Essa concepção é formada por uma ideia de contrato
absolutamente paritário, onde as partes discutem as cláusulas, uma propõe e a outra contrapropõe. Desta forma, pressupõe no contrato uma igualdade de poder entre as partes.
3.2- CRISE DA TEORIA CONTRATUAL CLÁSSICA
É evidente que esse contrato essencialmente paritário ocupa hoje
parcela muito pequena no mundo negocial; ex: é o contrato de quem adquire o cavalo do vizinho. Atualmente, contratamos cada vez menos com pessoas físicas e mais com pessoas jurídicas, as quais fornecem os bens e serviços para o consumidor final. Os contratos são hoje negócios de massa, impostos a número indeterminado de pessoas que são influenciadas pela mídia para que estejam sempre renovando seus produtos e serviços. A crise não é do contrato, nem do Direito Privado, é da evolução da sociedade que se transforma rapidamente exigindo dos juristas respostas aos novos desafios. Por isso, o atual Código procura inserir o contrato como elemento social, colocando que ele deve ser cumprido não unicamente em prol das partes, mas em benefício da sociedade; já que uma obrigação descumprida representa uma moléstia social, prejudicando uma comunidade. Por isso, é melhor impor algumas regras de ordem pública, inafastáveis pelo querer das partes, evitando assim o predomínio da vontade do economicamente mais forte; art. 421. 3.3- A NOVA CONCEPÇÃO DO CONTRATO E O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
O Código Civil traz uma nova concepção de contrato baseado na
função social do contrato. O CDC trouxe, no campo dos contratos, instrumentos eficazes em favor do consumidor, como: a inversão do ônus da prova; a proteção do contratante mais fraco; o princípio geral da boa-fé; e a proteção ao consumidor contra as cláusulas abusivas.
UNIDADE IV- PRINCÍPIOS CONTRATUAIS
4.1- AS MUTAÇÕES PRINCIPIOLÓGICAS DOS CONTRATOS:
ASPECTOS GERAIS
Um dos mais relevantes princípios em que os contratos sempre se
basearam é o da igualdade das partes, mas isto quase nunca é verdadeiro, porque a igualdade que reina no contrato é puramente teórica. É muito comum que exista uma parte mais fraca que é “obrigada” a se submeter às condições do mais forte. Isto levou o legislador a intervir no contrato, para remediar os efeitos da desigualdade, criando, para limitar a autonomia da vontade, novas normas de ordem pública, contra as quais esbarra a liberdade de estipular. É o magistrado que verifica se a ordem é ou não é de ordem pública.
4.2- PRINCÍPIO DO CONSENSUALISMO
De acordo com esse princípio basta para o aperfeiçoamento do contrato
o acordo de vontade das partes. As pessoas gozam da faculdade de vincular-se pelo simples consenso, fundadas na ética e no respeito à palavra empenhada. Com isso a lei deve, em princípio abster-se de estabelecer solenidades. O consensualismo, portanto, é a regra e o formalismo a exceção. Já se dizia “os bois se prendem pelos chifres e os homens pela palavra”. Mas, é claro que às vezes a seriedade do caso impõe algumas solenidades, como o casamento. Além disso, o legislador sentiu necessidade de impor alguns requisitos devido à crise da palavra; por ex: se o bem for imóvel há necessidade do registro imobiliário. 4.3- PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE
O alicerce desse princípio é a ampla liberdade contratual no poder dos
contratantes de disciplinar os seus interesses mediante acordo de vontades; tendo a liberdade de contratar com quem quiserem, sobre o que quiserem e de não contratar também. Esse princípio teve origem no Direito Romano, mas o seu apogeu foi após a Revolução Francesa com a predominância do individualismo e a pregação da liberdade em todos os sentidos, inclusive contratual. Com base nesse princípio, os contratantes podem celebrar contratos nominados ou fazer combinações de espécies contratuais, criando outras formas de contratar. Dessa forma, percebe-se que o princípio da autonomia da vontade serve de fundamento para dar poder aos particulares de autorregulamentação dos seus interesses. Por outro lado, na vida moderna, tem aumentado as limitações à liberdade de contratar em alguns aspectos, tais como: faculdade de contratar ou não e a escolha do outro contratante; ex: fornecimento de energia elétrica, água, licenciamento de um veículo é condicionado à celebração do seguro obrigatório, entre outros.
4.4- PRINCÍPIO DA IGUALDADE
Uma das regras do contrato é que exista equidade entre as partes,
podendo elas ter até diferenças econômicas, mas sem que a mais forte use dessa posição e vá contra a boa-fé e a função social do contrato.
