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ATIVIDADE DIRIGIDA

24-03-2020

Componente Curricular: Direito das Coisas


Conteúdo: Função social da propriedade e Descoberta
Professora: Ma. Maria Cristina Schneider Lucion

Estimados alunos(as),
Sabemos que este é um momento de apreensão e cuidado. É necessário que a nossa
saúde seja preservada e protegida do Covid-19, e o meu desejo é que todos fiquemos
bem e em segurança junto com nossas famílias.
Também é um momento temporário e de adaptação no processo de ensino-
aprendizagem, em que todo o conteúdo previsto será absorvido normalmente, com
leveza e troca de conhecimentos, estamos trabalhando muito para isso. Por isso, desde
já, agradecemos muito o empenho e a dedicação de todos vocês na realização da
atividade dirigida.
Para cada aula vocês vão receber uma apostila com o conteúdo pertinente da nossa
disciplina. Também estaremos sempre juntos via Google Meet e e-mail institucional, em
todo o horário da aula.
Desejo uma ótima aprendizagem para todos.
Grande abraço,
Profª Maria.

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ORIENTAÇÕES PARA A REALIZAÇÃO DA ATIVIDADE:
1) Assistir a aula por vídeo conferência via Google Meet, que terá início às
19h20min, com duração média de 50/60 minutos;
2) Ler o material de apoio;
3) Após a leitura do material, solicito que vocês:
➢ Procurem, em duplas, uma música que fale de Função Social da propriedade
e me mandem o link do youtube;
➢ Procurem uma jurisprudência que fale sobre o conteúdo de “Descoberta” e
me enviem, juntamente com breve resumo do que vocês entenderam do
julgado. Esse resumo pode ser feito em vídeo ou escrito. Essa atividade é
individual.
4) O prazo para entregar essa atividade será até o dia 27 de março, às 19h15min.
Necessito que cada um envie as suas respostas para o meu e-mail institucional:
maria.schneider@setrem.com.br

Fontes utilizadas para a elaboração deste material1:


GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 5: direito das coisas. 9 ed.
São Paulo: Saraiva, 2014.
Código Civil Brasileiro. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>
Constituição Federal de 1988. Disponível em:
< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>

A Função Social da Propriedade


O direito de propriedade é o mais importante e mais completo dos direitos
reais, constituindo o título básico do Livro III do Código Civil. Confere ao seu titular os
poderes de usar, gozar e dispor da coisa, assim como de reavê-la do poder de quem
quer que injustamente a possua ou detenha (CC, art. 1.228). Quando todas essas
perrogativas acham-se reunidas em uma só pessoa, diz-se que é ela titular da
propriedade plena.

Entretanto, a propriedade poderá ser limitada quando algum ou alguns dos


poderes inerentes ao domínio se destacarem e se incorporarem ao patrimônio de outra
pessoa. No usufruto, por exemplo, o direito de usar e gozar fica com o usufrutuário,
permanecendo com o nu-proprietário somente o de dispor e reivindicar a coisa. O
usufrutuário, em razão desse desmembramento, passa a ter um direito real sobre coisa
alheia, sendo oponível erga omnes.
1
Material de apoio da disciplina de Direito Internacional Público e da Integração, do curso de Direito da
Setrem. Proibida a reprodução.

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O art. 1.225 do Código Civil, que fornece a relação dos direitos reais,
menciona, em primeiro lugar, o direito de propriedade. Os demais resultam de seu
desmembramento e são denominados direitos reais menores ou direitos reais sobre
coisas alheias. O art. 1.228 do Código Civil não oferece uma definição de propriedade,
limitando-se a enunciar os poderes do proprietário, nestes termos:

“O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa,


e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente
a possua ou detenha”.

Trata-se do mais completo dos direitos subjetivos, a matriz dos direitos reais e
o núcleo do direito das coisas.

O princípio da função social da propriedade tem controvertida origem. Teria


sido, segundo alguns, formulado por AUGUSTO COMTE e postulado por LÉON DUGUIT,
no começo do aludido século. Em virtude da influência que a sua obra exerceu nos
autores latinos, DUGUIT é considerado o precursor da ideia de que os direitos só se
justificam pela missão social para a qual devem contribuir e, portanto, que o
proprietário deve comportar-se e ser considerado, quanto à gestão dos seus bens, como
um funcionário.

Para o mencionado autor, “a propriedade deixou de ser o direito subjetivo do


indivíduo e tende a se tornar a função social do detentor da riqueza mobiliária e
imobiliária; a propriedade implica para todo detentor de uma riqueza a obrigação de
empregá-la para o crescimento da riqueza social e para a interdependência social. Só o
proprietário pode executar uma certa tarefa social. Só ele pode aumentar a riqueza geral
utilizando a sua própria; a propriedade não é, de modo algum, um direito intangível e
sagrado, mas um direito em contínua mudança que se deve modelar sobre as
necessidades sociais às quais deve responder.

A atual Constituição Federal dispõe que a propriedade atenderá a sua função


social (art. 5º, XXIII). Também determina que a ordem econômica observará a função da
propriedade, impondo freios à atividade empresarial (art. 170, III).

Nessa ordem, o Código Civil de 2002 proclama que “o direito de propriedade


deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de
modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a
flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e
artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas” (art. 1.228, § 1º); e que “são
defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e
sejam animados pela intenção de prejudicar outrem” (§ 2º).

