Você está na página 1de 8

SIBELE RESENDE PRUDENTE

Contratos Civis e Empresariais


2022-01

UNIDADE III- RENOVAÇÃO DA TEORIA CONTRATUAL

3.1-A CONCEPÇÃO TRADICIONAL DO CONTRATO

Essa concepção é formada por uma ideia de contrato


absolutamente paritário, onde as partes discutem as cláusulas, uma
propõe e a outra contrapropõe. Desta forma, pressupõe no contrato uma
igualdade de poder entre as partes.

3.2- CRISE DA TEORIA CONTRATUAL CLÁSSICA

É evidente que esse contrato essencialmente paritário ocupa hoje


parcela muito pequena no mundo negocial; ex: é o contrato de quem
adquire o cavalo do vizinho. Atualmente, contratamos cada vez menos
com pessoas físicas e mais com pessoas jurídicas, as quais fornecem os
bens e serviços para o consumidor final. Os contratos são hoje negócios
de massa, impostos a número indeterminado de pessoas que são
influenciadas pela mídia para que estejam sempre renovando seus
produtos e serviços.
A crise não é do contrato, nem do Direito Privado, é da evolução
da sociedade que se transforma rapidamente exigindo dos juristas
respostas aos novos desafios. Por isso, o atual Código procura inserir o
contrato como elemento social, colocando que ele deve ser cumprido
não unicamente em prol das partes, mas em benefício da sociedade; já
que uma obrigação descumprida representa uma moléstia social,
prejudicando uma comunidade. Por isso, é melhor impor algumas regras
de ordem pública, inafastáveis pelo querer das partes, evitando assim o
predomínio da vontade do economicamente mais forte; art. 421.
3.3- A NOVA CONCEPÇÃO DO CONTRATO E O CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR

O Código Civil traz uma nova concepção de contrato baseado na


função social do contrato. O CDC trouxe, no campo dos contratos,
instrumentos eficazes em favor do consumidor, como: a inversão do
ônus da prova; a proteção do contratante mais fraco; o princípio geral da
boa-fé; e a proteção ao consumidor contra as cláusulas abusivas.

UNIDADE IV- PRINCÍPIOS CONTRATUAIS

4.1- AS MUTAÇÕES PRINCIPIOLÓGICAS DOS CONTRATOS:


ASPECTOS GERAIS

Um dos mais relevantes princípios em que os contratos sempre se


basearam é o da igualdade das partes, mas isto quase nunca é verdadeiro,
porque a igualdade que reina no contrato é puramente teórica. É muito
comum que exista uma parte mais fraca que é “obrigada” a se submeter às
condições do mais forte.
Isto levou o legislador a intervir no contrato, para remediar os efeitos da
desigualdade, criando, para limitar a autonomia da vontade, novas normas
de ordem pública, contra as quais esbarra a liberdade de estipular. É o
magistrado que verifica se a ordem é ou não é de ordem pública.

4.2- PRINCÍPIO DO CONSENSUALISMO

De acordo com esse princípio basta para o aperfeiçoamento do contrato


o acordo de vontade das partes. As pessoas gozam da faculdade de
vincular-se pelo simples consenso, fundadas na ética e no respeito à
palavra empenhada. Com isso a lei deve, em princípio abster-se de
estabelecer solenidades. O consensualismo, portanto, é a regra e o
formalismo a exceção. Já se dizia “os bois se prendem pelos chifres e os
homens pela palavra”.
Mas, é claro que às vezes a seriedade do caso impõe algumas
solenidades, como o casamento. Além disso, o legislador sentiu
necessidade de impor alguns requisitos devido à crise da palavra; por ex: se
o bem for imóvel há necessidade do registro imobiliário.
4.3- PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE

O alicerce desse princípio é a ampla liberdade contratual no poder dos


contratantes de disciplinar os seus interesses mediante acordo de vontades;
tendo a liberdade de contratar com quem quiserem, sobre o que quiserem e
de não contratar também.
Esse princípio teve origem no Direito Romano, mas o seu apogeu foi
após a Revolução Francesa com a predominância do individualismo e a
pregação da liberdade em todos os sentidos, inclusive contratual.
Com base nesse princípio, os contratantes podem celebrar contratos
nominados ou fazer combinações de espécies contratuais, criando outras
formas de contratar.
Dessa forma, percebe-se que o princípio da autonomia da vontade
serve de fundamento para dar poder aos particulares de
autorregulamentação dos seus interesses.
Por outro lado, na vida moderna, tem aumentado as limitações à
liberdade de contratar em alguns aspectos, tais como: faculdade de
contratar ou não e a escolha do outro contratante; ex: fornecimento de
energia elétrica, água, licenciamento de um veículo é condicionado à
celebração do seguro obrigatório, entre outros.