4.5- PRRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE OU DA FORÇA
VINCULANTE OU DA INTANGIBILIDADE
Esse princípio representa exatamente a força das convenções, já que
pela autonomia da vontade ninguém é obrigada a contratar, sendo a palavra empenhada irreversível. O aludido princípio tem por fundamento: a-) necessidade de segurança nos negócios b-) intangibilidade ou imutabilidade: pacta sunt servanda (os pactos devem ser cumpridos); art. 389. A única limitação a esse princípio ocorre com o caso fortuito ou força maior; art. 393, parágrafo único. No entanto, após a 1ª Grande Guerra não se podia mais falar em absoluta obrigatoriedade dos contratos, se não havia idêntica liberdade contratual entre as partes. Passou-se a aceitar, em caráter excepcional, a possibilidade de intervenção judicial no conteúdo de certos contratos, para corrigir os seus rigores ante ao desequilíbrio das prestações. A suavização do princípio não significa o seu desaparecimento, o que não se tolera mais é a obrigatoriedade quando as partes se encontram em patamares diversos e disso ocorra proveito injustificado. O próprio Código Civil apresenta a tendência de amenização desse princípio, incorporando os arts. 156 e 157 que permitem a ingerência estatal.
4.8- PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS EFEITOS
Tal princípio funda-se na ideia de que o contrato só produz efeito entre
as partes. Mostra-se ele coerente com o modelo clássico de contrato, que objetivava exclusivamente a satisfação das necessidades individuais. Essa visão foi abalada pelo atual Código Civil, que não concebe mais o contrato apenas como instrumento de satisfação de interesses pessoais dos contratantes, mas lhe reconhece uma função social. Tal fato tem como conseqüência possibilitar que terceiros que não são propriamente partes do contrato possam nele influir, em razão de serem direta ou indiretamente por ele atingidos. Não resta dúvida de que o princípio da relatividade dos efeitos do contrato, embora ainda subsista foi bastante atenuado pelo reconhecimento de cláusulas gerais de ordem pública, não se destinarem a proteger unicamente os direitos individuais, mas tutelar o interesse da coletividade. A nova concepção da função social do contrato representa, se não a ruptura, pelo menos o abrandamento do princípio da relatividade dos efeitos do contrato.
4.9- PRINCÍPIO DA BOA FÉ
Exige que as partes comportem de forma correta não só durante as
tratativas, como também durante a formação e o cumprimento do contrato. Esse princípio vai contra o ordenamento revogado, que privilegiava o princípio da autonomia da vontade e da obrigatoriedade dos contratos, seguindo uma diretriz individualista. A boa-fé pode ser: - Subjetiva ou concepção psicológica: baseia-se numa noção de entendimento equivocado, em erro de crença ou ignorância do contratante; ex: casamento putativo e herdeiro aparente. - Objetiva: é a norma jurídica fundada em um princípio geral do direito segundo o qual todos devem comportar-se de boa-fé nas suas relações, tendo honestidade, retidão e lealdade; deixa de ser princípio geral de direito e passa a ser tratada no Código atual nos arts. 422, 113 e 187.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
10- Faça uma análise da teoria contratual clássica.
11- O que é função social do contrato?
12- Fale sobre o princípio da obrigatoriedade frente ao Código Civil.
13- (Juiz-MA) No que diz respeito à formação dos contratos, no âmbito do
Direito Civil, a proposta deixa de ser obrigatória, exceto: (0,5) a) se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante. b) se, feita com prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta do conhecimento do proponente. c) se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado. d) se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente.
14-(OAB) Classifica-se real o contrato, quanto à sua formação, quando:
a) para esta é necessária a entrega da coisa b) envolva transmissão de propriedade sobre imóvel c) importe criação de ônus sobre coisa alheia d) a escritura pública é da substância do ato
15- (OAB-2012) Embora sujeito às constantes mutações e às diferenças de
contexto em que é aplicado, o conceito tradicional de contrato sugere que ele representa o acordo de vontades estabelecido com a finalidade de produzir efeito jurídicos. Tomando por base a teoria geral dos contratos, assinale a afirmativa correta:
a) a celebração de contrato atípico, fora do rol contido na legislação, não é
lícita, pois as partes não dispõem da liberdade de celebrar negócios não expressamente regulamentados por lei. b) a atipicidade contratual é possível, mas, de outro lado, há regra específica prevendo não ser lícita a contratação que tenha por objeto a herança de pessoa viva, seja por meio de contrato típico ou não. c) a liberdade de contratar é limitada pela função social do contrato e os contratantes deverão guardar, assim na conclusão, como em sua execução, os princípios de probidade e da boa fé subjetiva, princípios esses ligados ao voluntarismo e ao individualismo que informam o nosso Código Civil. d) será obrigatoriamente declarado nulo o contrato de adesão que contiver cláusulas ambíguas ou contraditórias.
