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DOS CONTRATOS
TÍTULO I
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS
CAPÍTULO I
NOÇÃO GERAL DE CONTRATO
1- CONCEITO
Contrato é fonte de obrigação. Os fatos humanos que o CC 2002 considera
geradores de obrigação são:
a) Contratos
b) Declarações unilaterais de vontade
c) Atos ilícitos dolosos ou culposos
Contrato é o acordo de vontades que tem por fim criar, modificar ou extinguir
direitos. Constitui o mais expressivo modelo de negócio jurídico bilateral. Trata-se, pois,
de ato jurídico bilateral (ou plurilateral), dependente de pelo menos duas declarações de
vontade, cujo objetivo é a criação, a alteração ou até mesmo a extinção de direitos e
deveres. Nesse contexto, é ato jurídico em sentido amplo, em que há o elemento norteador
da vontade humana que pretende um objetivo de cunho patrimonial (constitui negócio
jurídico por excelência).
2- CONDIÇÕES DE VALIDADE
Os requisitos ou condições de validade são de duas espécies:
III) Forma prescrita ou não defesa em lei. Em regra, a forma é livre, a não ser
nos casos em que a lei determina uma forma específica para dar mais segurança
ao negócio.
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Ex.: A compra e venda torna-se obrigatória desde que as partes acordem no objeto e no
preço, independentemente da entrega da coisa.
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Ex.: Contrato com pessoa a declarar: tal contrato, regulado a partir do art. 467 do CC,
traduz a hipótese em que, no momento da conclusão do contrato, uma das partes ressalva
a faculdade de indicar terceiro que deve adquirir os direitos e assumir as obrigações
contratuais. Nesse contrato há uma cláusula declarando que quem vai assumir o ônus do
contrato é outra pessoa, que não os contraentes. Tal figura é muito comum no contrato
preliminar.
Ex.: Promessa de fato de terceiro: regulada nos artigos 439 e 440 do CC, representa a
figura negocial pela qual determinada pessoa promete que uma determinada conduta
seja praticada por outrem, sob pena de responsabilização civil.
No Código Civil Brasileiro essa teoria encontra previsão expressa no art. 608, o
qual dispõe que "aquele que aliciar pessoas obrigadas em contrato escrito a prestar
serviço a outrem pagará a este a importância que ao prestador de serviço, pelo ajuste
desfeito, houvesse de caber durante dois anos".
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Ex.: Caso Zeca Pagodinho x Nova Schin x AMBEV. No contrato entre Zeca e Nova
Schin, a AMBEV se intrometeu, violando o primeiro contrato. A AMBEV, terceiro que
interferiu no contrato, será responsabilizada, mesmo se isso ocorrer após o fim do
contrato, porque a boa-fé vale antes, durante e após o contrato (dever anexo).
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Obs.: Esses deveres anexos decorrentes da boa-fé objetiva são tão relevantes que o
enunciado 24 da primeira jornada de direito civil estabeleceu que, em caso de
descumprimento, a responsabilidade civil é objetiva.
Obs.: Fase pós-contratual. Após a execução do contrato também deve existir boa-fé.
Ex.: Zeca pagodinho x Nova Schin x AMBEV.
IMPORTANTE: Não se pode confundir boa-fé objetiva com boa-fé subjetiva. A boa-
fé subjetiva não é um princípio, mas sim um estado psicológico. Para examinara a boa-
fé subjetiva, deve-se analisar se a pessoa pensava, sinceramente, que agia ou não de
acordo com o direito (é examinado se a pessoa tinha boas ou más intenções).
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Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social
do contrato. (Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019);
Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o
princípio da intervenção mínima e a excepcionalidade da revisão
contratual. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
No nível extrínseco, significa que todo contrato deve respeitar valores sociais
constitucionalmente tutelados. Existem dois aspectos principais: Proteção dos direitos
coletivos e difusos (a exemplo da função socioambiental do contrato); Tutela externa do
crédito (possibilidade de o contrato gerar efeitos perante terceiros ou de condutas de
terceiros repercutirem no contrato). Exemplos de providências relativas ao nível
extrínseco: Contrato deve respeitar o meio ambiente; Empresa “A” resolve contratar
uma empresa de publicidade, a empresa B. Internamente, o contrato estava perfeito e
adequado. Ocorre, porém, que o objeto do contrato era publicidade enganosa. Trata-se
de contrato que viola a sua função social, no aspecto externo.
Súmula: 302 - STJ É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde
que limita no tempo a internação hospitalar do segurado. (FERE A
FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO)
1) DUTY TO MITIGATE THE LOSS: conceito norte americano que traduz a regra de
que a parte, na relação obrigacional, deve atuar em respeito à boa-fé para atenuar
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o dano evitável. Trata do dever imposto ao credor de mitigar suas perdas, ou seja, o
próprio prejuízo. A vítima tem o dever, portanto, de fazer tudo o que pode para atenuar
o dano. Se a parte que teve a oportunidade de atuar não atuou, não ganha indenização
pelos danos que não evitou. Segundo o enunciado 169 do CJF/STJ, aprovado na III
Jornada de Direito Civil, “o princípio da boa-fé objetiva deve levar o credor a evitar o
agravamento do próprio prejuízo”. A ilustrar, pode ser citada a situação de
inadimplemento em contrato bancário, ocasião em que, segundo a figura parcelar da
boa-fé objetiva, não poderia a instituição financeira permanecer inerte, aguardando que,
diante da alta taxa de juros prevista no instrumento contratual, a dívida atinja montantes
astronômicos.
Ex.: STF – Marido celebrou compromisso de compra e venda sem anuência da esposa.
A esposa, entretanto, informou em uma ação que concordou tacitamente com a venda.
Dezessete anos após a sua celebração pretendeu anular o negócio, o que foi afastado
pela presença dos comportamentos contraditórios entre si.
4) TU QUOQUE: a frase completa é “tu quoque brute, mi fille” (até tu, Brutus, meu
filho). É o conceito que, à luz especialmente do princípio da confiança, impede, na
relação contratual que a parte seja surpreendida, uma vez que a surpresa viola a
confiança (Julio César se surpreendeu ao ver que seu filho Brutus o esfaqueava).
Significa que um contratante que violou uma norma jurídica não poderá, sem a
caracterização do abuso de direito, aproveitar-se dessa situação anteriormente criada
pelo desrespeito. Desse modo, está vedado que alguém faça contra o outro o que não
faria contra si mesmo (regra de ouro). A ilustrar o conceito parcelar, pode-se citar o
entendimento que reputou não poder o contratante deixar de cumprir o contrato, com
base na exceção do contrato não cumprido, se dá causa ao inadimplemento da parte
contrária.
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perde um direito por essa supressão, surge um direito a favor do devedor, por meio da
surrectio, direito este que não existia juridicamente até então, mas que decorre da
efetividade social, de acordo com os costumes. Supressio e surrectio constituem duas
faces da mesma moeda.
5- PACTOS SUCESSÓRIOS
Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva, consoante dispõe o
art. 426 do CC (proibição ao pacta corvina).
6- FORMAÇÃO DO CONTRATO
Obs.: No CDC vigora o princípio da vinculação com maior efetividade do que no CC.
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III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta
dentro do prazo dado;
IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento
da outra parte a retratação do proponente.
Então, a proposta, como regra, obriga o proponente. Tal regra comporta uma
série de exceções.
- Pessoas presentes: são aquelas que mantêm contato imediato e simultâneo (também no
telefone, por meio de dispositivos de mensagens instantâneas. Tem que haver
simultaneidade).
Entre ausentes, o contrato deve ser reputado como concluído a partir do momento
em que a aceitação for expedida (art. 434 do CC). Dessa maneira, conclui Flávio Tartuce
que o Código Civil em vigor, assim como o anterior, continua adotando a teoria da
agnição – ou da informação –, na subteoria da expedição, como regra geral.
Entretanto, tal regra comporta exceções, sendo certo que o Código Civil ainda
adota a teoria da agnição, na subteoria da recepção, pela qual o contrato é formado
quando a proposta é aceita e recebida a resposta pelo proponente. Essa teoria deve ser
aplicada nos seguintes casos: a) se antes da aceitação ou com ela chegar ao proponente a
retratação do aceitante; b) se o proponente se houver comprometido a esperar resposta,
hipótese em que as partes convencionaram a aplicação da subteoria da recepção; c) se a
resposta não chegar no prazo convencionado (outra hipótese em que houve convenção
entre as partes da aplicação da subteoria da recepção).
