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Conceito de contrato

Acordo de vontades, de conteúdo econômico, sendo uma das fontes de obrigações. Kelsen e a
teoria preceptiva explicitam que a criação/extinção de obrigações dos contratos cria direito. Já
Orlando Gomes afirma que contrato “é uma espécie de negócio jurídico que se distingue, na
formação, por exigir a presença pelo menos de duas partes”.

 É feito por meio de um consenso (ou o consenso é suprido por meio de instrumentos
legais)
 Exige manifestação de vontade de ambas as partes e anuência de todas as cláusulas,
ainda que possam ser revistas posteriormente;
 Em regra, é constitutivo de obrigações.

Natureza jurídica do contrato

É um negócio jurídico bilateral.

Princípios norteadores dos contratos

1) Consensualismo: para que o contrato exista, é necessário o acordo de vontades, mesmo


nos contratos em que uma das partes recebe o “contrato” pronto. Orlando Gomes afirma
que é por esse princípio que o acordo de vontades é suficiente à perfeição do contrato.
 De forma geral, os contratos têm forma livre, com a maioria sendo de forma
livre;
 Alguns contratos têm sua validade condicionada à realização de solenidades
definidas em lei (contratos solenes e contratos reais);
 Outros contratos demandam não apenas o consenso, mas também a entrega do
bem para existirem (como os contratos reais);
2) Autonomia da vontade: está concentrada na liberdade de contratar, a qual significa o
poder dos indivíduos de suscitar, mediante declaração de vontade, efeitos reconhecidos
e tutelados pela ordem jurídica (Orlando Gomes). Além disso, é necessária a liberdade
contratual, ou seja, a liberdade de estabelecer o conteúdo do contrato.
 Na maioria dos contratos, isso não se verifica materialmente para a parte que
adere ao contrato (bem ilustrado nos contratos de adesão – serviço bancário,
plano de saúde, serviço de telefonia);
 Havendo abusividade quanto à liberdade contratual de alguma cláusula, poderá
ser questionado o contrato e, eventualmente, ter a cláusula declarada nula;
 A liberdade de contratar, propriamente dita, não é ilimitada, esbarrando em duas
limitações de caráter geral desde sempre: a ordem pública e os bons costumes.
Essas limitações estão pautadas na razão de utilidade social, pois certos
interesses são considerados ofensivos às bases da ordem social ou se chocam
com princípios normativos essenciais à sociedade;
 Em casos de nítido desequilíbrio contratual entre as partes, principalmente
quanto ao poderio econômico, tem entendido a jurisprudência a possibilidade de
intervenção do Estado nos contratos, pois “entre o forte e o fraco é a liberdade
que escraviza e a lei que liberta” (Lacordaire). Remete-se aqui novamente aos
contratos de adesão, por exemplo, nos quais uma parte adere de forma inevitável
às cláusulas estabelecidas unilateralmente por outra.
3) Princípio da força obrigatória/obrigatoriedade/pacta sunt servanda: o conteúdo
contratual faz lei entre as partes, a fim de ser cumprido o contrato tal como foi
estabelecido.
 Celebrado que seja, com observância de todos pressupostos e requisitos
necessários à sua validade, deve ser executado como se as cláusulas fossem
preceitos legais imperativos, obrigando os contratantes, seja qual forem as
circunstâncias, a cumpri-lo (diz-se que o contrato torna-se intangível, é
irretratável o acordo de vontades);
 A obrigatoriedade pode ser questionada diante de causa superveniente de caso
fortuito ou força maior, dificultando ou impossibilitando o cumprimento do
contrato, na chamada Teoria de Imprevisão (necessita da alteração do estado
de fato existente na formação contratual, de modo que a alteração
imprevisível de fato determine a dificuldade/impossibilidade de adimplir a
obrigação, porquanto essa se tornou excessivamente onerosa E impossibilidade
de prever a mudança desse estado, uma vez que se trata de circunstância
extraordinária);
 Nos casos que se encaixem na Teoria da Imprevisão, o vínculo contratual pode
ser resolvido ou, a requerimento do prejudicado, o juiz altera o conteúdo do
contrato, restaurando o equilíbrio desfeito;
4) Princípio da boa-fé (objetiva): estando mais ligada com a interpretação do contrato do
que com a estrutura, significa que o literal da linguagem contratual não deve prevalecer
sobre a intenção manifestada na declaração de vontade, ou dela inferível (Orlando
Gomes). Ou seja, que durante todas as etapas temporais do contrato, as partes
devem agir com lealdade, honestidade, transparência (padrão mínimo ético), a fim
de interpretar o conteúdo contratual. A boa-fé possui as seguintes funções:
a) Função interpretativa (art. 113 do Código Civil): a boa-fé objetiva norteia a
interpretação das cláusulas dos contratos, posicionando como que uma pessoa
normal, razoável, a fim de averiguar o sentido que essa pessoa atribuiria ao
disposto no contrato ao analisá-lo;
b) Função supletiva: a boa-fé atua criando deveres anexos/laterais, que,
diferentemente dos deveres principais, os quais constituem o núcleo da relação
contratual, não estão expressos e visam assegurar o perfeito cumprimento da
prestação e plena satisfação dos interesses envolvidos no contrato, como de
informação, sigilo, custódia, colaboração e proteção à pessoa e ao patrimônio da
contraparte;
c) Função integrativa: quando o contrato deixa lacunas, a boa fé objetiva é usada
para interpretá-las.

