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Direito Comercial I

Resumos

Contratos de Distribuição
i) Agência
ii) Concessão
iii) Franquia
iv) Livre organização de cadeias

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Agência
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Decreto-lei n.º 178/86, de 3 de julho.


O contrato de agência visa celebrar negócios entre o principal e terceiros, que contratam não
com o próprio dono do negócio (principal), mas sim com um intermediário.

Elementos fundamentais:
i) Dever de promover por conta de outrem a celebração de contratos
(prestação de serviço);
ii) O fazer de modo autónomo e estável (autonomia);
iii) Mediante retribuição (onerosidade).
É assim uma modalidade de mandato, uma prestação de serviço. É importante o elemento da
autonomia para se distinguir do contrato de trabalho, embora o agente deva acatar as instruções
do principal, sendo estas concretizadoras e não inovatórias.
À partida o contrato não está sujeito a forma, mas as partes podem exigir um documento
assinado com o conteúdo do contrato – art.1ºnr1.
Pode ser celebrado com ou sem representação – art.2ºnr1 – e, havendo representação, o agente
está autorizado a cobrar os créditos do principal – art.3ºnr2 – o que, não havendo
representação, só o poderia fazer com autorização escrita – art.3ºnr1. Cobranças não
autorizadas remetem para o art.770º CC.
O agente pode ainda recorrer a auxiliares e substitutos (subagência) – art.5º.
Agência sem representação:
i) Ou o agente contrata em nome próprio e retransmite para o principal a
posição adquirida;
ii) Ou o contrato é celebrado, pelo cuidado do agente, diretamente entre o
principal e o terceiro.
Enquanto prestador autónomo, se o contrato nada disser nem haja instruções concretas do
principal, o agente pode optar por qualquer uma dessas duas opções.
Direito de exclusivo art.4º:
i) A agência pode ser celebrada com vista à celebração de contratos num
círculo determinado, podendo existir uma cláusula de exclusivo;
ii) Pode ser uma circunscrição geográfica (por exemplo agente para o
distrito de Lisboa);
iii) Pode ser uma delimitação pessoal (por exemplo agente para os
juristas);
iv) Ou uma combinação de ambos.

Posições das partes:


i) As obrigações do agente estão definidas nos arts.7º a 10º;
ii) Os direitos do agente estão definidos no art.13º;
iii) Quanto às renumerações, tem direito:
i. à retribuição (art.13º e)), fixada pelas partes ou pelos usos
e equidade (art.15º),
ii. à comissão (art.16º), regulada no art.18º e ampliada pelo
art.19º.
iv) O agente deve ser avisado nos casos de diminuição da atividade do
principal – art.14º;
v) O agente não tem, salvo disposição em contrário, direito a reembolso de
despesas do exercício normal da sua atividade, dada a sua autonomia –
art.20º.

Proteção de terceiros:
i) O agente deve informar os interessados dos poderes que possui (dever
de informação), mediante o previsto no art.21º. O incumprimento desta
obrigação torna-o responsável por todos os danos que venha a
ocasionar;
ii) Quando não tenha poderes de representação, o agente contrata em
próprio nome (mandato sem representação) ou proporciona uma
contratação direta entre o principal e o terceiro. Se contratar em nome
de outrem, existe representação sem poderes – art.22ºnr1. O nr2 indica
que, caso o principal não manifeste a sua posição dentro de 5 dias após
o conhecimento da celebração do negócio, o negócio considera-se
ratificado;
iii) Existe ainda representação aparente nos casos do art.23º.