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IMPORTANTE!!! Interpretando o art. 434, I c/c o art. 433, podemos concluir que, em
verdade, o contrato não se forma quando a aceitação é expedida, mas sim quando é
recebida sem arrependimento do aceitante.
IMPORTANTE: Por tais comandos legais, é correto afirmar que o Código Civil de 2002
adotou tanto a teoria da expedição quanto a da recepção, sendo a primeira regra e a
segunda exceção, de acordo com a própria organização da matéria no Código Civil em
vigor.
7- LUGAR DA CELEBRAÇÃO
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Ex.: Estou em Vitória e faço, por e-mail, uma proposta de contrato de promessa de
locação da casa de João em Diamantina, para o carnaval. João responde aceitando a
proposta. Considera-se celebrado o contrato de promessa de locação aqui em Vitória,
onde foi PROPOSTO.
8- IMPOSSIBILIDADE DA PRESTAÇÃO
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CAPÍTULO II
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
Unilaterais são os contratos que criam obrigações unicamente para uma das
partes, como a doação pura por exemplo.
Bilaterais são os que geram obrigações para ambos os contratantes, como, por
exemplo, a compra e venda. Os contratantes são simultânea e reciprocamente credores e
devedores uns dos outros, produzindo o negócio direitos e deveres para ambos os
envolvidos, de forma proporcional. Contêm obrigações recíprocas, por isso denominados
de sinalagmáticos.
Obs.: Essa classificação (unilaterais e bilaterais) não é feita sob o prisma da formação
dos contratos (quantidade de pessoas), mas sim sobre quais pessoas recaem os efeitos
que acarretam!!!! Os que geram obrigações recíprocas são bilaterais e os que geram
obrigações unicamente para um dos contratantes são unilaterais.
Trata-se de uma defesa indireta de mérito que uma parte, cobrada em sua
prestação, opõe à outra que ainda não cumpriu a sua prestação (exceptio non adimplenti
contractus).
Quando as prestações forem sucessivas, não pode ser oposta pela parte a que caiba
a prestação inicial. Se ambas se mostram inadimplentes, impõe-se a resolução do contrato,
com restituição das partes ao estado anterior.
#Se uma parte cumpriu com defeito sua prestação, a outra pode opor a exceção de
contrato não cumprido?
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Em alguns contratos, a cláusula solve et repete não tem validade, como por
exemplos, nos casos previstos nos artigos 424 do Código Civil e 51 do Código de Defesa
do Consumidor.
Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem
a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do
negócio.
Obs.: Por isso se diz que todo contrato bilateral contém uma CLÁUSULA
RESOLUTIVA TÁCITA (inadimplemento).
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IMPORTANTE: A resilição é tida como dissolução do contrato por vontade das partes.
Receberá o nome de denúncia, quando unilateral, e distrato, quando bilateral. A
resolução, por sua vez, é nomenclatura alusiva à extinção do contrato por
descumprimento, ou seja, inadimplemento. Doutrina tradicional reserva o termo rescisão
às hipóteses de invalidade do contrato (vícios nulificantes ou anuláveis).
A quitação vale, porém, qualquer que seja a sua forma. Não precisa obedecer a
mesma forma do contrato. Entretanto, o art. 320 CC exige que a quitação tenha a
assinatura do credor, devendo assim ser escrita.
Gratuitos ou benéficos são os contratos em que apenas uma das partes aufere
benefício ou vantagem. Uma das partes é onerada, proporcionando à outra uma vantagem
sem qualquer contraprestação. Deve ser observada a norma do art. 114 do CC, que
enuncia a interpretação restritiva dos negócios benéficos. Ex.: Doações puras.
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Nos que tem por objeto coisas futuras, o risco pode referir-se:
Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos
futuros, cujo risco de não virem a existir um dos contratantes assuma,
terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi
prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa,
ainda que nada do avençado venha a existir.
b) À sua quantidade (emptio rei speratae, ou venda da esperança com coisa esperada).
Art. 459. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras,
tomando o adquirente a si o risco de virem a existir em qualquer
quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde
que de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a coisa
venha a existir em quantidade inferior à esperada.
Parágrafo único. Mas, se da coisa nada vier a existir, alienação não
haverá, e o alienante restituirá o preço recebido.
Se vier a existir alguma quantidade, por menor que seja, o contrato deve ser
cumprido, tendo o vendedor o direito a todo preço ajustado.
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2- QUANTO À FORMAÇÃO
Podem ser paritários, de adesão ou contrato-tipo.
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admite discussão sobre o seu conteúdo. Em geral são deixados espaços em branco, a
serem preenchidos pelo concurso de vontade.
3- QUANTO AO MOMENTO
4- QUANTO AO AGENTE
Podem ser personalíssimos ou impessoais.
5- QUANTO AO MODO
Podem ser principais, acessórios ou derivados (sub-contratos).
6- QUANTO À FORMA
Podem ser solenes, não solenes, formais e informais.
Solenes são os que exigem solenidade pública (a exemplo do art. 108 do CC, que
exige escritura pública para alienação de imóveis com valor superior a trinta vezes o
maior salário mínimo vigente). Quando esta é da substância do ato, diz-se que é ad
solemnitatem.
Formais são aqueles que exigem qualquer formalidade, caso da forma escrita.
Ex.: o contrato de fiança deve ser celebrado por escrito (art. 819 do CC).
7- QUANTO AO OBJETO
Podem ser preliminares ou definitivos.
Definitivos são os contratos que têm objetos diversos, de acordo com a natureza
de cada um.
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8- QUANTO À DESIGNAÇÃO
Podem ser:
a) Nominados, tidos como aqueles que têm designação própria. Inominados, por
sua vez, são os que não têm.
b) Típicos, tidos como aqueles regulados pela lei, ou seja, os que têm na lei seu perfil
traçado (estatuto legal suficiente). Atípicos, por outro lado, são os que resultam
de um acordo de vontades, não tendo suas características e requisitos regulados
na lei.
Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas
as normas gerais fixadas neste Código.
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CAPÍTULO III
DA ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO
Ocorre quando uma pessoa convenciona com outra que esta concederá uma
vantagem ou um benefício em favor de terceiro, que não é parte do contrato. Constitui
EXCEÇÃO ao princípio da relatividade dos contratos.
O terceiro deve ser determinável, podendo ser futuro, como a prole eventual. A
gratuidade do benefício é essencial, não podendo ser imposta contraprestação ao terceiro.
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CAPÍTULO IV
DA PROMESSA DE FATO DE TERCEIRO
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CAPÍTULO V
DOS VÍCIOS REDIBITÓRIOS
1- CONCEITO
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Obs.: Diferentemente do que fez com a evicção, o CC não previu a garantia do vício
redibitório no caso da realização de hasta pública.
2- AÇÕES EDILÍCIAS
Ações edilícias são as ações de que dispõe o adquirente da coisa com vício
redibitório. Existem duas espécies de ações edilícias:
Obs.: Não confundir os prazos do CDC (30 para serviços e produtos não duráveis,
ou 90 para serviços e produtos duráveis) com os prazos do CC (art. 445: Garantia
legal).
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IMPORTANTE!!! Segundo o art. 445, §1º, do CC, nas hipóteses em que o vício, por
sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazo decadencial conta-se da data
da ciência do vício:
1 ano → imóvel
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3- REQUISITOS
4- DISCIPLINA NO CDC
O CDC considera vício redibitório tanto os defeitos ocultos como também os
aparentes ou de fácil constatação. Os prazos são decadenciais.
Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil
constatação caduca em:
I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos
não duráveis;
II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de
produtos duráveis.
§ 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega
efetiva do produto ou do término da execução dos serviços.
§ 2° OBSTAM a decadência:
I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor
perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa
correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca;
III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.
§ 3° Tratando-se de vício OCULTO, o prazo decadencial inicia-se
no momento em que ficar evidenciado o defeito.