Ainda sobra a boa-fé objetiva, pode-se afirmar que alguns institutos dela decorrem (função
corretiva), pois são nascidos de expectativas legítimas, que, por sua vez, são criadas pelo
comportamento das partes. São eles:

a) Supressio: perda de um direito de exigir em razão de um comportamento anterior


que gerou essa expectativa legítima, tal como foi convencionado;
b) Surrectio: surgimento do direito de cumprir o contrato como fora pactuado,
decorrente das expectativas legítimas oriundas de comportamento anterior;
c) Venire contra factum proprium (proibição do comportamento contraditório): a
boa-fé objetiva proíbe o comportamento contraditório;
d) Tu quoque: não é possível exigir de outra parte sua quota obrigacional sem que
a primeira antes cumpra sua quota obrigacional.
 É o sinalagma do contrato (equilíbrio econômico entre as partes
contratantes);
 Sem que haja desequilíbrio econômico do contrato, salvo se quisto,
pode-se reverter ou até alegar desvantagens entre as partes (abuso de
direito).
e) Substantial performance (adimplemento substancial): verifica-se que o contrato
está mais cumprido que não cumprido. Nesse caso, não se extingue o contrato
em caso de inadimplemento, mas tão somente revisa-o.

Uma vez plenamente cumprido o contrato, não há mais vínculo contratual, mas permanecem os
efeitos da boa-fé objetiva.

5) Princípio da função social do contrato (art. 421): o contrato visa atingir objetivos não
apenas individuais, mas também sociais. Pode, portanto, o Judiciário intervir nos
contratos e alterá-los em caso de interesse ímprobo. Sobre esse ponto, duas correntes
doutrinárias tentam explicar tal intervenção:
I. “Institucionalista” (termo usado pelo aluno): remontando ao constitucionalismo
alemão, entende-se que o art. 421 do CC dispõe sobre uns instância de proteção
de interesses externos às partes contratantes (“interesses institucionais”),
designando o interesse de determinados grupos sociais como jurídica e
economicamente distintos dos interesses individuais.
Aqui há uma visão restritiva, pois nega-se a possibilidade de ligar à função social
do contrato vícios contratuais que tenham a ver apenas com a relação entre os
contratantes.

