher singularmente irá fazê-lo. De forma que não é justo comparar uma mulher a
outra, tampouco compará-la aos homens ou eles entre si. Que cada um seja
escutado individualmente e viva sua parentalidade de forma única. (IACONELLI,
2016)
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constituição psíquica de todo sujeito humano. Mãe e filho se completariam numa
unidade narcísica perfeita e autossuficiente. Para a mãe não falta nada e o filho é a
parte que lhe completa, portanto, para ele nada falta tampouco. É ao longo da crise
edípica, quando ocorre o confronto com a castração, que estas ilusões são
abaladas, dando ao sujeito uma dose amarga de realidade. Não só a mãe depende
do outro, no caso um homem (sem o qual não há bebês), como também não somos
tudo para ela. A derrocada do poder materno é a nossa própria queda narcísica.
Não somos tudo para ela e nem ela tem tudo. Esta perda fundamental trará
desdobramentos importantes, e sem os quais o sujeito não se desaliena do desejo
do outro. Embora estejamos falando de um processo que se inicia por volta dos três
anos de idade, seus efeitos são perenes. O desejo de acreditar em alguém
onipotente permanece no sujeito por toda a sua existência e se desloca para as
crenças religiosas, para a suposição do saber médico, por exemplo.
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de um bebê, quando ela mesma se vê moralmente abandonada é reiterar este
abandono. É importante lembrar ainda que há uma considerável correlação
estatística entre a depressão pós-parto materna e paterna.
Outro tema extremamente relevante referente aos pais, diz respeito à vida
sexual do casal. Algumas pais se veem confrontados com a questão edípica,
quando podem retornar a vida sexual mas se sentem inibidos pela associação
maternidade-erotismo. Assim como idealizaram que os pais não tinham vida sexual,
apenas eram pais para eles, assim também temem reconhecer que os filhos são
apenas uma parte de suas vidas e que o sexo procriativo é o menor dos interesses
dos adultos. Perceber a mãe como um ser sexualizado, ou seja, que tem interesses
para além do bebê, pode ser muito difícil para alguns casais. Uma mulher que se
torna mãe pode acreditar que terá que escolher entre a maternidade e a vida erótica,
como gostaria de imaginar que sua mãe fez. O embaraço com que os adultos lidam
com a sexualidade dos próprios pais nos dá mostra do lugar idealizado em que
estes pais estão colocados. A negação da sexualidade dos pais pode reaparecer
na forma de inibição sexual, quando o sujeito se torna pai. (LANGER, 1981)
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então muito investidos para, posteriormente, reinvestir outros objetos. (KLAUS &
KENNEL, 1992)
Quando um casal formula seu desejo por um bebê, não está apto a prever
todas as mudanças que esta escolha acarretará. Mesmo que racionalmente
consigam imaginá-las, as ideias são sempre distintas e distantes da vivência em si.
Em decorrência disso, a queixa mais comum no puerpério é de que ninguém os
avisou de como seria difícil. (IACONELLI, 2016)
Escolher é perder aquilo que se preteriu na escolha. No entanto, para o
casal, ganhar um bebê aparece como uma formulação do desejo que funcionaria
como uma simples adição, sem perda alguma. Assim como ao adolescer e crescer
perdemos a infância, assim também temos as perdas do puerpério. Somado a isso
devemos considerar, ainda, que vivemos em tempos caóticos para a parentalidade.
Além das perdas próprias do amadurecer tornando-se pais, na contemporaneidade
os filhos concorrem com o trabalho, com o patrimônio financeiro, com a vida social,
com a busca pela eterna juventude, com a liberdade do casal, com a sexualidade.
(KLAUS & KENNEL, 1992)
O primeiro Mês. Nessa fase o bebê que já dorme várias horas seguidas à
noite e o bebê que mama de 3 em 3 horas haja o que houver. A questão a ser
considerada é se os pais e o profissional são capazes de perceber algum progresso
desde o caos inicial. (DEBRAY, 1988)
Ainda no puerpério a mulher passa a ficar a sós com o bebê, o que não é
recomendável.
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Quando ela tem quem a ajude, frequentemente se sente dividida sobre
deixar o bebê com esta pessoa. Dividida entre o sentimento de culpa e de alívio. Se
ela delega muito, acaba por se convencer de que o pais, a babá, a avó ou algum
outro é mais apto do que ela. Nestes casos o bebê pode se tornar um objeto fóbico,
ou seja, cada encontro a sós com ele a constrange, inibe ou denigre. Se fica muito
com o bebê e se estressa com a sobrecarga, pode acreditar ser uma péssima mãe,
pois desejaria se livrar do bebê, se fosse possível. (IACONELLI, 2016)
Nessa fase é muito comum os pais se depararem com a perturbadora ideia
de que se arrependeram de ter tido o filho. Essa ideia, tão frequente, traz culpa e
aflição aos pais.
Para Iaconelli (2016):
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Nessa fase a rotina de convivência com o bebê torna-se mais fácil. O bebê
dá mostras de reconhecer a mãe e aprende várias coisas que encantam os pais. A
amamentação torna-se mais gratificante ou já foi substituída com êxito.
Os fantasmas sobre a perda do bebê precioso (retirado da mãe no período
edípico) foram amenizados pela sobrevivência do bebê. Os pais se sentem mais
potentes para cuidar dele e podem se sentir orgulhosos por isso. Os pais “bem-
sucedidos” experimentam um fortalecimento psíquico, enquanto os pais
“fracassados” experimentam a fragilização. (IACONELLI, 2016)
Os pais ainda isolados pela rotina do bebê, começam a aumentar o convívio
social e inicia-se então a preparação para o retorno ao trabalho.
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7 O SERVIÇO DE ACOLHIMENTO PSICOLÓGICO COMO FORMA DE
INTERVENÇÃO NO PUÉRPERIO
45
Alves et al. (2012) argumentam, também, a importância da intervenção
psicológica, buscando conter as angústias dos familiares na medida em que
explicita a eles a importância de criar um espaço seguro à relação mãe-bebê.
46
conhecimento avançado dos processos psíquicos, a educação, reeducação,
promoção e prevenção do adoecimento em saúde mental. (SOUZA & ACÁCIO,
2019)
47
8 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
48
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