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CAPÍTULO VI
DA EVICÇÃO
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Prescreve o art. 455: “Se parcial, mas considerável, for a evicção, poderá o evicto
optar entre a rescisão do contrato e a restituição da parte do preço correspondente ao
desfalque sofrido. Se não for considerável, caberá somente direito a indenização.”
E de acordo com o art. 450, parágrafo único, do CC: “o preço, seja a evicção total
ou parcial, será o do valor da coisa, na época em que se evenceu, e proporcional ao
desfalque sofrido, no caso de evicção parcial.” Desse modo, o preço será calculado pelo
valor do tempo da sentença judicial ou decisão administrativa que ocasionou a
evicção, e não pelo do tempo da celebração do contrato.
2- REQUISITOS DA EVICÇÃO
São os seguintes:
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CAPÍTULO VII
DA EXTINÇÃO DO CONTRATO
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c.1) Bilateral: art. 472 - Trata-se do distrato, que é o acordo de vontade que tem
por fim extinguir um contrato anteriormente celebrado.
c.2) Unilateral: art. 473 - Trata-se da denúncia, que deve ser seguida de um aviso
prévio. A resilição unilateral independe de pronunciamento judicial e produz
efeitos ex nunc, não retroagindo. Em regra, a resilição unilateral não gera
responsabilização civil da parte que exerce esse direito potestativo. No sentido:
“a simples resilição do contrato, a exemplo do que ocorre com o mero
inadimplemento contratual, não é suficiente para caracterizar danos morais”
(STJ, REsp 1.630.665/BA, Terceira Turma, rel. Min. Moura Ribeiro, j.
23.05.2017). A resilição unilateral, pelo que consta do art. 473 do CC, só é
prevista em hipóteses excepcionais, como, por exemplo, na locação, na
prestação de serviços, no mandato, no comodato, no depósito, na doação, na
fiança, operando-se mediante denúncia notificada à outra parte.
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TÍTULO II
DOS CONTRATOS EM ESPÉCIE
CAPÍTULO I
DA COMPRA E VENDA
SEÇÃO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
1- INTRODUÇÃO
É o contrato pelo qual alguém (o vendedor) se obriga a transferir ao comprador
o domínio de coisa móvel ou imóvel mediante uma remuneração, denominada preço.
Portanto, trata-se de contrato translativo, mas que por si só não gera a transmissão de
propriedade.
2- NATUREZA JURÍDICA
a) bilateral ou sinalagmático: implica em obrigações assumidas por ambas as partes.
b) oneroso: gera vantagem e sacrifício patrimonial para ambas as partes.
c) comutativo: já sabem as partes de antemão as vantagens que irão obter
(diferentemente dos casos de contratos aleatórios).
3- ELEMENTOS ESSENCIAIS
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3.1 CONSENTIMENTO:
Deve ser consentimento livre e desembaraçado, sob pena de ser anulável (erro,
dolo, coação, lesão e estado de perigo). A ação anulatória deve ser intentada em quatro
anos (prazo decadencial).
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IMPORTANTE: Se a pessoa somente foi reconhecida como filha após a alienação ter
acontecido, ela não poderá pleitear a anulação com base no art. 496 do Código Civil.
Dessa forma, o reconhecimento de paternidade post mortem não invalida a alteração de
contrato social com a transferência de todas as cotas societárias realizada pelo genitor a
outro descendente. STJ. 4ª Turma. REsp 1356431-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 8/8/2017 (Info 611).
IMPORTANTE: Para que a venda de ascendente para descendente seja anulada (art.
496 do CC), é imprescindível que o autor da ação anulatória comprove, no caso
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2ª) Compra e venda entre marido e mulher: É possível quanto aos bens excluídos
da comunhão desde que não ocorra simulação, fraude contra credores ou fraude à
execução. Ou seja, os bens pertencentes ao patrimônio comum não podem ser objeto de
compra e venda entre marido e mulher. Se um bem que já fizer parte da comunhão for
vendido, a venda é nula, por impossibilidade do objeto (art. 166, II, do CC).
3ª) Venda de bens por pessoa casada: O art. 1.647 do CC estabelece a necessidade de
outorga conjugal (uxória ou marital). Essa necessidade se dá apenas em relação a
bens IMÓVEIS (seja para venda, seja para alienação, seja para doação). Quando a
compra e venda se faz sem o consentimento, torna-se anulável (o prazo da ação
anulatória é de dois anos, contados do término da sociedade conjugal).
IMPORTANTE: Para a 3ª Turma do STJ, a regra do art. 1.647, I, do CC, pode ser
aplicada à união estável, desde que tenha sido dada publicidade aos eventuais
adquirentes a respeito da existência dessa união estável. STJ. 3ª Turma. REsp 1424275-
MT, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 4/12/2014 (Info 554).
4ª) Compra e venda da parte indivisa de bem condominial: Não pode um condômino
em coisa indivisível vender a sua parte a estranhos, se outro condômino a quiser, tanto
por tanto (em igualdade de condições). O condômino a que não se der conhecimento da
venda poderá, depositando o preço, haver para si a parte vendida a estranhos, se o
requerer no prazo de 180 dias, sob pena de decadência. Como resta claro pela leitura do
art. 504 do CC, a restrição tem aplicação em casos de negócios jurídicos celebrados por
um dos condôminos com terceiros, em detrimento do direito de outros condôminos. Não
incide, portanto, para vendas entre os próprios condôminos. A venda da fração ideal de
cada condômino só depende do dono. Os demais condôminos têm direito de preferência
(ação de preempção ajuizada no prazo decadencial de 180 dias a contar da data em que
teve ciência da alienação). Se esse direito não for respeitado, dá ensejo à adjudicação
compulsória.
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Obs.: Aplica-se essa regra apenas ao condomínio tradicional e não ao edilício. Mas se o
apartamento pertencer a outras pessoas, estas devem ser notificadas para exercer sua
preferência legal.
5ª) Aquisição de bens por pessoa encarregada de zelar pelos interesses do vendedor.
Art. 497. Sob pena de nulidade, não podem ser comprados, ainda que
em hasta pública:
I - pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens
confiados à sua guarda ou administração;
II - pelos servidores públicos, em geral, os bens ou direitos da pessoa
jurídica a que servirem, ou que estejam sob sua administração direta ou
indireta;
III - pelos juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e outros
serventuários ou auxiliares da justiça, os bens ou direitos sobre que se
litigar em tribunal, juízo ou conselho, no lugar onde servirem, ou a que
se estender a sua autoridade;
IV - pelos leiloeiros e seus prepostos, os bens de cuja venda estejam
encarregados.
Parágrafo único. As proibições deste artigo estendem-se à cessão de
crédito.
3.2 PREÇO
O preço deve ser apreciável em dinheiro (se não for em dinheiro caracterizará
troca/permuta).
Pode ocorrer de ter sido ajustado um preço em dinheiro, mas o vendedor (credor)
aceita receber coisa diversa, ocorrendo a DAÇÃO EM PAGAMENTO (isso não
desnatura a compra e venda).
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O preço na compra e venda deve ser real, sério, de verdade. Apesar disso, não é
elemento do contrato de compra e venda que o preço seja justo. Nesse caso, se o preço
for excessivamente oneroso, o ordenamento confere as seguintes soluções:
3.3 OBJETO
É a coisa vendida.
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Obs.: A coisa deve ser de propriedade do vendedor, sob pena de caracterização de venda
a non domino (art. 1.268, §1º), realizada por aquele que não é seu dono. Na venda a
non domino, a eficácia do negócio jurídico fica submetida à posterior aquisição da coisa
pelo vendedor.
b) Bens personalíssimos
Obs.: A regra do art. 495 do CC é semelhante àquela prevista no art. 477 do CC, sendo
a do art. 495 mais rigorosa, pois exige a INSOLVÊNCIA do vendedor (a regra do
art. 495 é aplicada à compra e venda). Ambas têm como objetivo dar segurança ao
comprador (se a situação for inversa, também ao devedor).
