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CONTRATO DE EMPRESTIMO

Cuidaremos neste capítulo das duas modalidades de contratos de empréstimo: o comodato


(arts. 579 a 585 do CC/2002) e o mútuo (arts. 586 a 592 do CC/2002), com as suas principais
características, dando ênfase à finalidade social e ao tratamento dispensado à matéria pelo
Código Civil de 2002.

COMODATO
1. Introdução
O contrato de comodato, que se refere ao empréstimo de coisas infungíveis (“empréstimo de
uso”).
Segundo WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO,
“a expressão comodato originou-se provavelmente da locução latina commodum datum,
sendo essa ainda, modernamente, a sua essência. Aliás, segundo as ordenações, o comodato
era assim chamado porque se dava a coisa para cômodo e proveito daquele que a recebia”.
O nosso Código, por sua vez, estabelece:
“Art. 579. O comodato é o empréstimo gratuito de coisas não fungíveis. Perfaz-se com a
tradição do objeto”.

2. Conceito
Assim, observamos que o comodato é um negócio jurídico unilateral e gratuito, por meio do
qual uma das partes (comodante) transfere à outra (comodatário) a posse de um determinado
bem, móvel ou imóvel, com a obrigação de o restituir.
Trata-se, pois, consoante definiu o legislador, do empréstimo gratuito de um bem infungível,
ou seja, insubstituível. É o que ocorre quando alguém cede o uso do seu apartamento (bem
infungível) a um amigo, impondo-lhe a obrigação de devolver.
Claro está que se trata de uma figura contratual especialmente assentada no princípio da
lealdade contratual (boa-fé objetiva), pois parte do pressuposto de que o dono da coisa
(comodante) confia no beneficiário do empréstimo (comodatário).
Opera-se apenas a transferência da posse da coisa, e não da propriedade, razão por que
podemos afirmar que o comodatário é titular de uma simples posse precária, ou seja, de favor,
podendo ser compelido à restituição a qualquer tempo.

3. Comodato e usucapião
A posse exercida pelo comodatário, por ser de natureza instável e sem animus domini
(intenção de atuar como dono), poderá durar por tempo indeterminado, sem que se consume
a prescrição aquisitiva oriunda do usucapião.
Em outras palavras, por estar exercendo uma posse simplesmente de favor, o comodatário
não poderá usucapir o bem.
Entretanto, caso o proprietário notifique-o para que devolva a coisa, e a restituição seja
negada, a partir daí começa a fluir o prazo prescricional em favor do prescribente-
comodatário, uma vez que, tendo afrontado o verdadeiro dono, passou a atuar como se
proprietário fosse.
Finalmente, é bom que se diga que o comodato pode despontar no bojo de uma relação de
consumo, como aquela travada entre o assinante de TV a cabo e a empresa prestadora do
serviço.

4. Características
Características
O contrato de comodato é uma forma contratual típica e nominada, que possui as seguintes
características:
a ) real — já anotamos que o contrato real é aquele que só se torna perfeito com a entrega da
coisa de uma parte à outra;
b ) unilateral — pois apenas o comodatário, posto experimente benefício, assume obrigação
em face do comodante: deverá guardar e conservar a coisa como se fosse sua, devendo
restituí-la ao final do contrato ou quando o comodante o exigir;
c) gratuito — em outras palavras, é um contrato benéfico, pois apenas o comodatário
experimenta benefício, uma vez que poderá usar (e possuir) coisa alheia infungível;
d ) fiduciário: traduz a ideia de confiança;
e ) temporário — o comodato, por gerar mero direito pessoal, é essencialmente temporário,
não se transmitindo aos herdeiros do comodatário. Aliás, raciocínio contrário desembocaria na
dilatada e absurda;
f) intuitu personae — o comodato é contrato personalíssimo, de natureza individual, pois é
pactuado em atenção à pessoa do comodatário, embora esta característica possa ser afastada
pela vontade das partes;
Pela sua unilateralidade, a classificação dos contratos em comutativos ou aleatórios, bem
como de contratos evolutivos, não lhe é aplicável.
A depender das circunstâncias, pode-se materializar tanto como um contrato paritário, quanto
por adesão.
Quanto à forma, é uma avença não solene, uma vez que a forma é livre para a validade da
estipulação contratual.
Trata-se, por fim, como a maioria das formas contratuais previstas no Código Civil brasileiro,
de um contrato causal, cujos motivos determinantes podem impor o reconhecimento da sua
invalidade, caso sejam considerados inexistentes, ilícitos ou imorais.
Pela função econômica, trata-se de um contrato de crédito, posto sui generis, pois
caracterizado pela obtenção de um bem para ser restituído posteriormente, calcada na
confiança dos contratantes, podendo estar relacionado a um interesse de obtenção de uma
utilidade econômica em tal transferência de posse.
Por fim, trata-se de um contrato principal e definitivo, sendo possível falar de uma promessa
de empréstimo (contrato preliminar).

