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DIREITO DOS CONTRATOS

 Não há lei que conceitua os contratos, há necessidade de a doutrina definir o


instituto.
 Sempre tendo por base a Teoria da escada ponteana que norteia todos os estudos
do negócio jurídico (partes, objeto, vontade e forma), o conceito de contrato é:
negócio jurídico bilateral ou plurilateral que visa à criação, modificação ou
extinção de direitos e deveres com conteúdo patrimonial.

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:

 I - agente capaz;

 II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;

 III - forma prescrita ou não defesa em lei.

• Para o contrato se formar, é necessário ter dois elementos:

a) Elemento estrutural: é a alteridade (conceito de negócio jurídico). A alteridade


significa a presença de do mínimo duas pessoas para a constituição do contrato.

 Por conta disso a legislação veda a autocontratação ou contrato consigo mesmo.

Art. 117. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o
representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo.  mandato em
causa própria ou com clausula in rem suam.

b) Elemento funcional: é a composição de interesses contrapostos, mas


harmonizáveis.

1. Classificação dos contratos:


a) Contrato unilateral: somente um dos contratantes assume deveres em relação
ao outro, não existe contraprestação. (um devedor). Ex: doação pura
b) Contrato bilateral: os dois contratantes são ao mesmo tempo credores e
devedores uns dos outros, havendo direitos e deveres para todos os
envolvidos de maneira proporcional, é também chamada de contrato
bilateral sinalagmático. Ex: compra e venda e locação.
c) Contrato plurilateral: é aquele que envolve várias pessoas, havendo direitos e
deveres para todos na mesma proporção. Ex: consorcio.

2. Quanto ao sacrifício patrimonial das partes:


a) Contrato oneroso: ambos contratantes sofrem sacrifício patrimonial. Ambas
as partes assumem deveres obrigacionais. Ex: compra e venda  bilateral
b) Contrato gratuito ou benéfico: é aquele contrato que onera apenas uma das
partes, ou seja, somente um contratante sofre o sacrifício patrimonial. Ex:
doação pura e simples.  unilateral
Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente.
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 O contrato de mútuo feneratício (empréstimo de dinheiro sujeito a juros),


trata-se de um contrato unilateral, pois há a obrigação de restituir a quantia
emprestada, e também oneroso, pois os juros devem ser pagos.

3. Quanto ao momento de aperfeiçoamento:


a) Contrato consensual: o aperfeiçoamento ocorre com a simples manifestação de
vontade das partes envolvidas. Em outras palavras, o contrato se torna
obrigatório com o simples acordo de vontades.
b) Contrato real: só se aperfeiçoa com a entrega da coisa. Não bastando o acordo de
vontades. Ex: depósito, empréstimo de carro.

4. Quanto ao risco envolvendo a prestação


a) Contrato comutativo: as partes já conhecem as prestações a que se obrigam,
isto é, as prestações já são pré-estabelecidas com antecedência. Ex: uma
compra e venda (preço a ser pago + coisa a ser entregue).
b) Contrato Aleatório: uma das partes não conhece com exatidão a sua
prestação no momento em que o contrato está sendo celebrado porque ela
depende de um fator desconhecido (sorte), conhecido como “álea”. Ex:
contrato de seguro, jogo e aposta.
c) Contrato aleatório emptio spei: uma das partes assume o risco relativo á
existência da própria coisa. É ajustado um preço que deverá ser pago
integralmente, ainda que a coisa não venha a existir futuramente, salvo se
houver dolo ou culpa da outra parte  Art. 458. Se o contrato for aleatório, por
dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos
contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi
prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do
avençado venha a existir. Ex: venda da esperança

d) Contrato aleatório emptio rei speratae: o risco diz respeito apenas á


quantidade da coisa. As partes fixam um mínimo como objeto do negócio.
 Art. 459. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a
si o risco de virem a existir em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o
preço, desde que de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir
em quantidade inferior à esperada.

Parágrafo único. Mas, se da coisa nada vier a existir, alienação não haverá, e o alienante restituirá o
preço recebido.

5. Quanto a previsão legal:


a) Contrato típico: é aquele com previsão legal mínima, ou seja, com um
estatuto legal suficiente. Ex: compra e venda, doação.
b) Contrato atípico: não existe previsão legal mínima.  Art. 425. É lícito às partes
estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código. Ex:
contrato de estacionamento.