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5- VENDAS ESPECIAIS
a) Venda por amostra (ou protótipo): Prevista no art. 484 do CC. É uma categoria
especial de compra e venda. Por ela, o comprador não vê a coisa, adquirindo-a com base
em amostra ou protótipo (é a compra por catálogo, por internet). Nessa modalidade de
compra e venda o vendedor assegura a qualidade da coisa. Assegura, pois, que a coisa
que será recebida terá as mesmas características da amostra. Havendo contradição
entre a amostra e a coisa, prevalece a amostra. Em suma, a venda por amostra, que
funciona como cláusula tácita, tem eficácia suspensiva, não ocorrendo o
aperfeiçoamento do negócio até ulterior tradição, com a qualidade esperada. Se os bens
não forem entregues conforme o modelo, amostra ou protótipo, poderá o contrato de
compra e venda ser desfeito (condição resolutiva). As questões envolvem o plano da
eficácia do contrato (terceiro degrau da Escada Ponteana).
Art. 484. Se a venda se realizar à vista de amostras, protótipos ou
modelos, entender-se-á que o vendedor assegura ter a coisa as
qualidades que a elas correspondem.
Parágrafo único. Prevalece a amostra, o protótipo ou o modelo, se
houver contradição ou diferença com a maneira pela qual se descreveu
a coisa no contrato.
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William Bossaneli Araújo – Atualizado por Leopoldo Martins Moreira Neto e Carlos Eduardo da Silva Limonge – maio 2020
todo (ex.: Chácara Vista Linda), sendo apenas enunciativa a referência às suas
dimensões, que não tem influência na fixação do preço. Na venda ad mensuram, o preço
é estipulado com base nas dimensões do imóvel, de forma que, se a área não corresponde
às dimensões dadas, cabe ação ex empto ou ex vendito para exigir a complementação
da área. Se esta não for possível, cabe o ajuizamento da ação redibitória (objetivando
a resolução do contrato) ou quanti minoris (objetivando o abatimento proporcional
do preço).
Art. 500. Se, na venda de um imóvel, se estipular o preço por medida
de extensão, ou se determinar a respectiva área, e esta não
corresponder, em qualquer dos casos, às dimensões dadas, o comprador
terá o direito de exigir o complemento da área, e, não sendo isso
possível, o de reclamar a resolução do contrato ou abatimento
proporcional ao preço.
§ 1o Presume-se que a referência às dimensões foi simplesmente
enunciativa, quando a diferença encontrada não exceder de UM
VIGÉSIMO da área total enunciada, ressalvado ao comprador o
direito de provar que, em tais circunstâncias, não teria realizado o
negócio.
§ 2o Se em vez de falta houver excesso, e o vendedor provar que tinha
motivos para ignorar a medida exata da área vendida, caberá ao
comprador, à sua escolha, completar o valor correspondente ao preço
ou devolver o excesso.
§ 3o Não haverá complemento de área, nem devolução de excesso,
se o imóvel for vendido como coisa certa e discriminada, tendo sido
apenas enunciativa a referência às suas dimensões, ainda que não
conste, de modo expresso, ter sido a venda ad corpus.
Obs.: Na venda por extensão (ad mensuram), a diferença não superior a 1/20 da área
total é irrelevante (admite-se uma variação de área de até 1/20, existindo uma presunção
relativa de que tal variação é tolerável pelo comprador).
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William Bossaneli Araújo – Atualizado por Leopoldo Martins Moreira Neto e Carlos Eduardo da Silva Limonge – maio 2020
o vendedor pode ir atrás da coisa com quem quer que esteja). Dentro do prazo da
retrovenda, o que o comprador tem é propriedade resolúvel. A retrovenda se
caracteriza como condição resolutiva expressa.
e) Pacto de melhor comprador: cláusula por meio da qual o vendedor guarda para si
o direito de desfazer a compra e venda, no prazo máximo de um ano, se encontrar um
melhor comprador. Essa cláusula especial não encontra previsão no CC.
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CAPÍTULO IV
DA DOAÇÃO
1- CONCEITO
É transferência de patrimônio por liberalidade. Pela doação, o doador transfere
do seu patrimônio bens ou vantagens para o donatário, sem a presença de qualquer
remuneração. Tem natureza contratual, sendo contrato benévolo, unilateral e gratuito. É
necessário o animus donandi, ou seja, intenção de fazer uma liberalidade, transferindo
bens, acarretando uma diminuição do patrimônio do doador. É ato inter vivos (art.538).
Art. 538. Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por
liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de
outra.
2- CARACTERÍSTICAS
a) Benéfico (lembrar que o contrato benéfico e a renúncia são objeto de interpretação
restritiva – art. 114). Em relação à doação modal ou com encargo, há polêmica. Isso
porque há quem entenda que o contrato é bilateral, uma vez que o encargo é um dever a
ser cumprido pelo donatário. Todavia, entende-se que o contrato é unilateral imperfeito,
porquanto o encargo não constitui uma contraprestação, um dever jurídico a fazer com
que o contrato seja sinalagmático. Constitui sim um ônus, que, não atendido, traz
consequências ao donatário.
b) Unilateral
c) Gratuito
Obs.: A doação com encargo ostenta a natureza de contrato oneroso, mesmo para quem
o vislumbra como unilateral imperfeito.
Obs.: A doação manual é real, não solene. O art. 541, parágrafo único, do CC
estabelece que, quando se tratar de bens móveis de pequeno valor, a doação não depende
de solenidade, sendo que a tradição aperfeiçoa a doação.
Art. 541. A doação far-se-á por escritura pública ou instrumento
particular.
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EXCEÇÃO: o doador responde por evicção e vício redibitório: (a) nas doações para
casamento com pessoa determinada e (b) nas doações remuneratórias.
3- PROMESSA DE DOAÇÃO
Discute-se muito em sede doutrinária e jurisprudencial a viabilidade jurídica da
promessa de doação, ou seja, a possibilidade de haver contrato preliminar unilateral que
vise a uma liberalidade futura. Flávio Tartuce não vê óbice na aceitação de tal promessa,
uma vez que não há no ordenamento jurídico qualquer dispositivo que a vede, não
contrariando esta figura negocial qualquer princípio de ordem pública, como, por
exemplo, o da função social dos contratos. Adotando em parte tal premissa, na VI
Jornada de Direito Civil, foi aprovado o enunciado 549: “a promessa de doação no
âmbito da transação constitui obrigação positiva e perde o caráter de liberalidade
previsto no art. 538 do Código Civil”. O futuro beneficiário é investido no direito de
exigir o cumprimento da promessa de doação da coisa, pois a intenção de praticar a
liberalidade manifestou-se no momento da sua celebração. Parece prevalecer, no âmbito
do STJ, a resposta afirmativa quanto à possibilidade de se exigir o cumprimento da
promessa de doação (STJ, REsp 1.355.007/SP, Terceira Turma, rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, j. 27.06.2017).
4- ESPÉCIES DE DOAÇÃO
a) Pura e simples (típica): é aquela em que o doador não impõe nenhuma restrição ou
encargo ao beneficiário, nem subordina a eficácia do contrato a qualquer condição.
b) Doação onerosa (doação modal) é a doação com encargo. Dá-se sempre que o
doador crava a doação com uma cláusula em seu favor, em favor de terceiro ou da
coletividade.
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Obs.: Essa doação permite a alegação de evicção e vício redibitório (por se tratar de
forma de doação onerosa). Não se revogam por ingratidão as doações puramente
remuneratórias (art. 564, I, do CC). As doações remuneratórias de serviços feitos ao
ascendente não estão sujeitas a colação (art. 2.011 do CC).
e) Doação feita ao nascituro: valerá sendo aceita pelo seu representante legal (art. 542
do CC). A aceitação por parte do representante legal do nascituro está no plano da
validade do contrato. Além disso, a eficácia do contrato depende do nascimento com
vida do donatário, havendo uma doação condicional, segundo a posição prevalecente.
g) Doação em favor de entidade futura (art. 554 do CC). A lei possibilita a doação a
uma pessoa jurídica que ainda não exista, condicionando a sua eficácia à regular
constituição da entidade, nos termos do art. 554 do CC em vigor. Essa doação caduca
se a entidade não for constituída no prazo de dois anos (trata-se de prazo decadencial).
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Há, na espécie, uma doação sob condição suspensiva, pois o negócio fica pendente até
a regularização da empresa.