4.4- PRINCÍPIO DA IGUALDADE

Uma das regras do contrato é que exista equidade entre as partes,


podendo elas ter até diferenças econômicas, mas sem que a mais forte use
dessa posição e vá contra a boa-fé e a função social do contrato.

4.5- PRRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE OU DA FORÇA


VINCULANTE OU DA INTANGIBILIDADE

Esse princípio representa exatamente a força das convenções, já que


pela autonomia da vontade ninguém é obrigada a contratar, sendo a palavra
empenhada irreversível.
O aludido princípio tem por fundamento:
a-) necessidade de segurança nos negócios
b-) intangibilidade ou imutabilidade: pacta sunt servanda (os pactos
devem ser cumpridos); art. 389. A única limitação a esse princípio ocorre
com o caso fortuito ou força maior; art. 393, parágrafo único.
No entanto, após a 1ª Grande Guerra não se podia mais falar em
absoluta obrigatoriedade dos contratos, se não havia idêntica liberdade
contratual entre as partes. Passou-se a aceitar, em caráter excepcional, a
possibilidade de intervenção judicial no conteúdo de certos contratos, para
corrigir os seus rigores ante ao desequilíbrio das prestações.
A suavização do princípio não significa o seu desaparecimento, o que
não se tolera mais é a obrigatoriedade quando as partes se encontram em
patamares diversos e disso ocorra proveito injustificado.
O próprio Código Civil apresenta a tendência de amenização desse
princípio, incorporando os arts. 156 e 157 que permitem a ingerência
estatal.

4.8- PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS EFEITOS

Tal princípio funda-se na ideia de que o contrato só produz efeito entre


as partes. Mostra-se ele coerente com o modelo clássico de contrato, que
objetivava exclusivamente a satisfação das necessidades individuais.
Essa visão foi abalada pelo atual Código Civil, que não concebe mais o
contrato apenas como instrumento de satisfação de interesses pessoais dos
contratantes, mas lhe reconhece uma função social. Tal fato tem como
conseqüência possibilitar que terceiros que não são propriamente partes do
contrato possam nele influir, em razão de serem direta ou indiretamente por
ele atingidos.
Não resta dúvida de que o princípio da relatividade dos efeitos do
contrato, embora ainda subsista foi bastante atenuado pelo reconhecimento
de cláusulas gerais de ordem pública, não se destinarem a proteger
unicamente os direitos individuais, mas tutelar o interesse da coletividade.
A nova concepção da função social do contrato representa, se não a
ruptura, pelo menos o abrandamento do princípio da relatividade dos
efeitos do contrato.

4.9- PRINCÍPIO DA BOA FÉ

Exige que as partes comportem de forma correta não só durante as


tratativas, como também durante a formação e o cumprimento do contrato.
Esse princípio vai contra o ordenamento revogado, que privilegiava o
princípio da autonomia da vontade e da obrigatoriedade dos contratos,
seguindo uma diretriz individualista.
A boa-fé pode ser:
- Subjetiva ou concepção psicológica: baseia-se numa noção de
entendimento equivocado, em erro de crença ou ignorância do contratante;
ex: casamento putativo e herdeiro aparente.
- Objetiva: é a norma jurídica fundada em um princípio geral do direito
segundo o qual todos devem comportar-se de boa-fé nas suas relações,
tendo honestidade, retidão e lealdade; deixa de ser princípio geral de direito
e passa a ser tratada no Código atual nos arts. 422, 113 e 187.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

10- Faça uma análise da teoria contratual clássica.

11- O que é função social do contrato?

12- Fale sobre o princípio da obrigatoriedade frente ao Código Civil.

13- (Juiz-MA) No que diz respeito à formação dos contratos, no âmbito do


Direito Civil, a proposta deixa de ser obrigatória, exceto: (0,5)
a) se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita.
Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por
meio de comunicação semelhante.
b) se, feita com prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente
para chegar a resposta do conhecimento do proponente.
c) se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do
prazo dado.
d) se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra
parte a retratação do proponente.

14-(OAB) Classifica-se real o contrato, quanto à sua formação, quando:


a) para esta é necessária a entrega da coisa
b) envolva transmissão de propriedade sobre imóvel
c) importe criação de ônus sobre coisa alheia
d) a escritura pública é da substância do ato

15- (OAB-2012) Embora sujeito às constantes mutações e às diferenças de


contexto em que é aplicado, o conceito tradicional de contrato sugere que
ele representa o acordo de vontades estabelecido com a finalidade de
produzir efeito jurídicos. Tomando por base a teoria geral dos contratos,
assinale a afirmativa correta:

a) a celebração de contrato atípico, fora do rol contido na legislação, não é


lícita, pois as partes não dispõem da liberdade de celebrar negócios não
expressamente regulamentados por lei.
b) a atipicidade contratual é possível, mas, de outro lado, há regra
específica prevendo não ser lícita a contratação que tenha por objeto a
herança de pessoa viva, seja por meio de contrato típico ou não.
c) a liberdade de contratar é limitada pela função social do contrato e os
contratantes deverão guardar, assim na conclusão, como em sua execução,
os princípios de probidade e da boa fé subjetiva, princípios esses ligados ao
voluntarismo e ao individualismo que informam o nosso Código Civil.
d) será obrigatoriamente declarado nulo o contrato de adesão que contiver
cláusulas ambíguas ou contraditórias.