UNIDADE V-REVISÃO DOS CONTRATOS
5.1- A CLÁUSULA "REBUS SIC STANTIBUS"
Na Idade Média, ganhou força a teoria baseada na cláusula rebus sic
stantibus (enquanto as coisas estão assim), sendo considerada implícita em todo contrato; na verdade ela já existia antes do direito romano no renomado Código de Hamurabi, em seu artigo 48. Segundo a concepção pura do contrato os pactos devem ser cumpridos (pacta sunt servanda), mas a nova concepção contratual exige uma atenuação desse princípio geral. A rebus sic stantibus coloca que a obrigatoriedade do cumprimento de uma obrigação pressupõe a inalterabilidade da situação de fato. Se esta se modificar em razão de acontecimentos extraordinários, como uma guerra, tornando excessivamente oneroso para o devedor o seu adimplemento, poderá este requerer ao juiz que o isente da obrigação parcial ou totalmente.
5.2- A TEORIA DA IMPREVISÃO E SEUS PRESSUPOSTOS DE
APLICAÇÃO
O crescimento da cláusula rebus sic stantibus veio, efetivamente no
período da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) que provocou um desequilíbrio nos contratos a longo prazo. Entre nós, esta ideia foi adaptada e difundida por Arnaldo Medeiros da Fonseca, com o nome de teoria da imprevisão. O referido autor incluiu o requisito da imprevisibilidade para possibilitar a sua adoção. É por esta razão que os tribunais não aceitam a inflação e alteração na economia como causas para revisão dos contratos. 5.3- A REGULAMENTAÇÃO LEGISLATIVA DA TEORIA DA IMPREVISÃO
O Código de 1916 não regulamentou expressamente a revisão
contratual, mas havia uma certa abordagem no art. 401. Na verdade, a cláusula rebus sic stantibus e a teoria da imprevisão eram aplicadas entre nós somente em casos excepcionais e com cautela, desde que demonstrada a ocorrência de fato extraordinário e imprevisível e a consequente onerosidade excessiva para um dos contratantes. A introdução da teoria da imprevisão no direito positivo brasileiro ocorreu com o advento do Código de Defesa do Consumidor, que no seu art. 6º, V elevou o equilíbrio do contrato como princípio da relação de consumo. O Código de 2002 consolidou a alteração do contrato em situações específicas com o art. 478, que tem sido muito criticado por exigir vantagem à outra parte; por dizer que cabe ao devedor acionar tal dispositivo e que a finalidade é a resolução do contrato. Vale dizer que para se configurar a alteração de situação que o referido dispositivo pede, é necessário que o acontecimento não se manifeste só na esfera individual de um contratante, mas tenha caráter de generalidade. É preciso que todo um mercado ou um setor considerável seja atingido; como greve na indústria metalúrgica; chuva de granizo que prejudica a lavoura de toda uma região. Devemos observar ainda que o contratante que estiver em mora quando desses fatos extraordinários não pode invocar, em defesa, a onerosidade excessiva, pois, estando nessa situação responde pelos riscos supervenientes, ainda que decorrentes de caso fortuito ou força maior; art. 399. É importante esclarecer que a alegação da onerosidade excessiva em contestação é, em regra, considerada mal soante, vista como desculpa de mau pagador, entendendo-se de melhor tom, que a parte que foi surpreendida por um acontecimento tome a iniciativa antes da cobrança judicial. Deverá, então, invocar a impossibilidade de cumprimento da dívida antes de seu vencimento, e requerer a revisão do avençado ou a sua resolução. É aconselhável também que o devedor atingido pela modificação superveniente, dê aviso ao credor para que se tente uma colaboração mútua na criação das condições que viabilizem o aperfeiçoamento do contrato. 5.5- A APLICAÇÃO DA TEORIA DA IMPREVISÃO PELA JURISPRUDÊNCIA
Atualmente, a doutrina e a jurisprudência têm admitido uma
intervenção judicial; a sentença substitui a vontade de um dos contratantes. Havendo um elemento surpresa, uma circunstância nova que coloca um dos contratantes em extrema dificuldade opera-se a possibilidade de intervenção judicial para que o contrato seja conduzido a níveis suportáveis de cumprimento. No entanto, a jurisprudência prima pela menor interferência judicial possível, no sentido de tentar resguardar ao máximo o contrato a níveis que os contratantes o suportem.