Obs.: Decorre disso que toda doação de ascendente para descendente deverá ser
colacionada. Se não for, caracterizará bens sonegados e isso gera a perda do direito do
herdeiro sobre aquele bem.
i) Doação conjuntiva (art. 551 do CC) é a doação que beneficia duas ou mais
pessoas. Conta com a presença de dois ou mais donatários. Incide, em regra, presunção
relativa de divisão igualitária da coisa em quotas iguais entre os donatários. Entretanto,
o instrumento contratual poderá trazer previsão em contrário. Por regra, não há direito
de acrescer entre os donatários na doação conjuntiva. Dessa forma, falecendo um deles,
sua quota será transmitida diretamente a seus sucessores e não ao outro donatário. Mas
o direito de acrescer pode estar previsto no contrato (direito de acrescer convencional)
ou na lei (direito de acrescer legal). O art. 551, parágrafo único, do CC enuncia uma
hipótese de direito de acrescer legal (quando donatários forem marido e mulher).
j) Doação com cláusula de reversão (art. 547 do CC) é aquela em que o doador estipula
que os bens doados voltem ao seu patrimônio se sobreviver ao donatário. Trata-se esta
cláusula de uma condição resolutiva expressa, demonstrando o intento do doador de
beneficiar somente o donatário e não os seus sucessores, sendo, portanto, uma cláusula
intuitu personae que veda a doação sucessiva. O pacto de reversão só tem eficácia se o
doador sobreviver ao donatário. Se falecer antes deste, a condição não ocorre e os bens
doados incorporam-se ao patrimônio do donatário definitivamente, podendo transmitir-
se, aos seus próprios herdeiros, com a sua morte. Deve ser expressa.
5- RESTRIÇÕES LEGAIS
a) Doação pelo devedor já insolvente, ou por ele reduzido a insolvência: configura
fraude contra credores. Sua validade será impugnada por meio de ação pauliana.
b) Doação da parte inoficiosa (doação inoficiosa): é aquela que invade a legítima dos
herdeiros necessários, sendo vedada pelo ordenamento jurídico. O excesso na doação
(invasão da legítima) é apurado levando-se em conta o valor do patrimônio do doador ao
tempo da doação, e não o patrimônio estimado no momento da abertura da sucessão do
doador (STJ. 2ª Seção. AR 3493-PE, Rel. Min. Massami Uyeda, Rel. p/ Acórdão Ministro
Luis Felipe Salomão, julgado em 12/12/2012 - Info 512). A doutrina costuma utilizar a
seguinte frase para explicar essa situação jurídica: o posterior empobrecimento do doador
não anula as doações feitas quando ainda era homem rico. A ação cabível para se obter a
anulação da doação inoficiosa é a ação de querela inoficiosa (ação de redução), que
poderá ser proposta apenas pelos herdeiros necessários do doador, sujeitando-se ao prazo
prescricional de 10 anos (prazo geral do CC), segundo posição do STJ (REsp 1.321.998,
Terceira Turma, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 07.08.2014).
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William Bossaneli Araújo – Atualizado por Leopoldo Martins Moreira Neto e Carlos Eduardo da Silva Limonge – maio 2020
IMPORTANTE: Mesmo que o herdeiro necessário tenha cedido sua parte na herança,
ele terá legitimidade para a ação de anulação? SIM. O herdeiro que cede seus direitos
hereditários continua tendo legitimidade para pleitear a declaração de nulidade de doação
inoficiosa realizada pelo autor da herança em benefício de terceiros. STJ. 3ª Turma. REsp
1361983-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/3/2014 (Info 539).
A nulidade recai sobre a totalidade dos bens. Não haverá restrição se o doador
preservar alguma fonte de renda ou reservar para si o usufruto de determinados bens.
IMPORTANTE!!! Essa doação não é nula, mas sim anulável pelo outro cônjuge ou
por seus herdeiros necessários. Não pode ser declarada de ofício pelo juiz.
Obs.: Cúmplice seria a pessoa que manteve relação sexual eventual com o doador, não
apenas o concubino. Flávio Tartuce, criticando a redação do dispositivo, sustenta que
sua aplicação somente será possível se o doador não viver em união estável com o
donatário, havendo uma doação a concubino (concubinato impuro), de bem comum, na
vigência do casamento.
6- ELEMENTOS DA DOAÇÃO
Os elementos são: sujeito, objeto, consentimento e forma.
a) Sujeito:
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William Bossaneli Araújo – Atualizado por Leopoldo Martins Moreira Neto e Carlos Eduardo da Silva Limonge – maio 2020
b) Objeto:
Obs.: É possível até mesmo doação em prestações periódicas. Em não havendo prazo
previsto no instrumento contratual, extingue-se com a morte do doador. O prazo máximo
que se pode prever é até a morte do donatário, sendo que, se o doador morrer antes do
donatário, quem paga é o espólio.
c) Consentimento:
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d) Forma:
7- REVOGAÇÃO DA DOAÇÃO
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do CC, sendo excesso de formalismo exigir a notificação judicial. STJ. 3ª Turma. REsp
1622377/MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/12/2018.
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CAPÍTULO V
DA LOCAÇÃO DE COISAS
1- CONCEITO
Locação de coisas é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a ceder à outra,
por TEMPO DETERMINADO OU NÃO, o uso e gozo de coisa não fungível, mediante
certa retribuição, denominada aluguel.
Art. 565. Na locação de coisas, uma das partes se obriga a ceder à
outra, por TEMPO DETERMINADO OU NÃO, o uso e gozo de
coisa não fungível, mediante certa retribuição.
2- CARACTERÍSTICAS
3- ELEMENTOS ESSENCIAIS
a) Objeto: pode ser coisa móvel ou imóvel. O bem móvel deve ser INFUNGÍVEL,
uma vez que, se for fungível temos um contrato de mútuo. Admite-se, no entanto
a locação de coisa móvel fungível quando o seu uso tenha sido cedido para
ornamentação (ad pompam vel ostentationem).
4- OBRIGAÇÕES DO LOCADOR
São as especificadas no art. 566 CC:
Art. 566. O locador é obrigado:
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5- OBRIGAÇÕES DO LOCATÁRIO
Previstas no art. 569 CC.
Art. 569. O locatário é obrigado:
I - a servir-se da coisa alugada para os usos convencionados ou
presumidos, conforme a natureza dela e as circunstâncias, bem como
tratá-la com o mesmo cuidado como se sua fosse;
II - a pagar pontualmente o aluguel nos prazos ajustados, e, em falta de
ajuste, segundo o costume do lugar;
III - a levar ao conhecimento do locador as turbações de terceiros, que
se pretendam fundadas em direito;
IV - a restituir a coisa, finda a locação, no estado em que a recebeu,
salvas as deteriorações naturais ao uso regular.
6- DISPOSIÇÕES COMPLEMENTARES
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7- LOCAÇÃO DE PRÉDIOS
O CC 2002 trata da locação de bens móveis e imóveis. Em relação aos últimos,
a atual codificação rege as locações imobiliárias que não estão sujeitas à Lei 8.245/91
(Lei de Locações). Esta lei trata da locação de imóveis urbanos, levando em conta a
destinação do imóvel. Em sendo assim, se o imóvel for destinado para a residência,
indústria, comércio ou prestação de serviços, será regido pela lei especial. O art. 1º,
parágrafo único, da Lei de Locações proclama continuarem regidos pelo CC as locações
de imóveis de propriedade da União, Estados e Municípios, das vagas de garagem
autônomas, de espaço destinado a publicidade, de apart-hoteis, hotéis residências ou
equiparados, e o arrendamento mercantil. As normas do CC têm aplicação restrita a
estes imóveis.
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CAPÍTULO VI
DO EMPRÉSTIMO
SEÇÃO I
DO COMODATO
1- CONCEITO
O contrato de empréstimo pode ser conceituado como sendo o negócio jurídico
pelo qual uma pessoa entrega uma coisa a outra, de forma gratuita, obrigando-se esta a
devolver a coisa emprestada ou outra de mesma espécie e quantidade. O negócio em
análise é exemplo claro de contrato unilateral e gratuito, abrangendo duas espécies: o
comodato e o mútuo. O comodato é, portanto, espécie do gênero empréstimo.