Interpretação dos contratos

1. Teoria da Vontade: o contrato deve ser interpretado de acordo com a vontade das
partes (subjetiva). Geralmente aplicada quando não é contrato de consumo;
2. Teoria da Declaração: o contrato deve ser interpretado segundo o que está declarado
(objetiva). Aplicada pelo Código de Defesa do Consumidor;
3. Interpretação segundo a boa-fé objetiva: contrato interpretado conforme o art. 113
do CC (usando-se da ótica da boa-fé objetiva).

Formação dos contratos

1) Proposta: Manifestação da vontade, contendo todos os requisitos do contrato a celebrar.


Envolve os seguintes aspectos:
i. Proponente ou policitante: quem emite a proposta;
ii. Vinculatividade: o proponente está vinculado à proposta, devendo manter-se fiel
estritamente à proposta ofertada, respeitando seus condicionantes;
iii. Retratação: em caso de arrependimento, pode ser cancelada a proposta, desde
que esta chegue antes ou junto da proposta ao oblato;
2) Aceitação: negócio jurídico unilateral de anuência à proposta. Envolve:
i. Oblato ou aceitante: quem recebe e aceita a proposta;
ii. Contraproposta: recebendo a proposta, mas querendo o oblato modificá-la,
alterando o conteúdo contratual, pode, então, ofertar outra proposta (exemplo:
aceitação fora do prazo);
iii. Aceitação tardia: em caso de circunstância imprevista, deve o proponente
informar o oblato a aceitação tardia, caso contrário haverá a criação de
expectativa legítima, mas o contrato não é formado sem a posterior anuência do
oblato.
iv. Retratação: o arrependimento prevalecerá caso chegue antes ou junto da
anuência da proposta.

Classificação dos contratos

1) Quanto à formação:
a) Consensuais: formam-se apenas com a anuência das partes, não exigindo outra
solenidade;
b) Reais: aqueles que dependem não só da anuência, mas também da entrega
efetiva do bem.
2) Quanto às obrigações:
a) Unilaterais: contrato que gera obrigações somente para uma das partes;
b) Bilaterais: geram obrigações jurídicas para ambas as partes.
3) Quanto às vantagens:
a) Onerosos: contratos que geram vantagens a ambas às partes;
b) Gratuitos: contratos que geram vantagens apenas a uma das partes.
4) Quanto à equivalência das prestações:
a) Comutativos: ambas as partes sabem o que cada uma irá prestar;
b) Aleatórios: pelo menos uma das partes não sabe o que irá prestar, em razão de
tratar sobre vantagens incertas vindouras.

Extinção dos Contratos


1) Causas gerais: serão extintos, via de regra, os contratos cujas obrigações foram
cumpridas/adimplidas. É possível, ainda, extinguir o contrato por um prazo
determinado, desde que as obrigações tenham sido cumpridas.
2) Causas específicas (arts. 472 a 480):
a) Resilição: extinção do contrato por acordo das partes. Pode ser bilateral
(distrato), quando as partes resolvem, de comum acordo, dissolver o negócio e
romper a relação jurídica (art. 472); ou unilateral, quando ocorre por meio de
denúncia à outra parte da vontade de resilir (art. 473);
b) Cláusula resolutiva: em caso de inadimplemento, há menção em cláusula que o
contrato será dado como resolvido, podendo a parte lesada pedir perdas e danos.
Há dois tipos de cláusulas resolutivas:
I. Expressa: opera-se aqui a mora ex re (a parte lesada pode agir de pleno direito a
partir do inadimplemento – art. 475);
II. Tácita: opera-se aqui a mora ex personae (depende de notificação do devedor,
seja de forma judicial ou extrajudicial; geralmente ligado a evento futuro e
incerto – art. 474);
c) Resolução por onerosidade excessiva: possibilidade de resolução do contrato
quando há um desequilíbrio entre a situação dos contratantes por conta de
acontecimento superveniente e imprevisível (art. 478);
d) Exceção de contrato não cumprido: ocorre em contratos bilaterais, quando uma
das partes não cumpriu sua parte do contrato, isentando a outra parte de cumprir
sua proporção obrigacional até que a primeira cumpra sua parte.

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