5. Prazos
O comodato é um contrato essencialmente temporário:
“Art. 581. Se o comodato não tiver prazo convencional, presumir-se-lhe-á o necessário para o
uso concedido; não podendo o comodante, salvo necessidade imprevista e urgente,
reconhecida pelo juiz, suspender o uso e gozo da coisa emprestada, antes de findo o prazo
convencional, ou o que se determine pelo uso outorgado”.

O que vem a ser “ou o que se determine pelo uso outorgado”? Significa que se presumirá o
necessário para o uso concedido.
Ex.: Um dono de um apartamento empresta o imóvel a seu primo, que se encontrava
acometido de pneumonia. Posto não houvesse sido fixado prazo contratual, este será o
razoavelmente necessário para o uso concedido, ou seja, até que o comodatário se recupere
da doença.
O comodato verbal é feito por prazo indeterminado, devendo o comodante comunicar ao
comodatário acerca da devolução, o que pode ser feito por meio de notificação judicial ou
extrajudicial.
Por outro lado, o próprio STJ firmou o entendimento de que, se o contrato de comodato fora
pactuado a prazo determinado, dispensa-se a constituição do devedor em mora, e,
consequentemente, a sua notificação. Nada impede, entretanto, que o comodante notifique-o,
embora não seja obrigado a tanto, por força do termo de devolução.
Em qualquer caso, se o comodatário não proceder com a restituição da coisa, poderá ter
contra si ajuizada ação de reintegração de posse.

6. Direitos e obrigações das partes


O comodatário, a quem fora confiado o bem emprestado, deverá ainda usá-lo de
conformidade com o contrato ou a sua natureza, conservando o bem como se seu próprio
fosse (art. 582 do CC-02), e ainda salvaguardando-o de eventuais riscos de destruição (total ou
parcial) pela ocorrência de caso fortuito ou de força maior (art. 583 do CC-02).

Art. 582. O comodatário é obrigado a conservar, como se sua própria fora, a coisa emprestada,
não podendo usá-la senão de acordo com o contrato ou a natureza dela, sob pena de
responder por perdas e danos. O comodatário constituído em mora, além de por ela
responder, pagará, até restituí-la, o aluguel da coisa que for arbitrado pelo comodante.

Caso não utilize corretamente a coisa, causando dano ao seu proprietário, deverá indenizá-lo,
segundo as regras da responsabilidade civil contratual.
Uma vez constituído em mora — o que ocorre em geral por meio de notificação – a segunda
parte do artigo 582 impõe ao comodatário o pagamento de um aluguel arbitrado pelo
comodante, até que efetive a devolução, correndo ainda contra si os riscos pela destruição da
coisa.
Esse arbitramento não pode ser excessivo, conforme dicção do art. 187 do CC-02:
“Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos
bons costumes”.

Vale lembrar, inclusive, que, tratando-se de responsabilidade civil contratual, a culpa do


comodatário é presumida, cabendo-lhe o ônus da prova de que o fato ocorreu sem
concorrência de sua culpa.
É interessante salientar a referência feita no art. 583, no sentido de, caso o comodatário
pretenda antepor a salvação de objeto seu, em detrimento do direito do comodante,
responderá pelo dano ocorrido, ainda que proveniente de evento acidental. Figure-se a
hipótese de a casa do comodatário estar em chamas, em virtude de um curto-circuito
ocasional. Se, ao retirar os pertences das chamas, o comodatário der primazia aos seus,
deixando para trás os pertence do comodante, responderá pelo dano ocorrido.