Comodato é o empréstimo gratuito de coisas NÃO fungíveis. Perfaz-se com a
tradição do objeto (contrato real). O fato de o comodato se aperfeiçoar com a entrega
da coisa emprestada desloca a tradição do plano da eficácia – terceiro degrau da Escada
Ponteana – para o plano da validade – segundo degrau. O comodato é, dessa forma, o
empréstimo para uso (enquanto o mútuo é empréstimo para consumo).
2- CARACTERÍSTICAS
Três são suas características essenciais:
Obs.: Tanto o possuidor direto como o indireto tem direito à proteção possessória contra
terceiros, e, também, um contra o outro.
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É contrato NÃO SOLENE E INFORMAL. A lei não exige forma para sua
validade, podendo ser feito até verbalmente.
EXCEÇÃO: (art. 580 do CC) – comodato de bens pertencentes a pessoas que estão sob
tutela ou curatela depende de autorização especial do juiz.
IMPORTANTE!!! O comodante não precisa ser o dono do bem para fazer comodato,
bastando, para tanto, ter o uso e o gozo do bem (Ex.: Usufrutuário, enfiteuta).
3- OBRIGAÇÕES DO COMODATÁRIO
a) Conservar a coisa como se fosse sua
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4- OBRIGAÇÕES DO COMODANTE
a) Aguardar o término do contrato para ter a coisa de volta.
5- EXTINÇÃO DO COMODATO
a) Pelo advento do termo convencionado ou pela utilização da coisa de acordo com
a finalidade para que foi emprestada.
b) Pela resolução, em caso de descumprimento pelo comodatário de suas
obrigações.
c) Por sentença, a pedido do comodante, provada a necessidade imprevista e
urgente.
d) Pela morte do comodatário, apenas se o comodato foi celebrado intuito personae.
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SEÇÃO II
DO MÚTUO
1- CONCEITO
O mútuo é o empréstimo de COISAS FUNGÍVEIS, pela qual o mutuário
obriga-se a restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero,
qualidade e quantidade. É empréstimo para consumo. Trata-se, em regra, de contrato
unilateral e gratuito, exceção feita para o mútuo oneroso. O exemplo típico envolve o
empréstimo de dinheiro, uma vez que o mútuo somente terá como objeto bens móveis,
pois somente esses podem ser fungíveis (art. 85 do CC).
Art. 586. O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O mutuário é
obrigado a restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo
gênero, qualidade e quantidade.
Por conta deste, que se torna proprietário, correm todos os riscos dela desde a
tradição.
Art. 587. Este empréstimo TRANSFERE O DOMÍNIO da coisa
emprestada ao mutuário, por cuja conta correm todos os riscos dela
desde a tradição.
3- CARACTERÍSTICAS
a) Contrato REAL: aperfeiçoa-se com a entrega da coisa emprestada.
b) É tratado pelo Código Civil como CONTRATO GRATUITO, embora
empréstimo de dinheiro seja em regra oneroso, com estipulação de juros, sendo
por isso denominado mútuo feneratício.
c) É contrato unilateral, porque, entregue a coisa, quando se aperfeiçoa, as
obrigações recaem somente sobre o mutuário.
d) É contrato NÃO SOLENE E INFORMAL (de forma livre).
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4- DISPOSIÇÕES COMPLEMENTARES
De acordo com o art. 588 do CC, o mútuo feito a pessoa menor, sem prévia
autorização daquele sob cuja guarda estiver, não pode ser reavido nem do mutuário, nem
de seus fiadores. Trata-se, portanto, de caso de ineficácia do negócio, pois a obrigação é
natural ou incompleta: a dívida existe, mas não há a correspondente responsabilidade
(“Schuld sem Haftung”).
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CAPÍTULO IX
DO DEPÓSITO
1- CONCEITO
É o contrato pelo qual um dos contratantes (depositário) recebe um objeto móvel
e corpóreo, para guardar, até que o depositante o reclame. A sua principal finalidade é a
GUARDA da coisa alheia. De acordo com a manifestação de vontade, o depósito pode
ser classificado em voluntário ou necessário (ou obrigatório), subdividindo-se este último
em legal e miserável.
2- CARACTERÍSTICAS
a) É CONTRATO REAL (exige a tradição).
b) Temporário.
c) Gratuito, exceto se houver convenção em contrário; se resultante de atividade
negocial; ou se o depositário o praticar por profissão.
Art. 628. O contrato de depósito é gratuito, exceto se houver
convenção em contrário, se resultante de atividade negocial ou se o
depositário o praticar por profissão.
Parágrafo único. Se o depósito for oneroso e a retribuição do
depositário não constar de lei, nem resultar de ajuste, será determinada
pelos usos do lugar, e, na falta destes, por arbitramento.
3- ESPÉCIES
a) Voluntário: resulta do acordo de vontades.
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c) Regular: é o que recai sobre coisa infungível, que deve ser restituída.
4- OBRIGAÇÕES DO DEPOSITÁRIO
a) Guardar e conservar a coisa depositada com o cuidado e diligência que costuma
ter com o que lhe pertence.
Art. 629. O depositário é obrigado a ter na guarda e conservação da
coisa depositada o cuidado e diligência que costuma com o que lhe
pertence, bem como a restituí-la, com todos os frutos e acrescidos,
quando o exija o depositante.
b) Restituir a coisa, com seus frutos e acrescidos, quando o exija o depositante, ainda
que o contrato fixe prazo para restituição.
Obs.: Não estará obrigado a fazê-lo se tiver direito de retenção pelo valor das despesas e
prejuízos advindos do depósito.
Art. 644. O depositário poderá reter o depósito até que se lhe pague a
retribuição devida, o líquido valor das despesas, ou dos prejuízos a que
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CAPÍTULO X
DO MANDATO
1- CONCEITO
Opera-se o mandato quando alguém recebe de outrem poderes para em seu
nome, praticar atos ou administrar interesses. Trata-se de negócio jurídico de
representação.
2- PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
3- ESPÉCIES DE REPRESENTANTES
a) legais (pais, tutores e curadores)
b) judiciais (nomeados pelo juiz)
c) convencionais (recebem procuração para agir em nome do mandante)
4- NATUREZA JURÍDICA
a) é contrato, porque depende de aceitação, que pode ser expressa ou tácita (pelo começo
de execução).
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d) é NÃO SOLENE e INFORMAL, por dispensar, como regra, escritura pública, e ser
admitido o mandato tácito e o verbal.
Art. 656. O mandato pode ser EXPRESSO ou TÁCITO, VERBAL
ou ESCRITO.
6- REQUISITOS DA PROCURAÇÃO
Encontram-se no §1º do art. 654 do CC:
Art. 654.
§ 1o O instrumento particular deve conter a indicação do lugar onde
foi passado, a qualificação do outorgante e do outorgado, a data e
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A outorga do mandato está sujeita à forma exigida por lei para o ato ser praticado.
Assim, a procuração outorgada para a venda de imóvel cujo valor supere o montante
correspondente a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no país (art. 108 do CC)
deve observar a forma pública.
Art. 657. A outorga do mandato está sujeita à forma exigida por lei
para o ato a ser praticado. Não se admite mandato verbal quando o
ato deva ser celebrado por escrito.
7- ESPÉCIES
a) expresso ou tácito (a aceitação do encargo decorre da prática de atos que a presumem,
a exemplo do início da execução do ato), VERBAL ou escrito.
b) gratuito ou remunerado.
c) ad negotia (conferida para a prática de administração de negócios em geral) e ad
judicia (a outorgada para o foro, autorizando o procurado a propor ações e praticar atos
judiciais em geral).
d) em termos gerais (só confere poderes para a prática de atos de administração) e com
poderes especiais (os que ultrapassam a administração ordinária, como hipotecar,
transigir etc.).
e) conjunto (os poderes são outorgados aos mandatários para que estes atuem de forma
conjunta), solidário (os mandatários nomeados podem agir de forma isolada,
independentemente da ordem de nomeação, cada um atuando como se fosse um único
mandatário), sucessivo (um mandatário só poderá agir na falta do outro, sendo designado
de acordo com a ordem prevista no contrato) e fracionário (a ação de cada mandatário
está delimitada no instrumento, devendo cada qual agir em seu setor).