6. Quanto a negociação do conteúdo


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a) Contrato de adesão: é aquele contrato em que uma das partes, denominado


estipulante, impõe o conteúdo do contrato à outra parte, denominada
aderente, na qual, cabe a ele, aceitar ou não o conteúdo.
Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade
competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem
que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.

b) Contrato paritário ou negociado: é aquele contrato cujo conteúdo é


plenamente discutido e debatido entre as partes contratantes.

7. Quanto à formalidade ou solenidade:


○ A forma é gênero (forma escrita)
○ Solenidade é espécie (ato público/escritura pública)

a) Contrato solene: exige escritura publica  Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a
escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição,
transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta
vezes o maior salário mínimo vigente no País.
b) Contrato não solene: não exige escritura pública. Ex: compra e venda de imóvel
cujo valor esteja abaixo de 30 salários mínimos

8. Quanto a independência
a) contrato principal ou independente: é aquele que existe por si só, sem relação de
dependência com outro contrato. Ex: contrato de locação de imóvel.
b) Contrato acessório: contrato cuja validade depende de outro contrato, no caso,
chamado de principal. Ex: contrato de fiança, geralmente associado a um
contrato de locação de imóvel urbano.

 Pelo princípio da gravitação jurídica, tudo o que ocorrer com o contrato


principal irá repercutir no contrato de acessório, porém o que acontecer com
o contrato acessório, não afetará o principal. Ex: nulo o contrato principal,
nulo será o acessório (mas não vice-versa); prescrita a dívida do contrato
principal, extingue-se o acessório).

9. Quanto ao momento do cumprimento:


a) contrato instantâneo ou de execução imediata: é o contrato cujo aperfeiçoamento
e cumprimento são imediatos. Ex: compra à vista.
b) Contrato de execução diferida: o cumprimento é previsto de uma única vez num
momento futuro. Ex: compra com cheque pré-datado.
c) Contrato de execução continuada ou de trato sucessivo: seu cumprimento é
previsto de maneira sucessiva/periódica no tempo. Ex: pagamentos mensais,
quinzenais.

10. Quanto à pessoalidade


 Contrato pessoal, personalíssimo ou intuitu personae: são contratos em
que a pessoa do contratante é elemento determinante para a sua
conclusão. São contratos que não podem ser transmitidos a outras
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pessoas, seja por ato entre vivos ou pela morte. Ex: contrato de fiança – a
condição de fiador não se transmite aos herdeiros.
 Contrato impessoal: a pessoa do contratante não é juridicamente
relevante para a conclusão do negócio. Ex: compra e venda
11. Princípios contratuais
 Princípio da autonomia privada
 nomenclatura: autonomia da vontade ou privada. classicamente o
princípio era conhecido como autonomia da "vontade", pois decorria de
um modelo liberal puro.
 três fatores provocaram a mudança na nomenclatura:
1°) a crise dos contratos: há alguns anos, um autor chamado grant gilmore
publicou um livro cujo título era "a morte do contrato". Em sua obra, ele
defendia não a extinção dos contratos, mas sim algumas mudanças
significativas oriundas da evolução da sociedade para melhor aplicação dos
princípios contratuais.
2°) dirigismo contratual: consiste na intervenção estatal nos contratos, sendo
que na formação dos contratos, em diversos casos, a lei impõe a inserção de
cláusulas - Ex.: cdc e cc ao tratarem sobre a nulidade de cláusulas abusivas.
 Tartuce ainda leciona que o contrato hoje é constituído por uma soma de
fatores, e não mais pela vontade pura dos contratantes, sendo que outros
elementos de cunho particular irão influenciar o conteúdo do negócio.

3º) império dos contratos modelo ou estandardização contratual: cuida-se da


predominância dos contratos de adesão, padronizados. Com isso, a
autonomia da vontade não é mais princípio contratual. A vontade passa a ter
um papel secundário que muitas vezes se resume apenas a um simples "sim"
ou "não" (pegar ou largar). O fenômeno foi estudado com profundidade pelo
italiano enzo roppo.
12. Liberdade de contratar x Liberdade contratual
a) Liberdade de contratar: é a liberdade das partes para escolherem o momento de
contratar e principalmente com quem contratar. Via de regra é uma liberdade plena
(ou quase) - ex.: contratações com o poder público.
b) Liberdade contratual: é a liberdade quanto ao conteúdo do contrato. É a liberdade
que sofre maiores limitações.
 Flávio tartuce conceitua a autonomia privada como sendo o direito que a parte
possui de regulamentar seus próprios interesses (autorregulamentação contratual).
13.

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