“Art. 583. Se, correndo risco o objeto do comodato juntamente com outros do comodatário,
antepuser este a salvação dos seus abandonando o do comodante, responderá pelo dano
ocorrido, ainda que se possa atribuir a caso fortuito, ou força maior”

7. Despesas feitas pelo comodatário


Art. 584. O comodatário não poderá jamais recobrar do comodante as despesas feitas com o
uso e gozo da coisa emprestada.
Quando o legislador proibiu que o comodatário pleiteasse ressarcimento por eventuais
despesas realizadas, referiu-se, na esteira da melhor interpretação, às despesas ordinárias, ou
seja, comuns, e não, obviamente, às extraordinárias, imprescindíveis à conservação da coisa, a
exemplo das benfeitorias necessárias, pois seria uma flagrante injustiça negar-se reparação
neste último caso. Esse é o entendimento jurisprudencial.

8. Comodatários solidários:
Havendo mais de um comodatário, haverá solidariedade legal entre eles, por força do que
dispõe o art. 585 do CC-02 (art.1.255 do CC-16), em face de todo e qualquer dano que venham
causar ao comodante.

9. Extinção do Contrato
O contrato (válido) de comodato extingue-se pelo exaurimento do seu prazo de vigência, e,
caso seja pactuado por prazo indeterminado, será considerado cumprido quando esgotada a
finalidade de sua utilização.
Poderá, ainda, ser dissolvido por resolução - descumprimento do contrato de comodato (ex.: o
comodatário não está atendendo à obrigação de bem conservar a coisa), mas nada obstando
que as próprias partes pactuem o seu desfazimento bilateral -resilição.
Pode ser extinto por destruição total (perecimento), como na hipótese de um acidente natural
(enchente, terremoto etc.) ou em caso de falecimento do comodatário.
A morte do comodante não induz a extinção do contrato, uma vez que os seus herdeiros
deverão respeitar o seu prazo de vigência.
MODELO DE CONTRATO
COMODATO DE IMÓVEL

Por este instrumento particular, de um lado (razão social) ......................, com sede na
cidade de ....................., Estado de ........., à Rua ...................................., nº ....., inscrita
no CNPJ sob o nº .................., neste ato representada por ............, doravante
denominada simplesmente COMODANTE, e, de outro lado, (razão social) ................,
com sede na cidade de ................, Estado de ........., à Rua .....................................,
nº ....., inscrita no CNPJ sob o nº .................., neste ato representada por ............,
doravante denominada simplesmente COMODATÁRIA, têm entre si como justo e
acordado o que segue, que se obrigam a cumprir por si e seus sucessores:
1. A COMODANTE, na qualidade de legítima proprietária de um(a) imóvel (descrever
pormenorizadamente o imóvel) ..................., conforme escritura (especificar o título
que comprove a propriedade).............., cede e transfere referido bem à
COMODATÁRIA, gratuitamente, a título de comodato, para fins de ...................
2. O prazo de vigência deste contrato será de .......... (dias/meses/anos), com início
em ...../...../..... e término em ...../...../....., data em que a COMODATÁRIA deverá
restituir o imóvel acima especificado nas mesmas condições em que ora o recebe,
independentemente de qualquer notificação, sob pena de pagar um aluguel no valor
de R$ ............ por .....(dia/mês) de uso do bem.
3. A COMODATÁRIA se obriga a zelar pela conservação do imóvel que lhe é cedido em
comodato, responsabilizando-se por todos os custos com a manutenção do mesmo. Os
danos advindos do mau uso ou negligência na sua conservação serão suportados pela
COMODATÁRIA que arcará com todas as despesas para a devida recuperação do bem.
4. É vedado à COMODATÁRIA sub-comodatar ou locar o bem objeto deste instrumento
a terceiros, bem como ceder ou transferir o presente contrato sem prévia autorização,
por escrito, da COMODANTE.
5. A COMODATÁRIA, durante a vigência deste instrumento, responsabilizar-se-á
perante terceiros por danos decorrentes de eventuais acidentes que envolvam as
instalações, edificações, muros e outras benfeitorias agregadas ao imóvel,
independentemente de ter ou não contratado seguro para tal fim.
6. Em caso de turbação ou esbulho da posse do bem por atos de terceiros, a
COMODATÁRIA deverá tomar as providências cabíveis a fim de cessar tais atos, bem
como comunicar imediatamente tais fatos à COMODANTE.
7. O presente instrumento será considerado rescindido de pleno direito em caso de
infração, por parte da COMODATÁRIA, de qualquer cláusula acordada, assegurado à
COMODANTE o direito de rescindir, unilateralmente, o contrato, mediante simples
comunicação, independentemente de aviso judicial ou extra-judicial.
8. Qualquer tolerância ou concessão das partes quanto ao cumprimento do disposto
neste contrato constituir-se-á ato de mera liberalidade, não podendo ser considerado
novação.
9. As partes elegem o Foro da Comarca de ...................... para dirimir eventuais litígios
decorrentes deste contrato.
E assim, por estarem justas e contratadas, as partes assinam o presente em ...... vias de
igual teor, juntamente com as duas testemunhas abaixo.
Local e data: ______________________, ____/____/_____