Art. 672. Sendo dois ou mais os mandatários nomeados no mesmo
instrumento, qualquer deles poderá exercer os poderes outorgados, se
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8- OBRIGAÇÕES DO MANDATÁRIO
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9- OBRIGAÇÕES DO MANDANTE
c) Pela mudança de estado. Ex.: Pai que representa filho absolutamente incapaz, quando
este se torna relativamente incapaz, devendo a outorga agora ser feita pelo filho.
d) Pelo término do prazo ou pela conclusão do negócio. Quando a procuração é dada
com data certa de vigência ou para um negócio determinado.
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de renúncia ou revogação do mandato (ex.: multa pelo fato de o cliente ter decidido
revogar o mandato e constituir outro advogado). STJ. 4ª Turma. REsp 1346171-PR, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/10/2016 (Info 593).
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CAPÍTULO VIII
DA EMPREITADA
1- CARACTERÍSTICAS
A grande diferença entre o contrato de empreitada e o contrato de prestação de
serviços é que a empreitada é contrato de prestação de serviços em que se ajusta a
obrigação de fazer ou mandar fazer obra específica, mediante determinada
remuneração. Ou seja, o empreiteiro assume a obrigação de realização de obra
específica. A empreitada, diferentemente da prestação de serviços, não autoriza a
fiscalização e direção do serviço pelo dono da obra. O dono da obra não pode fiscalizar
e dirigir os serviços, já que ele contratou um resultado pronto. O empreiteiro assume o
resultado. Por isso, a fiscalização cabe ao próprio empreiteiro. E os riscos vão correr por
conta do empreiteiro.
2- ESPÉCIES
Existem, segundo Flácio Tartuce, três tipos de empreitada no direito brasileiro,
retiradas do art. 610 do CC:
Essa diferenciação é relevante no que toca aos riscos do contrato. Dispõem os arts.
611, 612 e 613 do CC:
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3- RESPONSABILIDADE CIVIL
Essa diferenciação também é importante para fins de responsabilidade civil. Se
a empreitada é de lavor, o empreiteiro assume a responsabilidade apenas de realizar o
serviço com o material que lhe foi entregue e terá direito à remuneração.
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da data do conhecimento para promover a ação (ação redibitória para devolver o bem
ou estimatória, para obter abatimento do preço).
Mas e se dentro do prazo de cinco anos aparecer o defeito, mas a parte não quer
desfazer o negócio? Terá a parte, nesse caso, o prazo de cinco ou dez anos, conforme o
caso, para promover a ação indenizatória, a ação de reparação de dano. Observe que os
180 dias é somente para o desfazimento do negócio. Então, são 180 dias dentro de cinco
anos para resolução (redibição) do negócio. Se não quer desfazer o negócio, cinco ou dez
para promover a ação indenizatória, bem como se o defeito apareceu depois do prazo de
garantia. Essa é a responsabilidade do empreiteiro.
4- EXTINÇÃO
Extingue o contrato de empreitada nos seguintes casos:
a) Execução da obra
b) Morte do empreiteiro, se o contrato foi celebrado intuitu personae.
Art. 626. Não se extingue o contrato de empreitada pela morte de
qualquer das partes, salvo se ajustado em consideração às qualidades
pessoais do empreiteiro.
c) Resilição unilateral
d) Distrato
e) Resolução por inexecução contratual
f) Falência do empreiteiro
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g) Desapropriação
h) Impossibilidade de prestação em razão de força maior ou caso fortuito.
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CAPÍTULO XIV
DO TRANSPORTE (arts. 730 a 756 do CC)
Na maioria das vezes, constitui-se em um típico contrato de adesão, por não estar
presente a plena discussão de suas cláusulas.
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desde que não contrariem o que diz o CC. Ex.: no caso de transporte aéreo, pode ser
aplicado o Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei 7.565/86), desde que não entre em
conflito com o CC.
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Esse dispositivo serve para responsabilizar as empresas aéreas por acidentes que
causam a morte de passageiros, mesmo havendo culpa exclusiva de terceiros, tendo
apenas ação regressiva contra os responsáveis pelo acidente. Nesse ponto, a aplicação do
CC é mais favorável que a do CDC, porque este consagra a culpa exclusiva de terceiro
como excludente de responsabilidade na prestação de serviços (art. 14, §3º, II, CDC).
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A parte final desta súmula deve ser revista, porque a responsabilidade surge
presente com a culpa em qualquer grau, ou seja, o grau de culpa só influencia no valor da
indenização.
Veloso entende que esse artigo é exemplificativo, devendo ser incluídas outras
situações, como a do passageiro com trajes indecentes, ou completamente embriagado ou
drogado etc.
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Esse artigo apresenta problema técnico, pois conflita com a tese de Agnelo A.
Filho, adotada pelo CC sobre prescrição e decadência. Esse clássico jurista relacionou o
prazo de prescrição a ações condenatórias e os prazos decadenciais a ações constitutivas
positivas ou negativas. Ora, a ação indenizatória referenciada no art. 745 do CC é
condenatória, não se justificando o prazo decadencial que nele consta. Trata-se de um
descuido do legislador, eis que sua intenção foi concentrar todos os prazos de prescrição
nos arts. 205 e 206 do CC. Aqui a regra é quebrada de forma atécnica. Tartuce concorda
com Nery Jr no sentido de que, apesar de a lei referenciar que o prazo é decadencial,
trata-se, na verdade, de prazo prescricional.
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Tartuce e Nery entendem que mais uma vez houve equívoco do legislador no
caput do dispositivo e o prazo é, na verdade, prescricional, tendo em vista tratar-se de
ação indenizatória. Em virtude de o prazo ser exíguo (10 dias), deve-se entender que o
prazo será, em regra, prescricional de 10 anos, à vista da mais recente orientação do STJ
quanto ao prazo prescricional do art. 205 do CC aplicável às pretensões indenizatórias
decorrentes de relações contratuais, ou de 5 anos (art. 27, CDC).
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A lei refere-se ao saldo, pois cabe ao transportador deduzir o valor das despesas
de armazenagem e frete, se ainda não foram pagas.
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CAPÍTULO XV
DO SEGURO
(artigos 757 a 802 do CC)
Obs.: Há corrente doutrinária que sustenta que o seguro é comutativo, pois o risco poderia
ser determinado por cálculo atuariais e por trazer a ideia de garantia. Tartuce discorda,
porque entende que a tese da comutatividade pode ser alegada por empresas seguradoras
para auferir vantagens excessivas frente aos consumidores, particularmente com o intuito
de obter a rescisão unilateral do contrato.
O segurador só pode ser entidade legalmente autorizada para tal fim. A atividade
do segurador deve ser exercida, no contexto da norma, por sociedades anônimas, mútuas
ou cooperativas (estes terão por objeto somente os seguros agrícolas), mediante
autorização do Governo Federal, estando a matéria disciplinada pela Lei 8.177/1991 e
pelos Decretos-lei 73/1966 e 2.063/1940.
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Trata do cosseguro, quando os riscos de um seguro direto são assumidos por várias
seguradoras. Em tais casos, a apólice indicará a seguradora que administrará o contrato e
representará os demais, para todos os seus efeitos (seguradora líder). O cosseguro não
se confunde com o resseguro, hipótese em que uma seguradora contrata outra seguradora
(resseguradora), temendo os riscos do contrato anterior, aplicando-se as mesmas regras
previstas para o contrato regular.
Art. 762. Nulo será o contrato para garantia de risco proveniente de ato
doloso do segurado, do beneficiário, ou de representante de um ou de
outro.
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Art. 763. Não terá direito a indenização o segurado que estiver em mora
no pagamento do prêmio, se ocorrer o sinistro antes de sua purgação.
O prêmio deve ser pago pelo segurado em qualquer caso, havendo ou não o
sinistro (demonstra a aleatoriedade do contrato de seguro).
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Ex.: A jurisprudência entende que constitui violação a esse dever (art. 766 do CC) o fato
de o segurado não informar uma doença preexistente e celebrar o contrato de seguro-
saúde, para se ver coberto. Por lógico, há desrespeito ao dever anexo de informar.