O referido diploma criou uma nova espécie de desapropriação, determinada


pelo Poder Judiciário na hipótese de “o imóvel reivindicado consistir em extensa área,

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na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de
pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e
serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante” (§ 4º). Nesse
caso, “o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário” (§ 5º).
Trata-se de inovação de elevado alcance, inspirada no sentido social do direito
de propriedade e também no novo conceito de posse, qualificada como posse-trabalho.

Inúmeras leis impõem restrições ao direito de propriedade, como o Código de


Mineração, o Código Florestal, a Lei de Proteção do Meio Ambiente etc. Algumas
contêm restrições administrativas, de natureza militar, eleitoral etc. A própria
Constituição Federal impõe a subordinação da propriedade à sua função social.
Há ainda limitações decorrentes do direito de vizinhança e de cláusulas
impostas voluntariamente nas liberalidades, como inalienabilidade, impenhorabilidade
e incomunicabilidade. Todo esse conjunto, no entanto, acaba traçando o perfil atual do
direito de propriedade no direito brasileiro, que deixou de apresentar as características
de direito absoluto e ilimitado, para se transformar em um direito de finalidade social.

Descoberta

A Seção II do Capítulo do Código Civil de 2002 que trata da propriedade em


geral, sob o título “Da descoberta”, figurava, no diploma de 1916, como modo de
aquisição e perda da propriedade móvel, com o nome de “invenção”.
No entanto, a rigor, descoberta não é modo de adquirir a propriedade, uma vez
que o descobridor não pode conservar para si o objeto extraviado, tendo a obrigação de
restituí-lo. Correta, portanto, a nova posição topográfica do instituto.
Descoberta é achado de coisa perdida por seu dono. Descobridor é a pessoa
que a encontra. Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao dono ou
legítimo possuidor. Dispõe, a propósito, o art. 1.233 do Código Civil:

Art. 1.233. Quem quer que ache coisa alheia perdida há de


restituí-la ao dono ou legítimo possuidor.
Parágrafo único. Não o conhecendo, o descobridor fará por
encontrá-lo, e, se não o encontrar, entregará a coisa achada à
autoridade competente.

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A obrigação decorre do fato de o proprietário conservar o domínio por ter
apenas perdido a coisa, não a tendo abandonado. O aludido dispositivo cuida, com
efeito, de coisa perdida e não de coisa abandonada.
O Código Penal (art. 169, II) considera infração punível a apropriação de coisa
achada e a não entrega à autoridade competente ou ao seu dono, no prazo de quinze
dias. As obrigações impostas ao descobridor só nascem, todavia, se se apropriar da coisa
perdida. Se não o fizer — ninguém está obrigado a recolher a coisa perdida — o simples
achado não gera qualquer efeito.
Mesmo estando obrigado a restituir a coisa achada, assegura-se ao descobridor
o direito a uma recompensa, denominada achádego. O critério legal para o seu
arbitramento mostra-se satisfatório, pois permite que se considerem as circunstâncias
em que se deu a descoberta. O dispositivo em apreço assegura-lhe, ainda, o direito de
ser indenizado pelas despesas que houver feito, mas apenas as necessárias, destinadas
à conservação da coisa, e as efetuadas com o seu transporte, que forem devidamente
comprovadas.
Todavia, o direito à recompensa e à indenização somente é devido se o dono
ou possuidor da coisa tiver interesse em recebê-la. Se ele não se interessar pela
restituição, pode abandoná-la. Nesse caso o descobridor, se assim o desejar, pode
adquiri-la, pois ela deixa de ser coisa perdida e passa a ser tida como abandonada,
operando-se sua ocupação (art. 1.263).
Estatui o art. 1.235 do Código Civil:

Art. 1.235. O descobridor responde pelos prejuízos causados ao


proprietário ou possuidor legítimo, quando tiver procedido com
dolo.

O descobridor não é obrigado, como foi dito, a recolher a coisa achada. Mas se
o fizer deverá tomar os cuidados necessários para conservá-la e restituí-la ao dono,
fazendo jus, por isso, à indenização das despesas necessárias. Não é obrigado, por
exemplo, a apropriar-se do animal que tenha achado. Se, no entanto, optar por recolhê-
lo, não pode deixar que morra de fome, por falta de alimentos.
A autoridade competente deve fazer a comunicação pela imprensa e outros
meios que existirem, “somente expedindo editais se o seu valor os comportar” (CC, art.
1.236). O art. 1.237 contém normas sobre a destinação do bem cujo dono não o procura
perante a autoridade à qual foi entregue, sobre a forma de comunicação e o prazo a ser
aguardado depois do aviso pela imprensa ou por edital, bem como a respeito da
destinação do que restar do produto da venda, dispondo: “Decorridos sessenta dias da
divulgação da notícia pela imprensa, ou do edital, não se apresentando quem comprove

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a propriedade sobre a coisa, será esta vendida em hasta pública e, deduzidas do preço
as despesas, mais a recompensa do descobridor, pertencerá o remanescente ao
Município em cuja circunscrição se deparou o objeto perdido”.
É facultado ao Município, que pode beneficiar-se da descoberta, abandoná-la,
se o valor apurado for ínfimo. Preceitua, com efeito, o parágrafo único do aludido art.
1.237: “Sendo de diminuto valor, poderá o Município abandonar a coisa em favor de
quem a achou”.
Em nenhuma hipótese permite a lei que o descobridor se aproprie do bem. É
dever de quem o encontra tudo fazer para localizar seu dono. Não o conseguindo, deve
procurar a autoridade policial, a quem entregará a coisa achada.

“Os desafios são o tempero da vida”

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