________________________ ________________________
COMODANTE COMODATÁRIA

Testemunhas:
1ª) Ass. _________________________
Nome:
RG:

2ª) Ass. _________________________


Nome:
RG:
MÚTUO
1. Conceito
O mútuo consiste em um “empréstimo de consumo”, ou seja, trata-se de um negócio jurídico
unilateral, por meio do qual o mutuante transfere a propriedade de um objeto móvel fungível
ao mutuário, que se obriga à devolução, em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade.
“Art. 586. O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O mutuário é obrigado a restituir ao
mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade”.
Assim, tanto haverá o mútuo quando se toma dinheiro emprestado em um banco, como
também quando vamos ao vizinho e pedimos “emprestado” uma porção de açúcar.

2. Riscos da coisa emprestada


Os riscos de destruição da coisa correrão, única e exclusivamente, por conta do tomador do
empréstimo, desde o momento da tradição.
Art. 587. Este empréstimo transfere o domínio da coisa emprestada ao mutuário, por cuja
conta correm todos os riscos dela desde a tradição.
Assim, podemos afirmar que, em verdade, o mutuário se torna “dono” da coisa,
individualmente considerada, mas não do seu valor, pois está obrigado a restituir outro bem
equivalente.

3. Características
É uma forma contratual típica e nominada, que possui as seguintes características:
a) real: só se torna perfeito com a entrega da coisa de uma parte à outra. O contrato em si
somente se considera concluído quando o comodante entrega o bem ao comodatário.
b) unilateral: pois apenas o mutuário assume obrigação em face do comodante: deverá
restituir coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade;
c) gratuito ou oneroso: será gratuito quando não for fixada remuneração ao mutuante, pois,
neste caso, o mutuário apenas se beneficiaria com o empréstimo; entretanto, fixado
pagamento ao mutuante, como ocorre no mútuo a juros, haverá também sacrifício patrimonial
ao tomador do empréstimo, convertendo o contrato em oneroso:
Ex.: Imaginemos que João e Pedro houvessem acertado um contrato de mútuo. João,
mutuante, emprestou a Pedro, mutuário, R$ 1.000,00, com a obrigação de pagar-lhe em 30
dias. Pois bem. Caso não fosse fixada remuneração ao mutuante (pagamento de juros), seria
correto dizer que, embora assumida a obrigação de devolver, o patrimônio de Pedro em nada
seria abalado ou diminuído, pois, recebendo 1.000,00 devolveria apenas 1.000,00 em trinta
dias. Diz-se, pois, neste caso, que o empréstimo seria gratuito, pois apenas beneficiaria o
mutuário. Por outro lado, caso houvessem sido fixado juros, no final do prazo estipulado Pedro
não devolveria apenas 1.000,00 mas sim a quantia de 1.010,00 acrescida de juros (1.000 =
capital + 10 = juros). Neste caso, poderíamos concluir que, ao benefício experimentado,
correspondeu um sacrifício patrimonial imposto ao mutuário, caracterizando uma modalidade
onerosa de empréstimo (mútuo feneratício).
d) temporário: esta modalidade de contrato é fixada por prazo determinado, e, não o
havendo, aplicar-se-iam as regras previstas no art. 592;
e) A classificação dos contratos em comutativos ou aleatórios, bem como de contratos
evolutivos, não lhe é aplicável;
f) A depender das circunstâncias, pode-se materializar tanto como um contrato paritário,
quanto por adesão;
g) é uma avença não solene, uma vez que a forma é livre para a validade da estipulação
contratual;
h) contrato causal, cujos motivos determinantes podem impor o reconhecimento da sua
invalidade, caso sejam considerados inexistentes, ilícitos ou imorais;
i) Pela função econômica, trata-se de um contrato de crédito, posto sui generis, pois
caracterizado pela obtenção de um bem para ser restituído posteriormente.