Cessação do contrato:
i) Regulação prevista nos arts.24º a 36º;
ii) A caducidade implica o termo do prazo, a condição e a morte ou
extinção do agente – art.26º e 27º;
iii) A denúncia é o ato unilateral, discricionário e recipiendo que faz cessar
um contrato de duração indeterminada, devendo ser comunicada nos
prazos do art.28º. Mesmo sem aviso prévio é eficaz, mas obriga o
denunciante a indemnizar a outra parte - art.29ºnr1;
iv) A resolução implica um ato recipiendo assente em determinada
justificação e que faça cessar imediatamente o contrato, tenha ele ou
não prazo. Pode operar pela resolução subjetiva (a) ou objetiva (b), pelo
art.30º. Em ambos os casos, a lei menciona o elemento da
inexigibilidade, que deverá ser apurado tendo em conta a confiança e a
materialidade subjacente. Deve ainda ser comunicada por escrito
segundo os moldes do art.31º, e, ultrapassado o prazo, restará ao
interessado recorrer à denúncia.
i. A parte lesada pode ser indemnizada pelos danos
resultantes do incumprimento da outra parte – art.32ºnr1;
ii. Se for por razões objetivas, a parte lesada terá direito a uma
indemnização assente na equidade – art.32ºnr2.
No termo do contrato, cada contraente deve restituir à outra parte os elementos que lhe
pertençam – art.36º - embora o agente goze de direito de retenção pelos créditos resultantes da
sua atividade – art.35º.
Relativamente à cessação da agência, a lei diversa da portuguesa só pode ser aplicada se for
mais vantajosa para o agente – art.38º.
Indemnização da clientela:
O contrato de agência pode acarretar clientes para o principal, que se mantêm mesmo após o seu
termo. Assim, cessando a agência, deve o agente ser compensado pelo enriquecimento
proporcionado à outra parte (pelo principal) – art.33º. Esta indemnização é cumulável com
outras a que haja direito.
Deve ser calculada de forma equitativamente – art.34º - não podendo exceder uma retribuição
anual, calculada nos termos médios aí definidos. No entanto, se se provar um juízo superior a
essa cifra, havendo um dano superior a essa retribuição anual, pode-se discutir a
inconstitucionalidade por violação da propriedade privada – art.62ºnr1CRP.

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Concessão
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Reporta a esquemas destinados a distribuir produtos de elevado valor, que o produtor não possa
ou não queira ele próprio efetuar. Assim, um produtor fixa um distribuidor (concessionário).
Assim:
i) O concessionário insere-se na rede de distribuição de um produtor;
ii) Adquire o dado produto junto do produtor e obriga-se a vendê-lo, em seu próprio
nome, na área do contrato.
A concessão pode ser enriquecida com diversas cláusulas, nomeadamente as que preveem
determinadas metas ou utilização de insígnias que identifiquem o produto em causa.
Podemos considerá-la como uma promessa genérica de aquisição e venda de produtos, com
diversas prestações de facere em anexo.
Não tem base legal direta, sendo uma figura assente na autonomia privada. À partida, não está
sujeito a nenhuma forma solene, podendo ser meramente verbal ou resultar de condutas
concludentes.

Pinto Monteiro, acompanhado da jurisprudência, tem acolhido a analogia com a agência


enquanto instrumento fundamental para complementar eventuais lacunas. É particularmente
relevante no caso da cessação do contrato e da indemnização da clientela do art.33º.
Conteúdo:
i) A concessão postula uma relação de confiança, afastando-se assim o prazo
admonitório do art.808ºnr1CC;
ii) O regime de exclusividade não é necessário, devendo ser acordado. A exclusividade
não é contrária às regras da concorrência e não é suficiente para provar a concessão;
iii) Pode envolver a formação profissional do pessoal do concessionário.

Duração:
i) Não havendo prazo, só pode ser denunciada com pré-aviso, sob pena de não haver
dever de indemnizar;
ii) Havendo culpa do concedente na cessação, este pode ser condenado a retomar os
stocks antes vendidos ao concessionário;
iii) A denúncia ilegal é eficaz, mas obriga a indemnizar;
iv) A indemnização é feita pelo interesse contratual positivo.

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Franquia (franchising)
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No contrato de franquia, uma pessoa (franqueador), concede a outra (franqueado), dentro de


uma determinada área:
i) A utilização de marcas, nomes ou insígnias comerciais;
ii) A utilização de patentes, técnicas empresariais ou processos de fabrico;
iii) Assistência, acompanhamento e determinados serviços;
iv) Mercadorias e outros bens para distribuição.
É um contrato atípico e totalmente dependente da autonomia privada, havendo diversas
qualificações como:
i) Franquia de serviços: franqueado oferece um serviço sob marca do franqueado e a
partir das diretrizes do mesmo (empresas como Hertz, locação de automóveis);
ii) Franquia de produção: franqueado fabrica os produtos conforme as indicações do
franqueador e vende sob a marca deste (empresas como Coca Cola, produção
mundial);
iii) Franquia de distribuição: franqueado vende produtos num armazém, que usa a
insígnia do franqueador (produtos de moda).

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