UNIDADE V-REVISÃO DOS CONTRATOS

5.1- A CLÁUSULA "REBUS SIC STANTIBUS"

Na Idade Média, ganhou força a teoria baseada na cláusula rebus sic


stantibus (enquanto as coisas estão assim), sendo considerada implícita em
todo contrato; na verdade ela já existia antes do direito romano no
renomado Código de Hamurabi, em seu artigo 48.
Segundo a concepção pura do contrato os pactos devem ser cumpridos
(pacta sunt servanda), mas a nova concepção contratual exige uma
atenuação desse princípio geral.
A rebus sic stantibus coloca que a obrigatoriedade do cumprimento de
uma obrigação pressupõe a inalterabilidade da situação de fato. Se esta se
modificar em razão de acontecimentos extraordinários, como uma guerra,
tornando excessivamente oneroso para o devedor o seu adimplemento,
poderá este requerer ao juiz que o isente da obrigação parcial ou
totalmente.

5.2- A TEORIA DA IMPREVISÃO E SEUS PRESSUPOSTOS DE


APLICAÇÃO

O crescimento da cláusula rebus sic stantibus veio, efetivamente no


período da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) que provocou um
desequilíbrio nos contratos a longo prazo. Entre nós, esta ideia foi adaptada
e difundida por Arnaldo Medeiros da Fonseca, com o nome de teoria da
imprevisão. O referido autor incluiu o requisito da imprevisibilidade para
possibilitar a sua adoção. É por esta razão que os tribunais não aceitam a
inflação e alteração na economia como causas para revisão dos contratos.
5.3- A REGULAMENTAÇÃO LEGISLATIVA DA TEORIA DA
IMPREVISÃO

O Código de 1916 não regulamentou expressamente a revisão


contratual, mas havia uma certa abordagem no art. 401. Na verdade, a
cláusula rebus sic stantibus e a teoria da imprevisão eram aplicadas entre
nós somente em casos excepcionais e com cautela, desde que demonstrada
a ocorrência de fato extraordinário e imprevisível e a consequente
onerosidade excessiva para um dos contratantes. A introdução da teoria da
imprevisão no direito positivo brasileiro ocorreu com o advento do Código
de Defesa do Consumidor, que no seu art. 6º, V elevou o equilíbrio do
contrato como princípio da relação de consumo.
O Código de 2002 consolidou a alteração do contrato em situações
específicas com o art. 478, que tem sido muito criticado por exigir
vantagem à outra parte; por dizer que cabe ao devedor acionar tal
dispositivo e que a finalidade é a resolução do contrato.
Vale dizer que para se configurar a alteração de situação que o referido
dispositivo pede, é necessário que o acontecimento não se manifeste só na
esfera individual de um contratante, mas tenha caráter de generalidade. É
preciso que todo um mercado ou um setor considerável seja atingido; como
greve na indústria metalúrgica; chuva de granizo que prejudica a lavoura de
toda uma região.
Devemos observar ainda que o contratante que estiver em mora quando
desses fatos extraordinários não pode invocar, em defesa, a onerosidade
excessiva, pois, estando nessa situação responde pelos riscos
supervenientes, ainda que decorrentes de caso fortuito ou força maior; art.
399.
É importante esclarecer que a alegação da onerosidade excessiva em
contestação é, em regra, considerada mal soante, vista como desculpa de
mau pagador, entendendo-se de melhor tom, que a parte que foi
surpreendida por um acontecimento tome a iniciativa antes da cobrança
judicial. Deverá, então, invocar a impossibilidade de cumprimento da
dívida antes de seu vencimento, e requerer a revisão do avençado ou a sua
resolução.
É aconselhável também que o devedor atingido pela modificação
superveniente, dê aviso ao credor para que se tente uma colaboração mútua
na criação das condições que viabilizem o aperfeiçoamento do contrato.
5.5- A APLICAÇÃO DA TEORIA DA IMPREVISÃO PELA
JURISPRUDÊNCIA

Atualmente, a doutrina e a jurisprudência têm admitido uma


intervenção judicial; a sentença substitui a vontade de um dos contratantes.
Havendo um elemento surpresa, uma circunstância nova que coloca um
dos contratantes em extrema dificuldade opera-se a possibilidade de
intervenção judicial para que o contrato seja conduzido a níveis suportáveis
de cumprimento.
No entanto, a jurisprudência prima pela menor interferência judicial
possível, no sentido de tentar resguardar ao máximo o contrato a níveis que
os contratantes o suportem.

Você também pode gostar