4. Prazo do contrato
O mútuo é, por excelência, um contrato com prazo determinado, quer seja por estipulação das
próprias partes, mais comum, quer seja por aplicação supletiva do art. 592 do Código Civil.
Art. 592. Não se tendo convencionado expressamente, o prazo do mútuo será:
I - até a próxima colheita, se o mútuo for de produtos agrícolas, assim para o consumo, como
para semeadura;
II - de trinta dias, pelo menos, se for de dinheiro;
III - do espaço de tempo que declarar o mutuante, se for de qualquer outra coisa fungível.

5. Mútuo feito a menor


Admitiu o legislador a validade e eficácia de empréstimo feito a menor, com determinadas
ressalvas, consoante podemos concluir da análise dos seguintes dispositivos legais:
Art. 588. O mútuo feito a pessoa menor, sem prévia autorização daquele sob cuja guarda
estiver, não pode ser reavido nem do mutuário, nem de seus fiadores.
Art. 589. Cessa a disposição do artigo antecedente:
I - se a pessoa, de cuja autorização necessitava o mutuário para contrair o empréstimo, o
ratificar posteriormente;
II - se o menor, estando ausente essa pessoa, se viu obrigado a contrair o empréstimo para os
seus alimentos habituais;
III - se o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho. Mas, em tal caso, a execução do credor
não lhes poderá ultrapassar as forças;
IV - se o empréstimo reverteu em benefício do menor;
V - se o menor obteve o empréstimo maliciosamente.

6. Garantia de restituição ao mutuante


O mutuário somente estará obrigado à prestação da garantia se sofrer considerável abalo no
seu patrimônio antes do vencimento do mútuo, de conhecimento geral, o que deve ser objeto
de prova do mutuante, em caso de negativa.
Art. 590. O mutuante pode exigir garantia da restituição, se antes do vencimento o mutuário
sofrer notória mudança em sua situação econômica.

7. Direitos e obrigações das partes


Considerando que o contrato de mútuo tem natureza unilateral (gerando, pois, obrigação
apenas para o mutuário), podemos afirmar que a obrigação precípua, assumida pelo tomador
do empréstimo, é de devolver aquilo que se lhe emprestou em coisa da mesma natureza
(entendida como gênero — ou espécie, na forma mais técnica do art. 85 do CC/2002),
quantidade e qualidade.
O mutuante, em princípio, não assume obrigação.

