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Nesse capítulo Fisher argumenta que a função do Estado Babá é de expiar os erros e exageros
do setor privado que tomou conta de funções governamentais. O que ocorre é a denegação da
responsabilidade para a figura negativa do Estado Babá: não somos capazes de admitir a
ausência de algum sujeito responsável pelas intransigências ocorridas no campo social. A
culpabilização do Estado Babá como bode expiatório serve de referência à insatisfação que a
estrutura difusa de poder do Capital exerce sobre nós. O centro de poder está foracluído do
nosso pensamento e, assim, se desvela como um limite no realismo capitalista, um limite de
circundar ou pontuar a causa real dos efeitos nefastos que o neoliberalismo ocasiona.
Fisher denota que o call center ou a experiência do call center é um exemplo paradigmático
do centro impensável do inconsciente político atual.
“Esta experiência de um sistema que não responde, que é impessoal, sem centro, abstrato e
fragmentário, é a experiência mais próxima de um encontro com a estupidez artificial do
capital em si mesmo.” (p. 72)
A essa estrutura difusa e conspiratória que evade a imputação dos reveses do realismo
capitalista, faz-se necessário a criação de um sujeito coletivo que seja capaz de atestar aos
crimes cometidos e que a ele se dê um nome próprio suficiente para abarcar o seu aspecto
estrutural e particularizado nas formas do stalinismo de mercado: Capital.
“E não é que as corporações sejam os agentes de nível mais profundo, por trás de tudo – são
elas mesmas expressões da (condicionada pela) causa-que-não-é-um-sujeito fundamental: o
próprio capital.” (p. 76)
Capítulo 9: Supernanny Marxista
O último capítulo é o momento mais propositivo da obra, onde Fisher colocará caminhos
possíveis para pensarmos para além do paradigma do realismo capitalista. A primeira figura
para ajudar nessa crítica é a figura de uma Supernanny Marxista.
“Assim como muitos professores (ou outros trabalhadores do que costumava ser chamado de
‘serviço público’), a Supernanny se vê obrigada a resolver problemas de socialização que a
família não consegue mais dar conta. Uma Supernanny marxista, claro, deveria se concentrar
menos em remediar uma família por vez para focar mais nas causas estruturais que produzem
o mesmo efeito repetidamente.” (p. 79)
À estagnação do realismo capitalista, a esquerda deve formular uma nova alternativa que é
posicionada nas brechas do neoliberalismo. A redução da burocracia, por exemplo, é uma das
pautas que pode servir de plataforma para uma vitória da esquerda, se um novo sujeito
político for criado. Esse novo sujeito político está, contudo, aberto à possibilidade de sua
articulação: pode ser o caso que os sindicatos e os antigos modos de organização política
consigam operar e possibilitar esse novo sujeito, ou a criação de novos modos de organização
também pode ser necessária.
Outra parte dessa (re)politização é a retomada dos projetos de politizar a esfera afetiva, isto é,
dos distúrbios mentais, na esteira de autores como Foucault e Deleuze e Guattari (indicados
anteriormente no livro). A politização das questões relativas à saúde mental deve, também, ser
computada por esse novo sujeito político, como sintoma interno dos malogros do Capital.
“A longa e escura noite do fim da história deve ser encarada como uma enorme oportunidade.
A própria generalidade opressiva do realismo capitalista significa que mesmo tênues
vislumbres de possibilidades políticas e econômicas alternativas são capazes de gerar um
efeito desproporcionalmente grande. O menor dos eventos pode abrir um buraco na cinzenta
cortina reacionária que encurtou os horizontes de possibilidade sob o realismo capitalista. De
uma situação em que nada pode acontecer, de repente tudo é possível de novo.” (p. 88)