Porém, deve se observar o previsto no Enunciado 372 do CJF/STJ: “Em caso de
negativa de cobertura securitária por doença preexistente, cabe à seguradora
comprovar que o segurado tinha conhecimento inequívoca daquela”. Isso porque a boa-
fé objetiva do segurado consumidor é presumida.
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invocar essa cláusula contra a vítima. Depois de indenizar a vítima, a seguradora poderá
exigir seu direito de regresso contra o segurado (causador do dano). A garantia de
responsabilidade civil não visa apenas proteger o interesse econômico do segurado tendo,
também como objetivo preservar o interesse dos terceiros prejudicados. O seguro de
responsabilidade civil se transmudou após a edição do Código Civil de 2002, de forma
que deixou de ser apenas uma forma de reembolsar as indenizações pagas pelo segurado
e passou a ser também um meio de proteção das vítimas, prestigiando, assim, a sua função
social. É inidônea a exclusão da cobertura de responsabilidade civil no seguro de
automóvel quando o motorista dirige em estado de embriaguez, visto que somente
prejudicaria a vítima já penalizada, o que esvaziaria a finalidade e a função social dessa
garantia, de proteção dos interesses dos terceiros prejudicados à indenização, ao lado da
proteção patrimonial do segurado. STJ. 3ª Turma. REsp 1738247-SC, Rel. Min. Ricardo
Villas Bôas Cueva, julgado em 27/11/2018 (Info 639).
IMPORTANTE!!! O STJ tem entendido que a prática de assalto a mão armada pelo
segurado, que venha morrer, acarreta a perda do direito a indenização, em razão do
descumprimento da obrigação de abster-se de tudo quanto pudesse aumentar os riscos.
No sentido: É indevida a indenização relativa ao seguro obrigatório – DPVAT, na
hipótese em que o acidente de trânsito que vitimou o segurado tenha ocorrido no momento
de prática de ilícito penal doloso. STJ. 3ª Turma. REsp 1661120-RS, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 9/5/2017 (Info 604).
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Sem prejuízo disso, havendo mora, a seguradora passará a responder por caso
fortuito e força maior, nos termos do art. 399.
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Ex.: aceita seguro contra naufrágio embora saiba que o navio já atracou em segurança.
Art. 774. A recondução tácita do contrato pelo mesmo prazo, mediante
expressa cláusula contratual, não poderá operar mais de uma vez.
Em suma, cessado o risco, não pode mais o ser cobrado o prêmio, pois a álea é
elemento essencial do contrato. O segurador que emite a apólice age com intuito de
enriquecimento sem causa, o que justifica o pagamento do valor do prêmio em dobro.
Como consequência, o contrato deve ser tido como nulo (art. 166, VI, do CC).
Obs.: Súmula 188 STF: “O segurador tem ação regressiva contra o causador do dano,
pelo que efetivamente pagou, até o limite previsto no contrato de seguro” (sub-rogação).
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Uma determinada coisa pode ser segurada mais de uma vez. Porém, o segurado
que pretender obter novo seguro sobre o mesmo interesse e contra o mesmo risco junto à
outra seguradora, deve previamente comunicar sua intenção por escrito à primeira,
indicando a soma pela qual pretende segurar-se. Se alguém tem um veículo que vale 50
mil e quer segurá-lo contra riscos futuros, poderá até celebrar dois contratos de seguro,
com seguradoras distintas (cumulação de seguros ou seguro duplo), desde que o valor das
indenizações somadas não supere o valor do bem. Se presente uma cumulação exagerada,
será caso de resolução do segundo contrato, cumulando-se as regras dos arts. 778 e 766
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do CC. As normas pretendem evitar que alguém utiliza o contrato de seguro para
enriquecer sem justa causa.
Autoriza o seguro parcial, ou seja, o seguro de um interesse por menos do que ele
valha, salvo estipulação em contrário no contrato. Nesse caso, ocorrendo o sinistro
parcial, a indenização a ser paga também deverá ser reduzida proporcionalmente, por
meio do que se denomina cláusula de rateio. Ex.: alguém celebra um contrato de seguro
contra incêndio de um imóvel cujo valor é 100 mil. O valor da indenização pactuado é 50
mil (seguro parcial). Ocorrendo o incêndio, mas gerando um prejuízo de apenas 10 mil,
com a redução proporcional o valor a ser pago pela seguradora será de 5 mil.
No tocante à garantia, esta não inclui o sinistro provocado por vício intrínseco da
coisa segurada e não declarado pelo segurado quando da celebração do contrato. O vício
intrínseco, denominado vício próprio ou vício corpóreo, é aquele defeito próprio da coisa,
que não se encontra normalmente em outras da mesma espécie. Ex.: se um carro segurado
apresenta sério problema de freios, vício de fabricação, fazendo com que ocorra o
acidente, não há que se falar em responsabilidade da seguradora. A responsabilidade é
dos fornecedores do produto, nos termos do CDC.
Em relação ao art. 785, §1º, do CC, o efeito é similar à cessão de crédito, devendo
ser notificado o cedido (segurador).
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IMPORTANTE!!! Súmula 188 do STF + art. 786 do CC: Essa regra não se aplica ao
seguro de pessoas por força do disposto no art. 800 do CC – “No seguro de pessoas o
segurador não pode sub-rogar-se nos direitos e ações do segurado, ou do beneficiário,
contra o causador do sinistro”.
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causador do dano porque ela tem direito à sub-rogação por força de lei (art. 786, CC) e
este acordo não é eficaz perante ela (art. 786, § 2º). Exceção: a seguradora não terá direito
de regresso contra o autor do dano caso este demonstre que indenizou realmente o
segurado pelos prejuízos sofridos, na justa expectativa de que estivesse quitando,
integralmente, os danos provocados por sua conduta. Neste caso, protege-se o terceiro de
boa-fé e a seguradora poderá cobrar do segurado com base na proibição do
enriquecimento ilícito. Ex: o causador do dano paga todas as despesas do segurado e
recebe um termo de quitação; de má-fé, o segurado, mesmo já tendo sido indenizado,
aciona o seguro para consertar seu carro. Se a seguradora ajuizar ação regressiva contra
o causador do dano, ele poderá provar que pagou integralmente as despesas e, neste caso,
a ação será julgada improcedente. Protege-se a boa-fé do terceiro. STJ. 3ª Turma. REsp
1533886-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591).
É possível a celebração de vários seguros, sem limite, pois não há como mensurar
o preço da vida de uma pessoa natural.
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Como a norma é especial para o contrato de seguro, deve ser respeitada, não se
aplicando a ordem de sucessão legítima.
No tocante ao prêmio a ser pago pelo segurado no seguro de vida, este será
convencionado por prazo limitado ou por toda a vida (autonomia privada) – art. 796 do
CC.
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Súmula 610-STJ: “O suicídio não é coberto nos dois primeiros anos de vigência
do contrato de seguro de vida, ressalvado o direito do beneficiário à devolução do
montante da reserva técnica formada”. STJ. 2ª Seção. Aprovada em 25/04/2018, DJe
07/05/2018 (Info 624)
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Se o suicídio ocorrer depois dos dois primeiros anos do contrato, será devida a
indenização ainda que exista cláusula expressa em contrário. Obs.: é nula a cláusula
contratual que exclua a indenização da seguradora em caso de suicídio ocorrido
depois dos dois primeiros anos do contrato (art. 798, parágrafo único). Assim, se o
suicídio ocorre depois dos dois primeiros anos, é devida a indenização ainda que
exista cláusula expressa dizendo que a seguradora não deve indenizar.
Ex.: Morrer pulando de paraquedas a 10 mil metros de altura NÃO afasta o dever de
indenizar da seguradora.
Esse artigo afasta a aplicação da Súmula 188 do STF para os casos de seguros de
pessoas.
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Art. 801. O seguro de pessoas pode ser estipulado por pessoa natural
ou jurídica em proveito de grupo que a ela, de qualquer modo, se
vincule.
§ 1o O estipulante não representa o segurador perante o grupo
segurado, e é o único responsável, para com o segurador, pelo
cumprimento de todas as obrigações contratuais.
§ 2o A modificação da apólice em vigor dependerá da anuência
expressa de segurados que representem três quartos do grupo.
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