8. Mútuo feneratício
Cada vez mais ganha importância uma modalidade diferenciada de empréstimo de coisa
fungível, qual seja, o mútuo feneratício, frutífero ou a juros.
Trata-se de uma modalidade de contratação unilateral onerosa, que sofreu particular alteração
de disciplina com o vigente Código Civil brasileiro.
Com efeito, o Decreto-Lei n. 22.626, de 1933 (Lei da Usura), em seu art. 1.º, vedou que
qualquer espécie de juros fosse estipulada com taxa superior ao dobro da taxa legal,
perfazendo, assim, um teto máximo de 12% (doze por cento) ao ano.
É claro que o direito aos juros, aí, sim, pode ser renunciado, explícita ou implicitamente, pelos
sujeitos envolvidos, como, por exemplo, quando alguém pede emprestado um dinheiro ao
colega para comprar um lanche na cantina da escola; porém, é preciso que se conscientize de
que, em geral, a lógica econômica, agora, é inversa da codificação anterior.
Essa é a exegese ideológica que se faz do art. 591 do CC-02, que explicita:

“Art. 591. Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, os quais, sob
pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitida a
capitalização anual”.

Nas relações civis, a teor do novo Código, os juros não poderão exceder ao limite estabelecido
no polêmico art. 406 do CC-02, que preceitua:

“Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa
estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que
estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional”.

9. Extinção
Como se trata de um contrato temporário, o mútuo extingue-se com o advento do seu termo,
ou, antes dele, se o mutuário efetuar o pagamento.
Todavia, se o mutuário, uma vez vencida a dívida, não pagá-la, a dissolução se dará por meio
da resolução do contrato, podendo o mutuante, neste caso, exigir a devida compensação pelo
prejuízo sofrido, incluindo-se os juros de mora.
Nada impede, outrossim, que o contrato se desfaça por meio de resilição unilateral (por
manifestação de vontade de qualquer das partes, se houver estipulação neste sentido) ou
bilateral (mediante distrato).
Modelo
CONTRATO DE EMPRÉSTIMO DE DINHEIRO

Pelo presente instrumento, (qualificação) doravante denominado (a) MUTUANTE e


(qualificação) doravante denominado (a) MUTUÁRIO (A)
celebram o presente Contrato de Empréstimo de Dinheiro, também conhecido como Contrato
de Mútuo, sob a regência do Código Civil (Lei n° 10.406/02), em especial nos artigo 586 a 592,
e mediante as cláusulas e condições adiante estipuladas que, voluntariamente, aceitam e
outorgam:

CLÁUSULA PRIMEIRA - DO OBJETO


1.1, Por meio do presente instrumento, o (a) MUTUANTE empresta ao (à) MUTUÁRIO (A),
direta e pessoalmente, a quantia de R$
1.2. A quantia será repassada ao (à) MUTUÁRIO (A) mediante, em espécie OU por meio de
cheque emitido pelo (a) MUTUANTE e entregue OU por meio de transferência bancária na
seguinte conta de titularidade do (a) MUTUÁRIO (A) OU da seguinte maneira:

(Se doação por transferência bancária)


• BANCO:
AGENCIA:
• CONTA:

1.3. O (A) MUTUANTE entregará a quantia ao (à) MUTUÁRIO (A) no ato de assinatura deste
instrumento OU em ___/___/___

CLÁUSULA SEGUNDA - DA DESTINAÇÃO DO EMPRÉSTIMO


(Se o mutuário poderá dar a destinação que quiser o empréstimo, inclusive fins econômicos)
2.1. O (A) MUTUARIO (A) poderá fazer livre uso da quantia emprestada inclusive aliená-la a
qualquer titulo a terceiros.
(Se o mutuário poderá dar a destinação que quiser o empréstimo, menos fins econômicos)
2.1. O (A) MUTUÁRIO (A) poderá fazer livre uso da quantia emprestada, desde que não seja
para fins econômicos.

CLÁUSULA TERCEIRA - DO PAGAMENTO


3.1. O (a) MUTUÁRIO (a) se compromete a restituir ao (à) MUTUANTE a quantia mutuada
especificada na cláusula primeira, da seguinte forma: ______________
(explicar se será parcelado, a vista, em espécie, em cheque, por depósito bancário, as datas de
pagamento),
BANCO:
AGENCIA:
CONTA CORRENTE:

(Se o contrato de mútuo não se destina a fins econômicos e pelo empréstimo do dinheiro não
serão cobrados juros)
3.2. O empréstimo é realizado a título gratuito e não haverá, portanto, incidência de juros
compensatórios ou de correção monetário sobre o valor mutuado.

(Se o contrato de mútuo se destina a fins econômicos e pelo empréstimo do dinheiro, serão
cobrados juros)
3.2. O empréstimo é realizado a título oneroso e haverá, portanto, incidência de juros
compensatórios ou de correção monetário sobre o valor mutuado.
3.3. O (A) MIUTUÁRIO (A) se compromete se compromete a restituir o valor mutuado ao (a)
MUTUANTE acrescido de juros de ___% ao mês, aplicadas sobre a quantia total emprestada,
além de correção monetária calculada com base na variação do IGPM do período
3.4. O não pagamento fara com que o (a) MUTUANTE incorra em mora sujeitando-se desta
forma à cobranças extrajudiciais ou judiciais que se fizerem necessárias, com incidência de
juros de e de multa de __% calculados sobre o mês de atraso.
3.5 O MUTUÁRIO poderá amortizar ou liquidar a dívida do empréstimo, antes do vencimento,
com abatimento proporcional dos juros.
3.6. Em caso de inadimplemento, o (a) MUTUANTE poderá tomar as medidas judiciais ou
extrajudiciais cabíveis para a satisfação do crédito, ficando o (a) MUTUÁRIO (A) responsável
pelo pagamento das despesas realizadas com tais ações, inclusive honorários advocatícios.
(Se não apresentou garantia)
3.7. Se antes do vencimento o (a) MUTUANTE sofrer notória mudança de sua situação
financeira, o (a) MUTUÁRIO (A) poderá exigir apresentação de garantia.
(Se o pagamento do empréstimo deve ser realizados em prestações)
3.8. Eventual aceitação do (a) MUTUANTE em receber parcelas pagas intempestivamente ou
pelo não cumprimento de obrigações contratuais, a seu critério, não importará em novação,
perdão ou alteração contratual, mas mera liberalidade do (a) MUTUARIO (A), permanecendo
inalteradas as cláusulas deste contrato.
(Se o pagamento do empréstimo deve ser realizados em prestações)

CLAUSULA QUARTA - DO VENCIMENTO ANTECIPADO DA DÍVIDA


4.1. Considera-se antecipadamente vencida a dívida:
- Se o (a) MUTUÁRIO (A) cair em insolvência ou falir,
- Se houver atraso superior a 30 (trinta) dias no pagamento de qualquer parcela.
(Se foi dada alguma garantia. Importante: em contratos de empréstimo, a parte que pega o
dinheiro emprestado pode apresentar uma garantia para assegurar a restituição do
empréstimo. A garantia pode ser um bem móvel, imóvel, cheque-caução, etc.)
CLÁUSULA QUINTA - DA GARANTIA
(Se a garantia é fiança: terceiro que garante com seu patrimônio o pagamento da dívida)
5.1. O pagamento da dívida confessada neste termo será garantido por meio de fiança, dada
pelo seguinte FIADOR:
(qualificar fiador)
(Se o fiador responderá solidariamente por toda a dívida)
5.2. O FIADOR se obriga a garantir o cumprimento de todas as obrigações estabelecidas neste
instrumento, da data de sua assinatura até a quitação integral da dívida (Se o fiador
responderá apenas por parte da dívida)
5.2, O FIADOR se obriga a garantir o cumprimento de parte da dívida, conforme a seguinte
divisão:
5.,3. A fiança inicia-se na data de assinatura do presente termo e finda com a quitação integral
5.,4. O fiador estará obrigado apenas a sua respectiva quota, conforme definido acima, não
podendo ser responsabilizado por valores que ultrapassem estes limites,
5.3. A qualquer momento, o FIADOR poderá exonerar-se da fiança.
5.4. Após a notificação do (a) MUTUANTE, os efeitos da fiança estendem-se ainda por 60
(sessenta) dias.
5.5. O (A) MUTUANTE poderá ser notificado a apresentar, em prazo razoável, nova garantia
quando:
Ocorrer a morte do FIADOR; Houver a declaração judicial da ausência, interdição, recuperação
judicial, falência ou insolvência do FIADOR;
Houver alienação ou gravação de todos os bens imóveis do FIADOR ou a sua mudança de
residência, sem a devida comunicação ao (à) MUTUÁRIO (A):
Houver a exoneração do FIADOR.
5.6. A obrigação da fiança passa aos herdeiros do FIADOR, limitando-se ao tempo decorrido
até o falecimento deste e às forças da herança.
5.7. O FIADOR ficará desobrigado:
- Se sem o seu consentimento, o (a) MUTUANTE (A) conceder moratória ao (à) MUTUÁRIO:
- Se por fato do (a) MUTUÁRIO (A), for impossível a sub-rogação nos seus direitos e
preferências;
- Se O MUTUANTE (A) em pagamento da divida, aceitar amigavelmente do (a) MUTUÁRIO
objeto diverso do que este era obrigado a lhe dar, ainda que depois venha a perdê-lo por
evicção.
5.8. O pagamento de uma ou mais parcelas da dívida importa exoneração correspondente da
garantia.
5.9. Em caso de não pagamento, nos termos definitivos neste instrumento, poderá o (a)
MUTUANTE promover a execução judicial da garantia.
5.10. O pagamento de uma ou mais parcelas da dívida importa exoneração correspondente da
garantia
(Se garantia por anticrese: frutos de bem imóvel, como aluguel)
5.1. O pagamento da dívida confessada neste termo será garantido pelos frutos
fornecidos pelo seguinte imóvel:
5.2. Caso reste prejudicada a garantia descrita acima, o (a) MUTUANTE (A) poderá exigir a sua
substituição por outra modalidade, designando prazo razoável para que o (a) MUTUÁRIO o
realize.
5.3. O pagamento de uma ou mais parcelas da dívida (não) importa exoneração
correspondente da garantia.

CLÁUSULA SEXTA - DAS OBRIGAÇÕES


6.1. São obrigações do (a) MUTUÁRIO (A):
Efetuar o pagamento pontualmente, conforme as datas e os meios fixados neste instrumento;
Informar o (a) MUTUANTE (A) sobre a insolvência civil, recuperação judicial e extrajudicial,
falência ou qualquer ação ou execução declarada contra si.
6.2. São obrigações do (a) MUTUANTE (A):
Receber o pagamento da dívida, nos termos estipulados neste termo;
Entregar recibo de quitação da dívida ao MUTUÁRIO (A), quando finalizado todo o pagamento
previsto,

CLÁUSULA SÉTIMA - DA CESSÃO E TRANSFERÊNCIA


7.1. Fica vedada a cessão e transferência do presente contrato, seja a que título for, sem a
expressa concordância das partes.

CLÁUSULA OITAVA - DA SUCESSÃO


8.1 Todas as obrigações assumidas neste instrumento são irrevogáveis e irretratáveis, o qual as
partes obrigam-se a cumpri-lo, a qualquer título, e, em caso de óbito ou extinção de alguma
das partes, serão transferidas a seus herdeiros ou sucessores.

CLÁUSULA NONA - DA VIGÊNCIA


9.1. O presente contrato passa a vigorar entre as partes a partir da assinatura do mesmo.

CLÁUSULA DÉCIMA - DA EXECUÇÃO


10.1. Declaram as partes, outrossim, terem plena ciência do teor do presente instrumento, e
que o mesmo tem validade de título executivo extrajudicial na forma do artigo 784 do Código
de Processo Civil.

CLÁUSULA DÉCIMA PRIMEIRA - DO FORO


11.1. As partes contratantes elegem o foro de, para dirimir quaisquer dúvidas relativas ao
cumprimento deste instrumento, não superadas pela mediação administrativa.
E por estarem justos e combinados, MIUTUANTE (A) e MUTUÁRIO (A) celebram e assinam o
presente instrumento, em vias de igual teor e forma na presença das testemunhas abaixo
nomeadas a indicadas, que também o subscrevem para que surta seus efeitos jurídicos.
Cidade da assinatura, data.

________________________ ________________________
MUTUANTE MUTUARIO

Testemunhas:
1ª) Ass. _________________________
Nome:
RG:

2ª) Ass. _________________________


Nome:
RG:

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